DIAGNÓSTICO AMBIENTAL DA SUB-BACIA DO CÓRREGO DA PEDRA BRANCA, ALFENAS-MG DANILO F. TROVÓ GARÓFALO¹ e MARTA FELÍCIA MARUJO FERREIRA² [email protected], [email protected] 1 2 Curso de Geografia – Unifal-MG Professor Adjunto II do curso de Geografia – Unifal-MG Palavras-chave: Alfenas – MG; sub-bacia hidrográfica; dinâmica hidrológica e geomorfológica Introdução Este trabalho teve como objetivo estudar a unidade espacial sub-bacia hidrográfica (que inclui topos, encostas e fundos de vale), no perímetro urbano de Alfenas-MG. Para desenvolver este estudo, a pesquisa se apoiou na análise da dinâmica hidrológica e geomorfológica da subbacia hidrográfica, bem como, dos processos ambientais que promoveram e promovem sua modificação. Nas últimas décadas, o Brasil é palco de intensa eliminação das matas ciliares e conseqüente fragmentação florestal, causando um aumento significativo dos processos de erosão dos solos e alterações na dinâmica hidrológica e geomorfológica dos sistemas ambientais. Estas modificações são perceptíveis quando se constata intensa redução da biodiversidade presente nos sistemas naturais, além da degradação de imensas áreas submetidas a ações antrópicas. A área de estudo corresponde à sub-bacia hidrográfica do córrego da Pedra Branca, delimitada pelas coordenadas de 21º20’ a 21º30’ latitude S e 45º55’ a 46º00’ de longitude W. Por meio da análise ambiental, que tem como objetivo inventariar o meio físico é possível recorrer a diferentes metodologias e abordagens em função das complexidades dos sistemas ambientais naturais. Dentre as diversas opções, este trabalho focou a abordagem da cartografia geomorfólogica. Entendemos que esse enfoque exerce papel fundamental no planejamento ambiental regional. Os estudos geomorfológicos e ambientais quer sejam eles detalhados ou de âmbito regional, atendem as necessidades políticas administrativas e funcionam como instrumento de apoio técnico aos mais diversos interesses políticos e sociais (Ross, 1992). 1 Metodologia Os materiais cartográficos disponíveis sobre a área de estudo constituem de carta topográfica na escala 1:50.000 e produtos de sensoriamento remoto, tais como fotografias aéreas na escala 1:6.000. Além dos materias bibliográficos e cartográficos, utilizou-se também de materias para o suporte técnico, tais como: Esteresoscópio de Espelho, Curvímetro e Bússola. Utilizou-se também dos softwares AutoCad 2009 e Ilwis 3.6. Para a elaboração do mapa da morfodinâmica utilizou-se fotografias aéreas na escala 1:6.000, sendo realizado a fotointerpretação usando estereoscópio de espelho. A representação geomorfológica da sub-bacia da Pedra Branca partiu do quarto táxon proposto por Ross (1992). Os Mapas Hipsométricos e Clinográficos e os Modelos Tridimensionais do Relevo foram elaborados a partir do SIG ILWIS, um software livre, utilizando como base cartas topográficas do IBGE já citadas acima. Para a elaboração do mapa clinográfico, utilizou-se metodologia proposta por Ross (1994). A análise morfométrica da bacia foi feita a partir da avaliação das variáveis morfométricas da rede de drenagem e do relevo utilizando como base cartas topográficas na escala 1:50.000 e fotografias aéreas na escala de 1:6.000. Diversos estudos abordam essa temática, destacando-se os trabalhos realizados por Freitas (1952), Schumm (1956), Christofoletti (1969), Horton (1945), entre outros. Resultados A sub-bacia hidrográfica da Pedra Branca ocupa uma área de 27,7 Km² e é classificada como sendo de 3ª, ordem possuindo tributários de 1ª. ordem no setor à montante quando exibe uma forma alongada. Tributários de 1ª. e 2ª. ordem aparecem no setor médio da bacia, quando a forma desta se amplia e passa a apresentar áreas de agradação do tipo planícies fluviais. A bacia apresenta Índice de Circularidade (Ic) de 0,47 com forma alongada a montante, tendo menor propensão às enchentes quando comparado a uma bacia circular. O índice de sinuosidade (Is) obtido de 1,10 m/m sugere que o córrego da Pedra Branca apresenta trechos retilíneos e trechos meandrantes. Valores superiores a 2,0 são indicativos de canais sinuosos, com grande capacidade de acúmulo de sedimentos. O córrego da Pedra Branca mostra valores inferiores a 2.0, e o índice Relação de Relevo (Rr) calculado, apresenta 0,012% mostrando que a bacia possui gradiente suave, com baixa declividade. 2 Na caracterização do leito fluvial da sub-bacia predominam materiais inconsolidados em seu talvegue e nas áreas alargadas da planície fluvial. Os valores de Densidade de drenagem (1,2Km/Km²), Densidade Hidrológica (0,9 canais/Km²), Coeficiente de Manutenção (833m) e Extensão do Percurso Superficial (416m), corroboram com a caracterização da sub-bacia, favorecendo processos de infiltração e percolação. Estes dados são compatíveis com o Ic que sugere uma bacia pouco sujeita a inundações. As colinas e os morros apresentam topos arredondados e vertentes convexo-côncavas por vezes retilíneas, com o predomínio de interflúvios arredondados e em alguns trechos interflúvios estreitos a arredondados. Esta sub-bacia tem dois interflúvios principais, um que passa pela região central da cidade e outro que passa próximo à pista do aeroporto. Comumente o desenvolvimento de formas côncavas na base das colinas e dos morros, se