Ciência e risco: o desenvolvimento da vacina contra a febre amarela Ilana Löwy SciELO Books / SciELO Livros / SciELO Libros LÖWY, I. Vírus, mosquitos e modernidade: a febre amarela no Brasil entre ciência e política [online]. Tradução de Irene Ernest Dias. Rio de Janeiro: Editora FIOCRUZ, 2006. 427 p. História e Saúde collection. ISBN 85-7541-062-8. Available from SciELO Books <http://books.scielo.org>. All the contents of this work, except where otherwise noted, is licensed under a Creative Commons Attribution-Non Commercial-ShareAlike 3.0 Unported. Todo o conteúdo deste trabalho, exceto quando houver ressalva, é publicado sob a licença Creative Commons Atribuição Uso Não Comercial - Partilha nos Mesmos Termos 3.0 Não adaptada. Todo el contenido de esta obra, excepto donde se indique lo contrario, está bajo licencia de la licencia Creative Commons Reconocimento-NoComercial-CompartirIgual 3.0 Unported. Ciência e Risco: o desenvolvimentodavacina contra afebreamarela As Primeiras Vacinas contra o Vírus da Febre Amarela O d e s e n v o l v i m e n t o de u m a v a c i n a eficaz c o n t r a a febre a m a r e l a a c o m p a n h o u de m u i t o p e r t o o dos m o d e l o s a n i m a i s desta d o e n ç a . É a Adrian Stokes, J o h a n n e s Bauer e Paul Hudson que se deve atribuir o primeiro artigo que descreveu a infecção do Macacus rhesus, publicado ao fim de pesquisas realizadas e m 1 9 2 7 . 1 Não se tratava, em 1 9 2 8 , de t ã o - s o m e n t e isolar o a g e n t e de u m a d o e n ç a infecciosa e depois, c o m o c o n s e q ü ê n c i a quase a u t o m á t i c a , elaborar u m a v a c i n a , c o m o fizeram os pesquisadores que descreveram "o bacilo da febre amarela" (Freire, Sanarelli o u Noguchi) e depois a p r e s e n t a r a m os dados sobre a eficiência de "sua" v a c i n a c o m o u m a prova da descoberta do agente causal da febre amarela. O m o m e n t o era grave: u m a série de infecções contraídas em laboratório ( 3 2 ao todo) c u s t a r a a vida de cinco cientistas que t r a b a l h a v a m nessa área, a c o m e ç a r 2 por Adrian Stokes e Hideo N o g u c h i . A elaboração de u m modelo a n i m a l da febre amarela, a o abrir a p o r t a para investigações de m a i o r peso, a u m e n t o u fortemente o perigo potencial, a p o n t o de provocar a paralisação total dos trabalhos. Era, portanto, indispensável encontrar u m meio eficiente de proteger a vida dos pesquisadores que estudavam a febre amarela e m laboratório. As primeiras vacinas foram preparadas a partir de u m vírus m o r t o , técnica r e l a t i v a m e n t e m a i s simples e, sobretudo, m e n o s perigosa. Hindle em Londres (The Wellcome B u r e a u o f Scientific Research), A r a g ã o n o Rio de Janeiro (Instituto Oswaldo Cruz), Pettit e Stefanopoulo em Paris (Institut Pasteur) t e n t a r a m i m u n i z a r o m a c a c o c o m a ajuda de u m a e m u l s ã o de fígado infectado, n a qual o v í r u s havia sido desativado p o r meio de u m t r a t a m e n t o q u í m i c o à base de formaldeídos, de fenol-glicerina o u de clo¬ 3 r o f ó r m i o . As primeiras publicações sobre o a s s u n t o deram notícia de resultados a n i m a d o r e s . Hindle relata, a s s i m , a sobrevivência, e a ausência de sinais de infecção, de cinco dos seis m a c a c o s previamente imunizados por u m vírus m o r t o , posteriormente infectados por u m a dose letal de s u s pensão de fígado o r i g i n á r i o de u m m a c a c o atingido - ao passo que as quatro cobaias não imunizadas não sobreviveram à m e s m a dose de m a t e rial infectado. Hindle a c r e s c e n t a que, para se certificar da a u s ê n c i a de "viés experimentador" (desvio inconsciente do procedimento experimental que favorece os resultados esperados), as injeções de material c o n t a m i n a do f o r a m feitas por u m p e s q u i s a d o r que n ã o sabia quais dos m a c a c o s estavam imunizados. Este cuidado, na época pouco freqüente nos artigos que descreviam as primeiras etapas de preparação de u m a vacina, talvez revele a intensidade das esperanças - e a a m p l i t u d e dos t e m o r e s - dos pesquisadores em busca de u m a proteção contra a febre amarela. A despeito do caráter promissor dos resultados iniciais, essas pesquisas foram a b a n donadas q u a n d o investigações mais detalhadas revelaram a insuficiência do poder imunizador das preparações à base de vírus inativado. Os resultados obtidos m o s t r a r a m - s e difíceis de reproduzir: as m e s m a s condições de desativação produziram, por vezes, u m vírus desativado demais para a s s e g u r a r u m a proteção adequada, o u insuficientemente desativado, que induzia a doença, e ocasionalmente u m vírus que proporcionava u m a boa proteção sem efeitos colaterais g r a v e s . 4 A vacina desativada de Aragão foi a única a ser testada no h o m e m . Ela foi administrada durante a epidemia de febre amarela ocorrida no Rio de J a n e i r o ( 1 9 2 8 - 1 9 2 9 ) . Os r e p r e s e n t a n t e s da F u n d a ç ã o Rockefeller na cidade m o s t r a r a m - s e céticos q u a n t o ao v a l o r dessa v a c i n a ç ã o : em 1 9 2 9 eles observaram que, segundo os especialistas, apenas u m vírus vivo podia ter poder i m u n i z a d o r . 5 Mais tarde, a c r e s c e n t a r a m que 1 5 casos de febre amarela haviam sido observados entre as pessoas vacinadas, o que confir6 m a v a a ineficácia da v a c i n a . O cientista brasileiro Carlos C h a g a s m o s trou-se mais ponderado em 1 9 3 1 , quando qualificou tais resultados c o m o "irregulares"; mais de 2 5 . 0 0 0 pessoas foram vacinadas, sem que se possa apresentar u m a prova convincente da proteção induzida: Inicialmente, os resultados foram animadores, mas depois que [a vacina] foi empregada em uma escala maior, verificou-se que sua ação era u m pouco irregular. Em vários lugares, verificou-se bom êxito em pessoas vacinadas; em outros, houve insucessos. Parece que a dose empregada no homem (2 cm ) foi, de certa forma, insuficiente. Do mesmo modo, observaram-se insucessos semelhantes em macacos. 3 7 E m 1 9 3 0 , M a x Theiler a d a p t a o v í r u s da febre a m a r e l a a o c r e s c i m e n t o n o cérebro do c a m u n d o n g o . Ele utilizou u m a cepa m u i t o virulenta do vírus isolado n o Senegal em 1 9 2 7 por pesquisadores ligados ao Instituto Pasteur de Dacar, Sellards (da Harvard Medicai School), M a t h i s e Laigret. 8 Theiler observou que ao fim de várias passagens sucessivas n o cérebro do c a m u n d o n g o , o vírus da febre amarela se torna neurotrópico (ou seja, desenvolve u m a afinidade c o m o tecido nervoso), e ao m e s m o t e m p o perde suas características viscerotrópicas (afinidade c o m os órgãos internos, c o m o o fígado, que induz o s s i n t o m a s da doença); ele se torna, por isso, m u i t o menos perigoso para o h o m e m . Theiler relata t a m b é m que os c a m u n d o n gos nos quais o vírus neurotrópico foi injetado por qualquer o u t r a via que n ã o a injeção intracerebral (meio tradicional de lhes inocular a febre a m a rela) não adoecem, e resistem a u m a segunda injeção do vírus n o cérebro. Essa o b s e r v a ç ã o a b r i u c a m i n h o p a r a o d e s e n v o l v i m e n t o de u m a v a c i n a viva c o n t r a a febre a m a r e l a . 9 A primeira v a c i n a administrada e m h u m a n o s foi desenvolvida p o r S a w y e r , Kitchen e Lloyd, do l a b o r a t ó r i o c e n t r a l da I n t e r n a t i o n a l Health Division (IHD) da Fundação Rockefeller, em Nova York. Foi produzida a partir de u m a variante neurotrópica do vírus da febre a m a r e l a adaptado por Theiler, e injetada c o m u m soro imune h u m a n o contra a febre amarela o b tido a partir de pacientes que h a v i a m sobrevivido a u m ataque recente da doença. 10 Os especialistas da Fundação Rockefeller e s t i m a r a m que a adição do soro imune h u m a n o - que impede o vírus de se fixar nos tecidos e torna, portanto, m u i t o pouco provável u m a doença experimental - era indispensável, pois a cepa neurotrópica do vírus da febre amarela não era totalmente desprovida de nocividade. De fato, ela havia induzido f e n ô m e n o s p a t o l ó gicos n o m a c a c o , e três pessoas a c i d e n t a l m e n t e c o n t a m i n a d a s p o r essa cepa h a v i a m desenvolvido s i n t o m a s leves de febre a m a r e l a . 11 Os especia- listas da Fundação Rockefeller t e m i a m que o vírus neurotrópico utilizado isoladamente só induzisse c a s o s m a i s sérios. C o m o as experiências feitas e m m a c a c o s h a v i a m m o s t r a d o que aqueles em que h a v i a m sido injetados s i m u l t a n e a m e n t e o v í r u s da febre a m a r e l a e u m s o r o h i p e r i m u n e (soro i m u n e contendo u m a forte concentração de anticorpos específicos) desenv o l v i a m u m a p r o t e ç ã o ativa e d u r a d o u r a - que n ã o podia ser atribuída unicamente à transferência passiva de anticorpos contra a febre amarela - , a adição de soro podia tranqüilizar os especialistas. 12 S a w y e r e seus colegas fizeram experimentos e m m a c a c o s por m u i t o tempo, determinando as melhores dosagens de vírus e de soro, e as condições ó t i m a s de conservação da vacina, antes de realizar os primeiros testes e m h u m a n o s , n a p r i m a v e r a de 1 9 3 1 . O s o r o h i p e r i m u n e foi colhido de convalescentes de u m ataque de febre amarela. Foi o primeiro a ser a d m i nistrado, e à sua injeção seguiu-se imediatamente a da suspensão da cepa n e u r o t r ó p i c a do v í r u s . 13 O primeiro vacinado, Bruce W i l s o n ( m e m b r o da Fundação Rockefeller, que m a i s tarde exibiu o r g u l h o s a m e n t e seu certificado de vacinação nº 1 ) , foi hospitalizado n o serviço de isolamento do hospital do Instituto Rockefeller, cujo c a m p u s abriga o laboratório da febre a m a rela. Apesar de ele ter apresentado u m a reação local ao tecido cerebral de c a m u n d o n g o (fonte do vírus da febre amarela), n e n h u m a complicação mais séria foi observada. Os voluntários seguintes, todos pesquisadores o u técnicos do laboratório da IHD, prosseguiram seu trabalho de laboratório após a imunização. 14 O teste de proteção do c a m u n d o n g o m o s t r o u o a u m e n t o gradual da t a x a de anticorpos nas pessoas vacinadas, prova de imunidade ativa, e a diminuição do n ú m e r o de glóbulos b r a n c o s em seu s a n g u e a l g u n s dias depois da vacinação (fenômeno que não foi observado e m pessoas i m u n i z a d a s c o n t r a a febre a m a r e l a p o r u m a t a q u e da d o e n ç a e e m q u e m a m e s m a v a c i n a foi injetada), interpretada c o m o sinal da multiplic a ç ã o do v í r u s , c o m as infecções m u i t a s vezes induzindo tal queda. Os especialistas da F u n d a ç ã o Rockefeller c o n s t a t a r a m c o m satisfação que os testes sanguíneos efetuados não h a v i a m detectado a presença do vírus nos v o l u n t á r i o s i m u n i z a d o s , presença que a potencial aptidão dos m o s q u i t o s aegypti a transmitir o vírus modificado fazia temer, e que tal transferência podia, e m determinado prazo, originar u m a n o v a cepa virulenta de febre amarela. 15 Esse t e m o r era partilhado por o u t r o s pesquisadores que t r a b a - l h a v a m nessa á r e a . 16 A partir de 1 9 3 1 , a vacina desenvolvida por Sawyer, Kitchen e Lloyd foi administrada a todos os pesquisadores que estudavam o vírus da febre amarela. A epidemia n o laboratório foi eliminada, e n e n h u m caso n o v o foi registrado depois daquele a n o . Entretanto, a importante quantidade de soro necessário ( 0 , 3 c m 3 de soro por k g de peso da pessoa vacinada) l i m i t o u seriamente o emprego dessa vacina fora do quadro restrito do laboratório de pesquisas. Para remediar isso, os pesquisadores t e n t a r a m s u b s t i t u i r o soro h u m a n o - retirado dos convalescentes - por u m soro hiperimune de o r i g e m a n i m a l . Diversas tentativas f o r a m feitas pelos doutores Hughes e Lloyd, do laboratório central da febre amarela da IHD em Nova York, pelo Dr. Stefanopoulo, do Institut Pasteur em Paris (pesquisas subvencionadas pela F u n d a ç ã o R o c k e f e l l e r ) , pelo Dr. Findlay, do W e l l c o m e B u r e a u o f Scientific Research e m Londres, e pelo Dr. A r a g ã o , do I n s t i t u t o O s w a l d o Cruz n o Rio de J a n e i r o . 17 Paralelamente, pesquisadores do laboratório cen- tral da febre a m a r e l a da IHD especializados e m pesquisas v i r o l ó g i c a s de p o n t a t e n t a r a m produzir u m a cepa de vírus i m u n i z a n t e m a i s a t e n u a d a , que pudesse ser administrada sem soro protetor. Inicialmente, eles modific a r a m a cepa africana Asibi, virulenta, por m e i o de várias passagens em c u l t u r a de tecido, p a r a o b t e r ( e m 1 9 3 5 ) a cepa 1 7 E . E s t a cepa, m e n o s virulenta do que o vírus neurotrópico utilizado na vacina de S a w y e r e seus colegas, s u b s t i t u i u este ú l t i m o , apesar de n ã o ter sido considerada s u ficientemente segura para ser usada sem a proteção s u p l e m e n t a r de u m 18 soro i m u n e . Será preciso esperar a nova cepa de vírus da febre amarela desenvolvida e m seu l a b o r a t ó r i o e m 1 9 3 7 - o 1 7 D - , s u f i c i e n t e m e n t e atenuada para permitir vacinações sem soro i m u n e . A l g u n s pesquisadores consideram, antes m e s m o do desenvolvimento do 1 7 D , que a cepa neurotrópica do vírus da febre amarela desenvolvida em 1 9 3 1 não apresentava riscos para o h o m e m e que a injeção combinada de soro podia ser abandonada. Pesquisadores que t r a b a l h a v a m n o Instituto Pasteur da Tunísia, Laigret e Sellards, desenvolveram, assim, u m m é t o do de v a c i n a ç ã o a partir u n i c a m e n t e do vírus. A partir de 1 9 3 2 , Laigret testou sua vacina na África Ocidental Francesa (AOF), c o m o aval do diret o r do I n s t i t u t o Pasteur de T ú n i s , Charles Nicolle. Os pesquisadores do Instituto Pasteur de Paris, Pettit e Stefanopoulo, adotaram, por sua vez, o método desenvolvido por Sawyer, Kitchen e Lloyd, aplicado n o serviço de v a c i n a ç ã o do I n s t i t u t o Pasteur de Paris pelo Dr. Pierre M o l l a r e t . Os dois grupos de pasteurianos se c o n f r o n t a r a m , u m criticando o método empregado pelo outro. Seu conflito pode se inscrever no quadro das tensões existentes entre os Institutos Pasteur de U l t r a - M a r e o da metrópole. Também está, p r o v a v e l m e n t e , ligado à n a t u r e z a das relações q u e Charles Nicole (pasteuriano eminente, dotado de forte personalidade, laureado c o m o prêm i o Nobel por sua descrição do papel dos piolhos na t r a n s m i s s ã o do tifo) m a n t i n h a c o m a direção do Instituto Pasteur de Paris. 19 Os trabalhos de Sellards e de Laigret tiveram c o m o ponto de partida as pesquisas de M a x Theiler sobre a adaptação do vírus da febre amarela ao crescimento no cérebro do c a m u n d o n g o . O vírus, tornado neurotrópico, era e m seguida a t e n u a d o pelo envelhecimento dos cérebros dos c a m u n dongos infectados expostos ao ar, método pasteuriano por excelência, pois havia sido utilizado pela primeira vez por Louis Pasteur n a preparação de u m a vacina anti-rábica a partir da medula espinhal de coelhos infectados. Ao fim da exposição ao ar, operação cuja duração variava em função do g r a u de atenuação desejado, os cérebros macerados eram liofilizados (ou seja, secados a vácuo, procedimento que m a n t é m o vírus intacto), e então considerados prontos para o uso em c a m p o . Para Laigret, as chances de o vírus adaptado a o c a m u n d o n g o v o l t a r ao estado inicial e r a m m u i t o p e quenas, o u m e s m o nulas: "É provável que j a m a i s o b t e n h a m o s por qual¬ 20 21 quer artifício a volta exata do vírus a seu estado anterior, o de u m vírus n o r m a l . Além disso, deve-se temer ainda m e n o s que ele atue retroativamente". 22 M a s a injeção do vírus neurotrópico podia t a m b é m induzir efei- tos indesejáveis. Sete indivíduos nos quais se injetou por engano u m a dose m u i t o mais alta de vírus tiveram febre - ocorrida após u m a incubação de 6 a 1 5 dias - de a l b u m i n u r i a (presença de p r o t e í n a na u r i n a , sinal de disfunção renal) e, "excepcionalmente, icterícia e hemorragias". O sucesso da vacinação antiamarílica baseava-se, segundo Laigret, na dosagem adequada do vírus injetado. Convinha, portanto, encontrar u m a "dose vacinai m í n i m a " capaz de induzir o s u r g i m e n t o de anticorpos protetores no s a n gue sem provocar efeitos colaterais. Para fazer isso, Laigret define, inicialmente, u m a "unidade c a m u n d o n g o " - quantidade de vírus capaz de infectar u m c a m u n d o n g o e determinada por diluições sucessivas do tecido cerebral infectado. Verificou-se que essa unidade protegia a metade dos indivíduos tratados; para u m décimo de "unidade camundongo", u m quarto dos i m u nizados; para dez vezes esta dose, todos os indivíduos imunizados, s e m pre sem efeitos colaterais visíveis: ela corresponde, portanto, à "dose vacinai mínima". 2 3 As reações indesejáveis à v a c i n a dependiam u n i c a m e n t e , s e - gundo Laigret, da quantidade de vírus injetado, quantidade impossível de avaliar na vacina desenvolvida por S a w y e r e seus colegas: O fato de injetar simultaneamente ao vírus um soro antiamarílico não diminui em nada o risco. Quer se inocule apenas o vírus, quer se inocule uma mistura de vírus e soro, o único elemento que conta é a quantidade de vírus livre e ativo que entra em jogo para solicitar a defesa do organismo. Na operação da 'sorovacinação', subtrai-se uma parte do vírus, mas o resultado dessa subtração nem sempre é bem avaliado. 24 O único modo seguro de saber o conteúdo de u m a vacina de vírus ativo é titular a vacina por meio de diluições sucessivas da preparação vacinai n o cérebro do c a m u n d o n g o . A vacinação segundo o procedimento de Laigret seguiu fielmente o método desenvolvido por Louis Pasteur para a v a c i n a ç ã o c o n t r a a raiva. Ela foi obtida em três tempos, separados por intervalos de 2 0 dias, utilizando-se s u c e s s i v a m e n t e três níveis de a t e n u a ç ã o : o "cérebro de q u a t r o dias" (preparação atenuada pelo envelhecimento por q u a t r o dias do cérebro do c a m u n d o n g o ) , depois o "cérebro de dez dias", e finalmente o "cérebro de u m dia", fortemente virulento para o animal. Laigret estava consciente de que as três injeções sobrecarregavam o procedimento e c o m p l i c a v a m sua a p l i c a ç ã o em c a m p o , m a s d u r a n t e os p r i m e i r o s testes de sua vacina ele decidiu se restringir ao procedimento i n i c i a l . 25 Essa v a c i n a foi testada em 1 9 3 5 na África Ocidental F r a n c e s a Senegal, Guiné, Costa do Marfim, Sudão e Nigéria. Entre 1 0 de j u n h o e 15 de agosto, Laigret vacinou 3 . 1 9 6 voluntários, todos de raça b r a n c a . U m 26 terço dos vacinados de j u l h o tiveram u m a reação febril após a primeira injeção: "As pessoas cansadas após u m a longa temporada na colônia, as pessoas estafadas e os que t i n h a m deficiências hepáticas e renais apresent a r a m r e g u l a r m e n t e tal reação. As mulheres não f o r a m atingidas". Dois acidentes graves pós-vacinais foram observados nessa série: u m a pessoa teve meningite, o u t r a dores musculares graves, delírio e paralisia temporária; Laigret e seus colegas relataram que, afinal, as duas pessoas ficaram curadas e sem seqüelas. Os testes de proteção do c a m u n d o n g o indicar a m que 7 0 % dos vacinados h a v i a m desenvolvido imunidade suficiente a partir da primeira injeção; Laigret recomendou, entretanto, três injeções de vacina para se obter u m resultado seguro. Seu relatório desse primeiro teste em campo termina c o m a seguinte constatação: "As operações contin u a m em diversas colônias do Oeste africano. Nessa região, a prática torn o u - s e oficialmente habitual". 27 Em 1 9 3 5 , Laigret m e n c i o n o u a cifra de dez mil pessoas vacinadas na Á f r i c a . S e g u n d o ele, n e n h u m caso de febre a m a r e l a foi e n c o n t r a d o entre essas pessoas. M e s m o "os traficantes sírios, n u m e r o s o s na África Ocidental, e que vivem em condições que fazem deles, até hoje, as primeiras v í t i m a s da febre a m a r e l a , n u n c a t i v e r a m u m ú n i c o c a s o desde que foram submetidos à v a c i n a ç ã o " . As complicações graves teriam sido r a ras: ele relata dois c a s o s de m e n i n g i t e e u m de dores m u s c u l a r e s e de paralisia, todos os três curados. Em suas publicações, Laigret não mencion o u o n ú m e r o de pessoas a q u e m f o r a m administradas três injeções de vacina, mas Pierre Mollaret relatou, mais tarde, que na ocasião da primeira série de injeções na África, 2 . 1 6 4 pessoas foram tratadas, das quais 7 9 2 receberam u m a segunda injeção, e 2 4 u m a terceira. Para atenuar o problem a das injeções múltiplas, Laigret decidiu aplicar o procedimento desenvolvido por Gaston Ramon, do Instituto Pasteur de Garches, para as toxinas bacterianas, procedimento que consistia em envolver o vírus n u m envoltório lipídico que retardava sua absorção in situ. A preparação de suspensão de cérebro de camundongo na gema de ovo permitia a obtenção de u m a taxa de imunização satisfatória após u m a única injeção. O desenvolvimento desse novo procedimento, segundo Laigret e Nicolle, fez cair por terra a última objeção contra a vacina viva do Instituto Pasteur de T ú n i s . 28 29 30 31 Entretanto, levantou-se u m a outra objeção contra a vacina de Laigret: a segurança da administração do vírus neurotrópico de modo isolado. Tal objeção b a s e a v a - s e nas observações repetidamente feitas no m a c a c o , es¬ pecialmente pelos pesquisadores da Fundação Rockefeller. Os críticos c e n s u r a v a m i m p l i c i t a m e n t e o s pesquisadores de T ú n i s de t e r e m passado à e x p e r i m e n t a ç ã o e m seres h u m a n o s s e m adequada verificação prévia dos riscos de administração de sua vacina em u m modelo animal. Roubaud e S t e f a n o p o u l o , do I n s t i t u t o Pasteur de Paris, f i z e r a m , a p a r t i r de 1 9 3 3 , reservas à eventual utilização de vírus neurotrópico: A persistência do vírus na circulação por vários dias, a possível retomada de uma virulência normal para o macaco e, por outro lado, os casos de encefalite amarílica levantados por autores americanos nos rhesus e no camundongo após uma picada de stegomyia infectados com o vírus neurotrópico recomendam, evidentemente, a maior prudência no eventual emprego de tal vírus para a vacinação no h o m e m . 32 Henrique A r a g ã o t a m b é m c o m u n i c o u a partir de 1 9 3 3 que o emprego de v í r u s cerebral de c a m u n d o n g o , s e g u n d o a técnica de Sellards e Laigret, parecia-lhe perigosa. Ele havia constatado, c o m o o u t r o s autores, a m o r t e de dois Macacus rhesus a p ó s a injeção de tal v í r u s , o que, s e g u n d o ele, indica "o q u ã o facilmente o vírus do c a m u n d o n g o pode recuperar o poder letal para o Macacus 33 rhesus". E m 1 9 3 5 , M a x Theiler e Loring W h i t m a n , dos laboratórios da IHD e m N o v a York (Theiler deixou o D e p a r t a m e n t o de Medicina Tropical da Universidade de Harvard para t r a b a l h a r n a Fundação Rockefeller), p u b l i c a r a m u m a advertência c o n t r a a v a c i n a ç ã o a partir u n i c a m e n t e do vírus n e u r o t r ó p i c o . Eles i n d i c a r a m que m a c a c o s e m que se havia injetado u m vírus neurotrópico de c a m u n d o n g o desenvolveram, em alguns poucos c a sos, u m a encefalite fatal, fato s u f i c i e n t e m e n t e g r a v e p a r a desqualificar qualquer vacinação h u m a n a . M e s m o a injeção de u m a quantidade m u i t o pequena de vírus pode induzir u m a encefalite; apenas a introdução s i m u l tânea de u m s o r o i m u n e p r o d u z u m a proteção suficiente. A l é m disso, o método de Laigret baseava-se na suposta atenuação do vírus pela secagem dos cérebros de c a m u n d o n g o s e x p o s t o s ao ar. Para Theiler e W h i t m a n , esse m é t o d o era t o t a l m e n t e ilusório: s u a própria experiência, a s s i m c o m o a de Findlay, n ã o indicou n e n h u m a modificação biológica do vírus da feb r e a m a r e l a c o m a e x p o s i ç ã o a o ar. O ú n i c o efeito dessa exposição é a diminuição do n ú m e r o de partículas virais ativas, resultado que pode ser obtido mais facilmente c o m a diluição da suspensão imunizante. Theiler e W h i t m a n t a m b é m indicam que Laigret reconstituiu s u a vacina liofilizada em á g u a salgada, m a s o vírus da febre amarela perderia rapidamente sua atividade e m s o l u ç ã o salina, s e m proteínas; todas a s filtragens de v í r u s feitas a partir de u m a solução do vírus em á g u a salgada corriam, a partir de então, grande risco de serem inexatas. 34 O emprego da vacina de Laigret, contendo quantidades desconhecidas de vírus vivo e não modificado, apres e n t a v a , a partir das c o n c l u s õ e s de Theiler e W h i t m a n , todos os riscos conhecidos da injeção de u m vírus neurotrópico isoladamente. Faltava explicar a raridade das complicações neurológicas em pessoas que h a v i a m recebido a vacina. Theiler e W h i t m a n reconheceram que à vacinação h u m a n a conduzida por Laigret não se seguiu n e n h u m acidente mortal e houve poucas complicações pós-vacinais sérias, "ao contrário do que poderíamos esperar a partir de nossas experiências nos m a c a c o s " . A relativa ausência de complicações em h u m a n o s pode, segundo Theiler e W h i t m a n , ser atribuída ao fato de que os pesquisadores norte-americanos utilizaram m a c a cos j o v e n s , ao passo que Laigret só imunizou adultos nos quais a barreira que separa o sistema nervoso da circulação é m e n o s permeável à passagem dos vírus do que a de u m a pessoa nova. A vacina de Laigret induz, de todo modo, muitas reações indesejáveis: "No emprego desse vírus, as freqüentes reações febris e o ocasional a t a q u e do sistema n e r v o s o [...] são sérios i n c o n v e n i e n t e s " . Theiler e W h i t m a n r e c o m e n d a r a m , p o r t a n t o , a utilização do vírus j u n t o c o m o soro imune, esperando o desenvolvimento de u m a cepa viral menos patogênica. 