O IMPACTO DA INOVAÇÃO NA MÃO DE OBRA: UM

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O IMPACTO DA INOVAÇÃO NA MÃO DE OBRA: UM ESTUDO SOBRE A
CONSTRUÇÃO CIVIL NO MUNICÍPIO DE SÃO PAULO
Guilherme Luchetti Caram
Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP)
Paolo Edoardo Coti-Zelati
Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM)
RESUMO
O setor da construção civil em São Paulo está em constante crescimento. Porém a oferta de
mão de obra no setor é muito menor do que a demanda que as obras necessitam. O que acaba
aumentando muito o custo da pouca mão de obra qualificada do setor. Fazendo com que as
organizações contratem mão de obra com pouca ou nenhuma qualificação. Este trabalho
apresenta três hipóteses para solucionar ou minimizar o problema da escassez de mão de obra
na cidade de São Paulo. O material apresentado foi baseado em dados coletados de livros,
revistas, artigos, monografias e sites da internet. Também foi realizada uma pesquisa com
profissionais da área da construção civil para verificar a opinião deles sobre como enfrentar o
problema de São Paulo com a falta de mão de obra. O estudo concluiu que o problema que
enfrentamos em São Paulo não é a falta de mão de obra e sim que não se tem mão de obra
qualifica o suficiente para realizar os empreendimentos no modelo de processo que utilizamos
hoje em um prazo razoável, e mesmo que treinada a mão de obra continuaria tendo alto custo.
O trabalho concluiu que o melhor caminho para resolver esse problema é imitando o modelo
americano de pré-moldados, sendo necessário menos mão de obra, concluindo os
empreendimentos mais rapidamente e pagando melhores salários, tornando assim o trabalho
em canteiros de obras mais atraentes.
Palavras-chave: Inovação. Construção civil. Mão de obra. Empreendimentos. Processo.
ABSTRACT
The construction industry in São Paulo is constantly growing. However the manpower supply
in this sector is much lower than the demand needed to do the jobs. Therefore, the cost of a
very skilled labor is scarce and end up increasing on this sector. Forcing most of the
organizations to fill positions with people non-qualified or with little qualification. This paper
presents three hypotheses to solve or minimize the problem of the manpower lack in São
Paulo. The material presented was based on data collected from books, magazines, articles,
monographs and websites. A survey of the professional in the construction industry was
carried out to verify their opinion on how to face the problem of São Paulo with the lack of
manpower. The study has concluded that the problem we face in Sao Paulo is not about a
shortage labor, but the lack of enough manpower to carry out the projects in the model we use
today in a reasonable time, and even trained, manpower continues having high costs. The
study has concluded that the best way to solve this problem is imitating the American model
of pre molded, requiring less labor, concluding the projects faster and paying higher wages,
accordingly making the work on construction sites more attractive.
Keywords: Innovation. Building. Manpower. Enterprise. Process.
1. INTRODUÇÃO
Em setembro de 2011 o Brasil registrou a menor taxa de desemprego de sua história
recente: 6% da população. Vivendo dias de prosperidade econômica o Brasil teve um
crescimento da economia muito maior aos recursos disponíveis para mantê-lo. Isso significa
dinheiro demais e gente de menos para trabalhar ou um ambiente no qual qualquer
profissional, qualificado ou não, consegue colocação no mercado.
As empresas gastam mais com recursos humanos e recebem menos em troca. Quase
que um leilão de mão de obra desqualificada. O que afeta diretamente a cidade de São Paulo,
vivendo hoje o “apagão de mão de obra”.
Segundo levantamento feito para a CNI (Confederação Nacional da Indústria) em
2011, 68,4% dos empresários do ramo apontam esse problema como um dos três maiores
entraves da atividade. Esse problema é muito grave, pois afeta a qualidade do produto final e
também o prazo de finalização da obra. Resultando numa obra lenta e sem qualidade
adequada.
De acordo com alguns dados que serão apresentados ao longo desse trabalho, nota-se
que o setor da construção civil está muito defasado no que se refere à inovação organizacional
e tecnológica.
Neste contexto o objetivo deste estudo foi identificar de que forma a inovação
organizacional pode contribuir para combater escassez de mão de obra na área de construção
civil pública na cidade de São Paulo tomando como base as seguintes hipóteses:
a) A viabilidade de se investir em novas tecnologias para depender de um menor número de
trabalhadores nos canteiros de obras.
b) Maneiras de incluir mulheres no setor, levando em conta que no Brasil, as mulheres têm
um tempo de escolaridade superior ao dos homens.
c) Estudando outros modelos de produção. Mais rápido e com menos desperdício de material
e mão de obra.
