LÍNGUA GEOGRÁFICA: REVISÃO DE LITERATURA GEOGRAPHIC TONGUE: REVIEW OF THE LITERATURE * ** *** **** Artur CERRI Carlos Eduardo Xavier dos Santos RIBEIRO DA SILVA Francisco Octávio Teixeira PACCA Patrícia SILVA _______________________________________________________________________ * Especialista, Mestre e Doutor em Semiologia Prof. Titular de Estomatologia da UnG, UNICASTELO E UNISA. Prof. Adjunto de Semiologia da Faculdade de Odontologia da UMC. ** Especialista e Mestre em Estomatologia Doutorando pela UNIFESP / EPM Prof. Adjunto de Semiologia da UnG, UNICASTELO e UNISA *** Prof. Titular de Semiologia da UNILUS Prof. Adjunto de Semiologia da UnG, UNICASTELO E UNISA **** Acadêmica do 3º ano de Odontologia da UnG Membros da Sociedade Paulista de Estomatologia e Câncer Bucal - SOPE RESUMO Baseado na revisão da literatura os autores relatam os aspectos clínicos da língua geográfica, bem como sua prevalência em relação a idade e sexo, abordando também os possíveis tratamentos. ABSTRACT Based on the review of the literature, the authors report the clinical aspects of the geographic tongue and this relation with sex and age, discussing the possible treatments. UNITERMOS Língua Geográfica – Doenças da Língua – Glossite Migratória Benigna KEYWORDS Geographic Tongue – Tongue Diseases – Benign Migratory Glossitis INTRODUÇÃO Também conhecida por eritema migratório e glossite migratória benigna, a língua geográfica (Fig. 1.), é uma condição de etiologia ainda obscura e de aspecto clínico multiforme. Apesar de ter sido considerada por alguns autores como uma anomalia de desenvolvimento, CHERASKIN & LANGLEY (1984) ,verificaram que é observada principalmente em crianças, sobretudo nas portadoras de alterações emocionais. Por esse motivo vem sendo considerada por muitos, como sendo de origem psicogênica . No entanto, alguns autores atribuem uma possível causa alérgica a sua etiologia. Tem se observado que um grande número de casos ocorre na primeira infância e tendem a desaparecer por volta do 7° ou 8º ano de vida (SHAFER, 1984) As lesões se iniciam por erosões avermelhadas, e conseqüente desaparecimento das papilas filiformes e manutenção das fungiformes, com bordas bem definidas e esbranquiçadas de aspecto circinado, que se extendem formando lesões erosivas de diâmetro cada vez maior (Fig. 2). As áreas despapiladas persistem por pequeno período de tempo, normalizam e aparecem em outro local. Esse fato é que determina a denominação de migratória à condição, o que, invalida a princípio qualquer possibilidade de se tratar de anomalia de desenvolvimento, uma vez que estas não mudam sistematicamente de local (SHAFER, 1984). Em dois estudos clínicos realizados nos EUA, a incidência da língua geográfica foi de 2,4% em todos os pacientes examinados por MC CARTHY (1941) . Para HALPERIN et. al. (1953) a ocorrência da anomalia foi 1,4 %. Ainda segundo os autores a relação de pacientes afetados do sexo masculino em relação ao sexo feminino foi de 1:2, sem que fossem notadas diferenças raciais. A lesão ocorre com freqüência maior em crianças. Em 1970, REDMAN, constatou uma prevalência de 1,4 % em um grupo de 3.600 escolares estudados com idades entre 5 e 18 anos. Entretanto, não detectou predileção por sexo. Por se tratar de patologia benigna, e sem maiores conseqüências, não há necessidade de tratamento específico. Se faz necessário apenas seu controle ou tratamento sintomático quando indicado. Objetivando se evitar preocupações desnecessárias e deduções errôneas, o paciente deve ser esclarecido sobre a origem e comportamento da lesão. Não obstante, muitos autores têm relacionado a presença de língua geográfica, com psoríase e Síndrome de Down. REDMAN (1970) estudando 3.668 estudantes da Universidade de Minnesota, de idade entre 17 e 21 anos, constatou a presença de língua geográfica em 42 ( 1,15%). Já GALLINA (1968) , em 3.274 pacientes, encontrou a anomalia em 2,87% e PUGLIESE et al. (1972), analisando 3.429 escolares, detectaram a língua geográfica em 5,22% . Ressaltam que nessa amostragem houve pequena predileção pelo sexo masculino , porém estatisticamente não significativa. ZHU et al. (1996), observaram que a forma e a configuração das lesões podem mudar visivelmente, apresentando quadros diferentes de um dia para o outro, fato esse comprovado por CAMARGO (1976). BANÓCZY (1975) , analisou 70 casos de língua geográfica em um período médio de 32 meses, verificando que em 43 casos a condição manteve-se persistente. Clinicamente, não detectaram durante este período transformação maligna ou qualquer outra degeneração. Raramente o paciente observa a alteração em estágios iniciais, uma vez que os sintomas, quando existentes, se reduzem a um pequeno ardor, particularmente ao ingerirem alimentos condimentados. Usualmente a língua geográfica não requer tratamento, mas, se houver glossodínia (ardência bucal), analgésicos e dieta livre de condimentos e ácidos aliviam os sintomas. Tratamento por complexo vitamínico B como já se disse foi tentado no passado , mas sem nenhum resultado animador, mesmo porque não existe tratamento específico