ic2009-0031 - estudo citogenético da população de leporinus

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PIBIC-UFU, CNPq & FAPEMIG
Universidade Federal de Uberlândia
Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação
DIRETORIA DE PESQUISA
ESTUDO CITOGENÉTICO DA POPULAÇÃO DE Leporinus friderici do RIO
ARAGUARI
¹Naiara Ribeiro Vieira
Instituto de Genética e Bioquímica; Universidade Federal de Uberlândia; Av: Amazonas,Uberlândia CEP:38400-902;
[email protected]
²Sandra Morelli
Instituto de Genética e Bioquímica; Universidade Federal de Uberlândia; Av: Amazonas,Uberlândia CEP:38400-902;
[email protected]
Resumo: Considerando a grande distribuição na maioria das bacias hidrográficas da América do
Sul, a espécie Leporinus friderici é alvo da pescaria comercial e de subsistência, possui um grande
potencial para criação, tornando-se economicamente interessante no Brasil. Devido ao alto grau
de diversificação e a origem evolutiva antiga, os peixes são um dos melhores grupos para estudos
citogenéticos, genéticos e evolutivos. A análise citogenética da espécie Leporinus friderici pode ser
uma poderosa ferramenta para entender a filogenia dentro e entre os gêneros dos anastomídeos. A
caracterização cariotípica das espécies possibilita a comparação de dados entre os diferentes
grupos, auxiliando, assim, a compreensão das relações de parentesco e de processos evolutivos
ocorrido nos cariótipos. O objetivo deste trabalho foi analisar a constituição cariotípica dos
indivíduos da espécie Leporinus friderici coletados no Rio Araguari, na cidade de Uberlândia
(MG). Para a realização do presente estudo utilizou-se das seguintes técnicas: suspensão celular
com coloração Giemsa convencional, que demonstrou que a população apresenta número diplóide
igual a 54 cromossomos e variações cariotípicas quanto ao número de cromossomos metacêntricos
e submetacêntricos; Banda C que revelou grandes blocos heterocromáticos no primeiro par de
cromossomos metacêntricos e também foram encontradas duas marcações cromossômicas
distintas: bandas biteloméricas e pericentroméricas; e por fim a impregnação do material por
nitrato de Prata evidenciou que as regiões organizadoras do nucléolo encontram-se nas regiões
teloméricas ou intersticiais no primeiro par de cromossomos metacêntricos.
Palavras-chave Leporinus friderici; cariótipo; Banda C; Nitrato de prata; NORs.
1. INTRODUÇÃO
1.1 Aspectos Gerais da Citogenética de Peixes
Os peixes representam a maior classe de vertebrados. Das aproximadamente 50000 espécies
conhecidas de vertebrados viventes, em torno de 900 são peixes cartilaginosos e 25000 são ósseos.
Desse total, provavelmente, cerca de 5000 espécies pertencem à fauna de peixes de água doce da
América do Sul (Bockmann, 2005), a mais rica e diversificada ictiofauna continental do planeta
(Carvalho et al., 1998).
Os peixes da fauna neotropical derivam de um grupo básico, representado principalmente
por duas ordens dominantes: Characiformes e Siluriformes. Apesar disso, essa ictiofauna é muito
rica, e no Brasil, apenas na região Amazônica, são encontradas de 2500 a 3000 espécies (Galetti
Junior, 1998), em sua grande maioria, pertencentes à ordem Characiformes (Nakatany et al., 2001).
A ordem Characiformes, é composta por nove famílias sendo que, destas, sete ocorrem na região
neotropical (Nelson, 1984).
1- Acadêmico do curso Ciências Biológicas; 2 – Orientador
Entre as famílias de Characiformes, Anostomidae é considerada como uma das mais
abundantes famílias de peixes neotropicais (Vari, 1983), encontrando-se bem distribuída na região
(Géry, 1977 apud Martins et al., 2003). Ela é composta por cerca de 12 gêneros (Greenwood et al.,
1966 apud Koehler et al., 1997), dos quais, dez são endêmicos da América do Sul, com
representantes em todas as bacias hidrográficas brasileiras (Géry, 1977 apud Albrecht; Caramaschi,
2003).