35 Do m e s m o modo, Pierre Mollaret, responsável pelo centro de vacinação do i n s t i t u t o , onde é aplicada a i m u n i z a ç ã o por v í r u s e soro i m u n e (segundo u m método adaptado por Stefanopoulo depois de u m a temporada no Laboratório da Febre Amarela da IHD em Nova York em 1 9 3 3 ) , explica em 1 9 3 6 que ele considera perigosa a vacinação pelo vírus neurotrópico isoladamente pelos graves s i n t o m a s por vezes observados, e pelo risco de que o vírus neurotrópico desenvolva u m a exagerada afinidade c o m o sistema nervoso h u m a n o . 3 6 M o l l a r e t acrescenta, e n t r e t a n t o , que a vacina de Laigret foi testada em grande n ú m e r o de indivíduos e que a t a x a de acidentes sérios foi m u i t o b a i x a . S e m dúvida, os dirigentes da F u n d a ç ã o Rockefeller não deram o m e s m o crédito aos dados publicados por Laigret. S a w y e r (diretor da IHD desde 1 9 3 5 ) visitou Paris em 1 9 3 6 e registrou em seu diário ter ouvido ecos de m u i t o s efeitos colaterais p r o v o c a d o s pela vacina de Laigret na África. Ele soube t a m b é m que os planos de vacinação em massa na AOF haviam sido cancelados, e que o general Sorel, chefe do serviço médico das colônias, limitara os testes da nova vacina de Laigret a 1 . 0 0 0 voluntários. Além disso, Sorel pediu que o sangue desses voluntários fosse e x a m i n a d o , p r o v a v e l m e n t e para verificar a presença de anticorpos c o n t r a a febre a m a r e l a . 37 No m e s m o ano, u m a publicação de Sorel resu- mindo os resultados da vacinação de 1 . 8 6 0 pessoas pelo método SellardsLaigret na África Ocidental Francesa indicou que 9 1 8 delas apresentaram reações à vacina: 6 7 3 reações registradas c o m o leves, 2 0 2 médias ( u m a doença de três a nove dias) e 4 3 graves. 38 Em 1 9 3 6 , Laigret não sustenta mais que sua vacina é isenta de efeitos colaterais (segundo ele, observaram-se reações febris em 2 2 % das pessoas vacinadas, reações febris tardias em 9% das pessoas vacinadas e, em raras ocasiões, u m a sintomatologia nervosa de grande gravidade). Em sua resposta às críticas de seus detratores, ele insiste na impossibilidade de eliminar totalmente os riscos inerentes às vacinas vivas: "Por mais que se t o m e cuidado na p r e p a r a ç ã o , por m a i s prudência que se t e n h a e m seu emprego, as vacinas vivas são suscetíveis de provocar manifestações que ultrapassem o s e u o b j e t i v o " . E n t r e t a n t o , "os r i s c o s da v a c i n a ç ã o antiamarílica não podem, nem por u m m o m e n t o , ser comparados aos riscos da febre amarela". Além disso, ele reafirmou que a injeção simultânea de soro imune quase não protegia de tais acidentes, pois a vacinação - e os acidentes - decorrem da presença do vírus vivo no o r g a n i s m o . Não pode haver u m sem o o u t r o . Q u a n t o ao risco ligado à utilização de u m vírus transferido para o c a m u n d o n g o , este não será f o r ç o s a m e n t e eliminado com a passagem à utilização de u m vírus preparado em u m a cultura das células, tal c o m o o 1 7 E : Do ponto de vista das reações meníngeas, não nos iludamos: elas voltarão a aparecer com o vírus das culturas. Ε a discussão não estará em absoluto encerrada, pois M. Mollaret ainda poderá se perguntar se um germe clandestino não terá penetrado nos tecidos vivos que servem de suporte para as culturas de vírus in vitro. 39 Laigret explica, por o u t r o lado, que em pessoas vacinadas c o m vírus e soro i m u n e - especialmente de origem a n i m a l - , o b s e r v a m - s e freqüentes reações ao soro injetado, difíceis de serem dissociadas dos efeitos colaterais da própria imunização. Ele conclui que apesar de ainda faltarem estatísticas sobre a duração e a eficácia da proteção vacinai, "nós temos, na vacinação da febre amarela, u m a a r m a eficaz cujo emprego deve ser generaliz a d o " . C o m efeito, os poderes públicos franceses continuaram as c a m p a nhas de vacinação c o m o vírus neurotrópico isoladamente. 40 Em 1 9 3 1 , os especialistas da Fundação Rockefeller no Brasil t a m bém haviam considerado a possibilidade de se restringirem ao único vírus neurotrópico. Soper debateu c o m Belisário Penna, diretor do DNSP no governo Vargas, sobre a possibilidade de experimentar o vírus neurotrópico c o m u m a quantidade decrescente de soro imune. Penna achava que tais experiências poderiam ser realizadas nos marinheiros brasileiros isolados no h o s pital naval, ao passo que seu colega do ministério da Saúde, o Dr. Novis, que paralelamente dirigia u m grande asilo de alienados na Bahia, propôs que estes c o n t r i b u í s s e m : "Temos n e s t a i n s t i t u i ç ã o c e n t e n a s de pessoas que estarão a nossa inteira disposição para qualquer teste que queiramos fazer". 41 As experiências em macacos realizadas em Nova York indicaram, entretanto, que reduzir a quantidade de soro imune injetado c o m o vírus n e u r o t r ó p i c o era perigoso, pois havia sido c o n s t a t a d a u m a importante mortalidade a partir de determinados valores-limite entre os macacos t r a tados dessa maneira. A idéia da experimentação em seres h u m a n o s é, então, abandonada e, até 1 9 3 7 , os especialistas da F u n d a ç ã o Rockefeller utilizaram u n i c a m e n t e a vacina " v í r u s - s o r o " . 42 Esses especialistas c o n t i n u a r a m o debate sobre a questão da eventual divisão de responsabilidades em u m a (futura) c a m p a n h a de vacinação em m a s s a . Para S a w y e r , a responsabilidade deveria recair u n i c a m e n t e sobre os poderes públicos brasileiros - donde sua retórica sobre a i m p o r t â n c i a dos médicos brasileiros na luta contra a febre amarela. Russel era favorável a u m a e x p e r i m e n t a ç ã o b e m planejada, realizada em u m a escala bem pequena. Em 1 9 3 1 , Soper inclinava-se favoravelmente a u m a solução que combinasse recursos norte-americanos e brasileiros. Propôs que o laboratório da Bahia desse apoio logístico (fornecimento dos vírus e soros, exec u ç ã o dos testes de laboratório), m a s que a o r g a n i z a ç ã o prática de u m a c a m p a n h a de v a c i n a ç ã o e os c o n t a t o s c o m as pessoas vacinadas fossem inteiramente confiados aos médicos brasileiros. Ele não se pronunciou claramente sobre a responsabilidade pela c a m p a n h a . 43 Até 1 9 3 6 , esses deba- tes tiveram interesse meramente teórico. A direção da Fundação Rockefeller desaconselhou q u a l q u e r e x p e r i m e n t a ç ã o em seres h u m a n o s até o desenv o l v i m e n t o de u m a cepa vacinai mais atenuada, e n q u a n t o que a v a c i n a ção " v í r u s - s o r o " l i m i t o u - s e às pessoas que t r a b a l h a v a m c o m o vírus da febre a m a r e l a e ao pequeno n ú m e r o de indivíduos que viajavam para as zonas e n d ê m i c a s . 44 Em 1 9 3 6 , u m a epidemia de febre amarela silvestre no Brasil modificou radicalmente os dados da questão. Pela primeira vez, os especialistas da Fundação Rockefeller v i r a m - s e c o n f r o n t a d o s c o m o problema da aplicação de sua vacina "vírus-soro" em u m a escala m a i o r . 45 A Utilização de Vírus Atenuado e de Soro Imune no Brasil, 1936-1937 No início de 1 9 3 6 , c h e g a m ao Rio de J a n e i r o relatórios registrando u m a epidemia de febre amarela silvestre entre os colonos de origem européia que viviam em Londrina, no Paraná. As notícias são alarmantes: em fevereiro, novos casos são diariamente recenseados na região. Na época, a ú n i c a v a c i n a t i d a c o m o a c e i t á v e l p e l o s p e s q u i s a d o r e s da Fundação Rockefeller que trabalhavam no Brasil era a vacina à base de vírus atenuado (o 1 7 E , produzido em cultura de células), associada a u m soro i m u n e específico. S u a preferência era pela u t i l i z a ç ã o do s o r o h i p e r i m u n e humano, que não provoca reações às proteínas estranhas (na época, o soro h u m a n o não era associado à t r a n s m i s s ã o das doenças infecciosas, exceto a sífilis), m a s este não podia ser obtido em quantidade suficiente para u m a c a m p a nha de imunização de grande envergadura. Deviam ficar de braços c r u z a dos diante da a m e a ç a de epidemia, o u t e n t a r u m a v a c i n a ç ã o imperfeita c o m u m soro de o r i g e m a n i m a l ? A escolha recaiu, inicialmente, sobre o s o r o de c a v a l o , c u j a u t i l i z a ç ã o m o s t r o u - s e p r o b l e m á t i c a , em r a z ã o da inconstância das reações s o r o l ó g i c a s . 46 Os pesquisadores do laboratório da IHD em Nova York c o n s t a t a r a m que era muito mais fácil chegar a resultados reproduzíveis utilizando-se soro de cabra, e que este permitia, além disso, obter-se u m a t a x a de anticorpos m u i t o mais alta do que u m soro h u m a n o . O soro de cabra revelou-se u m reativo imperfeito. Ele protegeu os m a c a c o s da injeção de u m a dose letal do vírus da febre amarela (cepa Asibi), m a s tal proteção foi de curta duração e inoperante em alguns p o u - cos c a s o s : u m m a c a c o m o r r e u de febre a m a r e l a apesar de u m a injeção prévia de soro imune de c a b r a . 47 A secreção e a destruição das proteínas e s t r a n h a s podem v a r i a r de u m a espécie a outra, e a baixa eficácia protetora do soro de cabra no macaco não necessariamente desqualificava sua utilização no h o m e m . Na falta de u m o u t r o método para vacinar contra a febre amarela, os especialistas da Fundação Rockefeller decidiram a s s u m i r o risco. Dezesseis pessoas f o r a m vacinadas no Rio c o m o vírus 1 7 E associado a diferentes doses de soro de cabra, e os pesquisadores a c o m p a n h a r a m o nível de anticorpos produzidos (pelo teste de proteção do c a m u n d o n g o ) e o nível de vírus na c i r c u l a ç ã o após i m u n i z a ç ã o (por u m a dosagem das diluições do sangue das pessoas vacinadas no cérebro dos c a m u n d o n g o s ) . Tais experiências d e m o n s t r a r a m que, para se n e u t r a l i z a r o vírus no s a n g u e , o soro de cabra era m e n o s eficaz do que o soro h u m a n o . Além disso, 13 das 1 6 pessoas vacinadas tiveram febre alta, e cinco apresentaram reações locais e / o u generalizadas ao soro de cabra. Aventou-se, então, u m a outra possibilidade: a de recorrer ao soro de m a c a c o . Os testes preliminares realizados em Nova York indic a r a m que o soro não induzia reações locais o u generalizadas graves (dores, u r t i c a r i a , e d e m a ) . 48 Esse s o r o , e n t r e t a n t o , n ã o existia no Brasil n o início de 1 9 3 6 . Os pesquisadores da Fundação Rockefeller a p r e s s a r a m - s e , nesse m o m e n t o , em iniciar sua produção no laboratório da Bahia, e depois c m r e a l i z a r t e s t e s p r e l i m i n a r e s da v a c i n a . O Dr. Kerr, da Fundação Rockefeller, pretendia em seguida estender a experimentação a Campo Grande ( M a t o Grosso), onde h a v i a m sido registrados vários casos de febre a m a rela silvestre. A epidemia de Londrina alterou esses p l a n o s . 49 Essa a m e a ç a foi c o n s i d e r a d a s u f i c i e n t e m e n t e séria p a r a j u s t i f i c a r q u e se t e n t a s s e u m a v a c i n a ç ã o e m larga escala c o m os m e i o s de que se d i s p u n h a n o local. Rickard i n f o r m o u a S a w y e r que os diretores de três grandes c o m p a n h i a s estrangeiras o h a v i a m c h a m a d o para lhe pedir que agisse i m e d i a t a m e n t e . O t r a b a l h o n a floresta, e x p l i c a r a m , era a b s o l u t a m e n t e essencial à sua empresa, e sua interrupção certamente os levaria à ruína. 50 Kerr propôs iniciar i m e d i a t a m e n t e a v a c i n a ç ã o . 51 W r a y Lloyd se opôs. C o m u n i c o u por telegrama que considerava o soro de cabra perigoso demais para a i m u n i z a ç ã o em m a s s a de seres h u m a n o s . Rickard, que estava substituindo temporariamente Soper na direção do escritório da F u n d a ç ã o Rockefeller n o Rio de J a n e i r o , a c h o u q u e a u r g ê n c i a da s i t u a ç ã o justificava o risco, desde que se prevenissem as pessoas imunizadas quan- to à possibilidade de as proteínas de cabra p r o v o c a r e m efeitos colaterais. Ele telefonou a Kerr para lhe t r a n s m i t i r a advertência de Lloyd, p o r é m o aconselhou a c o n t i n u a r a vacinação. Lloyd reagiu pedindo que fosse enviado u m telegrama ao laboratório de Nova York solicitando todo o soro de m a c a c o que lá houvesse disponível. Os funcionários das c o m p a n h i a s estrangeiras que t r a b a l h a v a m n a região f o r a m os primeiros vacinados. A o voltar, Lloyd explicou que a reação do organismo às proteínas de cabra n ã o era o único risco que as populações c o r r i a m : c o m o o s o r o de c a b r a era evacuado rapidamente, e c o m o se esperava que ele n ã o contivesse suficientemente a multiplicação do vírus, as pessoas vacinadas c o r r i a m o risco de desenvolver febre amarela. Rickard, de fato, a n o t o u em seu diário que várias pessoas tratadas apresentaram manifestações febris b a s t a n t e marcadas (diferentes das reações ao próprio soro de cabra), m a s que, felizmente, n e n h u m caso de doença grave fora registrado. A s s i m , 2 1 5 habitantes de Londrina f o r a m vacinados c o n t r a a febre a m a r e l a - apenas o pessoal hospitalar e os h o m e n s que t r a b a l h a v a m na floresta - c o m adição de soro de cabra. Rickard observa que a situação é, de modo geral, satisfatória, e as atitudes dos funcionários das empresas e das outras pessoas em Londrina é de profunda gratidão, semelhante à que normalmente toca aqueles que consideram terem sido salvos em u m desastre. Todas as pessoas vacinadas aceitaram com entusiasmo doar sangue para a pesquisa. 52 Antes de começar, Kerr t e s t o u a sensibilidade ao soro de c a b r a , r e c u s a n do-se a v a c i n a r os 2 1 indivíduos v í t i m a s de u m a forte r e a ç ã o c u t â n e a a p ó s a i n j e ç ã o prévia de u m a p e q u e n a q u a n t i d a d e de s o r o s o b a pele; essas pessoas c o r r i a m o risco de u m c h o q u e anafilático que podia levar à m o r t e . Tal acidente, e n t r e t a n t o , o c o r r e u , em u m a pessoa que n ã o havia desenvolvido reação cutânea significativa; ela foi salva graças a u m a rápida injeção de adrenalina. 53 Kerr ficou em Londrina por mais duas semanas, para o b s e r v a r as reações das pessoas vacinadas e coletar seus soros. Para g a r a n t i r que a coleta se fizesse e m b o a s condições, ele recebeu do Rio de Janeiro u m gerador elétrico portátil, u m a centrífuga, u m a autoclave e u m refrigerador. 54 Os resultados da v a c i n a ç ã o f o r a m mitigados: 1 7 8 das 2 1 5 pessoas vacinadas reagiram à injeção de soro (os sintomas foram sentidos no local da injeção em 1 7 1 casos; observaram-se seis casos generalizados, dos quais três graves, e u m choque anafilático). Quarenta e quatro pessoas t a m b é m relataram reações imputáveis ao vírus, fosse elevação da temperat u r a o u dor de c a b e ç a , o c o r r i d a s , e m geral, entre 1 0 e 1 3 dias a p ó s a imunização. Esses dados foram vistos c o m o indicação de que o soro de cabra só oferecia, na m e l h o r das hipóteses, u m a proteção parcial contra o vírus vacinai. Além disso, a t a x a de vacinação obtida não foi considerada m u i t o boa: 1 3 % das pessoas vacinadas n ã o desenvolveram anticorpos protetores. A u t i l i z a ç ã o d o s o r o de c a b r a f o i c o n s i d e r a d a uma 55 solução emergencial; os especialistas da Fundação Rockefeller preferiram, inicialm e n t e , e m p r e g a r o s o r o de m a c a c o . E m abril, 1 1 2 pessoas p u d e r a m ser vacinadas em Londrina pelo Dr. Laemmert c o m o soro hiperimune de m a caco, enviado às pressas do laboratório da IHD em Nova Y o r k . 56 Muitos outros foram realizados no Brasil entre j a n e i r o de 1 9 3 6 e j u n h o de 1 9 3 7 o u , dito de o u t r a m a n e i r a , até a i n t r o d u ç ã o da v a c i n a 1 7 D n o país. Os testes mais importantes, além do de Londrina, foram o de W r a y Lloyd em Anápolis, em Goiás ( 1 1 2 pessoas), os realizados n o estado do Paraná em empregados da construção das linhas ferroviárias ( 2 2 3 pessoas) e em Campo Grande, M a t o Grosso, em 2 2 9 soldados ali estacionados. Soper a c h o u que os t r a b a l h a d o r e s da ferrovia e os soldados e r a m candidatos ideais p a r a esse tipo de experimento; eram grupos submetidos a vigilância, c o m p o s t o s p o r p e s s o a s disciplinadas, o que facilitava o a c o m p a n h a m e n t o a l o n g o prazo. 57 As reações locais à injeção de soro de m a c a c o f o r a m c l a r a m e n t e m a i s severas do que as provocadas pelo soro de c a b r a . A s reações febris f o r a m freqüentes, m a s e m geral m e n o s g r a v e s . Foi a t a x a de i n s u c e s s o ainda m a i s alta que c o n s t i t u i u o principal revés da v a c i n a ç ã o : 1 8 % das p e s s o a s v a c i n a d a s n ã o d e s e n v o l v e r a m a n t i c o r p o s p r o t e t o r e s - t a x a que v a r i o u em função do local: o Dr. L a e m m e r t registrou 1 0 % de insucessos em Londrina, m a s quase u m terço em Campo Grande. 58 Esse percentual foi atribuído ao fato de que o soro de m a c a c o talvez contivesse u m a q u a n t i dade m u i t o alta de anticorpos contra o vírus da febre amarela, impedindo, a s s i m , a m u l t i p l i c a ç ã o do v í r u s n o o r g a n i s m o e o d e s e n v o l v i m e n t o de u m a i m u n i d a d e a t i v a . A grande dificuldade da v a c i n a ç ã o c o m u m s o r o i m u n e , c o n c l u í r a m Soper e S m i t h , era a calibragem e x a t a da quantidade de a n t i c o r p o s presente n o soro; u m a quantidade m u i t o grande impede a i m u n i z a ç ã o , a o p a s s o que u m a quantidade m u i t o p e q u e n a n ã o chega a prevenir os s i n t o m a s ligados à multiplicação viral. Dada a amplitude da missão, Soper e S m i t h receberam c o m alívio a chegada do vírus 1 7 D , que podia ser utilizado sem s o r o . 59 U m a complicação inesperada ocorreu alguns meses depois da vacinação a partir de soro de macaco: u m n ú m e r o considerável de pessoas desenvolveu icterícia. A título de exemplo, entre os 2 2 9 soldados vacinados pelo Dr. Laemmert e m 1 9 3 6 , 2 6 casos de icterícia - dos quais 15 suficientemente graves para demandar hospitalização - f o r a m recenseados. 60 Em termos clínicos, essa icterícia era m u i t o semelhante à "icterícia catarral", doença freqüente atribuída a causas diversas, tais c o m o a l g u m a s intoxicações alimentares o u a presença de substâncias tóxicas, que podia afetar o funcionam e n t o do fígado. A correlação pôde ser estabelecida graças ao a c o m p a n h a m e n t o minucioso das pessoas vacinadas, que foram sangradas várias vezes e interrogadas c o m cuidado sobre os sintomas consecutivos à vacinação. As investigações epidemiológicas e x c l u í r a m a possibilidade de u m a epidemia independente de icterícia infecciosa o u de i n t o x i c a ç ã o a l i m e n t a r ; elas n ã o revelaram a u m e n t o excepcional da t a x a de icterícia nas localidades por onde viviam as pessoas vacinadas, nem o surgimento de icterícia entre os m e m bros de sua família o u pessoas próximas. A eventualidade de a icterícia ter sido resultado de u m a m u t a ç ã o do vírus da febre amarela (doença caracterizada precisamente por u m a icterícia m u i t o forte) t a m b é m foi afastada, pois a l g u n s lotes de vacina preparada c o m o m e s m o suco viral m a s c o m u m o u t r o lote de s o r o n ã o p r o v o c a r a m efeitos colaterais. As suspeitas v o l t a os r a m - s e , então, para dois lotes de soro de m a c a c o (n 9 e 1 4 ) , que teriam provocado u m a média de 3 2 % de icterícia entre as pessoas vacinadas, t a x a excepcionalmente alta. Apesar de n ã o se ter apresentado n e n h u m a prova direta, todos os índices concorreram para que se estabelecesse u m nexo c a u sal entre aqueles lotes de soro hiperimune e o surgimento da icterícia. A l g u m a s observações indicaram, paralelamente, que u m soro i m u n e humano t a m b é m podia p r o v o c a r icterícia. Cidadãos "privilegiados" a q u e m havia sido administrada u m a vacina à base de soro h u m a n o (fora dos testes realizados e m grande escala), especialmente dois funcionários de alto escalão da c o m p a n h i a aérea Panair do Brasil e a m u l h e r do Dr. P a t e r n o s t r o e m Macaraju, n o Acre, t a m b é m desenvolveram u m a icterícia pós-vacinal. 61 Hugh S m i t h , u m dos responsáveis pela c a m p a n h a de v a c i n a ç ã o c o n t r a a febre a m a r e l a o r g a n i z a d a pela F u n d a ç ã o Rockefeller no Brasil, l e m b r o u - s e de que, quando chegou ao Rio de Janeiro, foi informado da história dos dois funcionários da Panair; segundo ele, a gravidade desses dois incidentes e as i n f o r m a ç õ e s c o m u n i c a d a s sobre c a s o s s e m e l h a n t e s de icterícia p ó s vacinal na Inglaterra levaram a u m a profunda investigação epidemiológica sobre a icterícia entre as pessoas vacinadas em M a t o G r o s s o . 62 A o b s e r v a ç ã o de que a v a c i n a ç ã o c o n t r a a febre a m a r e l a pode ser seguida de icterícia foi feita pela primeira vez em 1 9 3 6 , na Inglaterra, por 63 Findlay e M a c C a l l u m . Os dois pesquisadores fizeram, em sua c o m u n i c a ção publicada em 1 9 3 7 , a ligação entre as publicações anteriores que h a v i a m estabelecido a correlação entre a a d m i n i s t r a ç ã o do soro i m u n e e o 64 surgimento de icterícia, especialmente em animais domésticos. Eles m e n cionaram sobretudo as pesquisas de Sir Arnold Theiler (o pai de M a x Theiler), que descreveu em 1 9 1 8 u m a icterícia grave, e m e s m o fatal, em cavalos imunizados contra a African horse sickness c o m u m vírus e u m soro imune. Foi a produção de u m a vacina sem soro imune que pôs fim àquela epidemia de icterícia e q ü i n a . Findlay i m p u t o u s i s t e m a t i c a m e n t e a icterícia pós-vacinal à presença de u m vírus c o n t a m i n a d o r . Ele presumia que tal vírus - provavelmente oriundo do soro imune - teria contaminado o vírus 1 7 E utilizado para a vacinação, e depois sido transferido para certos lotes do vírus vacinador. Em u m colóquio sobre a febre amarela realizado em Amsterdã em setembro de 1 9 3 8 , ele afirmou ter observado casos de infecções secundárias após u m a icterícia pós-vacinal (ou seja, em m e m b r o s da família ou do círculo do doente que não haviam sido imunizados contra a febre amarela). Soper e seus colegas a f i r m a r a m que nunca haviam encontrado casos assim, m e s m o entre os soldados que h a v i a m dividido as b a r racas c o m pessoas atingidas pela icterícia. Findlay não apresentou prova direta da presença de u m hipotético vírus contaminador. Sua convicção de que a icterícia p ó s - v a c i n a l era induzida por u m v í r u s que não era u m m u t a n t e do 17E, mas oriundo de u m a fonte externa, baseava-se na elimin a ç ã o de todas as demais possibilidades. Em u m a c o n v e r s a c o m Soper, Findlay t a m b é m evocou casos de icterícia ocorridos após injeção de u m soro imune contra o sarampo, epidemia que ele t a m b é m atribuiu à c o n t a minação do soro imune por u m vírus desconhecido. 65 66 67 Em 1 9 3 8 , o debate sobre as origens da hepatite pós-vacinal parecia a s s u m i r u m a dimensão p u r a m e n t e acadêmica. Novas vacinas s u b s t i t u í ram aquelas que haviam combinado u m a cepa atenuada do vírus da febre a m a r e l a c o m u m soro hiperimune. Ao m e s m o tempo, os pesquisadores franceses, conscientes das complicações neurológicas da vacinação segundo o procedimento de Laigret, t e n t a r a m intervir na interação entre o vírus vacinador e o o r g a n i s m o , modificando as técnicas de i m u n i z a ç ã o . O c o r o nel Peletier, diretor do Instituto Pasteur de Dacar, desenvolveu u m método q u e a s s o c i a v a a v a c i n a ç ã o c o n t r a a v a r í o l a à v a c i n a ç ã o c o n t r a a febre amarela, e introduziu u m a m i s t u r a dessas duas vacinas por escarificação. 68 A i n o v a ç ã o de Peletier foi a p r e s e n t a d a c o m o , a c i m a de t u d o , u m m e i o prático de realizar c a m p a n h a s de vacinação em m a s s a entre as populações indígenas. 69 Investigações ulteriores revelaram que a introdução do vírus neurotrópico da febre amarela por escarificação da pele reduziu a freqüência e a gravidade das complicações neurológicas sem, n o entanto, eliminálas de m o d o radical: a vacina "francesa" c o n t i n u o u a induzir raros casos 70 de encefalite. O laboratório da IHD e m Nova York c o n c e n t r o u seus trabalhos na modificação do próprio vírus da febre amarela. A cepa 1 7 D desenvolvida nesse laboratório e utilizada sem soro foi testada e m larga escala em 1 9 3 7 s e m p r o v o c a r n o v o s casos de icterícia. E m 1 9 3 8 , Soper dizia-se convencido de que os casos de icterícia pós-vacinal estavam ligados à u t i lização de soro imune, método de vacinação considerado caro, complicado e perigoso, "abandonado s e m p e s a r " . 71 U m a certa p r e o c u p a ç ã o seguiu o a n ú n c i o de Findlay, que a f i r m a v a ter e n c o n t r a d o c a s o s de icterícia p ó s v a c i n a l m e s m o entre as pessoas i m u n i z a d a s pelo vírus da febre a m a r e l a injetado s e m s o r o . Verificou-se q u e esses c a s o s h a v i a m sido o b s e r v a d o s e m p e s s o a s v a c i n a d a s pela cepa 1 7 E C , v a r i a n t e a t e n u a d a da cepa 1 7 E . Quando Findlay passou, e m o u t u b r o de 1 9 3 7 , à vacinação a partir da cepa 1 7 D , não foi registrado mais n e n h u m caso de icterícia. 