configura num conjunto de anfiteatros de erosão colmatados por materiais coluvionares provindos das áreas mais elevadas, interdigitados pelos materiais aluvionares das planícies fluviais, apresentando também cones de dejeção na margem direita do córrego interdigitados pelos materiais aluvionares das planícies fluviais. Nestes anfiteatros o ambiente é úmido com solos profundos e intemperizados associado a uma cobertura vegetal mais densa. A cabeceira localiza-se na região sul, percorrendo um eixo até o deságüe no córrego da Ferradura, ao norte, próximo do bairro rural de Gaspar Lopes. De um modo geral, a bacia apresenta um uso predominantemente agropastoril (pastagem, café e culturas temporárias), tendo instalado na sua montante o Campus da UNIFENAS e Zoológico Municipal de Alfenas. A montante e a jusante são os setores que apresentam melhor conservação das matas ciliares nas cabeceiras de drenagem. No seu setor intermediário, no médio curso, observa-se uma ocupação urbana de uso misto, com fins comerciais e residenciais. Um dos principais problemas neste setor da bacia é a existência de algumas casas irregulares, ocupando a faixa de preservação estabelecida no Código Florestal. Outro problema é a localização de um depósito de lixo em uma vertente no setor central da bacia, bem próximo à margem direita do córrego da Pedra Branca. Quanto às áreas de preservação permanente, estas não são respeitadas, ocorrendo apenas em alguns trechos com declividade elevada e de cabeceiras de drenagem. Todavia, a bacia apresenta um fragmento florestal significativo na sua jusante, próximo ao bairro rural Gaspar Lopes. Segundo Garófalo et al. (2008) este fragmento florestal possui uma área de 70,86ha, onde em alguns trechos deste tem ocorrido a presença de gado em seu interior, ocasionando a formação de trilhas, “pisoteamento” da vegetação herbácea e compactação do solo. A compactação dificulta a infiltração de água no subsolo e propicia o escoamento superficial, que 3 pode se tornar concentrado resultando na formação de ravinas alterando a disponibilidade de água e nutrientes no solo. Conclusão As bacias hidrográficas são excelentes unidades de gestão dos elementos naturais e sociais, possibilitando acompanhar as mudanças introduzidas pelo homem e as respectivas respostas da natureza. O Mapa Morfodinâmico permite perceber a interação entre as dinâmicas da sociedade e da natureza através da sua leitura e localização espacial identificando alternativas de melhor gestão do território em estudo. Quando o processo de urbanização é feito sem cuidados para evitar alterações nos processos geomorfológicos e quando existem várias áreas não contempladas com infraestruturar de drenagem de águas pluviais, as alterações nos processos geomorfológicos são intensas e duradouras. Os resultados são acidentes geomorfológicos incluindo erosão acelerada, assoreamento, inundações, e movimento de massas induzidos. Após análise do mapa morfodinâmico da sub-bacia do Córrego Córrego da Pedra Branca, são feitas as seguintes recomendações: • O reflorestamento é indicado na maioria das áreas marginais aos cursos d´água, como forma de recuperação da mata ciliar e contenção do processo erosivo. A vegetação promove maior infiltração das águas da chuva e protege a camada superficial do solo e da erosão associada ao escoamento concentrado; • Construção de galerias pluviais em áreas com ocorrência de ravinas. A água pluvial escoa acompanhando a declividade do terreno, e nesse trajeto, abre sulcos, que rapidamente se transformam em ravinas, que podem passar a voçorocas. A construção de galerias pluviais nessas áreas é prioritária, para disciplinar o caminho das águas. • Nas áreas rurais ou periurbanas, a construção de curvas de nível é imprescindível como forma de se evitar o fluxo concentrado da água superficial, evitando possíveis processos erosivos; • Construção de aterro sanitário em área adequada e recuperação ambiental do atual depósito de lixo; • Tratamento do esgoto lançado nos córregos. Referências Bibliográficas 4 CHRISTOFOLETTI, A. 1969. Análise morfométrica das bacias hidrográficas. Not. Geomorfol., v. 9, n. 18, p.36-64. FREITAS, R.O. 1952. Textura de drenagem e sua aplicação geomorfológica. Boletim Paulista de Geografia. n.11, p.53-57. GARÓFALO, d. F. T. ; FERREIRA, m. F. M. 2008. Caracterização dos fragmentos florestais no sul de minas gerais a partir da elaboração de cartas temáticas utilizando o Diva GIS. GUERRA, a. J. T. E MARÇAL. M. S. 2006. Geomorfologia ambiental. Rio de janeiro: bertand Brasil. HORTON, R.E. Erosional development of streams and their drainage basins: hidrophysical approach to quantitative morphology. Bull. Geol. Soc. Am., n.56, p.275-370, 1945. ROSS, J. L. S. O registro cartográfico dos fatos geomórficos e a questão da toxonomia do relevo. Revista do Departamento de Geografia - FFLCHUSP. São Paulo. n. 6, 1992. ROSS, Jurandyr Luciano Sanches. Análise Empírica da Fragilidade dos Ambientes Naturais e Antropizados. In: Revista do Departamento de Geografia n°8, FFLCH-USP, São Paulo, 1994. Curso de Geologia Aplicada ao Meio Ambiente. São Paulo. ABGE/IPT. p 59-75 SCHUMM, S.A. Evolution of drainage systems and slopes in badlands at Perth Amboy, New Jersey. Bull. Geol. Soc. Am., n. 67, p.597-646, 1956. 5