UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS FACULDADE DE ENFERMAGEM PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENFERMAGEM DIVÂNIA DIAS DA SILVA FRANÇA INFECÇÃO PELO VÍRUS DA HEPATITE C EM PROFISSIONAIS DO SEXO EM GOIÂNIA, GOIÁS GOIÂNIA, 2011 TERMO DE CIÊNCIA E DE AUTORIZAÇÃO PARA DISPONIBILIZAR AS TESES E DISSERTAÇÕES ELETRÔNICAS (TEDE) NA BIBLIOTECA DIGITAL DA UFG Na qualidade de titular dos direitos de autor, autorizo a Universidade Federal de Goiás (UFG) a disponibilizar, gratuitamente, por meio da Biblioteca Digital de Teses e Dissertações (BDTD/UFG), sem ressarcimento dos direitos autorais, de acordo com a Lei nº 9610/98, o documento conforme permissões assinaladas abaixo, para fins de leitura, impressão e/ou download, a título de divulgação da produção científica brasileira, a partir desta data. 1. Identificação do material bibliográfico: 2. Identificação da Tese ou Dissertação Autor (a): Divânia Dias da Silva França E-mail: [email protected] Seu e-mail pode ser disponibilizado na página? Vínculo empregatício do autor Agência de fomento: [X] Dissertação [x]Sim [ ] Tese [ ] Não Departamento de Epidemiologia - Secretaria Municipal de Saúde Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Sigla: CNPq e Tecnológico e Fundação de Amparo a Pesquisa em FAPEG Goiás País: Brasil UF: GO CNPJ: Título: Infecção pelo vírus da hepatite C em profissionais do sexo em Goiânia, Goiás Palavras-chave: Hepatite C; Prostituição; Saúde da mulher; Epidemiologia. Título em outra língua: Infection with hepatitis C virus in sex workers in Goiânia, Goiás Palavras-chave em outra língua: Hepatitis C; Prostitution; Women's health; Epidemiology Área de concentração: A Enfermagem no cuidado à saúde humana Data defesa: (dd/mm/aaaa) 15/03/2011 Programa de Pós-Graduação: Programa de Pós-Graduação em Enfermagem, da Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal de Goiás Orientador (a): Profª Drª Sheila Araujo Teles E-mail: [email protected] Co-orientador (a):* Profª Drª Megmar Aparecida dos Santos Carneiro E-mail: [email protected] *Necessita do CPF quando não constar no SisPG 3. Informações de acesso ao documento: Liberação para disponibilização? 1 [X] total [ ] parcial Em caso de disponibilização parcial, assinale as permissões: [ ] Capítulos. Especifique: _________________________________________________________ [ ] Outras restrições: _____________________________________________________________ Havendo concordância com a disponibilização eletrônica, torna-se imprescindível o envio do(s) arquivo(s) em formato digital PDF ou DOC da tese ou dissertação. O Sistema da Biblioteca Digital de Teses e Dissertações garante aos autores, que os arquivos contendo eletronicamente as teses e ou dissertações, antes de sua disponibilização, receberão procedimentos de segurança, criptografia (para não permitir cópia e extração de conteúdo, permitindo apenas impressão fraca) usando o padrão do Acrobat. ________________________________________ Assinatura do (a) autor (a) Data: ____ / ____ / _____ 1 Em caso de restrição, esta poderá ser mantida por até um ano a partir da data de defesa. A extensão deste prazo suscita justificativa junto à coordenação do curso. Todo resumo e metadados ficarão sempre disponibilizados. DIVÂNIA DIAS DA SILVA FRANÇA INFECÇÃO PELO VÍRUS DA HEPATITE C EM PROFISSIONAIS DO SEXO EM GOIÂNIA, GOIÁS Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal de Goiás para obtenção do título de Mestre em Enfermagem. Área de concentração: A Enfermagem no cuidado à saúde humana Linha de Pesquisa: Prevenção, controle e epidemiologia das infecções associadas a cuidados em saúde e das doenças transmissíveis. Orientador: Profª Drª Sheila Araújo Teles Co-orientador: Profª Drª Megmar Aparecida dos Santos Carneiro GOIÂNIA, 2011 Autorizo a reprodução e divulgação total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrônico para fins de estudos e pesquisa, desde que citada a fonte. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação na (CIP) GPT/BC/UFG F814i França, Divânia Dias da Silva. Infecção pelo vírus da hepatite C em profissionais do sexo em Goiânia, Goiás [manuscrito] / Divânia Dias da Silva França. – 2011. 96 f. : il., figs, tabs. Orientadora: Profª Drª Sheila Araujo Teles; Co-orientadora: Profª Drª Megmar Aparecida dos Santos Carneiro. Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal de Goiás, Faculdade de Enfermagem, 2011. Bibliografia. Inclui lista de figuras e tabelas. Apêndices. 1. Hepatite C. 2. Prostituição – Goiânia (GO). I. Título. CDU: 616.36-002(817.3) FOLHA DE APROVAÇÃO DIVÂNIA DIAS DA SILVA FRANÇA INFECÇÃO PELO VÍRUS DA HEPATITE C EM PROFISSIONAIS DO SEXO EM GOIÂNIA, GOIÁS Dissertação apresentada ao Programa de PósGraduação em Enfermagem da Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal de Goiás para obtenção do título de Mestre em Enfermagem. Aprovada em 15 de março de 2011. BANCA EXAMINADORA: ________________________________________________________________ Profª Drª Sheila Araújo Teles – Presidente da Banca Faculdade de Enfermagem – Universidade Federal de Goiás ________________________________________________________________ Profª Drª Megmar Aparecida dos Santos Carneiro – Coorientadora Instituto de Patologia Tropical e Saúde Pública - Universidade Federal de Goiás ________________________________________________________________ Profª Drª Ana Rita C. Motta Castro – Membro Efetivo, Externo ao Programa. Faculdade de Farmácia – Universidade Federal de Mato Grosso do Sul ________________________________________________________________ Profª Drª Regina Maria Bringel Martins] – Membro Efetivo Instituto de Patologia Tropical e Saúde Pública - Universidade Federal de Goiás ________________________________________________________________ Profª Drª Carmen Luci Rodrigues Lopes – Membro Suplente Faculdade de Enfermagem – Universidade Federal de Goiás ________________________________________________________________ Profª Drª Ana Luiza Neto Junqueira– Membro Suplente Faculdade de Enfermagem – Universidade Federal de Goiás DEDICATÓRIA Dedico a realização desse estudo à minha amada mãezinha Adélia Dias da Silva e ao meu pai de coração João Francisco da Silva pelo amor incondicional que sempre tiveram por mim e por terem me ensinado com a sua simplicidade a valorizar a vida, os estudos e a profissão. Aos meus segundos pais Círcera Francisca Silva de Sousa e Donizete Lourenço de Sousa por terem confiado em mim e por terem me proporcionado tantas possibilidades de crescimento pessoal e profissional. Aos meus “irmãos” João Donizete da Silva Sousa e Juliana da Silva Sousa pelo carinho e motivação. Ao meu amado esposo e companheiro José Orlan Alves do Carmo que sempre confiou e valorizou o que há de melhor em mim. Tenho a convicção que o SENHOR me presenteou com você. AGRADECIMENTOS SENHOR obrigada pelo dom da vida, por ter me amado desde a minha concepção e por realizar grandes feitos/vitórias na minha existência. Tudo o que eu sou e o que vier a ser, será para a Glória do Teu Santo Nome. Obrigada por ter me levado nos braços, me sustentado, quando as tempestades tentaram derrubar-me, pelas tantas vezes que recebeu as pedras em meu lugar. Obrigada pela oportunidade de conviver, amar e aprender com tantas pessoas especiais. À minha eterna professora, orientadora e amiga Profª Drª Sheila Araujo Teles pelo exemplo de dedicação, competência, conhecimento e comprometimento com aqueles a quem ela se dedica a ensinar. Certamente nenhuma palavra será capaz de expressar o imenso carinho, respeito e admiração que tenho pela senhora. Obrigada por estar presente nos meus momentos de alegria, compartilhando os sorrisos, nos momentos de tristeza, secando as minhas lágrimas e nos momentos de tropeço, me ajudando a levantar. Obrigada por confiar em mim e por me mostrar que com garra e sabedoria é possível alcançarmos os nossos sonhos e ideais. À cada membro da minha tão amada família, obrigada pelo apoio, amor, carinho e respeito. Obrigada pelas palavras de incentivo e estímulo. Por entenderem os meus momentos de ausência e pelas incansáveis orações que fizeram e fazem por mim. Obrigada por confiarem em meu potencial e pelo investimento que fizeram em mim. Ao Profº Ms e irmão Marcos André de Matos pelas orientações pessoais e profissionais. Agradeço a DEUS por permitir que você esteja ao nosso lado e pela oportunidade de aprender mais e a cada dia com seu exemplo de vida, profissionalismo, dedicação e competência. Serei eternamente grata pelo seu carinho, por suas orações e conselhos. À Profª Drª Megmar Aparecida dos Santos Carneiro por aceitar a co-orientação desse projeto, pelo cuidado na avaliação e pelas valorosas contribuições nesse estudo. Obrigada pelas palavras de apoio e o carinho incondicional prestado a mim. À Profª Drª Carmem Luci Rodrigues Lopes por ensinar-me os primeiros passos na enfermagem, por ter confiado em mim e em meu potencial. Obrigada pelo carinho que teve ao avaliar esse trabalho como membro da banca de qualificação. À profª Drª Sandra Maria Brunini de Souza, Profª Drª Ana Luiza Neto Junqueira e Profª Drª Márcia Maria de Souza pela disponibilidade em atender e aconselhar oportunamente. Obrigada por todo o carinho, amizade e pelas palavras de apoio e motivação. À profª Drª Regina Maria Bringel Martins, que prontamente aceitou o convite para compor a banca de qualificação e defesa, que sempre esteve acessível e disponível para sanar dúvidas e fazer contribuições para elaboração desse estudo. À profª Drª Ana Rita C. Motta Castro pelo carinho e por todas as contribuições na versão final desse estudo. Às minhas companheiras de projeto Karlla Antonieta, Luciene e Dulce. Obrigada por tornarem essa jornada menos pesada e mais alegre. Karllotinha minha querida amiga, obrigada por compartilhar tantas alegrias e tristezas ao meu lado, pelo exemplo de dedicação, comprometimento e organização. Luluzinha, sua garra e determinação são motivadora, obrigada pelos conselhos sempre oportunos e pelos momentos de descontração. Dulce, obrigada pelo carinho e amizade. À profª Drª Ruth Minamisava Faria pela oportunidade do primeiro emprego. Pelas palavras de apoio, incentivo e por confiar tanto em mim. Ao Programa de Pós Graduação em Enfermagem Strito sensu da Faculdade de Enfermagem/UFG, em especial a Profª Drª Maria Márcia Bachion a quem eu tenho muita admiração e respeito. A Profª Drª Lizete Malagoni de Almeida Cavalcante Oliveira pela sua disponibilidade, incentivo e bom humor. Ao Gabriel Peres de Oliveira funcionário competente e comprometido com o Programa. Aos docentes do Programa de Pós-graduação de Enfermagem da Faculdade de Enfermagem pela excelência na arte de ensinar. Em especial ao carinho e apoio da Profª Drª Ana Clara Ferreira Veiga Tipple e a Profª Drª Virgínia Visconde Brasil pelo sorriso acolhedor e por me fazer lembrar que as angustias decorrentes do mestrado tem data para começar e terminar. Aos funcionários da Faculdade de Enfermagem pela atenção, respeito e carinho de cada um de vocês, por cuidarem dos detalhes e tornarem essa instituição um lugar tão acolhedor e humano. Ao Luciano por nos receber todos os dias com um sorriso no rosto. À Zelinha, Silvana, Elisangêla, Sr Sebastião e tia Maria pela acolhida e pela preocupação que sempre demonstraram por mim. À Isabete por todas as oportunidades e carinho. À Maria do Carmo e a Tia Onicia por serem tão prestativas e amorosas. À todas à turma de mestrado/2009, um grupo seleto de profissionais com grande potencial; tenho certeza que os estudos desenvolvidos por esse grupo irão repercutir de forma determinante na mudança da práxis, do agir e do fazer em enfermagem. Agradeço pela oportunidade de conhecer e aprender um pouquinho com cada uma de vocês. Às minhas amigas e irmãs Letícia Rejane Silva, Nayara Gomes Brito e Grécia Carolina Pessoni. Obrigada pelo amor que sempre tiveram por mim, pelas palavras de apoio, motivação e incentivo. Obrigada por estarem presentes até mesmo na ausência. À equipe do Grupo de Estudo das Hepatites Virais na Região Centro-Oeste IPTSP/UFG: Dulce, Nativa Helena, Ágabo, Nádia, Thaís, Tamíres, Aline Garcia, Aline Pereira, Lyriane, Andréia, Alexandre e Marina. Obrigada pelo comprometimento na realização dos testes sorológicos e pela disposição em colaborar. Ao NUCLAIDS e ao NECAIH pelas inúmeras oportunidades que me ofereceram, tanto no sentido profissional como no pessoal. Obrigada a cada um de vocês que acreditam e que se dedicam a dar o melhor de si como colaboradores nos estudos vinculados a esses núcleos. A Grécia, Kamilla, Fabiana, Laura, Déborah, Paulie, Danilo, Hérica, Fernanda, Paula, Raquel, Everaldo, Érica, Penélope, Janine, Diulye, Luiz Henrique, obrigada pela colaboração na coleta, codificação dos instrumentos de coleta e todas as atividades ligadas ao projeto com as profissionais do sexo. Sem vocês esse trabalho não seria possível. Vocês de uma forma competente e com muito comprometimento, mostraram que estão aptos a assumir o papel de participantes de núcleos de pesquisa. A minha “filhotinha” Paulie Marcelly pela colaboração na revisão de cada página dessa dissertação. Pelo carinho e respeito que sempre teve por mim. Pelo seu comprometimento, dedicação e companheirismo. Tenho certeza que você terá um futuro brilhante. À Equipe Vigipneumo pela oportunidade de conviver e amar tantas pessoas especiais. Obrigada pelo incentivo, preocupação, respeito e pelo carinho dispensado por cada um de vocês. Obrigada pela flexibilidade de horários, o que favoreceu a conciliação entre trabalho e desenvolvimento desse estudo. Ao Departamento de Epidemiologia da Secretaria Municipal de Saúde. A diretora Flúvia Amorim e a coordenadora da divisão de doenças transmissíveis, Juliana Brasiel por valorizarem a formação acadêmica e pelo incentivo a capacitação e o aprimoramento de sua equipe. À Coordenação de DST e à Divisão de imunização pela parceria estabelecida com o projeto e pela disponibilização de insumos. Aos amigos e companheiros do Centro de Informações Estratégicas e Resposta em Vigilância em Saúde da Secretaria Municipal de Saúde meus sinceros agradecimentos pelo apoio. Aline, Helmuth, Luiz Henrique, Nathiele, Maria de Fátima, Jorcelina, Rosângela obrigada pela confiança, pelos momentos de aprendizagem e descontração. À Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Goiás (FAPEG) e Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) pelo apoio financeiro. Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) pelo financiamento de toda a minha jornada acadêmica, pelo apoio financeiro neste estudo e por favorecer o meu crescimento como pesquisadora. Em especial a todas as mulheres profissionais do sexo em Goiânia Goiás. Obrigada por entenderem o valor e a importância desse estudo. Obrigada por nos receber e partilhar suas angustias, frustrações, medos e esperanças. “Eis que vou hoje pelo caminho de toda a terra; e vós sabeis em vossos corações e em vossas almas que não tem falhado uma só palavra de todas as boas coisas que a vosso respeito falou o Senhor vosso Deus; nenhuma delas falhou, mas todas se cumpriram.” Josué 23:14 SUMÁRIO LISTA DE ILUSTRAÇÕES LISTA DE TABELAS RESUMO ABSTRACT RESUMEN 1. INTRODUÇÃO .......................................................................................... 15 1.1. Histórico ................................................................................................... 15 1.2. Classificação e biologia do vírus da hepatite C .................................... 16 1.3. Diagnóstico laboratorial da infecção pelo HCV .................................... 21 1.4. Aspectos clínicos e tratamento da infecção pelo HCV ........................ 24 1.5. Epidemiologia da infecção pelo HCV ..................................................... 27 1.5.1. Transmissão da infecção pelo vírus da hepatite C ........................... 27 1.5.2. Prevalência da infecção pelo HCV ..................................................... 29 1.5.3. Distribuição dos genótipos do HCV ................................................... 30 1.6. Profissionais do sexo e a infecção pelo HCV ....................................... 31 1.7. Prevenção e controle............................................................................... 34 1.8. Amostragem de populações de difícil acesso ...................................... 36 1.9. Justificativa do estudo ............................................................................ 37 2. OBJETIVOS .............................................................................................. 39 2.1. Objetivo geral ........................................................................................... 39 2.2. Objetivos específicos .............................................................................. 39 3. MATERIAL E MÉTODOS .......................................................................... 