faculdade teológica do brasil

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FATEBRA
FACULDADE TEOLÓGICA DO BRASIL
“Entidade Educacional Com Jurisdição Nacional”
Professor Dr. Antony Steff Gilson de Oliveira
Reverendo da Igreja Presbiteriana em Renovação do Brasil – IPRB
www.fatebra.com.br
APOSTILA – 24
ESTUDOS SOBRE NOVO TESTAMENTO
TOTAL – 91 PAGINAS
22 - ASSUNTOS!
A dúvida de João
A Fé que Fala (e não Fala) - Tiago 3:1-12
A Fé que Enfrenta Provações - Tiago 1:2-12
A Guerra por Dentro - "Tiago 4.1-6"
A Lei do Espírito da Vida (Romanos)
A serviço de Deus
A Vida Eterna segundo o Evangelho de João
Análise semântica de 1ª Pedro 2: 4 - 10
Choque Cultural: O Mundo e o Céu - Tiago 3:13-18
Cristão Também faz Dieta! - Tiago 1:22-25
Fé e Obras - Tiago 2:14-26 (Parte I)
Fé que Funciona - Tiago 2:14-26 (Parte II)
Feche os olhos e Abra os Braços - Tiago 2:1-13
Lendo Mateus com olhos judeus
Paciência na Provação - Tiago 5:7-12
O “Show do Cristão” - Tiago 1:26-27
O Significado de "Fim da Lei" em Romanos 10.4
Quem me Fez Pecar? - Tiago 1:13-16
Reavivamento Hoje - Tiago 5:13-18
- Tiago 4:13-17
A dúvida de João
Professor Dr. Antony Steff Gilson de Oliveira
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De acordo com o dicionário Caldas Aulete, dúvida significa: "Incerteza, vacilação, hesitação da
inteligência entre a afirmativa e a negativa de um fato, ou de um asserto, como verdadeiro". Mateus
relata que "Quando João ouviu, no cárcere, falar das obras de Cristo, mandou por seus discípulos
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Professor: Rev. Antony Steff Gilson de Oliveira, Pastor da Igreja Presbiteriana em Renovação
do Brasil, Psicanalista Clínico, Mestrando em Teologia
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perguntar-lhe: És tu aquele que estava para vir ou havemos de esperar outro?" (Mt 11.2,3). Alguns
intérpretes acham que não foi João Batista quem duvidou se Jesus era ou não era "aquele que estava
para vir", mas tão somente os discípulos dele (de João). Ele os enviou a Cristo a fim de que a dúvida
deles fosse dissipada. Contudo, essa não parece ser uma interpretação segura. A afirmação de Jesus,
"Ide e anunciai a João" (Mt 11.4), confirma que era João mesmo quem tinha a dúvida.
Em que consistia a dúvida de João? Os judeus tinham a idéia de que o reino vindouro do Messias seria
um reino militarista, nacionalista e materialista. Os judeus pensavam que quando o Messias chegasse
haveria de firmar-se como um grande Monarca, o qual haveria de libertá-los de toda a sua escravidão, e
que elevaria os judeus acima de todos os demais povos, através do que se tornariam eles a raça
conquistadora e proeminente. O próprio João Batista parece ter-se apoiado nesse conceito quando
enviou seus discípulos para fazerem a Jesus a referida pergunta. É como se ele tivesse mandado dizer:
"Eu sei tudo sobre esses milagres que tu fazes, mas quando terá lugar aquele grande acontecimento?".
Jesus respondeu a João citando as Escrituras (Mt 11.4-6), como costumeiramente fazia. Em que sentido
era alentadora esta resposta? Não é verdade que João Batista já sabia tudo isto (cf. Mt 11.2), e que o
fato de o saber havia contribuído substancialmente para criar a dúvida? É verdade, porém, a forma de
Jesus se expressar era nova. Era nova no sentido de que os amigos que informaram João dos milagres de
Cristo não havia usado este tipo de formulação. Por outro lado, a mensagem na forma em que Jesus a
expressou tinha um som conhecido. João devia recordar-se de certas predições proféticas; a saber,
Isaías 35.5,6; 61.1. É como se Jesus dissesse ternamente a João: "Você se lembra destas profecias? Isto
também foi predito acerca do Messias. E tudo isso está se cumprindo hoje em mim".
A mensagem dirigida a João Batista termina com as palavras: "E bem-aventurado é aquele que não
achar em mim motivo de tropeço" (Mt 11.6). Ou seja, quem não permite que nada do que faço ou diga
lhe sirva de laço, o induza a pecar. Ainda que seja correto o ponto de vista segundo o qual nesta
admoestação Jesus estivesse repreendendo João, a repreensão (se é que houve) era tão terna que não
eclipsava em nenhuma forma o amor do Senhor por seu discípulo momentaneamente confuso.
Na verdade, considerada corretamente, a admoestação contém uma bem-aventurança. "Bemaventurado é aquele que...". O Senhor trata tão ternamente a João como o fez com o cego de nascença,
a mulher pega em adultério, Pedro, Tomé, etc. Em vista do modo em que Jesus imediatamente procede
a elogiar João publicamente, e a repreender aqueles que vêem falta neste arauto e nAquele de quem
ele deu testemunho (Mt 11.7-19), temos como certo que a mensagem de Jesus teve o efeito desejado
em João. Porém, o que se destaca é a sabedoria e a ternura de Jesus, e isto tanto na mensagem de
alento dirigida a João como no testemunho dado acerca de João.
A Fé que Fala (e não Fala)
Tiago 3:1-12
ESTUDO SOBRE O NOVO TESTAMENTO
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Certa vez William Shakespeare comentou, "Quando palavras são raras, não são gastas em vão." Outro
erudito disse, "Homens sábios falam porque têm algo para dizer; tolos, porque gostariam de dizer
algo." Um ditado filipino aconselha, "Na boca fechada, não entra mosca." Os árabes oferecem esta jóia
de sabedoria: "Tome cuidado que sua língua não corte seu pescoço."
Salomão em Provérbios nos adverte, No muito falar não falta transgressão, mas o que modera os seus
lábios é prudente (Pv. 10:19)
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Capítulo 3 de Tiago nos coloca na parede e nos desafia a viver uma fé genuína, verdadeiramente cristã.
No final do cp. 2, Tiago nos mostrou como a fé verdadeira manifesta-se inevitavelmente em obras.
Agora, no cp 3, ele mostra que "obras" não são somente o que fazemos, mas também o que falamos. E
não somente o que falamos, mas o que NÃO falamos!
A língua é um músculo com sua origem no coração. Por isso a língua talvez revele o verdadeiro estado
do nosso coração mais rápido que qualquer outra prova de fé genuína listada por Tiago. A língua sou eu.
Eu sou o que a língua fala! Às vezes, soltamos uma palavra tão pesada, que cheira mal, e depois
exclamamos, "De onde veio aquilo?" Mas o fato é que somos assim mesmo. Abaixamos a guarda e
revelamos o verdadeiro eu, mesmo que só por um instante. Assim como Jesus disse, a boca só fala do
que o coração está cheio (Mt 12:34). A língua é o dreno do coração! A língua serve como escape
daquilo que está borbulhando no coração. Por isso, dizemos que É impossível domar a língua
Se Jesus não domar o coração!
Essa é uma mensagem tão simples, mas que precisamos ouvir todos os dias de nossas vidas. O propósito
de Tiago é que sejamos mais sensíveis ao poder incrível da língua, e deixemos que Jesus peneire nossas
palavras, filtre nossa fala e lacre os nossos lábios. Veja o poder da língua em Tiago 3.1-12:
I. A Língua tem Poder para Dirigir (3:1-4)
A língua é poderosa. Esse poder pode ser para o bem ou para o mal. Talvez, por ser tão potente, Deus
prendeu a língua atrás de duas fileiras de dentes e dentro de uma caverna fechada. Tiago nos lembra
que a língua tem um enorme potencial para direcionar vidas.
A. Por quem muito é falado, muito será julgado (3:1,2)
No contexto destas palavras a Igreja primitiva lidava com a valorização e poder dados a quem ensinava e
direcionava os novos grupos de crentes que se formavam. Mas isso representava um perigo. A nova
liberdade em Cristo, que incluía liberdade para falar em culto público, precisava ser bem manejada (1 Co
14:26-34). Assim como Tiago nos lembrou no cp 1, "Todo homem, pois, seja pronto para ouvir, tardio
para falar... "(vs 19).
Os leitores precisavam ficar cientes da seriedade de presumir falar em nome do Senhor.
Conforme o ditado, Quem presume dizer, "Assim diz o Senhor, Deve fazê-lo com temor e tremor."
Tiago não quis minimizar ou desencorajar os dons de falar na igreja (Hb 5:12, Ef 4:11,12; 1 Pe 4:10,11).
Sua advertência é totalmente coerente com o princípio ecoado em Mateus 12:26,27 "De toda palavra
frívola que proferirem os homens, dela darão conta no dia do juízo; porque pelas tuas palavras serás
justificado, e pelas tuas palavras serás condenado."
Há duas razões porque devemos pensar bem antes de assumir a posição de mestre: 1) (Vs 1) O mestre,
pela natureza do serviço, tem que falar muito. Por isso, haverá mais palavras para serem pesadas, mais
potencial para derramar palavras frívolas, inúteis, pecaminosas, enganadoras.
2) (Vs 2) O mestre tem maior responsabilidade, pois influencia a muitas outras pessoas pelo que fala, e
facilmente tropeça no falar. Tem poder para dirigir, ministrar graça, ou enganar para toda a eternidade.
O mestre que não controla sua língua acaba tropeçando sobre a mesma. No mundo da política vemos
isso. Um representante do FMI tropeça sobre sua língua e um país inteiro é colocado em descrédito. Um
político num momento de descuido fala um anti-semitismo e perde uma eleição.
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A mesma coisa pode acontecer com os mestres (professores) na igreja. Temos que medir toda palavra
quando ensinamos ou pregamos. Por isso ensinar e pregar são tarefas tão exaustivas. As vidas de
homens e mulheres estão na balança. Mas o que ele quis dizer com "maior juízo"? (1 Co 3:10-15, 2 Co
5:10, Rm 14:10-12)-Todos nós compareceremos diante do tribunal de Cristo. Não para sermos
condenados (Rm 8:1 diz que isso não existe mais) mas para recebermos os prêmios de Jesus por um
ministério fielmente cumprido. Haverá perda de galardão assim como houve perda de oportunidade
para ministrar graça em nome de Jesus. Não desista! Seu trabalho não é vão. Mas leve a sério esse
trabalho de conduzir os rebanhos do Senhor para pastos verdejantes! b. A língua freada implica em
vida controlada (2b-4) Tanto no caso do "freio na boca do cavalo" quanto a do "leme no navio", vemos
que uma parte pequena mas estratégica é capaz de direcionar algo poderoso e até grande. O freio se
coloca num ponto estratégico, na boca do cavalo. Mesmo pequeno e fraco, consegue direcionar o
cavalo com pouco esforço, até de uma criança. Também, o leme é infinitamente menor em proporção
ao navio, mas assim mesmo , por ficar num ponto estratégico, é capaz de direcionar um transatlântico
como Titanic ou um porta-aviões conforme a vontade de um timoneiro. Assim é nossa língua, pequena
porém estratégica. Conforme vs 2b, se conseguirmos refrear a língua, somos capazes de controlar o
corpo inteiro. Mas como isso é difícil! Quantas vezes eu já quis frear minha língua quando já era tarde
demais! Tantos "foras" que já dei! A nuvem de palavras mortíferas tende a pairar sobre nós até hoje,
como uma nuvem preta. Mas uma vez que as palavras escapam de nossa boca, é impossível chamá-las
de volta. É realmente desesperador soltar palavras e depois ficar impotente enquanto assiste o estrago
que elas fazem. Por isso temos que freá-las o quanto antes.
Palavras como...
*Fofoca *Um "corte" no meu irmão *Ódio *Obscenidade
*Piadas sujas *Ira *Palavrão *Blasfêmia *Vingança *Inveja
Nosso desespero, é semelhante ao daquele motorista no volante de um carro que de repente começa a
derrapar, perde o controle. Ele tenta frear, mas já é tarde demais.
II. A Língua Tem Poder para Destruir (5-8) A. Quem a língua solta causa grande revolta. (5,6)
A Palavra de Deus nos adverte contra a destruição causada pela língua. Ao mesmo tempo nos encoraja
pelo potencial que esta mesma língua tem para transmitir vida e graça para pessoas desanimadas.
A morte e a vida estão no poder da língua;
o que bem a utiliza come do seu fruto.
A língua serena é árvore de vida,
mas a perversa quebranta o espírito (Pv. 18:21, 15:4).
Em algumas épocas do ano encontramos ao longo das nossas rodovias incêndios quase todos os dias.
Isso devido ao descuido de alguns, que sem querer ou não jogam seu cigarro pela janela. Uma pequena
faísca acaba destruindo hectares de floresta e terras gramadas.