As maiorias dos seus gêneros são monotípicos, entretanto, Leporinus possui mais de 70
espécies (Vari, 1983), caracterizando-se, dessa maneira, como o mais diversificado da família
(Martins et al., 2003). Esses animais se distribuem desde a América Central até a América do Sul, e
várias espécies, como L. macrocephalus, L. obtusidens e L. elongatus, representam um importante
recurso pesqueiro para muitas comunidades sul-americanas (Martins et al., 2003).
Entretanto, de todas as espécies do gênero Leporinus, L. friderici parece ser a espécie mais
amplamente distribuída, ocorrendo em quase todas as principais bacias hidrográficas da América do
Sul. Esta espécie é explorada na pescaria comercial e de subsistência ao longo de toda a região em
que é encontrada. Além disso, ela é de grande interesse no Brasil devido ao seu potencial para
criação, atividade econômica que se encontra em franca expansão no país (Albrecht; Caramaschi,
2003).
Leporinus friderici é uma espécie onívora (Albrecht; Caramaschi, 2003), mas, apresenta
uma tendência para a herbivoria, alimentando-se de resquícios de plantas, frutas, sementes, e algas
filamentosas (Albrecht; Caramaschi, 2003). Em uma pesquisa realizada no alto rio Tocantins antes
e após seu represamento pela Hidroelétrica Serra da Mesa, a composição da dieta dessa espécie
variou de acordo com a região e o tipo de ambiente. Esses resultados demonstraram que Leporinus
friderici tem um comportamento claramente oportunista, mudando sua dieta rapidamente para
aproveitar a abundância de determinados itens alimentares. Esta versatilidade quanto à estratégia de
forragemento, pode ser a explicação para o amplo campo de distribuição dessa espécie (Albrecht;
Caramaschi, 2003), uma vez que, animais generalistas têm mais chances de conquistar novos
ambientes em relação aos animais especialistas (Lowe-Mcconnel, 1987).
1.2 Caracterização da área de estudo
Segundo Baccaro et al. (2004) o rio Araguari possui 475 km de extensão, nasce no Parque
Nacional da Serra da Canastra, no município de São Roque de Minas, e é um dos principais
tributários do rio Paranaíba, o qual forma junto com o rio Grande, a bacia do rio Paraná. Esta bacia
é a décima em descarga no mundo e a quarta em área de drenagem (Agostinho et al., 1999).
Aproximadamente 70% do fornecimento da energia hidroelétrica brasileira é produzida pelo poder
das usinas instaladas na parte superior da bacia do Rio Paraná, com mais de 130 represas com altura
superior a 10 m construídas nesta região (COMASE, 1994).
Esta região tem sido ocupada desde a metade do século XIX, mas somente nas quatro
últimas décadas do século XX a vegetação natural foi modificada pela agricultura e pela pastagem
de animais domésticos, acelerando a transformação da paisagem.
A bacia hidrográfica do Rio Araguari localiza-se na mesorregião do Triângulo/Alto
Paranaíba, na porção oeste do Estado de Minas Gerais, entre as coordenadas geográficas de 18º 20’
e 20º 10’ de latitude Sul e 46º 00’ e 48º 50' de longitude Oeste de Greenwich, ocupando uma área
de 20.186 km², que abrange parte de 20 municípios. (Brito; Rosa, 2003).
Na região mais elevada do Rio Araguari encontra-se o reservatório da represa de Miranda,
uma região caracterizada por um clima tropical, com um período de seca ocorrendo de abril a
setembro e uma estação chuvosa de outubro a março, com 1700 mm/ano de precipitação (Nimer,
1989). O reservatório apresenta uma profundidade máxima de 80 m e uma área de superfície de
aproximadamente 50,6 km2.
1.3 Estudos citogenéticos em Anastomidae
2
Os peixes foram os primeiros vertebrados a surgirem na Terra e constituíram a base da
evolução dos anfíbios, répteis, aves e mamíferos, ocupando assim uma posição central na evolução
desses animais (Toledo-Filho et al 1978). De acordo com essa posição, eles constituem um dos
grupos mais favoráveis para estudos genéticos, citogenéticos e evolutivos, os quais têm crescido
bastante ao longo do tempo.
A região neotropical apresenta a ictiofauna de água doce mais rica e diversificada de todo o
mundo. As duas ordens mais representativas em número de espécies conhecidas nesta região são os
Characifromes e os Siluriformes, vulgarmente conhecidos como peixes de escama e de couro,
respectivamente (Nelson, 1994). Nos últimos anos, a citogenética de peixes vem acumulando dados
que permitem estabelecer tendências evolutivas entre as diferentes famílias destas ordens.