Além desta introdução a seção 2 apresenta uma fundamentação teórica apresentando
conceitos gerais de inovação. Nesse mesmo capitulo são descritas algumas definições
relacionados à inovação organizacional.
A seção 3 apresenta uma visão atual do ambiente da construção civil na cidade de São
Paulo juntamente com alguns dados sobre a mão de obra no setor.
A seção 4 expõe os procedimentos metodológicos utilizados para alcançar os objetivos
dessa pesquisa.
A seção 5 apresenta a análise dos resultados obtidos após a coleta dos dados.
Por fim, apresentam-se as conclusões deste estudo levando-se em consideração o
cenário atual da mão de obra no setor da construção civil no município de São Paulo.
2. REFERENCIAL TEÓRICO
2.1 Inovação Organizacional
Segundo Jiménez-Jimenez, Valle e Hernandez-Espallardo (2008) existem muitas
definições e teorias para inovação, que tem sido considerada na literatura como um processo,
um resultado ou ambos. Para esse autores um problema comum enfrentado em pesquisas
sobre inovação se encontra na dificuldade de se determinar definições constitutivas e
operacionais consistentes. Marquis (1969) acredita que inovação não consiste em apenas um
evento ou ação, e nem somente na concepção de um novo produto ou mercado, mas em um
processo sinérgico de todos estes elementos em direção à mudança tecnológica. Enquanto
Damanpour e Gopalakrishnan (1998) define inovação como a adoção de uma ideia ou
comportamento, que poderia ser um sistema, política, programa, aparelho, processo, produto
ou serviço que representa uma novidade para a organização que a adota.
A inovação pode ser definida como a implementação de ideias criativas dentro de uma
organização. Portanto, a criatividade é o pondo inicial para o processo de inovação dentro da
empresa. De qualquer maneira, a inovação não pode apenas ser considerada a união de
diversas ideias criativas. Se uma organização pretende fazer diferença, como por exemplo, o
desenvolvimento de novas rotinas, novas técnicas de produção, ou de novas maneiras de
prestação de serviços, deve colocar em prática as ideias criativas (MIRANDA;
FIGUEIREDO, 2010).
Segundo Bell e Pavitt (1995), a criatividade do indivíduo ou de um grupo é o ponto de
partida para a inovação. A criatividade é uma condição necessária, mas não suficiente para a
inovação. É necessário mais do que apenas ideias criativas.
Seguindo a mesma linha de raciocínio Amabile (1996) defende que ideias que fazem
uma diferença genuína, devem ser colocadas em prática, apresentando a criatividade
envolvida. Em um sentido essencial, inovação refere-se à busca, descoberta, experimentação
desenvolvimento, imitação, e adoção de novos processos de produção e novas configurações
organizacionais (DOSI, 1988).
Para muitos estudiosos da área de inovação, este construto é visto como um processo
espiral, onde o desenvolvimento de tecnologia está inerentemente vinculado à fase de
implementação, diferente do processo sequencial, ou seja, da pesquisa básica até o mercado
(BIGNETTI, 2002).
Dentro das organizações, o ambiente interno também pode ser uma fonte para a
inovação. Ocorre quando a empresa decide desenvolver competências e capacidades que a
posicionem de forma estratégica frente aos seus concorrentes (WALKER; DAMANPOUR;
DEVECE, 2011).
Grande parte dos autores defende a ideia de que organizações inovadoras estão mais
preparadas e são mais capacitadas para resolver problemas e ultrapassar desafios apresentados
pelo ambiente, de uma forma mais rápida, estratégica e eficiente, obtendo desempenho
superior quando comparado com organizações que não investem em inovação (JIMÉNEZJIMENEZ; VALLE; HERNANDEZ-ESPALLARDO, 2008).
O ambiente externo através das demandas, regulações, competidores, isomorfismo e
escassez de recursos, faz com que as organizações procurem investir em inovação na busca
por vantagem competitiva (BIDO; ARAUJO, 2011).
Jiménez-Jimenez, Valle e Hernandez-Espallardo (2008) classificaram a inovação de
duas maneiras pela doutrina: inovação técnica e inovação administrativa. Esta última se
relaciona aos novos procedimentos, políticas e formas das organizações. A inovação técnica,
por seu turno, se relaciona ao desenvolvimento de novos produtos e/ou serviços, à introdução
destes novos produtos no mercado além da adoção de novos métodos de produção,
distribuição e prestação de serviços.