72 Os pesquisadores da Fundação Rockefeller estavam, a partir de então, convencidos de terem resolvido os grandes problemas da vacinação c o n t r a a febre amarela. A Vacina 17D no Brasil, 1937-1942: triunfos e fracassos de uma campanha de vacinação em massa A cepa 1 7 D foi desenvolvida por M a x Theiler e seus colegas e m 1 9 3 6 . O artigo, assinado por Theiler e S m i t h , que a descreveu pela primeira vez apresentou seu desenvolvimento c o m o resultado de u m a estratégia deliberada. 73 Os pesquisadores do laboratório da IHD t e n t a r a m desenvolver u m a cepa viral imunizante que tivesse u m a propensão, ainda que m í n i m a , a se fixar nos ó r g ã o s internos (viscerotropismo diminuído), m a s sem afinidade demasiado m a r c a d a c o m o tecido nervoso (neurotropismo diminuído). As passagens de u m a cepa virulenta do vírus da febre amarela para as células embrionárias de galinha geraram a cepa 1 7 E , de viscerotropismo diminuído. Em sua publicação, Theiler e S m i t h a f i r m a m que a eliminação do tecido n e r v o s o de g a l i n h a da preparação das células e m c u l t u r a - i n o v a ç ã o apresentada c o m o u m a etapa lógica de seu procedimento - teria levado, m a i s tarde, ao desenvolvimento de u m a cepa, a 1 7 D , de n e u r o t r o p i s m o reduzido. M a c a c o s f o r a m vacinados, sem que o m e n o r efeito colateral fosse observado. L e m b r a n d o aquela época, S m i t h reconhece que a perda de virulência do 1 7 D foi, na verdade, fruto de u m a m u t a ç ã o fortuita. Theiler, S m i t h e seus colegas transferiram, então, rotineiramente, o vírus da febre amarela e m cultura de tecido, e verificaram periodicamente sua virulência para os c a m u n d o n g o s . Após a p r o x i m a d a m e n t e 8 9 passagens, eles c o n s t a t a r a m que o vírus injetado nos cérebros dos c a m u n d o n g o s n ã o provocava mais u m a paralisia parcial que levava à morte, m a s apenas u m a paralisia parcial da metade posterior do corpo, m u i t a s vezes seguida de cura, tendo c o m o única seqüela u m a paralisia residual das patas traseiras. O vírus que induziu essa doença atípica foi injetado nos macacos e, explica Smith, "demonos conta, desse modo, de que estávamos c o m a nossa vacina nas m ã o s " . 74 Theiler a p r e s e n t o u esses resultados e m u m a reunião dos m e m b r o s do Laboratório da Febre Amarela ocorrida n o escritório de Sawyer, em 2 de n o v e m b r o de 1 9 3 6 . Explicou que o n o v o vírus g a r a n t i a a o m a c a c o u m a boa imunização, sem complicações secundárias; ele n ã o podia induzir u m a encefalite ( i n f l a m a ç ã o do tecido cerebral a c o m p a n h a d a de p e r t u r b a ç õ e s nervosas graves) u n i c a m e n t e q u a n d o era inoculado diretamente n o céreb r o . Theiler propõe que se passe rapidamente a u m a v a c i n a ç ã o s e m s o r o i m u n e n o h o m e m . Os participantes c o n c o r d a m em testar a n o v a v a c i n a n o Brasil, provavelmente n o a c a m p a m e n t o militar de C a m p o Grande. Os testes serão fiscalizados pelo Dr. S m i t h (colaborador n o desenvolvimento do 1 7 D ) , que irá a o local para o r g a n i z a r os primeiros t e s t e s . 75 Enquanto espera, recebe a proposta de testar a vacina em voluntários saudáveis, em Nova Y o r k . 76 A produção de 1 7 D n o Laboratório da Febre Amarela do Rio de J a n e i ro (inaugurado o f i c i a l m e n t e em 1 9 3 8 pela F u n d a ç ã o Rockefeller, e c o n s t r u í d o n o terreno do I n s t i t u t o Oswaldo Cruz, em M a n g u i n h o s ) i n i c i o u - s e e m 1 7 de j a n e i r o de 1 9 3 7 . A v a c i n a foi produzida e m o v o s de galinha embrionados (as células e m c u l t u r a n ã o a p r e s e n t a r a m rendimen- to suficiente para u m a produção de m a s s a ) . A fabricação da cepa 1 7 E era, paralelamente, abandonada e m 1 9 de j a n e i r o de 1 9 3 7, dada a previsão de sua completa substituição pelo 1 7 D . Tratava-se de u m a empreitada a m b i ciosa: a produção local deveria suprir todas as necessidades da v a c i n a ç ã o n o Brasil e, n o futuro, abastecer os países vizinhos. O início da operação foi lento. E m abril de 1 9 3 7 , a titulação da vacina c o n t i n u a sendo considerada insuficiente. 77 E n q u a n t o se esperava o desenvolvimento da vacina em larga escala, a vacina era testada em voluntários, n o Rio. O n o v o ajudante de l a b o r a t ó r i o c o n t r a t a d o foi a primeira pessoa vacinada n o Brasil pelo 1 7 D sem soro (em 1 5 de fevereiro). 78 Cinco outros candidatos foram t r a t a - dos n o m e s m o dia, oito em 2 de m a r ç o , e dez em 1 7 de m a r ç o de 1 9 3 7 . Todos f o r a m submetidos a coletas de sangue periódicas, a fim de testar o s u r g i m e n t o do v í r u s n a c i r c u l a ç ã o s a n g u í n e a e o d e s e n v o l v i m e n t o dos anticorpos protetores. Na maioria dos casos, a vacina induziu o surgimento passageiro do vírus 1 7 D n o sangue alguns dias depois da vacinação. Todas as pessoas v a c i n a d a s p r o d u z i r a m a n t i c o r p o s ; em todos os c a s o s , m e n o s em u m , sua t a x a foi considerada satisfatória. 79 Os testes se intensificaram n a primavera de 1 9 3 7 . No fim de m a i o , 1 0 5 pessoas são vacinadas c o m o 1 7 D n o Rio de J a n e i r o . E m j u n h o , u m a irrupção de febre amarela silvestre n o estado de M i n a s Gerais criou a ocasião para o primeiro teste em c a m p o , realizado na região de Varginha. E m agosto, u m a o u t r a c a m p a n h a é o r g a nizada n a m e s m a região. A s condições dessas c a m p a n h a s f o r a m especialm e n t e favoráveis. A presença da febre amarela n o setor durante os meses precedentes suscitou grande interesse pela vacinação entre os proprietários e os t r a b a l h a d o r e s das grandes fazendas de café. A existência de u m a b o a rede rodoviária que permitia o acesso dos veículos às plantações facilitou a o r g a n i z a ç ã o dessa c a m p a n h a . 80 A l é m disso, os c o n t r a m e s t r e s mantinham registros escritos da presença dos operários n o t r a b a l h o , o que p e r m i t i u c o n s t a t a r que na primeira série de 2 8 9 pessoas vacinadas, apenas nove se a u s e n t a r a m nos dias que se s e g u i r a m à v a c i n a ç ã o . A c a m p a n h a de v a c i n a ç ã o estendeu-se ao l o n g o dos meses s e g u i n tes. Ao todo, 3 8 . 0 7 7 pessoas ( h o m e n s , m u l h e r e s e crianças de m a i s de 2 anos) f o r a m vacinadas naquela região até o fim do ano (em Varginha, Três Corações e L a v r a s ) . Práticas rotineiras de v a c i n a ç ã o e m l a r g a escala e m c a m p o e modalidades de registro e de a c o m p a n h a m e n t o dos dados f o r a m elaboradas durante a c a m p a n h a . A t a x a de complicações pós-vacinais c o n t i n u o u m u i t o baixa: apenas 6 9 pessoas ficaram sem condições de cumprir s u a s o b r i g a ç õ e s cotidianas. As pessoas imunizadas foram principalmente trabalhadores agrícolas e suas famílias, ou seja, indivíduos cujo estado de saúde m u i t a s vezes deixa a desejar. Nessas condições, surpreende constatar que não se tenham atribuído mais problemas de saúde à vacinação. [...] A nosso ver, o número de pessoas que faltaram ao trabalho está razoavelmente próximo da verdade, pois os proprietários desenvolveram u m sistema elaborado de acompanhamento das atividades do pessoal que trabalha na fazenda. 81 A p r o d u ç ã o e a difusão do 1 7 D f o r a m rapidamente aceleradas d u rante o a n o de 1 9 3 7 e na primeira metade de 1 9 3 8 . E m 1 9 de o u t u b r o de 1 9 3 7 , Soper avalia o n ú m e r o de pessoas vacinadas sem soro e m m a i s de 1 0 . 0 0 0 ( c o n t a v a m - s e 5 . 0 9 2 e m 2 1 de s e t e m b r o ) . 82 Ele relatou que 3 9 . 0 0 0 pessoas h a v i a m sido vacinadas a o longo do a n o de 1 9 3 7 , ao passo que, em j a n e i r o de 1 9 3 8 , e m u m a s e m a n a v a c i n a r a m - s e 4 9 . 0 0 0 e m J u i z de Fora; a j u s t a p o s i ç ã o dessas cifras permite medir a difusão exponencial da n o v a v a c i n a . A duração do ciclo de produção da v a c i n a foi abreviada - de três s e m a n a s para cinco dias - para dar resposta a o crescimento da d e m a n d a . 83 Em setembro de 1 9 3 8 , S a w y e r c o n s t a t a v a que 6 0 0 . 0 0 0 pessoas j á h a v i a m sido v a c i n a d a s c o n t r a a febre a m a r e l a n o Brasil, n o m a i s das vezes e m caráter urgente, após u m a irrupção local da doença. Talvez tivesse c h e g a do a hora, estimou ele, de desenvolver u m p r o g r a m a de vacinação a longo prazo, de m o d o a erguer u m a proteção em t o r n o das regiões onde a febre a m a r e l a silvestre g r a s s a v a . com 84 E m abril de 1 9 3 8 , Soper ficou p r e o c u p a d o o futuro dos p r o g r a m a s de eliminação da febre amarela que ele havia instalado. Ele explicou que, sem dúvida, a vacina fornecerá u m meio mais barato de controle da febre amarela do que a eliminação dos Aedes aegypti. Quando o público e os responsáveis pelos serviços de saúde pública souberem que está disponível u m a vacina eficaz, penso que assistiremos a u m a mudança psicológica em sua atitude. Será muito mais difícil obter recursos para o trabalho sobre a febre amarela. A ameaça das epidemias dessa doença perderá muito de seu peso quando todas as pessoas importantes de uma comunidade e todos os viajantes puderem ser imunizados. O desenvolvimento da vacina t a m b é m poderia ter efeitos nefastos n a luta c o n t r a a febre a m a r e l a n a África: "Os responsáveis nas colônias estão i n teressados e x c l u s i v a m e n t e n a s e g u r a n ç a dos europeus, o que explica sua total falta de interesse pelos métodos de controle das larvas dos m o s q u i t o s o u pelos serviços de v i s c e r o t o m i a " . 85 Em u m artigo que resume o primeiro a n o de vacinação c o m o 1 7 D n o Brasil, S m i t h , Penna e Paoliello explicaram que a vacina só havia induzido efeitos m ó r b i d o s m u i t o leves (dores de cabeça, elevação da t e m p e r a tura, fraqueza passageira), o u m e s m o inexistentes. O procedimento, além disso, foi m u i t o eficaz: a p r o x i m a d a m e n t e 9 5 % dos vacinados desenvolver a m u m a t a x a s a t i s f a t ó r i a de a n t i c o r p o s p r o t e t o r e s . Os a u t o r e s descrev e m , em u m a n e x o , os procedimentos de rotina quando de u m a c a m p a n h a de vacinação em c a m p o . A equipe se compõe de u m médico, u m assistente e u m m o t o r i s t a / s e c r e t á r i o . Duas mesas são preparadas e m u m prédio onde ocorrerá a vacinação: u m a para a reconstituição das vacinas, o u t r a para o registro dos dados. O secretário deve escrever o n o m e , a idade e o sexo de cada pessoa vacinada, a s s i m c o m o a ordem de inoculação. Se for vacinado u m g r u p o pequeno de indivíduos ( 3 0 0 - 4 0 0 pessoas), u t i l i z a m - s e f o r m u ¬ lários especiais inseridos n o livro de vacinação. Se o n ú m e r o de pessoas for maior, é m a i s c ô m o d o distribuir pedaços de papel n o s quais as pessoas v a c i n a d a s t r a z e m as i n f o r m a ç õ e s pedidas - procedimento que pressupõe u m a t a x a adequada de alfabetização. Cada pessoa entrega s u a ficha n o m o m e n t o da vacinação. Esses papéis são enfileirados n a ordem de entrega em u m fio de ferro, antes de serem copiados, à noite, no livro de v a c i n a ção. A mesa que serve para a preparação das vacinas deve, na medida do possível, ser colocada e m u m c ô m o d o separado, p a r a n ã o a t r a p a l h a r a circulação das pessoas vacinadas. O próprio ato é altamente estandardizado, para que a sua execução seja rápida. A vacina liofilizada (secada a frio e a v á c u o ) é diluída 1 0 0 o u 2 0 0 vezes c o m á g u a fisiológica estéril, inicialmente 1 / 1 0 n a ampola original, em seguida 1 / 1 0 o u 1 / 2 0 diretamente na seringa. Cada seringa serve para vacinar de 1 0 a 2 0 pessoas; a a g u l h a é trocada para cada pessoa vacinada (figura 1 0 ) . U s a m - s e n o r m a l m e n t e dois porta-agulhas redondos c o m 3 6 agulhas cada; u m é esterilizado enquanto o o u t r o está em uso. A ú l t i m a diluição de cada lote de vacina reconstituída é injetada em seis c a m u n d o n g o s , para se verificar se a vacina está ativa e se assegurar de que ela não induz reações a n o r m a i s . 86 Além de u m a v a c i - n a ç ã o rápida, esse p r o c e d i m e n t o p e r m i t i u l o c a l i z a r as p e s s o a s t r a t a d a s por cada lote e determinar a fonte dos potenciais problemas pós-vacinais. V á r i a s s e m a n a s depois, u m o u t r o médico p a s s a v a n a s localidades p a r a coletar a m o s t r a s de soros, verificar a t a x a de anticorpos protetores e interr o g a r as pessoas v a c i n a d a s p a r a colher i n f o r m a ç õ e s sobre a s eventuais seqüelas da i m u n i z a ç ã o . Esses dados eram, e m seguida, transferidos para o livro da v a c i n a ç ã o . 87 A rapidez do sucesso do 1 7 D t r o u x e a l g u n s problemas. Foi preciso passar rapidamente da escala do laboratório de pesquisas a u m a produção semi-industrial. S m i t h e Penna f o r a m n o m e a d o s responsáveis pela fabri3 cação que, e m 1 9 3 8 , atingiu de 3 0 0 a 8 0 0 c m / d i a . 88 Inicialmente, a dire- ç ã o da IHD n ã o estava convencida de que tal aceleração fosse desejável. U m m e m o r a n d o redigido por J o h a n n e s Bauer ( u m dos responsáveis pelo Laboratório da Febre Amarela de Nova York), a pedido da direção, m e n c i o na as fortes pressões exercidas pelos brasileiros sobre a Fundação Rockefeller para ampliar as c a m p a n h a s de vacinação; entretanto, ele considera que n o a t u a l estado dos c o n h e c i m e n t o s e dada a falta de técnicos c o m p e t e n t e s , talvez fosse mais prudente desacelerar a produção da v a c i n a . 89 A recomen- dação parecia difícil de ser seguida n o Rio de J a n e i r o , e m razão da extensão das epidemias de febre amarela silvestre. Ele prometeu, todavia, t o m a r o m á x i m o de precauções para garantir a b o a qualidade da vacina produzida n o Rio, fosse a preparação de lotes de t a m a n h o limitado o u a realização de vários testes de patogenia para cada l o t e . 90 E m m a r ç o de 1 9 3 8 , a de- m a n d a p o r v a c i n a n o Brasil parecia u l t r a p a s s a r as capacidades locais de p r o d u ç ã o de 1 7 D e m embriões de galinha. O laboratório do Rio t a m b é m t i n h a dificuldades em m a n t e r u m a t i t u l a ç ã o u n i f o r m e de v í r u s n a v a c i na. 91 Os responsáveis pelo laboratório consideraram a possibilidade de en- riquecer a v a c i n a c o m u m v í r u s produzido n o cérebro do c a m u n d o n g o . Hesitaram por u m tempo. A passagem pelo c a m u n d o n g o torna, é verdade, possível a rápida o b t e n ç ã o de a l t a s t i t u l a ç õ e s de v í r u s , m a s a o m e s m o t e m p o a u m e n t a o risco de c o n t a m i n a ç ã o acidental p o r v í r u s de c a m u n dongo, c o m o o v í r u s de coriomeningite linfocitária. 92 Pesquisadores ingle- ses s u s p e i t a r a m que tais vírus estivessem n a o r i g e m de a l g u n s c a s o s de icterícia pós-vacinal. Soper, que estava a par dessas suspeitas, a n o t o u e m seu diário que casos isolados de icterícia foram recenseados no Brasil após a v a c i n a ç ã o c o m u m vírus cultivado e m células embrionárias de c a m u n dongos. 93 Finalmente, a produção de 1 7 D nos ovos fertilizados a u m e n t o u , e renunciou-se ao projeto de utilizar a vacina produzida no c a m u n d o n g o . 94 A partir de 1 9 3 8 , os especialistas da Fundação Rockefeller no Brasil c o n s t a t a r a m que os lotes de 1 7 D e r a m de qualidade desigual e que alguns deles induziam b a i x o teor de a n t i c o r p o s . 95 Inicialmente, Soper pensou que tais flutuações p o d i a m ser i m p u t a d a s à presença de anticorpos c o n t r a o vírus da febre amarela n o soro h u m a n o utilizado c o m o diluente n a preparação da vacina. As investigações realizadas n o Laboratório da Febre A m a rela da IHD em Nova York m o s t r a r a m que a adição de proteínas era indispensável para impedir a rápida perda da eficácia de u m a vacina liofilizada e reconstituída, e garantir a homogeneidade das injeções vacinadoras ( u m a a m p o l a de v a c i n a i m u n i z a v a de 1 0 0 a 2 0 0 pessoas; se a v a c i n a perdia rapidamente sua atividade em diluição, a primeira e a última pessoa i m u nizadas c o m essa a m p o l a recebiam doses de vírus ativo m u i t o diferentes). Disso, os pesquisadores concluíram que o soro h u m a n o obtido a partir do sangue de voluntários saudáveis era o melhor diluente proteínico possível, c o m o risco de reações às p r o t e í n a s e s t r a n h a s p r a t i c a m e n t e descartado. Soper a c h o u o soro h u m a n o problemático em razão da eventual presença de s u b s t â n c i a s inibidoras do v í r u s da febre a m a r e l a e das diferenças que pudesse haver entre os diversos l o t e s . Uma 96 c a m p a n h a de v a c i n a ç ã o c o n t r a a febre a m a r e l a realizada n o Espírito S a n t o evidenciou a insuficiência da proteção induzida por alguns lotes de v a c i n a . U m a irrupção de febre a m a r e l a silvestre o c o r r e u naquele estado n o o u t o n o de 1 9 3 8 . A c a m p a n h a de vacinação e m m a s s a (aproxim a d a m e n t e 1 0 0 . 0 0 0 pessoas), realizada e m fins de 1 9 3 8 e início de 1 9 3 9 , não impediu o surgimento de casos entre as pessoas vacinadas a partir do m ê s de f e v e r e i r o . 97 Testes i m u n o l ó g i c o s r e v e l a r a m m a i s t a r d e q u e u m a parte significativa das pessoas vacinadas n ã o desenvolveu anticorpos p r o tetores. Os lotes de vacinas condenados teriam perdido seu poder vacinador após u m a m o d i f i c a ç ã o espontânea da antigenicidade de u m a subcepa de 1 7 D . Esta parecia ter perdido, de m o d o inexplicável, 8 0 % de seu poder vacinador entre a 3 5 0 a e a 390 a p a s s a g e m e m c u l t u r a . A detecção dessa m u t a ç ã o tornou-se difícil pelo fato de que o vírus m u t a n t e havia perdido a capacidade de induzir anticorpos protetores n o h o m e m , conservando a c a pacidade de provocar u m a encefalite n o c a m u n d o n g o (a indução de encefalite era o teste de rotina empregado para verificar se o 1 7 D não havia perdido seu poder patogênico). Soper e seus colegas decidiram restringir a v a c i n a ção até que todos os lotes fossem verificados. Nesse caso, recriminou-se o n ú m e r o excessivo de t r a n s f e r ê n c i a s e m c u l t u r a , s e m que n o e n t a n t o se pudesse c o m p r o v á - l a s . Conseqüentemente, os responsáveis pelo l a b o r a t ó rio do Rio de J a n e i r o decidiram l i m i t a r o n ú m e r o de p a s s a g e n s de u m a determinada subcepa a 2 5 0 e, se possível, a 2 0 0 . 9 8 As c a m p a n h a s de v a c i n a ç ã o , q u a s e t o t a l m e n t e i n t e r r o m p i d a s por alguns meses, foram retomadas em 1 9 3 9 . Nesse ínterim, surgiu u m outro problema: a icterícia pós-vacinal. Os r u m o r e s que c i r c u l a v a m desde m a i o de 1 9 3 8 f o r a m desmentidos pelos responsáveis da Fundação Rockefeller. 99 E m o u t u b r o de 1 9 3 9 , p e s s o a s t r a t a d a s c o m o lote 4 6 7 d e s e n v o l v e r a m u m a icterícia q u a t r o o u cinco meses após a v a c i n a ç ã o . Os trabalhadores da fábrica situada perto de Campos p a g a r a m u m preço alto: a p r o x i m a d a m e n t e 5 0 casos de icterícia entre as 2 6 7 pessoas vacinadas e m m a i o . A o todo, 2 7 % das pessoas desenvolveram a doença, a l g u m a s em s u a f o r m a grave. U m estudo realizado n o local evidenciou p o u c o s casos de icterícia nas pessoas cujo n o m e n ã o foi encontrado nas listas, apesar de elas terem a f i r m a d o q u e h a v i a m se b e n e f i c i a d o da v a c i n a . U m a i n v e s t i g a ç ã o epidemiológica revelou que a icterícia s u r g i u em todas as localidades e m que pessoas h a v i a m sido vacinadas pelo m e s m o lote, m a s que a t a x a de indivíduos doentes variou conforme os locais. O lote 4 6 7 teria provocado, ao todo, 1 4 0 casos de icterícia, u m deles m o r t a l . E m Campos, 6 das 2 6 1 pessoas vacinadas teriam desenvolvido u m a icterícia. O lote 4 6 9 foi igualm e n t e c o n d e n a d o . Kerr p e n s o u que a l g u n s lotes de v a c i n a h a v i a m sido produzidos e m 1 9 3 9 c o m s o r o n ã o - i n a t i v a d o (na época, c o n s i d e r a v a - s e que a inativação do soro, o u seja, seu aquecimento a 5 6 ° C por 3 0 m i n u t o s , era u m a medida suficiente p a r a eliminar q u a l q u e r c o n t a m i n a ç ã o v i r a l ) . U m a reunião do pessoal do laboratório do Rio permitiu verificar que o lote icterogênico da vacina havia m e s m o sido preparado c o m u m soro inativado; revelou-se, todavia, impossível excluir a possibilidade de que o vírus utilizado para a preparação desse lote tivesse sido anteriormente cultivado em presença de soro ativo, pois a l g u n s lotes de 1 7 D h a v i a m sido preparados e m condições descritas c o m o "perturbadoras". A c o n t a m i n a ç ã o pôde, a s sim, intervir m a i s cedo, e ser p o s t e r i o r m e n t e perpetuada pelas passagens sucessivas do v í r u s . 100 Soper e Kerr c o n s t a t a r a m , na m e s m a ocasião, que os lotes de v í r u s que e n t r a r a m n a p r e p a r a ç ã o dos lotes icterogênicos de vacina n ã o eram mais utilizados n o laboratório. Os responsáveis pela p r o d u ç ã o decidiram classificar o s u r g i m e n t o de icterícia p ó s - v a c i n a l c o m o u m infeliz acidente, p r o v a v e l m e n t e imputável a u m a disfunção m o m e n tânea da linha de produção. U m a fiscalização m a i s rigorosa do processo de f a b r i c a ç ã o do 1 7 D se i m p u n h a l e g i t i m a m e n t e , m a s a i n t e r r u p ç ã o da vacinação contra a febre amarela em pleno período epidêmico não se j u s t i ficava. É interessante observar que n e m esse incidente, n e m os incidentes u l t e r i o r e s p r o v o c a r a m rejeição à v a c i n a ç ã o c o n t r a a febre a m a r e l a pela população o u gerou u m a c a m p a n h a da imprensa brasileira c o n t r a a v a c i na. A ó t i m a acolhida q u e t i v e r a m as c a m p a n h a s de v a c i n a ç ã o c o n t r a s t a singularmente c o m a resistência às o u t r a s medidas introduzidas pelo SFA. Essa diferença pode ser atribuída ao fato de que a vacinação era u m a m e dida de p r o t e ç ã o individual, u m a t o v o l u n t á r i o cujo benefício era facilmente avaliável. Além disso, o fato de que n u m primeiro m o m e n t o ( 1 9 3 5 1 9 3 6 ) a vacinação ( c o m soro hiperimune) tenha sido reservada a cidadãos privilegiados, tais c o m o os funcionários das c o m p a n h i a s estrangeiras e os m e m b r o s de suas famílias, fez crescer o seu prestígio. Em j a n e i r o de 1 9 4 0 , o Dr. Sérvulo de Lima, da Fundação Rockefeller, relata u m c a s o de icterícia que se seguiu à v a c i n a ç ã o pelo lote 4 8 7 , que não havia sido indicado c o m o indutor de icterícia pós-vacinal. Em maio de 1 9 4 0 , relatórios provenientes do sul do estado do Espírito S a n t o (sempre ameaçado por irrupções de febre amarela silvestre) dão notícia de n u m e r o sos casos de icterícia provenientes de três novos lotes da vacina, todos de produção recente. 101 Os responsáveis pela F u n d a ç ã o Rockefeller decidem n o v a m e n t e i n t e r r o m p e r as c a m p a n h a s de v a c i n a ç ã o e m m a s s a e realizar pesquisas aprofundadas sobre a c a u s a da icterícia. Eles l a n ç a m pesquisas epidemiológicas de g r a n d e e n v e r g a d u r a e m t o d o s a s regiões e m que os lotes suspeitos f o r a m usados, que revelam 1 . 0 7 2 casos, 2 4 deles fatais, de icterícia associados à vacinação pelos lotes condenados. A distribuição dos casos n ã o era h o m o g ê n e a : o s adultos e s t a v a m m a i s e x p o s t o s do que os j o v e n s , os h o m e n s mais do que as mulheres; os moradores das cidades e os pobres eram, igualmente, mais atingidos. A l é m disso, os casos de icterícia eram reagrupados em a l g u m a s localidades e em algumas famílias o u coa¬ bitações [households]. Esse esquema suscita, segundo Soper, a possibilidade de que exista u m fator adicional suscetível de favorecer a icterícia; poderia tratar-se de u m elemento ligado ao status socioeconômico das pessoas a t i n gidas, a ancilostomíase o u a desnutrição, por exemplo. A f o r m a clínica da doença era semelhante à da doença qualificada nos anos 1 9 3 0 c o m o "icterícia epidêmica" o u "icterícia infecciosa". A principal diferença era que a doença induzida pela vacina c o n t r a a febre a m a r e l a t i n h a u m período de incubação m u i t o m a i o r . 102 O l a b o r a t ó r i o do Rio de J a n e i r o c o n t r a t a pesquisas intensivas para identificar rapidamente a c a u s a da infecção da v a c i n a . O Dr. J o h n F o x e seus colegas c o m e ç a r a m pelo e x a m e sistemático de todos os lotes e pelo estudo do c o n j u n t o dos elementos potencialmente contaminadores. O primeiro c o m p o n e n t e suspeito foi o soro h u m a n o . F o x c o n s t a t o u que todos os lotes de soro h u m a n o recentemente empregados h a v i a m sido inativados em condições corretas. Ele admitiu, entretanto, a possibilidade de que u m a i n a t i v a ç ã o b e m realizada n ã o fosse suficiente p a r a destruir u m agente i n f e c c i o s o . 103 eventual A fieira dos embriões de galinha foi e m seguida p a s - sada pelo crivo, apesar de s u a proveniência uniforme parecer afastar qualquer risco. U m a m u t a ç ã o do vírus 1 7 D foi a terceira eventualidade considerada; a q u a r t a foi a existência de u m agente tóxico na p r e p a r a ç ã o . 104 A o elaborar seu p r o g r a m a de investigação, F o x e Soper l a m e n t a m n ã o terem aproveitado as ocorrências precedentes de hepatite que se seguir a m a u m a i m u n i z a ç ã o c o n t r a a febre a m a r e l a para fazer estudos m a i s profundos sobre a etiologia desta d o e n ç a . 