40 3.1. Delineamento do estudo ......................................................................... 40 3.2. População, amostra e local do estudo................................................... 40 3.3. Critérios de inclusão ............................................................................... 40 3.4. Critérios de exclusão............................................................................... 40 3.5. Coleta de dados ....................................................................................... 41 3.6. Medidas de biossegurança ..................................................................... 44 3.7. Variáveis no estudo ................................................................................. 45 3.8. Testes laboratoriais ................................................................................. 46 3.9. Processamento e análise dos dados ..................................................... 47 3.10. Considerações éticas .......................................................................... 48 3.11. Financiamento ..................................................................................... 49 4. RESULTADOS .......................................................................................... 50 5. DISCUSSÃO ............................................................................................. 59 6. CONCLUSÕES ......................................................................................... 68 7. REFERÊNCIAS ......................................................................................... 69 APÊNDICES ANEXOS LISTA DE ILUSTRAÇÕES Figura 1. Representação esquemática da estrutura do vírus da hepatite C .............. 17 Figura 2. Representação esquemática do genoma e proteínas do vírus da hepatite C ................................................................................................................................ 18 Figura 3. Representação esquemática dos eventos sorológicos e moleculares da hepatite C aguda ....................................................................................................... 21 Figura 4. Representação esquemática dos eventos sorológicos e moleculares da hepatite C crônica ..................................................................................................... 22 Figura 5. Distribuição dos genótipos do HCV em diferentes regiões brasileiras ....... 31 Figura 6. Distribuição espacial dos pontos primários de prostituição de 395 profissionais do sexo estudadas em Goiânia-Goiás, 2009-2010............................... 52 Figura 7. Representação gráfica das sete cadeias de recrutamento de mulheres profissionais do sexo em Goiânia-Goiás, 2009 a 2010 ............................................. 58 LISTA DE TABELAS Tabela 1. Características sócio-demográficas de 395 mulheres profissionais do sexo em Goiânia-Goiás, 2009-2010 .................................................................................. 51 Tabela 2. Aspectos laborais de 395 mulheres profissionais do sexo em GoiâniaGoiás, 2009-2010 ...................................................................................................... 53 Tabela 3. Análise descritiva dos comportamentos de risco não sexuais entre mulheres profissionais do sexo em Goiânia-Goiás, 2009-2010 ................................ 54 Tabela 4. Análise descritiva dos comportamentos de risco sexuais entre mulheres profissionais do sexo em Goiânia-Goiás, 2009-2010 ................................................ 56 Tabela 5. Prevalência da infecção pelo vírus da hepatite C entre 395 mulheres profissionais do sexo em Goiânia-Goiás, 2009-2010 ................................................ 57 Tabela 6. Descrição das características sócio-demográficas e os principais comportamentos de risco das quatro mulheres profissionais do sexo anti-HCV positivas em Goiânia/Goiás, 2009-2010 .................................................................... 59 RESUMO FRANÇA, DDS. Infecção pelo vírus da hepatite C em profissionais do sexo em Goiânia, Goiás [dissertação]. Goiânia: Faculdade de Enfermagem/UFG; 2010. 96p. A infecção pelo vírus da hepatite C (HCV) é um importante problema de saúde pública e as mulheres profissionais do sexo têm sido consideradas um grupo particularmente exposto ao risco de aquisição desse agente. O objetivo desse estudo foi estimar a prevalência de anticorpos contra o HCV (anti-HCV) em mulheres que se prostituem em Goiânia, bem como, identificar comportamentos/fatores de risco para essa infecção na população estudada. Um total de 395 mulheres profissionais do sexo foi recrutado entre maio de 2009 a junho de 2010, pela utilização da técnica de amostragem “Respondent-Driven Sampling”. Todas foram entrevistadas e as amostras sanguíneas obtidas foram testadas para detecção de anti-HCV. A prevalência para anti-HCV foi de 0,7% (IC 95%: 0,1 - 1,5). Um terço das profissionais do sexo relatou uso de drogas ilícitas, embora apenas duas consumissem drogas injetáveis, consumo de bebida alcoólica e uso de tatuagem/body piercing foi relatado por 85,2% e 58,3% das mulheres, respectivamente. Praticamente a metade (48,1%) das profissionais do sexo teve mais de sete parceiros sexuais na última semana e 63,7% não usam preservativos com parceiros fixos/estáveis. Ainda, 49% e 8,6% referiram sinais sugestivos de infecções sexualmente transmissíveis. Embora a prevalência para anti-HCV tenha sido semelhante à de doadores de sangue de nossa região (1,4%), a freqüência elevada de comportamentos/fatores de risco para hepatite C identificados nas profissionais de sexo em Goiânia evidencia o potencial dessas mulheres de se exporem ao HCV. Descritores: Hepatite C; Prostituição; Saúde da mulher; Epidemiologia. ABSTRACT FRANÇA, DDS. Infection with hepatitis C virus in sex workers in Goiânia, Goiás [dissertation]. Goiânia: Faculdade de Enfermagem/UFG; 2010. 96p. Hepatitis C virus (HCV) infection is an important health public problem, and female sex workers have been considered a group particularly at risk to acquire this infection. The aim of this study was to estimate the prevalence of anti-HCV in female sex workers in Goiânia city, and to identify risk factors/behaviors to this infection in this population. A total of 395 women were investigated between May 2009 and June 2010, using the Respondent-Driven Sampling methodology. All were interviewed and blood samples were tested for anti-HCV antibodies detection. The prevalence of antiHCV was 0.7%. One third of female sex workers reported illicit drug use, though only two used injection illicit drugs; alcohol consume and tatooing/body piercing were related by 85.2% and 58.3% of women, respectively. Almost half (48.1%) had more than seven sexual partners in the last week, and 63.7% did not use condom with their steady sexual partners. Moreover, 49% and 8.6% reported signals of sexual transmitted infections. Though the anti-HCV prevalence was similar to that found among blood donors (1.4%) in our region, the high frequency of HCV risk factors/behaviors identified in the female sexual workers, highlights their potential to expose to HCV. Key words: Hepatitis C; Prostitution; Women's health; Epidemiology RESUMEN FRANÇA,DDS. Infección por el virus de hepatitis C, en profesionales del sexo en Goiania, Goiás [dissertation]. Goiania: Facultad de Enfermería/UFG; 2010. 96p. La infección por el virus de hepatitis C (HCV) es un problema de salud pública importante, y las mujeres profesionales del sexo han sido consideradas un grupo particularmente expuesto al riesgo de adquisición de ese agente. El objetivo de ese estudio fue estimar la prevalencia del anti-HCV en mujeres que se prostituyen en Goiânia, así como identificar comportamientos/factores de riesgo para esa infección en la población estudiada. Un total de 395 mujeres profesionales del sexo fueron reclutadas entre mayo de 2009 a junio de 2010, por la utilización de la técnica de muestra “Respondent-Driven Sampling”. Todas fueron entrevistadas y las muestras sanguíneas obtenidas fueron analizadas para detección de anticuerpos contra el HCV (anti-HCV). La prevalencia para anti-HCV fue de 0,7%. Un tercio de las profesionales del sexo contó que usó drogas ilícitas, y apenas dos consumían drogas inyectables; el consumo de bebida alcohólica y uso de tatuagem/body piercing fue relatado por 85,2% y 58,3% de las mujeres, respectivamente. Prácticamente la mitad (48,1%) de las profesionales del sexo tuvo más de siete parejas sexuales en la última semana y 63,7% no usan preservativos con sus parejas fijas/estables. Todavía 49% y 8,65 relataron haber señales sugestivas de infecciones sexualmente transmisibles. Aunque la prevalencia para anti-HCV haya sido semejante a la de donadores de sangre de nuestra región (1,4%), la frecuencia elevada de comportamientos/factores de riesgo para hepatitis C identificada en las profesionales del sexo en Goiania evidencia el potencial de esas mujeres en exponerse al HCV. Descriptores: Hepatitis C; Prostitución; Salud de la mujer; Epidemiología. 15 1. INTRODUÇÃO 1.1. Histórico O termo hepatite é definido como um processo inflamatório acentuado nas células hepáticas, que pode evoluir para fibrose progressiva, em resposta a lesões causadas por agentes químicos, físicos e biológicos (FOCACCIA & VERONESI, 2005). Nesse último grupo, encontram-se, dentre outros, bactérias, fungos, protozoários e vírus, sendo que os vírus certamente englobam a classe mais importante de patógenos associados a quadros clínicos de hepatite; isso, devido à alta transmissibilidade e o impacto que causam nas taxas de morbimortalidade e nos serviços públicos de saúde (FERREIRA, 2004). Embora o termo hepatites tenha sido utilizado, pela primeira vez, apenas em 1.725 por Bianchi apud Reuben (2002), os primeiros registros dessas infecções precedem a Era Cristã, com descrição de surtos epidêmicos de icterícia há cerca de 2.500 anos, na Babilônia. Em 400 a.C, Hipocrátes descreve a icterícia epidêmica, sugerindo que se tratava de uma infecção de provável origem infecciosa, associada a lesões no fígado e que a ascite estaria presente em portadores crônicos de lesões hepáticas (FREITAS, 2003; FONSECA, 2010). Historicamente, existem registros de surtos de icterícia associados aos períodos de guerra. São conhecidas as epidemias de icterícia durante a Guerra da Sucessão Austríaca (1743), de Napoleão no Egito (1798), Franco-Prussiana (1870) e Sucessão Americana (1861-1865). Durante a II Guerra Mundial, os casos de síndrome ictérica tomaram proporções pandêmicas (REUBEN, 2002; FONSECA, 2010). O primeiro registro de doença ictérica viral aguda, com possível transmissão parenteral, foi descrita durante um surto que acometeu 191 trabalhadores no Porto de Bremen (Alemanha), no qual os indivíduos desenvolveram icterícia entre dois a oito meses após a administração da vacina contra varíola, produzida a partir de linfa humana (LÜRMAN, 1885). Novos eventos associados à transmissão parenteral ocorreram em 1922, com a utilização de insulina (FLAUM et al., 1926). Entretanto, somente no início da década de quarenta tornou-se irrefutável a transmissão desse agente infeccioso por via parenteral, quando se observou que após a aplicação da vacina contra febre amarela, estabilizada com soro humano, 28.585 militares americanos foram 16 acometidos de uma forma epidêmica de hepatite, acarretando 62 óbitos (SEEFF et al., 1987; KRUGMAN, 1989; FONSECA, 2010). Vários estudos foram conduzidos com o objetivo de descobrir e caracterizar esses agentes hepatotrópicos, culminando na identificação e descrição de cinco agentes infecciosos: vírus da hepatite A (HAV) (FEINSTONE et al., 1973), vírus da hepatite B (HBV) (DANE et al., 1970), vírus da hepatite C (HCV) (CHOO et al., 1989), vírus da hepatite Delta (HDV) (RIZZETO et al., 1977) e vírus da hepatite E (HEV) (BALAYAN et al., 1983). Após as descobertas acerca do HAV e HBV, e os avanços na detecção sorológica e caracterização desses agentes, tornou-se evidente a existência de outro agente viral de transmissão parenteral, que causava hepatite associada à transfusão sanguínea e/ou procedimentos médicos invasivos. Esse agente foi denominado de hepatite não-A não-B (NANBH) de transmissão parenteral (ALTER et al., 1975; FEINSTONE et al., 1975). Em 1982, Daniel Bradley e colaboradores identificaram, por meio de estudos experimentais em primatas, a presença de um vírus com genoma constituído por ácido ribonucléico (RNA), com 60 nm de diâmetro, revestido de um invólucro lipoprotéico, que foi denominado de agente de forma tubular (BRADLEY et al., 1985). Em 1989, mediante sucessivos estudos de biologia molecular (clonagem molecular direta), o genoma desse agente viral foi clonado e caracterizado por Choo e colaboradores, sendo denominado de vírus da hepatite C (CHOO et al., 1989). A partir dessa descoberta, verificou-se que o HCV era responsável por 80 a 90% das hepatites não-A, não-B pós-transfusionais (ALTER et al., 1989; CLARKE, 1997; MAJOR & FEINSTONE, 1997; PURCELL, 1997; HOUGHTON, 2009). Nas últimas décadas, houve avanços significativos no conhecimento sobre a epidemiologia, patogênese, diagnóstico e tratamento da infecção pelo HCV. Recentemente, há referência ao emprego experimental de uma vacina contra o HCV em chimpanzés, com resultados bastante promissores (HOUGHTON, 2009). 1.2. Classificação e biologia do vírus da hepatite C O HCV é um vírus hepatotrópico, classificado na família Flaviviridae, gênero Hepacivirus (ICTV 2010). A partícula viral completa ou virion é esférica, com 17 aproximadamente 55-65nm de diâmetro, sendo composta externamente por um envoltório e internamente por nucleocapsídeo icosaédrico, contendo o genoma viral (SUZUKI et al., 2007) (Figura 1). Envelope RNA Capsídeo Figura 1. Representação esquemática da estrutura do vírus da hepatite C Fonte:http://www.sciencephoto.com/images/download_lo_res.html?id=670063868 (modificada) O genoma do vírus é constituído por uma molécula de RNA de fita simples, com polaridade positiva, contendo aproximadamente 9.500 nucleotídeos (nt). Possui uma região de leitura aberta (ORF – open reading frame) entre as extremidades não codificantes (NC) 5’ e 3’. A região codificante origina uma poliproteína com aproximadamente 3000 aminoácidos (aa), a qual é clivada por proteases celulares e virais, originando as proteínas estruturais (core, E1 e E2) e não estruturais (NS2, NS3, NS4A, NS4B, NS5A e NS5B) do HCV (SUZUKI et al., 2007; JOYCE & TYRREL, 2010), como também a proteína P7 (Figura 2). Essa proteína é formada por 63 aa, sendo localizada entre a proteína estrutural E2 e não estrutural NS2. 