No processo de procura da vantagem competitiva, Hitt, Ireland e Hoskisson (2008)
afirmam que a adaptação técnica pode fornecer às firmas a confiança para seguirem em frente,
mas, sem adaptação evolutiva, as capacidades dinâmicas em ambientes competitivos podem
ser contraproducentes.
3. CENÁRIO DA CONSTRUÇÃO CIVIL NA CIDADE DE SÃO PAULO
Este capítulo tem o intuito de apresentar uma visão do cenário atual da construção
civil na cidade de São Paulo.
3.1 Ambiente da Construção Civil
Quando se utiliza o termo setor da construção civil, faz se menção a uma cadeia
produtiva que não envolve tão somente canteiros de obras, mas todo o conjunto que viabiliza
sua realização (REGINO, 2010).
Estudo da Fundação Getúlio Vargas (FGV) em pareceria com o Sindicato da Indústria
da Construção Civil do Estado de São Paulo (SindusCon-SP) apresentou um crescimento de
6,98% no primeiro semestre de 2012, o que significa a contratação de 221,5 mil pessoas.
Com as novas contratações o setor acumulava, até o final de julho, 3,4 milhões de
trabalhadores no país.
No Estado de São Paulo, o numero de contratações na construção cresceu 0,54% em
julho, registrando 4,6 mil contratações. Só no primeiro semestre de 2012 foram contratadas 45
mil pessoas no setor.
A Figura 1 mostra uma comparação entre o crescimento do setor da construção civil
com o de empregos formais no Brasil.
Figura 1. Crescimento x Emprego
3.2 Mão de Obra na Construção Civil
Atualmente fica a cargo da equipe presente no canteiro de obra, mais especificamente
mestres e encarregados, a contribuição para a manutenção e crescimento desse números, com
a execução de obras em prazos recordes. Porém esses profissionais, em sua maioria ainda não
contam com o devido respaldo para sua atualização profissional.
Trata-se dos profissionais da construtora que têm mais responsabilidade ao longo do
processo da construção, que têm deveres antes mesmo de se desenvolver uma base para isso.
Pode-se dizer, dessa forma, que a mão de obra da construção não seguiu os mesmos passos do
setor em si. A grande abertura de vagas trouxe ao mercado um número maior de profissionais
despreparados e a disputa acirrada das empresas por aqueles que já integravam o mercado.
“Faltam incentivos para o aperfeiçoamento desses trabalhadores, incentivos esses que vão
desde a qualificação profissional até a criação de planos de carreira com melhor estruturação,
valorizando os profissionais qualificados e diferenciados” (REGINO, 2010, p. 17).
O setor da construção civil costuma empregar mão de obra pouco qualificada, ou seja,
trabalhadores com pouca instrução, pouco tempo de escolaridade. Porém o setor investe cada
dia mais em tecnologia e os processos de produção exigem profissionais capazes de absorver
informações técnicas, o que está sendo um agravante e exigindo do setor, profissionais mais
capacitados. A Figura 2 apresenta que no período de 2001-2010, há uma forte queda do
percentual de profissionais com até sete anos de estudo, aumentando assim a proporção dos
mais escolarizados.
Figura 2. Escolaridade da mão de obra
Por outro lado o investimento em treinamento específico para o setor é muito baixo.
Baseado na obra de Cardoso (2007), os dados a seguir apresentam informações estatísticas
sobre a qualidade do trabalho no setor:
- Elevada rotatividade: 56,5% estão há menos de um ano na empresa; 47% há menos de cinco
anos no setor.
- Baixos salários: 50% ganham menos de dois salários mínimos.
- Elevado índice de acidentes: representam 21,3% do total de trabalhadores acidentados no
Brasil.
Em razão da falta de incentivo, muitos trabalhadores encaram a construção como etapa
passageira em suas vidas, não se importando com vínculos empregatícios, contribuições
sociais e jornadas saudáveis. Todo esse contingente de funcionários acaba interessando-se
somente pelo dinheiro imediato e encara a atividade apenas como um meio de garantir sua
subsistência até o momento em que encontre outra profissão (SALGADO, 2011).
A falta de incentivo e a formação de novos profissionais é responsável por outro grave
problema que o setor da construção civil enfrenta que é o envelhecimento de seus
trabalhadores e o baixo índice de renovação.
Estudo da Relação Anual de Informações Sociais do Ministério do Trabalho e
Emprego mostra que o número de mulheres atuantes na construção civil aumentou 65% na
década. Em 2000 elas eram pouco mais de 83 mil entre 1,094 milhão de pessoas empregadas.
