ciência A HUMANIDADE CONTRA O CÂNCER A doença ataca com cada vez mais força, mas a ciência corre atrás do prejuízo e promete não deixar barato Fernanda Carvalho A cura para o câncer talvez seja a maior de todas as buscas da ciência. Várias pesquisas são divulgadas anualmente na tentativa de, pelo menos, tratar de forma mais ágil os pacientes. Cientistas já fizeram todo tipo de estudo em busca da cura ou da aceleração do tratamento. Até mesmo substâncias como o ecstasy já foram testadas. Pesquisadores da Universidade de Birmingham, na Grã-Bretanha, potencializaram em 100 vezes a capacidade da droga de combater células cancerosas. Estudos anteriores já haviam comprovado a capacidade da substância, mas não nessa magnitude. A pesquisa testou, em laboratório, a reação celular do linfoma de Burkitt - agressivo e de rápido crescimento de células que amadurecem na medula óssea - à droga, e concluiu que as células sanguíneas cancerosas poderiam ser destruídas. Cientistas dos Estados Unidos e de Cingapura foram mais longe. Analisaram formas de inserir anticorpos dentro das células do tumor. A terapia é chamada de alvo molecular, porque atinge, especificamente, as células cancerosas. Já foi comprovado que a quimioterapia não discrimina células sadias de doentes. Por isso, os pacientes perdem os cabelos quando submetidos ao tratamento. O estudo foi coordenado pela pós-doutora Qi Zeng, do Instituto de Biologia Molecular de Cingapura. O teste, realizado com camundongos, foi bem sucedido. Mas a ideia é ir além da aplicação terapêutica. O objetivo é que ele funcione como base para a elaboração de uma espécie de vacina preventiva contra o câncer. Esta estimularia o organismo a se defender da doença. Enquanto estes anticorpos não são desenvolvidos, a metástase – disseminação da doença pelo corpo – continua sendo um dos piores efeitos do câncer. Estima-se que a proliferação das células doentes seja responsável por 90% das mortes relacionadas à enfermidade. Pesquisa desenvolvida pelo Institute of Cancer Research, em Londres, em parceria com estudiosos da França, descobriu a causa deste mal. Uma proteína chamada JAK desencadeia contrações nos tumores, o que permite que as células cancerígenas sejam arremessadas por pequenos orifícios e se espalhem pelo corpo. O processo pode acontecer de duas formas. A célula cancerosa força a própria saída ou, em alguns casos, o tumor induz a formação de uma espécie de corredor que propicia a passagem e disseminação das células no organismo. De acordo com os pesquisadores, a descoberta é importante para que drogas que atinjam a proteína sejam produzidas com o objetivo de impedir a disseminação de tumores. Um levantamento realizado por vários centros oncológicos, inclusive o Hospitais das Clínicas da UFMG e o Lifecenter, apontou uma forma de otimizar o tratamento contra câncer de próstata. No teste elaborado com mais de 900 homens, as substâncias Alpharadin e placebo foram associados à radioterapia. De acordo com o coordenador da equipe em Minas Gerais, o oncologista André Murad, os pacientes tratados com a nova droga tiveram sobrevida de 14 meses, enquanto os outros, medicados com placebo, viveram 11,2 meses. A teoria na prática A busca é incessante, mas o sonho de descoberta da cura para o câncer parece inatingível até mesmo para a tão evoluída e criativa ciência moderna. Apesar de ela avançar e apresentar novas formas de tratamento todos os anos, no Brasil, poucas dessas pesquisas se tornaram reais. De acordo com André Murad, um longo tempo se arrasta entre o projeto e a comercialização do resultado dos estudos. Para que isso se efetive, fazem-se necessários anos a fio de trabalhos complexos e pesquisas com milhares de pessoas. Além disso, tem que haver um acompanhamento da população em teste, para que se tenha comprovação da positividade dos resultados. “Quando uma pesquisa é publicada, nós ficamos muito felizes. Mas, demora anos até ela poder ser utilizada no dia a dia. Por isso, ainda não temos nenhuma dessas drogas no comércio”, salienta Murad. No Brasil, também existem análises relevantes sobre o combate ao câncer. O problema, porém, está na chegada dos tratamentos até as classes menos favorecidas. “Nós pesquisamos, mas o SUS não tem disponibilizado esses tratamentos mais sofisticados porque são caros, tanto os medicamentos como os exames. A radioterapia, por exemplo, não está disponível”, revela o médico. Na rede particular de saúde é diferente. Quando a droga é aprovada, os convênios são obrigados a custear. A doença em números Definir o câncer pode parecer irrisório, mas