18 Embora dispensável no processo replicativo, a P7 parece desempenhar um papel essencial na montagem e liberação dos virions (HAQSHENAS et al., 2007; STEINMANN et al., 2007; JOYCE & TYRREL, 2010; SHARMA, 2010). Figura 2. Representação esquemática do genoma e proteínas do vírus da hepatite C Fonte: BOONSTRA et al., 2009 (modificada) As proteínas estruturais do HCV derivam do segmento N-terminal da poliproteína, formando a proteína do core, que é o principal componente do nucleocapsídeo, e as proteínas E1 e E2 que formam o envoltório viral. A proteína do core ou nucleocapsídeo, com 191 aa, é uma proteína dimérica α-helicoidal, e possui basicamente dois domínios: um N-terminal hidrofílico com aminoácidos carregados positivamente e um domínio C-terminal hidrofóbico (DUBUISSON, 2007; SUZUKI et al., 2007; SHARMA, 2010). A principal função da proteína core é a de encapsidação do genoma, e formação do nucleocapsídeo. Além disso, acredita-se que essa proteína esteja envolvida em diferentes funções, tais como: modulação da transcrição gênica, sinalização, proliferação e morte celular, como também no metabolismo lipídico (esteatose), oncogênese do carcinoma hepatocelular e na supressão da resposta do hospedeiro (PENIN et al., 2004; NGUYEN et al., 2006; DUBUISSON, 2007). As glicoproteínas E1 (165 aa) e E2 (335 aa) são proteínas transmembrana tipo I, que emergem do envelope viral lipoprotéico (BRASS et al., 2006; KAITO et al., 2006). A proteína E2 contém sítios de ligação para o receptor CD81, uma proteína de membrana encontrada nos linfócitos, células dendríticas, natural killer, endoteliais, epiteliais, macrófagos, monócitos e hepatócitos. Essas proteínas do 19 envelope são essenciais para o reconhecimento e adsorção vírus-célula (DUBUISSON, 2007; ROCHA-PERUGINI et al., 2008; TORRES-PUENTE et al., 2008). As glicoproteínas E1 e E2 exibem alto grau de variabilidade genética, sendo que a proteína E2 apresenta três regiões hipervariáveis, denominadas HVR1, HVR2 e HVR3. Essa variabilidade é relevante para o escape viral à resposta imune. (TORRES-PUENTE et al., 2008). A HVR1 (hypervariable region 1) é constituída por 27 aminoácidos e possui epítopos para anticorpos neutralizantes produzidos durante a infecção pelo HCV, e parece ser importante no reconhecimento e na ligação do vírus na célula (PENIN et al., 2004; KAITO et al., 2006; DUBUISSON, 2007). A segunda região hipervariável, HVR2 (hypervariable region 2), foi descrita em isolados do subtipo 1b do HCV, sendo constituída por sete aminoácidos nas posições 91 a 97 da E2. A HVR3 (hypervariable region 3) abrange os aminoácidos 431 a 466 da glicoproteína E2 e atua como sítio antigênico (TROESCH et al., 2006). As proteínas não estruturais: NS2, NS3, NS4A, NS4B, NS5A e NS5B exercem função enzimática e estão envolvidas na replicação do vírus. A proteína NS2 (217 aa) é uma proteína hidrofóbica transmembrana, que juntamente com os 189 resíduos de aminoácidos de NS3 constituem a proteinase NS2/NS3 dependente de zinco, capaz de clivar NS2 a partir da poliproteína. Estudos sugerem que essa proteína também desempenha papel importante no desenvolvimento de esteatose hepática, regulação da estabilidade da proteína NS2 e montagem das proteínas NS5 e NS3 (DUBUISSON, 2007; MCLAUCHLAN, 2009; SHARMA, 2010). A proteína NS3 (631 aa) é multifuncional, com um domínio serinoprotease na porção N-terminal e outro RNA helicase/NTPase na porção C-terminal. A serinoprotease, por meio da atuação do co-fator NS4A, é responsável pela clivagem das junções NS3/NS4A, NS4A/NS4B, NS4B/NS5A e NS5A/NS5B, resultando nas proteínas NS4A, NS4B, NS5A e NS5B, e desempenha função primordial no processo de multiplicação viral. Portanto, a proteína NS3 constitui um alvo promissor no desenvolvimento de antivirais para hepatite C (SUZUKI et al., 1999; DUBUISSON, 2007; SHARMA, 2010). A NS4A (64 aa) atua como co-fator para serinoprotease e também participa da hiperfosforilação da NS5A. Ainda, é capaz de alterar a membrana intracelular, induzindo a formação de rede membranosa, que serve de suporte ao complexo de 20 replicação do genoma viral (DUBUISSON, 2007; JOYCE & TYRRELL, 2010; SHARMA, 2010). A NS5A (447 aa) é uma fosfoproteína, que contém uma seqüência conhecida como região determinante da sensibilidade ao interferon (ISDR – Interferon Sensitivity Determining Region), que parece interferir com a resposta terapêutica ao fármaco. Ainda, é sítio para mutações adaptativas que facilitam a replicação viral, e possui potencial oncogênico e inibidor de apoptose (LE GUILLEMETTE-GUILLOU et al., 2007; SHARMA, 2010). Já a proteína NS5B (591 aa) é uma seqüência altamente conservada com função de RNA polimerase RNA dependente (RdRP), sendo essencial no processo de replicação do RNA do HCV e um importante alvo de pesquisas para o desenvolvimento de novos agentes antivirais (DUBUISSON, 2007; SHARMA, 2010). A região mais conservada do genoma viral, denominada 5' NC, possui aproximadamente 340 nt, e apresenta uma estrutura secundária em forma de alça (stem-loop), que contém um sítio de entrada interna para ribossomos (IRES), responsável pela iniciação e controle da tradução do RNA viral (FRIEBE et al., 2001; SUZUKI et al., 2007; BARRÍA et al., 2009; BOONSTRA et al., 2009). A região 3' NC tem comprimento variável, sendo dividida em três domínios distintos: uma sequência inicial variável constituída de 40 nt, a segunda região é formada por uma sequência de polipirimidina (poli U/UC), altamente variável entre os diferentes genótipos, e uma terceira região formada por 98 nt altamente conservada, denominada de cauda 3'X. A região 3’ NC está envolvida no processo de replicação viral (FRIEBE et al., 2005; SUZUKI et al., 2007; BOONSTRA et al., 2009; BUNG et al., 2010). Baseando-se na análise filogenética e na heterogeneidade genômica do HCV, já foram descritos sete genótipos, denominados de 1 a 7 (SIMMONDS, 2005; MURPHY et al., 2007), múltiplos subtipos (a, b, c, d e assim por diante), isolados e diversas quasi-espécies do HCV (SIMMONDS et al., 1993; SIMMONDS, 2004; SULTAN et al., 2009; TE & JENSEN, 2010). Essa variabilidade tem implicações clínica e terapêutica, podendo também contribuir com o conhecimento sobre as possíveis rotas de transmissão viral (ZEIN, 2000; NOLTE, 2001; CARNEIRO et al., 2007; YU et al., 2007; IRSHAD, 2009; THOMPSON et al., 2009). 21 1.3. Diagnóstico laboratorial da infecção pelo HCV A detecção da infecção pelo vírus da hepatite C é usualmente realizada por duas categorias de testes diagnósticos. Testes indiretos, baseados na detecção de anticorpos por meio de análise sorológica, e testes diretos, utilizando tecnologia molecular, para detecção do RNA viral e genótipos (PAWLOTSKY, 2002; CHEVALIEZ & PAWLOTSKY, 2007). Na fase aguda da infecção, após uma a duas semanas de exposição ao vírus, já é possível detectar o RNA-HCV no soro de indivíduos na fase virêmica, até o sexto mês de infecção. Os anticorpos contra o HCV (anti-HCV) são encontrados a partir da sétima semana e, geralmente, se mantêm por toda a vida do indivíduo, caracterizando exposição prévia ao vírus. Ainda, na infecção aguda, entre a 4ª e 12ª semana após exposição viral, observam-se evidências laboratoriais de elevação na concentração da alanina aminotransferase (ALT), que retornará aos níveis normais a partir do 6º mês de infecção, quando há eliminação viral (MAHESHWARI et al., 2008; SANTANTÔNIO et al., 2008; MAHESHWARI et al., 2010) (Figura 3). Figura 3. Representação esquemática dos eventos sorológicos e moleculares da hepatite C aguda Fonte: MAHESHWARI et al., 2008 (modificada) 22 A infecção crônica pelo HCV é marcada pela persistência do RNA-HCV após seis meses de exposição ao vírus, acompanhada de persistência e flutuações nos níveis de ALT (MAHESHWARI et al., 2008) (Figura 4). Figura 4. Representação esquemática dos eventos sorológicos e moleculares da hepatite C crônica Fonte: MAHESHWARI et al., 2008 (modificado) O diagnóstico sorológico da hepatite C pode ser realizado pela pesquisa de anticorpos anti-HCV, utilizando testes comerciais que empregam antígenos virais recombinantes e/ou peptídeos sintéticos. O teste rotineiramente usado, desde o início dos anos 90, é o ensaio imunoenzimático (ELISA) (ERENSOY, 2001; RICHTER, 2002). Três gerações de ELISA para detecção de anti-HCV foram desenvolvidos até o momento. Os primeiros testes, denominados de testes de primeira geração (ELISA I), foram liberados para o uso comercial em 1990 e caracterizam-se pelo emprego de apenas uma proteína não-estrutural, o polipeptídio c100-3 (NS4), como antígeno alvo. A utilidade clínica era limitada, pois apresentava um tempo médio de soroconversão de até 16 semanas (ERENSOY, 2001). Em 1992, surgiu, nos Estados Unidos, os testes de segunda geração (ELISA II), com o objetivo de aumentar a sensibilidade e especificidade do método, e ainda diminuir o tempo necessário para a detecção dos anticorpos após a infecção (ALTER et al., 1992; GRETCH, 1997; ERENSOY, 2001; RICHTER, 2002). Nos 23 testes de segunda geração, além de empregar o polipeptídio c100-3 correspondente a região NS4, houve a incorporação de outras proteínas recombinantes das regiões core (c-22-3) e NS3 (c-33-c), reduzindo o tempo de soroconversão de 16 para 10 semanas (GRETCH, 1997; RICHTER, 2002; YOKOSUKA et al., 2005). Os testes de terceira geração (ELISA III), além dos antígenos recombinates ou peptídeos sintéticos, incluiu-se o antígeno correspondente à região NS5 (ERENSOY, 2001), permitindo uma redução do tempo de detecção para sete semanas, e apresentando sensibilidade e especificidade de até 99% em indivíduos imunocompetentes infectados pelo HCV (COLIN et al., 2001; CHEVALIEZ & PAWLOTSKY, 2007). Embora se tenha observado evoluções significativas na detecção de anticorpos específicos para infecção pelo HCV pelos ensaios imunoenzimáticos, ainda há uma parcela de indivíduos que apresenta resultados falso-positivos, especialmente em populações de baixa prevalência (TASHKANDY et al., 2007). Justificando assim, a necessidade de empregar testes complementares ou confirmatórios com maior especificidade, como o recombinant immunoblot (RIBA) ou line immunoassay (LIA), em que os antígenos do HCV são individualizados, eliminando os resultados falso-positivos (ERENSOY, 2001; MUÑOZ ESPINOSA, 2002). O emprego de técnicas moleculares, para a detecção quantitativa e qualitativa do HCV, tem sido um recurso necessário na confirmação diagnóstica de infecção ativa e seleção de indivíduos elegíveis para terapia antiviral, já que é um método capaz de detectar precocemente quantidades mínimas de RNA, mesmo nas primeiras semanas após a exposição ao vírus. Os métodos qualitativos, comumente empregados no diagnóstico molecular da hepatite C são: a reação em cadeia da polimerase (PCR – polymerase chain reaction) e a amplificação mediada por transcrição (TMA – transcription mediated amplification) (PAWLOTSKY, 2002; RICHTER, 2002; GORRIN et al. 2003; SCOTT & GRETCH, 2007). Já os ensaios quantitativos, como os testes DNA ramificado (bDNAbranched-chain) e a PCR em tempo real (polymerase chain reaction in times real) são capazes de quantificar baixos níveis de viremia em UI/ml (ERENSOY, 2001; RICHTER 2002; SCOTT & GRETCH, 2007). As técnicas de genotipagem têm sido empregadas para identificação de cadeias de transmissão epidemiológica e definição de tratamento, tendo em vista a 24 existência de uma ampla variabilidade genômica do vírus da hepatite C, o que implica em diferentes respostas terapêuticas e prognóstico variáveis (SCOTT & GRETCH, 2007). A genotipagem do HCV pode ser feita pela análise de seqüências amplificadas por PCR do genoma viral completo ou das regiões 5' NC, core ou NS5B. Outros ensaios têm sido empregados, como a hibridização reversa com sondas de oligonucleotídeos genótipo-específicas (line probe assay - LiPA - região 5´ NC e core), análise do polimorfismo de comprimento dos fragmentos de restrição (RFLP-restriction fragment length polymorphism - 5’ NC) e a amplificação genótipoespecífica com oligonucleotídeos da região core. Além desses, a sorotipagem, baseada na detecção de anticorpos para os antígenos das regiões core ou NS4, tem sido empregada na detecção dos genótipos do vírus, porém não permite a detecção dos subtipos (ERENSOY, 2001; PAWLOTSKY 2003; CAVALHEIRO, 2007; CHEVALIEZ & PAWLOTSKY, 2007). A biópsia hepática normalmente é recomendada nos indivíduos com positividade para os marcadores da infecção pelo HCV com elevação concomitante da ALT. Trata-se de um procedimento útil para avaliação do dano hepático, revelando o grau e o estadiamento da doença, processos inflamatórios e áreas de necrose tecidual. Ainda, pode detectar ou excluir outras causas de lesão hepática (SIEGEL et al., 2005; SPENGLER & FISCHER, 2008). 1.4. Aspectos clínicos e tratamento da infecção pelo HCV A hepatite C é uma doença infecciosa que se manifesta em humanos e chimpanzés de maneira similar (TABOR et al., 1978), e normalmente desenvolve-se de forma silenciosa e assintomática, o que favorece a evolução para a cronicidade (WURSTHORN et al., 2008; SEEFF, 2009). A infecção pelo HCV pode se manifestar em diferentes formas clínicas, sendo predominante a forma aguda assintomática ou subclínica, com sintomas inespecíficos, característicos de outros processos infecciosos virais. O período de incubação médio é de sete a oito semanas, podendo variar de duas a doze semanas (KEW et al., 2004; BLACKARD et al., 2008). A síndrome da infecção aguda sintomática ocorre em cerca de 10% a 15% dos indivíduos expostos ao vírus; normalmente é acompanhada ou precedida de alguns sintomas inespecíficos, tais como: fadiga, febre baixa, dor no quadrante 25 superior direito, náuseas ou vômitos. A icterícia é evidenciada em pelo menos 25% dos indivíduos sintomáticos. A taxa de remissão espontânea é de aproximadamente 25% a 52% (BLACKARD et al., 2008; MAHESHWARI et al., 2008; SANTANTÔNIO et al., 2008). A hepatite C fulminante tem sido observada em 1% dos indivíduos com infecção aguda. Essa forma da doença é altamente letal, e normalmente acomete indivíduos imunodeprimidos (CZEPIEL et al., 2008). Dentre os indivíduos expostos ao vírus da hepatite C, uma média de 70% (variando entre 50% a 85% dos casos) pode evoluir para a forma crônica da doença, caracterizada pela persistência do RNA-HCV e elevação das enzimas hepáticas após seis meses de infecção. O curso da infecção crônica e a progressão do dano hepático poderão apresentar padrões diferentes, dependendo de fatores condicionantes e determinantes da doença, tais como: sexo masculino, etilismo, indivíduos que adquiriram o vírus em idade avançada, co-infecção pelo vírus da hepatite B (HBV) e/ou vírus da imunodeficiência humana (HIV) e status imunológico (BLACKARD et al., 2008; SEEFF et al., 2009; TSOULFAS et al., 2009; ASCHA et al., 2010). Esteatose hepática, obesidade e diabetes podem contribuir para um pior prognóstico da doença, acelerando a progressão da fibrose hepática (CALLE et al., 2003; REGIMBEAU et al., 2004; POLESEL et al., 2009). A infecção crônica pelo HCV é marcada por um processo inflamatório acentuado nos hepatócitos, caracterizado por fibrose progressiva acompanhada de necrose hepatocelular, podendo evoluir para cirrose e carcinoma hepático (HCC). Estudos estimam que cerca de 20% dos indivíduos cronicamente infectados irão apresentar cirrose nas primeiras duas décadas, com mortalidade anual de 2 a 5%, associada à hipertensão portal, falência hepática e hepatocarcinoma (CZEPIEL et al., 2008; LAVANCHY, 2009; TSOULFAS et al., 2009; ASCHA et al., 2010). Estimase, ainda, o desenvolvimento de HCC entre 1–3% dos pacientes com cirrose, após 30 anos de infecção. A incidência anual acumulada de HCC em pacientes com cirrose por HCV foi estimada em 4,0% (PERZ et al., 2006; ANDRADE et al., 2009; FUNG et al., 2009; TSOULFAS et al., 2009; ASCHA et al., 2010). A infecção oculta pelo vírus da hepatite C ocorre em indivíduos com testagem sorológica negativa para os marcadores anti-HCV e RNA-HCV, com alterações das transaminases séricas de origem desconhecida; naqueles com remissão espontânea após tratamento da infecção pelo HCV que apresentam 26 positividade para anti-HCV; e RNA-HCV negativo no soro. A presença do RNA viral pode ser demonstrada no fígado ou em locais extra-hepáticos, como células do sangue periférico (CARREÑO et al., 2006; CARREÑO et al., 2008; PHAM et al., 2010). Em razão da elevada taxa de morbimortalidade e na ausência de imunobiológicos eficazes e seguros para prevenir essa infecção, adota-se a terapia medicamentosa em indivíduos com positividade para anti-HCV e RNA-HCV, com elevação persistente da ALT, e evidências de atividade inflamatória e/ou fibrose moderada a intensa (DIENSTAG & MCHUTCHISON, 2006; BRUIJNE et al., 2008). O tratamento da hepatite C crônica tem como objetivo primordial inibir a replicação viral, evidenciada pela resposta virológica sustentada (RVS), ou seja, níveis indetectáveis de RNA-HCV, no soro, 24 semanas após o término do tratamento. A RVS minimiza as complicações hepáticas, tais como: cirrose e HCC, e ainda possui potencial para reduzir as manifestações extra-hepáticas (BRUIJNE et al., 2008; DEUTSCH & HADZIYANNIS, 2008). Inicialmente, o tratamento de portadores da infecção crônica pelo HCV era feito por meio da administração do interferon-alfa (IFN-α). Entretanto, as taxas de resposta virológica com o uso da monoterapia eram baixas, de 6% a 12% após 24 semanas de tratamento, e de 12% a 20% após 48 semanas. O acréscimo da ribavirina (RB), um antiviral que atua na biossíntese da guanosina trifosfato, resultou na elevação da resposta virológica em cerca de 40% dos casos (CHOU et al., 2007). Mais recentemente, a adição de uma molécula de polietilenoglicol ao interferon-α deu origem ao Interferon alfa peguilado (Peg IFN-α), que associado a ribavirina constituem a terapia atual (DIENSTAG & MCHUTCHISON, 2006; MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2007). A nova formulação do interferon resultou no prolongamento na meia-vida do fármaco. Entretanto, as variações na RVS ocorrem de acordo com o genótipo do HCV, ou seja, pode ser observada em 40% a 50% dos pacientes infectados pelo genótipo 1 ou 4, ou em 80% dos indivíduos infectados pelos genótipos 2 ou 3 (SORIANO et al., 2009). No Brasil, o tratamento da hepatite C é fornecido gratuitamente aos candidatos elegíveis à terapia antiviral, ou seja, portadores do HCV com detecção do RNA-HCV qualitativo, com resultado de biópsia hepática nos últimos 24 meses, onde tenha sido evidenciada atividade necro-inflamatória de moderada a intensa (maior ou igual a A2 pela classificação Metavir, ou atividade portal ou peri-septal 27 grau 2 ou maior pela classificação da Sociedade Brasileira de Patologia) e/ou presença de fibrose de moderada a intensa (maior ou igual a F2 pelas classificações Metavir ou Sociedade Brasileira de Patologia), com idade entre três e 70 anos, contagem de plaquetas acima de 50.000/mm3 e de neutrófilos acima de 1.500/mm3 (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2008). Ainda, pacientes candidatos ao tratamento com Peg IFN-α devem se enquadrar nos seguintes critérios, além daqueles gerais mencionados acima: ser portador do genótipo 1 do HCV e ter contagem de plaquetas acima de 75.000/mm3 (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2008). 