Já em 2008, elas ocupavam 137.969 vagas em um estoque de trabalhadores de quase dois
milhões.
Segundo Costa (2012), a tendência é que o número de mulheres atuando no setor não
pare de aumenta. Para Costa a mulher pode desempenhar as mesmas funções do homem,
porém é mais detalhista.
A Figura 3 apresenta claramente o envelhecimento da mão de obra no setor. Nota-se
que em 2001, a idade media dos trabalhadores era de pouco mais de 37 anos e em 2011 atinge
41 anos de média.
Figura 3. Envelhecimento da mão de obra
Fonte: Revista da Conjuntura da Construção (2011)
Segundo Regino (2010) nos dias de hoje, não se pode mais qualificar a mão de obra
com aprendizado empírico, e preciso reestruturar a forma como qualificar melhor a mão de
obra do setor, uma vez que a tecnologia está mais presente do que nunca nos canteiros de
obras.
A tecnologia, hoje, é considerada uma commodity. O que faz a diferença são as pessoas. Por
isso, as empresas inteligentes têm investido cada vez mais no treinamento e montado seus
estoques de conhecimento, o que traz velocidade e renovação constantes aos negócios
(SOUZA, 2006).
A Figura 4 apresenta os investimentos por trabalhador nos últimos 20 anos. Esse
cenário não teve um aumento significante no Brasil.
Figura 4. Investimento por Trabalhador
Fonte: BCG e IPEA
Para Cardoso (2007), os trabalhadores do setor da construção civil recebem as ordens
e fazem o serviço sem ter o mínimo conhecimento técnico do que estão fazendo. E a constante
inovação tecnológica no setor agrava mais, pois os operários não recebem o devido preparo
antes que as novas tecnologias comecem a fazer parte do dia a dia no canteiro de obra.
4. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Foi desenvolvida uma pesquisa descritiva de natureza qualitativa, com dados dos tipos
qualitativos, opinativos, teóricos, conceituais e históricos com fontes primárias e secundárias.
Os estudos qualitativos são realizados no local de origem dos dados. Não impossibilita
o pesquisador de adotar a lógica do empirismo cientifico. Entretanto partem da suposição de
que seja mais apropriado utilizar a perspectiva de análise fenomenológica, quando se estuda
fenômenos singulares e dotados de certo grau de ambiguidade (GODOY, 2010).
Como ferramenta para o desenvolvimento dessa pesquisa foram promovidas
entrevistas de campo com diretores de construtoras que atuam no setor de obras públicas na
cidade de São Paulo.
4.1 Tipo de pesquisa
Para essa análise foi utilizado à pesquisa descritiva que visa ilustrar o atual cenário,
além de esclarecer pontos relativos ao instrumento de pesquisa.
Nesta modalidade realiza-se a pesquisa através de análise, registro e interpretação dos
fatos apresentados, sem a interferência do pesquisador. Tendo como principal objetivo a
identificação de características e variáveis que se relacionam com o objeto do estudo (GIL,
1995).
4.2 Instrumento de coleta de dados, amostra e sujeito da pesquisa
Esse estudo descritivo teve objetivos bastante específicos, ou seja, identificar de que
forma a inovação organizacional pode contribuir para combater escassez de mão de obra na
área de construção civil pública na cidade de São Paulo, para tanto se verificou a necessidade
de entrevistar profissionais que conciliassem conhecimento pratico e teórico.
A amostra foi composta por três executivos de empresas que atuam no setor da
construção civil, descritos conforme a Quadro 1. A coleta de dados foi elaborada através de
entrevistas (semi-estruturadas) gravadas em áudio e transcritas, em sua integra, para analise
posterior de conteúdo. Os resultados obtidos serviram de base no capitulo da discussão e na
conclusão do trabalho.
Quadro 1. Perfil dos entrevistados.
Sujeito
E1
E2
E3
Sexo
M
M
M
Idade
Tempo de atuação no setor
Nível hierárquico
57
33 anos
Vice Presidente
56
30 anos
Diretor de engenharia
30
7 anos
Engenheiro
Fonte: Elaborado pelos autores a partir dos dados da pesquisa.
4.3 Tratamento dos dados
Os dados da pesquisa foram tratados pela análise de conteúdo relacional. Essa técnica
tem como objetivo agrupar unidades de análise como palavras que ao serem observadas fora
do contexto, oferecem um significado fora do tema, porem quando apresentadas dentro de um
conjunto de frases, essas palavras se mostram de acordo com o tema tratado (VERGARA,
2010).
