PARECER SOBRE A PROVA DE ESPANHOL (Código 547

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N/Ref.ª: 201307/001
PARECER SOBRE A PROVA DE ESPANHOL (Código 547)
REALIZADA NO DIA 26/06/2013
Uma vez concluída a 1.ª Fase da prova nacional de Espanhol do Ciclo de Iniciação
(Código 547), avaliação externa promovida pelo Gabinete de Avaliação Educacional
(GAVE), a Associação Portuguesa de Professores de Espanhol Língua Estrangeira
(APPELE) deseja tornar pública, mediante este parecer, a sua posição sobre a mesma.
Como vem sendo habitual desde que as provas nacionais de Espanhol foram
implementadas, deparamo-nos com uma jornada de avaliação sem sobressaltos de
maior, e isto apesar de estarmos imersos num ambiente de crispação e forte contestação
perante as políticas educativas levadas a cabo pelo atual governo. É o momento de
salientar o profissionalismo de um corpo docente capaz de assegurar, em momentos de
tanta incerteza laboral, as funções que lhe competem.
Antes de proceder à análise mais detalhada de cada um dos itens que conformam o
exame, achamos pertinente deixar as seguintes considerações gerais:
a. Entre os aspetos mais positivos, cabe destacar a interligação da avaliação das
competências produtivas e recetivas juntamente com aspetos parciais da
competência gramatical, pragmática e textual. Julgamos muito conveniente a
utilização da unidade texto  em vez da frase ou do enunciado isolado  para
testar processos cognitivos e estratégias de compreensão leitora ao mesmo
tempo que o domínio do léxico, das unidades e regras gramaticais e de alguns
elementos de ordem discursiva. É de salientar que a avaliação da compreensão
leitora ganhou, desta forma, maior complexidade e centralidade, mais acorde
com os objetivos programáticos.
b. Também nos chamou positivamente a atenção o tema escolhido  motivador,
polémico, suficientemente aberto, atual  e a rigorosa manutenção da unidade
temática ao longo de toda a prova, fornecendo input para a retroalimentação da
mesma, disponibilizando recursos e possíveis linhas de desenvolvimento que
poderiam ser utilizados na tarefa final de produção escrita extensa.
c. Sem dúvida alguma, o aspeto menos positivo desta prova é o nível de
competência testado. Em vários momentos, é solicitado ao examinando um
domínio de Espanhol Língua Estrangeira muito superior ao que se assume
explicitamente nos programas de Espanhol de Iniciação (11.º) e na
documentação disponibilizada pelo GAVE para a prova 547, isto é, o nível A2
para as competências produtivas e B1 para as recetivas.
Mas analisemos, então, com mais algum pormenor cada um dos itens propostos nesta
prova 547.
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Item 1
Funciona perfeitamente para centrar o tema do exame e ativar os conhecimentos
prévios para a sua realização.
Apenas há um senão. Como atividade de produção escrita breve  uma frase curta ou
uma sorte de slogan (cf. Critérios Específicos de Classificação) em que devem ser
incluídas as duas palavras fornecidas no enunciado  aparece com uma cotação
relativamente alta (10 pontos). Veja-se, por exemplo, o item 4.4., onde se solicita uma
opinião justificada em 35-45 palavras, e ao qual é atribuído apenas 15 pontos, sendo que
os critérios específicos de classificação são muito mais exigentes para este último.
Item 2
Trata-se de um texto curto que funciona como primeiro andamento para o leit motiv de
toda a prova  o Parque Nacional de Doñana , introduz input adequado ao nível
testado e incide sobre a compreensão da leitura e sobre a competência gramatical
(morfologia derivativa), lexical, textual (adequação e coerência textuais dos gaps a
serem preenchidos) e estratégica (utilização do dicionário).
Esta atividade, complexa e interessante, lembra-nos que o aluno precisa de contar com
um bom dicionário, mas também nos lembra que as salas onde se realizam as provas
deveriam estar apetrechadas com dicionários disponíveis para todos os examinandos,
independentemente de estes já os levarem consigo ou de não os poderem levar por não
possuírem meios económicos suficientes para os comprar, isto é, lembra-nos que
devemos assegurar a igualdade de oportunidades que as diferenças económicas podem
menoscabar.
Item 3
Trata-se de um item que continua a fornecer informação sobre o Parque Nacional de
Doñana e, ao mesmo tempo, testa a competência gramatical: forma e uso de numerais
ordinais, advérbios relativos, locuções preposicionais, determinantes, pronomes
sujeito/complemento e, sobretudo, tempos verbais.
Item 4
Trata-se do clássico item de compreensão da leitura. Apresenta 4 subitens que incidem
tanto nas inferências e compreensão de ideias e de léxico específicos (4.1. e parte do
4.3.), como na compreensão da coerência, estrutura do texto e ideias gerais (4.2. e 4.4.)
ou nos elementos de coesão/marcadores discursivos (parte do 4.3.).