Em Chicago, nos Estados Unidos, no ano de 1871, um lampião num celeiro deixou 125.000 pessoas semteto, destruiu 17.500 prédios e matou 300 pessoas. Já na Coréia, em 1903, 2,6 km2 foram queimados
quando algumas brasas na cozinha causaram um incêndio que destruiu 3000 edifícios.
O poder destrutivo das palavras é visto no livro em que Hitler declarou sua filosofia nazista, Mein Kampf.
Na II Guerra Mundial, as filosofias expressas naquele livro levaram à morte de 125 pessoas para cada
palavra do livro.
Uma vez que a faísca da língua ascende o fogo, é extremamente difícil pará-la, até que tenha destruido
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tudo em seu caminho. É assim com as nossas palavras. Uma pequena palavra mal-colocada, na hora
errada, pode destruir uma vida. Uma palavra de crítica destrutiva; uma fofoca; uma colocação verídica
mas cruel, sem tato, pode desmontar uma pessoa, uma família, uma igreja. Pior, a língua alimenta a si
mesma. E assim como a língua, o fogo só precisa de oxigênio e combustível para queimar
incessantemente . Com um pouquinho de fôlego, nossa fofoca, nossa reclamação, nossa murmuração,
encontra bastante respaldo para queimar palavras para sempre. Precisamos evitar este fogo antes que
comece!
Pois este fogo, provocado pela nossa língua, começa rapidamente e quando percebemos já se alastrou.
Ela é descrita como fogo, consumindo. É um mundo de iniqüidade, que causa a maioria dos problemas
que enfrentamos na igreja hoje, pois contamina todo o corpo, incendiando, destruindo a vida das
pessoas. É influenciada e incendiada pelo próprio inferno, porque o diabo é fofoqueiro, mentiroso e
acusador. Nenhum membro do corpo humano tem tanto potencial para o mal!
Será que minha língua tem sido instrumento de desencorajar, desestimular, ridicularizar, gozar, e
destruir? Meu cônjuge? Meus filhos? Meus pais? Meu pastor? Meus vizinhos? Meu patrão? Será que já
incendiei vidas pelo poder destrutivo da minha língua?
B. A língua venenosa é muito perigosa (7,8);
Viver com a língua é como dormir com uma cascavel. Pode até parecer que está tudo sob controle, mas
na hora em que você menos espera, ela dá o bote.
A natureza da língua é venenosa, mortífera, indomável. Mesmo que o homem consiga domar animal,
ave, réptil e peixe, ninguém de nós é capaz de conter nossa língua.
Mas aqui entram as boas notícias. Jesus pode domar a língua porque Ele transforma o coração. O
mesmo Jesus, que habita em nós pelo Seu Espírito, quer converter nossa boca! Já ouvi histórias de
homens profanos, que cada palavra que saía de seus corações eram palavrões ou piadas sujas, mas que
Jesus transformou completamente. Famílias desmontadas, foram reconstruídas por Jesus.
Cristo vive em nós. Ele deseja usar nossa boca como um instrumento para a glória dEle e edificação de
vidas. Não para destruir, mas para edificar. Pense: "O que Jesus falaria?"
Em seu livro, "War of Words" (Guerra de Palavras), Paul Tripp aplica essas idéias ao contexto da família:
Enquanto escrevo esse livro, fico triste pensando sobre quanta conversa em minha família não reconhece
a seriedade que [a Bíblia] dá [à língua]. Não, não temos brigas feias, mas há muitas palavras
impensadas, cruéis, irritantes e de reclamações faladas todos os dias.
Creio que somos como muitas famílias cristãs-minimizamos esses "pequenos" pecados da fala porque
nosso lar está livre de abuso físico e verbal, e realmente nós nos amamos. Mas... palavras que " mordem
e devoram" são palavras que destroem. Não são "tudo bem". Então precisamos fazer tudo possível para
dar às nossas palavras a importância que a Bíblia as dá, lembrando que Deus diz que prestaremos contas
de cada palavra frívola. (202)
Peça a Deus que peneire as palavras da sua família, especialmente ao redor da mesa, no carro, naqueles
momentos de confraternização. Desafio aos pais que vigiem o que é falado em sua casa essa semana,
clamando a Deus que transforme toda fala em casa.
III. A Língua tem Poder para Dividir (9-12)
A língua dividida significa fonte corrompida, e que algo está errado com o coração!
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A língua é a fonte que jorra hipocrisia e falsidade; é o auge da esquizofrenia verbal. É incoerente,
dividida, como língua de cobra. Da mesma boca podemos cantar louvores na igreja e destruir nosso
cônjuge no caminho para casa. Podemos dar uma aula de EBD e logo em seguida detonar a vida de um
filho. Isso é errado! Mas esse tipo de incoerência é típica da língua. Não significa, necessariamente, que
não somos convertidos. Significa que a conversão do nosso coração ainda não alcançou os lábios.
Seria impossível para uma fonte natural produzir água doce e amargosa ao mesmo tempo (11).
Seria impensável colher azeitonas de uma figueira (12), ou fonte de água salgada dar água doce.
Mas a língua pode. A mesma língua, como no caso de Pedro, pode declarar uma revelação celestial para
Jesus, "Tu és o Cristo, o filho do Deus vivo" e na próxima sentença ser reprovado pelo próprio Jesus por
ter falado palavras do inferno, "Arreda! Satanás" (Mt 16:17, 23).
Fico imaginando se Tiago, meio-irmão do próprio Senhor Jesus, lembrava da sua juventude, e a maneira
pela qual ele e seus outros irmãos tratavam o irmão mais velho, Jesus. Imagine como seria ser irmão
mais novo de Jesus! Quantas palavras desgraçadas teriam escapado de sua boca, quando ainda não
acreditava que Jesus era o Cristo. Palavras venenosas, diabólicas, talvez um "dedo-duro", com acusações
falsas, ciúmes, vingança, ódio. Afinal de contas, não teria sido fácil ser um irmão de Jesus. Imagine seus
pais falando, "Tiago, por que você não pode ser como Jesus?"
Mais tarde, tudo mudou. A fonte poluída foi transformada. Água salgada virou doce. O meio-irmão
incrédulo, zombador, se tornou líder da igreja em Jerusalém e autor dessa epístola maravilhosa. Tiago
destaca que uma fé genuína implica em mudanças radicais (literalmente) na língua! A mudança "radical"
significa uma mudança de raiz, ou seja, do coração. O coração controla a língua. Quando Jesus
transforma o coração, mudanças têm de acontecer na língua. Às vezes, essas mudanças demoram.
Significa que ainda existem sujeiras no encanamento. Mas geralmente uma fonte cristalina tem que
produzir palavras cristalinas.
Você já reparou no poder das palavras para fazer bem ou mal? Consegue se lembrar de uma vez em que
você foi desmontado por uma palavra desgraçada? Por outro lado, lembra-se de alguma vez em que
alguém falou uma palavra de encorajamento que mudou toda a sua perspectiva de vida?
Somos pecadores por natureza, e a tendência natural é de fofocar, resmungar, criticar, xingar,
blasfemar. Mas foi por isso que Jesus veio para este mundo-- para resgatar a língua do homem. Para
isso, precisava fazer um transplante--não da nossa língua, mas do nosso coração, pois a língua só fala do
que o coração está cheio. A morte e a ressurreição de Jesus tiveram como alvo transformar o coração
daqueles que depositam sua confiança (fé) nele (e só nele) para a vida eterna. O resultado deve ser uma
transformação de vida, a começar com a raiz (o coração) até o fruto (a língua)!
Como, então, desativar esta bomba entre nossos lábios? A resposta bíblica é de pesar, pensar e peneirar
nossas palavras. Em outras palavras, falar pouco e falar bem o que falamos.
É impossível domar a língua, se Jesus não domar o coração.
A Fé que Enfrenta Provações
Tiago 1:2-12
ESTUDO SOBRE O NOVO TESTAMENTO
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Certa vez um grupo de mulheres queria saber como eram confeccionadas as jóias que elas tanto
apreciavam. Foram, então, visitar um ourives. Chegando ao local onde o ourives trabalhava, puderam
observar como ele queimava a prata no fogo cuidadosamente a fim de torná-la pura.
Depois de um tempo observando seu trabalho, ficaram admiradas com a precisão com que ele lidava
com o metal precioso, tirando-o no momento exato de sua boa têmpera. Elas lhe perguntaram como ele
podia saber quando chegava a hora certa de retirar a prata do fogo, visto que ele já lhes tinha dito que
se deixasse a prata tempo demais no fogo ela seria destruída. Ele disse que era bem simples, que havia
um "macete" para descobrir a hora certa. Era quando ele podia ver a sua própria imagem refletida na
prata, isto, então, indicava que já era hora de tirá-la.
A imagem do ourives refletida na prata indica que ela já está purificada. Da mesma maneira a Palavra de
Deus nos sugere que o Senhor quer ver sua imagem refletida em nós (Rm 8.29). E por coincidência ele
também nos purifica com o "fogo das provações" para atingir seu propósito. O "fogo das provações"
vem das mais diversas áreas de nossa vida: finanças, saúde, problemas familiares, vizinhos, trabalho e
escola.
Porém, se sabemos que o fogo das provações nos purifica, como devemos reagir a ele? Será que há
alguma porção das Escrituras que nos ajude a reagir positivamente diante das provações a fim de que
Deus complete sua obra em nós? Sim, existe. Na verdade existe um livro que pode nos ajudar muito.
O livro chama-se Tiago, e mesmo pequeno, é um gigante em termos da sua mensagem para a vida e
ética cristã hoje. Tiago apresenta para nós provas de uma fé genuína, testes que vão tirar a escória da
nossa fé e fazer com que a imagem de Cristo Jesus seja cada vez mais nítida em nós. Tiago dispensa das
saudações preliminares e vai direto ao assunto:
Meus irmãos, tende por motivo de toda a alegria o passardes por várias provações (1.2)
Como, porém, Tiago pode nos dizer imperativamente que devemos ter alegria em meio à provação, se
ela é tão ruim para nós? É porque ele sabe que o verdadeiro crente crê que Deus torna isto possível. Fé
é um verbo ativo que está no tempo presente! Mas Tiago não pára por aí. Ele também nos ajuda de
forma prática para enfrentarmos as provações. Ele nos dá cinco passos pelos quais enfrentaremos a
refinação da nossa fé pelo fogo da provação.
1. Primeiro Passo: A Fé Verdadeira Enfrenta Provações com Alegria (1:2,3)
A primeira prova talvez seja a mais difícil. Uma fé pura consegue enxergar a mão invisível de Deus
tirando o máximo proveito do fogo das provações. A fé se alegra porque sabe que a provação tira as
imperfeições da nossa fé. Confia única e exclusivamente em Deus e pede sabedoria dEle para poder tirar
o mesmo proveito das tribulações da vida. Fica resoluta, sem vacilar, em meio às dificuldades. Ter
alegria quando chega os momentos difíceis não significa que provações são divertidas ou engraçadas.
Não significa que temos algum complexo de martírio ou somos sado-masoquistas. A idéia é de uma
avaliação cuidadosa, racional, pensada, madura, que vê a longo prazo e reconhece o benefício que as
provações trazem consigo. Por exemplo, a mulher que está para dar a luz sabe muito bem que deve
suportar a dor do parto para ter a alegria de ver seu filho nascer; o atleta sabe que tem de treinar
muitas horas por dia para ter a alegria de vencer a maratona. Na verdade, precisamos aprender a
suportar as dores da provação hoje para termos a alegria de colhermos seus doces frutos amanhã. Esta
deve ser a razão principal por que provações são motivo de alegria. Reconhecemos que a mão de Deus
está sobre nós, que Ele é maior que a provação, que não escapa nada de seu controle, que Ele é capaz
de produzir um bem muito maior (cp. José Gn 50:20).
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2. Segundo Passo: A Fé Verdadeira Enfrenta Provação com Perseverança (1:4)
Podemos definir alguém perseverante como uma pessoa disposta a ficar "debaixo" até o fim.
Provações somente são motivos de alegria se continuarmos firmes até ao fim. Temos que permitir que
Deus faça a obra completa pelo fogo da provação.
Não significa que não vamos tentar sair do sofrimento, pois não somos mártires. Assim como a mulher
pode fazer tudo para aliviar a dor do seu parto, nós também podemos fazer tudo para aliviar a dor, mas
sem pecado.
Precisamos entender que as provações que vêm da parte de Deus têm o objetivo de desenvolver a
nossa fé. Por exemplo, quando passamos por problemas financeiros, Deus quer nos ensinar a ser bons
mordomos daquilo que Ele mesmo tem confiado a nós. Mas é verdade também que o diabo se
aproveita de situações como esta e vem nos tentar, para sacrificarmos alguns princípios éticos e dessa
maneira desagradarmos ao Senhor.
Os atletas são o melhor exemplo de perseverança para nós. Eles treinam muitas horas para alcançarem
seu prêmio. São perseverantes em repetir todos os dias aqueles exercícios físicos que os condicionam
para a vitória. O treinamento em si com certeza não é muito agradável, pois consome muito tempo de
sua semana e também traz consigo dores para o corpo. Porém, no dia da vitória eles nem se lembram
mais destas dores de que foram "obrigados" a suportar. A perseverança produz uma fé vibrante, forte,
completa e íntegra.