105 E m j u n h o , F o x vai a Vitória, n o Espírito S a n t o , p a r a e s t u d a r u m a epidemia de icterícia p ó s - v a c i n a l . S u a s investigações epidemiológicas s u g e r i r a m - l h e a possibilidade de que, além de u m agente contido em lotes específicos de vacina, u m o u t r o a g e n te etiológico circulasse n o local. Ele sublinha a i m p o r t â n c i a do a c o m p a n h a m e n t o da distribuição geográfica dos casos, e recomenda o e x a m e dos casos de icterícia que n ã o estão ligados à vacinação c o n t r a a febre a m a r e la. 1 0 6 Ao voltar ao Rio, propõe testar em c a m p o todos os lotes disponíveis da vacina c o n t r a a febre amarela; dessa maneira, e m cinco meses se saberá quais são os lotes que n ã o induzem icterícia, idéia à qual Soper se o p õ e . 107 E m setembro de 1 9 4 0 , os pesquisadores do laboratório do Rio estão cada vez m a i s convencidos de que "o s o r o h u m a n o é a p o r t a de entrada mais provável para a c o n t a m i n a ç ã o " . Eles c h e g a r a m a essa conclusão principalmente por eliminação sistemática de todos os demais elementos s u s peitos. 108 A possibilidade de u m a m u t a ç ã o icterogênica do v í r u s 1 7 D foi excluída c o m base e m indicações i m u n o l ó g i c a s : n ã o foi possível estabelecer n e n h u m a c o r r e l a ç ã o e n t r e a t a x a de a n t i c o r p o s c o n t r a o 1 7 D e o s u r g i m e n t o de icterícia. Pessoas que n ã o h a v i a m desenvolvido anticorpos c o n t r a a febre a m a r e l a , o u as vacinadas que j á h a v i a m sido i m u n i z a d a s por u m c o n t a t o anterior c o m o vírus (a existência de u m a imunidade precedente à vacinação pode ser verificada comparando-se a t a x a de anticorpos séricos i m e d i a t a m e n t e após a v a c i n a ç ã o e a l g u m a s s e m a n a s depois) c a í ram doentes, por vezes sofrendo formas g r a v e s de i c t e r í c i a . E m contrapartida, o soro era mais difícil de separar. Os pesquisadores do l a b o r a t ó r i o do Rio e n u m e r a r a m as c i r c u n s t â n c i a s n a s q u a i s os s o r o s f o r a m associados a u m a icterícia, fosse ela a icterícia pós-vacinal dos cavalos, a que surge após a a d m i n i s t r a ç ã o de u m soro c o n t r a o s a r a m p o o u ainda aquela ligada à vacinação contra a febre amarela por u m vírus 1 7 E a s s o ciado ao s o r o h i p e r i m u n e . 109 Eles a c o n s e l h a m , então, que toda v a c i n a ç ã o seja interrompida, que se importe de Nova York u m novo lote de vírus 1 7 D , e que se inicie a produção de u m a vacina sem soro h u m a n o : "Na ausência de u m a ameaça real de febre amarela, não podemos estimular as pessoas a se vacinarem c o m u m produto n o qual nós m e s m o s não c o n f i a m o s " . 110 E m a g o s t o de 1 9 4 0 , Kerr p r o p õ e p r o d u z i r u m a v a c i n a u t i l i z a n d o c o m o diluente apenas o líquido de embrião de galinha (o 1 7 D é cultivado em ovos fertilizados de galinha; a própria vacina provém do líquido clarificado de embriões de galinha infectados pelo vírus, diluído e m s o r o h u m a n o . Kerr propõe diluir a s u s p e n s ã o dos embriões infectados c o m u m líquido s e m e l h a n t e o r i u n d o de e m b r i õ e s de g a l i n h a n ã o infectados pelo vírus). 111 Não era a primeira tentativa dos pesquisadores do Rio de descar- t a r o u s o do s o r o h u m a n o : e m 1 9 3 9 , eles j á h a v i a m tentado utilizar a g o m a arábica, m a s o 1 7 D não havia sobrevivido em u m a suspensão desta substância. 112 Os p r i m e i r o s testes e m l a b o r a t ó r i o o c o r r e r a m e m fins de agosto, os primeiros testes n o h o m e m em fins de setembro. Os resultados são j u l g a d o s satisfatórios, e a vacina sem soro, preparada c o m u m a cepa n o v a de 1 7 D importada de Nova York e o líquido de embrião de galinha, entra em fase de produção em m a s s a e m o u t u b r o de 1 9 4 0 . Ela é testada pela primeira vez e m c a m p o em n o v e m b r o de 1 9 4 0 (em São Mateus, Belo H o r i z o n t e ) , e depois, a partir do fim de 1 9 4 0 , seu u s o se generaliza e m todo o território brasileiro. N e n h u m caso de icterícia pós-vacinal foi registrado n o Brasil depois de dezembro de 1 9 4 0 . 1 1 3 A c o n c l u s ã o prática dos pesquisadores brasileiros que e s t u d a r a m a epidemia de icterícia é isenta de ambigüidade: o soro h u m a n o é visto c o m o a fonte m a i s provável de c o n t a m i n a ç ã o . Soper e seus colegas produziram u m a v a c i n a s e m s o r o h u m a n o , e n ã o o c o r r e r a m m a i s c a s o s de icterícia p ó s - v a c i n a l n o Brasil, até que desapareceram. As conclusões teóricas são mais complicadas. As enquetes epidemiológicas não revelaram o nexo c a u sal s i m p l e s e n t r e a d i s t r i b u i ç ã o dos lotes de v a c i n a e o s u r g i m e n t o de icterícia. A hipótese, defendida especialmente por J o h n F o x (ver adiante), de u m "segundo f a t o r i c t e r o g ê n i c o " poderia explicar p o r que a icterícia s u r g i u e m determinados lugares, determinadas coabitações e determinadas famílias. Soper estava disposto a admitir a existência de u m outro "agente causal" da icterícia. A variabilidade da distribuição e das manifestações da icterícia poderia se explicar, segundo ele, pelos diferentes graus de resistência individual a u m único agente causal da doença, diferenças que podem ser hereditárias, m a s m a i s provavelmente refletem fatores ambientais ( n u trição, estado geral de saúde, presença de outras p a t o l o g i a s ) . 114 Encerrado o episódio de icterícia p ó s - v a c i n a l , Soper e seus colegas v i r a m - s e d i a n t e de u m a n o v a dificuldade. E m j u n h o de 1 9 4 1 , f o r a m registrados c a s o s de encefalite n a cidade de G u a n h ã e s , em M i n a s Gerais, de 7 a 1 4 dias após a v a c i n a ç ã o c o n t r a a febre a m a r e l a realizada c o m o lote E 7 0 1 . 1 1 5 Foi u m médico local, o Dr. J o s é Eulálio, que, observando se- melhanças entre todos aqueles casos, estabeleceu o elo c o m a recente c a m p a n h a de vacinação contra a febre amarela e alertou o escritório da Fundação Rockefeller n o R i o . veis pela Fundação 116 Após u m breve período de hesitação, os responsá- Rockefeller epidemiológica aprofundada decidiram realizar uma enquete n o local. Avalia-se e m 2 3 9 o n ú m e r o de c a - sos de encefalite p ó s - v a c i n a l n a região (trata-se de u m a avaliação m í n i m a , pois a encefalite n e m sempre era fácil de diagnosticar; além disso, ela podia ser confundida c o m o u t r a s doenças, c o m o a m a l á r i a ) ; 1 0 1 c a s o s f o r a m considerados leves, 8 3 intermediários e 5 5 severos, a c o m p a n h a d o s de s i n t o m a s neurológicos graves. As c r i a n ç a s são p a r t i c u l a r m e n t e afetadas, e o s j o v e n s , m a i s g r a v e m e n t e a t i n g i d o s . U m a c r i a n ç a m o r r e u de encefalite. A o c o n t r á r i o da h e p a t i t e p ó s - v a c i n a l o b s e r v a d a n o B r a s i l , a f r e q ü ê n c i a da encefalite n ã o foi m a i s a l t a e m a l g u m a s f a m í l i a s o u e m a l g u n s l u g a r e s ; a o c o n t r á r i o , ela parecia a t a c a r a l e a t o r i a m e n t e entre as pessoas v a c i n a d a s . 117 A encefalite observada nas pessoas vacinadas contra a febre amarela p a r e c i a - s e c l i n i c a m e n t e c o m o u t r a s encefalites de o r i g e m v i r a l . R e s t a v a saber se ela era induzida pelo próprio 1 7 D o u por u m vírus contaminador. Os pesquisadores do l a b o r a t ó r i o da febre a m a r e l a n ã o c o n s e g u i r a m evidenciar u m v í r u s c o n t a m i n a n t e injetando o lote de v a c i n a suspeita e m solução de á g u a salgada (que inativa o vírus da febre amarela) em cobaias. O fracasso de todas as tentativas de isolar u m agente putativo de icterícia p ó s - v a c i n a l n ã o h a v i a impedido a a d o ç ã o da hipótese de s u a e x i s t ê n c i a . Os pesquisadores da Fundação Rockefeller, entretanto, preferiram atribuir a encefalite ao próprio 1 7 D , pois ele era capaz de induzir a encefalite n o m a caco, e a vacinação apenas c o m o vírus neurotrópico engendrou alguns c a sos de encefalite n o h o m e m . Os pesquisadores do Rio c o n s t a t a r a m , a l é m disso, que a subcepa de 1 7 D que eles haviam utilizado na série de vacinação condenada provocara u m a t a x a especialmente alta de encefalite n o m a c a c o ( 2 8 % para u m a injeção direta no cérebro, contra os 5% induzidos pelas subcepas utilizadas a n t e r i o r m e n t e ) . Finalmente, pesquisas i m u n o l ó g i c a s i n d i c a r a m que as pessoas que haviam sofrido de formas graves de encefalite desenvolv e r a m t a x a s particularmente altas de anticorpos contra o 1 7 D (contrariando a ausência de qualquer relação entre a taxa de anticorpos contra o 1 7 D e o s u r g i m e n t o da icterícia p ó s - v a c i n a l ) . 118 A conclusão dos pesquisadores da Fundação Rockefeller n o Brasil foi de que a epidemia de encefalite pós-vacinal havia sido induzida pela súbita m u t a ç ã o de u m a subcepa de v í r u s 1 7 D utilizada n o lote E 7 1 8 . Esse fenômeno n ã o pôde ser explicado pelo n ú m e r o demasiado grande de t r a n s ferências e m u m a cultura de tecido (explicação aventada em 1 9 3 9 para se entender a perda de antigenicidade de u m a subcepa de 1 7 D ) . A s u b c e p a condenada n o episódio de encefalite havia sido transferida apenas 2 0 v e zes e m cultura, o que levou à preocupante conclusão de que "as m u t a ç õ e s indesejáveis do vírus podem ocorrer m e s m o após u m n ú m e r o reduzido de passagens". Tais mutações, a f i r m a r a m os pesquisadores do Rio, são relativ a m e n t e raras. O 1 7 D c o n t i n u a a manter, segundo eles, v a n t a g e m sobre o v í r u s n e u r o t r ó p i c o utilizado pelos franceses n a África. Se r e t o m a r m o s as classificações de Sorel, o v í r u s n e u r o t r ó p i c o francês i n d u z i u r e a ç õ e s de severidade média o u grave e m a p r o x i m a d a m e n t e 1 3 % das pessoas v a c i n a das. 119 Por c o m p a r a ç ã o , m e s m o o lote E 7 1 8 , caso único entre os n u m e r o - sos lotes de 1 7 D , induziu apenas 2 , 6 6 % de reações de severidade média a grave. M a s a utilização de u m vírus vivo abria a possibilidade de que o u tras mutações ocorressem: Ainda que a observação dos macacos inoculados com as subcepas virais possa indicar que ocorreu uma mutação indesejável, a melhor proteção contra os incidentes futuros de natureza semelhante é, para nós, u m cuidadoso acompanhamento de u m número adequado de pessoas vacinadas. 120 Os especialistas da Fundação Rockefeller n o Brasil c o n c l u í r a m , c o m base em sua experiência em acidentes pós-vacinais, que apenas estudos de c a m p o b e m feitos sobre os efeitos da vacinação podem prevenir tais acidentes ou, pelo m e n o s , a t e n u a r seu impacto. Seus colegas do laboratório da IHD em Nova York n ã o p a r t i l h a r a m dessa opinião. Icterícia Pós-vacinal no Exército Americano E m m a r ç o de 1 9 4 2 , u m a epidemia de icterícia eclodiu entre os soldados recentemente vacinados contra a febre amarela. A notícia desconcertou os funcionários do laboratório da IHD. Os pesquisadores de Nova York, e mais especificamente Bauer e Sawyer, não esperavam que a vacina pudesse induzir u m a icterícia. Sua primeira reação foi negar que a epidemia de hepatite tivesse a l g u m a relação c o m a v a c i n a ç ã o c o n t r a a febre a m a r e l a . S u a atitude é de surpreender. Desde 1 9 3 7 , a ligação entre a icterícia e a vacinação c o n t r a a febre a m a r e l a era conhecida por todos os pesquisadores que trabalhavam nessa área. S a w y e r anota em seu diário de m a r ç o de 1 9 3 8 que encontrara Findlay n o Instituto Wellcome, e m Londres, e que h a v i a m ido j u n t o s a u m a reunião da Royal Society o f Medicine, onde Findlay apresentara u m a conferência sobre "Hepatite e icterícia associadas à i m u n i z a ç ã o c o n t r a a l g u m a s doenças v i r a i s " . 121 C o m o diretor do IHD, S a w y e r sabia de todos os problemas que a vacinação antiamarílica havia encontrado n o B r a sil. Ele recebeu cópias de todos os diários mantidos pelo pessoal da Fundação Rockefeller nesse país, assim c o m o das cartas e relatórios detalhados sobre o a s s u n t o , e participou a t i v a m e n t e dos debates sobre a icterícia surgida e m pessoas imunizadas c o m o 1 7 D produzido n o Rio de J a n e i r o . Entretanto, seus colaboradores e ele próprio não levaram a sério a possibilidade de que tal desventura ocorresse c o m o produto que eles haviam desenvolvido. Até 1 9 4 0 , o laboratório da IHD em Nova York havia produzido u m a quantidade limitada de v a c i n a c o n t r a a febre a m a r e l a , destinada às pessoas que viajavam para regiões tropicais. C o m a Segunda Guerra Mundial, t o r n o u - s e necessária u m a c o b e r t u r a vacinai adequada dos soldados a m e ¬ r i c a n o s . O l a b o r a t ó r i o de N o v a York v o l t o u - s e , e n t ã o , p a r a a p r o d u ç ã o s e m i - i n d u s t r i a l de v a c i n a s . E m u m a r e u n i ã o q u e c o n g r e g a v a , e m 1 0 de j u n h o de 1 9 4 0 , os r e p r e s e n t a n t e s do E x é r c i t o , do Public Health Service (PHS) e o s diretores da F u n d a ç ã o Rockefeller, o s r e p r e s e n t a n t e s do PHS p e r g u n t a r a m se a Fundação Rockefeller poderia produzir 1 0 0 . 0 0 0 doses de vacina c o n t r a a febre amarela por a n o para o Exército americano. A vacina seria reservada, e utilizada em caso de necessidade. A produção da vacina pela Fundação Rockefeller era vista c o m o u m a medida temporária. Os diretores da Fundação Rockefeller f o r a m , c o m efeito, c h a m a d o s pelo govern o a m e r i c a n o a apresentar u m plano de produção da vacina para o serviço de saúde do Exército, a n e x a n d o a avaliação de seu c u s t o , a s s i m c o m o a lista do pessoal técnico que poderia assumi-la, a fim de permitir a r e t o m a da da produção pelo PHS, o qual devia assegurar a proteção dos cidadãos a m e r i c a n o s e m caso de g u e r r a . 122 Inicialmente, os dirigentes da Fundação Rockefeller h e s i t a r a m : n ã o e s t a v a m certos de que u m laboratório da IHD devesse t r a n s f o r m a r - s e em fornecedor de vacina para o Exército dos E s t a dos U n i d o s . 123 A o longo do verão de 1 9 4 0 , u m a severa epidemia de febre a m a r e l a eclodiu nas m o n t a n h a s de Nuba, n o Sudão, então sob protetorado i n g l ê s . 124 O Medical Research Council (MRC) britânico, incapaz de fornecer a q u a n tidade de vacina requerida para a proteção das populações civis sudanesas, dirigiu-se à Fundação Rockefeller a partir do o u t o n o de 1 9 4 0 . Findlay, e m n o m e do MRC, pediu u m a primeira remessa de 2 5 0 . 0 0 0 doses, e depois a destinação de 5 0 . 0 0 0 doses por s e m a n a . B a u e r respondeu a Findlay que era difícil para u m laboratório de pesquisa lançar-se à produção em m a s s a de vacina. Entretanto, sob a dupla pressão dos exércitos americano e b r i t â nico, os diretores científicos da Fundação Rockefeller m u d a r a m de opinião e r e c o m e n d a r a m a criação de u m laboratório permanente dedicado à p r o dução da vacina da IHD. U m andar da Fundação Rockefeller seria posto à disposição desse laboratório. U m m e m b r o associado do Instituto Rockefeller, o Dr. Kenneth Goodner, é contratado para a s s u m i r sua direção. E m dezemb r o de 1 9 4 0 , a IHD e n v i o u pela p r i m e i r a vez 1 0 0 . 0 0 0 doses de v a c i n a c o n t r a a febre amarela ao S u d ã o . 125 Em 1 9 4 0 , a entrada dos Estados Unidos na guerra n ã o estava definida. D u r a n t e o verão de 1 9 4 1 , ela parecia iminente. Estava claro que, nesse caso, tropas seriam enviadas a regiões onde a febre amarela era endêmica, tais c o m o o Caribe. Em 1 0 de j a n e i r o de 1 9 4 1 , o coronel S i m m o n s explicou ao Dr. Parran [Surgeon General] e ao Dr. Veledee, diretor do PHS, que a, seu ver, o L a b o r a t ó r i o da Febre A m a r e l a da F u n d a ç ã o Rockefeller n ã o seria capaz de produzir v a c i n a e m quantidade suficiente para as tropas a m e r i ¬ canas. W a r r e n (que estava substituindo temporariamente S a w y e r na direção da IHD) a n o t o u e m seu diário e m 1 8 de j a n e i r o que o Dr. Parran se havia p e r g u n t a d o sobre a possibilidade de recorrer a u m l a b o r a t ó r i o c o m e r c i a l . W a r r e n e s t i m o u q u e a F u n d a ç ã o Rockefeller poderia acelerar a produção da vacina b e m mais rapidamente do que u m laboratório c o m e r cial, totalmente desprovido de experiência na área. Além disso, se a produç ã o devia p a s s a r à escala industrial, os representantes de u m a farmacêutica privada - citou-se Lederle - empresa deveriam aprender o método n o l a b o r a t ó r i o da IHD. W a r r e n considerava p r o b l e m á t i c a a p r e s e n ç a desses representantes da indústria. P a r r a n respondeu que eles i r i a m à IHD e m n o m e do governo dos Estados Unidos, e n ã o enviados por sua firma, m a s W a r r e n c o n t i n u o u cético: n ã o estava persuadido de que tal distinção p u desse ser m a n t i d a . 126 E m 2 0 de j a n e i r o de 1 9 4 0 , B a u e r recebeu u m a c a r t a do Dr. Veledee comunicando-lhe a decisão de envolver duas firmas farmacêuticas na p r o dução da v a c i n a c o n t r a a febre amarela. A Fundação Rockefeller era c h a m a d a a a s s u m i r a f o r m a ç ã o de seus representantes. B a u e r opôs-se fortem e n t e à idéia. W a r r e n relata e m seu diário que n ã o era de m o d o a l g u m certo que o diretor do I n s t i t u t o Rockefeller, o Dr. Gosser, permitiria u m a associação desse tipo, e m r a z ã o da experiência negativa ocorrida n o p a s sado c o m a l g u m a s firmas c o m e r c i a i s , n o t a d a m e n t e c o m os l a b o r a t ó r i o s Lederle, e n t ã o cogitados. O Dr. Veledee propôs que os representantes das firmas comerciais fossem nomeados m e m b r o s do National Health Institute (NHI), pelo t e m p o que durasse sua a t u a ç ã o na Fundação Rockefeller, p r o posta descartada por Bauer. O diretor da Fundação Rockefeller, apoiado por Bauer, respondeu que a instituição estava pronta a colaborar c o m o govern o dos Estados Unidos, m a s que n ã o era o caso de acolher e m suas instalações os r e p r e s e n t a n t e s de f i r m a s c o m e r c i a i s . Fosdick a f i r m o u q u e t a l decisão n ã o refletia u m a oposição em princípio à p r o d u ç ã o c o m e r c i a l de v a c i n a c o n t r a a febre a m a r e l a . O principal p r o b l e m a era, segundo ele, o fato de que o s laboratórios da IHD e r a m m u i t o cheios de funcionários e não podiam acolher estagiários estranhos ao serviço. Por o u t r o lado, explic o u ele, a técnica a ser desenvolvida é m u i t o simples, e todos os detalhes do procedimento f o r a m p u b l i c a d o s . 127 E m 3 1 de j a n e i r o de 1 9 4 1 , Veledee declarou n ã o estar e m condições de v o l t a r a t r á s e m seus c o m p r o m i s s o s a s s u m i d o s a n t e r i o r m e n t e , e que achava adequado promover a produção comercial da vacina c o n t r a a febre a m a r e l a . Fosdick i r r i t o u - s e c o m essa resposta, l e m b r a n d o que ele estava presente n a conferência a que Veledee se referia, e que n ã o havia entendido que o PHS a s s u m i r a c o m p r o m i s s o s comerciais. E m u m a c a r t a a Veledee, ele a f i r m a v a ter e x p r i m i d o f r a n c a m e n t e s u a o p i n i ã o e se o p o s t o , t a n t o q u a n t o possível, à produção comercial de vacina c o n t r a a febre a m a r e l a . Em 1 3 de fevereiro, Veledee respondeu-lhe que após a leitura do m e m o r a n do de S a w y e r datado de 9 de j u l h o de 1 9 4 0 , o qual indica que a Fundação Rockefeller n ã o podia se c o m p r o m e t e r a produzir p e r m a n e n t e m e n t e essa vacina, o PHS havia decidido, dado o caráter urgente das demandas, recorrer aos laboratórios comerciais. Das cinco empresas farmacêuticas c o n v i dadas a ingressar nessa área, duas aquiesceram. S u a s motivações, s e g u n do Veledee, são de ordem puramente patriótica, pois seus diretores h a v i a m sido informados de que não se tratava de u m a produção que traria lucros. W a r r e n e seus colegas explicaram então a Veledee que a situação da F u n dação Rockefeller h a v i a m u d a d o desde j u n h o de 1 9 4 0 , n o t a d a m e n t e e m função da criação de u m laboratório especial voltado exclusivamente para a produção das vacinas. A fundação era capaz, n o m o m e n t o , de g a r a n t i r r a p i d a m e n t e u m a p r o d u ç ã o e m m a s s a . Para Veledee, se a F u n d a ç ã o Rockefeller estava efetivamente pronta para fabricar a vacina, era possível dispensar a c o l a b o r a ç ã o dos l a b o r a t ó r i o s c o m e r c i a i s . Ele a c r e s c e n t o u , n o entanto, que os laboratórios que j á se h a v i a m equipado c o m vistas a essa produção deviam ser autorizados a produzir a m o s t r a s de vacina e s u b m e t ê las ao National Health Institute para testá-las e m c a m p o . 1 2 8 A decisão final confiando a produção à Fundação Rockefeller foi t o m a d a em fins de j a n e i r o de 1 9 4 1 . Na época, os pesquisadores que t r a b a l h a v a m e m Nova York consideravam seriamente a possibilidade de passar ao método de preparação da vacina sem soro desenvolvido n o Rio de J a n e i ro n o o u t o n o de 1 9 4 0 , apesar de n e n h u m a decisão ter sido t o m a d a a respeito. I n i c i a l m e n t e , eles h e s i t a r a m e m p a s s a r a o líquido de e m b r i õ e s de galinha, pois o poder de proteção do vírus da febre amarela se havia revelado m e n o s a m p l o do que o poder do soro h u m a n o . Essa objeção foi refutada pelos pesquisadores brasileiros que d e m o n s t r a r a m que tal poder era, todavia, a m p l a m e n t e suficiente p a r a as necessidades de u m a v a c i n a ç ã o em c a m p o ; u m a s u s p e n s ã o n o líquido de e m b r i ã o de g a l i n h a m a n t i n h a intacta a titulação do vírus durante três horas a 3 7 ° C . Os pesquisadores de Nova York n ã o e s t a v a m , e m absoluto, convencidos pela d e m o n s t r a ç ã o . 129 A necessidade de se p a s s a r m u i t o rapidamente à p r o d u ç ã o e m m a s s a de vacina em Nova York interrompeu os debates sobre a passagem à produção da vacina sem soro. Os responsáveis pelo laboratório da IHD n ã o consider a r a m o m o m e n t o o p o r t u n o para a introdução de m u d a n ç a s m a i o r e s n o m é t o d o de produção da vacina, pois estas d e m a n d a r i a m múltiplos testes para se g a r a n t i r a qualidade do n o v o produto. M e l h o r seria concentrar-se n a p r o d u ç ã o de u m c o m p o s t o que j á tivesse sido t e s t a d o . 130 Em 1 9 4 1 , o l a b o r a t ó r i o da F u n d a ç ã o Rockefeller p r o d u z 7 . 7 1 9 . 1 2 0 doses de vacina contra a febre amarela, aproximadamente 5 6 . 0 0 0 em janeiro, entre 3 0 0 . 0 0 0 e 4 0 0 . 0 0 0 doses por mês entre fevereiro e o u t u b r o , e m a i s de 6 0 0 . 0 0 0 doses em n o v e m b r o e dezembro. A produção se acelerou em fevereiro e m a r ç o de 1 9 4 2 . Até dezembro de 1 9 4 1 , a maioria das doses é ou enviada à África, o u retomada pela M a r i n h a a m e r i c a n a . O Exército, que até n o v e m b r o de 1 9 4 1 c o n s u m i u m u i t o pouco dessa vacina, t o r n a - s e no m o m e n t o da entrada dos Estados Unidos na guerra, em dezembro de 1 9 4 1 , seu principal c o m p r a d o r : a p r o x i m a d a m e n t e 4 2 2 . 0 0 0 doses são, a s s i m , adquiridas naquele mês, 5 8 7 . 0 0 0 em j a n e i r o de 1 9 4 2 , 7 8 6 . 0 0 0 em fevereiro, contra 8 1 4 . 0 0 0 em m a r ç o . 131 S a w y e r dizia-se convencido de que a vacina produzida em Nova York era de altíssima qualidade. Essa convicção, baseada na confiança no faire savoir- e no profissionalismo de seus colegas, nutriu-se t a m b é m do fato de que n e n h u m a queixa tenha sido associada à vacina produzida no laboratório da IHD. Informado da hepatite pós-vacinal ocorrida no Brasil, ele viu os problemas da vacina brasileira c o m o reflexo das dificuldades em desenvolver " u m a empresa tecnológica de p o n t a " em u m país p e r i f é r i c o . 132 A decisão de Soper de eliminar o soro da vacina produzida no Brasil, sem pedir explicitamente sua autorização, o enfureceu. 133 Soper, por sua vez, achava que a ausência de queixas no local da vacina produzida em Nova York podia ser a t r i b u í d a sobretudo à falta de acompanhamento epidemiológico, r e s u l t a n t e da falta de e n t u s i a s m o dos pesquisadores da IHD para seguir as pistas que indicassem a existência de complicações. A vacina de Nova York teria adquirido excelente reputação, sublinhou Soper, porque n i n g u é m se havia dado ao trabalho de verificar se ela provocava p r o b l e m a s de s a ú d e . 134 A s s i m , em 3 0 de j u n h o de 1 9 4 1 , Soper envia a S a w y e r (com cópia para Bauer) u m a carta na qual os convida a levar em consideração o caso de u m piloto da Pan American Airways, Sr. Koepke, que sofrerá de icterícia após a vacinação c o m o 1 7D produzido em Nova York: os sintomas da doença do Sr. Koepke são absolutamente idênticos aos da icterícia pós-vacinal observada no Brasil. [...] Apesar de ser impossível atribuir arbitrariamente este caso à vacinação contra a febre amarela, achamos importante chamar vossa atenção para sua existência, c sugerir que se faça um estudo sobre o surgimento de icterícia entre as pessoas vacinadas com o mesmo lote. 135 Bauer não e n c o m e n d o u investigação epidemiológica, m a s enviou a carta de Soper ao escritório do PHS em M i a m i , onde Sr. Koepke fora vacinado. U m a enquete muito rápida realizada pelo responsável local pelo PHS (a carta de Soper datava de 2 0 de j u n h o ; a dele, de 2 6 de j u n h o ) revela que dos 9 0 funcionários da Pan A m e r i c a n A i r w a y s vacinados a o m e s m o t e m p o , três o u t r a s pessoas q u e i x a r a m - s e de perturbações hepáticas m u i t o s meses após a vacinação; segundo a versão oficial do PHS, não há razão para se suspeitar de u m a relação de c a u s a e efeito entre a vacina e as perturbações hepáticas. 