A variabilidade no número cromossômico no grupo dos peixes é grande, com o número
diplóide variando entre 12 a 250 cromossomos (Kirpichnikov, 1981 apud Feldberg, 1990). Além da
variabilidade quanto ao número diplóde, também é observada grande diversificação quanto à
distribuição de heterocromatina constitutiva, morfologia cromossômica, tamanho e quantidade das
regiões organizadoras de nucléolos, e presença ou ausência de cromossomos supranumerários
(Araujo, 2003). Estas variações são encontradas não só entre grupos taxonômicos básicos, mas
também dentro de ordens, famílias, gêneros ou mesmo espécies (Oliveira et al., 1988).
Ao contrário da maioria dos grupos de Characiformes, a família Anostomidae apresenta uma
estrutura cariotípica bem conservada (Martins; Galetti Junior, 1998). Analogamente às famílias
Parodontidae, Curimatidae e Prochilodontidae, a estrutura geral do cariótipo da família
Anostomidae consiste em um número diplóide de 54 cromossomos, meta e submetacêntricos, o que
parece ser bastante estável e altamente conservado na evolução desses animais (Koehler et al.,
1997). Outra característica bem conservada nessas famílias é a quantidade de NORs que
apresentam, pois todas possuem NOR simples (Galetti Junior et al., 1984; Moreira-Filho et al.,
1984; Venere; Galetti Junior, 1989; Pauls; Bertollo, 1990; Feldberg et al., 1992).
Entretanto, apesar da grande estabilidade cariotípica da família Anostomidae, já foram
descritas, em várias espécies de Leporinus, o seu gênero mais amplamente estudado (Martins;
Galetti Junior, 1998), variações quanto à localização de NORs (Galetti Junior et al., 1984, 1991b;
Koehler et al., 1997), padrões de heterocromatina (Galetti Junior. et al., 1991a, b; Koehler et al.,
1997; Artoni et al., 1999), e tipos de cromossomos sexuais (Galetti Junior et al., 1981; Koehler et
al., 1997; Venere et al., 2004). Além disso, embora o número de NORs (apenas 1 par) pareça estar
bem conservado dentro desse gênero (Koehler et al., 1997), já foram descritas duas ocorrências de
NORs múltiplas em Leporinus friderici (Galetti Junior et al., 1991a; Galetti Junior et al., 1995).
Os indivíduos desta espécie apresentam uma estrutura cariotípica bem conservada, de 54
cromossomos meta ou submetacêntricos, em plena concordância com o padrão observado na
família (Koehler et al., 1997). Também, assim como os demais anostomídeos, geralmente,
apresentam apenas um par de cromossomos corado pelo nitrato de Prata (Galetti Junior et al., 1984;
Koehler et al., 1997), salvo as duas exceções já mencionadas. Sistemas de cromossomos sexuais
diferenciados não foram encontrados nesta espécie (Koehler et al., 1997), entretanto, há relatos de
ocorrência de cromosomos supranumerários acrocêntricos, e completamente heterocromáticos
(Venere et al., 1999).
A ictiocitogenética, assim, fornece subsídios para elucidar problemas evolutivos, se
mostrando uma importante ferramenta na caracterização das mais diversas espécies de peixes, se
tornando ainda mais forte quando associada às outras áreas de estudo, como por exemplo, a
sistemática, apresentando valioso papel na identificação de espécies crípticas e taxonomicamente
problemáticas (Garcia; Moreira Filho, 2005).
Por meio de técnicas de bandeamento, é possível compreender melhor as alterações
cromossômicas que se estabelecem em cada cariótipo, possibilitando também a observação
detalhada das transformações que ocorrem em grupos de espécies próximas com cariótipos muito
semelhantes (Guerra, 1988).
O estudo da heterocromatina é importante devido à sua universalidade, sua diversidade, em
relação às diferenças em termos de composição de bases de DNA e sua variabilidade. Guerra (op.
3
cit.), ainda ressalta que em algumas espécies o padrão de bandas C pode servir como um parâmetro
que facilita a identificação e caracterização de certos cromossomos.
A localização das Regiões Organizadoras de Nucléolos (NORs) fornece significativas
informações sobre o cariótipo das espécies, contribui para o conhecimento da estrutura
cromossômica, fornece informações sobre atividade gênica dessas regiões, além de ser importante
marcador citotaxonômico.