3. Terceiro Passo: A Fé Verdadeira Enfrenta Provação com Súplica (1:5)
Quando enfrentamos provação, normalmente vamos descobrir que nos falta algo . Ela revela
impaciência, incredulidade, fraqueza, ira e desânimo. Porém o que mais nos falta é sabedoria-não
necessariamente para saber a razão pelo sofrimento (quase nunca descobrimos isso) mas para saber
como responder quando percebemos as falhas do nosso coração. E o que fazer nesta situação? Orar!
Suplicar a Deus por sabedoria para poder lidar com a provação da forma correta.
É comum ouvirmos este versículo fora de seu contexto sendo usado como um pedido generalizado por
sabedoria. Acredito que isto seja válido, pois Deus sempre se agrada de pedidos por sabedoria, porém, a
ênfase do texto está no pedido por sabedoria em meio a tribulação. A nossa primeira opção em tempos
difíceis é voltarmos nossa face para Deus, confiante de que Ele há de responder com liberalidade.
Aprendemos algo importante sobre nosso Deus-Sua natureza é generosa! O texto grego literalmente diz
"o dando-Deus". Ele não fica incomodado, irritado ou bravo quando clamamos, suplicamos e o
importunamos dia após dia por sabedoria para enfrentar uma situação insuportável. Ele se agrada de
filhos que O procuram dessa maneira.
4. Quarto Passo: A Fé Verdadeira Enfrenta Provação com Fé (1:6-8)
Mas existe um "porém" no texto. Podemos pedir, mas o pré-requisito é a FÉ. Não é uma fé cega, mas
que tem olhos espirituais abertos para compreender e confiar na natureza de Deus. O ponto da
provação é para desenvolver nossa fé. Então o que adianta suplicar a Deus mas sem fé de que Ele se
importa e de fato responde às orações que lhe fazemos?
O ponto da provação é estabilidade, firmeza, convicção e maturidade. Mas a dúvida leva para
instabilidade, agitação, inconstância-assim como as ondas dirigidas pelo vento. Essa pessoa já começa
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derrotada.
5. Quinto Passo: A Fé Verdadeira Enfrenta Provação com Esperança (1:9-12)
Os últimos versos deste parágrafo parecem fora do lugar, mas de fato fazem parte do argumento. Por
que Tiago começa falando sobre o pobre e o rico? O que tem a ver?
Os leitores, na grande maioria, eram pessoas pobres. Precisavam reconhecer que a provação era algo
temporário, transitório e superficial. Mesmo em condições humildes, tinham uma posição em Cristo de
dignidade. Em outras palavras, havia esperança para os pobres. Essa vida não é o fim!
O rico, por outro lado, precisava compreender que suas riquezas eram insignificantes à luz do grande
esquema do universo. Não garantiam nada em termos da eternidade. De fato, suas riquezas eram
superficiais, instáveis e superficiais. Quem depende de posses e bens para seu "estatus" diante de Deus
está em sérios apuros.
O último versículo conclui essa parte sobre a prova da provação, mostrando que havia, sim,
possibilidade para o futuro. Quem persevera em Cristo em meio as provações revela uma fé vibrante,
viva e eficaz. No final do processo, terá o galardão chamado "a coroa da vida".
Entendo que o galardão é a vida, ou seja, que essa pessoa terá o alívio final de todos os seus
sofrimentos numa vida sem fim.
Conclusão:
Sei que muitos estão sentindo o fogo do ourives em suas vidas. Mas todo esse processo significa que
Deus encontra em nós uma fé como brilhante, que vale a pena trabalhar. Será que você e eu estamos
permitindo que Deus trabalhe, mas trabalhe mesmo, a nossa fé? Estamos dispostos, ao encontrarmos o
ensino do livro de Tiago, a deixarmos que o Ourives termine seu trabalho em nós?
"Aumenta minha fé!
Revele Seu Filho em mim."
As provas de uma fé genuína são oportunidades para aqueles que realmente são filhos de Deus
desenvolverem sua vida cristã. São oportunidades para dizer "SIM" ao Espírito Santo, movidos pela
Palavra de Deus.
Lembre-se:
Fé é um verbo ativo... no tempo presente.
A Guerra por Dentro
Tiago 4:1-6
ESTUDO SOBRE O NOVO TESTAMENTO
Professor Dr. Antony Steff Gilson de Oliveira
Reverendo da Igreja Presbiteriana em Renovação do Brasil – IPRB
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Conforme o relato bíblico, o mundo começou em paz, e terminará do mesmo jeito. Mas, se existe uma
característica que define a raça humana entre o começo e fim, é a palavra “CONFLITO”. Desde o
momento da primeira briga conjugal, quando Adão gritou “Foi a mulher que Tu me deste”; desde a
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rivalidade entre os irmãos gêmeos, Caim e Abel, que culminou no primeiro assassinato; incluindo
guerras praticamente ininterruptas durante milhares de anos. São conflitos causados pela natureza
humana. Essa natureza faria qualquer coisa para conseguir o que quer, inclusive eliminar qualquer um
que bloqueie seus sonhos e ideais.
É isso que Tiago 4.1-6 nos ensina:
1 De onde procedem guerras e contendas que há entre vós? De onde, senão dos prazeres que militam
na vossa carne?
2 Cobiçais e nada tendes; matais, e invejais, e nada podeis obter; viveis a lutar e a fazer guerras. Nada
tendes, porque não pedis;
3 pedis e não recebeis, porque pedis mal, para esbanjardes em vossos prazeres. 4 Infiéis, não
compreendeis que a amizade do mundo é inimiga de Deus? Aquele, pois, que quiser ser amigo do
mundo constitui-se inimigo de Deus.
5 Ou supondes que em vão afirma a Escritura: É com ciúme que por nós anseia o Espírito, que ele fez
habitar em nós?
6 Antes, ele dá maior graça; pelo que diz: Deus resiste aos soberbos, mas dá graça aos humildes.
Infelizmente, algumas pessoas são infiéis a Deus quando flertam com o mundo, quando paqueram
valores terrenos, quando dão a mão para a ambição, quando abraçam a cobiça. Mas nosso Deus não
aceita concorrentes. Sua aliança com Seu povo exige EXCLUSIVIDADE!
Versículo 4 começa chamando os leitores de “infiéis”. A palavra é “adúlteros”, uma palavra forte e
inesperada, mas que tem raízes fortes no Velho Testamento. O povo de Israel foi acusado de adultério
espiritual pelo fato de ter abandonado o Deus da aliança. Era uma “esposa” que dividia sua atenção
entre dois amores.
Deus não aceita uma esposa de tempo parcial. Seu senhorio é total. Deus não quer um pedaço, mas
tudo. O amigo do mundo não pode ser amigo de Deus.
No parágrafo que começa no v. 1, Tiago traça para nós o fruto ruim de guerras, brigas e conflitos até a
raiz podre de egoísmo desenfreado, cobiça, inveja, mundanismo. Ele nos mostra que nossa atitude para
com o mundo revela nosso coração.
A fé verdadeira manifesta-se numa vida transformada, de forma presente e ativa. Esse texto nos desafia
a rejeitar a cultura desse mundo e abraçar os valores de Deus. Vamos traçar a patologia de conflitos
entre nós: A causa, as conseqüências, e a cura para conflitos humanos . . .
I. A Causa de Conflito Humano: Cobiça (1-2)
O texto começa com uma pergunta retórica que expõe nosso coração, e provoca uma reflexão mais
filosófica. De onde vem as guerras, os conflitos, as conflagrações entre homens?
Seja uma briga de duas crianças que querem o mesmo brinquedo, seja no serviço, entre funcionário e
patrão, ou entre motoristas no meio do trânsito; sejam batalhas travadas entre pais e filhos, marido e
esposa, ou, entre nações as guerras e invasões—qual a raiz desses conflitos?
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O mundo oferece muitas respostas. Alguns diriam que o problema está no ambiente. Que temos que
modificar o comportamento do ser humano proporcionando-lhe um ambiente mais ameno.
Outros como Marx diriam que todos os conflitos vêm por causa de opressão econômica. Talvez Freud
diria que conflito é o resultado de inibições sexuais e repressão religiosa. Mas Deus deixa muito claro
que o problema vem de outra fonte. Vem do coração humano. Vem da cobiça.
Vss 1 e 2 dizem que o conflito humano vem dos prazeres carnais dentro de nós (1), da inveja que temos.
Há três termos nesses versículos que descrevem essa idéia de cobiça:
1. A palavra “prazeres” é a mesma que nos deu palavras como “hedonismo” ou “hedonista”.
Identifica pessoas que vivem pelo prazer. Os prazeres em nossos corações tornam-se ídolos que
dominam nosso pensamento, nossos sonhos. Conflitos surgem quando um interfere com o belo prazer
do outro.
2. A palavra “cobiça” representa desejo forte. Normalmente tem uma conotação negativa, um desejo
tão forte que domina toda nossa vida, todo nosso pensamento. Ficamos com uma obsessão ou fixação
por aquilo que desejamos.
Cobiça é um pecado tão malvado quanto o diabo, cuja cobiça custou-lhe o céu. É um pecado tão velho
quanto a raça humana, pois foi no Jardim do Éden que o primeiro casal, num ambiente perfeito-- em
perfeita comunhão com Deus, sem inflação, sem poluição, sem impostos, sem pedágios, sem IPTU-mesmo assim queria mais.
“Quanto você precisa para realmente ficar contente?” alguém perguntou certa vez para o homem mais
rico no mundo. “Somente mais um dólar” foi sua resposta.
Uma interpretação meramente superficial dos primeiros 9 dos 10 mandamentos talvez levaria alguém a
pensar que fosse capaz de cumpri-los. “Não furtarás, não mentirás, não matarás . . .” Mas quando
chegamos ao décimo mandamento, Deus deixa claro que Sua vontade vai foi muito além do superficial.
Deus quer nosso coração. O décimo mandamento diz, “Não cobiçarás.” Esse mandamento expõe nosso
coração como realmente é: sujo, enganoso, cobiçoso, invejoso. Essa é a função da Lei. A Lei mostra
minha incapacidade de obedecer a Deus. Expõe a natureza humana, e me impulsiona até a Cruz.
Por isso, para viver em paz, preciso deixar que Deus arranque meu velho coração, que me faz pecar, e
que troque-o por outro.
3. A palavra “invejais” (“invejais, e nada podeis obter”) é a mesma usada em 3:14 (inveja amargurada), e
vem de uma palavra que fez surgir nossa palavra “zelo”. A idéia é que temos zelo (ambição), por nós
mesmos, e faremos o que julgamos necessário para conseguir o que queremos, quando queremos e
como queremos.
Cobiça e inveja sempre são pecados cometidos de forma vertical, de baixo para cima. São pecados de
comparação em que olhamos sempre para o que os outros “acima” de nós têm, e que desejamos.
Poucas vezes fazemos o contrário, olhando para baixo e reconhecendo como somos bem-aventurados.
Por isso precisamos sondar e guardar nosso coração, que é altamente enganoso. Precisamos descobrir
se porventura estamos sendo seduzidos pelas cobiças, pelos desejos, pela inveja, levando-nos a
comprometer valores bíblicos. Quando Deus, em Sua infinita graça, revela-nos nosso coração, quando
percebemos que boa parte da causa dos conflitos está dentro em mim, então já estamos andando em
direção da cruz de Cristo. Só Ele pode nos libertar de nós mesmos.
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II. As Conseqüências do Conflito Humano (2-3)
Há pelo menos duas conseqüências que o texto aponta como resultado da nossa cobiça
1. Mãos vazias (2,3)
Cobiça nunca é o caminho correto para satisfazer nossos desejos. O caminho mais garantido para NÃO
receber o que tanto deseja é egoísmo, brigas, contendas, conflitos, cobiça e inveja. Quando crianças
brigam por um brinquedo, muitas vezes ambas acabam perdendo o direito de usá-lo. Quando adultos
processam um ao outro, muitas vezes o único que ganha é o advogado deles! Quando nações se
enfrentam em guerra civil, todos perdem. Pessoas cobiçosas muitas vezes acabam com as mãos vazias!
Depois das nossas brigas, mesmo quando saímos vitoriosos, o que ganhamos? Valeu a pena mesmo?
Será que valeu ter relacionamento quebrados, uma úlcera criada, noites sem sono? Será que o caminho
de contendas e cobiça trazem algum fruto bom? Ganhamos a batalha mas perdemos a guerra!
Conflito humano também é caracterizado pela independência de Deus. A pessoa quer conseguir o que
quer do SEU jeito. Manipula, prepara o esquema, orquestra todos os detalhes. Mas esquece do mais
básico: pedir a Deus. “Nada tendes, porque não pedis; pedis e não recebeis, porque pedis mal, para
esbanjardes em vossos prazeres” (4.2,3; veja 1:5)!
E quando pede, é de forma egoísta. Nenhuma oração egoísta pode ser feita “em nome de Jesus”.
Oração “em nome de Jesus” é oração feita conforme Jesus faria. E Jesus vivia sua vida para servir aos
outros, não para satisfazer seus próprios desejos!