4.4 Limitações do método
O número de entrevistados pode ser o primeiro limite a este método, uma vez que três
entrevistas podem não representar um nível satisfatório de respostas (VERGARA, 2010). O
elevado conhecimento do tema, por parte dos entrevistados contribuiu para contornar essa
limitação.
Os entrevistados podem ser conduzidos indiretamente a responderem de forma parcial.
A entrevista foi conduzida da maneira mais imparcial possível, procurando contornar essa
possível limitação (VERGARA, 2010).
Os estudos qualitativos abrangem entender uma realidade especifica mediante
observações, entrevistas e vivência do pesquisador no âmbito do estudo. Portanto, não é
possível realizar generalizações, mas entender como os fenômenos acontecem em
determinado ambiente.
5. ANÁLISE DOS RESULTADOS
5.1 Apresentação dos Dados
Para as entrevistas, foi realizado um questionário com seis perguntas.
A primeira pergunta, relacionada com o problema apresentado no trabalho, questiona
os entrevistados sobre a importância da inovação no setor da construção civil. Eles
responderam:
Entrevistado 1: “Na construção civil precisa-se inovar muito. Precisa aceitar
tecnologia nova, tecnologia de material novo, tecnologia de execução nova, procurar
minimizar custos. Ou seja, precisamos evoluir muito. É muito importante inovar.”.
Entrevistado 2: “Inovar sempre vai ser bom, agora tem que se ter muito critério pra
julgar se vai valer a pena na questão do custo benefício. Hoje nós vivemos uma pressão
muito grande de resultados, tempo, preço, qualidade, segurança e sustentabilidade.”.
Entrevistado 3: “Acredito que no setor da construção civil pode-se ter diversas
inovações principalmente em pequenos processos de forma a agregar maior qualidade ao
projeto. É fundamental estar sempre atualizado com as novas tendências construtivas para a
implantação de melhores práticas dentro do canteiro, além de gerar melhores custos.”.
A segunda pergunta teve a intenção de relacionar o cenário da cidade de São Paulo
com o problema de pesquisa do estudo, questionando, na opinião deles, em qual nível
tecnológico se encontra o setor da construção civil em São Paulo. Eles responderam:
Entrevistado 1: “Estamos em um nível mediado. O básico de sempre. Hoje ainda
construímos de uma maneira arcaica.”.
Entrevistado 2: “Acho que São Paulo é um laboratório, se tem coisa nova em termos
de produto, matéria prima, infra estrutura, estamos usando aqui.”.
Entrevistado 3: “Temos conhecimento e tecnologia o suficiente para executar obras
com prazo, qualidade e estética para a evolução arquitetônica da cidade, porém a legislação
é travada com leis e normas que fazem com que não possamos inovar com grandes
construções. Além disso, a tecnologia ainda é muito cara no Brasil, o que inviabilizaria a
grande maioria das obras.”.
Na terceira pergunta foi pedido para que os entrevistados destacassem qual o maior
problema que eles enfrentam relativo à mão de obra no setor. Eles destacaram:
Entrevistado 1: “O maior problema é a qualificação de mão de obra. Você paga muito
caro por uma mão de obra sem qualificação nenhuma.”.
Entrevistado 2: “A mão de obra existe, mas é cara. E quanto mais qualificado mais
caro é, e não tem como arcar esse custo, então fica muito difícil ter mão de obra
qualificada.”.
Entrevistado 3: “Em decorrência do aumento da demanda houve um grande
crescimento das construtoras e surgimento de novas empresas especializadas.
Consequentemente as empresas precisaram de mais funcionários para atender a demanda e
com isso houve o aumento de contratações de mão de obra desqualificada, a valorização da
mão de obra qualificada e o crescimento de autônomos, dessa forma o custo é elevado para
manter o prazo e qualidade de uma obra.”.
A quarta pergunta, é relacionada com a primeira hipótese do estudo e questiona se
investir em novas tecnologias ajudaria a combater o problema com a mão de obra.
Entrevistado 1: “É importante, porém quando se inova tecnologicamente precisa
também investir no treinamento da mão de obra. Investindo em tecnologia você pode concluir
um projeto mais rápido, com menor número de funcionários e gastando menos. Hoje um dos
itens mais caros que se tem numa construção é a mão e obra. Com mais tecnologia você
aumenta a produtividade, você reduz o custo e diminui a quantidade da mão de obra. E com
mão de obra desqualificada a perda de material que se tem numa obra é muito grande.”.
Entrevistado 2: “Sem a menor dúvida. Já existe tecnologia, temos um monte de
processos, mas também esbarra no custo.”.