a verdade é que a doença ficou um longo tempo sem uma conceituação clara por parte dos especialistas. Câncer é o nome genérico dado a um conjunto de mais de cem doenças. Em comum, tais enfermidades têm o crescimento desordenado de células malignas que invadem tecidos e órgãos. Da mesma forma que se alastram pelo corpo, os cânceres aumentam a incidência pelo mundo. Cerca de 12 milhões de pessoas são diagnosticadas doentes todos os anos. O número equivale a, aproximadamente, cinco vezes a população de Belo Horizonte. De acordo com dados divulgados pela ONG World Cancer Research Fund, os casos de câncer aumentaram 20% na última década. Desses 12 milhões de casos anuais, 2,8 milhões estão relacionados a hábitos de saúde (má alimentação e falta de atividade física). Uma realidade que, segundo a ONG, deve piorar dramaticamente nos próximos dez anos. O oncologista André Murad detalha a razão para o aumento no número de casos. As chances de se adquirir algum tipo de câncer aumentam com a idade. Outro fator é que, ao contrário do que acontecia antigamente, hoje existe a precisão nos diagnósticos. A terceira explicação, é, segundo Murad, a mais importante. Diz respeito precisamente aos hábitos de vida contemporâneos. Má alimentação, muita comida industrializada, carboidratos, carnes em conserva, proteína animal em excesso, enlatados. As pessoas estão ingerindo cada vez mais alimentos que podem provocar cânceres e, ao mesmo tempo, comem em menor quantidade o que protege. De acordo com a Pesquisa de Orçamentos Familiares 2008-2009 realizada pelo IBGE, mais de 90% dos brasileiros comem poucas frutas, verduras e legumes. O INCA também alertou para esta realidade: brasileiros estão ingerindo menos de um terço dos alimentos recomendados na prevenção de câncer. Se a realidade fosse oposta, 19% dos casos das doenças poderiam ser evitados. A população de obesos também cresce. Para 2015, a projeção é que haja um aumento de 75% nos casos de obesidade no mundo, segundo dados da Organização Mundial da Saúde. A estimativa é de que 2,3 bilhões de pessoas terão excesso de peso, enquanto 700 milhões serão obesas. De acordo com Murad, a obesidade por si só já causa câncer. A União Internacional de Controle do Câncer estima que, nos países ocidentais, 30% dos casos da doença estejam ligados ao sedentarismo e ao excesso de peso, o segundo fator de risco mais incidente. O avanço tecnológico também colabora para a acomodação e sedentarismo. O número de carros vendidos cresce anualmente. Além disso, grande parte da frota agora é vendida com vidros elétricos e direção hidráulica. Tudo para o maior conforto. Dentro de casa, o mesmo acontece. O portão e a televisão são acionados por controle remoto. O interruptor fica próximo à cama. O elevador leva do primeiro andar ao segundo em todos os novos edifícios, e até em algumas casas. Tudo colabora para a lei do menor esforço e para o aumento do sedentarismo. A obesidade só fica atrás do cigarro. O número de mortes devido ao uso do tabaco chegou a 4,9 milhões, anualmente. Número que pode chegar a 10 milhões em 2030, segundo dados do World Health Organization de 2003. A notícia boa é que na maior capital brasileira, São Paulo, um levantamento promovido pelo Cratod (Centro de Referência em Álcool, Tabaco e outras Drogas) divulgou que o número de pessoas que fumam dois ou mais maços por dia teve queda de 31%, entre 2009 e 2010. Uma possibilidade que deveria ser considerada por todos os fumantes, já que, segundo o Dieese, uma pessoa poderia economizar R$ 1.728 anualmente caso parasse de fumar um maço diário com preço médio de R$ 4,80. Um fator natural têm sido uma das maiores ameaças aos países mais próximos à linha do Equador. No Brasil, o câncer mais frequente é o de pele, correspondendo a cerca de 25% de todos os tumores diagnosticados nos quatro pontos do país. O maior agente causador do problema é o sol. O tão estudado aquecimento global aumenta ainda mais as chances desse tipo de doença. De acordo com um estudo realizado pelo America’s Climate Choices, nos últimos cem anos a temperatura da superfície do planeta aumentou, em média, 0,8 ºC, sendo dois terços desse acréscimo correspondente apenas às últimas três décadas. Parece pouco, mas os oceanos já mostram os efeitos disso. Segundo pesquisas da Nasa, o nível global do mar subiu cerca de 17 centímetros no século passado. Mas, apenas na última década, o aumento correspondeu a quase o dobro da modificação observada em todo o século XX. Entre as mulheres do sudeste brasileiro, o câncer mais incidente é o de mama, segundo