Na igreja, vemos os resultados de conflitos em divisões, facções e irmãos que nada têm a ver um com o
outro. Talvez ganhemos uma discussão, uma posição, uma opinião, mas perdemos o irmão.
No mundo, um país ganha um pouco mais de território, um pouco mais de dinheiro, mas a que custo?
Quantas pessoas morrem para assegurar esses benefícios? Quantas mães perdem seus filhos? Quantas
mulheres ficam viúvas? Quantas crianças órfãs? Significa que guerra sempre é errada? Não, há ocasiões
em que guerra se torna necessária para proteger vidas. Mas muitas vezes, sua raiz é cobiça humana que
resulta em mãos e corações vazios.
Isso nos leva para a segunda conseqüência de conflito humano:
2. Morte
Quando a cobiça individual junta-se a outros pecados, o resultado é guerra. Guerra leva para morte.
Morte enche o inferno. E o inimigo fica contente. Sua rebelião, sua causa, avança. A guerra mais
sangrenta, na história, foi a II Guerra Mundial: 56,4 milhões de pessoas morreram para satisfazer a
cobiça de um grupo de homens que queriam controlar o mundo Para que?
Mas guerra civil é pior ainda. A Rebelião de Taiping na China, matou 20 milhões de compatriotas! A
Guerra Civil dos Estados Unidos foi a mais triste em toda a sua história.
O DIABO ESTÁ ENCHENDO O INFERNO COM AS ALMAS DE PESSOAS VÍTIMAS DE SUAS PRÓPRIAS
COBIÇAS.
Talvez você pense que sua cobiça nunca matou ninguém. Mas Jesus disse que cada um que se irar
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contra seu irmão, já matou-o em seu coração (Mt 5:21,22). A diferença entre Guerra Mundial e meus
conflitos é que eu tenho uma língua e não uma bomba nuclear como arma principal.
Matamos o caráter de outras pessoas. Matamos sua reputação. Por que? Porque queremos o que elas
tem. Ou porque bloquearam nossos sonhos.
III. A Cura para Conflito Humano (4-6)
A cura para conflito humano tem que ser aplicado onde reside o problema: no coração. Somente um
espírito dependente e humilde, que busca em Deus tudo que precisa para vida, é capaz de resolver os
conflitos humanos.
Tiago aponta as atitudes necessárias para contrariarmos a tendência humana de cobiçar e brigar:
1. Lealdade (4,5)
Conflitos naturalmente se levantam quando a nossa lealdade fica dividida. Adúlterio talvez seja a maior
ameaça que um casal pode enfrentar. A pior praga que uma nação pode experimentar é guerra civil. É
como um organismo cujo sistema imunológico começa a atacar seus próprios órgãos até matar o corpo.
Uma casa dividida contra si mesma não pode permanecer.
Por isso, nossa lealdade a Deus, nossa amizade com Ele, toma precedência sobre tudo. Amizade com o
mundo requer inimizade com Deus (vs. 4).
O V. 5 é de difícil interpretação: “Ou supondes que em vão afirma a Escritura: É com ciúme que por nós
anseia o Espírito, que ele fez habitar em nós?”
À luz do contexto imediato, que fala de adultério espiritual, parece que a idéia é mais ou menos assim:
Deus colocou em nós o Espírito Santo, pelo qual temos a adoção como filhos de Deus. É um espírito
filial, que clama “Abba, Pai”. É um Espírito de relacionamento, que se entristece quando nós nos
distanciamos de Deus e dos irmãos. É um Espírito que provoca em nós uma inquietação quando
deixamos nosso primeiro amor, e seguimos a outras paixões que não sejam Deus.
Nesse sentido o Espírito fica com ciúmes do nosso primeiro amor.
2. Humildade/Graça
O parágrafo termina destacando o dom gratuito de Deus para com aqueles que buscam nEle o que
precisam. Não precisamos lutar. Não precisamos manipular. Não precisamos assassinar o caráter
daqueles ao nosso redor. Não precisamos fazer um show. Não precisamos usar máscara. Precisamos ser
humildes. Dependentes. Precisamos clamar ao Senhor com nossas necessidades. Precisamos pedir “em
nome de Jesus”— conforme Seu desejo, sempre dentro da ética bíblica que exalta o outro acima de nós
mesmos. Precisamos clamar pela graça dEle, seu amor não merecido.
O filósofo Epicuro disse, “Para fazer um homem alegre, não aumente suas posses, mas limite seus
desejos. A cura para conflito humano está aqui, em humildade e dependência do Senhor. “Os humildes
recebem o que os arrogantes cobiçam.”
A cura para cobiça e conflitos humanos não é conseguir mais, é desejar menos; não é achar sua
satisfação em coisas, mas no Criador. Não é lutar para vencer pelo esforço, mas depender para vencer
pela graça.
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Amizade com o mundo é inimizade com Deus!
A LEI DO ESPÍRITO DA VIDA
ESTUDO SOBRE O NOVO TESTAMENTO
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"Portanto, não existe mais condenação para aqueles que estão em Cristo Jesus. A Lei do Espírito da vida
em Cristo Jesus te libertou da lei do pecado e da morte. De fato -- coisa impossível à Lei, porque
enfraquecida pela carne -- Deus, enviando o seu próprio Filho numa carne semelhante à do pecado e em
vista do pecado, condenou o pecado na carne, a fim de que o preceito da Lei se cumprisse em nós que
não vivemos segundo a carne, mas segundo o espírito. Com efeito, os que vivem segundo a carne
desejam as coisas da carne, e os que vivem segundo o espírito, as coisas que são do espírito".
Romanos 8:1-5
ÍNDICE ANALÍTICO
Capítulo 1 - A Liberdade Cristã
Capítulo 2 - Não Há Nenhuma Condenação
Capítulo 3 - Paulo, Servo de Jesus
Capítulo 4 - O Coração das Escrituras
Capítulo 5 - Pela Graça, Dom de Deus
CAPÍTULO 1: A LIBERDADE CRISTÃ
Tecnicamente, temos aqui dois blocos de textos: um maior, que é o capítulo 8 inteiro, cuja temática é a
da vida cristã sob a lei do Espírito; e um bloco menor, que vai do versículo 1 ao 11, e que trata
especificamente da vida emancipada por esta lei do Espírito.
O texto em análise está dentro desses dois blocos, que nos dão a linha de pensamento do autor: uma
seqüência de análises sobre a vida emancipada (vs.1-11); a vida exaltada (12-17); a vida esperançosa
(18-30); e a vida exultante (31-39). Dessa maneira, "neste capítulo, o apóstolo traça o curso da vida
cristã, na qual a graça triunfa sobre a lei, e os crentes experimentam livramento do pecado".1
A epístola de Paulo, como um todo, enfoca três blocos temáticos: do capítulo 1 ao 8, fala da justificação
pela fé; do capítulo 9 ao 11, discute a exclusão temporal dos judeus e a inclusão dos gentios ao povo de
Deus; e do capítulo 12 ao 16, exortações práticas.
Ao analisar a justificação, mostra que a salvação do homem repousa fundamentalmente sobre a fé,
proveniente da graça de Cristo e não na lei de Moisés. Essa misericórdia de Deus não depende da lei,
porque o homem, em sua natureza pecaminosa, não tem como responder efetivamente às exigências
da lei, que expressa a santidade de Deus. Assim, a graça provem de Cristo, que no seu amor e sacrifício,
perdoa os pecados dos homens. A liberdade da vida cristã, liberdade diante da lei, não depende do
próprio homem, nem do que ele possa fazer, mas daquilo que Cristo já fez por ele.
Há uma outra epístola de Paulo, que também trata dessa relação lei versus graça, que é a carta escrita
aos Gálatas, onde o capítulo correlato a Romanos 8 é Gálatas 5. Ali, o apóstolo escreve sobre a
justificação pela fé, falando da liberdade cristã.
Sem dúvida, a análise de Paulo parte de elementos vetero-testamentários, que descreve no capítulo 4
de Romanos, ao explicar que a promessa feita a Abraão teve por base a fé, já que ainda era incircunciso
e não tinha a lei, enquanto formalização apresentada a Moisés.
A passagem analisada encaixa-se perfeitamente não somente na linha geral de pensamento do autor,
mas dentro do ensinamento bíblico como um todo.
CAPÍTULO 2: NÃO HÁ NENHUMA CONDENAÇÃO
O texto que estamos analisando está inserido numa epístola, forma literária específica, amplamente
utilizada pelos apóstolos e pela igreja primitiva. No capítulo que segue, analisaremos com mais detalhes
esta forma literária, inserindo-a no contexto histórico de gregos e romanos durante o primeiro século da
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era cristã.
A epístola aos Romanos é uma carta de difícil compreensão. Isto porque Paulo tinha o costume de
escrever intercalando um pensamento central com várias digressões, tornando complexa a conexão das
idéias expostas. Outra dificuldade é o próprio tema, já que o apóstolo estava tratando de um assunto
eletrizante para a época, mas hoje aceito pela totalidade cristã: os gentios podem ou não tornarem-se
cristãos sem serem prosélitos dos judeus?
Em Romanos 8:1-5, encontramos cinco verbos fundamentais para a compreensão do que o autor está
expondo. São eles:
(1) o oposto ao estado de escravidão, receber alforria, não estar sujeito a uma obrigação, livrar, libertar.
"Te libertou", variantes: "me libertou", "nos libertou". É um aoristo passado, isto significa que a ação foi
plenamente realizada, mas segue vigente no presente.
(2) penalidade imposta por condenação judicial, servidão penal, condenar. Também é um aoristo
passado.
(3) encho, aterro, encho a ponto de transbordar, dou plenitude, cumpro.2
(4) ando, vivo, dirijo minha vida.
(5) penso, ter a mente controlada por, ter como hábito de pensamento, inclinar-se.
Desses verbos, dois são antônimos (receber alforria versus condenado judicialmente) e levam à
oposição que o autor quer mostrar entre a lei do Espírito da vida e a lei do pecado e da morte. Assim, ao
regime do pecado, Paulo opõe o novo regime do Espírito (cf. 3:27+), e diz que em nós transborda o
espírito da lei. Esse preceito da lei (que pode ser traduzido como "o que é justo/o que é bom na lei"),
cujo cumprimento só é possível pela união com Cristo através da fé, tem sua tradução no mandamento
do amor (cf. 13:10, Gl 5:14 e Mt 22:40). Isto porque, não vivemos segundo a carne, mas andamos no
Espírito, ou seja, temos a mente controlada pelo Espírito.
É interessante notar que a palavra lei aparece 70 vezes no texto de Romanos e sempre tem uma das três
conotações: (a) revelação de Deus e de sua santidade, (b) foi dada para esclarecer o que é pecado, e (c)
existe para orientar a vida daquele que crê.
Da mesma maneira, a palavra carne é sempre utilizada em Romanos com um dos quatro sentidos: (a)
natureza humana fraca (6:19), (b) natureza velha do cristão (7:18), (c) natureza humana de Cristo (8:3),
(d) e natureza humana não regenerada (8:8).
O capítulo 8 de Romanos nos apresenta a operação do Espírito Santo, entendida nos versículos 4, 5, 6 e
10, como aquele que comunica a vida. No versículo 2, como aquele que dá liberdade. E no versículo 26,
como aquele que intercede pelos crentes junto ao Pai.
É interessante notar que o texto original de Romanos 8, em grego, começa com dois advérbios
intercalados por uma partícula ilativa, que poderíamos traduzir assim: "Atualmente, por isso, nada em
absoluto..." pode condenar aqueles que estão em Cristo Jesus
Essa partícula ilativa, que é um conectivo, nos leva ao capítulo 7, onde o Paulo mostra que lei e pecado
não são sinônimos. E que há uma grande diferença entre a natureza da lei e a natureza humana. Entre o
que é Espírito e o que é carnal. O corpo, com os membros que o compõem (7:24) interessa a Paulo
enquanto instrumento da vida moral. Submetido à tirania da carne (7:5), ao pecado e à morte (6:12+;
7:23), Paulo clama: quem me livrará? E dá "graças a Deus, por Jesus Cristo, nosso Senhor" (7:25). É a
partir desse clímax, que o apóstolo dá seqüência ao texto, informando que "por isso", "hoje", "nada em
absoluto" pode condenar os que estão em Jesus Cristo.
CAPÍTULO 3: PAULO, SERVO DE JESUS
No mundo de gregos e romanos, as cartas particulares tinham em média, cerca de noventa palavras. Já
os textos literários, como os de Sêneca, por exemplo, tinham em média duzentas palavras3. As epístolas
de Paulo, no entanto, eram bem maiores. A menor delas, dirigida a Filemon, tem 335 palavras, e a
maior, enviada a igreja de Roma, 7.101 palavras. Assim, podemos dizer que o apóstolo Paulo criou um
novo gênero literário, a epístola, maior que as cartas e os textos literários comuns à época, de conteúdo
teológico explícito, e dirigida a comunidade específica.