136 O caso é, portanto, arquivado. Sawyer, irritado c o m a insistência de Soper, reitera e m dezembro de 1 9 4 1 a afirmação de que n e n h u m a queixa fora apresentada até aquele dia contra a vacina fabricada em Nova York: Os resultados recentes da vacinação realizada em larguíssima escala sugerem fortemente que as precauções que nós havíamos tomado para evitar qualquer contaminação mostraram-se adequadas. Espero que o mesmo ocorra agora, pois a produção da vacina deste laboratório ultrapassou este ano os três milhões de doses. 137 Em 2 0 de m a r ç o de 1 9 4 2 , o Dr. Karl Meyer, da Comission o n Tropical Diseases (instalada e m dezembro de 1 9 4 1 pelo Board for the Investigation o f Epidemic Diseases in the A r m y , em função das atividades do Exército a m e r i c a n o nas regiões tropicais, e presidida por S a w y e r ; Soper t a m b é m a integrava) c h a m a a atenção de S a w y e r para u m a irrupção de icterícia ocorrida entre os soldados estacionados na Califórnia. É apontada u m a centena de casos, todos detectados de seis a oito semanas após a vacinação contra a febre amarela. A enquete epidemiológica parece condenar os lotes 3 3 1 , 3 3 4 , 3 3 5 , 3 3 8 , 3 4 0 e 3 6 7 . S a w y e r a n o t a imediatamente e m seu diário que a etiologia da doença c o n t i n u a misteriosa. O coronel S i m m o n s lhe telefona para p r o p o r que seja n o m e a d a u m a c o m i s s ã o de investigação que irá ao local. S i m m o n s achava importante descartar a possibilidade de u m a icterícia decorrente de leptospirose. S a w y e r imediatamente se dispôs a partir. A Comission o n Tropical Diseases n o m e o u imediatamente os Drs. Meyer (que m o r a v a em San Francisco), Sawyer e Bauer, da IHD, e o Dr. Eaton, m e m b r o da c o m i s s ã o da gripe (a proposta inicial de S a w y e r era que o Dr. B a y n e Jones, do escritório do Surgeon General, se associasse àquela investigação). A comissão parte para a Califórnia n o m e s m o dia, e visita os a c a m p a m e n tos militares em que haviam sido observados casos de icterícia. 138 E m 2 3 de m a r ç o , S a w y e r dirige-se, por telegrama, a George Strode, u m dos responsáveis pelo Laboratório da Febre Amarela de Nova York: "A investigação está progredindo. As perspectivas são boas. A vacina não está c o m p r o m e t i d a . I n f o r m e a Fosdick e G o o d n e r " . 139 Strode responde imedia- t a m e n t e que todos ficaram muito felizes quando recebemos seu telegrama sobre a vacina contra a febre amarela, pois ele traz notícias igualmente animadoras. Essa história nos pesou muito nos últimos dias. Telefonei imediatamente ao Dr. Goodner, e o Sr. pode imaginar como ele ficou contente. Esperamos que todas as investigações futuras reforcem o seu sentimento de que a vacina não é culpada. 140 Em 2 5 de m a r ç o , S a w y e r escreve n o v a m e n t e a Strode: "Bauer e eu estamos cada v e z m a i s c o n f i a n t e s de q u e se t r a t a de u m a epidemia de icterícia infecciosa q u e n ã o está ligada à v a c i n a ç ã o c o n t r a a febre a m a r e l a " . Ele m e n c i o n a casos de icterícia que a t i n g i r a m pessoas n ã o vacinadas que h a v i a m trabalhado e m a c a m p a m e n t o s militares. Strode responde em 2 8 de abril: "Fiquei feliz em receber sua carta e em saber que as provas em favor de u m a epidemia de icterícia sem relação c o m a vacinação c o n t r a a febre a m a r e l a se a c u m u l a m " . 1 4 1 Os fatos que se s e g u i r a m n ã o c o n f i r m a r a m as suposições dos pesquisadores da Fundação Rockefeller. O n ú m e r o de casos ocorridos no Exército sofreu u m rápido a u m e n t o . Os novos casos registrados n a Califórnia s ã o e x a m i n a d o s pela c o m i s s ã o de i n v e s t i g a ç ã o . M e y e r (especialista e m medicina tropical) lembrou-se, mais tarde, de que S a w y e r se irritara várias vezes c o m a sugestão que ele havia feito desde o início dos trabalhos, o u seja, a de que era necessário relacionar a icterícia dos soldados aos relatórios redigidos por Findlay e MacCallum em 1 9 3 8 , segundo os quais a icterícia poderia o c o r r e r m e s m o n a a u s ê n c i a de adição de s o r o h i p e r i m u n e . Para Sawyer, essas observações indicavam apenas que a vacina produzida pelo B u r r o u g h s - W e l l c o m e estava c o n t a m i n a d a , e a s s i m c o n t i n u o u . 142 Em 3 0 de m a r ç o , W a r r e n , que s u b s t i t u i u S a w y e r em Nova York, recebe u m relatório sobre os casos de hepatite observados em soldados vacinados n o estado de M a s s a c h u s e t s , o b s e r v a ç ã o que t o r n a a hipótese de u m a epidem i a isolada de hepatite na costa do Pacífico m u i t o m e n o s p r o v á v e l . 143 Em 1 de abril, S a w y e r a n o t a em seu diário que S i m m o n s , que encomendou a investigação detalhada de todos os casos de icterícia ocorridos na Califórnia, relata 8 0 casos de icterícia e m u m hospício no qual n ã o se havia utilizado a v a c i n a . Ele se opõe radicalmente à s u g e s t ã o de suspender a v a c i n a ç ã o c o m os lotes posteriores ao 3 3 1 . De fato, se tal decisão fosse t o m a d a , a c a m p a n h a de vacinação dos soldados deveria ser interrompida, pois o n ú m e r o de doses restantes seria insuficiente. Tal medida poderia retardar o r i t m o do envio de soldados aos territórios u l t r a m a r i n o s . 144 E m 3 de abril, S a w y e r escreve a Strode informando que a icterícia foi observada m a j o r i tária, m a s não exclusivamente, em pessoas vacinadas, e que epidemiologia c o n t i n u a v a m i s t e r i o s a : Nossa pesquisa é fascinante, mas, mais do que isso, desconcertante. Os soldados vacinados em u m acampamento militar de San Diego fo¬ sua ram, mais tarde, enviados a dois acampamentos diferentes. 3% desses enviados a u m dos campos desenvolveram icterícia; no outro caso, não houve ocorrência da doença. O prazo entre a vacinação e o surgimento da icterícia é variável, e a distribuição dos casos não faz sentido em nenhuma teoria. As provas continuam, no entanto, a se acumular, e a resposta há de estar em algum lugar. 145 S a w y e r registra em seu diário, e m 6 de abril, que M a x Theiler, considerando a partir de então a hipótese da c o n t a m i n a ç ã o da vacina pelo soro h u m a n o c o m o a l t a m e n t e provável, gostaria de passar imediatamente à p r o d u ç ã o da v a c i n a s e m s o r o , t r a n s i ç ã o q u e s e g u n d o Theiler deveria levar a p r o x i m a d a m e n t e duas s e m a n a s . 1 4 6 U m a conferência sobre a icterícia n o E x é r c i t o é realizada e m 7 de abril, n o escritório do Surgeon General n o Departamento de Guerra [War D e p a r t m e n t ] . Nela, n o t i c i a r a m - s e 8 0 0 casos de icterícia nos Estados U n i dos, 5 0 0 n o Havaí, e 1 0 0 no Panamá. O Dr. Maxcy, da Universidade J o h n s Hopkins, é incumbido pelo Surgeon General de estudar a epidemiologia da doença. Em 8 de abril, S a w y e r conversa c o m Bauer sobre a epidemia. Bauer, que n a o c a s i ã o v i u os diários de Soper, c o n s t a t a que a icterícia ocorrida entre os soldados vacinados é m u i t o parecida c o m a descrita por Soper e Findlay. Os pesquisadores do laboratório da IHD consideraram, m a i s t a r de, que a icterícia n ã o estava ligada ao v í r u s da febre a m a r e l a . Proceder a m , então, à verificação de todos os elementos: primeiro o soro, depois os ovos e as cepas de vírus. Em 9 de abril, S a w y e r a n o t a em seu diário que todo o pessoal do Laboratório da Febre Amarela em Nova York havia c o n cordado em interromper a produção de vacina c o m soro h u m a n o . Eles n ã o a c h a v a m que pudesse se t r a t a r de u m a m u t a ç ã o do 1 7 D , e a seu ver os o v o s e r a m u m a fonte de c o n t a m i n a ç ã o m a i s i m p r o v á v e l ainda, pois os casos de icterícia surgiram no Brasil em 1 9 3 6 , quando a vacina empregada havia sido produzida nos embriões de c a m u n d o n g o . Sawyer, c o n s u l t a do por Fosdick, propõe, inicialmente, que se e x a m i n e m c o m cuidado os ovos antes de m u d a r o m o d o de produção da vacina, e depois admite que a decisão final sobre a produção de vacina sem soro cabia ao g r u p o do l a b o ratório de Nova York (o próprio S a w y e r estava e m c a m p o , na Califórnia, onde foi consultado a distância). No início dessa conversação, Sawyer envia u m telegrama a Nova York para assinalar que, após ter refletido, ele acata a decisão de passar à produção de vacina s e m soro, m a s ao m e s m o t e m p o pede que se estude cuidadosamente a possibilidade de que os ovos estejam i n f e c t a d o s . 147 Strode propõe que B a u e r apresente o p r o b l e m a da destruição dos lotes de v a c i n a suspeitos e m W a s h i n g t o n , q u a n d o de s u a visita ao D e p a r t a m e n t o de G u e r r a . 148 E m 1 0 de abril, Strode pede a S a w y e r que supervisione a produção de vacina s e m soro. No m e s m o dia, escreve t a m b é m a Crawford, constatando que se os casos de icterícia eram, em sua maioria, associados à vacinação c o n t r a a febre a m a r e l a , eles ainda e s t a v a m l o n g e de h a v e r estabelecido f o r m a l m e n t e a e x i s t ê n c i a de u m n e x o c a u s a l . 1 4 9 E m 1 1 de abril, B a u e r escreve a S a w y e r informando que o n ú m e r o de casos de icterícia c o n t i n u a a c r e s c e r r a p i d a m e n t e , a t i n g i n d o 2 . 5 0 0 n o E x é r c i t o . A p e s a r da falta de provas formais, as suspeitas v o l t a m - s e para a vacina: Bayne-Jones [do PHS] está mais inclinado do que os outros a atribuir a icterícia ao soro. No entanto, todos estão convencidos de que a vacinação deve continuar. O coronel Simmons insistiu especialmente nesse ponto, e explicou que, u m a vez interrompida a vacinação, seria extremamente difícil retomá-la, pois fora preciso u m ano inteiro para convencer o comando do Exército da importância dessa medida protetora. Além disso, u m a interrupção da vacinação provocará sérias complicações internacionais. 150 E m 11 de abril, S a w y e r confessa a Strode sua perplexidade: "Ainda que a prova esteja longe de ser adequada, agora estou inclinado a reconhecer que as v a c i n a ç õ e s t ê m u m a relação c o m a icterícia; m a s está cada v e z m a i s difícil torná-la consistente". 151 Em 1 3 de abril, Bauer apresenta u m relatório detalhado ao Surgeon General. No m e s m o dia, B a y n e - J o n e s anuncia a Bauer por telefone que o Dr. M a x c y (representante do Surgeon General) recomendou a suspensão da utilização da vacina. M a x c y informara previamente a S a w y e r que tomaria tal providência, e este n ã o se opôs f o r m a l m e n t e . 152 As conclusões provisórias da enquete suscitada pela Comission o n Tropical Diseases do Exército americano sobre a icterícia nos acampamentos militares f o r a m tornadas públicas em 1 3 de abril. Elas implicam indiretamente a vacina contra a febre amarela na gênese da hepatite. A icterícia, segundo o relatório de pesquisa, parece estar ligada a alguns lotes de vacina, especialmente àqueles que haviam sido produzidos há relativamente pouco t e m p o . N e n h u m a epidemia paralela de icterícia foi, a l é m disso, observada entre a população civil que vivia nos arredores. O g r u p o recomenda a s u s pensão, por pelo m e n o s dois meses, da vacinação c o m os lotes c o m n ú m e ro superior a 3 3 0 , que deverão ser examinados. Enquanto esperava, a c o m i s s ã o de i n v e s t i g a ç ã o s u g e r i u q u e o s soldados enviados a o s países de risco fossem previamente tratados c o m a vacina produzida pelo l a b o r a t ó rio do PHS e m Hamilton, M o n t a n a , o u c o m a vacina produzida e m B o g o tá, na C o l ô m b i a , q u e u t i l i z a m , a m b a s , o v o s e s o r o de o r i g e m diferente daquelas empregadas e m Nova Y o r k . 153 E m 1 4 de abril, S a w y e r destaca em seu diário o a u m e n t o do n ú m e r o de casos de icterícia. C o n t a m - s e 2 . 5 0 0 casos n o Estados Unidos e 7 0 0 n o Havaí, u m deles c o m óbito. U m a carta de J . E. Alicata, do laboratório de parasitologia de Honolulu, datada de 7 de abril de 1 9 4 2 , dá notícia de u m a epidemia pós-vacinal em Honolulu. O Dr. Dryer afirma que o PHS poderia aumentar, n u m prazo de dois meses, a produção da vacina para se atingir 2 0 0 . 0 0 0 doses mensais, se a Fundação Rockefeller não fizesse n e n h u m a objeção. O coronel S i m m o n s n ã o apreciava a idéia de haver duas fontes distintas de vacina contra a febre amarela, e declarou preferir a Fundação Rockefeller ao P H S . 154 E m 1 6 de abril, B a y n e - J o n e s , após ter c o n t a t a d o S a w y e r , i n f o r m a por telefone a W a r r e n que o S u r g e o n General r e c o m e n d o u oficialmente a suspensão dos lotes apontados. Parece se estabelecer u m consenso sobre o elo entre a vacina e a icterícia. O único que ainda t e m dúvidas é o coronel S t e p h e n s o n , da D i v i s ã o de M e d i c i n a P r e v e n t i v a da M a r i n h a a m e r i c a n a (que foi praticamente poupada). Ele afirma, em 1 5 de abril, n ã o estar em condições de inculpar formalmente a vacina, por falta de provas conclusivas. Em 1 8 de abril, Stephenson explica que a decisão de suspender t e m p o r a r i a m e n t e as v a c i n a ç õ e s c o n t r a a febre a m a r e l a deve ser avaliada c o m cuidado: "O Exército n ã o t e m experiência em incidentes desse tipo", e ele "não vê razões válidas para modificar os procedimentos de r o t i n a " . 155 E m 1 8 de abril, S a w y e r escreve a S i m m o n s : "Temos u m a forte s u s peita de que os lotes de vacina 3 3 1 , 3 3 5 e 3 3 8 f o r a m c o n t a m i n a d o s por u m vírus originário o u de ovos fertilizados, o u de soro h u m a n o aquecido utilizado na produção da v a c i n a " . 156 E m 2 3 de abril, durante a conferência realizada e m W a s h i n g t o n sobre a icterícia n o Exército, M a x c y dá notícia de a p r o x i m a d a m e n t e 5 . 0 0 0 c a s o s . Os participantes c o n s t a t a m a falta de resultados conclusivos sobre a etiologia da icterícia. A maioria deles acusa o s o r o h u m a n o , m a s S i m m o n s c o n t i n u a a suspeitar dos o v o s . S a w y e r remeteu ao Dr. B a y n e - J o n e s u m m a n u s c r i t o do Dr. Fox recentemente enviado por Soper, relativo à irrupção de icterícia pós-vacinal n o B r a s i l . 157 O relatório final da c o m i s s ã o de investigação que e x a m i n o u a icterícia entre os militares é publicado e m 2 9 de abril. Esse relatório, redigido por Sawyer, amplia a s conclusões preliminares do grupo. Ele explica que a análise preliminar das irrupções presentes no Exército, juntamente com a experiência de irrupções precedentes após imunização contra a febre amarela ou injeção de soro contra a rubéola, sugerem fortemente que u m agente hepatogênico envolvido nesses ataques é u m vírus filtrável presente no sangue de alguns doadores saudáveis na Inglaterra, nos Estados Unidos e no Brasil, que é resistente ao fenol e ao aquecimento a 56°C por uma hora. [...] Nunca será demais sublinhar a gran¬ de importância da investigação da presente irrupção de icterícia, dada a utilização crescente das injeções de soro, plasma ou sangue h u m a n o . 158 E m 1 9 de m a i o , S a w y e r escreve ao coronel S t e p h e n s o n para tentar convencê-lo a i n t e r r o m p e r a distribuição dos estoques a n t i g o s de v a c i n a contra a febre amarela, e esperar a chegada da n o v a vacina sem soro que deveria ficar pronta aproximadamente u m m ê s depois. 159 E m 2 5 de maio, em u m a o u t r a conferência, os participantes debatem sobre o prazo necessário para se testar u m a vacina sem soro. Todos os participantes c o n c o r d a m q u e u m a i n t e r r u p ç ã o da p r o d u ç ã o e m l a r g a escala p o r três meses (tempo necessário para o s testes e m c a m p o da n o v a vacina) é l o n g a demais. Decidem acelerar a produção da vacina sem soro a fim de constituir estoques p r o n t o s para serem distribuídos a partir do m o m e n t o em que a n o v a v a c i n a tivesse sido t e s t a d a . 160 E m 2 7 de m a i o , S a w y e r escreve a S t e p h e n s o n p a r a pedir i n s i s t e n t e m e n t e a destruição de todos os lotes de vacina c o n t r a a febre amarela, pois os casos de icterícia h a v i a m sido a s s o ciados aos novos lotes, além daqueles inicialmente condenados. Stephenson responde que, ao que t u d o indica, a m a i o r i a dos lotes da a n t i g a v a c i n a contra a febre amarela j á havia sido utilizada; era tarde demais para retirálas de circulação. E m u m a reunião em 2 9 de m a i o , S a w y e r propôs que a nova vacina fosse distribuída ao Exército e que as antigas reservas fossem destruídas. 161 A recomendação do S u r g e o n General de suspender a vacinação c o n tra a febre a m a r e l a datava de 1 6 de abril, e os testes de vacina s e m soro c o m e ç a r a m em 3 0 de m a i o . Quase ao m e s m o tempo, os estoques da v a c i n a antiga f o r a m substituídos pelos da n o v a vacina. Entretanto, a decisão oficial de i n t e r r o m p e r q u a l q u e r v a c i n a ç ã o c o n t r a a febre a m a r e l a só foi t o m a d a e m 3 de j u n h o . A conferência sobre o t e m a "Icterícia e encefalite após vacinação contra a febre amarela", que reunia representantes da IHD, do Exército e da M a r i n h a , decide f o r m a l m e n t e suspender por três meses, até que o problema seja resolvido, a vacinação do pessoal do Exército, c o m exceção das pessoas obrigadas a se deslocar para zonas endêmicas. A decisão é aprovada por u m a conferência do National Research Council realizada em 1 7 de j u n h o em Washington. O Surgeon General anunciou publicamente que a v a c i n a ç ã o c o n t r a a febre a m a r e l a devia se restringir às pessoas que viajavam para as regiões onde a doença grassava. O coronel Stephenson d e c l a r o u - s e a b a l a d o c o m essa decisão: segundo ele, teria sido preferível interromper t o t a l m e n t e a distribuição da vacina a t o m a r medidas parciais e decretar e x c e ç õ e s . 162 O l a b o r a t ó r i o da F u n d a ç ã o Rockefeller passa, n o m ê s de j u n h o , à produção acelerada da vacina sem soro. Kenneth Goodner, responsável pela produção, ficou m u i t o aflito c o m o episódio de hepatite pós-vacinal. Seu colega Strode o descreve, n o início de 1 9 4 2 , c o m o "nervoso e deprimido". Goodner t a m b é m t e m e que sejam m o v i d o s processos c o n t r a a F u n d a ç ã o Rockefeller e o a t i n j a m pessoalmente. Segundo ele, a fundação n u n c a dev e r i a ter se l a n ç a d o n a p r o d u ç ã o e m l a r g a e s c a l a da v a c i n a . J o h n D . Rockefeller J u n i o r trata do problema da vacina c o m o diretor da IHD, Fosdick. Convencido de que a Fundação Rockefeller n ã o c o m e t e u n e n h u m erro i n tencional e de que todo o saber científico disponível foi investido n a p r o dução da v a c i n a , Rockefeller m a n t é m - s e imperturbável. Fosdick e Strode c o n c o r d a m que, n o futuro, o PHS o u a indústria deverão r e t o m a r a p r o d u ção da v a c i n a c o n t r a a febre amarela. W a r r e n i m p u t o u os problemas enc o n t r a d o s à m u d a n ç a de escala: n o Brasil c o m o n o s Estados U n i d o s , a p a s s a g e m à produção em m a s s a se fez a c o m p a n h a r de disfunções. E m 7 de j u l h o , o Dr. Veledee, do NHI, debateu a oportunidade de autorizar a IHD a produzir a v a c i n a c o n t r a a febre a m a r e l a . Ele a c h a v a que sempre seria possível entregar a v a c i n a ao Exército sem passar por u m longo procedim e n t o de autorização f o r m a l . 163 E m 11 de setembro de 1 9 4 2 , u m a reunião dos representantes do Exército, da M a r i n h a e da Fundação Rockefeller endossa a conclusão de que a vacina sem soro é eficaz, e n ã o provoca icterícia. Os p a r t i c i p a n t e s r e c o m e n d a r a m , c o n s e q ü e n t e m e n t e , a r e t o m a d a da vacinação n o Exército e na M a r i n h a . 164 A p a r t i r de m a i o de 1 9 4 2 , o l a b o r a t ó r i o da F u n d a ç ã o Rockefeller lança u m a a m p l a pesquisa para identificar e isolar o agente da icterícia e revelar imediatamente o n e x o c a u s a l entre os lotes de soro c o n t a m i n a d o s e os lotes ictéricos da v a c i n a . C o m a rápida aceleração da p r o d u ç ã o da vacina e m Nova York, o Laboratório da Febre Amarela c o n s u m i u de 8 a 1 0 litros de soro h u m a n o . O Dr. T h o m a s Turner, da Escola de Medicina da Universidade J o h n s H o p k i n s , r e s p o n s a b i l i z o u - s e pela c o l e t a de s o r o ; os v o l u n t á r i o s f o r a m p r i n c i p a l m e n t e estudantes de medicina, i n t e r n o s , e n f e r m e i r a s e t é c n i c o s de l a b o r a t ó r i o da cidade de B a l t i m o r e . O s o r o dos doadores foi misturado, e o pool de soro n o r m a l era enviado semanalmente a Nova York. Esse soro serviu para diluir o líquido dos embriões de galinha infectados contendo o vírus 1 7 D , à proporção de u m a medida de líquido de embrião para q u a t r o medidas de soro h u m a n o . 1 6 5 A partir de maio, o labo- ratório de Nova York dedicou-se a pesquisar os doadores que e s t a v a m n a origem dos lotes ictéricos. Bauer pediu ao Dr. Turner, de Baltimore, que lhe apresentasse os dossiês médicos daqueles d o a d o r e s . 166 M a x c y , da Escola de Medicina da Universidade J o h n s Hopkins, comprometeu-se a realizar u m a enquete n o local. Ele sugeriu que u m a hepatite, ainda que m u i t o r e m o t a e difícil de ser localizada, poderia estar n a o r i g e m da c o n t a m i n a ç ã o a t u a l , pois o agente infeccioso podia ficar oculto n o sangue. E m 6 de m a i o , c o m e n t a n d o os dados coletados por M a x c y , Bauer n o t o u que o soro dos dois doadores v í t i m a s , n o passado, de hepatite havia sido incluído na preparação dos dois lotes de vacina mais ictéricos. Essa indicação n ã o tinha, todavia, valor de p r o v a . 167 Bauer apresentou m a p a s que m o s t r a v a m as p r o v á - veis correlações entre os lotes de soro suspeitos e os lotes de vacina c o n t a minados. 168 Eaton, que e x a m i n o u esses dados, n ã o estava convencido de que eles d e m o n s t r a v a m o papel direto do soro na gênese da hepatite. S a w y e r pareceu, inicialmente, concordar c o m a opinião de Eaton. Escreveu-lhe e m 1 8 de m a i o , dizendo que "a prova de que o soro h u m a n o é inteiramente responsável pela c o n t a m i n a ç ã o n ã o é de m o d o a l g u m satisfatória". Entret a n t o , ele ficou i m p r e s s i o n a d o c o m os dados coletados p o r B a u e r e, e m carta enviada a M e y e r e m 2 1 de maio, afirmou que os novos m a p a s preparados por Bauer eram completamente límpidos e indicavam fortes correlações entre soro e i c t e r í c i a . 169 As suspeitas de B a u e r e de M a x c y v o l t a r a m - s e para os portadores i n v i s í v e i s do v í r u s da i c t e r í c i a . B a u e r m e n c i o n o u u m e s t u d o s o b r e a disfunção hepática observada em estudantes de medicina que revelou que 8% deles f o r a m vítimas de "hepatite crônica s u b c l í n i c a " . 170 Um memoran- do redigido por Bauer e m 3 0 de o u t u b r o de 1 9 4 2 sugeria que entre setemb r o de 1 9 4 1 e j a n e i r o de 1 9 4 2 , por razões que ainda c o n t i n u a v a m m i s t e r i o s a s , u m n ú m e r o a n o r m a l m e n t e elevado de d o a d o r e s de s a n g u e e m B a l t i m o r e e r a m portadores de u m vírus i c t e r o g ê n i c o . 171 E m fins de 1 9 4 2 , S a w y e r propõe que u m estudo estatístico detalhado da epidemia de icterícia p ó s - v a c i n a l seja financiado pela I H D . 1 7 2 A m i s s ã o é confiada a Persis P u t n a m , que e m dezembro do m e s m o a n o vai a Washington, a c o m p a n h a do de u m a colega, a Srta. Mead, para consultar os dossiês sobre a icterícia, e transferir os dados para cartões perfurados. O destino de todos os lotes de soro foi analisado, o que permitiu estabelecer correlações entre os lotes que c o n t i n h a m pelo m e n o s u m doador q u e houvesse sofrido de icterícia a n t e r i o r m e n t e e o s u r g i m e n t o de hepatite na v a c i n a . Tais correlações f o r a m consideradas estatisticamente significativas, m a s longe de serem perfeitas. O relatório oficial sobre a icterícia n o Exército, publicado e m 1 9 4 4 , r e t o m a os resultados dessa e n q u e t e . 173 Nesse ínterim, a imprensa v o l t o u suas atenções para o caso. O j o r n a l The Chicago Daily Tribune de 2 5 de j u n h o publica u m artigo intitulado "Há 2 8 . 5 8 5 casos de icterícia, 6 5 deles m o r t a i s " (trata-se das cifras oficiais; a avaliação oficiosa foi de a p r o x i m a d a m e n t e 5 0 . 0 0 0 casos de icterícia p ó s vacinal). 174 O artigo m e n c i o n a que o S u r g e o n General havia, inicialmente, se o p o s t o à generalização da v a c i n a ç ã o c o n t r a a febre a m a r e l a , m a s fora v o t o vencido. A dificuldade inicial e m estabelecer u m a a p r o x i m a ç ã o , por causa do período m u i t o longo de incubação dessa doença, foi mencionada pelo a u t o r do artigo, para q u e m a questão estava em, finalmente, saber se n ã o se havia cometido u m erro de j u l g a m e n t o prejudicial; ele solicita u m inquérito sobre o a s s u n t o . U m artigo publicado n o Journal of the American Medical Association em 1 de o u t u b r o de 1 9 4 2 , da pena de seu redator-chefe, o Dr. Morris Fishbein, critica o Chicago Daily Tribune por ter suscitado t e m o r e s inúteis. A l é m de o a r t i g o ser n o c i v o para o m o r a l das t r o p a s , as acusações feitas eram, segundo Fishbein, t o t a l m e n t e desprovidas de f u n damento. As verificações a que a vacina contra a febre amarela foi s u b m e tida eram efetivamente adequadas, e "a partir do m o m e n t o em que a icterícia s u r g i u e m a s s o c i a ç ã o c o m u m a v a c i n a c o n t r a a febre a m a r e l a , os m e l h o r e s t a l e n t o s m é d i c o s dos Estados Unidos dedicaram s u a s forças a elucidar a questão". 