1.5. Epidemiologia da infecção pelo HCV 1.5.1. Transmissão da infecção pelo vírus da hepatite C O meio de transmissão mais eficiente do HCV é a via parenteral, com exposição direta a sangue e/ou derivados. Assim, indivíduos hemotransfundidos, transplantados, submetidos a procedimentos invasivos e usuários de drogas ilícitas injetáveis apresentam um risco mais elevado para hepatite C quando comparados a população em geral (ALTER, 2007; CDC, 2008; LAVANCHY, 2009; SULTAN et al., 2009; TE & JENSEN, 2010). Até o início da década de 90, a transfusão sanguínea era o principal veículo de transmissão do HCV, entretanto, com a introdução da triagem sorológica para anti-HCV em bancos de sangue de vários países, houve uma redução drástica dessa forma de aquisição da infecção. Nos Estados Unidos, estima-se que o risco de infecção pós-transfusional seja de 0,005%, ou seja, menos de um caso para cada dois milhões de unidades de sangue transfundida (CDC, 2005). Atualmente, o compartilhamento de seringas e agulhas contaminadas entre usuários de drogas injetáveis representa a principal forma de disseminação viral (SULTAN et al., 2009; TE & JENSEN, 2010), sendo responsável por 50% dos novos casos de hepatite C (RHODES et al., 2006; SHAPATAVA et al., 2006; CDC, 2007). Acidente ocupacional também desempenha um papel importante como meio de transmissão desse agente por via parenteral (LUCKHAUPT & CALVERT, 2008; MARTÍNEZ-BAUER et al., 2008, WICKER et al., 2008). Estima-se que 926.000 profissionais de saúde se exponham ao HCV anualmente, por meio de acidentes com materiais perfurocortantes contaminados, com risco médio de soroconversão 28 para anti-HCV de 3% (CDC 2001; PRÜSS-ÜSTÜN et al. 2003; WICKER et al., 2008). A transmissão nosocomial do vírus da hepatite C tem sido descrita, principalmente, entre pacientes submetidos à hemodiálise, sendo que estudos sugerem que o tempo de tratamento, bem como o número de transfusões de sangue não triado, eleva o risco de aquisição do vírus (CARNEIRO et al., 2001; BDOUR, 2002; HINRICHSEN et al., 2002; ALAVIAN et al., 2007). Acresce-se aos mecanismos de transmissão parenteral, comentados anteriormente, o risco de aquisição do HCV por meio de procedimentos estéticos com materiais perfurocortantes contaminados, que são reutilizados ou contaminados durante o processo de manuseio que precede o procedimento, como tatuagem e body piercing (YEN et al., 2003; HERCK, 2008) Embora menos eficientemente, a transmissão do HCV pode ocorrer por via vertical, ou seja, da mãe para o filho, ou por via sexual (INDOLFI & RESTI, 2009; TOHME & HOLMBERG, 2010). A detecção materna do RNA-HCV, infecção de células mononucleares em sangue periférico materno, rompimento prematuro de membranas placentárias e procedimentos obstétricos ou intraparto, que exponham o recém nascido ao sangue contaminado, têm sido preditores de transmissão viral (INDOLFI & RESTI, 2009). Estima-se em 4% o risco de transmissão perinatal desse agente, sendo que em crianças de mães co-infectadas com o HIV, o risco de infecção pode chegar a 19% (CDC, 2005). Estudos em parceiros estáveis, que não apresentam outros fatores de risco para infecção pelo HCV, têm evidenciado a transmissão sexual desse vírus (TERRAULT, 2002; VILENA, 2006; CAVALHEIRO et al., 2009). Alguns fatores parecem potencializar o risco de aquisição do HCV, tais como: múltiplos parceiros, relações sexuais sem preservativo, infecções sexualmente transmissíveis (IST), incluindo infecção pelo HIV e relação genito-anal. Ainda, a transmissão homemmulher parece ser mais eficiente (THOMAS et al., 1995; ROONEY & GILSON, 1998; HALFON et al., 2001; BROOK, 2002; TERRAULT, 2002; CAVALHEIRO, 2004; CAVALHEIRO et al., 2009). Mais recentemente, Wang et al. (2011) detectaram a presença de RNA HCV em fluído cervicovaginal na presença de sangue menstrual ou não. De acordo com esses autores, em mulheres na pré-menopausa a detecção do RNA HCV na 29 cérvix foi associada com a detecção de hemoglobina, até mesmo na ausência de menstruação. Também, o RNA HCV tem sido identificado no sêmem e fluído menstrual (LIOU et al., 1992; SILVERMAN et al., 1994; NYAMATHI et al., 2002; WANG et al., 2011). 1.5.2. Prevalência da infecção pelo HCV A infecção pelo vírus da hepatite C apresenta distribuição global, embora sua prevalência apresente diferenças geográficas, com a endemicidade variando de acordo com as características de desenvolvimento socioeconômico, culturais e comportamentais nas diferentes populações (SHEPARD et al., 2005; PELEGRINI et al., 2007; KERR et al., 2009; SHANNON et al., 2010). Em 2004, a Organização Mundial de Saúde, por meio de estudos de prevalência em doadores de sangue voluntários, estimou em 3% a prevalência global da infecção pelo HCV no mundo, representando cerca de 170 milhões de pessoas infectadas, sendo que, destas, 130 milhões são portadores crônicos do vírus. Ainda, existem cerca de três a quatro milhões de casos novos por ano (WHO, 2004; LAVANCHY, 2009). O Egito é o país com a maior taxa de prevalência para o HCV no mundo, variando entre 17% e 26%. A elevada positividade encontrada nesse país está relacionada à transmissão iatrogênica do vírus por meio de seringas utilizadas nas campanhas de tratamento da esquistossomose nas décadas de 60 e 70 (STRICKLAND, 2006). Na América do Norte, um estudo conduzido nos Estados Unidos, no período de 1999 a 2002, mostrou uma incidência global de exposição ao HCV de 1,6%, ou 4,1 milhões de indivíduos expostos, e uma prevalência estimada de portadores crônicos de 1,3% ou 3,2 milhões de indivíduos (ARMSTRONG et al., 2006). A infecção mostrou-se mais comum em homens, negros, na faixa etária entre 45 e 49 anos de idade. Ainda, a maioria dos indivíduos havia se infectado entre 1945 e 1964, sendo, nesse país, o meio mais comum de transmissão o compartilhamento de seringas e agulhas entre usuários de drogas injetáveis e/ou com comportamentos sexuais de risco, como múltiplos parceiros e relações sexuais inseguras (ARMSTRONG et al., 2006; ALTER, 2007; TE & JENSEN, 2010). No Brasil, por ser um país continental, as taxas de prevalência obedecem ao padrão mundial, apresentando variações em diferentes regiões geográficas. Estudos 30 em doadores de sangue têm revelado taxas de positividade para anti-HCV de 0,2% em São Paulo-SP (SALLES et al., 2003); 0,3% no Estado de Santa Catarina (ROSINI et al., 2003) e em Uberaba-MG (GARCIA et al., 2009); 0,5% em LondrinaPR (REICHE et al., 2008); 0,9% no Rio de Janeiro-RJ (ANDRADE et al., 2006); 1,1% em Porto Alegre-RS (BRANDÃO & FUCHS, 2002); 1,2% em Ribeirão Preto-SP (VALENTE et al., 2005); e 5,5% na região Amazônica (PARANÁ et al., 2008). Mais recentemente, Nascimento et al., (2008) realizaram um estudo multicêntrico em primodoadores de três grandes cidades brasileiras, sendo elas: São Paulo-SP, Salvador-BA e Manaus-AM, e estimaram uma prevalência de 0,97% e 0,38% para mulheres e homens, respectivamente. Em Goiás, as taxas de prevalências para anti-HCV diferem dependendo do grupo estudado. Assim, em Goiânia, uma prevalência de 1,4% foi estimada em doadores de sangue (MARTINS et al., 1994), 0,9% e 0,15% em gestantes (MARTINS et al., 1995; COSTA et al., 2009), 1% e 3% em meninos de/na rua, respectivamente (MARTINS et al., 1995), 1,8% em indivíduos com hanseníase (ROSA et al. 1996), 0,7% em profissionais de hemodiálise (LOPES et al., 2002), 63,3% em hemofílicos (BARBOSA et al., 2002), 1,9% em portadores de doenças reumáticas (BARBOSA et al., 2005), 16,5% em pacientes em hemodiálise (CARNEIRO et al., 2005), 2,5% em indivíduos atendidos no Centro de Testagem e Aconselhamento (PEREIRA et al., 2006) e 15,3% em transplantados renais (BOTELHO et at., 2008). Também, estimou-se uma prevalência para anti-HCV de 1,4% em caminhoneiros que trafegam em Goiânia na Rodovia Federal BR-153 (FREITAS et al., 2010) e 0,6% em quilombolas de Goiás (MATOS et al., 2009). 1.5.3. Distribuição dos genótipos do HCV Dos grupos genômicos do HCV já descritos, os genótipos 1, 2, 3 apresentam distribuição global, sendo que os subtipos 1a e 1b respondem por 60% das infecções em todo o mundo. O subtipo 1a é predominantemente encontrado na Europa Setentrional e América do Norte, ao passo que o subtipo 1b é comum na Europa Oriental e Meridional, como também no Japão. O genótipo 2 é mais frequente na Europa. Já o grupo genômico 3 é endêmico no sudeste da Ásia e o 4 no Oriente Médio, Egito e África Central. Os genótipos 5 e 6 são encontrados predominantemente na África do Sul e sudeste asiático, respectivamente (NGUYEN 31 & KEEFFE, 2005; SIMMONDS et al., 2005; ALTER, 2007; SULTAN et al., 2009; TE & JENSEN, 2010). No Brasil, estudos apontam a circulação dos genótipos 1, 2, 3, 4 e 5 (Figura 5). O genótipo 1 é o mais frequente em todas as regiões, seguido dos genótipos 2 e 3 (CAMPIOTTO et al., 2005; MARTINS et al., 2006). Já os genótipos 4 e 5 foram detectados na Região Sudeste (São Paulo) (LEVI et al., 2002; CAMPIOTTO et al., 2005) e Centro-Oeste do Brasil (Estado do Mato Grosso) (RIBEIRO et al., 2009). Figura 5. Distribuição dos genótipos do HCV em diferentes regiões brasileiras Fonte: CAMPIOTTO et al., 2005 (modificado) 1.6. Profissionais do sexo e a infecção pelo HCV A vulnerabilidade feminina é definida pelo tipo de relação que a mulher mantém com sua sexualidade e consigo mesma, sendo que, historicamente tem sido marcada por uma forte relação com a questão de gênero, evidenciada na posição de subordinação da mulher em relação ao homem. Essa vulnerabilidade atua como fator determinante na exposição da mulher ao risco de aquisição de doenças, especialmente às de transmissão sexual (DINIZ & GUILHEN, 2000). 32 Associada a vulnerabilidade feminina, situações como pobreza, exclusão social e a falta de oportunidades, como educação e trabalho, aumentam os riscos e as susceptibilidades as infecções, contribuindo de forma determinante para o padrão de saúde e doença das mulheres (BRAVEMAN & GRUSK, 2003; FAULKNER et al., 2008). As profissionais do sexo são um exemplo disso (PIRKLE, et al., 2007). A prostituição é uma das profissões mais antigas da humanidade. Em algumas civilizações, como a grega, já foi, inclusive, considerada sagrada. No entanto, o estigma relacionado a comportamentos e práticas sexuais tem acompanhado as profissionais do sexo ao longo da história. Atualmente, a profissão está associada a estigmas e problemas sociais de grande magnitude, tais como: pedofilia; tráfico e consumo de drogas lícitas e ilícitas; aliciamento de menores; doenças de transmissão sexual, sobretudo em face da multiplicidade de parceiros; dentre outros (ROBERTS, 1998). Nas sociedades conservadoras, a prostituição é vista como atividade contrária aos padrões sociais vigentes, uma atividade imoral, que ameaça os bons costumes na família, no trabalho e na sociedade. Esses conceitos acarretam a aversão, repúdio, discriminação e marginalização dessa população (BORBA & CLAPIS, 2006; AQUINO et al., 2008; LUTNICK & COHAN, 2009). A violência doméstica e a miséria favorecem a prostituição em mulheres de classes menos favorecidas (OLIVEIRA & MEDEIROS, 2006; AMORIN et al., 2008). Também, mulheres se prostituem não só por uma questão de sobrevivência, mas também para ter acesso a um padrão de vida, que lhes permitam a aquisição de bens de consumo, que de outra forma não seria possível (LOPES et al., 2007; AMORIN et al., 2008). O exercício da prostituição como profissão não é considerada um crime, uma vez que a Portaria Ministerial nº. 397, de 09 de outubro de 2002, inclui essa atividade na Classificação Brasileira de Ocupações (CBO) (MINISTÉRIO DO TRABALHO E EMPREGO, 2002). Entretanto, o lenocínio (exploração comercial e incitamento à prostituição), além do envolvimento com tráfico humano e de drogas ilícitas são condutas comumente associadas à prostituição e são condenados pelo Código Penal Brasileiro (CÓDIGO PENAL, 1940). Assim, as várias atividades ilegais associadas à prostituição em nosso País contribuem para a maior vulnerabilidade dessas mulheres a violência física e moral, e exclusão social, que por sua vez as afastam dos serviços públicos de saúde (AQUINO et al., 2008). 33 Estudos realizados com profissionais do sexo têm sugerido a transmissão sexual da infecção pelo HCV (LAURENT et al., 2001; COHAN et al., 2005; KWEON et al., 2006). Entretanto alguns autores têm apontado como variável de confusão o uso concomitante de drogas endovenosas por esse grupo, uma vez que esse comportamento constitui isoladamente o fator de risco mais importante na cadeia de transmissão desse vírus (TERRAULT, 2002; TERRAULT, 2005). Nessa população, observam-se variações importantes na prevalência da infecção pelo vírus da hepatite C, influenciadas pela endemicidade regional, comportamentos de risco e representatividade da amostra (CAMEJO et al., 2003; BELZA et al., 2004; BAUTISTA et al., 2009). Um estudo realizado em Kinshasa, a maior cidade da República Democrática do Congo, com 1144 mulheres profissionais do sexo verificou uma prevalência de 6,6% (LAURENT et al., 2001). Já na Tunísia, norte da África, uma positividade de 1,1% foi encontrada em 188 profissionais do sexo que procuravam atendimento médico (ZNAZEN et al., 2010). Na Europa, um estudo conduzido em um centro de referência em prevenção, diagnóstico e tratamento de infecções transmitidas sexualmente (ITS) mostrou uma positividade para o HCV de 0,9% em 579 mulheres imigrantes que se prostituíam em Madri, Espanha (BELZA et al., 2004). Em Tallinn, capital da Estônia, Usküla et al. (2008) estimaram uma prevalência de 7,9% em 227 mulheres profissionais do sexo, e na Grécia, Papadogeorgaki et al. (2006) relataram uma prevalência global para hepatite C de 2,3% em 299 mulheres profissionais do sexo em Atenas. Ainda, observaram que a freqüência dos casos aumentava com a idade, alcançando uma freqüência de 3,8% em mulheres com idade entre 45–54 anos. Outro estudo realizado em Londres, na Inglaterra, evidenciou soroprevalência de 6,7% em 675 mulheres (WARD et al., 1999). Na República Tcheca verificou-se uma prevalência de 0,9% em 209 profissionais do sexo (HUSA & KOHOUTKOVÁ, 2007) e em Glasgow-Escócia uma positividade de 81% foi verificada em 98 mulheres profissionais do sexo usuárias de drogas injetáveis (TAYLOR et al., 2008). Na Ásia, uma investigação conduzida em 308 mulheres profissionais do sexo, atendidas em clínicas de IST, em Tóquio, Japão, encontrou uma prevalência de 3,2% (ISHI et al., 2001). Já em outro estudo em Fukuoka no Japão conduzido em 404 mulheres profissionais do sexo observou-se uma positividade de 6,2% (Nakashima et al., 1992) e na Coréia, Kweon et al relataram uma positividade de 1,4%. No Oriente Médio, Todd et al. (2010) verificaram uma positividade para o HCV 34 de 1,9% em 520 mulheres profissionais do sexo de três cidades do Afeganistão (Jallabd, Kabul e Mazar-i-Sharif). Ainda, Jahani et al (2005) encontraram uma freqüência de 3,1% em 196 mulheres do Iran, enquanto, em Israel, Cwikel et al (2006) revelaram uma prevalência de 9% em 43 mulheres profissionais do sexo que exerciam a prostituição de forma ilegal no País. Nos Estados Unidos, um estudo de base populacional, conduzido em mulheres jovens no norte da Califórnia, encontrou uma freqüência de 13% para a infecção pelo HCV em 226 mulheres com história de prostituição, sendo que essas apresentavam uma chance 2,7 (IC: 95% 1,2 – 6,1) vezes maior de aquisição da infecção quando comparadas com mulheres sem história de prostituição (COHAN et al., 2005). Em outro estudo conduzido em 586 mulheres que se prostituíam em ruas de Miami, Florida, estimou uma prevalência de 29,6% (INCIARDI et al., 2006). Na Venezuela, América do Sul, Camejo et al., (2003) reportaram uma positividade de 0,5% em 212 profissionais do sexo que procuraram o serviço de controle sanitário de IST. Por outro lado, Monsalve-Castilho et al (2007) não encontraram positividade para esse agente em 47 mulheres prostitutas investigadas na cidade de Maracaibo, Venezuela. Na Argentina estudos têm apontado para proporções mais elevadas para o HCV (PANDO et al., 2006; BAUTISTA et al., 2009). Em Buenos Aires, Bautista et al., (2009) verificaram uma positividade de 1,2% e 5,5% em mulheres profissionais do sexo imigrantes e não imigrantes respectivamente, e Pando et al., (2006), ao estudarem profissionais do sexo de seis cidades (Buenos Aires, Salta, Rosario, Córdoba, Mendoza, e La Plata) estimaram uma prevalência variando de 2% em La Plata a 8,2% em Salta. No Brasil, um estudo realizado em 539 mulheres que se prostituíam na cidade de Santos, São Paulo revelou uma positividade de 10,7% para anti-HCV (MESQUITA et al., 1997). Já o relatório de Avaliação da efetividade das ações de prevenção dirigidas às profissionais do sexo, em três regiões brasileiras (Sul, Sudeste e Nordeste) do Ministério da Saúde mostrou uma positividade global para o HCV de 4,5% (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2004). 