Quase sempre, as cartas eram ditadas a um escriba profissional, chamado amanuense, que usava uma
espécie de taquigrafia durante o ditado rápido. Depois, o amanuense burilava o texto, e o autor,
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finalmente, editava a carta. Na carta de Paulo aos Romanos seu amanuense foi Tércio (Rm. 16:22).
Quando escreveu sua epístola aos Romanos, Paulo era um cristão maduro. Tinha mais de cinqüenta
anos e 25 anos de conversão. Estava ansioso para ministrar nessa igreja, que já era conhecida no mundo
cristão (1:8), e por isso escreveu a carta que deveria preparar sua futura visita (15:14-17). Foi escrita em
Corinto, possivelmente no ano 58 d.C., quando Paulo estava levantando um coleta para os irmãos da
Palestina. Partiu, então, para Jerusalém para entregar o dinheiro. Lá é preso, e acabará sendo levado à
Roma, mas como prisioneiro.
CAPÍTULO 4: O CORAÇÃO DAS ESCRITURAS
Para muitos teólogos, que vão de Orígenes a Barth, a carta do apóstolo Paulo aos Romanos é o ponto
alto das Escrituras. Ela sedimentou a fé de Agostinho e a Reforma de Lutero. Calvino, por exemplo,
considerava que quem entendesse Romanos estaria com a porta aberta para a compreensão de toda a
Bíblia. E Tyndale também diz algo parecido, ao afirmar que Romanos é "a parte principal e mais
excelente do Novo Testamento, e o mais puro Evangelion, isto é, as boas novas a que chamamos
Evangelho, e também uma luz e um caminho para penetrar em toda a Escritura"4.
Em termos de doutrina, Paulo em Romanos mostra que a Lei de Moisés, em si boa e santa (7:12), fez o
homem conhecer a vontade de Deus, mas não lhe transmitiu a força para cumpri-la. Deu-lhe consciência
de seu pecado e da necessidade que tem de socorro (3:20, 7:7-13). Esse socorro, inteiramente gratuito,
chegou através de Jesus. E a humanidade, morta no pecado, é recriada em Cristo (5:12-21), podendo
agora viver em liberdade e justiça, segundo a vontade de Deus (8:1-4).
Romanos tem como tema central a revelação da justiça de Deus e a universalidade da obra de Cristo. E,
se Romanos é o centro nevrálgico das Escrituras, o capítulo 8 é o coração de Romanos.
CAPÍTULO 5: PELA GRAÇA, DOM DE DEUS
O capítulo 8 de Romanos mostra que a lei foi, através do sacrifício de Cristo, dominada pela graça. Como
vimos neste estudo, a epístola de Romanos é fundamental no processo vivenciado pela Reforma. A
igreja que rompe com o catolicismo romano, quer a reformada de Lutero, Calvino e Zwinglio, quer a
revolucionária de anabatistas e inspiracionistas, entende que o apóstolo Paulo traça na epístola aos
Romanos o curso da vida cristã, mostrando que através da graça há vitória plena sobre o pecado.
Paulo queria deixar claro que as propostas judaizantes não tinham razão de ser, pois a obediência à lei
nunca logrou êxito. Através de Cristo, unido a Cristo pelo Espírito, aquele que crê está absolvido de seus
pecados e pode iniciar uma vida de liberdade, dentro de uma nova lei, a lei do Espírito da vida em Jesus
Cristo.
O que os cristãos do século XVI entendiam, contextualizando os ensinamentos de Paulo, é de não havia
mais necessidades de obras e penitências para se alcançar a salvação. O que a Igreja Católica Romana
proclamava, tanto no que concerne às indulgências, como às obrigações de caridade, estava fora da
doutrina cristã pregada por Paulo nas epístolas aos Romanos e Gálatas, assim como no restante das
Escrituras.
Ainda hoje Romanos apresenta ensinamentos fundamentais para a igreja de Cristo: a pecaminosidade
do homem (1:18-3:30); sua desesperada luta interior (7:14-25), a gratuidade da salvação (3:21-24), a
eficácia da morte e ressurreição de Cristo (4:23-25, 5:6-11, 6:3-11), a justificação pela fé (5:1-2) e nossa
adoção como filhos (8:14-17).
É a partir desta hermenêutica, delineada nos vários passos apresentados neste trabalho, que o trecho
de Romanos 8:1-5 deve ser interpretado. Teremos, então, uma melhor compreensão daquilo que o
apóstolo Paulo chama de "a lei do Espírito da vida em Jesus Cristo" e de sua importância no caminhar do
cristão.
BIBLIOGRAFIA Recomendada
Dobson, John H., Aprenda o Grego do Novo Testamento, CPAD, Rio de Janeiro, 1994.
Gundry, Robert H., Panorama do Novo Testamento, Edições Vida Nova, São Paulo, 1991.
Halley, H. H., Manual Bíblico, Edições Vida Nova, São Paulo, 1993.
Rega, Lourenço Stelio, Noções do Grego Bíblico, Edições Vida Nova, São Paulo, 1993.
Taylor, W.C., Dicionário do Novo Testamento Grego, JUERP, Rio de Janeiro, 1991.
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The Greek New Testament, United Bible Societies, USA, 1994.
Virkler, Henry A., Hermenêutica - Princípios e Processos de Interpretação Bíblica, Vida, São Paulo, 1994.
1 Davidson, F., "O Novo Comentário da Bíblia", Edições Vida Nova, São Paulo, 1994, pág. 1167.
2 "Cumprir, isto é, fazer que a vontade de Deus (revelada na Lei) seja obedecida como deve ser, e as
promessas de Deus (dadas pelos profetas) recebam seu cumprimento". Taylor, W.C., Dicionário do Novo
Testamento Grego, JUERP, São Paulo, 1991, pág. 177, verbete plhrow, in citação de Thayer.
3 "A usual folha de papiro media cerca de 34 cm x 28 cm (...), podendo acomodar entre 150 e 250
palavras (...), e a maioria das cartas antigas não ocupava mais que uma página de papiro". Gundry,
Robert H., Panorama do Novo Testamento, pág. 287. Ed. Vida Nova - São Paulo.
4 Packer, James I. in O Conhecimento de Deus, pág. 235. Editora Mundo Cristão, São Paulo.
A SERVIÇO DE DEUS
FATEBRA FACULDADE TEOLÓGICA DO BRASIL
ESTUDO SOBRE O NOVO TESTAMENTO
Professor Dr. Antony Steff Gilson de Oliveira
Reverendo da Igreja Presbiteriana em Renovação do Brasil – IPRB
www.fatebra.com.br
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A SERVIÇO DE DEUS
TEXTO BÍBLICO: Atos 20 : 24
Introdução
Desculpas para os incrédulos não aceitarem o Evangelho
Desculpas para os crentes não se engajarem no serviço.
A Serviço de Deus
1. Em um Ministério
1.1 - A Determinação do Apóstolo
1.2 - A Vocação do Crente - 1 Tm 12 : 13
2. Com um Dom
2.1 - Servindo uns aos outros - 1Pe 4 : 10
2.2 - Em um só corpo - Ilust. Sintonia / Rm 12 : 3 - 6a
3. Na Igreja
3.1 - A Vocação da Igreja - Mt 4 : 18
3.2 - A Rede Ministerial - Ilustração Rede
Conclusão - Cl 4 : 17
O SERMÃO
Precisamos lembrar a todo momento do compromisso que temos como igreja, com o "Ide de Jesus",
portanto devemos ter presente em nossas mentes e em nossos corações o constante propósito de
evangelizar.
Refletindo sobre esta premissa, podemos enumeras as desculpas clássicas que os incrédulos nos dão
para não aceitar o Evangelho da Salvação. E quais são elas?
Não sou Pecador
É tarde demais para mim
Ainda sou jovem, quem sabe ...
A vida do crente é muito exigente
Não tenho tempo
Mas, pior do que estas desculpas são as que encontramos entre os próprios crentes, no seio da igreja,
para não se comprometerem no serviço cristão. E pode, os novamente enumerá-las:
Não tenho tempo
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Não sei o que fazer
Não me dou com o fulano
Ninguém me chamou
Focado neste segundo grupo é que estaremos refletindo sobre quando estamos A Serviço de Deus.
Leitura Bíblica
1. A SERVIÇO DE DEUS EM UM MINISTÉRIO
No texto que lemos na palavra de Deus, encontramos o apóstolo Paulo enfatizando aos líderes da igreja
de Éfeso que mito mais do que a sua própria vida o importante seria que ele concluísse o ministério que
havia recebido de Jesus, a saber, o testemunho, isto é anunciar o Evangelho da graça de Deus.
Encontramos aí um exemplo de determinação e compromisso a ser seguido por quem quiser estar a
serviço de Deus. Nenhuma das dificuldades que poderiam estar à sua espera, e no verso anterior Paulo
afirma que "...o Espírito o havia assegurado que lhe esperavam cadeias e tribulações" , poderiam mudar
o seu objetivo, até que completasse a sua carreira.
Do mesmo modo que o apóstolo, o crente que tem o compromisso de servir a Deus deve abraçar o seu
ministério e em qualquer circunstancia deve perseverar em seu caminho, despojando-se de desculpas
banais como as que vimos à pouco. Ah! Mas não sei onde devo servir na igreja!
Na Primeira Epístola de Paulo à Timóteo capítulo 1 versos 12 a 14 lemos:
"Sou grato para com aquele que me fortaleceu, a Cristo Jesus, nosso Senhor, que me considerou fiel,
designando-me para o ministério, a mim que noutro tempo era blasfemo e perseguidor e insolente. Mas
obtive misericórdia, pois o fiz na ignorância, na incredulidade. Transbordou, porém, a graça de nosso
Senhor com a fé e o amor que há em Cristo Jesus."
Todo aquele que buscar a Deus através de Jesus Cristo, será designado a um ministério. Será capacitado
pelo Espírito Santo e nele transbordará a Graça do Senhor.
Aparentemente simples, não é?
Mas é simples mesmo, desde que cada um de per si tome a decisão de servir a Deus. E o salmista diz
mais:"Servi ao Senhor com alegria e apresentai-vos diante dele com cânticos.", O crente abraçando um
ministério que irá exercer com compromisso e alegria.
2. A SERVIÇO DE DEUS COM UM DOM
Ainda assim restará a pergunta: Mas servir à Deus de que maneira? Conforme uma daquela desculpas já
citada. A Palavra de Deus nos assegura que a todos Deus concede graciosamente pelo menos um dom,
com o qual podemos servi-lo.
O apóstolo Pedro em sua Primeira Epístola capítulo 4 verso 10 e 11, nos diz a respeito disto:
"Servi uns aos outros, cada um conforme o dom que recebeu, como bons despenseiros da multiforme
graça de Deus. Se alguém fala, fale de acordo com os oráculos de Deus, se alguém serve faça-o na força
que Deus supre, para que em todas as coisas seja Deus glorificado, por meio de Jesus Cristo, a quem
pertence a glória e o domínio pelos séculos dos séculos. Amém."
Pois aí está amados irmãos, não só recebemos o dom, mas quando nos colocamos a serviço de Deus,
somos supridos por Ele em força e capacitação.
Devemos estar em constante sintonia com Deus E o que isto significa exatamente? Em termos técnicos
estar em sintonia é "Oscilar na mesma freqüência"- Quando temos um emissor pulsando em uma
determinada freqüência, só podemos captar estes sinais se nosso receptor estiver pulsando na mesma
freqüência, ou seja em sintonia.
Um exemplo prático disto é o nosso rádio, quando a estação emite o seu sinal, isto quer dizer que suas
ondas pulsam e o meu radio só conseguirá captar esta onda se seu receptor oscilar na mesma
freqüência. Rádios à parte, assim também devemos ser com Deus, ou seja, oscilarmos na mesma
freqüência que Ele para podermos ouvir a sua voz, ou repetindo em uma visão mais antiga esta
explicação: "Falarmos de acordo com os oráculos de Deus."
Voltemos então nossas atenções para a questão do "servi uns aos outros conforme o dom que
recebemos de Deus." No momento em estivermos servindo uns aos outros e aplicando nossos dons ao
serviço de Deus, estaremos então agindo como a igreja que Jesus Cristo nos legou.
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Na Epístola aos Romanos no capítulo 12, verso de 3 a 6a, Paulo disserta sobre as nossas
responsabilidades dizendo:
"Porque pela graça que me foi dada, digo a cada um dentre vós que não pense de si mesmo além do
que convém, antes, pense com moderação segundo a medida da fé que Deus repartiu a cada um.
Porque, assim como num só corpo temos muitos membros, mas nem todos os membros tem a mesma
função, assim também nós, conquanto muitos, somos um só corpo em Cristo e membros uns dos
outros, tendo, porém, diferentes dons segundo a graça que nos foi dada."
Em busca de definirmos um padrão para estarmos a serviço de Deus, já falamos sobre a determinação e
o compromisso em abraçarmos um ministério, falamos também sobre o uso dos dons que recebemos
graciosamente de Deus e esse texto que acabamos de ler nos coloca último aspecto desta reflexão.
3. A SERVIÇO DE DEUS NA IGREJA
Para podermos compreender melhor como devemos estar a serviço de Deus na Igreja, precisamos ter
certeza de qual a verdadeira vocação da igreja, e nós encontramos Jesus explicando a Pedro e André, no
início de seu ministério, com palavras que aqueles homens só entenderiam algum tempo depois.