Entrevistado 3: “Analisando o ponto de vista do canteiro de obra, não acredito que
investir em tecnologia iria combater o problema da mão de obra. O ponto principal para
reduzir o problema da mão de obra é investir na especialização das pessoas.”.
A quinta pergunta, é relacionada com a segunda hipótese do estudo, e questiona sobre
a opinião deles de incluir mais mulheres para trabalhar nos canteiros de obras. Eles
responderam:
Entrevistado 1: “Sou 100% a favor. A mulher é mais fácil de treinar, ela é mais
habilidosa naquilo que faz. E quando se fala em mão de obra em construção civil nem tudo é
carregar peso.”.
Entrevistado 2: “Eu não tenho nada contra. Tudo na verdade é questão de
treinamento, se ela tiver um treinamento adequado ela vai fazer o serviço. A mulher não tem
a mesma força que o homem, mas você treinando ela pra funções especificas ela vai fazer.”.
Entrevistado 3: “Acho ótimo, tem diversos serviços que não requerem força braçal e
que podem muito bem ser preenchidos com mão de obra feminina.”.
A pergunta número seis, estuda a terceira hipótese do trabalho sobre novos processos:
É possível, através de novos modelos de processos, fazer com que a mão de obra produza
mais rapidamente?
Entrevistado 1: “Lógico. A hora que cria um modelo novo, você avança na tecnologia
ganha em produtividade, diminui a quantidade de mão de obra e ganha em eficiência, prazo,
custo e lucratividade. Para enfrentar esse problema da mão de obra deve-se mudar o
processo, investir em tecnologia e treinar tanto homens quanto mulheres.”.
Entrevistado 2: “Os novos processos tem que existir, hoje você tem um problema sério
de transporte e de resíduo, e a partir do momento que você racionaliza um procedimento ou
um novo processo, a tendência é que seu resíduo seja menor, e a perda seja menor, como no
caso do processo de pré moldados. O problema é que quando você usa um determinado pré
moldado, pode-se ter alguns problemas de manutenção. Mas o processo de pré moldado é um
processo muito mais rápido, onde você pode ter mais qualidade, menos desperdício de
material, menos resíduo, mas tem que se pensar muito na questão da manutenção, pra não se
ter muitos problemas posteriores a conclusão da obra.”.
Entrevistado 3: “Sim, principalmente com a introdução de novas técnicas e no
treinamento de pessoas. A tecnologia esta aí para extrairmos o que é de melhor em eficiência
e qualidade.”.
5.2 Discussão
O problema apresentado nesse estudo foi como a inovação pode contribuir para
combater a escassez de mão de obra na construção civil na cidade de São Paulo.
Na teoria, segundo Schumpeter (1984), o capitalismo se renova, sendo que a inovação
é o motor do desenvolvimento econômico. E complementa que não tem sentido manter uma
indústria obsoleta.
De acordo com Damanpour, Walker e Avallaneda (2009) inovação pode ser um
sistema, política, programa, aparelho, processo, produto ou serviço que represente uma
novidade para a organização que a adota. E conclui que a inovação é vista como um
comportamento adaptativo que possibilita a organização manutenção ou melhoria do se
desempenho.
Para Neves (2011) o sucesso da estratégia de uma empresa e a vantagem competitiva
da mesma depende basicamente de novas ideias. Elas devem sempre buscar desenvolver
novas tecnologias e procedimentos antes que haja necessidade.
Segundo os entrevistados, no setor da construção civil é preciso sempre inovar com o
objetivo de se atingir melhores resultados, melhores práticas e menor custo.
O cenário atual, conforme estudo do IPEA, mostra que a produtividade brasileira é a
mesma dos anos 70 e de acordo com reportagem da revista Exame (2012) o setor da
construção civil utiliza um processo quase que artesanal.
Portanto, concluísse que para que não haja uma estagnação no setor da construção
civil é necessário inovar e pesquisar novos processos e novas tecnologias.
Com relação ao problema da mão de obra no setor da construção civil todos os
entrevistados concordam que a mão de obra qualificada existe, mas com custo altíssimo e
muito disputada pelas grandes construtoras, o que faz com que haja a necessidade de se
utilizar, na maioria das vezes, mão de obra pouco qualificada ou sem qualificação alguma.
De acordo com Regino (2010), nos dias de hoje, não se pode mais qualificar a mão de
obra com aprendizado empírico, é preciso reestruturar a forma como qualificar melhor a mão
de obra do setor, uma vez que a tecnologia está mais presente do que nunca nos canteiros de
obra. O autor conclui que os trabalhadores do setor recebem as ordens e fazem o serviço sem
ter o mínimo de conhecimento técnico do que estão fazendo. E a constante inovação
tecnológica no setor agrava mais, pois os operários não recebem o devido preparo antes que
as novas tecnologias comecem a fazer parte do dia a dia do canteiro de obra.