A maior aplicabilidade da citogenética de peixes, sem dúvida alguma, se refere aos estudos
evolutivos, mas, ocorrem inúmeras associações desses estudos, com a taxonomia. A citotaxonomia
tem constituído um dos objetivos da citogenética de peixes neotropicais, principalmente em grupos
taxonomicamente problemáticos, podendo ser uma excelente ferramenta para ser utilizada em
associação com dados de morfologia, biogeografia, comportamento e genética molecular, para se
chegar mais próximo a uma real história evolutiva dos organismos. Nas últimas décadas a
citogenética teve um impulso significativo no seu espectro de atuação.
Assim, a citogenética mostra-se uma ciência dinâmica que se adapta às necessidades e às
novas tecnologias, mantendo-se sempre como uma área em destaque na genética. Especialmente em
peixes, nos quais são vários os problemas já levantados, juntamente com outros que surgem a todo o
momento, há muito ainda a ser investigado no campo dos cromossomos.
2. OBJETIVOS
O objetivo deste projeto é analisar a constituição cariotípica dos indivíduos da espécie
Leporinus friderici (piau três pintas) coletados no rio Araguari (bacia do Alto Paraná), na cidade de
Uberlândia (MG), utilizando as seguintes técnicas: de suspensão celular para obtenção de
cromossomos mitóticos com coloração Giemsa convencional, para caracterizar o cariótipo da
espécie; Banda C, para detectar as diferentes regiões de heterocromatina constitutiva; e a
impregnação por nitrato de Prata, para identificar a Regiões Organizadoras de Nucléolos (NORs),
quanto ao seu número, localização e os diferentes cromossomos portadores destas regiões.
3. MATERIAL E MÉTODOS
3.1 Material
As espécies foram coletadas na represa de Miranda, no rio Araguari (18º47’1.36’’S /
48º11’57.76’’O), próximo à cidade de Uberlândia, MG. A captura das espécies se realizou através
de pesca comum, sendo utilizado equipamento do tipo médio/pesado, montado com chumbo para
manter a isca no fundo, utilizando-se de linhas de 17, 20 e 25 lb, e os anzóis variando do número 4
ao 8.
Foram coletados 7 exemplares de Leporinus frederici do rio Araguari (6 machos e 1
fêmeas). As espécies foram numeradas de acordo com o livro de registro do Laboratório de
Citogenética da Universidade Federal de Uberlândia e encontram-se depositadas em álcool 70%.
3.2 Métodos
3.2.1 Preparação dos cromossomos mitóticos.
1.
2.
3.
4.
Foi usada a técnica descrita por Bertollo et al. (1978), para estudos de cromossomos de
peixes, com modificações.
Injetar, intraperitonialmente, colchicina a 0,025% na proporção de 1 ml/100g de peso do animal;
Deixar o animal em aquário aerado por aproximadamente uma hora, sacrificando-o em seguida.
Retirar os tecidos desejados;
Lavar o material retirado em uma solução hipotônica de cloreto de potássio (KCl) a 0,075M;
Transferir o material para uma pequena cuba de vidro contendo 8 a 10 mL de solução
4
hipotônica;
5.
Fragmentar o material, com pinças de dissecção, completando este processo com auxílio de uma
seringa hipodérmica desprovida de agulha;
6.
Colocar a suspensão obtida em estufa a 36o C por 20 minutos;
7.
Suspender cuidadosamente o material sedimentado com auxílio de pipeta Pasteur, transferindoo para um tubo de centrífuga. Nesta transferência, os pedaços de tecido não desfeitos devem ser
descartados. Acrescentar 5 a 6 gotas de fixador (álcool metílico e ácido acético 3:1) recém
preparado e suspender novamente o material sedimentado;
8.
Centrifugar durante 10 minutos, entre 500 e 900 rpm, descartando o sobrenadante com auxílio
de pipeta Pasteur;
9.
Adicionar 5 a 6 mL de fixador;
10.
Suspender o sedimento com auxílio de pipeta Pasteur;
11.
Repetir os itens 8 a 10 por duas vezes. Após a última centrifugação e eliminação do
sobrenadante, adicionar 1 a 2 mL de fixador, dependendo da quantidade de material e suspender
bem o sedimento;
12.