dados do INCA. O tipo também representa o segundo mais frequente no mundo e o mais comum entre as mulheres. Todos os anos, aproximadamente, 22% dos novos casos de câncer em mulheres são de mama. Os fatores associados à doença é a vida reprodutiva da mulher: primeira menstruação precoce, primeira gestação acima de 30 anos, anticoncepcionais orais, menopausa tardia e terapia de reposição hormonal. Mas um estudo realizado em 2008 por pesquisadores japoneses abriu a possibilidade para um outro tipo de causa. O estudo, realizado pela Escola de Graduação de Medicina Tohoko University, analisou 24 mil mulheres com idades entre 40 e 79, durante oito anos. Cento e quarenta e três foram diagnosticadas com câncer de mama nesse período. A descoberta foi que mulheres que dormiam seis ou menos horas por noite tinham 62% mais chance de desenvolverem o câncer se comparadas às mulheres com maior tempo de repouso. Em homens, o tipo de câncer mais comum na maioria das regiões do Brasil é o de pele. Na região Sudeste, o risco estimado é de 53 para cada 100.000 pessoas. A taxa mais alta é a do Sul do país, onde o risco é de 85 para cada 100.000 pessoas. O câncer de pele ainda é considerado o mais costumeiro no Brasil, para os dois sexos. O segundo tumor maligno que mais atinge os homens brasileiros é o de próstata, com 52 mil casos registrados somente no ano passado. O LADO B DOS TRATAMENTOS CONTRA CÂNCER Como já dizia a Psicologia da Gestalt desde o princípio do século XX: o todo é mais do que a simples soma das partes. Para o holismo, essa mesma teoria se aplica: as propriedades de um sistema, quer se tratem de seres humanos ou outros organismos, não podem ser explicadas apenas pela soma de seus componentes. Na explicação do câncer e em seu tratamento, essa mesma ideia se aplica, em todas as etapas. De acordo com a terapeuta holística, Vilma de Oliveira, nós somos divididos em quatro corpos: o físico, o mental, o astral e o respiratório, ou vital; e o câncer é o maior desequilíbrio dessas quatro partes. Cada uma dessas divisões, segundo a medicina chinesa, é representada por quatro elementos: metal, água, fogo e ar; e o que comanda esse movimento, o que equilibra, é o elemento terra. “Então quando tem esse desequilíbrio, você tende a cair no campo. As células irregulares começam a destruir as demais”, explica. Para a terapeuta holística, as principais causas emocionais do câncer são a tristeza e a mágoa. “É lógico que vai ter um monte de fatores ambientais que vão justificar o aparecimento da doença, como radiação e alimentação deficiente”, afirma. “Mas se não tiver a tristeza e a mágoa, o câncer não se desenvolve”. Assim como na teoria Psicológica da Gestalt, o tratamento holístico não trata da doença, mas sim do indivíduo, do seu reequilíbrio como um todo. O meio depende dos diferentes tipos de sintomas que o paciente irá apresentar. “Meu tratamento é completamente voltado para a pessoa, não só no psicológico, como também no físico. Se não tiver desestrutura física, a pessoa não chega a ter a doença”, afirma a terapeuta. “Esse tratamento é feito com homeopatia, em primeiro lugar, e também com ortomolecular”. O princípio fundamental que rege a homeopatia é a lei da similitude: semelhante cura semelhante. Dessa forma, uma vez conhecidos os sinais e sintomas do paciente, torna-se possível medicá-lo com algo pelo qual demonstre semelhança. Já o tratamento ortomolecular (orto=certo, molecular=moléculas – acerto das moléculas) tem o objetivo de restabelecer o equilíbrio químico do organismo, através de substâncias e elementos naturais, sejam vitaminas, minerais ou aminoácidos. “O diagnóstico, eu faço a partir da iridologia e sempre procuro acompanhamento médico: acompanho os exames do paciente e mando análises para os médicos. Nunca faço o tratamento sozinha”, explica a terapeuta. A iridologia é o estudo da íris, parte do olho composta por padrões, cores e características específicas, utilizada para medir condições gerais da saúde de uma pessoa, como doenças e alterações em determinados órgãos. Para a ex-paciente oncológica, Rosa Helena Caixeta, o mais importante durante o período de tratamento é o calor humano. “Foi um período de muita reflexão. Voltei mais para os valores espirituais, coisas que até então não valorizava tanto”, comenta. Ela aconselha às pessoas que têm a doença, que cuidem da auto-estima e que aceitem a doença. “Pois nada acontece por acaso. É importante encarar a realidade, não desesperar e fazer daquele período um aprendizado”, reflete. “E evitar mágoas, depressão, stress e má alimentação”.