Segundo pesquisa do IPEA, 51% dos trabalhadores do setor da construção civil têm no
máximo sete anos de estudo.
Portanto podemos concluir que o maior responsável pelo problema que enfrentamos
com a mão de obra no setor da construção civil é o baixo número de trabalhadores
qualificados, o que torna a mão de obra qualificada muito cara e disputada.
A primeira hipótese apresentada nesse estudo foi que para enfrentarmos o problema de
falta de mão de obra deve-se investir em novas tecnologias para depender de um menor
número de trabalhadores.
Na teoria, de acordo com Marquis (1969), inovação não consiste em apenas um evento
ou ação, e nem somente na concepção de um novo produto ou mercado, mas em um processo
sinérgico de todos esses elementos em direção à mudança tecnológica.
O Entrevistado 1 acredita que em São Paulo utiliza-se o básico de tecnologia para o
setor, enquanto os outros dois entrevistados acreditam que temos conhecimento e tecnologia
adequada para executar as obras com qualidade e dentro do prazo estabelecido, porém com
custo mais elevado.
A pesquisa mostrou que o setor da construção civil, é o setor que apresenta a mais
baixa mecanização no Brasil. Para Salgado (2011), usar tijolo e argamassa para assentar
paredes é um método ultrapassado em países desenvolvidos.
Em relação ao nível tecnológico em que se encontra o setor da construção civil em São
Paulo podemos concluir que apesar de ainda não estamos no nível dos países mais
desenvolvidos, o maior problema não é o equipamento tecnológico que temos, mas sim como
o utilizamos e seu alto custo.
A segunda hipótese diz que para enfrentarmos o problema com a mão de obra
devemos incluir mulheres no setor da construção civil.
Segundo pesquisa do Ministério do Trabalho, o número de mulheres que atuam no
setor da construção civil aumentou 65% na última década.
Todos os entrevistados concordam que tem espaço para mulheres nos canteiros de
obras, principalmente na realização de serviços menos braçais. Eles concluem que as
mulheres são mais fáceis de serem treinadas e são mais dedicadas. Porém elas devem ser
devidamente capacitadas para a realização das funções específicas para elas.
Podemos observar que incluir mulheres no setor é um caminho para enfrentar o
problema da escassez de mão de obra qualificada em algumas atividades do setor da
construção civil, mas para que possamos incluí-las no setor também temos que investir em
treinamento e capacitação. Hoje em dia, mulheres nos canteiros de obra já é uma realidade,
porém ainda enfrentamos o problema com escassez de mão de obra qualificada e seu alto
custo.
A terceira hipótese defende que pesquisando novos modelos de processo pode-se
enfrentar o problema de mão de obra produzindo mais rápido e com menos desperdício de
material e mão de obra.
No cenário atual, podemos perceber que, segundo estudo da Fundação Getúlio Vargas
em parceria com o Sindicato da Indústria da Construção Civil, o setor da construção civil
contratou até o final de julho de 2012, mais de três milhões de trabalhadores no país. E para
Souza (2006) não tem maneira melhor para o enriquecimento de uma nação do que
conseguindo que cada trabalhador produza o máximo que puder.
Reportagem da revista Exame (2012) mostra que no mesmo tempo que “dois
funcionários no Brasil constroem 17 metros quadrados por dia no sistema de alvenaria, nos
Estados Unidos uma dupla de operários levanta de 40 a 50 metros quadrados por dia com
material pré-moldado.”
Na teoria segundo Schumpeter (1982) inovação se divide em cinco vias, sendo uma
delas a introdução de um novo método de produção.
Miranda e Figueredo (2010) definem que se uma organização pretende fazer a
diferença, como por exemplo, o desenvolvimento de novas técnicas de produção, devem
colocar em prática as ideias criativas.
Segundo o Finep (2005), inovação de processo é quando há implementação de um
método de produção ou distribuição novo ou significativamente melhorado. As inovações de
processos podem visar reduzir custos de produção ou de distribuição, melhorar a qualidade,
ou ainda produzir produtos novos significativamente melhorados.
Schumpeter (1982) estabelece uma linha divisória entre invenções e inovações ao
dizer que “a geração de invenção e a promoção da correspondente inovação constituem,
econômica e sociologicamente, duas coisas totalmente diferentes.” E conclui que a inovação
está vinculada a uma situação de negócios enquanto a invenção sem a inovação não tem
representatividade econômica.