para glossite migratória benigna. REVISÃO DA LITERATURA LOFFREDO & MACHADO, em 1983, estudaram a prevalência de língua geográfica, língua fissurada e glossite rombóide mediana em 894 escolares. A língua geográfica incidiu-se em 3,80% , a língua fissurada em 1,45% e a glossite rombóide mediana em 0,56 % dos escolares. Em 1983, SHAFER descreveu que a glossite migratória benígna consiste clinicamente em múltiplas áreas de descamação das papilas filiformes em configuração circinada. A porção central da lesão mostra-se as vezes inflamada, enquanto que a margem pode estar demarcada por uma linha fina ou faixa branco amarelada. As papilas fungiformes persistem nas áreas descamadas como pequenos pontos avermelhados. PORTELLA & TELES, em 1986 estudaram a ocorrência da língua geográfica em crianças. Foram examinadas 3.809 crianças na faixa etária de 6 a 12 anos de idade, das quais 1.856 do sexo masculino e 1.953 do sexo feminino. A língua geográfica estava presente em 30 das crianças examinadas, sendo 12 do sexo masculino e 18 do sexo feminino. GONZAGA & CONSOLARO em 1993 , concluem que a língua geográfica pode ser uma forma frusta da psoríase e orientam a realização de um exame clínico dermatológico detalhado nos portadores de língua geográfica, bem como uma minuciosa pesquisa dos antecedentes familiares para provável detectação da psoríase. KLEINMAN et al., em 1994 analisaram em 206 crianças na faixa etária entre 5 a 17 anos e observaram prevalência de língua geográfica em 0,6% das crianças. GONZAGA et al., em 1994 apresentaram o estudo da avaliação bucal, com ênfase na determinação da prevalência da língua geográfica e fissurada, realizado em 808 escolares da cidade de Araraquara. Os pacientes foram submetidos a exame estomatológicos completo. A língua geográfica foi observada em 4,3 % da população estudada, a língua fissurada em 9,6 %, e a associação das duas condições em 1,6 %. Com relação ao sexo a prevalência da língua geográfica foi maior no sexo feminino (5,6 %) do que no sexo masculino (3,3 %). A prevalência da língua fissurada não apresentou diferenças significativas no sexo feminino e masculino . BEAUDOIN et al. ,em 1995 observaram a grande freqüência de língua geográfica ou glossite migratória benigna em pacientes examinados. Verificaram também que as lesões migram freqüentemente de local sem ter uma área específica ou causa aparente. GONZAGA & TORRES, em 1994 apresentaram estudos clínicos realizados em 125 pacientes portadores de língua geográfica. Concluíram que 48% eram do sexo masculino e 52% feminino. Em relação a raça , 91,2% eram brancos e 4,8 % eram negros e 4% amarelos. Suas idades oscilavam de 2 a 81 anos, com média de 21,3 anos. Os pacientes foram submetidos a exame clínico geral e estomatológico completos. A sintomatologia estava presente em 45,6 % dos pacientes, e consistia em ardor, especialmente desencadeados por alimentos condimentados, quentes e frutas cítricas. Observaram psoríase em 14,4 % dos pacientes. A associação língua geográfica e língua fissurada foi observada em 38,4% dos casos. ERCIS et al., em 1996 relataram estudos, efetuado no Hospital da Universidade de Hacettep, Departamento de Genética em 71 crianças com Síndrome de Down, e observaram que 29 apresentaram hiperqueratose digitopalmar, 7 xerostoses, 22 dermatite seborréica, 14 língua fissurada, 8 língua geográfica e 8 cutis marmorata. ZHU et al., em 1996 observaram que 1,3 % da população do mundo apresenta psoríase e que os principais focos de manifestações orais nestes pacientes são língua geográfica, língua fissurada, lesões na mucosa e gengiva, e 5% de inflamações na articulação temporomandibular. YONAI et al em 1997, relataram um caso de psoríase associada a lesões bucais em um doente. Neste caso o envolvimento de lesões no lábio superior, lesões eritematosas na mucosa labial, língua geográfica ectópica, língua fissurada são comumente observados em alguns pacientes com psoríase Pelo exposto podemos observar que a língua geográfica é uma patologia totalmente benigna e sem conseqüências outras no entanto, cabe ao Cirurgião Dentista , o diagnóstico e orientação do paciente quanto a sua condição e eventuais sintomas. CONCLUSÕES A revisão da literatura, através da presente pesquisa, nos permite deduzir as seguintes conclusões: A língua geográfica é uma alteração relativamente comum que compromete principalmente crianças em idade escolar; A língua geográfica apresenta uma morfologia bastante variada; A língua geográfica, não possui tratamento específico, apenas sintomático; O paciente deve tomar ciência da característica benigna da anomalia; A prevalência da alteração em relação ao sexo, não apresenta evidências significativas. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 01 BANÓCZY, J. “Migratory glossitis. A clinical - histologic review of seventy cases”. Oral Surg., 39 (1):113-21, Jan,1975. 02 BEAUDOIN, N. ; NANOUKIAN, K.; LALONDE B.: “La glossite benigne migratorie: une lesion enigmatique”. J Can Dent Assoc.; 61(9) : 802-3, 806-8, Sep, 1995 03 CAMARGO, H. 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