Consideramos que, no item 4.2., também pode ser considerada correta a opção D,
embora esta não apareça nos Critérios Específicos de Classificação. Anatole France,
Hitler e Gandhi produziram textos, apesar de Rosa Montero qualificar apenas o primeiro
como “escritor”. O fato de a frase final de Gandhi aparecer entre aspas e de ser, também,
uma reflexão sobre a relação do homem com os outros animais, pode levar o
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examinando a escolher essa opção, induzindo que o célebre pacifista foi também autor
de escritos diversos.
Consideramos que as opções c), d) e e) do item 4.3. incidem sobre recursos de coesão
textual (marcadores discursivos) que não correspondem ao nível A2, mas a uma
competência discursiva/textual superior.
Item 5
Este item é o mais problemático de toda a prova. Julgamos que nem mesmo um nativo
de Espanhol poderia solucionar facilmente esta atividade. Ficam comprometidas a
competência em compreensão da leitura juntamente com um domínio da adequação e
coerência textual, da correção lexical e da concordância interna dos enunciados que vai
muito além do expectável num aluno de nível A2. Talvez fosse mais interessante
introduzir, neste tipo de atividades, erros ou desvios claramente percetíveis por parte
de alunos com essa competência de iniciação. Dos 6 erros a serem corrigidos,
consideramos que apenas 3 (espantoso, tampoco, algún) são claramente detetáveis pelos
alunos com dois anos de formação.
Ainda dentro desta atividade, fica uma questão à qual não se dá resposta nos Critérios
Específicos de Classificação: na frase onde deve ser eliminado tampoco, o uso mais
frequente exige alterações, no período adversativo, que não foram contempladas: No
solo de aves se puebla este enclave privilegiado, sino también de ciervos, zorros, liebres y
tejones.
Item 6
Pode afirmar-se que este é o segundo item mais desequilibrado da prova. Testa um
domínio do léxico (valores metafóricos/figurados) que também vai muito além do
exigível a um aluno de nível A2. Alguns dos animais que aparecem nas opções (lirón,
tejón, gineta) são desconhecidos mesmo para falantes nativos com uma competência
cultural média. A referencialidade do lince e da águila sobrepõem-se em certa medida, o
que dificulta a escolha. Na opção d), águila aparece associada a um adjetivo que não
corresponde às conotações do valor figurado ou metafórico dessa ave: ingenioso. O
Dicionário da Real Academia da Língua Espanhola, por exemplo, refere apenas os
valores de viveza e perspicacia.
Neste item, como já acontecera no item 2, é imprescindível a consulta de um bom
dicionário. Sem ele, é muito provável que o examinando não o tenha conseguido superar
de forma plenamente satisfatória.
Item 7
Trata-se de um item que testa a competência morfológica (flexão verbal) e sintática
(concordância clítico-referente). Não há nada especial a assinalar, a não ser alguma
incerteza que introduz o modelo inicial que serve de exemplo para a realização da
atividade. Nesse exemplo, cria-se alguma confusão entre o clítico –la e o referente
(Doñana?, vida?). Teria ficado mais claro se se tivesse optado por incluir a frase “El
Parque de Doñana es vida”. É claro que, contra este pormenor, poder-se-ia contestar
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que, de acordo com tudo o que foi visto até agora, o aluno deveria já saber que sempre
que se faz referência a Doñana fica subentendido o núcleo nominal parque (masculino).
Além disso, nos Critérios Específicos de Classificação desta atividade, o domínio
simultâneo da flexão verbal e da concordância clítico-referente aparece associado à
correção ortográfica. Isto coloca uma situação de avaliação relativamente injusta: o
examinando que optar por, simplesmente, flexionar todos os verbos no modo
imperativo, sem usar os clíticos, pode conseguir 14 pontos, mas aquele que cumprir com
a instrução da atividade (flexionando corretamente o verbo e substituindo o referente
pelo clítico adequado), se não colocar nenhum acento ortográfico, obtém a classificação
de 0 pontos.
Item 8
Consideramos que esta tarefa final deixa uma questão importante após se ter lido o
enunciado: o aluno deve escrever um texto narrativo/descritivo (um relato sobre uma
“experiência real ou imaginaria”) ou um texto expositivo/argumentativo (um “artigo
com título e conclusão final”)? Nos Critérios Específicos de Classificação, na tabela de
Competência Pragmática, diz-se: “Respeita a tipologia textual indicada, descrevendo
uma viagem (real ou imaginada)”. Ora, as instruções são dúbias quanto à tipologia
textual e o aluno poderia ter avançado com um texto expositivo/argumentativo. O que
fazer neste caso?
Lisboa, 2 de julho de 2013
Pel’A Comissão Executiva,
O representante no Conselho Consultivo do GAVE,
J. León Acosta
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