1.7. Prevenção e controle A infecção pelo HCV, diferentemente das infecções pelos vírus das hepatites A e B, não possui imunobiológico específico como medida preventiva. Embora várias 35 tentativas tenham sido empregadas com esse propósito, a produção de uma vacina segura e eficaz permanece como um desafio para os pesquisadores, uma vez que o vírus apresenta alto grau de diversidade genômica (BERZOFSKY et al., 2004; HERCK, 2008). Na ausência de medidas profiláticas (imunobiológicos) e a inexistência de profilaxia pós exposição ocupacional, ressalta-se a necessidade de implementação de estratégias de prevenção primárias e secundária (KEW et al., 2004; CDC, 2006; HERCK, 2008). A prevenção primária visa à redução do risco de transmissão do HCV. Dentre as principais medidas, destacam-se: esforços na elaboração de vacinas, triagem para o HCV em bancos de sangue e em centrais de doação de órgãos sólidos, córnea ou pele e sêmem, visando garantir a distribuição de material biológico não infectado; educação em saúde com os portadores do vírus, para minimizar os riscos de disseminação da infecção para indivíduos suscetíveis; implementação de ações de redução de danos para usuários de drogas injetáveis; identificação e testagem sorológica para indivíduos em risco elevado de aquisição e disseminação desse vírus na população em geral e cumprimento das práticas de controle de infecção em hospitais, laboratórios, consultórios dentários e serviços de hemodiálise (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2005; HERCK, 2008). As medidas secundárias têm por objetivo interromper a progressão da doença em uma pessoa já infectada, reduzindo a morbimortalidade por esse agravo (CDC, 2006; HERCK, 2008), e incluem o tratamento dos indivíduos infectados, respeitando as possibilidades e os benefícios da terapia antiviral, com acompanhamento clínico-laboratorial periódico; abstinência ou diminuição do consumo de álcool, e não exposição a outras substâncias hepatotóxicas. No Brasil, a triagem sorológica para anti-HCV nos bancos de sangue é regulamentada por meio da Portaria nº 1376, de 19 de novembro de 1993, (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 1993) e, as diretrizes para a implementação das ações da política de redução de danos em usuários de drogas injetáveis pela Portaria nº. 1028 de 4 de julho de 2005 (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2005). 36 1.8. Amostragem de populações de difícil acesso Para intensificar as ações de prevenção primária e secundária é imperativo conhecer a distribuição da infecção pelo HCV na população, e em especial em grupos específicos. Existem parcelas da população que se encontram à margem do institucional, sendo consideradas populações ocultas, cujas necessidades são desconhecidas pelos prestadores de serviços nas instâncias públicas e privadas, tais como: usuários de drogas, homens que fazem sexo com homens, profissionais do sexo, dentre outras (KENDALL et al., 2008; MALEKINEJAD et al., 2008; VOLZ & HECKATHORN, 2008; KRAL et al., 2010; UUSKÜLA et al., 2010). Assim, evidencia-se a necessidade de técnicas amostrais que respeitem as particularidades desses grupos e sejam capazes de fornecer dados de forma fidedigna, ou seja, capazes de traduzir as características da população estudada, para fins de inferências estatísticas e epidemiológicas, com finalidade de implementar ações efetivas para o grupo (JUNIOR, 2008). Como alternativa para alcançar populações de difícil acesso, eliminando os viéses de recrutamentos produzidos por amostras institucionais, alguns métodos de amostragem têm sido desenvolvidos. Até 1997, três métodos dominavam os estudos com essas populações, sendo eles: amostragem em “bola de neve“ (snowball sampling), amostragem por informante chave (key informant sampling) e amostraalvo (targeted sampling-TS) (WATTERS & BIERNACKI, 1989; HECKATHORN, 1997; KRAL et al., 2010). Em 1997, foi proposta uma nova metodologia de amostragem de populações de difícil acesso, denominada de amostragem dirigida pelo entrevistado (Respondent-Driven Sampling - RDS). O processo é similar à amostragem por “bola de neve” por utilizar cadeias de referência para obtenção da amostra. No entanto, ao contrário do segundo, na metodologia RDS, o processo de recrutamento é feito pelos próprios pares e não pelos pesquisadores (HECKATHORN, 1997). Nos últimos anos, vários estudos com populações de difícil acesso, como profissionais do sexo, têm sido realizados, utilizando-se a metodologia RDS (KENDALL et al., 2008; VOLZ & HECKATHORN, 2008; KRAL et al., 2010; UUSKÜLA et al., 2010). No Brasil, o Programa Nacional de DST e Aids (PN-DST/AIDS), em consonância com as recomendações da UNAIDS, formou uma Rede Nacional de Pesquisa RDS (Respondent-driven sampling), com o propósito de realizar uma 37 série de inquéritos com a aplicação desse método em subgrupos populacionais de difícil acesso. No momento, o PN-DST/AIDS está financiando um estudo para estimar as taxas de prevalência de HIV e sífilis e avaliar o conhecimento, atitudes e práticas relacionadas à infecção pelo HIV e outras doenças sexualmente transmissíveis entre usuários de drogas (RDS-UD), homens que fazem sexo com homens (RDS-HSH) e trabalhadoras do sexo (RDS-TS) residentes em 10 municípios brasileiros (Manaus, Recife, Salvador, Campo Grande, Brasília, Curitiba, Itajaí, Santos, Belo Horizonte e Rio de Janeiro) (JÚNIOR, 2008). 1.9. Justificativa do estudo Existem evidências epidemiológicas e moleculares da transmissão sexual do HCV, embora essa forma de disseminação viral seja menos eficiente do que a parenteral (TERRAULT, 2002; CAVALHEIRO, 2004; VILENA, 2006; BESSA et al., 2009; NGUYEN et al., 2010; TOHME & HOLMBERG, 2010). Por outro lado, alguns comportamentos parecem aumentar o risco de aquisição desse agente por via sexual (VILENA, 2006; SCOTT et al, 2010; TOHME & HOLMBERG, 2010). Profissionais do sexo são consideradas uma população em risco aumentado para as IST e, alguns estudos têm mostrado prevalência alta para hepatite C nesse segmento (COHAN et al., 2005; INCIARDI et al., 2006; UUSKÜLA et al., 2008). No entanto, outros apresentam taxas de prevalência próximas a da população em geral (MESQUITA et al., 1997; CAMEJO et al., 2003; BELZA et al., 2004; KWEON et al., 2006). Portanto, mais estudos são necessários para se conhecer a real contribuição das profissionais do sexo na disseminação do HCV. No Brasil, ainda são escassas as informações sobre a prevalência da infecção pelo vírus da hepatite C em mulheres que se prostituem, e não existem estudos sobre a infecção pelo HCV nesse segmento populacional na Região CentroOeste. Ainda, haja vista a grande diversidade sócio-econômica e cultural de nosso País, muitas vezes os achados de uma região podem não refletir a realidade de outra. Portanto, conhecer a distribuição da infecção pelo HCV e comportamentos/fatores de risco para essa infecção em profissionais do sexo em Goiânia, Goiás é de grande interesse para sociedade, profissionais e gestores de saúde. Acreditamos que as informações desse estudo subsidiarão estratégias 38 públicas efetivas de prevenção e controle da hepatite C em profissionais do sexo em Goiânia, considerando as especificidades regionais desse grupo. 39 2. OBJETIVOS 2.1. Objetivo geral Investigar o perfil soroepidemiológico da infecção pelo vírus da hepatite C em profissionais do sexo em Goiânia, Goiás. 2.2. Objetivos específicos Estimar a prevalência dessa infecção em mulheres que se prostituem em Goiânia; Identificar comportamentos/fatores de risco para essa infecção na população estudada. 40 3. MATERIAL E MÉTODOS 3.1. Delineamento do estudo Trata-se de um estudo observacional, de corte transversal. 3.2. População, amostra e local do estudo A população constituiu-se de mulheres profissionais do sexo em Goiânia, Goiás. A amostra foi composta por profissionais do sexo que exerciam atividades laborais em locais públicos (praças, parque, ruas, avenidas, etc.) e/ou privados (casas fechadas, boates, cinemas, casas de espetáculos eróticos, etc.) em Goiânia, Goiás. O período de coleta foi maio de 2009 a junho de 2010. Este estudo faz parte de um estudo maior intitulado “Epidemiologia das infecções pelos vírus da imunodeficiência humana, hepatites B e C em profissionais do sexo em Goiânia, Goiás”. Considerou-se para o cálculo amostral a prevalência de 2,0% para o anti-HIV, estimada para essa população na Região Nordeste (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2004), com poder estatístico de 80% (β=20%) e um nível de significância de 95% (α<0,05). Assim, no mínimo 402 mulheres eram necessárias para o estudo. 3.3. Critérios de inclusão • Ser do sexo feminino; • Ter idade igual ou superior a 18 anos; • Fazer sexo em troca de dinheiro e/ou presentes; • Apresentar o cupom recrutador válido no momento da entrevista; • Se prostituir em Goiânia. 3.4. Critérios de exclusão • Ser transgênero feminino; • Estar sem condições mentais e físicas para responder ao questionário por excesso de droga ou álcool. 41 3.5. Coleta de dados As mulheres profissionais do sexo, devido às características inerentes a profissão, são consideradas grupos de difícil acesso. Diante disso, optamos pela utilização de uma abordagem metodológica baseada na indicação dos participantes pelos pares, denominada de Respondent-Driven Sampling (RDS), ou “Amostragem dirigida pelos participantes”. Trata-se de uma variante da metodologia de chainreferral (cadeia de referência). Foi desenvolvida para amostragem de populações de difícil acesso, que estão conectadas por meio de redes sociais. Essa abordagem tem sido utilizada em estudos internacionais e nacionais para obtenção de amostras probabilísticas de grupos vulneráveis (KENDALL et al., 2008; VOLZ & HECKATHORN, 2008; KRAL et al., 2010; UUSKÜLA et al., 2010). Inicialmente, foram feitos contatos com instituições que atendem de forma direta ou indireta o público-alvo, tais como: Organizações não governamentais (ONG), e Coordenações de DST/HIV/AIDS nas Secretarias Municipal (SMS) e Estadual de Saúde (SES), a fim de mapear os principais pontos de prostituição em Goiânia e estabelecer parcerias. Posteriormente, em colaboração com uma ONG, realizou-se o recrutamento de um pequeno grupo de profissionais do sexo, denominadas de “sementes”, integrantes da população alvo. No momento da abordagem inicial, foi entregue um convite personalizado, conforme apêndice D. À seleção e recrutamento das “sementes” seguiu-se uma pesquisa formativa com as mesmas, realizada entre os meses de maio e junho de 2009. Por meio dessa pesquisa formativa, foi possível avaliar o interesse da população-alvo em participar do estudo e, ainda, identificar os locais de prostituição em Goiânia, as características das condições de trabalho, as mulheres profissionais do sexo chave, os prováveis locais de coleta de dados, a escolha de materiais educativos a serem distribuídos, como também o tipo de ajuda de custo/incentivo (para deslocamento e tempo despendido). Assim, neste período, iniciaram-se a seleção não-aleatória e o recrutamento de um número pequeno de participantes, designados de sementes, integrantes da população alvo. Definiu-se que cada “semente” receberia três cupons (conforme apêndice E) para recrutar seus pares (outras colegas/amigas/conhecidas de profissão) para o estudo. As participantes que chegassem ao local de estudo com um cupom válido, e 42 que cumprissem os demais critérios de inclusão, eram consideradas elegíveis, formando-se assim, a primeira onda. As mulheres profissionais do sexo recrutadas na primeira onda, ao participar do estudo, também recebiam três cupons para recrutar seus pares, formando a segunda onda. Essa dinâmica ocorreu sucessivas vezes até o alcance da amostra desejada. A metodologia RDS prevê um incentivo/ajuda de custo para cada participante que completa o protocolo do estudo (incentivo primário) e para cada recruta elegível que se alista no estudo (incentivo secundário). No presente estudo, utilizou-se vale transporte, válidos para o transporte urbano em Goiânia e entorno, conforme sugestão das “sementes”. Inicialmente, utilizou-se para as entrevistas e coleta de amostras clínicas o espaço físico do centro de convivência da ONG parceira localizada na região central de Goiânia. No entanto, devido à adesão relativamente baixa das mulheres trabalhadoras do sexo, por motivo de distância, diferenças entre os grupos e sugestão das “sementes”, novos locais para coleta foram criados, próximos aos pontos de prostituição. Para isso, contatou-se comerciantes/industriais locais, indicados pelas sementes, para obtenção de consentimento e então desenvolvimento da coleta em seus estabelecimentos. Esses locais caracterizavam-se pela neutralidade, considerando as diferenças entre os grupos de mulheres que se prostituem no entorno. As coletas ocorreram durante dias úteis da semana, nos horários matutino, vespertino ou noturno, considerando as características do local de prostituição e segurança para equipe. Em cada local, a equipe permanecia, em média, quatro semanas. Para maior integração e acesso a essas mulheres, disponibilizou-se um número de celular para que elas pudessem contatar a equipe para agendar dia e horário para coleta de dados e/ou ainda, obter informações sobre o projeto. Um total de sete sementes foi recrutada. As características dessas mulheres são apresentadas no Quadro 1. 43 Quadro 1. Características das profissionais do sexo recrutadas não aleatoriamente (“sementes”) para o estudo. Semente Setor de prostituição Local de Prostituição Idade Anos de estudos Religião Estado civil 1 2 3 Rodoviário Rodoviário Rodoviário Rua Rua Rua 53 38 50 4 2 7 Separada Solteira Solteira 4 Campinas Casa Fechada 34 13 Separada R$ 150,00 5 Nª Srª de Lourdes 28 11 Solteira R$200,00 6 7 Vila Santa Central Casa de Espetáculos Eróticos Rua Cinema Católica Protestante Sem religião Sem religião Católica Renda no último dia de trabalho R$ 20,00 R$ 40,00 R$ 175,00 37 34 12 6 Protestante Protestante Separada Solteira R$ 150,00 R$ 70,00 O recrutamento das participantes ocorria por meio dos cupons, que continham os dados do projeto, tais como: local de coleta e número de telefone para contato livre de custo (ligações a cobrar). As participantes se dirigiam aos locais de coleta, ou ligavam para a equipe, a fim de agendar data e horário. A equipe de coleta de dados foi composta por um supervisor, quatro entrevistadores, dois aconselhadores, um coletador de sangue e um administrador dos cupons. No local da coleta, as profissionais do sexo elegíveis apresentavam o cupom para o supervisor, responsável pela recepção das participantes, que avaliava a elegibilidade da profissional do sexo para o estudo, e certificava a validade do cupom. Todas as participantes elegíveis foram esclarecidas quanto à finalidade e aplicabilidade do estudo, com posterior disponibilização do termo de consentimento livre e esclarecido (TCLE) pelo entrevistador, conforme apêndice A. A entrevista foi realizada por meio de um instrumento de coleta de dados padronizado, baseado no módulo “mulheres trabalhadoras do sexo” do “Family Health International Behavioral Surveillance Surveys” (FAMILY HEALTH INTERNATIONAL, 2000), contendo questões sobre dados sóciodemográficos e fatores de risco para a infecção pelo HCV (Apêndice B). O questionário foi aplicado por membros (alunos de pós-graduação e/ou de iniciação científica), devidamente capacitados, do núcleo de Estudos em Epidemiologia e Cuidados em Agravos Infecciosos, com ênfase em hepatites virais (NECAIH) da Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal de Goiás. Posteriormente, o questionário era revisado por uma mestranda, para 44 avaliação prévia da qualidade dos dados obtidos e identificação de lacunas/missing no preenchimento. A seguir, a participante era encaminhada para coleta de 10 ml de sangue, por meio de punção venosa periférica, utilizando seringas e agulhas descartáveis. As amostras obtidas foram colocadas em tubos de ensaio identificados com as iniciais do nome e o número de identificação da participante (ID). Os tubos foram armazenados em caixas de isopor e transportados para o Laboratório de Virologia do Instituto de Patologia Tropical e Saúde Pública da Universidade Federal de Goiás (IPTSP/UFG), onde as amostras sanguíneas obtidas foram centrifugadas, e os soros separados em duas alíquotas e congelados à - 20 ºC até a realização dos ensaios. Após a participação nas etapas de entrevista e coleta de espécimes clínicas, a recrutada era conduzida a outro membro da equipe, responsável pela distribuição e controle dos cupons, quando então eram fornecidos os três cupons recrutadores e os vales transporte. Ainda, por meio do Programa de Extensão “SEMPRE VIVA” do NECAIH/FEN/UFG, era realizada a vacinação contra hepatite B, tétano, febre amarela, sarampo e rubéola (dupla viral) das participantes sem história e/ou comprovação vacinal; atividades de educação em saúde, enfocando as doenças de transmissão sexual e medidas higiênico-sanitárias, com distribuição de preservativos e folders ilustrativos sobre prevenção e controle de DST/HIV/AIDS e hepatites virais disponibilizados pela Secretaria Municipal de Saúde de Goiânia e Secretaria da Saúde do Estado de Goiás. 