No Evangelho segundo Mateus no capítulo 4 verso 19, são estas as palavras de Jesus:
"Vinde após mim, e eu vos farei pescadores de homens."
E esta é a nossa chave. Devemos ser pescadores de homens, pois esta é a vocação da Igreja de Jesus
Cristo. Precisamos como igreja estar sempre lançando nossas redes para pescarmos mais e mais almas
para Jesus.
Imaginemos a malha de uma rede de pesca, onde cada nó, ou seja, aquele ponto onde as linhas se unem
seja um membro da nossa igreja. Que aquele ponto seja você, eu, enfim todos nós. Cada um
representado por um nó.
Imagine também que ao invés da linha de nylon, fazendo aquela união estejam nossos braços abertos,
sustentando, assim, o irmão da direita e o da esquerda. Ao mesmo tempo que somos alcançados e
sustentados pelos braços fortes de dois outros irmãos. Pronto estará formada a redada Igreja de Jesus
Cristo, pronta para ser lançada, com um único objetivo, o de pescar almas, composta com homens
usando seus dons e comprometidos em seus ministérios
CONCLUSÃO
Esteja atento para o seu momento. Ore desde agora por este alvo, e mais ainda ore por voce neste alvo,
pelo momento em que for chamado para compor esta rede de pescar homens.
Por fim, devemos ouvir o conselho que Paulo deu a Arquipo, líder da igreja de Colossos, que se encontra
em Colossenses capítulo 4 verso 17.
"Atenta para o ministério que recebeste no Senhor, para o cumprires."
A VIDA ETERNA SEGUNDO O EVANGELHO DE JOÃO
ESTUDO SOBRE O NOVO TESTAMENTO
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Nenhum outro escritor do Novo Testamento utiliza tanto a expressão vida eterna como o apóstolo João.
Enquanto nos evangelhos sinóticos (Mateus, Marcos e Lucas) vida eterna aparece 6 vezes, em João
temos nada menos que 17 ocorrências. Isto não significa que nos evangelhos sinóticos o tema da vida
eterna seja ignorado, pelo contrário, os três primeiros evangelhos tratam do mesmo tema quando falam
do reino de Deus. Ambos (vida eterna e reino de Deus) pertencem à mesma categoria teológica, e são
sinônimos.
Segundo C. K. Barret, vida eterna em João "substitui o reino de Deus dos evangelhos sinóticos". E mais:
"Aquilo que é, propriamente, uma bênção futura torna-se um fato presente em virtude do futuro em
Cristo".
A NATUREZA DA VIDA ETERNA
O substantivo "vida" em grego pode ser bíos ou zoê. Bíos significa a vida física, biológica e zoê aquela
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qualidade espiritual de vida eterna que só Jesus é capaz de oferecer. Em João zoê pode vir ou não
acompanhado do adjetivo "eterno", que em grego é aiõnios. Na maioria das vezes temos zoê aiõnios
(vida eterna), e mesmo quando zoê está sozinho, em João sempre significa vida eterna.
A vida eterna é uma obra da livre graça de Deus. A salvação em sua maior expressão. Nem mesmo a
morte física serve de obstáculo para a vida eterna; pelo contrário, a morte, para os crentes, é "uma
libertação do pecado e um passo para a vida eterna" (Catecismo de Heidelberg). Disse Jesus: "Eu sou a
ressurreição e a vida. Quem crê em mim, ainda que morra, viverá; e todo o que vive e crê em mim, não
morrerá, eternamente" (Jo 11.25,26). Ter a vida eterna é o mesmo que estar salvo num processo
irreversível (cf. Jo 5.24; 6.47; 10.27,28). Como o próprio nome indica, vida eterna não é uma coisa que
temos hoje e perdemos amanhã. Neste caso seria vida temporária e passageira, jamais eterna!
A natureza essencial da vida eterna foi descrita pelo Senhor Jesus assim: "E a vida eterna é esta: que te
conheçam a ti, o único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo a quem enviaste" (Jo 17.3). Esta passagem "não
define vida eterna, mas mostra como se manifesta e quão maravilhosa é" (William Hendriksen). E de
que forma ela se manifesta? Hendriksen explica: "A vida eterna por meio da qual tanto o Pai como o
Filho são glorificados se manifesta no verdadeiro conhecimento do que envia e do enviado".
Segundo George Ladd, "Em João, o conhecimento é uma relação com base na experiência. Existe uma
relação íntima, mútua, entre o Pai e o Filho; por sua vez, Jesus conhece seus discípulos e por eles é
conhecido; e, em conhecê-lO, eles também conhecem a Deus". Disse Jesus: "Eu sou o bom pastor;
conheço as minhas ovelhas, e elas me conhecem a mim, assim como o Pai me conhece a mim e eu
conheço o Pai; e dou a minha vida pelas ovelhas" (Jo 10.14,15).
Em se tratando de nossa relação com Jesus, é preciso entender que este conhecimento, longe de ser
uma simples questão de compreensão intelectual, envolve sempre um relacionamento pessoal de
íntima comunhão com nosso Senhor. Este é o significado básico do verbo conhecer em João.
Conhecer a Deus é conhecer a verdade libertadora. "Disse, pois, Jesus aos judeus que haviam crido nele:
Se vós permanecerdes na minha palavra, sois verdadeiramente meus discípulos; e conhecereis a verdade
e a verdade vos libertará" (Jo 8.32). Conhecer a verdade "significa chegar a compreender o propósito
salvador de Deus, incorporado em Cristo, e a liberdade prometida é a liberdade do pecado (Jo 8.34),
liberdade essa que não poderia ser realizada sob as condições da antiga aliança, mas somente através
do Filho [Jo 8.36]" (Ladd). E ainda: "A verdade de Deus não está apenas incorporada em Cristo, mas é
também manifesta em Sua palavra, pois Ele fala a verdade (Jo 8.40,45) e veio para dar testemunho da
verdade (Jo 18.37). Esta verdade não é simplesmente a revelação daquilo que Deus é, mas a
manifestação da presença salvadora de Deus no mundo. Portanto, tudo o que Jesus fez e oferece é
verdadeiro (Jo 7.18; 8.16), isto é, está de acordo com a Sua natureza e com o plano de Deus. Este
propósito redentor é a palavra de Deus (Jo 17.6,14) é a própria verdade (Jo 17.17), a qual é uma com a
pessoa do próprio Jesus (Jo 1.1)".
O ASPECTO PRESENTE DA VIDA ETERNA
Que a vida eterna já é uma realidade na vida de todo aquele que crê em Jesus, é facilmente percebido
em João 6.47, onde o verbo ter está no presente do indicativo. Disse Jesus: "Em verdade, em verdade
vos digo: Quem crê, tem a vida eterna" (cf. I Jo 5.13). "A vida que pertence ao futuro, ao reino da glória",
diz Hendriksen, "passa a ser possessão do crente aqui e agora (...). Esta vida é salvação e se manifesta na
comunhão com Deus em Cristo (Jo 17.3); na participação do amor de Deus (Jo 5.42), de sua paz (Jo
16.33), e de seu gozo (Jo 17.13)".
John MacArthur complementa: "Biblicamente, a vida eterna não é apenas a promessa da vida na
eternidade, mas é também a qualidade de vida característica das pessoas que vivem na eternidade. Tem
a ver com qualidade tanto quanto duração (Jo 17.3). Não é apenas viver para sempre. A vida eterna é
ser participante do reino onde habita Deus. É andar com o Deus vivo, em comunhão infindável".
A ênfase central do evangelho de João é levar homens e mulheres a terem uma experiência presente de
vida eterna. O aspecto presente, bem como o futuro da vida eterna, é mediado pela pessoa de Cristo.
Desse modo, não é difícil compreender porque as suas palavras são vida (Jo 6.63), visto que elas
procedem do Pai, que lhe ordenou o que deveria dizer. E o mandamento de Deus é vida eterna (Jo
12.49,50). Mas a vida eterna não é apenas mediada por Cristo e Sua palavra. Ela habita na própria
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pessoa de Jesus (Jo 1.4; 5.26; 14.19). Ele é o pão da vida (Jo 6.48). Ele é a água vida (Jo 4.10,14).
Conseqüentemente, Jesus podia dizer: "Eu sou a vida" (Jo 11.25; 14.6), e vida em abundância (cf. Jo
10.10).
Para que a vida eterna seja uma realidade presente na vida de alguém, é necessário receber a Jesus
Cristo e confiar somente nEle para a vida eterna (cf Jo 3.16). "A falta de vida eterna é equiparada com o
estado de perdição, de estar condenado ou perdido, em contraste com aqueles que têm a vida eterna,
que são declarados salvos e que recebem a promessa de que nunca perecerão [Jo 3.15,16,18,36; 10.9]"
(John Walvoord).
Uma vez adquirida, é necessário que a vida eterna se expresse através da obediência e prática do
evangelho (Jo 12.50; 13.17). A salvação em Cristo exige mudança de vida, aqui e agora. Além disso, a
vida eterna deve ser uma realidade tão presente em nossa vida, a ponto de podermos cantar assim:
Depois que Cristo me salvou,
Em céu o mundo se tornou;
Até no meio do sofrer
Eu tenho paz no meu viver.
O ASPECTO FUTURO DA VIDA ETERNA
A vida eterna é qualidade e duração. Ter uma vida que não acaba jamais é o grande anseio do ser
humano. Haja vista a atitude da mulher samaritana quando ouviu de Jesus: "Aquele, porém, que beber
da água da vida que eu lhe der, nunca terá sede, para sempre; pelo contrário, a água que eu lhe der será
nele uma fonte a jorrar para a vida eterna. Disse-lhe a mulher: Senhor, dá-me dessa água para que eu
não mais tenha sede, nem precise vir aqui buscá-la" (Jo 4.14,15). Ou dos judeus quando ouviram Jesus
dizer: "Porque o pão de Deus é o que desce do céu e dá vida ao mundo. Então lhe disseram: Senhor, dános sempre desse pão" (Jo 6.33,34). Infelizmente nem a mulher samaritana nem os judeus entenderam,
a princípio, o significado da vida eterna que Jesus lhes oferecia.
Em João a expressão vida eterna contém, além de seu significado presente, um aspecto futuro ou
escatológico, como por exemplo em 12.25: "Quem ama a sua vida, perde-a; mas aquele que odeia a sua
vida neste mundo, preservá-la-á para a vida eterna".
Quem beber da água viva descobrirá que ela também é uma fonte a jorrar para a vida eterna (Jo 4.14); e
aquela comida que Cristo oferece também produz vida para o futuro (Jo 6.27).
A vida eterna, no aspecto escatológico, será experimentada quando o justo passar pela "ressurreição da
vida" (Jo 5.29). Esta declaração é bem parecida com aquela de Daniel 12.2: "Muitos dos que dormem no
pó da terra ressuscitarão, uns para a vida eterna, e outros para vergonha e horror eterno".
O princípio da vida eterna que habita o corpo mortal do crente se estende para a ressurreição do
mesmo. Aquele a quem Jesus concedeu vida eterna será ressuscitado no último dia (Jo 6.40,54). Jesus é
a ressurreição e a vida. Quem nEle crê poderá morrer fisicamente, mas viverá novamente (Jo 11.25,26),
isto é, o corpo ressuscitará para uma alma que nunca morreu, a fim de, juntos, desfrutarem
eternamente da presença de Deus.
Caberia aqui uma ligeira observação acerca do castigo eterno. Não trataremos do assunto propriamente
dito, visto que este não é o tema do nosso estudo. Por isso, mencionaremos o castigo eterno apenas
como auxílio para uma compreensão melhor da vida eterna.
Hoje em dia, não são poucos os que negam a condenação eterna. Igrejas, num passado recente, se
dividiram por causa desta questão. Os universalistas e os aniquilacionistas de nossos dias rejeitam
definitivamente a idéia de um inferno onde pessoas sofrerão por toda a eternidade. Ambos
argumentam que Deus é muito bom e misericordioso para condenar qualquer pessoa por toda a
eternidade. Alguns universalistas defendem que as pessoas que viveram pecando deverão ser castigadas
durante certo tempo após a morte, mas depois todo mundo será salvo. Os aniquilacionistas, por sua vez,
entendem que os ímpios serão, como o próprio nome diz, aniquilados. Alguns aniquilacionistas também
crêem que depois da morte um sofrimento temporário precederá o aniquilamento final e definitivo dos
ímpios.
Ora, seja Deus verdadeiro e todo homem mentiroso. Deus é amor mas também é justiça! Nosso Senhor
Jesus foi claro quando disse: "Por isso quem crê no Filho tem a vida eterna; o que, todavia, se mantém
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rebelde contra o Filho não verá a vida, mas sobre ele permanece a ira de Deus" (Jo 3.36; cf. Dn 12.2; Mt
25.46). Quando Jesus diz que aquele que "se mantém rebelde contra o Filho não verá a vida, mas sobre
ele permanece a ira de Deus" (Jo 3.36), Ele está se referindo ao destino final dos ímpios. O inferno é a
manifestação permanente e eterna da ira de Deus contra os pecadores impenitentes. O castigo que os
ímpios sofrerão depois desta vida será de igual maneira sem fim, como sem fim será a bem-aventurança
futura do povo de Deus.