Pingar 3 a 4 gotas de suspensão celular, com uma pipeta Pasteur, sobre diferentes regiões de
uma lâmina limpa mantida em água destilada na geladeira, ou sobre uma lâmina seca, aquecida
suavemente (25o a 30o C) em chapa aquecedora, ou ainda sobre uma lâmina mantida em água
destilada entre 65o e 70oC;
13.
Escorrer o excesso de material, inclinando um pouco a lâmina sobre papel de filtro;
14.
Secar diretamente ao ar.
3.2.2 Detecção das NORs pela impregnação com nitrato de Prata (Ag-NORs).
1.
2.
3.
4.
5.
Foi usada a técnica descrita por Howell e Black (1980).
Colocar uma gota de solução de gelatina a 2% acrescida de ácido fórmico, na proporção de uma
parte para 100 de solução e 2 gotas de solução aquosa de nitrato de Prata a 50%, sobre lâmina
preparada para cromossomos mitóticos;
Misturar as duas soluções e cobrir com lamínula;
Transferir para estufa a 70º C. Decorridos alguns minutos (5 a 6), a lâmina adquire uma coloração
amarelada, passando para marrom dourada;
Remover a lamínula com água e lavar bem a lâmina em água deionizada;
Secar e examinar ao microscópio.
3.2.3 Detecção de heterocromatina constitutiva (Banda C)
1.
2.
3.
4.
5.
6.
7.
8.
A técnica, apresentada a seguir, foi descrita por Sumner (1972), com pequenas modificações.
Tratar o material preparado segundo a técnica descrita para cromossomos mitóticos, com HCl
0,2N em temperatura ambiente, por 10 a 15 minutos;
Lavar em água deionizada, à temperatura ambiente e secar ao ar;
Incubar, por 4 a 8 minutos, em solução filtrada recém-preparada de Ba(OH)2.8H2O, a 5%, a 60o C;
Lavar rapidamente em HCl 0,2N e em água deionizada e secar ao ar;
Incubar em solução de 2xSSC, a 60º C, por um período de 30 a 60 minutos;
Lavar em água deionizada e secar ao ar;
Corar com Giemsa, diluído a 2% em tampão fosfato, pH 6,8, por 15 a 20 minutos;
Lavar em água deionizada e secar ao ar.
3.2.4 Montagem do cariótipo
As melhores metáfases foram fotografadas em um microscópio óptico de luz ZEISS® em
campo claro, utilizando a objetiva de imersão. O cariótipo foi montado com auxílio do software
5
Micro Measure versão 3.01 (Reeves; Tear, 1999), sendo a morfologia cromossômica determinada
segundo os critérios propostos por Levan et al., (1964).
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Foram analisados 19 indivíduos de Leporinus friderici . Através da técnica de preparação
dos cromossomos mitóticos foram obtidos dados que mostram um cariótipo constituído por 2n=54
cromossomos (Figura 1e 2) para machos e fêmeas. O citótipo observado foi de 26m + 28sm, com
NF =108.
Figura 1- Cariótipo de um macho de Leporinus frederici do rio Araguari
M
e
t
á
f
a
s
e
s
90
80
70
60
50
40
30
20
10
0
1434
1417
1639
1718
50
51
52
53
54
55
nº de cromossomos
Figura 2 – Gráfico das freqüências para os números diplóides de Leporinus friderici, coletadas no
rio Araguari (os números da legenda referem-se ao número de registro dos animais no Laboratório
de Citogenética da Universidade Federal de Uberlândia).
O padrão simples de NOR é uma característica bastante conservada nessa família (Galetti
Junior et al., 1984; Moreira-Filho et al., 1984; Venere; Galetti Junior, 1989; Pauls; Bertollo, 1990;
Feldberg et al., 1992), as espécies de L. friderici analisadas mantém o padrão simples de NORs, ou
seja, estas se localizam em um único par de cromossomos.
Koehler et al. (1997), afirmam que constrições secundárias nas regiões teloméricas dos
cromossomos do par 2, são particularmente visíveis em L. friderici e L. elongatus, e provavelmente
indicam a posição das regiões organizadoras do nucléolo (NORs), o presente estudo confirma essas
informações. A análise das regiões organizadoras de nucléolo (NOR) evidenciou uma marcação
intersticial (figura 3) e uma telomérica (figura 4) no primeiro par de cromossomos metacêntricos em
metáfases diferentes correspondendo ao segundo par do lote com relação ao tamanho. Esses padrões
de marcação já foram descritos em duas ocorrências de NORs múltiplas em Leporinus friderici
(Galetti Junior et al., 1991; Galetti Junior et al., 1995).