3.6. Medidas de biossegurança As coletas de amostras clínicas e vacinação eram realizadas por profissionais enfermeiros devidamente capacitados e paramentados com equipamentos de proteção individual, após a limpeza e desinfecção com álcool a 70% das superfícies destinadas a coleta de espécimes clínicas. Em todos os procedimentos (coleta de amostras sanguíneas e vacinação) foram respeitadas as normas de biossegurança, conforme Resolução da Diretoria Colegiada – RDC nº 306, de 07 de dezembro de 2004 (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2004a). A anti-sepsia das mãos do coletador e vacinador foi realizada com álcool gel a 70%, antes e após cada procedimento. Luvas descartáveis foram utilizadas para cada 45 procedimento. Foram utilizadas seringas esterilizadas e descartáveis, sendo todo o material perfurocortante desprezado em recipiente próprio (caixa de papelão com paredes rígidas). Os demais materiais foram descartados em sacos brancos leitosos. Esses materiais eram desprezados no lixo hospitalar do Hospital das Clínicas da UFG. 3.7. Variáveis no estudo • Variáveis relativas à rede social: 9 “Quantas mulheres trabalhadoras do sexo você conhece?” 9 “Quantas mulheres trabalhadoras do sexo você conhece, que te conhecem pelo nome ou apelido e que você viu nos últimos 30 dias em Goiânia?” 9 “Considerando todas as mulheres trabalhadoras do sexo que você conhece, quantas têm menos de 18 anos?” 9 “Como você descreveria a pessoa que te deu este cupom? Amigo, parente, conhecido ou estranho?” • Sócio-demográficas: idade, naturalidade, raça, estado civil, renda, escolaridade, tempo de profissão, religião e local de residência. • Características laborais: histórico de prostituição em outros municípios, horário de trabalho, outra fonte de renda, quanto recebeu no último dia de trabalho e tipo de local de prostituição, sendo que, como local de prostituição haviam 6 categorias, sendo elas: 9 Rua – Vias públicas onde as mulheres permanecem aguardando os clientes; 9 Casa fechada – Estabelecimentos privados sem identificação visual (sem fachadas) que possuem MPS contratadas ou em livre demanda; 9 Boate – Estabelecimentos de entretenimento noturno e privado que possuem MPS contratadas ou em livre demanda, que oferecem ao público show de striptease e/ou apresentações de sexo ao vivo; 9 Bar – Estabelecimentos comerciais onde existam venda ao público em geral de bebidas alcoólicas, no qual mulheres recrutam seus clientes nos períodos diurno e/ou noturno; 9 Casa de espetáculos eróticos – Estabelecimento fechado com atividade diurna e noturna, com custo para entrada, em que possuem MPS contratadas 46 ou em livre demanda que recebem clientes em bares na própria unidade e realizam shows eróticos; 9 Cinema erótico – Estabelecimentos privados com custo para entrada, voltado ao público em geral com apresentações de filmes eróticos, shows de striptease e/ou apresentações de sexo ao vivo. • Fatores de risco sexual: tempo de prostituição, idade que recebeu dinheiro pela primeira vez por sexo, número de cliente por dia, uso de preservativos durante as relações sexuais com clientes e/ou parceiros estáveis, história pregressa de IST (presença de ferida e/ou corrimento em órgãos genitais), e número de setores onde se prostitui. • Fatores de risco não sexuais: história de transfusão sanguínea, uso de tatuagem e/ou body piercing, uso de drogas lícitas e ilícitas (injetáveis e não injetáveis). 3.8. Testes laboratoriais • Detecção do marcador anti-HCV Todas as 402 amostras foram testadas para detecção de anti-HCV pelo ensaio imunoenzimático (ELISA), empregando-se reagentes comerciais (Hepanostika HCV Ultra, Biomedical-China). As amostras de soro das mulheres profissionais do sexo juntamente com os três controles positivos e um negativo foram colocados em placas previamente sensibilizadas com os peptídeos recombinantes correspondentes às regiões core, NS3, NS4 e NS5 do HCV, para detecção de anticorpos anti-HCV. Após 60 minutos de incubação a 37º C, a placa foi lavada com o tampão fosfato por seis vezes. Em seguida, foi adicionado o conjugado (anti-imunoglobulina humana marcada com peroxidase) e nova incubação realizada por mais 30 minutos a 37ºC. Após segunda lavagem, procedeu-se a adição do substrato da enzima (peróxido de hidrogênio) e da solução cromógena (tetrametilbenzina – TMB), incubando-se por 30 minutos a temperatura ambiente. A seguir, a reação foi interrompida pela adição de ácido sulfúrico a 1N e a leitura espectofotométrica realizada em leitora de microplaca com uso de filtro simples (450 nm). O valor do cut-off foi obtido segundo o cálculo: 0,27 x CPx, sendo que, “CPx” é o valor médio das absorbâncias dos controles positivos. Assim, foram 47 consideradas amostras reativas, aquelas que apresentaram absorbância maior ou igual ao valor do cut-off. Todas as amostras anti-HCV positivas foram testadas por immunoblot (Bioblot HCV, Biokit). Os controles positivos e negativos e as amostras foram incubados individualmente junto com as tiras de nitrocelulose do kit, impregnadas com as proteínas recombinantes do HCV (core, NS3, NS4 e NS5). Após a incubação e a lavagem das tiras, adicionou-se o conjugado (anticorpo anti-imunoglobulina humana associado à fosfatase alcalina). Após outro processo de incubação e lavagem, foi adicionado o substrato (bromo-cloro-indol-fosfato e nitroazul de tetrazolio/BICP) que, após mais 15 minutos de incubação, foi aspirado. As tiras foram lavadas com água destilada e colocadas sobre papel absorvente para análise. Os resultados foram analisados visualmente, comparando-se a intensidade da cor das bandas correspondentes aos diferentes antígenos com as linhas controles (+1 a +3) e ao número de bandas reagentes, sendo considerado positivo (reatividade com dois ou mais antígenos do HCV), indeterminado (reatividade com um único antígeno) ou negativo (ausência de reatividade). 3.9. Processamento e análise dos dados Os dados das entrevistas e os resultados dos testes sorológicos foram digitados em microcomputador em programas estatísticos, sendo eles: “Epiinfo 6,0”, desenvolvido pelo “Centers for Disease Control and Prevention” e o pacote estatístico Statistical Package for the Social Sciences (SPSS) versão 15.0 for Windows. Posteriormente, procedeu-se a verificação da consistência e a confiabilidade dos dados, bem como a limpeza do banco. A seguir, os dados foram transferidos para o programa estatístico Respondent-Driven Sampling Analysis Tool (RDSAT) versão 5.6 (VOLZ & HECKATHORN, 2008), onde foram analisados por estatística descritiva. Esse programa ajusta as prevalências, segundo os padrões de recrutamento e tamanho da rede em relação aos outros recrutas, levando em consideração a homofilia e o alcance do equilíbrio das variáveis. Freqüências ajustadas foram calculadas com intervalo de confiança de 95%. 48 O software ArcView GIS 3.2 foi usado para identificação e referenciamento dos pontos de prostituição primários, por meio de coordenadas espaciais. O desenho das cadeias de recutamento formadas pelas profissionais do sexo foi obtido por meio do aplicativo Netdraw versão 2.04. 3.10. Considerações éticas Este estudo, em observância ao disposto na Resolução nº 196/96, do Conselho Nacional de Saúde (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 1996), foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Goiás, sob o protocolo CEPMHA/HC/UFG Nº 001/09. Foi garantida a confidencialidade das origens das informações e dos resultados laboratoriais. Todas as mulheres receberam aconselhamento pré e pósteste por profissional capacitado, as mulheres com sorologia positiva para o HCV foram encaminhadas para o Centro de Referência em Diagnóstico e Terapêutica em DST/Aids do Município de Goiânia, Goiás, conforme pactuação prévia. Ainda, todas receberam orientações por escrito sobre prevenção da hepatite C e infecções sexualmente transmissíveis (apêndice C). Os resultados dos testes sorológicos foram entregues, pessoalmente, com contra-apresentação da carteira de identidade ou outro documento oficial. Todas as mulheres foram contatadas por telefone, e agendado data e horário para devolução dos exames. Para tanto, foram utilizados locais privativos nos estabelecimentos comerciais colaboradores, ou as instalações do NECAIH, na Faculdade de Enfermagem/UFG. A devolução do resultado da sorologia não foi possível, até o momento, para aproximadamente 54,5% das profissionais do sexo recrutadas, seja por falta de interesse (conseguimos contatá-las por telefone, agendamos a entrega, mas elas não compareceram ao local combinado), perda de contato (forneceram contato telefônico incorreto, ou trocaram/desligaram/desativaram o número do aparelho fornecido), mudança para outra cidade/estado ou mesmo mudança de local de prostituição na capital, sem aviso aos membros da equipe. Para essas, os resultados dos testes sorológicos estão disponíveis para serem entregues por meio de pré-agendamento nas dependências do NECAIH/FEN/UFG. Para tanto, elas poderão utilizar, além do número de telefone que receberam via cupom e TCLE, o 49 número do telefone do NECAIH que disponibilizamos nos estabelecimentos comerciais colaboradores. 3.11. Financiamento Este projeto é financiado pelo CNPq: MCT/CNPq/SPM-PR/MDA nº 57/2008. A realização desse estudo contou com o apoio financeiro da FAPEG prestado a mestranda por meio da chamada pública nº 02/2010 - Concessão de Bolsas de Formação – Fortalecimento de Políticas Públicas. 50 4. RESULTADOS 4.1. Características sócio-demográficas das mulheres profissionais do sexo Para análise dos dados, a metodologia RDS recomenda a exclusão das “sementes”, haja vista que elas foram recrutadas intencionalmente pelos pesquisadores. Assim, foram analisados dados de 395 mulheres. A Tabela 1 mostra as características sócio-demográficas das 395 mulheres profissionais do sexo recrutadas. A amostra constituiu-se, predominantemente, de profissionais do sexo com idade igual ou inferior a 30 anos (70,1%), com mediana de 27,5 anos (DP: + 9,1 anos). Em relação à escolaridade, a metade das mulheres possuía até nove anos de estudo (mediana = 9; DP: + 2,9 anos). Aproximadamente dois terços referiram ser solteiras (67,1%) e se auto-declararam de cor parda (59,5%). Ainda, observou-se predomínio de mulheres cristãs, sendo a religião católica a mais frequente (59,9%). A maioria referiu ser responsável pelo sustento de outros membros da família (69,9%). 51 Tabela 1. Características sócio-demográficas de 395 mulheres profissionais do sexo em Goiânia-Goiás, 2009-2010 RDS Estimativa ajustada (%)* IC 95%** Idade (anos) < 21 21 a 25 26 a 30 31 a 40 > 40 13,6 31,2 25,3 18,3 11,6 9,1 – 19,5 24,1 – 39,8 18,4 – 32,8 12,2 – 22,9 5,7 – 18,7 58/395 106/395 95/395 87/395 49/395 Escolaridade (anos) ≤4 5a9 10 a 12 > 12 9,7 40,6 47,3 2,3 6,3 – 15,1 32,2 – 47,3 40,4 – 56,9 0,4 – 2,4 40/395 163/395 181/395 11/395 Estado Civil Casada Solteira Separada Viúva 15,7 67,1 14,4 2,9 10,6 – 21,7 60,2 – 75,2 7,8 – 20,1 0,6 – 6,3 64/395 270/395 53/395 8/395 Cor Branca Negra Parda Outra 27,3 12,5 59,5 0,7 20,5 – 35,4 8,3 – 17,5 51,4 – 66,8 0,1 – 0,9 97/395 57/395 234/395 7/395 Religião Sem religião Católica Evangélica Espírita Outra 17,2 59,9 18,8 4,0 0,1 10,8 – 21,1 53,4 – 68,0 13,7 – 25,2 1,4 – 7,5 0,1 – 0,5 76/395 207/395 92/395 19/395 1/395 Sustenta alguém Não Sim 30,1 69,9 23,2 – 38,5 61,5 – 76,8 97/395 298/395 Variável n/N * Estimativa ajustada pelo RDSat; ** Intervalo de confiança A Figura 6 apresenta a distribuição dos locais primários de prostituição das profissionais do sexo participantes do estudo. Pode-se observar, por meio da distribuição das coordenadas espaciais no mapa do município de Goiânia, que houve predomínio de mulheres que se prostituíam nas regiões sul e central do município de Goiânia. 52 Figura 6. Distribuição espacial dos pontos primários de prostituição de 395 profissionais do sexo estudadas em Goiânia-Goiás, 2009-2010. 4.2. Características laborais Conforme apresentado na Tabela 2, foram recrutadas mulheres residentes predominantemente em Goiânia (75,4%). Entretanto, a maioria referiu ter exercido atividade profissional em outras cidades (62,4%). Quase a totalidade das profissionais do sexo se prostituía em ruas da cidade (25%), boates (41%) e bares (27,7%). Casa de espetáculos eróticos, casa fechada e cinema foram referidos por 5,5%, 5,3% e 3,8% das participantes, respectivamente. Praticamente um terço das mulheres (31,8%) referiu trabalhar em ambos os períodos (diurno e noturno). Quando interrogadas quanto à ocupação, 94,3% afirmaram que já exerceram outras atividades para obtenção de renda. Em relação ao ganho no 53 último dia de trabalho esse variou de R$ 15,00 a R$ 1500,00, sendo que a maioria recebeu, no mínimo, R$ 199,00 no último dia de trabalho. Tabela 2. Aspectos laborais de 395 mulheres profissionais do sexo em GoiâniaGoiás, 2009-2010 Variável RDS Estimativa ajustada (%)* IC 95%** n/N Local de Residência Goiânia Outros 75,4 24,6 68,2 – 81,9 18,1 – 31,8 291/395 104/395 Trabalhou como profissional do sexo em outra cidade Não Sim 37,6 62,4 30,8 – 45,5 54,5 – 69,2 185/395 210/395 Tipo de local que prostituiçãoa Rua Boate Bar Casa de Espetáculo Erótico Cinema Casa Fechada 25,0 41,0 27,7 5,5 3,8 5,3 10,1 – 43,2 28,4 – 53,7 15,4 – 41,8 0,2 – 17,1 0,4 – 11,6 0,9 – 9,4 126/451 123/451 100/451 40/451 39/451 23/451 Horário de trabalho Diurno Noturno Diurno e Noturno 26,9 41,3 31,8 16,6 – 35,1 30,9 – 55,6 23,1 – 40,3 137/395 111/395 147/395 Já teve outra fonte de renda Não Sim 5,7 94,3 2,7 – 9,7 90,3 – 97,3 23/395 372/395 Quanto recebeu no último dia de trabalho (R$)b 15 - 50 51 – 99 100 – 199 200 – 1500 16,8 13,1 28,7 41,4 11,7 – 22,9 8,5 – 18,8 21,1 – 35,1 32,8 – 50,8 75/392 63/392 104/392 150/392 * Estimativa ajustada pelo RDSat; ** Intervalo de confiança; Quantitativo de mulheres que responderam. a Considerado mais de um local de prostituição; b 54 4.3. Características de risco não sexuais A Tabela 3 mostra a análise descritiva dos comportamentos de risco não sexuais para aquisição e disseminação da infecção pelo HCV em mulheres profissionais do sexo em Goiânia. Verificou-se que 85,2% das mulheres afirmaram consumir bebida alcoólica, sendo que 34,7% afirmaram ingerir diariamente. O uso de droga ilícita foi referido por 34,1% das mulheres, sendo cocaína, a droga mais consumida (12,9%). O uso de drogas injetáveis nos últimos 12 meses foi raro, sendo relatado por apenas duas profissionais do sexo. Uso de tatuagem e body piercing foi referido por 58,3%. Tabela 3. Análise descritiva dos comportamentos de risco não sexuais entre mulheres profissionais do sexo em Goiânia-Goiás, 2009-2010 Variável RDS Estimativa ajustada (%)* IC, 95%** n/N Frequência de ingestão de bebida alcóolica nas últimas 4 semanas Não bebeu Bebeu todos os dias Bebeu pelo menos 3 vezes na semana Bebeu menos de 1 vez ao mês 14,8 34,7 40,2 10,3 9,6 – 20,6 26,8 – 42,3 32,2 – 48,0 6,4 – 16,3 71/395 144/395 131/395 49/395 Já usou algum tipo de droga ilícita Nunca Maconha Cocaína Maconha e Cocaína Outra 65,9 7,6 12,9 9,3 4,3 58,9 – 73,8 4,6 – 11,3 7,5 – 17,4 5,4 – 14,1 1,7 – 7,8 237/395 37/395 61/395 42/395 18/395 Uso de drogas ilícitas injetáveis nos últimos 12 meses Não Sim 97,3 2,7 - 72/74 2/74 Uso de Tatuagem e/ou body piercing Não Sim 41,7 58,3 34,1 - 50,9 49,1 - 65,9 154/395 241/395 * Estimativa ajustada pelo RDSat; ** Intervalo de confiança 55 4.4. Características de risco sexuais Do total de mulheres, 53,5% iniciaram atividade sexual entre 15 e 17 anos de idade, e 87% ingressaram na profissão com idade igual ou superior a 18 anos. Quanto ao total de parceiros sexuais nos últimos sete dias antes da coleta de dados, 51,9% referiram sete ou mais parceiros. A utilização de preservativos foi divergente, considerando o tipo de parceiro. Nas relações com parceiros fixos (não pagantes), a freqüência de uso do preservativo na última relação sexual foi de apenas 63,7%. Já com clientes alcançou 87,1%. Corrimento vaginal e feridas/úlceras genitais, nos últimos 12 meses, foi relatado por 49,0% e 8,6% das profissionais do sexo, respectivamente. Dentre as que referiram algum sintoma sugestivo de IST, 106 responderam sobre assistência médica, revelando que quase 60% buscaram assistência especializada (Tabela 4). 