Para Dosi (1988), inovação refere-se à busca, descoberta, imitação e adoção de novos
processos de produção e novas configurações organizacionais.
A pesquisa mostrou que todos os entrevistados concordaram que se deve mudar o
processo da construção civil no setor, e que o formato feito pelos americanos, no caso a
construção em pré-moldados, é o melhor, mais rápido e mais barato que se tem no mercado.
Mas que para que possamos imitar os americanos temos que investir no treinamento das
pessoas.
Portanto, podemos concluir que mesclando inovação, imitando o processo americano,
e treinamento de pessoas, o problema da escassez de mão de obra pode ser combatido com a
mudança do processo de produção que temos hoje, conforme a terceira hipótese do trabalho.
6. CONCLUSÕES
O objetivo deste estudo foi identificar de que forma a inovação organizacional pode
contribuir para combater escassez de mão de obra na área de construção civil pública na
cidade de São Paulo.
De acordo com as pesquisas realizadas nesse estudo, nota-se que o setor da construção
civil está em constante crescimento no país e percebe-se que a procura por mão de obra
qualificada é maior do que a demanda oferecida no mercado. O que eleva o custo da pouca
mão de obra qualificada na cidade e consequentemente do processo de construção do
empreendimento.
No que diz respeito à primeira hipótese do trabalho, pode-se descartá-la parcialmente,
pois embora o cenário atual do setor mostre que em São Paulo não se tem o que há de mais
moderno tecnologicamente, apenas um dos entrevistados disse que estamos aquém do ideal
em tecnologia, enquanto os outros dois destacaram que temos tecnologia suficiente, porém
não temos mão de obra devidamente qualificada para utilizar a tecnologia disponível.
A segunda hipótese diz que um caminho para se combater o problema da escassez de
mão de obra seria incluir mulheres para trabalhar nos canteiros de obras. Essa hipótese pode
ser validada parcialmente, pois podemos observar que como o setor investe cada dia mais em
tecnologia, os processos de produção exigem profissionais mais capacitados tecnicamente do
que capacitados para trabalhos braçais. E para 100% dos entrevistados, mulheres com o
treinamento devido são totalmente capazes de realizar os serviços técnicos e que exigem
menos força física. Porém o trabalho comprovou que o processo que utilizamos no setor da
construção civil, seja ele com mão de obra feminina ou masculina é praticamente artesanal, e
mesmo com mão de obra qualificada, perde-se muito em desperdício de material, e com os
prazos extensos a mão de obra encarece. Pois quanto mais tempo o trabalhador qualificado
está na obra mais se gasta com os serviços dele.
A terceira hipótese diz que para combater o problema da mão de obra no setor, devemse pesquisar modelos de produção mais rápidos e com menos desperdício de material e mão
de obra. Essa hipótese pode ser validada totalmente. O estudo apresentou dados de como o
modelo americano de construção civil, utilizando menos mão de obra, consegue concluir os
projetos com menor prazo. O que resulta em uma construção mais barata, extraindo o máximo
de seus funcionários, com melhores salários e com um custo menor.
Contudo, analisando o problema de pesquisa sobre a escassez de mão de obra na
cidade de São Paulo e confrontando ele com os dados pesquisados, podemos observar que não
existe falta de mão de obra ou poucos trabalhadores, o que existe são muitas obras com prazos
extensos e um leilão de mão de obra qualificada, pois como o setor esta em constante
crescimento em São Paulo, a quantidade de trabalhadores qualificados não é suficiente, e o
preço da mão de obra qualificada acaba não cabendo no orçamento dos projetos. Logo se
pode concluir que além de investir em treinamento para aumentar a oferta e mão de obra
qualificada, resultando em uma diminuição de seu valor, deve-se mudar o processo,
principalmente para diminuir o prazo das obras e o número de funcionários necessários.
Portanto podemos concluir que a melhor forma para se combater o problema que São
Paulo enfrenta com a mão de obra é inovar imitando o modelo americano de pré-moldados e
investindo em treinamento da mão de obra. Fazendo com que sejam necessários menos
funcionários nos projetos, sendo eles mais qualificados, recebendo melhores salários, o que
atrairia mais jovens para esse setor, e mesmo assim a construção sairia mais barata. No
modelo de pré-moldados, apesar de se pagar um salário melhor para o funcionário capacitado,
o empreendedor acaba gastando menos, pois nesse processo é necessário menos funcionários
e o prazo para conclusão dos projetos é muito menor.
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