Sendo assim, as ovelhas de Jesus podem descansar nas promessas consoladoras do Supremo Pastor: "Eu
lhes dou a vida eterna; jamais perecerão, eternamente, e ninguém as arrebatará da minha mão" (Jo
10.28). Por outro lado, como bem observou Antony Hoekema, "O ensinamento bíblico com respeito ao
inferno deve acrescentar uma nota de profunda seriedade em nossa pregação e ensino bíblico.
Devemos falar do inferno com tristeza, com dor, talvez até com lágrimas – mas devemos falar a
respeito". E mais: "Em nosso empreendimento missionário, a doutrina do inferno deve incitar-nos a um
maior zelo e urgência. Se é certo que muita gente vai em direção de uma eternidade sem Cristo, a
menos que ouçam o evangelho, quão ansiosos deveríamos estar para levar-lhes o evangelho!" .
(Tradução livre).
AS IMPLICAÇÕES DA VIDA ETERNA
PARA O POVO DE DEUS
Quais as implicações práticas da vida eterna para a igreja evangélica brasileira do novo milênio?
Consideremos três aspectos:
Em primeiro lugar, é preciso uma reflexão séria e responsável do papel da igreja na sociedade. Somos
salvos para fazer a diferença através de uma postura ética, de valores que manifestem nitidamente a
diferença que a vida eterna faz no meio e através do povo de Deus. A natureza da vida eterna, expressa
no conhecimento de Deus e de Sua verdade, deve levar a igreja a experimentar a renovação de vida que
começa aqui e agora. A vida só tem sentido quando é vivida na presença de Deus com responsabilidade.
Por isso, a igreja precisa parar de brincar com coisa séria e viver o evangelho integral de nosso Senhor
Jesus Cristo.
Em segundo lugar, a vida eterna deve nos levar a uma atitude prática em relação ao destino futuro dos
justos e dos injustos. O que significa o céu para os crentes? O que quer dizer viver para sempre?
Estamos preparados? A igreja do Senhor está pronta? Você está preparado para se encontrar com
Deus? Está certo que tem a vida eterna? E o que dizer daqueles que estão indo para o inferno? Até onde
somos culpados pelo destino eterno dos pecadores? Essas indagações não devem ser menosprezadas.
São necessárias uma reavaliação de conceitos e uma ação salvífica urgente da igreja no mundo.
Em terceiro lugar, temos que levar em muita consideração a razão de ser da própria vida eterna. De um
lado temos o propósito imediato, isto é, somos salvos porque Deus nos ama e quer nos ajudar. Do outro
lado há o propósito final da vida eterna: a glória de Deus. Glorificar a Deus deveria ser o maior desejo do
cristão. Viver como Deus quer é viver para a sua honra e glória. Infelizmente, muitas vezes a glória de
Deus não tem sido, na prática, a maior preocupação do povo de Deus. A busca do bem-estar tem
ocupado com muita freqüência o lugar de uma vida obediente e submissa à vontade de Deus.
Certamente Deus abençoa o Seu povo e se deleita nisso, porém, somente quando Ele ocupa o primeiro
lugar em nosso coração. Se agradarmos a Deus, não como pessoas interesseiras, mas como verdadeiros
crentes interessados em Sua pessoa, e se o amarmos nem tanto por aquilo que Ele vai nos dar, mas
principalmente por aquilo que Ele é, com certeza a vida eterna que de Deus recebemos será a expressão
de louvor no dia-a-dia de pessoas que verdadeiramente amam e glorificam a Deus.
ANÁLISE SEMÂNTICA - DE 1ª PEDRO 2: 4 - 10
ESTUDO SOBRE O NOVO TESTAMENTO
Professor Dr. Antony Steff Gilson de Oliveira
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Vers. 04 - Chegando-vos a ele, a pedra viva, rejeitada é verdade pelos homens, mas diante de Deus
eleita e preciosa.
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O 1º verso merece atenção especial, a partir da palavra giqon (pedra). É de uso figurativo1 pois designa
o caráter inflexível ou de sentimentos duros (Cf. CULLMANN, 1965:324). Ao dizer que devemos chegar a
Cristo, o apóstolo faz uso da palavra pedra como algo vivente. Essa declaração permite compreender o
caráter de Cristo, ou seja : Deus vivente. Com certeza, o uso do substantivo pedra é mais um recurso
literário e lingüístico do que propriamente teológico. Ao apropriar-se da linguagem simples para
referendar o caráter de Cristo, o autor é sábio, pois considera a estrutura da “teologia da pedra” como
indicativo da superioridade das demais compreensões teológicas a respeito da salvação. Sendo assim, a
pedra é símbolo figurativo do Cristo que, por sua vez, é símbolo figurativo de salvação. Dessa forma,
pedra em 2:4 é vocábulo substituto da salvação.
Está clara a indicação de que Cristo é a pedra viva, pois o verbo zwnta (particípio presente) denota a
qualidade verbal 2 do substantivo giq on (pedra).
Essa qualificação é própria nos escritos petrinos e paulinos, pois além da ênfase no Cristo, enquanto
Salvador, é também ao aspecto sustentador da salvação - a pedra é viva (Cf. I Cor 10:4; Rm 9:33, 10:11).
Interessante notar é que o autor também argumenta o aspecto do adjetivo negativo dessa pedra, ou
seja, é rejeitada. O que o autor quer dizer, na verdade, é uma releitura de Is. 28:16, cujo contexto
lembra-nos do povo que não depositou confiança no Senhor Iahweh. Da mesma forma, a pedra é
rejeitada por não depositarem à ela o crédito de confiança merecido. O autor releva-nos
paradoxalmente a qualificação da pedra, ou seja, é viva, pois é a salvação; é rejeitada, pois não há
mérito de fé alguma. Sendo assim, rejeitada é sinônimo de falta de fé, e, consequentemente antisinônimo de salvação.
Todavia, a linguagem do autor é explicativa ao exemplificar os dois aspectos da pedra na perspectiva
divina : eleita e preciosa. A combinação grega de eklekton (eleita) e entimon (preciosa) quanto à pedra é
máxima, por partir de (segundo Deus). Isso denota a exposição divina da eleição de Jesus-pedra
(salvação) e da preciosidade que este representa aos olhos de Deus. dir-se-ia que tais adjetivos são
conseqüências da ação divina sobre a pedra (Jesus). Tais qualidades são somente compreendidas por
aqueles que obedecem o (chegando-vos) a Cristo. Concluindo, pedra viva é Cristo que salva mediante os
que crêem Nele, e, para os que não crêem, ele é a pedra rejeitada.
Vers. 05 - Do mesmo modo, também vós, como pedras vivas, constituí-vos em um edifício espiritual,
dedicai-vos a um sacerdócio santo, a fim de oferecerdes sacrifícios espirituais agradáveis a Deus por
Jesus Cristo.
Comecemos a análise pela expressão giq on zwnteV (pedras vivas). embora seja a mesma expressão
dada a Cristo, a diferença se faz pelo verbo constituí-vos. Essa constituição é mister por causa da ação
prática de Deus na vida daqueles que crêem. Trata-se mais de uma exigência, um dever a ser cumprido.
Os que crêem são chamados a se tornarem oikoV pnenmatikoV (edifícios espirituais). Trata-se de
termos pertinentes à posição dos que aceitam a pedra viva. de certa forma, os “edifícios espirituais” são
: o crer, o aceita, o confiar, o receber a pedra, o adorar a Deus, etc. Esse edifício não tem uma
característica física, isto é, não é determinado por medidas conhecidas na arquitetura, mas sim, por
características espirituais, “a do Espírito”,3 ou seja, a exigência que o Espírito faz é o de crer na giq on
zwnta (pedra viva).
Uma outra exigência feita nesse verso é que devemos nos dedicar a um sacerdócio santo. (eiV
ierateuma). Essa exigência é feita apenas no sentido funcional, isto é, a nós é dado o ofício de
sacerdotes. Não há intermediários entre aqueles que crêem e Deus. Ser sacerdote é uma designação de
forma constitutiva por parte de Deus, mas não institucional (por parte dos homens). Essa nova
designação, só é compreendida à luz da fé em Cristo, haja vista que tais implicações somente são
encontradas no Novo Testamento.4 A posição que o indivíduo assume em Cristo é a de ser sacerdote,
pois pode oferecer sacrifícios movidos pela fé e não pelo pecado. Sendo assim, os sacrifícios espirituais
são provas de fé (crer, obedecer, adorar, profetizar, etc.), apresentados em momentos doxológicos pelo
que aceita a vontade de Deus.
Vers. 06 - Com efeito, nas Escrituras se lê : Eis que ponho em Sião uma pedra angular, eleita e preciosa,
quem nela confia não será confundido.
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Este versículo é uma rememoração de Isaías 28:16. O uso das Escrituras denota a autoridade do Antigo
Testamento na releitura dos apóstolos. Para o autor da carta, a “pedra angular” é Cristo por estar
sustentando Sião (o povo que nele crê). No contexto vétero-testamentário, Isaías 28 comenta o juízo de
Deus sobre Efraim, ao mesmo tempo que o profetiza com uma promessa (Vers. 16 : “quem nela (pedra)
crer não será confundido “. É uma releitura muito apropriada para o contexto neo-testamentário, pois é
Deus quem, através de Cristo, elege e torna “essa pedra” preciosa.
Os apóstolos e discípulos da época neo-testamentária dão ênfase ao A.T por questões de estilo literário :
paralelismo, releitura e narrativa divina.5 Dessa forma, entende-se as referências do A.T apenas como
re-interpretação e ênfase teológica por parte do apóstolo. Pedro, ao associar o contexto de Isaías com o
da comunidade de sua época, estaria atualizando a teologia (fé e prática) de Isaías 28:16. Certamente,
as nuances da nova vida em Cristo extrapolaria os conceitos de “pedra angular” de Isaías. Enquanto o
“crer “de Isaías 28:16 é a sujeição dos líderes à vontade de Deus, o “crer “ de I Pedro é a Fé depositada
em Cristo.
Vers. 07 - Isto é, para vós que credes ela será um tesouro precioso, mas para os que não crêem, a pedra
que os edificadores rejeitaram, essa tornou-se pedra angular.
Vers. 08 - Uma pedra de tropeço e uma rocha que faz cair. Eles tropeçam na Palavra, para o que
também foram destinados.
Esses versículos devem ser entendidos como uma conclusão dos argumentos apresentados
anteriormente. É como se o autor estivesse finalizando sua exposição, mas dando ênfase nos aspectos
positivos e negativos dessa conclusão, por exemplo :
CRER (+) NÃO-CRER (-)
Tesouro Precioso Rejeitada
Eleita Tropeço
Faz Cair
A linguagem usada é a da figura de um construtor. A “pedra angular” é a principal da construção.
Poderíamos dizer que essa pedra é a que sustentará as demais. Sendo assim, as demais colunas,
paredes, aberturas, etc; devem estar ligadas à ela. Na analogia petrina, essa pedra angular é a que
representa a sustentação da fé, da esperança, das vitórias dos que crêem. O “crer “nesse texto é a
exigência clara para os que querem ter uma construção forte. A construção que representa a “pedra
principal “ é a feita pela fé em Cristo. Quando Pedro diz “isto é para vós que credes“, está fazendo
referência à comunidade dos cristãos dispersa na Ásia Menor : (Ponto, Bitínia, Galácia e Capadócia).
Com certeza, essa comunidade “creu “ na pedra preciosa e por isso está tendo uma boa construção.
O autor reafirma a experiência cristã da comunidade a partir da fé depositada na Pedra (Cristo). Mas
para os que não crêem é a pedra de tropeço, a rocha que faz cair. a referência “que não crêem “ é
específica para os judeus. Podemos chegar a essa conclusão por causa do final do versículo “para os que
também foram destinados” (Is. 8:14).
Ao rejeitar Cristo, os que não crêem estão rejeitando a pedra que Deus elegeu como fundamental para a
salvação/eleição. Não considerar essa “forma divina “ de “crer “ na pedra é o mesmo que incredulidade.
A fé em Cristo é, então, escândalo, pois não crêem; ao mesmo tempo que a conseqüência é “cair “.
Podemos entender que a incredulidade é a rejeição de Cristo. Os judeus não aceitaram a fé como forma
divina da eleição. Eles a rejeitaram e ao mesmo tempo escandalizaram-se. A “rocha” só faz “cair “
porque não aceita a incredulidade.
Vers. 09 - Mas vós sois uma raça eleita, um sacerdócio real, uma nação santa, o povo de sua particular
propriedade, a fim de que proclameis as excelências daquele que vos chamou das trevas para a sua luz
maravilhosa.
Vers. 10 - Vós que outrora não éreis povo, mas agora sois povo de Deus, que não tínheis alcançado
misericórdia, mas agora alcançastes misericórdia.