56 Tabela 4. Análise descritiva dos comportamentos de risco sexuais entre mulheres profissionais do sexo em Goiânia-Goiás, 2009-2010 RDS Estimativa ajustada (%)* Variável IC, 95%** n/N 28,5 53,5 18,0 21,6 – 35,8 45,3 – 61,1 12,3 – 24,9 124/390 197/390 69/390 12,4 87,6 8,3 – 16,6 83,4 – 91,7 68/395 327/395 Número de parceiros nos últimos sete dias de trabalho >7 ≤7 51,9 48,1 44,4 – 62 38,0 – 55,6 181/392 211/392 Frequência do uso do preservativo com clientes nos últimos 30 dias Sempre Quase sempre Algumas vezes Nunca 87,1 7,2 5,6 0,1 80,7 – 92,3 3,2 – 12,5 2,1 – 10,1 0,1 – 0,3 355/388 21/388 11/388 1/388 Usou preservativo na última relação com parceiros não pagantes Não Sim 36,3 63,7 28,6 – 44,9 55,1 – 71,4 117/386 269/386 Corrimento vaginal nos últimos 12 meses Não Sim 51,0 49,0 43,5 – 59,0 41,0 – 56,5 200/395 195/395 Ferida ou úlcera na genitália nos últimos 12 meses Não Sim 91,4 8,6 87,2 – 94,8 5,2 – 12,8 356/395 39/395 Procurou tratamento em unidades de saúde Não Sim 41,7 58,3 24,8 – 54,0 46,0 – 75,2 37/106 69/106 Idade da primeira relação sexual (anos) 7 a 14 15 a 17 18 a 30 Idade que recebeu dinheiro primeira vez por sexo (anos) < 18 ≥ 18 * Estimativa ajustada pelo RDSat; ** Intervalo de confiança; pela 57 4.5. Prevalência do marcador anti-HCV na população estudada Das 395 mulheres profissionais do sexo investigadas, quatro foram reagentes pelo ELISA e confirmadas pelo immunoblot, resultando numa estimativa ajustada de 0,7% (IC 95%: 0,1-1,5) para anti-HCV (Tabela 5). Tabela 5. Prevalência da infecção pelo vírus da hepatite C entre 395 mulheres profissionais do sexo em Goiânia-Goiás, 2009-2010 RDS Variável Estimativa ajustada (%)* IC 95%** n/N 99,3 0,7 98,5 - 99,9 0,1 - 1,5 391/395 4/395 Anti-HCVa Negativo Positivo * Estimativa ajustada pelo RDSat ** Intervalo de confiança a Amostras testadas por Elisa e Imunnoblot 4.6. Cadeia de recrutamento A figura 7 mostra as cadeias formadas a partir do recrutamento das sete sementes. Como pode se evidenciado, cada círculo representa uma mulher pertencente à amostra. Os círculos maiores representam as sementes e as setas indicam o sentido do recrutamento. Por se tratar de um recrutamento aleatório, ou seja, cada participante pode recrutar até três pessoas, houve variações significativas no tamanho de cada cadeia. O número de ondas em cada grupo de sementes, também, consideravelmente. Houve positividade para anti-HCV em duas cadeias de recrutamento. variou 58 Figura 7. Representação gráfica das sete cadeias de recrutamento de mulheres profissionais do sexo em Goiânia-Goiás, 2009 a 2010 4.7. Características das quatro mulheres profissionais do sexo sororeagentes para anti-HCV Dentre as profissionais do sexo com marcadores para a infecção pelo vírus da hepatite C (Tabela 6), observou-se que todas se prostituíam no setor rodoviário, predominantemente em ruas, tinham idade superior a 31 anos, baixa escolaridade e 3/4 referiram ser solteiras. Houve relato de iniciação sexual na adolescência e consumo de álcool por todas as mulheres positivas. Ainda, apenas uma negou uso de drogas ilícitas. História de transfusão foi referida por uma das soropositivas, sendo que a hemotransfusão precedeu o ano de 1994 (dado não apresentado na tabela). O número de parceiros na última semana variou de quatro a 32, incluindo os clientes e parceiros estáveis. Sinais e sintomas de IST foram reportados por apenas uma das mulheres sororeagentes. 59 Tabela 6. Descrição das características sócio-demográficas e os principais comportamentos de risco das quatro mulheres profissionais do sexo anti-HCV positivas em Goiânia/Goiás, 2009-2010 Características Setor de Prostituição ID-52 Rodoviário ID-33 Rodoviário ID-42 Rodoviário ID-74 Rodoviário Local de Prostituição Rua Rua Rua Bar Idade 44 45 31 36 Escolaridade 4 8 5 10 Estado Civil Solteira Solteira Casada Solteira Sim Sim Sim Sim Nunca Cocaína Cocaína Não Não Sim Maconha e Cocaína Não Sexarca 17 18 14 16 Nº de parceiros nos últimos 7 dias 4 32 19 18 Sim Não Não Não Consumo de Bebida Alcoólica Uso de drogas ilícitas História de Transfusão sanguínea Sinais e Sintomas de IST 5. DISCUSSÃO Este foi o primeiro estudo realizado na Região Centro-Oeste do Brasil sobre a infecção pelo HCV em profissionais do sexo. Também, do nosso conhecimento, essa é a primeira vez que se aplica a metodologia RDS em investigações com populações de difícil acesso em Goiás. Por meio dessa metodologia, fomos capazes de alcançar mulheres que se prostituem em cenários diversificados, e de diferentes condições sociais. A amostra final constitui-se de sete redes de profissionais do sexo com características heterogêneas, tanto quanto as práticas de risco, quanto as condições sócio-econômicas, que acreditamos refletir as características da população estudada em nosso município. Neste estudo, a maioria das profissionais do sexo era solteira e possuía idade igual ou inferior a 30 anos. O mesmo tem sido verificado em outros estudos com esse grupo, bem como em outras regiões do Brasil e do mundo (MESQUITA et al., 1997; BELZA et al., 2004; INCIARDI et al., 2006; AQUINO et al., 2008; CORREA 60 et al., 2008). Esses achados sugerem que as mulheres profissionais do sexo, em plena fase produtiva economicamente, recorrem à prostituição como forma de sanar limitações sócio-econômicas, principalmente financeiras, buscando melhores rendimentos e ascensão social (TORRES et al., 1999). Cerca de 70% das entrevistadas referiram que os recursos advindos da prostituição são usados para o próprio sustento e de terceiros, sugerindo a responsabilidade delas com sustento de suas famílias. Outros autores têm encontrado resultados semelhantes (TORRES et al., 1999; BOTELHO, 2003; SILVA et al., 2010). A maioria (94,3%) das mulheres referiu que já exerceu outras profissões, tanto no mercado formal, como no informal, para obtenção de renda, sendo que o trabalho doméstico foi o mais referido pelas participantes (37,6%; IC 95%: 29,6 45,7) (dados não apresentados). Considerando que a renda no último dia de trabalho variou entre R$ 15,00 e R$ 1500,00, e que segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), um percentual expressivo de trabalhadoras domésticas tinham um rendimento médio mensal na ordem de R$ 395,20 no ano de 2009 (IBGE, 2010); os ganhos obtidos com atividades de prostituição são, para muitas das mulheres investigadas, mais lucrativos e oferecem maiores possibilidades de acesso aos bens de consumo, tanto para ela quanto para seus dependentes, quando comparados com o que elas conseguiriam no mercado de trabalho formal. Conforme dados do presente estudo, 47,3% das mulheres que se prostituem na capital possuem escolaridade entre 10 e 12 anos, com mediana de nove anos de estudos, sendo esta estimativa superior a encontrada num estudo multicêntrico conduzido em capitais do Sul, Sudeste e Nordeste do Brasil. Nesse, aproximadamente 66,5% das profissionais do sexo possuíam ensino fundamental incompleto e 8,9% nunca estudaram (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2004). No entanto, a mediana de tempo de estudo foi semelhante à média nacional de escolaridade para a população feminina na área urbana (9,2 anos de estudos) (IBGE, 2009). Estudos conduzidos com mulheres profissionais do sexo em países em desenvolvimento demonstram baixo nível de escolaridade, sendo que em três cidades Afegãs, educação formal foi referida por apenas 23% das entrevistadas (TODD et al., 2010). Na Espanha, caracterizada pelo alto fluxo sexual migratório, observou-se baixo nível de escolaridade em mulheres que se prostituem em Madri, e 61 isso tem sido associada à elevada incidência de doenças transmissíveis (BELZA et al., 2004). Interessantemente, na Venezuela, verificou-se que profissionais do sexo imigrantes possuíam nível de escolaridade mais elevado, quando comparadas com as não imigrantes (BAUTISTA et al., 2009). Embora a prostituição seja vista como uma atividade condenada pela religião, a maioria das mulheres estudadas referiu ser cristã, sendo o cristianismo católico predominante (59,9%). Esse dado reflete a predominância do catolicismo na população brasileira (IBGE, 2000). A constatação de que quase dois terço das participantes exerciam ou tinham relato prévio de exercício laboral em outras cidades confirma a alta mobilidade geográfica dessas profissionais (BELZA et al., 2004; PASSOS & FIGUEIREDO, 2004; PANDO et al., 2006; AQUINO et al., 2008; BAUTISTA et al., 2009). A migração para outras cidades, estados ou países, normalmente é motivada pela situação de pobreza, desemprego, estigmas sociais e instabilidade econômica dessas mulheres. Ainda, funciona como mecanismo de anonimato de sua atuação profissional para o núcleo familiar e para a sociedade (PASSOS & FIGUEIREDO, 2004; AQUINO et al., 2008). Do ponto de vista sanitário, a elevada mobilidade geográfica dessas mulheres representa um obstáculo para implementação e manutenção de programas específicos de prevenção e controle de agravos transmissíveis, além de funcionar como mecanismo potencializador de introdução e reintrodução de agentes infecciosos em áreas indenes. A prostituição é uma atividade ubíqua, mas que varia enormemente em suas formas e contextos sociais. Existe uma ampla variedade de espaços que podem concentrar ou albergar a “indústria do sexo”, sendo esta, uma variável capaz de facilitar as situações de maior ou menor risco à aquisição de agravos infecciosos, incluindo a hepatite C (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2004; HARCOURT & DONOVAN, 2005). Variações quanto aos locais de trabalho podem ser evidenciadas, principalmente no que se refere à saúde e a segurança pessoal da profissional, condicionando uma série de circunstâncias que podem influenciar na exposição a situações de maior risco, e isso contribui para a diversificação nas formas de organização da atividade. Dentre os diversos espaços usados para o exercício da prostituição, destacam-se as ruas e outros espaços públicos (HARCOURT & DONOVAN, 2005). 62 Diferentemente de estudos realizados em mulheres profissionais do sexo na Argentina, Estados Unidos e em três regiões brasileiras distintas, nos quais se observou a maior freqüência de mulheres que se prostituíam nas ruas (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2004; INCIARDI et al., 2006; PANDO et al., 2006; BAUTISTA et al., 2009), o presente estudo mostrou, após o ajuste das variáveis, o predomínio de mulheres que trabalhavam em boates (41%). Um estudo realizado em Goiânia, em 2008, aponta para uma tendência da prática do turismo sexual em prostíbulos fechados na Região Centro-Oeste (LIMA & SILVA, 2008), o que certamente corrobora com os achados do nosso estudo. De fato, Goiânia tem sido considerada um grande centro de prostituição e de turismo sexual (LIMA & SILVA, 2008), e atualmente é conhecida nacionalmente como centro de prostituição, carregando também o rótulo de cidade onde a prostituição infanto-juvenil mais avança (MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS, 2008). Dentre as modalidades de espaços que albergam as prestadoras de serviços sexuais em Goiânia, destacam-se as casas de shows, boates de luxo, como também as ruas, que concentram o baixo meretrício nas áreas periféricas urbanas. Ainda, segundo Lima & Silva (2008), existe uma tendência de ampliação da rede de prestação de serviços ao turismo sexual na capital, que pode ser evidenciado por um acréscimo de cerca de 300% no número de casas de show na cidade entre 2002 e 2008. Interessante, que das sete “sementes” recrutadas, quatro se prostituíam em ruas, mas a nossa amostra final foi composta predominantemente por mulheres que recrutam seus clientes em boates. Estudos têm revelado que a prostituição exercida nas ruas representa maior autonomia das profissionais, com flexibilidade de horários e possibilidade de conciliação com outras atividades remuneradas, embora, negativamente, esteja associada à menor remuneração, maior exposição à violência e hostilidade da população geral (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2004; HARCOURT & DONOVAN, 2005). A prostituição em boates, por sua vez, está diretamente relacionada a melhores condições de segurança, maior anonimato e menor autonomia, representado pela exigência de freqüência, cumprimento de horários, obrigatoriedade de consumo de bebidas alcoólicas, dentre outras (AGHA & NCHIMA, 2004; HARCOURT & DONOVAN, 2005). Em relação às características que aumentam o risco de aquisição da infecção pelo vírus da hepatite C, sabe-se que atualmente o uso de drogas ilícitas 63 injetáveis representa a principal via de disseminação dessa infecção (SHAPATAVA et al., 2006; SULTAN et al., 2009; TE & JENSEN, 2010). Recentemente, um estudo realizado em duas capitais do Centro-Oeste (Goiânia e Campo Grande) mostrou que usuários de drogas injetáveis possuíam chance quase 12 vezes maior de infecção pelo HCV quando comparados aos usuários de drogas não injetáveis (LOPES et al., 2009). É comum observar o binômio droga ilícita-prostituição no relato de mulheres que comercializam o próprio corpo (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2004; PASSOS & FIGUEIREDO, 2004; COHAN et al., 2005; INCIARDI et al., 2006; PANDO et al., 2006; BAUTISTA et al., 2009; HONG & LI, 2009; TODD et al., 2010). Estudos apontam que as profissionais do sexo consideram o uso de substâncias psicoativas um aspecto fundamental para o seu trabalho (NUNES & ANDRADE, 2009). A atividade sexual remunerada e o uso de drogas constituem um ciclo que se retroalimenta, uma vez que as drogas possibilitam a entrega do corpo como mercadoria, isentando a profissional de emitir conceitos de valor, reflexões a cerca da situação vivenciada, além de amortecer as preocupações. E a prostituição, por sua vez, possibilita a obtenção de recurso para custear a aquisição das drogas. Neste estudo, o uso de drogas ilícitas, foi relatado por 34,1% das mulheres, mas somente duas referiram o uso de drogas injetáveis nos últimos 12 meses. No Brasil, a prevalência de mulheres profissionais do sexo usuárias de drogas injetáveis tem variado de 0,5% na Região Sudeste a 2,8% na Região Sul (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2004). Estudos internacionais mostraram taxas variando de 1,2% na Argentina (PANDO et al., 2006) a 19,7% nos Estados Unidos (COHAN et al., 2005) Em relação ao tipo de droga ilícita consumida, nossos resultados corroboram com outros estudos que têm mostrado um maior consumo de maconha e cocaína, usadas de forma isolada ou combinada, por mulheres profissionais do sexo (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2004; COHAN et al., 2005; INCIARDI et al., 2006; CORREA et al., 2008; MACÍAS et al., 2008; BAUTISTA et al., 2009). Ainda, o consumo dessas duas drogas parece comum em usuários de drogas ilícitas de nosso País. Dados do Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas (CEBRID) apontam que 22,8% da população brasileira de 108 cidades, com mais de 200.000 habitantes, já usaram drogas ilícitas, sendo que a maconha (8,8%) e a cocaína (2,9%) aparecem entre as mais consumidas em todas as regiões (CEBRID, 2005). 