175 O Chicago Daily News (concorrente do Chicago Daily Tribune) publica em 5 de agosto u m artigo intitulado "Os médicos do Exército c o n t ê m a icterícia: as críticas são refutadas", seguido, em 6 de agosto, de "A incidência da icterícia diminui n o Exército, afirma Fishbein. A doença provocada pela vacinação será eliminada". A m e n s a g e m implícita é que a epidemia de icterícia a g o r a pertence ao passado. O fato de o m o r a l das t r o p a s ter sido a t i n g i d o foi e f e t i v a m e n t e v i s t o c o m o u m a transgressão grave. E m 1 8 de o u t u b r o de 1 9 4 2 , o New York Times escreve, em u m artigo intitulado "A icterícia n o Exército. Ligada ao soro c o n t r a a febre amarela. Ela diminui cada vez m a i s " , que u m dos jornais de Chicago criou uma tempestade em torno dos casos de icterícia que se seguiram à inoculação dos soldados com a vacina contra a febre amarela. Nosso jornal examinou, portanto, a suposta negligência do Exército, e não encontrou nenhum sinal que a confirme, e nada que possa provocar críticas. 176 Segurança Sanitária e Saber Científico: o debate sobre a icterícia pós-vacinal Em 1 9 4 3 , a icterícia transmitida pelo soro m u d a de status dentro da F u n d a ç ã o Rockefeller. De l a m e n t á v e l fonte de c o n t a m i n a ç ã o das v a c i n a s fabricadas n o s l a b o r a t ó r i o s que t i n h a m dificuldade e m m a n t e r padrões adequados de produção, ela passa a ser u m dos principais objetos de pesquisa do laboratório da IHD e m Nova York. Em setembro de 1 9 4 2 , a IHD decide oficialmente incluir a icterícia infecciosa e m seu p r o g r a m a de pesquisa e destinar 3 0 0 . 0 0 0 dólares a tais estudos, que se apóiam na expertise desse laboratório em virologia (tratava-se de u m dos laboratórios de ponta nessa área, e u m dos primeiros a introduzir técnicas novas, tais c o m o a conservação dos vírus e m células e m cultura e a ultracentrifugação). 177 As experiências realizadas n o laboratório da IHD e m Nova York p r o c u r a r a m induzir u m a icterícia experimental e m cobaias e m a n t e r o vírus a que se a t r i b u í a esta doença e m u m a c u l t u r a de células. Tentativas s e m e l h a n t e s f o r a m feitas e m o u t r o s laboratórios, c o m o o do Department o f Public Health do estado da Califórnia, o u os laboratórios da Fundação Hooper, na U n i versidade da Califórnia (onde M e y e r trabalhava). Tais pesquisas n ã o c h e g a r a m n e m ao isolamento do agente responsável pela doença n e m ao estabelecimento de u m modelo experimental de icterícia infecciosa t r a n s m i t i da pelo s o r o . 178 A inexistência de modelos a n i m a i s favoreceu a e x p e r i m e n t a ç ã o e m seres h u m a n o s . Os especialistas do PHS que h a v i a m estudado a epidemia de icterícia pós-vacinal ocorrida n a s ilhas S t . T h o m a s e S t . J o h n (Virgin Islands) u t i l i z a r a m o soro dos doentes para realizar experiências sobre a t r a n s m i s s ã o desta doença. I n j e t o u - s e e m 1 8 9 v o l u n t á r i o s de a m b o s os sexos (recrutados e m u m a "instituição que t e m u m a população de 1 . 7 0 0 pessoas") o u a vacina c o n t r a a febre amarela, o u diversas concentrações de s o r o de pessoas que sofriam de icterícia p ó s - v a c i n a l , o u ainda u m s o r o tratado por diferentes métodos para destruir o seu agente infeccioso. Trinta v o l u n t á r i o s d e s e n v o l v e r a m icterícia, dos q u a i s sete c a s o s r e l a t i v a m e n t e severos e 2 3 moderados. A distribuição dos casos indicou que seu agente era u m vírus filtrável, capaz de sobreviver a u m aquecimento a 5 6 ° C dur a n t e m e i a h o r a , a 4 ° C p o r u m t e m p o m a i s prolongado, e à liofilização (secagem a frio a v á c u o ) . Todas as t e n t a t i v a s de t r a n s m i t i r a icterícia às cobaias (macacos, porcos, coelhos, porquinhos-da-índia, dongos e hamsters) ratos, c a m u n - fracassaram. Os especialistas do PHS o b s e r v a r a m que, dada a resistência extraordinária do agente da icterícia aos m e i o s h a b i t u ais de n e u t r a l i z a ç ã o dos v í r u s , t o r n a v a - s e i m p e r a t i v o e n c o n t r a r o m a i s rápido possível u m meio de detectar esse agente n o sangue ou, o u t r a alternativa, de desenvolver u m método de t r a t a m e n t o dos produtos sanguíneos que eliminasse o risco de t r a n s m i s s ã o da icterícia por tais p r o d u t o s . 179 Findlay e M a r t i n p r o c u r a r a m , em 1 9 4 3 , determinar por que a vacin a ç ã o c o n t r a a febre a m a r e l a n ã o havia provocado casos secundários de infecção. Realizaram, portanto, u m certo n ú m e r o de experiências em q u a t r o v o l u n t á r i o s saudáveis, todos oficiais do Exército britânico (recompensados " c o m gratidão e admiração"). Três dos quatro voluntários em cujas narinas se i n t r o d u z i u m a t e r i a l e x t r a í d o da l a v a g e m da cavidade nasofaríngea de indivíduos que sofriam de icterícia induzida pela v a c i n a ¬ ç ã o c o n t r a a febre a m a r e l a desenvolveram icterícia. O período de i n c u b a ç ã o foi de 3 0 a 5 0 dias, e os s i n t o m a s clínicos f o r a m s i m i l a r e s a o s de icterícia infecciosa. Findlay e M a r t i n h a v i a m anotado, anteriormente, que em 1 9 3 8 relatórios sobre a epidemia de icterícia que se seguiu à injeção de soro i m u n e c o n t r a o s a r a m p o d e s t a c a r a m casos secundários desenvolvidos a partir de casos de infecção pelo soro. A pesquisa realizada c o n f i r m o u que o agente responsável pela icterícia transmitida por soro ( m u i t o p r o v a velmente, u m vírus) t a m b é m estava presente nas secreções nasais e / o u na saliva. Seu trabalho n ã o conseguiu explicar por que à epidemia de icterícia pós-vacinal n o Exército n ã o se s e g u i r a m casos s e c u n d á r i o s . 180 U m m e m o r a n d o publicado e m j a n e i r o de 1 9 4 3 pelo m i n i s t é r i o da Saúde britânico determina as coordenadas sobre a t r a n s m i s s ã o da icterícia pelo soro e os produtos s a n g u í n e o s . 181 As provas c o m e ç a r a m a se a c u m u l a r a p a r t i r de 1 9 3 7 : epidemia de icterícia c o n s e c u t i v a da a d m i n i s t r a ç ã o de soro c o n t r a o s a r a m p o n a Inglaterra; vários casos de icterícia observados e m a n i m a i s domésticos que h a v i a m recebido soro; e, mais recentemente, casos de icterícia após injeção de produtos s a n g u í n e o s . 182 O memorando, de grande clareza, conclui que o a s s u n t o é de grande importância. A c o m p r e e n s ã o do m e c a n i s m o de i n d u ç ã o da icterícia, s e g u n d o os a u t o r e s do m e m o r a n d o , quase n ã o avançara desde 1 9 3 7 . No entanto, u m a conclusão se impõe: "A freqüência dos incidentes elimina todas as dúvidas sobre a a s s o c i a ç ã o entre a injeção dos p r o d u t o s s a n g u í n e o s e o s u r g i m e n t o da icterícia. D e v e m o s e n c a r a r a possibilidade de que o u t r o s c a s o s o c o r r a m , especialmente após a t r a n s f u s ã o de sangue". Na falta de m é t o d o próprio p a r a identificar o a g e n t e da icterícia, e dada a impossibilidade de i n t e r r o m p e r as t r a n s f u s õ e s s a n g u í n e a s n a s situações de emergência, o ú n i c o r e c u r s o possível é a rápida identificação dos lotes de s o r o e de p l a s m a icterogênicos, e s u a eliminação. Isso s u p u n h a u m a c o m p a n h a m e n t o m i nucioso dos resultados da utilização de cada lote de sangue e de produtos sanguíneos. 183 Comentando o memorando, o editorial da Lancet afirma que n ã o se trata de u m a c o n s t a t a ç ã o científica, m a s apenas de u m a advertên- cia aos médicos sobre a possibilidade de que a injeção de produtos s a n g u í neos induza icterícia. De fato, apesar da existência de n u m e r o s a s pesquisas e x p e r i m e n t a i s sobre o a s s u n t o , a prova estava longe de ser f o r m a l m e n t e estabelecida; até o m o m e n t o , t r a t a v a - s e de fortes suposições. Pode ser, acrescenta o editorialista da Lancet, que, observando-se mais de perto, se verifique que tal icterícia é m a i s freqüente do que se i m a g i n a . 184 O artigo de S a w y e r e seus colegas que expõem o ponto em que estão os c o n h e c i m e n t o s s o b r e a epidemia de icterícia p ó s - v a c i n a l n o E x é r c i t o a m e r i c a n o insiste na incerteza sobre a etiologia desta d o e n ç a . 185 As expli¬ cações fornecidas pelos autores a l e g a m a ausência de n e x o c a u s a l entre a icterícia e a presença de soro n a v a c i n a c o n t r a a febre amarela. Os casos observados n a I n g l a t e r r a f o r a m associados à c o n t a m i n a ç ã o potencial da cepa viral utilizada para a imunização; os registrados n o Brasil em 1 9 3 7 e 1 9 3 8 , atribuídos a u m s o r o de m a c a c o c o n t a m i n a d o ; as c o n t a m i n a ç õ e s o b s e r v a d a s n o B r a s i l e m 1 9 3 9 e 1 9 4 0 e r a m d i s t r i b u í d a s de m a n e i r a inabitual, e os pesquisadores presentes n o local a v a n ç a r a m a hipótese de que estavam e m c a u s a dois fatores etiológicos, dos quais apenas u m ligado ao soro h u m a n o empregado na produção da vacina. Para descrever o e p i s ó d i o de i c t e r í c i a p ó s - v a c i n a l o c o r r i d o n o B r a s i l , a p a l a v r a mais freqüentemente empregada por S a w y e r e seus colegas é "peculiar": a dist r i b u i ç ã o g e o g r á f i c a dos c a s o s foi peculiar, a variabilidade das t a x a s de icterícia induzidas pelo m e s m o lote de s o r o e m localidades diferentes foi peculiar, o fato de a doença ter sido mais severa entre adultos do que entre crianças foi peculiar, a freqüência m a i o r à c a m p a n h a foi peculiar. 186 Dian- te de tantas coisas peculiares, quase n ã o é de se espantar que os responsáveis pelo laboratório da Fundação Rockefeller em Nova York n ã o t e n h a m procedido c o m o seus colegas brasileiros, e que o soro h u m a n o n ã o tenha sido descartado da linha de p r o d u ç ã o da v a c i n a c o n t r a a febre a m a r e l a . A l é m disso, os fatos q u e l i g a r a m o s o r o h u m a n o à icterícia e m o u t r o s casos, tais c o m o a administração de soro contra o s a r a m p o o u a transfusão de sangue e de produtos sanguíneos, forneceram prova apenas parcial; alguns casos f o r a m descritos na literatura especializada, m a s tudo leva a crer que tratava-se de fatos isolados. O soro contra o sarampo foi difundido em larga escala nos Estados Unidos sem provocar efeitos indesejáveis, as transfusões t o r n a r a m - s e prática corrente em vários países sem que n e les tenha ocorrido u m a epidemia de icterícia, e em 1 9 4 0 u m a publicação c o m u n i c o u o fracasso das tentativas de transferir a icterícia por são direta do sangue dos doentes a voluntários s a u d á v e i s . Sawyer e seus colegas apresentam a transfu- 187 ausência de provas e p i d e m i o l ó g i c a s c l a r a s c o m o j u s t i f i c a t i v a p a r a s u a i n a ç ã o até a b r i l de 1942. 1 8 8 M a i s tarde, seus ex-colegas da Fundação Rockefeller imputaram seu erro a duas causas distintas. A primeira explicação é conjuntural: é o caráter do diretor da IHD que é condenado. S a w y e r é, c o m efeito, descrito c o m o u m a personalidade rígida, c o m certa aversão a m u d a r o c u r s o de u m a ação iniciada, e dotada de u m senso de responsabilidade exagerado e p o u c o inclinada a dividir seu poder. Ele preferiu t o m a r todas as decisões s o z i n h o , s e m c o n s u l t a r os o u t r o s especialistas da F u n d a ç ã o Rockefeller n e m os m e m b r o s da direção científica da fundação. T a m b é m n ã o colocou os responsáveis pelos serviços de saúde do Exército a par dos problemas de desenvolvimento da vacina c o n t r a a febre amarela e dos acidentes o c o r r i dos n o Brasil. Se eles tivessem sido informados, a decisão de l a n ç a r u m a c a m p a n h a de m a s s a poderia ter sido t o m a d a c o m conhecimento de causa, e a responsabilidade por u m acidente teria, a s s i m , sido partilhada todos os envolvidos. 189 entre A segunda explicação para o erro de S a w y e r baseia- se na diferença entre "os h o m e n s de laboratório" e "os h o m e n s de c a m p o " , e e n t r e e a lógica da i n v e s t i g a ç ã o científica e a da a ç ã o e m m a t é r i a de saúde pública. M e y e r e S m i t h a t r i b u e m as decisões discutíveis de S a w y e r à sua falta de experiência em c a m p o . Hackett resume esse a r g u m e n t o e m u m a c a r t a enviada a Meyer: [Sawyer] adotou uma atitude de pesquisador, para quem uma cadeia causal não pode ser aceita antes de ser provada. Soper tinha a atitude do responsável pela saúde pública guiado pelo princípio de precaução e para quem, se a etiologia de um fato com sérias conseqüências sobre a saúde não for clara, é preciso seguir todas as pistas e eliminar qualquer entidade suspeita até que se possa provar sua inocuidade. 190 O e x a m e c o m p a r a t i v o das p r á t i c a s dos especialistas da F u n d a ç ã o Rockefeller e m Nova York e de seus colegas n o Brasil pode efetivamente revelar diferenças significativas. Tais diferenças, p a r a m i m , n ã o se l i m i t a m unicamente à natureza da prova exigida para se iniciar u m a ação. Em Nova York e n o Rio de Janeiro, os pesquisadores tiveram dúvidas q u a n t o à solidez do nexo causal entre a icterícia e o soro h u m a n o , e nos dois locais eles a g i r a m c o m base em u m a prova imperfeita, em correlações parciais e em dados epidemiológicos por vezes difíceis de explicar. Soper, Fox e seus colegas n o Rio de J a n e i r o i n t e r r o m p e r a m a produção da vacina c o m soro h u m a n o e desenvolveram, paralelamente, complicadas especulações sobre a possibilidade de u m a dupla etiologia da icterícia pós-vacinal. S a w y e r alegou as dissonâncias entre a distribuição dos casos de hepatite e m c a m p o e a distribuição dos lotes suspeitos de vacina, aceitando em princípio a c o n c l u são de que a irrupção de icterícia estava ligada à c o n t a m i n a ç ã o da vacina contra a febre amarela, provavelmente veiculada pelo soro h u m a n o . 191 U m a diferença mais pertinente, a m e u ver, é que se verifica entre a natureza do controle exercido em u m a região voltada para o "laboratório" e a daquele exercido em u m a região orientada para o "campo". O l a b o r a t ó rio de N o v a York dedicou-se principalmente ao c o n t r o l e da v a c i n a . S e u s responsáveis supuseram que a supervisão da qualidade do vírus e dos dem a i s produtos utilizados para a vacinação era suficiente para g a r a n t i r os resultados desejados. 192 Isso pode explicar a resistência de Bauer a s u b s t i - tuir o soro h u m a n o por líquido de embrião de galinha. Envolvido na pro¬ c u r a da v a c i n a perfeita, ele a c h o u que o soro h u m a n o era melhor, pois a s s e g u r a v a u m a m e l h o r qualidade de sobrevida a o v í r u s dessecado. Por seu lado, os pesquisadores do laboratório do Rio n ã o v i s a v a m a produzir u m a vacina perfeita, m a s sim u m a adequada cobertura vacinai da população. Conseqüentemente, e s t a v a m c o m p l e t a m e n t e satisfeitos em c o n s t a t a r que a qualidade de sobrevida do vírus n o líquido de embrião era suficiente p a r a a s necessidades p r á t i c a s da v a c i n a ç ã o e m c a m p o . A ênfase dada à ação de seu p r o d u t o - a indução da imunidade c o n t r a a febre a m a r e l a pode explicar por que suas publicações i n t e r e s s a v a m - s e u n i c a m e n t e pela v a c i n a ç ã o c o n t r a a febre amarela, sem m e n c i o n a r as conseqüências mais amplas do fato de que o soro h u m a n o considerado "normal" pudesse c o n ter vírus de icterícia infecciosa (e talvez o u t r o s v í r u s ) . E m contrapartida, os pesquisadores que t r a b a l h a v a m nos Estados Unidos, m a i s preocupados c o m o próprio produto do que c o m sua ação, sublinharam imediatamente as sérias i m p l i c a ç õ e s da o b s e r v a ç ã o de que u m soro h u m a n o "normal" poderia t r a n s m i t i r doenças graves p o r m e i o da u t i l i z a ç ã o dos p r o d u t o s derivados do sangue h u m a n o e m m e d i c i n a . 193 Os especialistas da Fundação Rockefeller n o Brasil (que dirigem u m serviço de saúde pública do governo brasileiro) enfatizaram o a c o m p a n h a m e n t o detalhado das pessoas vacinadas. A preparação das listas e a elaboração das estatísticas da vacinação foram atividades tão importantes quanto a própria v a c i n a ç ã o . Tal equivalência se concretiza pela presença de duas m e s a s n o s p o n t o s de distribuição de v a c i n a : u m a p a r a a p r e p a r a ç ã o da solução de 1 7 D , das seringas e das agulhas, a o u t r a para a preparação das listas de pessoas vacinadas e a para a disposição dos impressos padronizados n o livro da v a c i n a ç ã o . Tais f o r m u l á r i o s , parecidos c o m os impressos utilizados pelos inspetores do Serviço da Febre Amarela que c o n t r o l a r a m a eliminação dos m o s q u i t o s aegypti, e r a m ferramentas simples m a s eficientes n o a c o m p a n h a m e n t o de u m n ú m e r o m u i t o grande de pessoas. M a i s tarde, foi designado u m médico especialmente p a r a a coleta de s o r o e o acompanhamento pós-vacinação. 194 Os casos de icterícia e de encefalite f o - r a m postos em evidência graças a esse dispositivo de vigilância das pessoas. A existência de registros escritos assumia u m a importância crucial: os pesquisadores da Fundação Rockefeller n o Brasil n ã o souberam c o m o classificar os indivíduos que desenvolveram icterícia e disseram ter sido vacinados contra a febre amarela, m a s cujo n o m e n ã o aparecia nas listas preparadas pela Fundação Rockefeller; seria preciso considerá-los c o m o casos de icterícia pós-vacinal o u casos de icterícia independentes da v a c i n a ç ã o ? 195 A o r g a n i z a ç ã o do laboratório do Rio de J a n e i r o reflete a integração da produção da vacina nas atividades de proteção e de vigilância das popu¬ lações h u m a n a s . U m m e s m o prédio abrigava o local de fabricação da v a cina, u m laboratório de entomologia onde se estudavam os m o s q u i t o s , e espaços dedicados às investigações epidemiológicas da febre amarela; praticou-se n u m m e s m o lugar grande quantidade de e x a m e s patológicos de amostras de fígado. Essas atividades não eram em absoluto c o m p a r t i m e n t a d a s : testes de proteção do c a m u n d o n g o verificaram a presença de a n t i c o r p o s em pessoas v a c i n a d a s , em c r i a n ç a s que v i v i a m em locais suspeitos de endemia, e no s a n g u e dos a n i m a i s silvestres; e x a m e s histológicos f o r a m realizados n o fígado de pessoas que h a v i a m falecido em c o n s e q ü ê n c i a de u m a "febre" suspeita e em m a c a c o s infectados n o laboratório. As m e s m a s pessoas, m u i t a s vezes ao m e s m o tempo, se dedic a r a m à pesquisa, à p r o d u ç ã o do 1 7D, à vigilância epidemiológica e ao c o n t r o l e da eficácia das v a c i n a ç õ e s . Em c o n t r a p a r t i d a , o l a b o r a t ó r i o da IHD em Nova York foi fundado c o m o único objetivo de domesticar o vírus da febre amarela. S u a atividade focalizou exclusivamente esse vírus - sua m o d i f i c a ç ã o , sua h o m o g e n e i z a ç ã o e sua c o n s e r v a ç ã o em c u l t u r a . A l é m disso, o estudo desse vírus foi desenvolvido unicamente no espaço fechado do l a b o r a t ó r i o . U m a vez terminado o período dos testes preliminares da vacina, os pesquisadores de Nova York se desinteressaram dos efeitos induzidos nos indivíduos imunizados. O a c o m p a n h a m e n t o das pessoas v a cinadas só começou depois do anúncio da irrupção de hepatite, e foi realizado sob a forma de u m a enquete epidemiológica que se interessou e x c l u s i v a m e n t e pelos indivíduos doentes. Tais enquetes são m u i t o diferentes, na f o r m a e n o objetivo, das i n v e s t i g a ç õ e s destinadas a a c o m p a n h a r as eventuais conseqüências da vacinação em c a m p o , que se interessam pelo c o n j u n t o da população v a c i n a d a . 196 A h i s t ó r i a da febre a m a r e l a ilustra a dificuldade - b e m conhecida dos h i s t o r i a d o r e s da t e c n o l o g i a - de fiscalizar todos os e l e m e n t o s n ã o h u m a n o s do sistema: a opção dos pesquisadores de Nova York por c o n t r o lar u m a vacina por meio da supervisão rigorosa de todos os elementos de u m a linha de produção revelou-se menos eficiente do que a dos pesquisadores do Rio, que o p t a r a m por controlar sua vacina indiretamente, medindo seus efeitos em u m a p o p u l a ç ã o b e m f o c a l i z a d a . 197 A l é m disso, essa história evidencia a especificidade dos dispositivos técnicos utilizados em m a t é r i a de saúde pública. Nessa área, dispositivos eficientes i n t e g r a m e m i s t u r a m técnicas de vigilância e de manipulação das coisas - culturas de m i c r o r g a n i s m o s , testes de laboratório, coleções de a m o s t r a s de materiais biológicos - c o m técnicas de vigilância e de manipulação dos indivíduos - listas, f o r m u l á r i o s , quadros sinópticos e estatísticos. A c o n j u n ç ã o dessas técnicas de vigilância cria u m a d i n â m i c a social de h o m o g e n e i z a ç ã o das pessoas e de seu meio n a t u r a l , vista c o m o u m c o m p o n e n t e essencial da modernização. Assim, não é de espantar que Vargas, preocupado em m o dernizar o Brasil, tenha apoiado irrestritamente as c a m p a n h a s da Fundação Rockefeller. Notas 1 STOKES, Α.; BAUER, J . Η. & HUDSON, Ν. P. The transmission o f yellow fever to Macacus rhesus. Journal of the American Medical Association, 9 0 ( 4 ) : 2 5 3 - 2 5 4 , 1 9 2 8 . 2 BERRY G. P. & KITCHEN S. F. Yellow fever accidentally contracted in the laboratory. American Journal of Tropical Medicine, 1 1 : 3 6 5 - 4 3 4 , 1 9 3 1 . 3 ARAGÃO, H. de B. Relatório a respeito de algumas pesquisas sobre a febre amarela. Memórias do Instituto Oswaldo Cruz, supl. 2 : 2 3 - 3 4 , 1 9 2 8 ; HINDLE, E. A yellow fever vaccine. The British Medical Journal, 1 : 9 7 6 - 9 7 7 , 1 9 2 8 ; PETTIT, A. Rapport sur la valeur immunisante des vaccins employes contre la fièvre j a u n e et la valeur thérapeutique du sérum anti-amaril. CR de l'Académie de Médecine (Paris), 1 0 5 : 5 2 2 - 5 2 6 , 1 9 1 3 . Esse relatório é o resultado das deliberações de uma comissão da Académie des Sciences, composta pelos Srs. Pettit (relator), Roux, Bernard, Renault e Marchoux. 4 SAWYER, W. Α.; KITCHEN S. F. & LLOYD, W. Vaccination against yellow fever with imune serum and virus fixed for mice. The Journal of Experimental Medicine, 55(1 ) : 9 4 5 9 6 9 , 1 9 3 2 , às páginas 9 4 5 - 9 4 6 . PETTIT, A. Rapport sur la valeur immunisante des vaccins employes contre la fièvre j a u n e et la valeur thérapeutique du sérum antiamaril, op. cit. Em 1 9 3 6 , Findlay e MacKenzie, de um lado, Gordon e Hugues, de outro, demonstraram que as preparações à base de vírus morto eram incapazes de conferir imunidade ativa contra a febre amarela. Cf. FINDLAY G. M. & MacKENZIE, R. D. Attempts to produce i m m u n i t y against yellow fever with killed virus. Journal of Pathology and Bacteriology, 4 3 : 2 0 5 - 2 0 8 , 1 9 3 6 ; GORDON J . E. & HUGHES, T.P.A study of inactivated yellow fever virus as immunizing agent. Journal of Immunology, 30:221234, 1936. 5 Soper a Russel, 2 8 de janeiro de 1 9 2 9 ; Russel a Connor, 14 de fevereiro de 1 9 2 9 ; Soper a Russel, 6 de março de 1 9 2 9 , RAC, RG 1.1, série 3 0 5 , caixa 2 0 , dossiê 1 6 0 . 6 Soper a Russel, 2 de abril de 1 9 2 9 ; Soper a Russel, 18 de abril de 1 9 2 9 , RAC, RG 1.1, série 3 0 5 , caixa 2 0 , dossiê 1 6 0 . 7 Carlos Chagas, citado por PETTIT, A. Rapport sur la valeur immunisante des vaccins employés contre la fièvre j a u n e et la valeur thérapeutique du sérum anti-amaril, op. cit., p . 5 2 3 - 5 2 4 . Pettit é categórico: "Concluindo: a vacinação antiamarílica ainda não está pronta no que concerne à espécie humana", Idem, p.524. Aragão foi o primeiro pesquisador brasileiro a estudar a febre amarela no macaco. Sua vacinação, realizada em condições emergenciais, pode ser comparada às tentativas de Freire no fim do século XIX, que distribuiu uma vacina às populações sem que sua eficácia ou sua inocuidade tivessem sido testadas rigorosamente; além disso, n e n h u m desdobram e n t o regular estabeleceu o grau de proteção obtido. Em artigo ulterior, Aragão explica que é essencial que o vírus esteja vivo para que ele imunize contra a febre amarela, sem no entanto fazer menção a suas campanhas de vacinação em larga escala, com um vírus morto, Cf. ARAGÃO, H. de B. Emploi du virus vivant dans la vaccination contre la fièvre jaune. CR de la Société de Biologie, 1 1 2 , p . 1 . 4 7 1 - 1 . 4 7 3 , 1 9 3 3 . 8 Soper relatou que o laboratório da IHD em Nova York manteve duas cepas de vírus de febre amarela originárias do Brasil: a cepa FW (de Francisco Weiss, paciente húngaro), isolada no início da epidemia do Rio na primavera de 1 9 2 8 , e a cepa BB (de Bernardo Bragg, j u d e u russo), de 2 de setembro de 1 9 2 8 . Em ambos os casos, o sangue dos doentes foi injetado no macaco, e os tecidos de u m macaco infectado foram enviados a Nova York, cf. Soper a Hackett, 6 de outubro de 1 9 5 1 , RAC, RG 3 . 1 , série 9 0 8 , caixa 1, dossiê 8. 9 THEILER, M. Susceptibility o f white mice to the virus of yellow fever. Science, 369,1930. 10 SAWYER, W. Α.; KITCHEN, S. F. & LLOYD, W. Vaccination against yellow fever with i m m u n e serum and virus fixed for mice. Proceedings of the Society for Experimental Biology and Medicine, 2 9 : 6 2 - 6 4 , 1 9 3 1 - 1 9 3 2 ; dos mesmos autores, Vaccination against yellow fever with immune serum and virus fixed for mice. The Journal of Experimental Medicine, 5 5 ( 1 ) : 9 4 5 - 9 6 9 , 1 9 3 2 . 