Coleman 1988

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Universidade Federal da Bahia
Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Cultura Contemporâneas
Grupo de Pesquisa em Interação, Tecnologias Digitais e Sociedade - GITS
Reunião de 18 de junho de 2010
Resumo – Social Capital in the Creation of Human Capital (Coleman, 1988)
O autor inicia o texto fazendo referência a duas correntes teóricas que abordam
o Capital Social. Uma, mais comum entre os sociólogos, vê o ator como socializado e as
ações como governadas por normas sociais, regras e obrigações. O principal mérito
desta corrente é descrever a ação no seu contexto social e explicar a forma pela qual a
ação é moldada, constrangida e redirecionada pelo contexto social.
A outra corrente, típica entre economistas, vê um ator que tem objetivos e
ações independentes, além de interesses próprios. A principal virtude desta corrente
seria pensar um princípio de ação que maximiza a utilidade ou a vantagem.
Coleman vai propor uma orientação teórica na sociologia que inclua
componentes de ambas estas correntes. Uma teoria que aceite o princípio da
racionalidade e procure mostrar como este princípio, em conjunção com contextos
sociais, pode ter implicações não apenas sobre as ações dos indivíduos mas também
sobre o desenvolvimento de organizações sociais. Esta é a proposta do Coleman com o
conceito de Capital Social.
Críticas e Revisões
O autor pontua falhas das duas principais correntes teóricas. A corrente
sociológica tem uma falha que pode ser fatal: ela não atribui ao ator um esquema de
ação. O autor é moldado pelo ambiente, mas não possui impulsos internos de ação que
dão ao ator um propósito ou uma direção. A corrente econômica, por sua vez, ignora
uma realidade empírica: a de que as ações das pessoas são moldadas, redirecionadas,
constrangidas pelo contexto social, normas, confiança interpessoal, redes e organizações
sociais.
Capital Social
Se nós partirmos de uma teoria da ação racional, em que cada ator tem controle
sobre certos recursos e interesse em outros recursos e eventos, então o Capital Social
constitui um tipo particular de recurso disponível para o ator. O Capital Social é
definido pela sua função. Não é uma entidade única, mas uma variedade de diferentes
entidades, com dois elementos em comum: todas as entidades consistem em algum
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aspecto de estrutura social e elas facilitam certas ações dos atores dentro da estrutura.
Como outras formas de Capital, o Capital Social é produtivo e torna possível a obtenção
de certos objetivos.
Capital Humano e Capital Social
O Capital Físico é criado a partir de mudanças em materiais, que formam
ferramentas, máquinas e outros equipamentos produtivos. O Capital Humano é criado a
partir de mudanças em pessoas que geram habilidades, capacidades que permitem a
pessoa agir de novos modos. O Capital Social, no entanto, surge a partir de mudanças
nas relações entre pessoas envolvidas na ação. Por isso, o Capital Social é o menos
tangível de todos (existe em relações). Da mesma maneira que o Capital Físico e
humano, o Capital Social facilita atividades produtivas. Por exemplo, um grupo em que
há confiança mútua é capaz de conquistar muito mais que o grupo em que não há
confiança.
Formas de Capital Social
A função identificada pelo conceito de Capital Social é o valor de aspectos da
estrutura social para atores, como recursos que eles podem usar para atingir seus
interesses.
Ao identificar esta função de certos aspectos da estrutura social, o conceito de
Capital Social ajuda tanto a considerar implicações no nível individual, quanto a fazer a
transição do micro para o macro. O conceito de Capital Social ajuda a compreender
como determinados recursos das estruturas sociais, combinados com outros recursos,
podem produzir diferentes comportamentos no nível do sistema, assim como diferentes
resultados para os indivíduos.
O Autor destaca uma variedade de elementos das relações humanas que podem
constituir Capital para os indivíduos.
Obrigações, Expectativas e Confiabilidade
Se A faz algo por B e confia que B irá retribuir no futuro, isso estabelece uma
expectativa em A e uma obrigação a B. Essa obrigação de B pode ser vista como um
crédito mantido por A. Se A tem crédito com muitas das pessoas com quem ele se
relaciona, A pode acionar esse crédito quando julgar necessário. Para isso é necessário
que haja dois elementos: confiabilidade no ambiente social, o que significa que as
obrigações serão efetivamente “pagas”, e o alcance real da obrigação.
De qualquer forma, indivíduos em estruturas sociais com altos níveis de
obrigação têm mais Capital Social em que eles podem se apoiar, ou com o qual podem
contar.
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Certos indivíduos também contam com mais crédito. Uma figura altamente
hierarquizada numa estrutura familiar seria um patriarca, que mantém uma quantidade
extraordinária de obrigações que ele pode acionar a qualquer momento que quiser.
Canais de Informação
Uma forma importante de Capital Social é o potencial de informação que pode
estar contido nas relações sociais. Informação é importante para proporcionar uma base
para a ação. Porém, aquisição de informação tem um custo. No mínimo, requer atenção,
o que está sempre em escassez. Uma forma de adquirir informação pode ser por meio de
relações sociais, ainda que elas sejam mantidas com outros propósitos.
Normas e Sanções
Quando normas existem e são eficientes, elas constituem uma forma de Capital
Social poderosa, ainda que por vezes frágil. Por exemplo, normas eficazes que inibem o
crime permitem que as pessoas andem livremente pelas ruas, à noite. 104 Entretanto, o
Capital Social, nesta forma, pode não apenas facilitar ações, mas também constranger
outras. Uma comunidade com normas fortes e eficazes sobre o comportamento de
pessoas jovens pode inibi-las de se divertir.