64 O uso de bebida alcoólica nas últimas quatro semanas foi relatado por 85,2% das mulheres entrevistadas, sendo que 40,2% ingeriram pelo menos três vezes por semana. Nesse grupo populacional, o consumo elevado de bebidas alcoólicas parece ser uma constante em diferentes partes do mundo (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2004; COHAN et al., 2005; PASSOS & FIGUEIREDO, 2004; INCIARDI et al., 2006; CORREA et al., 2008; HONG & LI, 2008; BAUTISTA et al., 2009; TODD et al., 2010). Os fatores que parecem contribuir para esse comportamento incluem a necessidade de induzir o cliente a consumir bebidas alcoólicas, por sugestão dos proprietários dos estabelecimentos que praticam o lenocínio e comercializam bebidas alcoólicas (PASSOS & FIGUEIREDO, 2004; CORREA et al., 2008), e a busca de um efeito desinibidor, anti-estressante, prazeroso e de satisfação pessoal (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2004; PASSOS & FIGUEIREDO, 2004). Entretanto, à ação psicoativa do álcool, ao produzir alterações no Sistema Nervoso Central, modifica o comportamento de quem usa, e tem sido associado a dificuldade/limitações na adesão ao uso de preservativo em profissionais do sexo alcoolizadas, acarretando elevação na prevalência de doenças de transmissão sexual, dentre outras (PASSOS & FIGUEIREDO, 2004; CHIAO et al., 2006). Ainda, bebidas alcoólicas constituem um dos diversos fatores metabólicos implicados na evolução para esteatose hepática, e estudos têm demonstrado que o abuso de álcool pode estar associado com aumento dos títulos de RNA-HCV em pacientes previamente infectados, consequentemente elevando o risco de desenvolvimento de câncer hepático (BHATTACHARYA & SHUHART, 2003; ZHANG et al., 2003; BOFFETTA et al., 2006; MARCELLIN et al., 2008; RIBES et al., 2008). Uma vez que 34,1% e 85,2% das mulheres referiram uso de drogas ilícitas e álcool, respectivamente, que esses comportamentos podem favorecer a práticas sexuais inseguras (MESQUITA et al., 1997; COHAN et al., 2005; MÁCIAS et al., 2008; SCOTT-SHELDON et al., 2009; SAGGURTI et al., 2010) e que a transição das vias de administração de drogas ilícitas não é um evento raro entre os usuários (LOPES, 2009), programas de prevenção do uso de drogas psicoativas devem ser considerados para as profissionais do sexo de nossa região. Presença de tatuagem e body piercing foi observada em 58,3% das mulheres estudadas, e está em consonância com achados de outros autores (VALDIVIA et al., 2003; MONSALVE-CASTILHO et al., 2007). Estudos têm mostrado 65 uma estreita associação entre esses adornos e comportamentos de risco (OLIVEIRA et al., 2006). Ainda, existe um potencial de risco de transmissão de infecções veiculadas pelo sangue, como a hepatite C, quando há falhas nas medidas de biossegurança na confecção/aplicação desses adornos (BAIR et al., 2005; VILLENA, 2006; JAFARI et al., 2010; MYO KHIN et al., 2010). A média idade de início da vida sexual nas mulheres profissionais do sexo investigadas foi de 15,5 anos (DP: + 2,3 anos – dado não mostrado), não diferindo daquela encontrada em mulheres em geral (PAIVA et al., 2008; PASCOM et al., 2010; ARAÚJO & COSTA, 2009; MARINHO et al., 2009). De fato, um estudo realizado em 468 adolescentes em Goiânia mostrou que 60% tiveram a primeira relação sexual com idade igual ou inferior a 15 anos (VIEIRA et al., 2004). Em Goiânia, a exploração sexual infantil tem sido causa de grande preocupação para as autoridades locais (MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS, 2008). No entanto, a maioria (87,6%) das mulheres de nosso estudo relatou início das atividades de prostituição aos 18 anos ou mais. Assim, considerando o caráter ilegal dessa atividade em menores, esse resultado deve ser considerado com reservas. O número de clientes por semana, relatado por praticamente a metade das participantes desse estudo, foi de sete parceiros ou mais, incluindo os parceiros pagantes ou não. A quantidade de parceiros sexuais por semana ultrapassa a média de um parceiro nos últimos três meses, considerado como variável associada ao risco de IST (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2006). Ainda, estudos revelam que o risco de aquisição da infecção pelo HCV é aumentado em pessoas com múltiplos parceiros sexuais (TOHME & HOLMBERG, 2010). Um estudo conduzido em mulheres gestantes na Espanha mostrou que aquelas que praticavam relação sexual desprotegida com dois ou mais parceiros apresentavam cerca de três vezes (OR: 2,8) mais chance de adquirir a infecção pelo HCV quando comparadas com as mulheres que relataram apenas um parceiro (SALLERAS et al., 1997). Embora a maioria (87,1%) das mulheres referisse o uso de preservativos com os clientes nos últimos 30 dias, uma parcela significativa (36,3%) deixou de usá-los com parceiros não pagantes, evidenciando a vulnerabilidade dessas mulheres para a aquisição de doenças de transmissão sexual. Sabe-se que a utilização de preservativos, como fator de proteção para a infecção pelo HCV é desconhecida (VILENA, 2006), porém, seu uso torna-se imperativo como 66 mecanismo na prevenção de IST/HIV, e assim, corrobora com a diminuição desse agravo; já que existe um risco maior de aquisição da hepatite C em mulheres coinfectadas com o vírus da imunodeficiência humana (HIV) ou outras IST (TOHME & HOLMBERG, 2010). Além disso, existem evidências que a transmissão sexual do HCV pode ser potencializada por fatores, como lesões traumáticas na mucosa genital e/ou anal durante o ato sexual (VILENA, 2006; SCOTT et al, 2010; TOHME & HOLMBERG, 2010). Estimou-se que a prevalência da infecção pelo vírus da hepatite C em mulheres profissionais do sexo em Goiânia foi de 0,7% (IC 95%: 0,1-1,5), sendo, portanto, semelhante à encontrada em doadores de sangue em nossa região (1,4%; IC 95%: 1,0-2,0) (MARTINS et al., 1994). Considerando a população de profissionais do sexo, a prevalência encontrada neste estudo foi inferior à identificada em Santos, São Paulo (10,7%), (MESQUITA et al., 1997), como também em 2712 mulheres das Regiões Sul, Sudeste e Nordeste do Brasil (4,5%) (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2004). Investigações conduzidas na Espanha (0,9%, IC 95%: 0,34–2,30) (BELZA et al., 2004) e Iran (2,7%, IC95%: 0,7–3,4) (JAHANI et al., 2005), mostraram frequências semelhantes a do presente estudo. Por outro lado, em profissionais do sexo na Argentina (5,5%, IC95%: 3,6–8,1 e 4,3%, 2,9–6,4) (BAUTISTA et al., 2009), Estados Unidos (13% IC 95%: 8,0–18,0) (COHAN et al., 2005) e República do Congo (6,6%, IC 95%: 5,2–8,2) (LAURENT et al., 2001) observaram taxas de prevalências superiores a encontrada em nossa região. Este estudo apresentou algumas limitações. Embora a metodologia preconize a realização da coleta de dados em um espaço único, acessível a todo o grupo, as “sementes” nos sugeriram que as coletas fossem realizadas em locais próximos aos pontos de prostituição, e isso pode ter favorecido o recrutamento de algumas mulheres. Entretanto, salientamos que foram utilizados locais neutros, por meio de parcerias com proprietários de estabelecimentos comerciais locais. Ainda, por se tratar de comportamentos condenados pela sociedade, as frequências das variáveis relacionadas a comportamento sexual e uso de drogas podem estar subestimadas. A frequência relativamente baixa de exposição ao HCV observada em profissionais do sexo em Goiânia pode ser justificada pela baixa freqüência de uso de drogas injetáveis, e elevada prevalência de uso de preservativos com clientes. No entanto, deve-se considerar o potencial dessas mulheres em adquirir hepatite C, 67 haja vista a freqüência elevada de comportamentos de risco, como uso de drogas psicoativas, relatos de sinais sugestivos de IST, uso inconsistentes de preservativos com parceiros fixos e número elevado de parceiros sexuais. Portanto, investimentos públicos devem ser feitos nessa importante parcela da população, no sentido de promover ações de promoção da saúde e prevenção de doenças, visando despertar nessas mulheres a percepção de risco, e por meio de educação em saúde, orientálas para adoção de métodos seguros de prevenção de doenças. 68 6. CONCLUSÕES • A prevalência de 0,7% (IC 95%: 0,1 - 1,5) para anti-HCV em profissionais do sexo em Goiânia foi semelhante à encontrada em doadores de sangue (1,4%; IC 95%: 1,0-2,0) de nossa região; • A freqüência elevada de comportamentos/fatores de risco identificados nas profissionais de sexo em Goiânia evidencia o potencial dessas mulheres de adquirirem hepatite C. Programas de prevenção e promoção da saúde são necessários para essa população que vive a margem dos serviços públicos de saúde, e que considerem suas especificidades e necessidades regionais. 69 7. REFERÊNCIAS Agha S, Nchima NC. Life circumstances, working conditions and HIV risk among street and nightclub-based sex workers in Lusaka, Zambia. Culture, Health and Sexuality. 2004;(6):283–99. Alavian SM, Rahnavardi M, Hosseini Moghaddam SM. Hepatitis C among Hemodialysis Patients: A Review on Epidemiologic, Diagnostic, and Therapeutic Features. Hepatitis Monthly. 2007;7(3):153-62. 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Sexually transmitted infections among female sex workers in Tunisia: high prevalence of Chlamydia trachomatis. Sex Transm Infect. 2010;86(7):500-5. 86 Apêndice A – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido SERVIÇO PÚBLICO FEDERAL MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E DO DESPORTO UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS Faculdade de Enfermagem Rua 227, Quadra 68, s/nº, S. Leste Universitário, CEP74605-080, Goiânia-Goiás TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO Prezada Senhora, Você está sendo convidada a participar, como voluntária, de uma pesquisa sobre “Epidemiologia das infecções pelo HIV, HTLV, HBV e HCV em profissionais do sexo em Goiânia, Goiás”. Este documento irá lhe fornecer informações importantes sobre o estudo. Por favor, leia as instruções abaixo atentamente e, em caso de dúvidas, esclareça-as junto à equipe, para decidir se participa ou não do estudo. No caso de participar do mesmo, assine ao final deste documento. Caso não queira participar, você não será penalizado de forma alguma. Se após os esclarecimentos, você ainda tiver dúvidas, por favor, contate os pesquisadores listados abaixo. PESQUISADORES RESPONSÁVEIS PROFA. DRA. SHEILA ARAUJO TELES TELEFONE PARA CONTATO: (62) 3209-6280 PROF. MARCOS ANDRÉ DE MATOS TELEFONE PARA CONTATO: (62) 3209-6184 OBJETIVO DO ESTUDO: Estudar a distribuição das infecções pelos vírus da imunodeficiência humana e das hepatites B e C, bem como os fatores que contribuem para essas infecções e a resposta a vacina contra hepatite em mulheres profissionais do sexo em Goiânia, Goiás. CONDUÇÃO DO ESTUDO: Se vocês concordarem em participar do estudo, As entrevistas, coleta de sangue e vacinação contra hepatite B serão realizadas em um local, o mais privativo possível, próximo à área onde você trabalha como: igreja, Unidade de Saúde e Escola. Todas as mulheres serão orientadas sobre a importância, objetivos, ausência de risco e benefícios da participação no estudo, assim como a liberdade de sair do estudo a qualquer momento. Aquelas que desejaram participar do estudo serão encaminhadas para o local da coleta de dados, quando então será oferecido o termo de consentimento livre e esclarecido (TCLE) para leitura e assinatura. Após leitura e assinatura do TCLE, será realizada uma entrevista sobre dados sócio-demográficos e fatores de risco para hepatite B, hepatite C, HIV/Aids e HTLV. Após a entrevista, e antes da coleta de sangue, será realizado o aconselhamento sobre essas infecções. RISCOS: Esta investigação não oferece riscos aos participantes. Todo material utilizado para punção venosa e vacinação contra hepatite B será estéril e descartável. Os profissionais responsáveis pela coleta e vacinação utilizarão técnica asséptica para realização dos procedimentos. O material utilizado será descartado em recipiente apropriado, para posterior coleta pública de material hospitalar. A vacina contra hepatite B (Butang) será a mesma utilizada pelo Programa Nacional de Imunização. BENEFÍCIOS: Mulheres em situação de risco social, como as profissionais do sexo, são mais vulneráveis à aquisição da infecção pelo HIV, HBV e HCV, e enfrentam barreiras sociais para o acesso aos serviços básicos de saúde. Dessa forma, os benefícios diretos para as participantes desse estudo será o conhecimento de sua situação sorológica em relação a essas infecções, com conseqüente encaminhamento para Rede Publica de Atendimento. Outro benefício direto será a administração da vacina contra hepatite B e avaliação da resposta vacinal. Já os benefícios indiretos serão os conhecimentos obtidos pela pesquisa que permitirão o planejamento de estratégias que tratem os “desiguais” de forma “desigual”, contemplando, assim, suas especificidades, e garantindo a universalidade do atendimento, conforme o II Plano Nacional de Políticas para as Mulheres. 87 CONFIDENCIABILIDADE E PERÍODO DE PARTICIPAÇÃO: A sua participação neste estudo se dará apenas no momento da coleta de dados e vacinação contra hepatite B. Se você concordar em participar, as informações obtidas relacionadas a você serão registradas em formulários próprios. Os dados e resultados serão armazenados e analisados por computador na forma de códigos, sendo que os seus dados pessoais serão mantidos em segredo o tempo todo. Portanto, o seu nome não constará nos formulários ou em qualquer outro registro ou publicação. Ainda, você tem liberdade de retirar o consentimento a qualquer tempo. ASSINATURA DO PESQUISADOR: _______________________________________________________________________________ Este projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa Médica Humana e Animal do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Goiás (CEPMHA/HC/UFG). Assim, se você tiver ainda dúvidas e desejar alguma informação adicional sobre aspectos bioéticos referentes ao presente projeto, por favor, entre em contato com o CEPMHA, no seguinte endereço e telefones: Hospital das Clínicas da UFG 1ª Avenida, s/n - Setor Leste Universitário - 74.605-020 Tel: (62) 3269-8338 e 3269-8426 CONSENTIMENTO DA PARTICIPAÇÃO DA PESSOA COMO SUJEITO Eu,__________________________________________,RG/CPF/___________________________ abaixo assinado, concordo em participar do estudo “Epidemiologia das infecções pelos Vírus da Imunodeficiência Humana, e das Hepatites B e C em profissionais do sexo em Goiânia, Goiás”. Fui devidamente informada e esclarecida pelos pesquisadores Profa. Dra. Sheila Araújo Teles e Prof. Ms. Marcos André de Matos sobre a pesquisa, os procedimentos nela envolvidos, assim como os possíveis riscos e benefícios decorrentes de minha participação. Foi-me garantido que posso retirar meu consentimento a qualquer momento, sem que isto leve a qualquer penalidade ou interrupção de meu acompanhamento/ assistência/tratamento. Local e data:___________ Nome e Assinatura do sujeito ou responsável: __________________________________________________ Assinatura Dactiloscópica: Presenciamos a solicitação de consentimento, esclarecimentos sobre a pesquisa e aceite do sujeito em participar: Nome:___________________________________________________________ Assinatura:_____________ Nome:___________________________________________________________ Assinatura: ____________ 88 Apêndice B – Instrumento de Coleta de Dados 89 90 91 92 Apêndice C – Carta de agradecimento e orientações UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS NUCLAIDS/FACULDADE DE ENFERMAGEM Goiânia, ___ de _________de ____. Cara amiga, Obrigada por sua participação em nosso projeto. Realizamos os testes laboratoriais e estamos lhe devolvendo os resultados. Sua participação contribuiu significativamente para conhecermos um pouco mais sobre as infecções pelos vírus da imunodeficiência humana e das hepatites B e C e, assim, propormos políticas públicas de saúde para as mulheres de nossa região. Parabéns! Os resultados de seus exames foram todos negativos! Isto significa que você não é portadora do vírus da aids, da hepatite B e nem do vírus da hepatite C. Entretanto, para manter-se livre destas doenças, lembre-se: “A melhor maneira de evitar a aids, hepatite B e hepatite C é por meio da PREVENÇÃO!” - Tenha SEMPRE relações sexuais com camisinha. - Evite o contato com sangue de outras pessoas. - Não compartilhe com colegas ou familiares: agulha, escova de dente e outros materiais de uso pessoal como “prestobarba”, “alicate de unha” e etc. - Vacine-se contra hepatite B. Se agora você desejar se vacinar contra hepatite B, aproveite a oportunidade que estamos oferecendo e vacine-se conosco! Estamos a sua disposição para futuros esclarecimentos, Um grande abraço, EQUIPE DO PROJETO PARA CONTATO: Núcleo de Ações interdisciplinares em DST/HIV/aids (Nuclaids) da Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal de Goiás Tel: (062) 99344675; 3209-6280 Rua 227, quadra 68, S/Nº S. Leste Universitário, CEP 74605-080, Goiânia-Goiás 93 UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS NUCLAIDS/FACULDADE DE ENFERMAGEM Goiânia, ___ de _________de ____. Cara amiga, Obrigada por sua participação em nosso projeto. Realizamos os testes laboratoriais e estamos lhe devolvendo os resultados. Sua participação contribuiu significativamente para conhecermos um pouco mais sobre as infecções pelos vírus da imunodeficiência humana e das hepatites B e C e, assim, propormos políticas públicas de saúde para as mulheres de nossa região. Os resultados dos seus exames revelaram que você não é portador do vírus da aids e da hepatite B. No entanto, constatamos que você já teve contato com o vírus da hepatite C. Assim, te aconselhamos procurar uma Unidade de Saúde para avaliação médica. Ainda, sempre é bom lembrar que a “melhor maneira de evitar a aids, hepatite B e hepatite C é por meio da prevenção!” - Tenha SEMPRE relações sexuais com camisinha. - Evite o contato com sangue de outras pessoas. - Não compartilhe com colegas ou familiares: agulha, escova de dente e outros materiais de uso pessoal como “prestobarba”, “alicate de unha” e etc. - Se você ainda não foi vacinada contra hepatite B, aproveite a oportunidade que estamos oferecendo e vacine-se conosco. Estamos a sua disposição para futuros esclarecimentos, Um grande abraço, EQUIPE DO PROJETO PARA CONTATO: Núcleo de Ações interdisciplinares em DST/HIV/aids (Nuclaids) da Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal de Goiás Tel: (062) 99344675; 3209-6280 Rua 227, quadra 68, S/Nº S. Leste Universitário, CEP 74605-080, Goiânia-Goiás 94 APÊNDICE D – Convite personalizado para seleção das sementes 95 APÊNDICE E – Cupons recrutadores FRENTE: VERSO: 96 ANEXO A