Análises em Leporinus friderici, realizadas por hibridização in situ, nitrato de prata e
coloração por fluorocromos, mostrou variações intra e inter-individuais sugerindo rearranjos pószigóticos nestas regiões (Galetti Jr. et al., 1995 apud Koehler et al., 1997).
A técnica de banda C, no presente estudo, revelou que o lócus do gene ribossomal está
associado aos segmentos heterocromáticos na espécie de L. frederici (Koehler et al., 1997).
6
As marcações de heterocromatina constitutiva evidenciadas pela técnica de banda C estão
presentes na maioria dos cromossomos. Foram observadas marcações biteloméricas e
pericentroméricas, além de um grande bloco heterocromático em um dos cromossomos do primeiro
par de metacêntricos, o que corresponde com a região de constrição secundária marcada pela NOR
(Figura 5).
Analisando a distribuição da heterocromatina constitutiva em outros pares de cromossomos,
pode-se observar que as regiões telomerícas, bem como as centroméricas ossuem banda C positiva
em Leporinus friderici, L. obtusidens and L. elongatus, com algumas diferenças interespecíficas na
intensidade da coloração (Koehler et al., 1997).
Figura 3 – Cariótipo com marcação da NOR intersticial de Leporinus friderici do Rio
Araguari.
Figura 4 – Cariótipo com marcação da NOR telomérica de Leporinus friderici do Rio
Araguari.
Os dados obtidos com o presente estudo apresentam análises de grande importância para o
estudo evolutivo desses vertebrados e mostram informações pouco vistas na literatura. Sendo assim
a análise citogenética da espécie Leporinus friderici é uma poderosa ferramenta para entender a
filogenia dentro e entre os gêneros dos anastomídeos, uma vez que os estudos citogenéticos em
populações de peixes têm contribuído muito para a elucidação dos processos evolutivos das
espécies neotropicais.
Figura 5 – Cariótipo com Banda C de Leporinus friderici do rio Araguari.
7
5. AGRADECIMENTOS
Agradeço a FAPEMIG e UFU que me deram apoio financeiro para realização desse trabalho.
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CYTOGENETIC STUDY OF Leporinus friderici POPULATION FROM
ARAGUARI RIVER, MG
¹Naiara Ribeiro Vieira
Institute of Genetics and Biochemistry, Federal University of Uberlandia; Av: Amazonas,Uberlândia CEP:38400-902;
[email protected]
²Sandra Morelli
Institute of Genetics and Biochemistry, Federal University of Uberlandia; Av: Amazonas,Uberlândia CEP:38400-902;
[email protected]
Abstract: Considering the great distribution in the hydrographic basins of South America, the
species Leporinus friderici is a target of the commercial fishery and of subsistence, it possesses a
great potential for creation, becoming economically interesting in Brazil. Due to the high
diversification degree and the old evolutionary origin, the fish are one of the best groups for
cytogenetic, genetic and evolutionary studies. The cytogenetic analysis of the species Leporinus
friderici can be a powerful tool to understand the phylogeny inside and between the genus of the
anastomideos. The karyotypic characterization of the species makes possible the comparison of data
among the different groups, aiding, then, the understanding of the kinship relationships and of
evolutionary processes happened in the karyotypes. The objective of this study was to analyze the
Leporinus friderici individuals' karyotypic constitution collected in Araguari River, in the city of
Uberlândia (MG). For the accomplishment of the present study were used the following techniques:
cellular suspension with conventional Giemsa coloration, that demonstrated that the population
presents diploid number same to 54 chromosomes and karyotypic variations with relationship to the
number of metacentric and submetacentric chromosomes; Band C that revealed
big
heterochromatic blocks in the first pair's of metacentric chromosomes and there were also found
two distinct chromosomic demarcations: bitelomeric and pericentromeric bands; and finally the
impregnation of the material with silver nitrate evidenced that the nucleolar organizer regions are in
the telometric or intersticials areas, in the first pair of metacentric chromosomes.
Keywords: Leporinus friderici; karyotype; Band C; silver nitrate; NORs
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