11 THEILER, M. A n n a l s of Tropical Medicine and Parasitobgy, 12 SAWYER, W. Α.; KITCHEN, S. F. & LLOYD, W. Vaccination against yellow fever with immune serum and virus fixed for mice, op. cit. Em sua primeira série de experiências, Sawyer, Kitchen e Lloyd utilizaram 3 2 macacos; todos foram periodicamente sangrados para se acompanhar a evolução da taxa de anticorpos no sangue. 13 Notas de Hackett sobre a entrevista c o m Sawyer, RAC, RG 3 . 1 , série 9 0 8 , caixa 3, dossiê 1 9 . 14 Notas de Hackett sobre a febre amarela, RAC, RG 3 . 1 , série 9 0 8 , caixa 8, dossiê 8 6 - 1 3 2 ; Wilson a Hackett, 6 de setembro de 1 9 5 1 , RAC, RG 3 . 1 , série 9 0 8 , caixa 1, dossiê 8. As q u a t r o primeiras pessoas vacinadas receberam u m a preparação não-centrifugada de cérebro infectado; após terem sido constatadas reações dolorosas no local da injeção, o protocolo de preparação da vacina foi modificado, e os pacientes seguintes receberam u m a vacina centrifugada e filtrada. 15 SAWYER, W. Α.; KITCHEN, S. F. & LLOYD, W Vaccination against yellow fever with immune serum and virus fixed for mice, op. cit. 16 ROUBAUD, E. & STEFANOPOULO, G. J . Recherches sur la transmission par la voie stégomyenne du virus neurotrope murin de la fièvre j a u n e . Bulletin de la Société de Pathologie Exotique, 2 6 : 3 0 5 - 3 0 9 , 1 9 3 3 . Ver também MOLLARET, P. Le Traitement de la Fièvre Jaune. Paris: J . - B . Ballière et fils, 1 9 3 6 , p. 1 1 8 . Essa avaliação teve que ser modificada ulteriormente. O relatório dos trustees da IHD para 1 9 3 8 revela que mosquitos podiam disseminar o vírus 1 7 D , "um outro golpe de sorte na luta contra a febre amarela", Manuscrito, RAC, RG 1.1, série 3 0 5 , caixa 2 4 , dossiê 1 8 8 . Em 1 9 3 3 e em 1 9 3 6 Stefanopoulo recebeu u m a bolsa da Fundação Rockefeller para realizar pesquisas sobre a febre amarela no Institut Pasteur, Paris. 17 ΡΕΤΤΓΓ, A. & STEFANOPOULO, G. J . Utilisation du sérum antiamaril d'origine animale pour la vaccination de l'homme. Bulletin de l'Académie de Médecine, 1 1 0 , 3ª série, p . 6 7 76, 1 9 3 3 ; A R A G Ã O , H. de B. Emploi du virus vivant dans la vaccination contre la fièvre jaune, op. cit.; STEFANOPOULO, G. J . Sur la vaccination contre la fièvre j a u n e . Bulletin de l'Académie de Médecine, 1 9 3 5 , 1 1 3 , p. 7 8 - 9 6 ; Τ. Ρ. Hughes e W. Uoyd, resulta­ dos não publicados, citados em SOPER, F. L. & SMITH, Η. Η. Yellow fever vaccination with cultivated virus and hyper immune serum. American Journal of Tropical Medicine, 1 8 : 1 1 1 - 1 3 4 , 1 9 3 8 , à página 1 1 4 . A morte de Lloyd em 1 9 3 6 desacelerou as pesquisas sobre a vacinação c o m u m soro hiperimune de origem animal em Nova York, Cf. SOPER, F. L. & SMITH, H. H., Idem, p.112. 18 LLOYD, W. Lemploi d'un virus cultive associe à l'immunité dans la vaccination contre la fièvre jaune. Bulletin de l'Office International d'Hygiène Publique, 2 7 ( 2 ) : 2 . 3 6 5 - 2 . 3 6 8 , 1 9 3 5 . 71:367- 24:249-256, 1930. 19 M O U L I N , A . - M . T h e P a s t e u r I n s t i t u t e s b e t w e e n the t w o W o r l d W a r s : the t r a n s f o r m a t i o n o f the i n t e r n a t i o n a l s a n i t a r y order. In: WEINDLING, P. (Ed.) International World Organizations and Movements, 1918-1939. Cambridge: Cambridge University Press, 1 9 9 5 , p . 2 4 4 - 2 6 5 ; PELIS, K. Prophet for profit in French North Africa: Charles Nicolle and the Pasteur Institute of Tunis, 1 9 0 3 - 1 9 3 6 . Bulletin of the History of Medicine, 7 1 : 5 8 3 - 6 2 2 , 1 9 9 7 . 20 THEILER, M. Susceptibility of white mice to the virus of yellow fever, op. cit. 21 SELLARDS A. W. & LAIGRET, J . Comptes Rendus de l'Académie des Sciences (Paris), 1 9 4 : 1 . 0 6 9 - 1 . 0 7 0 ; 2 . 1 7 5 - 2 . 1 7 7 , 1 9 3 2 ; LAIGRET, J . Archives de l'Institut Pasteur de Tunis, 2 1 ( 3 ) : 1 1 1 - 1 1 5 , 1 9 3 3 ; Idem, 2 2 ( 2 ) , p . 1 9 8 - 2 0 7 , 1 9 3 3 ; LAIGRET J . Bulletin de la Société de Pathologie Exotique, 2 6 ( 4 ) : 8 0 6 - 8 1 7 , 1 9 3 3 . 22 LAIGRET, J . Sur la vaccination contre la fièvre j a u n e par le virus de Max Theiler. Bulletin de l'Office International d'Hygiène Publique, 2 6 ( 1 ) : 1 . 0 7 8 - 1 . 0 8 2 , 1 9 3 4 . 23 Segundo Mollaret, as primeiras vacinações feitas em Túnis foram conduzidas por Sellards com a assistência de Laigret; depois, Sellards partiu, deixando Laigret conduzir suas pesquisas sozinho; o erro teria ocorrido nesse momento. Cf. MOLLARET, Ρ. Le Traitement de la Fièvre Jaune, op. cit., p.114. 24 LAIGRET J - Sur la vaccination contre la fièvre jaune par le virus de Max Theiler, op. cit., p . 1 . 0 7 9 - 1 . 0 8 0 . 25 Haffkine, outro pasteuriano que aplicou fielmente o método de Louis Pasteur para elaborar uma vacina (anticólera), também propôs duas vacinações sucessivas, urna com um "vírus" atenuado e depois outra com um "vírus" ativo, mas teve que renunciar a esse procedimento em razão das dificuldades inerentes à dupla vacinação em campo. Cf. LÕWY, I. From guinea pigs to man: the development of Haffkine's anticholera vaccine. Journal of the History of Medicine and Allied Sciences, 4 7 : 2 7 0 - 3 0 6 , 1 9 9 2 . 26 MATHIS, C.; LAIGRET J . & DURIEUX, C. Trois mille vaccinations contre la fièvre j a u n e en Afrique Occidentale Française au moyen d'un virus vivant de souris, atténué par le vieillissement. Comptes Rendus de l'Académie des Sciences (Paris), 1 9 6 : 7 4 2 - 7 4 4 , 1 9 3 4 . Os poderes coloniais franceses envolveram-se diretamente na pesquisa de u m a vacina contra a febre amarela: assim, o relatório do Dr. Pettit sobre o valor imunizante das vacinas contra a febre amarela, escrito em 1 9 3 1 , foi preparado a pedido do ministro das Colônias, que, em carta enviada à Académie des Sciences, cobrava a avaliação das vacinas existentes. Cf. PETTIT, A. Rapport sur la valeur immunisante des vaccins employés contre la fièvre jaune et la valeur thérapeutique du sérum anti-amaril, op. cit. 27 Grifo do original. MATHIS, C.; LAIGRET J . & DURIEUX, C. Trois mille vaccinations contre la fièvre j a u n e en Afrique Occidentale Française au moyen d'un virus vivant de souris, atténué par le vieillissement, op. cit., p.744. 28 NICOLLE, C. & LAIGRET, J . La vaccination contre la fièvre j a u n e par le virus arnaril vivant, desséché et enrobé. Comptes Rendus de l'Académie des Sciences (Paris), 2 0 1 : 3 1 2 314,1935. 29 30 31 32 33 NICOLLE, C. & LAIGRET J. La vaccination contre la fièvre j a u n e par le virus amaril vivant, desséché et enrobé, op. cit., p . 3 1 3 . MOLLARET, Ρ. Le Traitement de la Fièvre Jaune, op. cit., p . 1 1 5 . Idem. ROUBAUD, Ε. & STEFANOPOULO, G. Recherches sur la transmission par la voie stégornyenne du virus neurotrope murin de la fièvre jaune, op. cit., p . 3 0 9 . ARAGÃO, H. de B. Emploi du virus vivant dans la vaccination contre la fièvre jaune. Comptes Rendus de la Société de Biologie (Paris), 1 1 2 : 1 . 4 7 1 - 1 . 4 7 3 , 1 9 3 3 . 34 Em seu primeiro artigo, Laigret descreve a filtragem da solução-mãe glicerinada, não a das vacinas dessecadas e reconstituídas. LAIGRET, J . L. Sur la vaccination contre la fièvre j a u n e par le virus de M a x Theiler, op. cit., p . 1 . 0 8 0 ; do m e s m o autor, Les vaccinations contre la fièvre jaune. Annales de Médecine, 4 2 : 4 6 3 - 4 7 7 , 1 9 3 7 , à página 4 6 8 . A diferença entre os resultados de Theiler e os de Laigret pode ser explicada pela diferença de resistência das cepas virais: as cepas vacinadoras desenvolvidas n o laboratório da IHD em Nova York revelaram-se, finalmente, mais frágeis do que as utilizadas pelos pesquisadores franceses na África. 35 THEILER, M. & LORING, W. Le danger de la vaccination par le virus amaril neurotrope Seul. Bulletin de l'Office International de l'Hygiène Publique, 2 7 : 1 . 3 4 2 - 1 . 3 4 , 1 9 3 5 7 . Poderia parecer que o sucesso da vacina havia sido, em parte, fruto do acaso: uma verificação adequada no macaco teria desqualificado qualquer uso no homem; mas, os humanos são, provavelmente, menos sensíveis aos efeitos secundários do que os m a c a c o s . U m a versão modificada foi empregada em larga escala na África até os anos 1 9 6 0 . Estudos realizados ulteriormente demonstraram, entretanto, que - c o m o Theiler e W h i t m a n haviam prognosticado - a vacina neurotrópica francesa era mais perigosa para as crianças novas do que o 1 7 D . MONATH, T. P. Yellow fever vaccines: the success o f empiricism, pitfalls of application and transition to molecular vaccinology. In: PLOKT1NE, S. & FANTIN1, B. (Eds.) Vaccinia, Vaccination and Vaccinology: Jenner, Pasteur and their successors. Paris: Elsevier, 1 9 9 6 , p . 1 5 7 - 1 8 2 . 36 MOLLARET, P. Le Traitement de la Fièvre Jaune, op. cit., p. 1 1 3 - 1 2 2 . O método de vacinação de Laigret foi também aplicado no Instituto Pasteur de Paris, no serviço do Dr. René Martin. Idem, p . 1 1 9 . 37 Diário de Soper em 1 9 3 6 , anotações de 3 de j u l h o de 1 9 3 6 , RAC, RG 1.2, Diários, caixa 5 5 . Sawyer anotou em seu diário que suspeitava que Laigret fosse incapaz de responder ao pedido de testar o sangue das pessoas vacinadas. Ε t a m b é m registrou que Stefanopoulo, insatisfeito com o salário recebido no Instituto Pasteur, havia pleiteado um cargo na IHD. S a w y e r não incentivou seu ato, por a c h a r que o trabalho de Stefanopoulo teria mais valor na França e em suas colônias. 38 SOREL, F. La vaccination anti-amarile em Afrique Occidentale Française. Mise en application du procede du vaccin Sellers-Laigret. Bulletin de l'Office International d'Hygiène Publique, 2 8 : 1 . 3 2 5 - 1 . 3 5 6 , 1 9 3 6 . 39 LAIGRET, J . De l'interprétation des troubles consécutifs a u x vaccinations par des virus vivants, en particulier à la vaccination de la fièvre j a u n e . Bulletin de la Société de Pathologie Exotique, 2 9 : 2 3 0 - 2 3 4 , 1 9 3 6 . 40 LAIGRET, J . Les vaccinations contre la fièvre jaune, op. cit., p. 4 7 7 . 41 Soper a Russel, 4 de setembro de 1 9 3 1 , RAC, RG 1.1, série 3 0 5 , caixa 2 1 , dossiê 1 6 7 . 42 Sawyer a Uoyd, 9 de outubro de 1 9 3 1 , RAC, RG 1.1, série 3 0 5 , caixa 2 1 , dossiê 1 6 8 . 43 Soper a Davis, 2 3 / 0 9 / 1 9 3 1 , RAC, RG 1.1, série 3 0 5 , caixa 2 1 , dossiê 1 6 8 . 44 Soper a Russel, 3 0 de novembro de 1 9 3 1 , RAC, RG 1.1, série 3θ5, caixa 2 1 , dossiê 1 6 8 . 45 A partir de 1 9 3 5 , Soper sustentou que, em caso de epidemia de febre amarela silvestre, a Fundação Rockefeller deveria organizar campanhas de vacinação c o m o 17E e com soro de cabra. Uoyd se opôs à idéia. Cf. diário de Soper, 14 de outubro de 1 9 3 5 , RAC, RG 1.1, série 3 0 5 , caixa 2 9 , dossiê 2 1 0 . 46 ΡΕΤΤIΤ, A. & STEFANOPOULO, G. J . Utilisation du sérum antiamaril d'origine animale pour la vaccination de l ' h o m m e , op. cit. STEFANOPOULO, G. S u r la vaccination contre la fièvre jaune, op. cit; FINDLAY, G. M. Immunisation contre la fièvre j a u n e au moyen du virus neutrotrope vivant et d'immunserum hétérologue, op. cit. 47 SOPER, F. L. & SMITH, Η. Η. Yellow fever vaccination w i t h cultivates v i r u s and immune and hyper immune serum. American Journal of Tropical Medicine, 1 8 : 1 1 1 - 1 3 4 , 1 9 3 8 , às páginas 1 1 4 - 1 1 5 . 48 O soro de macaco foi testado no homem em 1 9 3 5 por Theiler e Smith. Cf. THEILER M. & SMITH, Η. Η. L'emploi du sérum hyper i m m u n de singe dans la vaccination contre la fièvre j a u n e . Bulletin de l'Office International d'Hygiène Publique, 2 8 : 2 . 3 5 4 - 2 . 3 5 7, 1 9 3 6 . O preço de u m a dose de soro de macaco foi avaliado em u m dólar; o de u m a dose de soro h u m a n o c o m u m , em 0 , 5 7 dólar; o de soro hiperimune - que tem u m a taxa especialmente alta de anticorpos - , em 3 , 7 0 dólares. 49 Diário do laboratório do Rio de 1 9 3 6 - 1 9 3 7 , anotações de 5 de fevereiro de 1 9 3 6 , RAC, RG 1.1, série 3 0 5 , caixa 4 4 , dossiê 2 5 0 ; Diário de Rickard (que dirigiu o escritório da Fundação Rockefeller no Rio de Janeiro na ausência temporária de Soper), anotações de 11 de fevereiro de 1 9 3 6 , RAC, RG 1.1, série 3 0 5 , caixa 3 0 , dossiê 2 1 2 . Rickard a Sawyer, 18 de fevereiro de 1 9 3 6 , RAC, RG 1.1, série 3 0 5 , caixa 2 1 , dossiê 1 7 8 . 50 Rickard a Sawyer, 12 de março de 1 9 3 6 , RAC, RG 1.1, série 3 0 5 , caixa 2 2 , dossiê 1 7 9 . 51 Diário de Rickard, anotações de 2 0 de fevereiro de 1 9 3 6 , RAC, RG 1.1, série 3 0 5 , caixa 3 0 , dossiê 2 1 2 . Não encontrei registro dos debates sobre a possibilidade de se utilizar a vacina neurotrópica de Laigret. Essa vacina foi considerada perigosa demais pelos dirigentes da Fundação Rockefeller. Cf. Diário de Sawyer em 1 9 3 6 , anotações de 3 de julho, RAC, RG 1 2 . 1 , Diários, caixa 5 5 . 52 Rickard a Sawyer, 1 9 de março de 1 9 3 6 , RAC, RG 1.1, série 3 0 5 , caixa 2 2 , dossiê 1 7 9 . Indivíduos imunizados também foram sangrados para se obter soro imune h u m a n o para futuras vacinações. 53 Diário de Rickard, anotações de 5 de março de 1 9 3 6 , 6 de maio de 1 9 3 6 e 15 de março de 1 9 3 6 , RAC, RG 1.1, série 3 0 5 , caixa 3 0 , dossiê 2 1 2 . 54 Diário de Rickards, anotações de 5 de março de 1 9 3 6 e 15 de março de 1 9 3 6 , RAC, RG 1.1, série 3 0 5 , caixa 3 0 , dossiê 2 1 2 . 55 Diário do laboratório do Rio dos anos 1 9 3 6 - 1 9 3 7 , anotações de 11 de março de 1 9 3 6 , RAC, RG 1.1, série 3 0 5 , caixa 4 4 , dossiê 2 5 0 . 56 Diário de Rickard, anotações de 5 de março de 1 9 3 6 , 6 de maio de 1 9 3 6 e 15 de março de 1 9 3 6 , RAC, RG 1.1, série 3 0 5 , caixa 3 0 , dossiê 2 1 2 . Diário de Soper (de volta ao Rio a partir de abril), anotações de 4 de maio de 1 9 3 6 , RAC, RG 1.1, série 3 0 5 , caixa 3 0 , dossiê 2 1 2 . Wilson a Sawyer, 5 de dezembro de 1 9 3 6 , RAC, RG 1.1, série 3 0 5 , caixa 2 3 , dossiê 1 8 0 . A permissão para vacinar soldados no Mato Grosso foi obtida após longos prazos burocráticos. 57 Diário de Soper, anotações de 11 de abril de 1 9 3 6 , RAC, RG 1.1, série 3 0 5 , caixa 3 0 , dossiê 2 1 2 . 58 Diário de Soper em 1 9 3 7 , anotações de 14 de fevereiro, 16 de fevereiro, RAC, RG 1.1, série 3 0 5 , caixa 3 0 , dossiê 2 1 3 . 59 SOPER F. L. & SMITH Η. H. Yellow fever vaccination with cultivates virus and immune 60 Soper a Sawyer, 2 de abril de 1 9 3 7 , RAC, RG 1.1, série 3 0 5 , caixa 2 3 , dossiê 1 8 1 . Wilson a Sawyer, 2 de j u n h o de 1 9 3 7 , RAC, RG 1.1, caixa 2 3 , dossiê 1 8 3 . Diário do laboratório do Rio dos anos 1 9 3 6 - 1 9 3 7 , anotações de 13 de abril de 1 9 3 7 , RAC, RG 1.1, série 3 0 5 , caixa 4 4 , dossiê 2 5 0 ; Diário de Soper em 1 9 3 7 , anotações de 17 de j u l h o , RAC, RG 1.1, série 3 0 5 , caixa 3 0 , dossiê 2 1 3 . Smith se lembra do caso dos dois funcionários da Panair, que não o surpreendera além da medida, pois Findlay o havia informado da existência de casos semelhantes. Muitos deles não foram detectados. and hyper immune serum, op. cit., p . 1 3 1 . 61 provavelmente porque as pessoas vacinadas c o n t r a febre amarela antes de u m a viagem aos trópicos que desenvolveram icterícia alguns meses mais tarde atribuíram sua doença às conseqüências dessa estada, mais do que à vacinação. 62 Carta de Smith a Hackett, de 4 de fevereiro de I 9 6 0 , RAC, RG 1.1, série 9 0 8 , caixa 2 , dossiê 1 8 . 2 . 63 Soper l e m b r o u - s e de que Findlay havia assinalado a presença dessa doença por ocasião de u m congresso de microbiologia realizado em Londres, no verão de 1 9 3 6 . Soper a Hackett, 1 8 de outubro de 1 9 5 5 , RAC, RG 1.1, série 9 0 8 , caixa 3, dossiê 1 4 . 64 FINDLAY, G. M . & MACCALLUM, F. O. Note on acute hepatitis and yellow fever immunization. Transactions of the Royal Society for Tropical Medicine and Hygiene, 3 1 : 2 9 7 3 0 8 , 1 9 3 7 ; dos mesmos autores, Hepatitis and jaundice association with imunization against certain virus diseases. Proceedings of the Royal Society of Medicine, 3 1 : 7 9 9 - 8 0 8 , 1 9 3 8 . Findlay relatou a Taylor que havia observado 17 casos de icterícia pós-vacinal em 1 . 0 0 0 pessoas vacinadas. Cf. Diário do laboratório do Rio nos anos 1 9 3 6 - 1 9 3 7 , anotações de 13 de abril de 1 9 3 7 , RAC, RG 1.1, série 3 0 5 , caixa 4 4 , dossiê 2 5 0 . A publicação de Findlay e MacCalum (de 2 3 de março de 1 9 3 8 ) menciona 8 7 casos em 3 . 1 0 0 pessoas vacinadas. Cf. Hepatitis and jaundice associated w i t h i m u n i z a t i o n against certain virus diseases, op. cit., p . 7 9 9 . 65 Sir Arnold Theiler, "5th and 6th reports o f the Director o f the Veterinary Research", Department of Agriculture, Union of South Africa, 1 9 1 8 , p . 1 - 1 6 4 . 66 Diário de Soper em 1 9 3 8 , anotações de 2 9 de setembro de 1 9 3 8 , RAC, RG 1.1, série 3 0 5 , caixa 3 1 , dossiê 2 1 4 . Hoje, poderíamos concluir que ambos, Findlay e Soper, tinham razão. A icterícia transmitida pelo soro (hepatite B) pode sê-lo também por contato, porém mais dificilmente; ela supõe, com efeito, contatos íntimos (relações sexuais, troca de saliva, mordida, grande proximidade): a transmissão pode ocorrer em família, principalmente entre cônjuges, ao passo que u m a interação menos próxima, tal c o m o a coabitação nas mesmas cabanas militares, não ocasionará c o n t a m i n a ç ã o . Em 1 9 3 8 , os pesquisadores não consideraram a existência de vários agentes infecciosos capazes de induzir as mesmas manifestações clínicas de icterícia infecciosa. 67 Diário de Soper em 1 9 3 8 , anotações de 6 de outubro, RAC, RG 1.1, série 3 0 5 , caixa 3 1 , dossiê 2 1 4 . Soper observa que Findlay não levou em consideração a possibilidade de u m a epidemia independente de icterícia infecciosa entre as crianças às quais havia sido administrado o soro contra o sarampo. 68 DURIEUX, C. Mass yellow fever vaccination in French Africa, south o f Sahara. In: SMITHBOURNE et al. Yellow Fever Vaccination: Genève: WHO, 1 9 5 6 , p . 1 1 5 - 1 2 1 . 69 M. Peletier (diretor do Instituto Pasteur de Dacar) a Pasteur Vallery-Radot (delegado na direção dos Institutos Pasteur de U l t r a m a r ) , 13 de fevereiro de 1 9 3 9 ; Pasteur Vallery-Radot a Peletier, 2 1 de fevereiro de 1 9 3 9 ; Pasteur Vallery-Radot a Peletier, 2 de fevereiro de 1 9 3 9 , Arquivo do Instituto Pasteur de Dacar, Correspondência geral, 1 9 3 7 - 1 9 5 4 (há cópias no Arquivo do Instituto Pasteur, Paris, Dossiê Dacar). PELETIER, M.; DURIEUX, C.; JONCHÈRE, H. & ARQUIÉ, E. Vaccination mixte contre la fièvre j a u n e et la variole sur les populations indigenes du Senegal. Bulletin de l'Académie de Médecine, 1 2 3 : 1 3 7 - 1 4 7 , 1 9 4 0 . A vacina mista varíola-febre amarela foi administrada em larga escala na Africa Oriental Francesa (AOF). Aproximadamente 1 0 0 . 0 0 0 doses de vacina foram distribuídas em 1 9 4 0 , aproximadamente 4 0 0 . 0 0 0 em 1 9 4 1 , quase 11 milhões de doses entre 1 9 4 2 e 1 9 4 4 . Pasteur Vallery-Radot a Peletier, 3 0 de j u n h o de 1 9 4 0 ; Durieux (diretor do Instituto Pasteur de Dacar após 1 9 4 0 ) a Pasteur ValleryRadot, 19 de abril de 1 9 4 0 ; Durieux ao médico-chefe Sorel, 12 de fevereiro de 1 9 4 1 ; Durieux a Pasteur Vallery-Radot, 1 6 de novembro de 1 9 4 4 , Arquivo do Instituto Pasteur de Dacar, Correspondência geral, 1 9 3 7 - 1 9 5 4 . 70 U m estudo realizado em 1 9 4 5 pela UNRRA (United Nations Relief and Rehabilitation Administration) comparou a eficácia da vacina francesa (vírus neurotrópico originário do cérebro do camundongo introduzido por escarificação) c o m a do 17D, desenvolvido pelos especialistas da Fundação Rockefeller, em soldados franceses. A vacina francesa provocou u m a taxa de anticorpos mais alta, mas a taxa de complicações e sua gravidade foram mais consideráveis, sem que no entanto tenham atingido um nível que justificasse a interrupção da vacinação. Notas de Hackett sobre a febre amarela, RAC, RG 3 . 1 , série 9 0 8 , caixa 8, dossiê 8 6 - 1 3 2 . A vacina francesa produziu irrupções de encefalite pós-vacinal em Brazzaville ( 1 9 4 4 ) , na Costa Rica ( 1 9 5 1 ) , e na Nigéria. Durieux a Noèl Bernard (vice-diretor do Instituto Pasteur de Paris), 17 de março de 1 9 5 2 , 11 de abril de 1 9 5 2 , Arquivo do Instituto Pasteur de Dacar, Correspondência geral, 1 9 3 7 - 1 9 5 4 . Estudos ulteriores revelaram u m a taxa de 0,4% de casos de encefalite grave em crianças vacinadas, dos quais 4 0 % levaram à morte. A vacina neurotrópica francesa - que tem a vantagem de ser mais estável, mais fácil, portanto, de ser empregada nos países subdesenvolvidos - continuou a ser administrada na Africa francófona, mas estudos (especialmente ao fim de u m a campanha de vacinação em massa no Senegal, em 1 9 6 5 ) revelaram alta porcentagem (1 a 2%) de casos de encefalite entre as crianças. A doença foi atribuída ao próprio vírus, não a uma reação alérgica ao tecido de camundongo. Esses dados concorreram para a passagem gradual à vacinação exclusivamente com o 17D (a fabricação da vacina neurotrópica foi interrompida em 1 9 8 2 ) . A vacinação sistemática contra a febre amarela, instaurada pelos poderes coloniais franceses, desapareceu com o fim da colonização. STUART, G. Reactions following vaccination against yellow fever. In: SMITHBOURNE et al. Yellow Fever Vaccination, op. cit., p. 1 4 3 - 1 8 9 ; MONATH, Τ P. Yellow fever vacines: the success of empiricism, pitfalls o f application and transition to molecular vaccinology, op. cit. 71 Carta de Soper a Morgan, 5 de abril de 1 9 3 8 , RAC, RG 1.1, série 3 0 5 , caixa 2 3 , dossiê 1 8 4 . Soper não menciona mais casos de icterícia pós-vacinal com soro imune h u m a no, talvez descartados c o m o "anomalias". 72 Sawyer a Soper, 8 de abril de 1 9 3 8 ; Sawyer a Soper, 2 9 de abril de 1 9 3 8 , RAC, RG 1.1, série 3 0 5 , caixa 2 3 4 , dossiê 1 8 4 ; Sawyer a J . A. O'Brien (responsável pela campanha contra a febre amarela na Guiné britânica), 16 de setembro de 1 9 3 8 , RAC, RG 1.1, série 3 0 5 , caixa 2 3 , dossiê 1 8 5 . Sawyer estava convencido de que os problemas encontrados pelos ingleses eram conseqüência da contaminação das cepas virais 17E e 17C durante sua transferência para o laboratório na Inglaterra. Ele ficou surpreso com o fato de alguns colegas ingleses ainda acreditarem que a contaminação provinha do soro. 73 THEILER, M. &. SMITH, Η. Η The use o f yellow fever virus modified b y in vitro cultivation for human immunization. Journal of Experimental Medicine, 6 5 : 7 6 5 - 8 0 0 , 1 9 3 7 . 74 Notas de Hackett sobre a vacinação contra a febre amarela, RAC, RG 3 . 1 , série 9 0 8 , caixa 8, dossiê 8 6 - 1 3 2 ; Carta de Smith a Hackett de 4 de fevereiro de 1 9 6 0 , RAC, RG 3 1 , série 9 0 8 , caixa 2 dossiê 1 8 . 2 . 75 Diário de Sawyer em 1 9 3 6 , anotações de 2 de novembro de 1 9 3 6 , RAC, RG 1.2, Diários, caixa 5 5 . 76 THEILER, M. & SMITH, Η. Η. The use o f yellow fever virus modified b y in vitro cultivation for h u m a n immunization, op. cit., p . 7 9 8 - 7 9 9 . Esse artigo, que descreve o 17D, relata os resultados obtidos em oito voluntários, dois imunes e seis não-imunes. 77 Diário do laboratório do Rio de Janeiro nos anos 1 9 3 6 - 1 9 3 7 , anotações de 1 9 de janeiro de 1 9 3 7 , 8 de abril de 1 9 3 7 , RAC, RG 1.1, série 3 0 5 , caixa 4 4 , dossiê 2 5 0 . 78 Diário de Smith, anotações de 15 de fevereiro de 1 9 3 7 , RAC, RG 1.1, série 3 0 5 , caixa 3 6 , dossiê 2 2 3 . 79 SMITH, Η. Η.; PENNA, Η. Α. & PAOLIELLO, Α. Yellow fever vaccination with cultured virus (17D) without immune serum. American Journal of Tropical Medicine, 1 8 : 4 3 7 468,1938. 80 Diário de Smith, anotações de 2 5 de maio de 1 9 3 7 , 8 de j u n h o de 1 9 3 7 , 2 2 de agosto de 1 9 3 7 , RAC, RG 1.1, série 3 0 5 , caixa 3 6 , dossiê 2 2 3 . 81 SMITH, Η. Η.; PENNA, Η. Α. & PAOLIELLO, Α. Yellow fever vaccination with cultured virus (17D) without immune serum, op. cit., p . 4 4 9 - 4 6 0 , citação à página 4 5 7 . 82 Diário de Soper em 1 9 3 7 , anotações de 1 9 de outubro de 1 9 3 7 , RAC, RG 1.1, série 3 0 5 , caixa 3 0 , dossiê 2 1 3 . 83 Diário de Soper em 1 9 3 8 , anotações de 1 9 de janeiro, 1 de fevereiro, RAC, RG 1.1, série 3 0 5 , caixa 3 0 , dossiê 2 1 4 . 84 Sawyer a A. J . O'Brian, 2 9 de setembro de 1 9 3 8 , RAC, RG 1.1, série 3 0 5 , caixa 2 3 , dossiê 1 8 5 . 85 Soper a Sawyer, 18 de abril de 1 9 3 8 , RAC, RG 1.1, série 3 0 5 , caixa 2 3 , dossiê 1 8 4 . Quando u m a epidemia de febre amarela eclodiu no Sudão em 1 9 4 0 , os poderes coloniais ingleses i m p o r t a r a m vacinas para imunizar o conjunto da população nas regiões atingidas. Cf. Heather Bell, "Medical Research and medical practice in the A n g l o Egyptian Sudan, 1 8 9 9 - 1 9 4 0 " , PhD Thesis, University o f Oxford, 1 9 9 6 . Da mesma forma, os esforços empreendidos pelos poderes coloniais para imunizar o conjunto da população da AOF contra a febre amarela testemunham u m a estratégia de controle da doença diferente, e não u m a indiferença ao destino das populações locais. Durieux a Pasteur Vallery-Radot, 1 6 de novembro de 1 9 4 4 , Arquivo do Instituto Pasteur de Dacar, Correspondência geral, 1 9 3 7 - 1 9 5 4 . 86 SMITH, Η. Η.; PENNA, Η. Α. & PAOLIELLO, Α. Yellow fever vaccination with cultured virus (17D) without immune serum, op. cit., p . 4 6 5 - 4 6 8 ; entrevista de José Fonseca da Cunha, médico brasileiro empregado pelo Serviço da Febre Amarela, realizada em 1 9 8 7 no âmbito do projeto de história oral "Memória de Manguinhos", dirigido por Nara Britto e Wanda Hamilton, Acoc. 87 Os testes de viabilidade da vacina realizados em c a m p o foram interrompidos em j u n h o de 1 9 3 8 , por causa da dificuldade de deslocamento com as gaiolas de c a m u n dongos. Os testes restringiram-se ao laboratório do Rio, Acoc, documento RF 3 8 . 0 4 . 0 9 , Relatório anual da Fundação Rockefeller para 1 9 3 8 . 88 Idem. Normalmente, cada mililitro de vacina permite imunizar u m a centena de pessoas. 89 Warren (vice-diretor da IHD) a Soper, 3 de março de 1 9 3 8 , RAC , RG 1.1, série 3 0 5 , caixa 2 3 , dossiê 1 8 4 . 90 Soper a Sawyer, 11 de março de 1 9 3 8 , RAC, RG 1.1, série 3 0 5 , caixa 2 3 , dossiê 1 8 4 . 91 Soper a Sawyer, 2 1 de fevereiro de 1 9 3 8 , RAC, RG 1.1, série 3 0 5 , caixa 2 3 , dossiê 1 8 4 ; Diário de Sawyer em 1 9 3 8 , RAC, RG 1 2 . 