Estruturas Sociais que Facilitam o Capital Social
Certos tipos de estrutura social são especialmente importantes para facilitar
algumas formas de Capital Social.
Uma propriedade das relações sociais das quais as normas dependem são o
“fechamento” (closure) das relações. Normas surgem como tentativas de limitar efeitos
externos negativos ou encorajar os positivos. Porém, em muitas estruturas sociais as
normas simplesmente não são geradas, não surgem, porque não há o que pode ser
chamado de fechamento da estrutura social. Se A conhece B e C, mas B e C não se
conhecem, B e C não podem combinar forças para impor sanções sobre as ações de A.
Já em uma estrutura social em que há fechamento, um conjunto de sanções
eficazes pode monitorar e guiar o comportamento. Por exemplo, casais de pais que se
conhecem e têm filhos que estudam na mesma escola podem discutir as atividades das
crianças e chegar a algum consenso sobre sanções e padrões.
Fechamento das estruturas sociais é importante não apenas para a existência de
normas, mas também para outra forma de Capital Social: a confiabilidade, que permite a
proliferação das expectativas e das obrigações.
Organizações Sociais
Organizações voluntárias surgem para buscar algum objetivo. Por exemplo,
moradores podem se organizar para confrontar construtores, na busca por soluções para
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problemas. Posteriormente, mesmo que os problemas tenham sido resolvidos, a
organização permanece na forma de Capital Social disponível, que pode melhorar a
qualidade de vida dos moradores. Uma vez que a organização passa a existir para um
conjunto de propósitos, ela pode também ajudar em outras causas, constituindo Capital
Social.
Capital Social na criação do Capital Humano
Capital Social na Família
O Autor separa o histórico familiar em três componentes: Capital Financeiro
(renda, patrimônio), Capital Humano (formação dos pais, ambiente cognitivo) e o
Capital Social (o tempo e o esforço despendido pelos pais na formação intelectual da
criança).
O Capital Humano dos pais pode ser irrelevante para a criança, se os pais não
participam da vida dos seus filhos, se esse Capital Humano dos pais é empregado
exclusivamente no trabalho ou em lugares fora da casa. O Capital Social da família são
as relações entre as crianças e os pais.
O Capital Social na família que daria à criança acesso ao Capital Humano dos
adultos depende da presença física dos pais e da atenção concedida pelos pais à criança.
Mesmo que os adultos estejam fisicamente presentes, há deficiência de Capital Social
na família se não há fortes relações entre pais e filhos.
Resultados da pesquisa: 1. A porcentagem de estudantes que desistiam da
escola foi maior entre filhos de pais solteiros. 2. A porcentagem de desistência foi maior
entre estudantes com quatro irmãos, na comparação com estudantes com um irmão. 3.
Estudantes com quatro irmãos e um pai (ou mãe) apresentaram uma taxa de desistência
de 22%; com um irmão e dois pais, 10%. 4. Estudantes cujas mães não esperavam que
eles fossem para a faculdade apresentaram uma taxa de desistência 8.6% mais alta. 5.
Estudantes com um irmão, dois pais e cuja mãe tinha expectativa de que o filho fosse
pra faculdade, têm uma taxa de desistência 8%; estudantes com quatro irmãos, um dos
pais, e sem expectativa da mãe, apresentam uma taxa de 30%.
Todos esses dados mostraram que Capital Social na família é um recurso para a
educação da criança, tanto quanto Capital Financeiro e Humano.
Capital Social fora da Família
Esse Capital Social importante para o desenvolvimento de uma pessoa não está
exclusivamente na família. Está também nas relações com a comunidade. Para fazer esta
avaliação, o autor trabalha com a seguinte variável: o número de vezes que uma família
mudou de cidade, e a criança mudou de escola. Famílias que se mudaram com
freqüência quebraram as relações sociais constituídas, que consistiam em Capital Social.
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Seja qual for o nível de fechamento entre gerações em uma comunidade, ele não estará
disponível para família que se mudaram há pouco tempo.
Traduzindo isso em números, o autor chega aos seguintes resultados:
desistência é de 11% entre as famílias que não se mudaram; 16% entre famílias que se
mudaram apenas uma vez; e de 23% entre famílias que se mudaram duas vezes.
Em Escolas religiosas a desistência é ainda menor, pois há maior nível de
fechamento entre gerações. Os pais têm relações multiplexas: os filhos estudam na
mesma escola, e as famílias também freqüentem a mesma congregação religiosa.
Bens Públicos do Capital Social
Capital Físico geralmente é um bem privado, e direitos de propriedade fazem
com que as pessoas que investiram em Capital Físico tenham benefícios. Para o Capital
Humano também, a pessoa que investiu tempo e recursos para construir esse Capital
terá benefícios na forma de um salário maior, maior status no trabalho ou mesmo maior
conhecimento. Mas a maior parte das formas de Capital Social não beneficia a pessoa
que se esforçou para construir esse Capital, mas beneficia todos os que fazem parte da
estrutura. Por exemplo, mães que se dedicam na formação de redes de relacionamentos
entre os pais não são as maiores beneficiadas por este Capital Social.
O Capital Social é um recurso importante para os indivíduos e pode ter grande
efeito sobre habilidades e sobre a percepção de qualidade de vida. E os indivíduos têm
capacidade de produzir Capital Social. Entretanto, porque os benefícios das ações que
geram Capital Social são sentidos por outras pessoas, não costuma ser do interesse do
indivíduo gerar Capital Social. O resultado é que a maior parte das formas de Capital
Social é criada ou destruída como uma conseqüência de outras atividades. Este Capital
Social surge ou desaparece sem o desejo expresso de ninguém, e por isso não é
reconhecido ou considerado na ação social.
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