1 , caixa 5 5 , Diários. 92 Warren a Soper, 3 de março de 1 9 3 8 , RAC, RG 1.1, série 3 0 5 , caixa 2 3 , dossiê 1 8 4 . 93 Diário de Sawyer em 1 9 3 8 , RAC, RG 1 2 . 1 , caixa 5 5 , diários; Diário de Soper em 1 9 3 8 , anotações de 2 1 de março de 1 9 3 8 , RAC, RG 1.1, série 3 0 5 , caixa 3 0 , dossiê 2 1 4 . Soper observou paralelamente que algumas pessoas se queixavam de fortes reações febris à vacinação. Ele considerou essas queixas exageradas e contentou-se em constatar que boatos atribuíam tais reações ao fato de que as pessoas bebiam escondidas. Esses boatos lhe pareceram capazes de impedir que as pessoas solicitassem u m a licença médica após a vacinação. 94 Soper a Sawyer, 16 de abril de 1 9 3 8 , RAC, RG 1.1, série 3 0 5 , caixa 2 3 , dossiê 1 8 4 . 95 Diário de Soper em 1 9 3 9 , anotações de 2 7 de janeiro, RAC, RG 1.1, série 3 0 5 , caixa 3 0 , dossiê 2 1 5 . 96 Diário de Soper em 1 9 3 8 , anotações de 13 de abril, RAC, RG 1.1, série 3 0 5 , caixa 3 0 , dossiê 2 1 4 . 97 Soper a Sawyer, 3 de março de 1 9 3 9 e 3 de abril de 1 9 3 9 , RAC, RG 1.1, série 3 0 5 , caixa 2 3 , dossiê 1 8 6 ; Acoc, Relatório da IHD, 1 9 3 9 , documento RF 4 0 . 0 2 . 0 7 . 98 Diário de Soper em 1 9 3 9 , anotações de 1 de março, 13 de março e 2 6 de junho, RAC, RG 1.1, série 3 0 5 , caixa 3 0 , dossiê 2 1 5 ; Diário de Soper em 1939, anotações de 12 de setembro, RAC, RG 1 2 . 1 , caixa 5 6 ; Acoc, relatório da IHD para 1 9 3 9 , documento Fundação Rockefeller, 4 0 . 0 2 . 0 7 . SOPER, F. L. SMITH Η. Η. & PENNA, Η. A. Yellow fever vaccination: field results as measured by the mouse protection test and epidemiological observations. Proceedings of the Third International Congress of Microbiology, 1 9 3 9 , p. 3 5 1 - 3 5 3 . 99 Soper a Sawyer, 2 3 de maio de 1 9 3 9 , RAC, RG 1.1, série 3 0 5 , caixa 2 3 , dossiê 1 8 5 . 100 Diário de Soper em 1 9 3 9 , anotações de 5 de dezembro, 12 de dezembro e 16 de dezembro, RAC, RG 1.1, série 3 0 5 , caixa 3 0 , dossiê 2 1 5 . Diário do laboratório do Rio de Janeiro, anotações de 12 de dezembro de 1 9 3 9 , RAC, RG 1.1, série 3 0 5 , caixa 3 6 , dossiê 2 2 3 . FOX, J . P; MANSO, C.; PENNA, H. A. & PARÁ, M. Observations on the ocurrence o f icterus in Brazil, following vaccination against yellow fever. The American Journal of Hygiene, 3 6 ( 2 ) : 6 8 - 1 1 6 , 1 9 4 2 . 101 Diário de Soper em 1 9 4 0 , anotações de 2 2 de janeiro, 2 5 de julho, 17 de j u n h o , RAC, RG 1.1, série 3 0 5 , caixa 3 2 , dossiê 2 1 6 . 102 Diário de Soper em 1 9 4 0 , anotações de 12 de j u l h o , RAC, RG 1.1, série 3 0 5 , caixa 3 2 , dossiê 2 1 6 . 103 Diário de Fox em 1 9 4 0 , anotações de 15 de maio, RAC, RG 1.1, série 3 0 5 , caixa 3 2 , dossiê 2 1 5 . Mais tarde, pesquisadores observaram que o vírus da hepatite Β era muito resistente à inativação por calor. 104 Diário de Fox em 1 9 4 0 , anotações de 16 de maio, 17 de maio, RAC, RG 1.1, série 3 0 5 , caixa 3 2 , dossiê 2 1 5 . 105 Diário de Fox em 1 9 4 0 , anotações de 11 de j u n h o , 13 de j u n h o , RAC, RG 1.1, série 3 0 5 , caixa 3 2 , dossiê 2 1 6 . 106 Diário de Fox em 1 9 4 0 , anotações de 15 de j u n h o , 16 de j u n h o , 18 de j u n h o , RAC, RG 1.1, série 3 0 5 , caixa 3 2 , dossiê 2 1 6 . 107 Diário de Fox em 1 9 4 0 , anotação de 2 1 de j u n h o , RAC, RG 1.1, série 3 0 5 , caixa 3 2 , dossiê 2 1 6 . 108 Diário de Fox em 1 9 4 0 , anotação de 3 de setembro, Idem. 109 Diário de Fox em 1 9 4 0 , anotação de 3 de setembro, 110 Diário de Soper em 1 9 4 0 , anotação de 2 de outubro, RAC, RG 1.1, série 3 0 5 , caixa 3 2 , dossiê 2 1 6 . 111 Diário de Fox em 1 9 4 0 , anotação de 2 0 de agosto, RAC, RG 1.1, série 3 0 5 , caixa 3 2 , dossiê 2 1 6 . 112 Soper a Sawyer, 3 0 de dezembro de 1 9 3 8 , RAC, RG 1.1, série 3 0 5 , caixa 2 3 , dossiê 1 8 5 ; Bauer a Soper, 2 0 de abril de 1 9 3 9 , RAC, RG 1.1, série 3 0 5 , caixa 2 3 , dossiê 1 8 6 . A "goma da Arábia" foi utilizada para suspender a vacina neurotrópica utilizada pelos pesquisadores franceses na África. 113 Diário de Soper em 1 9 4 0 , anotações de 13 de novembro, RAC, RG 1.1, série 3 0 5 , caixa 3 2 , dossiê 2 1 6 ; Diário de Fox em 1 9 4 0 , anotações de 2 8 de outubro, 3 0 de setembro e 1 0 de dezembro, RAC, RG 1.1, série 3 0 5 , caixa 3 2 , dossiê 2 1 6 . Ibidem. 114 Idem, anotação de 5 de outubro de 1 9 4 0 . FOX, J . P.; MANSO, C.; PENNA, H. A. & PARÁ, M . Observations on the ocurrence o f icterus in Brazil, following vaccination against yellow fever, op. cit., p . 1 0 2 - 1 0 4 . Pode-se avançar várias hipóteses para explicar retrospectivamente a distribuição inabitual dos casos de icterícia pós-vacinal no Brasil: tratou-se da presença de u m co-fator ambiental ou infeccioso, o u de u m a epidemia mista de vários tipos de hepatite? Poderia ter sido realizada u m a enquete epidemiológica para verificar se a epidemia foi induzida pelo vírus da hepatite Β (candidato mais plausível). U m a enquete desse tipo foi realizada em 1 9 8 7 entre os veteranos do Exército americano que sofreram de icterícia após terem sido vacinados contra a febre a m a r e l a . Ela c o n f i r m o u a suposição. Curiosamente, m u i t o poucas pessoas entre as registradas c o m o infectadas pela vacina em 1 9 4 2 continuaram portadoras do vírus por muito tempo o u sofreram seqüelas tardias, sem dúvida para grande alívio dos responsáveis pelos serviços de saúde do Exército. Os autores da enquete não consideram a possibilidade, mencionada por outros virologistas, de os soldados terem sofrido de infecção subclínica e, por isso, não terem sido consignados nos registros do Exército americano. Eles poderiam ter se tornado portadores do vírus e sofrido efeitos a longo prazo dessa infecção (hepatite, câncer do fígado). Cf. SEFF, L. B . ; BEEBE, G. W ; HOOFNAGLE J . H. et al. A serologic follow up o f the 1 9 4 2 epidemics o f post-vaccination hepatitis in the United States Army. New England Journal of Medicine, 3 1 6 ( 1 6 ) : 9 6 5 - 9 7 0 , 1 9 8 7 . As questões levantadas pelos pesquisadores brasileiros sobre a epidemiologia da icterícia pós-vacinal foram mencionadas para justificar os fatos de os responsáveis pela produção da vacina contra a febre amarela no laboratório da IHD em Nova York não terem observado as conclusões práticas de seus colegas do Rio e de o soro h u m a n o não ter sido subtraído da cadeia de produção da vacina contra a febre amarela. SAWYER, W. Α.; MEYER, Κ. Ε ; EATON, Μ. D.; BAUER, J . Η. PUTNAM P. & SCHWENTEKER, F. F. Jaundice in the A r m y personnel in the Western region o f the United States and its relation to vaccination against yellow fever. The American Journal of Hygiène, 4 0 : 3 5 - 1 0 7 , 1 9 4 4 , à página 4 0 . 115 FOX, J . R; LENNETTE, Ε. H.; MANSO, C. & AGUIAR, J . R. S. Encephalitis in man following vaccination with 1 7 D virus. The American Journal of Hygiene, 3 6 ( 2 ) : 1 1 7 - 1 4 2 , 1 9 4 2 . 116 Diário de Soper em 1 9 4 1 , anotações de 17 de j u l h o , 2 2 de julho, RAC, RG 1.1, série 3 0 5 , caixa 3 3 , dossiê 2 1 7 ; Diário do laboratório do Rio de Janeiro, RAC, RG 1.1, série 3 0 5 , caixa 3 6 , dossiê 2 2 2 . 117 Diário do laboratório do Rio de Janeiro, anotações de 8 de outubro de 1 9 4 1 , 13 de outubro de 1 9 4 1 , RAC, RG 1.1, série 3 0 5 , caixa 3 6 , dossiê 2 2 2 . 118 Diário do laboratório do Rio de Janeiro, anotações de 13 de outubro de 1 9 4 1 , 2 0 de outubro de 1 9 4 1 , RAC, RG 1.1, série 3 0 5 , caixa 3 6 , dossiê 2 2 2 . 119 SOREL, S. La vaccination anti-amarile em Afrique Occidentale Française. Mise en application du procede du vaccin Sellers-Laigret, op. cit. 120 FOX, J . R; LENNETTE, Ε. H.; MANSO, C. & AGUIAR, J . R. S. Encephalitis in m a n following vaccination with 1 7 D virus, op. cit., p. 1 4 0 . 121 Diário de Sawyer em 1 9 3 8 , anotações de 2 3 de março, RAC, RG 1 2 . 1 , Diários, caixa 5 5 . 122 Diário de Sawyer em 1 9 4 0 , anotações de 1 0 de j u n h o , RAC, RG 1 2 . 1 , Diários, caixa 5 5 ; SAWYER, W. A. et al. Jaundice in the A r m y personnel in the Western region o f the United States and its relations to vaccination against yellow fever, op. cit., p . 4 2 - 4 4 . 123 Notas de Hackett sobre a febre amarela, RAC, RG 3 . 1 , série 9 0 8 , caixa 3, dossiê 1 9 . 1 b . 124 BELL, Η. Medical research and medical practice in the Anglo-Egyptian Sudan, 1 8 9 9 1 9 4 0 , op. c i t . A epidemia do Sudão atingiu u m a região afastada dos centros urbanos. Os doentes eram praticamente todos nativos, e não colonos. Contaram-se mais de 1 5 . 0 0 0 casos, e a mortalidade foi de aproximadamente 10%. 125 Diário de Sawyer em 1 9 4 0 , anotações de 5 de outubro, 14 de dezembro, 2 6 de dezembro, RAC, RG 1 2 . 1 , Diários, caixa 5 5 . 126 Diário de Sawyer e de Warren em 1 9 4 1 , anotações de 1 0 de janeiro, 18 de janeiro, RAC, RG 1 2 . 1 , Diários, caixa 5 6 . 127 Idem, anotações de 2 0 de janeiro e 2 9 de janeiro de 1 9 4 1 . 128 Idem, anotações de 31 de janeiro, 7 de fevereiro, 13 de fevereiro de 1 9 4 1 . 129 Diário de Fox em 1 9 4 1 , anotação de 9 de maio, RG 1.1, série 3 0 5 , caixa 3 5 , dossiê 2 2 2 . U m a ampola reconstituída era suficiente para vacinar u m a centena de pessoas, o que raramente levava mais de três horas. Os restos de suspensão do vírus reconstituído eram sempre jogados fora. 130 Notas de Hackett sobre a febre amarela, RAC, RG 3 . 1 , série 9 0 8 , caixa 8, dossiê 8 6 - 1 3 2 . Hackett relata o ponto de vista de seus colegas de Nova York. Também teria sido possível desenvolver o argumento oposto, e sugerir que a passagem a u m a produção em larga escala multiplica os risco de acidentes e torna ainda mais imperativa a aplicação do princípio de precaução. 131 SAWYER, W. A. et al. Jaundice in the A r m y personnel in the Western region o f the United States and its relations to vaccination against yellow fever, op. cit., p. A3. 132 Soper a Sawyer, 7 de novembro de 1 9 4 1 , RAC, RG 1, série 1 0 0 , caixa 1 6 , dossiê" 1 2 9 ; Notas de Hackett sobre a febre amarela, RAC, RG 3 . 1 , série 9 0 8 , caixa 8, dossiê 8 6 . 1 3 2 ; Soper a Hackett, 18 de outubro de 1 9 5 5 , RAC, RG 3 . 1 , série 9 0 8 , caixa 3, dossiê 1 4 . Segundo Smith, os pesquisadores do laboratório de Nova York tendiam a não levar em consideração as informações provenientes de outros países quando elas contradiziam sua própria experiência. Smith a Hackett, 4 de fevereiro de 1 9 6 0 , RAC, RG 3 . 1 , série 9 0 8 , caixa 2 , dossiê 1 8 . 2 . 133 A reação enraivecida de Sawyer foi relatada a Soper por Kerr. Cf. Soper a Hackett, 2 3 de março de 1 9 6 0 , RAC, RG 3 . 1 , série 9 0 8 , caixa 2 , dossiê 1 8 . 2 . 134 Entrevista de Hackett com Soper, 6 de j u n h o de 1 9 5 1 , RAC, RG 3 . 1 , série 9 0 8 , caixa 1, dossiê 8 6 . 135 Soper a Sawyer, 3 0 de j u n h o de 1 9 4 1 , RAC, RG 1, série 1 0 0 , caixa 1 6 , dossiê 1 2 9 ; Diário de Soper em 1 9 4 1 , anotações de 2 0 de j u n h o , RAC, RG 1.1, série 3 0 5 , caixa 3 3 , dossiê 217. 136 Dr. G. L. Dunahoo, do PHS, a Bauer, 2 6 de j u n h o de 1 9 4 1 , RAC, RG 1, série 1 0 0 , caixa 16, dossiê 1 2 9 . 137 Sawyer a Soper, 1 6 de dezembro de 1 9 4 1 , RAC, RG 1, série 1 0 0 , caixa 1 6 , dossiê 1 2 9 . 138 Diário de Soper em 1 9 4 2 , anotações de 2 0 de março, 2 2 de março, RAC, RG 1 2 . 1 , Diários, caixa 5 6 . 139 Telegrama de Sawyer a Strode, 2 3 de março de 1 9 4 2 , RAC, RG 1, série 1 0 0 , caixa 1 6 , dossiê 1 3 0 . 140 Strode a Sawyer, 2 3 de março de 1 9 4 2 , RAC, RG 1, série 1 0 0 , caixa 1 6 , dossiê 1 3 0 . 141 Sawyer a Strode, 2 5 de março de 1 9 4 2 ; Strode a Sawyer, 2 8 de março de 1 9 4 2 , RAC, RG 1, série 1 0 0 , caixa 1 6 , dossiê 1 3 0 . 142 Carta de Mayer a Hackett, 18 de março de 1 9 6 0 , RAC, RG 3 . 1 , série 9 0 8 , caixa 2 , dossiê 18.2. 143 Diário de Sawyer em 1 9 4 2 , anotações de 3 0 de março, RAC, RG 1 2 . 1 , Diários, caixa 5 6 . 144 Diário de Sawyer em 1 9 4 2 , anotações de 1 de abril, 6 de abril, RAC, RG 1 2 . 1 , Diários, caixa 5 6 . 145 Sawyer a Strode, 3 de abril de 1 9 4 0 , RAC, RG 1, série 1 0 0 , caixa 1 6 , dossiê 1 3 1 . 146 Theiler reconheceu o risco que podia haver em abandonar u m procedimento de produção j á testado, mas desde o anúncio do surgimento de casos de hepatite ligados à vacinação, ele achou que seria mais sensato mudar o modo de fabricação da vacina. Diário de Soper em 1 9 4 2 , anotações de 6 de abril, RAC, RG 1 2 . 1 , Diários, caixa 5 6 . 147 Telegrama de Sawyer à Fundação Rockefeller, 9 de abril de 1 9 4 2 , RAC, RG 1, série 1 0 0 , caixa 1 6 , dossiê 1 3 1 . 148 Diário de Sawyer em 1 9 4 2 , anotações de 7 de abril, 8 de abril, 9 de abril, RAC, RG 1 2 . 1 , Diários, caixa 4 6 . 149 Strode a Sawyer, 1 0 de abril de 1 9 4 2 ; Strode a Crawford, 1 0 de abril de 1 9 4 2 , RAC, RG 1, série 1 0 0 , caixa 1 6 , dossiê 1 3 1 . 150 Bauer a Sawyer, 11 de abril de 1 9 4 2 , RAC, RG 1, série 1 0 0 , caixa 16, dossiê 1 3 1 . 151 Sawyer a Strode, 11 de abril de 1 9 4 2 , RAC, RG 1, série 1 0 0 , caixa 1 6 , dossiê 1 3 1 . 152 Diário de Sawyer em 1 9 4 2 , anotações de 31 de abril, RAC, RG 1 2 . 1 , Diários, caixa 5 6 . Carta de Mayer a Hackett, 18 de março de 1 9 6 0 , RAC, RG 3 . 1 , série 9 0 8 , caixa 2 , dossiê 1 8 2 . 153 Memorando, Comissão das Doenças Tropicais, 13 de abril de 1 9 4 2 , RAC, RG 1, série 1 0 0 , caixa 1 6 , dossiê 1 3 1 . 154 Diário de Sawyer em 1 9 4 2 , anotações de 1 4 de abril, RAC, RG 1 2 . 1 , Diários, caixa 5 6 . 155 Stephenson a Bauer, 1 5 de abril e 18 de abril de 1 9 4 2 , RAC, RG 1, série 1 0 0 , caixa 1 6 , dossiê 1 3 1 . Em 2 9 de abril, Stephenson afirma ainda que pretende continuar a vacinação contra a febre amarela. Cf. Stephenson a Sawyer, 2 9 de abril de 1 9 4 2 , RAC, RG 1, série 1 0 0 , caixa 1 6 , dossiê 1 3 1 . Não está claramente estabelecido c o m o a Marinha escapou da epidemia de icterícia pós-vacinal. SAWYER, W. A et al. Field studies and statistical analyses establisching a relationship between the incidence o f j a u n d i c e and certain lots o f yellow fever vaccine. American Journal of Hygiene, 3 9 : 3 3 7 - 4 3 0 , 1 9 4 4 ; dos mesmos autores, Jaundice in the A r m y personnel in the Western region o f the United States and its relations to vaccination against yellow fever, op. cit., p . 6 4 . 156 Sawyer a Simmons, 18 de abril de 1 9 4 2 , RAC, RG 1, série 1 0 0 , caixa 1 6 , dossiê 1 3 1 . 157 Sawyer ao Dr. Eaton, 4 de maio de 1 9 4 2 , RAC, RG 1, série 1 0 0 , caixa 1 6 , dossiê 1 3 1 . Diário de Sawyer em 1 9 4 2 , anotações de 2 3 de abril, RAC, RG 1 2 . 1 , Diários, caixa 5 6 . 158 Relatório da Comission on Tropical Diseases do Exército britânico, redigido por seu presidente, W. A. Sawyer, 2 9 de abril de 1 9 4 2 , RAC, RG 1, série 1 0 0 , caixa 1 6 , dossiê 1 3 1 . Sobre a aceleração do emprego do sangue e dos produtos sangüíneos nos Estados Unidos durante a Segunda Guerra Mundial, ver CREAGER, A. Producing molecular t h e r a p e u t i c s f r o m h u m a n b l o o d : E d w i n C o h n ' s w a r t i m e e n t e r p r i s e . In: CHADAVERIAN, S. de & KAMMINGA, H. Molecularizing Biology and Medicine. Harwood Academic Publishers, 1 9 8 9 , p. 1 0 7 - 1 3 8 . A partir de meados de abril. Sawyer incentivou a produção de vacina sem soro. Em maio, ele espera que a vacina esteja pronta no fim de j u n h o de 1 9 4 2 . Relatório do Board for the Investigation o f Influenza and other Epidemic Diseases in the Army, 1 2 - 1 3 de maio de 1 9 4 2 , RAC, RG 1, série 1 0 0 , caixa 17, dossiê 1 4 6 . 159 Diário de Sawyer em 1 9 4 2 , anotações de 4 de maio, RAC, RG 1 2 . 1 , Diários, caixa 5 6 . Sawyer a Stephenson, 1 9 de maio de 1 9 4 2 , RAC, RG 1, série 1 0 0 , caixa 1 6 , dossiê 1 3 2 . 160 Diário de Sawyer em 1 9 4 2 , anotações de 9 de maio, 12 de maio, 2 5 de maio, RAC, RG 1 2 . 1 , Diários, caixa 5 6 . Eaton a Sawyer, 2 9 de maio de 1 9 4 2 , RAC, RG 1, série 1 0 0 , caixa 1 6 , dossiê 1 3 2 . 161 Sawyer a Stephenson, 2 7 de maio de 1 9 4 2 . Stephenson a Sawyer, 2 9 de maio de 1 9 4 2 , RAC, RG 1, série 1 0 0 , caixa 1 6 , dossiê 1 3 2 . Diário de Sawyer em 1 9 4 2 , anotações de 2 9 de maio de 1 9 4 2 , RAC, RG 1 2 . 1 , Diários, caixa 5 6 . 162 Diário de Sawyer em 1 9 4 2 , anotações de 3 de j u n h o , 2 5 de j u n h o , 3 0 de j u n h o , RAC, RG 1 2 . 1 , Diários, caixa 5 6 . Stephenson a Sawyer, 2 6 de j u n h o de 1 9 4 2 , RAC, RG 1, série 1 0 0 , caixa 16, dossiê 1 3 4 . 163 Diário de Strode em 1 9 4 2 , anotações de 1 de julho, 7 de julho, RAC, RG 1 2 . 1 , Diários, caixa 5 6 . 164 Memorando, reunião sobre a vacinação contra a febre amarela, 11 de setembro de 1 9 4 2 , RAC, RG 1, caixa 16, dossiê 1 3 0 . 165 Anotações de Hackett sobre a febre amarela, RAC, RG 3 . 1 , série 9 0 8 , caixa 3, dossiê 19.1b. 166 Diário de Sawyer em 1 9 4 2 , anotações de 19 de maio, RAC, RG 1 2 . 1 , Diários, caixa 5 6 . 167 Maxcy a Sawyer, 4 de maio de 1 9 4 2 ; Bauer a Maxcy, 6 de maio de 1 9 4 2 , RAC, RG 1 2 . 1 , Diários, caixa 5 6 . 168 Diário de Sawyer em 1 9 4 2 , anotações de 19 de maio, RAC, RG 1 2 . 1 , Diários, caixa 5 6 . Em 18 de maio, Sawyer assinalou que "o Dr. Bauer, que estuda as ligações entre os lotes da vacina e a icterícia, está mais convencido do que nunca de que o agente iatrogênico é originário do sangue dos doadores". Cf. Sawyer a Stephenson, 19 de maio de 1 9 4 2 , RAC, RG 1, série 1 0 0 , caixa 1 6 , dossiê 1 3 2 . 169 Eaton a Sawyer, 8 de maio de 1 9 4 2 ; Sawyer a Eaton , 18 de maio de 1 9 4 2 ; Sawyer a Stephenson, 1 9 de maio de 1 9 4 2 ; Sawyer a Mayer, 21 de maio de 1 9 4 2 , RAC, RG 1, série 1 0 0 , caixa 16, dossiê 1 3 2 . Mayer não estava inteiramente convencido; segundo ele, o surgimento súbito da contaminação a partir do lote 3 1 8 não era compatível com a hipótese de que o soro era o único culpado. Cf. Mayer a Sawyer, 2 9 de maio de 1 9 4 2 , RAC, RG 1, série 1 0 0 , caixa 1 6 , dossiê 1 3 2 . A dúvida persistiu para vários pesquisadores. Muench (da Fundação Rockefeller) escreve em 11 de j u n h o que as correlações entre os lotes de soro suspeitos e os lotes de vacina icterogênicos não são satisfatórias e refletiram u m a distribuição aleatória; ele não vê no soro o agente portador da c o n t a m i n a ç ã o . Comentário de Muench sobre um memorando de Goodner, 11 de j u n h o de 1 9 4 2 , RAC, RG 1, série 1 0 0 , caixa 1 6 , dossiê 1 3 4 . 170 Bauer ao Dr. Hargett, 21 de maio de 1 9 4 2 , RAC, RG 1, série 1 0 0 , caixa 1 6 , dossiê 1 3 2 . 171 Memorando de Bauer, 3 0 de outubro de 1 9 4 2 , RAC, RG 1, série 1 0 0 , caixa 16, dossiê 1 3 8 . 172 Bayne-Jones a Sawyer, 2 5 de fevereiro de 1 9 4 3 e 2 de março de 1 9 4 3 , RAC, RG 1, série 1 0 0 , caixa 17, dossiê 1 4 1 . 173 Diário de Strode em 1 9 4 2 , anotações de 16 de outubro, 15 de dezembro, 31 de dezembro, RAC, RG 1 2 . 1 , Diários, caixa 5 6 . A categoria "doadores com histórico de icterícia" compreendia indivíduos atingidos por "icterícia catarral" (portanto, segundo as classificações recentes, também indivíduos que tenham sofrido de hepatite A, que em geral não é transmissível pelo soro). 174 Recortes de jornais, RAC, RG 1, série 1 0 0 , caixa 16, dossiê 1 2 9 . Sobre a avaliação do número de casos de hepatite, ver SEFF, L. Β.; BEEBE, G. W.; HOOFNAGLE, J . H. et al. A serological follow up of the 1 9 4 2 epidemics of post-vaccination hepatitis in the United States army, op. cit. 175 F1SHBEIN, M. Jaundice following yellow fever vaccination. Journal Medical Association, 1 de outubro de 1 9 4 2 , p. 1.110. of the American 176 Recortes de jornais, RAC, RG 1, série 1 0 0 , caixa 16, dossiê 1 2 9 . 177 Memorando, 12 de setembro de 1 9 4 2 , RAC, RG 1, série 1 0 0 , caixa 1 6 , dossiê 1 3 0 . 178 SAWYER, W. A. et al. Jaundice in the Army personnel in the Western region of the United States and its relations to vaccination against yellow fever, op. cit., p . 9 1 - 1 0 1 . 179 OLIPHANT, J . W ; GILLIAM, A. G. & LARSON, C. L. Jaundice following administration of human serum. Public Health Reports, 5 8 ( 3 3 ) : 1 . 2 3 3 - 1 . 2 4 2 , 1 9 4 3 . 180 FINDLAY, G. M. & MARTIN, Ν. H. Jaundice following yellow fever immunization. The Lancet, 2 4 4 : 6 7 8 - 6 8 0 , 1 9 4 3 . Mais tarde, Findlay conduziu experiências realizadas em humanos com o vírus da hepatite. STANTON, J . M. Health Policy and Medical Research: hepatitis Β in the UK since the 1940's, 1 9 9 5 . PhD Thesis, London: London School of Hygiene and Tropical Medicine. Mayer, que tomou conhecimento das pesquisas de Findlay e de Martin, surpreendeu-se com o fato de não haver ocorrido uma epidemia de hepatite no Exército americano. Mayer a Sawyer, 3 0 de outubro de 1 9 4 3 , RAC, RG 1, série 1 0 0 , caixa 17, dossiê 1 3 9 . 181 Homologous serum j a u n d i c e . M e m o r a n d u m prepared by medical officers o f the Ministry o f Health. The Lancet, 2 2 4 : 8 3 - 8 8 , 1 9 4 3 . 182 Casos de hepatite ocorridos após uma transfusão de produtos sangüíneos (plasma ou soro h u m a n o dessecado e reconstituído) foram descritos pelos Drs. Morgan e Williamson, do Hospital de São Bartolomeu, em Londres. Cf. MORGAN, Η. V. & WILLIAMSON, D. A. J . Jaundice following administration of human blood products. British Medical Journal, 1:750,753, 1 9 4 3 . 183 Homologous serum jaundice, op. cit., citação p.88. Pode-se observar que ao reconhecimento de um problema não se seguem obrigatoriamente conseqüências práticas. Os pesquisadores e os médicos ingleses foram os primeiros a fazer explicitamente a ligação entre a hepatite e a injeção de soro humano, mas a produção da vacina contra a febre amarela contendo soro humano só foi interrompida em Londres em janeiro de 1 9 4 3 , ou seja, seis meses depois dos Estados Unidos. Anotações de Hackett sobre a febre amarela, RAC, RG 3 . 1 , série 9 0 8 , caixa 3, dossiê 19.1b. A mudança de atitude dos poderes públicos britânicos deve-se à epidemia de hepatite pós-vacinal observada a partir de outubro de 1 9 4 2 entre os soldados britânicos. 184 Editorial "Unexplained jaundice". The Lancet, 2 2 4 : 7 7 - 7 8 , 1 9 4 3 . 185 SAWYER, W. A. et al. Jaundice in the Army personnel in the Western region of the United States and its relations to vaccination against yellow fever, op. cit. O artigo foi recebido em 2 6 de novembro de 1 9 4 3 e publicado em 1 9 4 4 . 186 SAWYER, W. A. et al. Jaundice in the Army personnel in the Western region of the United States and its relations to vaccination against yellow fever, op. cit. 187 Homologous serum jaundice, op. cit., citação à página 8 8 . Editorial "Unexplained jaundice", op. cit. SAWYER, W. A. et al. Jaundice in the A r m y personnel in the Western region of the United States and its relations to vaccination against yellow fever, op. cit., p . 4 0 - 4 1 . 188 SAWYER, W. A. et al. Jaundice in the Army personnel in the Western region o f the United States and its relations to vaccination against yellow fever, op. cit., p . 6 7 - 6 8 . LAINER, F. Zur Frage des Infektiositat des Icterus. Wien. Klin. Wochenschr, 5 3 : 6 0 1 - 6 0 4 , 1 9 4 0 . Em 1 9 4 0 , não se fazia distinção entre a icterícia transmitida pelos alimentos (hoje, hepatite A) e a transmitida pelo soro (hepatite B). As circunstâncias da epidemia de hepatite pós-vacinal ocorrida no Exército americano não foram mais claras do que as da epidemia brasileira; a distribuição dos casos foi, muitas vezes, considerada "inexplicável": o mesmo lote de vacina contaminada provocou taxas de hepatite muito diferentes nos vários lugares, lotes preparados com o soro incriminado não provocaram hepatite, e a Marinha praticamente escapou da epidemia, apesar de uma campanha de imunização em larga escala. 189 Hackett a Smith, 2 9 de janeiro de 1 9 6 0 ; Meyer a Hackett, 18 de março de 1 9 6 0 ; Hackett a Margaret Sawyer, 1 de abril de 1 9 6 0 , RAC, RG 3 . 1 , série 9 0 8 , caixa 2, dossiê 1 8 . 2 . 190 Anotações de Hackett sobre a febre amarela, RAC, RG 3 . 1 , série 9 0 8 , caixa 4 , dossiê 2 7 . Smith a Hackett, 4 de fevereiro de 1 9 6 0 ; Meyer a Hackett, 18 de m a r ç o de 1 9 6 0 ; Hackett a Meyer, 2 3 de março de 1 9 6 0 , RAC, RG 3 . 1 , série 9 0 8 , caixa 2 , dossiê 1 8 . 2 . 191 Soper a Sawyer, 2 0 de abril de 1 9 4 2 (o memorando de Fox sobre a icterícia pósvacinal no Brasil figura em anexo), RAC, RG 1, série 1 0 0 , caixa 1 6 , dossiê 1 3 1 . 192 Soper escreve, assim, que o laboratório de Nova York empreendeu muitos esforços para a seleção dos doadores de soro h u m a n o normal, mas o acompanhamento das pessoas vacinadas foi estranhamente negligenciado. Soper a Hackett, 2 3 de março de 1 9 6 0 , RAC, RG 3 . 1 , série 9 0 8 , caixa 2 , dossiê 1 8 . 2 . 193 Relatório da Comission on Tropical Diseases do Exército americano, redigido por seu presidente, W. A. Sawyer, em 2 9 de abril de 1 9 4 2 , RAC, RG 1, série 1 0 0 , caixa 16, dossiê 131. 194 Exemplos das formas utilizadas para registrar os indivíduos vacinados pelo 17D, e depois acompanhar sua taxa de anticorpos, são reproduzidos na primeira publicação relativa a esse ripo de vacinação no Brasil: SMITH, Η. Η.; PENNA, Η. Α. & PAOLIELLO, Α. Yellow fever vaccination with cultured virus (17D) without immune serum, op. cit 195 Diário do laboratório do Rio de Janeiro, anotações de 12 de dezembro de 1 9 3 9 , RAC, RG 1.1, série 3 0 5 , caixa 3 6 , dossiê 2 2 3 . FOX, J . R; MANSO, C.; PENNA, H. A. & PARÁ, Μ. Observations on the ocurrence o f icterus in Brazil, following vaccination against yellow fever, op. cit. 196 U m exemplar do questionário empregado pelo escritório do S u r g e o n General na investigação dos casos de icterícia sem causa conhecida é anexado à carta de Bauer a Sawyer de 11 de abril de 1 9 4 2 , RAC, RG 1, série 1 0 0 , caixa 1 6 , dossiê 1 3 1 . 197 É irônico constatar que os especialistas da Fundação Rockefeller no Brasil acompanharam eficazmente os efeitos da vacinação em populações rurais tidas como "atrasadas", enquanto nos Estados Unidos a população na qual se injetou a vacina era composta de soldados, grupo em princípio particularmente fácil de fiscalizar. Sobre as dificuldades encontradas no estágio do desenvolvimento dos testes clínicos das novas terapias nos Estados Unidos nesse período, ver MARKS, Η. The Progress of Experiment: science and the therapeutic reform in the United States, 1900-1990. Cambridge: Cambridge University Press, 1 9 9 7 .