Os versículos 9 e 10 representam os resultados da fé em Cristo. Tratam-se de nomeações referentes à
nação de Israel, mas que na visão petrina correspodem à nova identidade a partir da fé em Cristo. Essa
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identidade é pertinente aos que crêem, tanto judeus como gregos. A nova realidade dos que crêem
corresponde à função que deverão cumprir. Isso comprova pelos adjetivos dados, por exemplo :
Raça Eleita: Aqueles que são chamados para a grande construção. Essa eleição desempenha a função
dos responsáveis pela construção. São somente eleitos por Deus porque crêem.
Sacerdócio Real: É o ofício exercido pelos que crêem. É uma função religiosa identificada pela categoria
dos responsáveis pela adoração a Deus. Crer é exercer a função sacerdotal para adorar a Deus. Não é
mais exigida a representação visível e única do sacerdote, mas, agora pela fé em Cristo, todos são
eleitos enquanto sacerdotes e possuidores do sacerdócio, isto é, o ofício de endereçar a Deus a fé que
adora.
Nação Santa: A santidade é pertinente à nova realidade da fé em Cristo. É a qualidade dos que são
separados para exercer uma nova função : ser santo. Não se trata de uma qualidade extra-dimensional
ou invisível, mas representativa do ponto de vista da fé em Cristo. A santidade é, portanto, o momento
em que a ação de crer separa o povo para uma nova realidade : a de servir a Deus. Poderíamos
considerar o alcance geográfico da santidade de Deus: todos os que crêem em Cristo em qualquer lugar
da terra.
Povo de sua Propriedade Particular : É a consideração que o autor faz àqueles que crêem na pedra e
que, automaticamente, são feitos propriedades de Deus. Essa menção que o autor faz é ainda
qualificada como “particular“, “exclusiva”, tudo indica a nova concepção da soberania de Deus sobre
nós, ou seja, somos exclusivos para o uso divino. Essa exclusividade é quanto ao serviço exigido por
Deus : proclamar as excelências divinas. Daí, entende-se que Deus é soberano sobre o seu povo de
propriedade exclusiva.
Todas as qualidades relacionadas à eleição dos que crêem, referem-se à exigência do serviço :
proclamar. Essa ação só pode ser executada pelo povo eleito por Deus. A eleição para o serviço é
mediante a fé : Poderíamos afirmar, nas palavras de Pedro, que a fé em Cristo elege a comunidade para
o serviço. Contextualmente, esse serviço seria a apresentação do Cristo kerigmático, representado
figuradamente pelos termos “luz”(comp. Jo 1:1:10) Ainda outros textos afirmam que a passagem para a
fé cristã é uma passagem das trevas para a luz (Jo12:46, II Cor 4:6, Ef. 5:8).
A referência às “excelências de Deus” referem-se às novas realidades abençoadoras de Deus : ser eleito,
precioso e responsável pela adoração a Deus. Tais bênçãos são frutos da fé. É ela que nos eleva à
categoria de proclamadores. O reforço que o apóstolo faz para que “proclameis” é um imperativo
kerigmático da experiência e vivência da fé cristã.
O verso 10 é uma confirmação dos resultados da fé cristã. Essa confirmação é caracterizada pelos
adjetivos “sois povo de Deus “ e “alcançastes misericórdia “. esses adjetivos representam a elevação dos
que crêem na Pedra Eleita, Viva, pois são “da misericórdia de Deus“. Diríamos que a convicção da fé em
Cristo, experimentada pela comunidade, é tão enfática que alcança o favor imerecido de Deus. A
misericórdia, atributo de Deus, era caracterizado na literatura vétero-testamentária como inalcançável,
mas na visão petrina, é dada àqueles que crêem. Essa misericórdia é, então, a nova identidade que o
“povo” alcançou “de Deus”.
1 Para um estudo mais detalhado sobre figuras a respeito de Cristo veja : MATEOS, Juan e CAMACHO,
Fernando. Evangelho : Figuras & Símbolos, Editora Paulinas, São Paulo, 1991.
2 LASOR, Wilhan S. Gramática Sintatica do Grego no Novo Testamento. Editora Vida Nova, 1986
3 RIENECKER, F e ROGERS, C. Chave Linguística do Novo Testamento. Editora Vida Nova. São Paulo,
1995, pp 556
4 O sumo-sacerdote no VT é figura também constituída por Deus, mas este apenas apresentava
sacrifícios “visíveis “ a Deus ( animais, oblação, libação, expiação, etc ), e responsável por representar o
pecado do povo perante Deus. Os auxiliares ( sacerdotes ) não detinham posição de sumo-sacerdote, daí
apenas um ser o responsável pelos atos litúrgicos.
5 GABEL, John B. et al. A Bíblia como Literatura. Edições Loyola. São Paulo, 1993, pp 27 - 48.
Choque Cultural: O Mundo e o Céu
Tiago 3:13-18
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ESTUDO SOBRE O NOVO TESTAMENTO
Professor Dr. Antony Steff Gilson de Oliveira
Reverendo da Igreja Presbiteriana em Renovação do Brasil – IPRB
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Você já experimentou choque cultural? Choque cultural acontece quando enfrentamos estilos de vida,
língua, roupa, moeda, religião, valores, perspectivas, totalmente diferentes dos nossos.
Com certeza você já enfrentou algum tipo de choque cultural. Quando mudou para uma outra cidade ...
Quando mudou de escola ou emprego, onde tudo é diferente: Horários, serviços, o "jeitão" de fazer as
coisas... quando mudou de igreja. Às vezes enfrentamos choque cultural quando casamos. Os costumes,
as tradições familiares, as maneiras de celebrar aniversários, feriados, são todos diferentes.
Como as pessoas reagem ao choque cultural? Quando falamos do cristão em relação à cultura do
mundo, Jesus disse que teríamos que "estar NO mundo, sem ser DO mundo." Paulo falou para não
sermos "conformados com esse mundo, mas transformados pela renovação da nossa mente". João
disse, "Não ameis o mundo, nem as coisas que estão no mundo" Pedro nos lembra de que tudo que
vemos no mundo, há de derreter e ser reduzido a nada. O autor de Hebreus nos chama de "peregrinos"
em busca de uma cidade celeste.
Todos esses autores bíblicos identificam uma guerra entre culturas, um choque cultural entre o mundo
em que vivemos e o céu de onde vem nossa cidadania. O livro de Tiago vai ainda mais longe. Ele não
deixa dúvidas sobre os traços que identificam um cidadão do mundo e um cidadão do céu.
Tiago 3:13-18 aborda as características que definem a cultura do mundo e a do céu. A fé verdadeira
manifesta-se numa vida transformada, de forma presente e ativa. O texto nos desafia a rejeitar uma
cultura e abraçar outra. A sabedoria (ou cultura) do mundo é diabólica, egocêntrica, ambiciosa,
contenciosa e vem direto do inferno. Sempre quer levar vantagem. Entretanto a sabedoria (ou cultura)
do céu vem de Jesus, é pacífica e bondosa, sempre pensa nos outros primeiro, é cheia de amor. Essa
cultura celestial quer compartilhar a vantagem que tem em Cristo.
O texto começa com uma pergunta: "Quem entre vocês é sábio e entendido?" Muitos entre os leitores
talvez pensavam que eram sábios, a ponto de quererem ser mestres (vs 1). Mas será que eram sábios
MESMO? Ou será que tinham adotado a cultura do mundo e sua definição de sabedoria?
Definição do Mundo. O mundo define sabedoria como "esperteza". É levar vantagem, explorar,
avançar, manipular. Subir a escada mais rápido que o outro. Enganar antes de ser enganado. Matar
antes de ser morto.
Definição Bíblica. Sabedoria bíblica significa adquirir a perspectiva de Deus sobre tudo que acontece no
mundo. É subir a escada da Palavra para adquirir a ótica divina sobre valores, vida, ministério e família.
No Velho Testamento significava ter "jeitão" para viver. Cultura é "jeitão". E o "jeitão do céu não é levar
vantagem sobre os outros, mas compartilhar a vantagem que tem em Cristo! É a ética de Jesus, que é
amar a Deus e ao próximo como a si mesmo. Não é ser servido, mas servir, é dar a sua vida (Mc 10:45).
Sabedoria bíblica significa investir sua vida para sempre. Viver na presença de Deus em todos os
momentos. Sabedoria bíblica não pisa nos outros para subir mais alto, mas dá uma mão para ajudar os
outros a subirem. Não vem geneticamente, mas pela Palavra de Deus, aplicada ao meu coração pelo
Espírito de Deus, pela obediência e pela graça. Por isso o salmista declarou "Os teus mandamentos me
fazem mais sábio que os meus inimigos; porque aqueles eu os tenho sempre comigo. Compreendo mais
do que todos os meus mestres, porque medito nos teus testemunhos. Sou mais entendido que os idosos,
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porque guardo os teus preceitos."(Sl 119:98-100).
Sabedoria bíblica significa viver a vida de Jesus na terra, uma vida dedicada a outras pessoas. É
reconhecer que somos abençoados para sermos uma bênção, não para acumular mais bênçãos para nós
mesmos. É mansa, humilde, digna, cheia de boas obras, focalizada no outro e não em si mesma.
"Mostre em mansidão de sabedoria, mediante condigno proceder, as suas boas obras."
Em nosso mundo, viver esse padrão divino realmente é contra-cultura. Significa remar contra a maré!
Será que eu e você estamos praticando a sabedoria divina, remando contra a maré? Ou será que nos
nossos negócios, na escola, no serviço, já somos idênticos ao mundo? Será que nós também adotamos
o padrão de esperteza, de querer levar vantagem em tudo?
I. A Cultura (Sabedoria) do Inferno: Ambiciosa e Contenciosa (14-16)
Cada cultura no mundo tem seus costumes, suas marcas peculiares. Vemos isso especialmente nas
formas de se vestir de cada grupo étnico. A cultura do inferno também usa uma roupa típica. Não é
vermelha, com chifres e tridente, mas tem um traje facilmente identificável. É o vestuário do diabo e
tem cheiro de enxofre!
A cultura do mundo (inferno) em relação à cultura do céu diz:
"Somente o forte sobrevive" (Deus diz que os mansos herdarão a terra) "Você é mestre do seu destino."
(Mas o céu sabe que Deus é soberano) "Usa pessoas, ama coisas." (Deus diz, "Usa coisas, ama pessoas")
"Comamos, bebemos, amanhã morreremos" (Deus diz, "Comam e bebam, mas lembrem-se de que tudo
que você faz será lembrado para sempre) "Eu sou número um, e não existe número dois!" (Deus diz,
"Amarás o teu próximo como a ti mesmo."
Nos versículos de 14 a 16 há duas descrições principais da cultura infernal: ambiciosa e contenciosa.
ESSA CULTURA É ESPERTA E QUER LEVAR VANTAGEM EM TUDO. A idéia é de ambição e arrogância na
vida, com um único propósito: satisfazer seus próprios desejos, viver para si, custe o que custar para os
outros. E ai de quem ficar na frente dessa pessoa. Faria qualquer coisa para avançar.
1. Inveja amargurada -- a palavra "inveja" literalmente diz "zelo". Zelo pode ser bom ou ruim. Mas esse
é ruim. É interesse demasiado em mim mesmo, um zelo por mim mesmo. EU cuido de mim. EU me
protejo. EU faço tudo em meu próprio interesse. E quando não tenho meus desejos satisfeitos, fico
magoado. Mas esse zelo desorientado e diabólico também é vázio, e nunca pode ser satisfeito. Quanto
mais o ego se alimenta, tanto mais quer. Por isso é amargurado.
A ética do mundo está totalmente centrada no eu. Temos que tomar cuidado, pois existe uma doutrina
de amor próprio que passa mascarada como sabedoria biblica, quando de fato é característica da
cultura do inferno. Alguns afirmam que o homem precisa amar a si mesmo para poder amar ao seu
próximo. Mas confundem o ensino biblico. A Palavra de Deus nunca nos manda amar a nós mesmos muito pelo contrário, usa o amor natural que as pessoas tem como o padrão da medida de amor que
devem ter para com os outros. A ética bíblica é uma ética OUTRO-cêntrica. Essa é a vida de Jesus em
nós. Está mais preocupado com o bem-estar do outro do que consigo mesmo. Declarações sobre "baixa
auto-estima", "falta de amor próprio", "complexo de inferioridade" revelam preocupações da cultura
mundial. Pessoas deprimidas, vázias, em parafuso, às vezes (nem sempre) passam pelas nuvens pretas
pois vivem em torno de si mesmas. Precisam elevar os olhos e ver outras pessoas ao seu redor, pessoas
com necessidades e dificuldades maiores que as suas. Quando nosso mundo gira em torno de nós
mesmos, quando defendemos os direitos de "numero 1" seguimos a sabedoria desse mundo e do seu
principe. Mas o fruto que colhemos é muito amargo.
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2. Sentimento faccioso. "ambição egoísta" A idéia é de contendas entre pessoas, causadas justamente
pela competição, pela cobiça, por partidarismo e divisão. A Biblia é muito clara quando diz que "Deus
ODEIA quem semeia contendas entre irmãos" (Pv 6:19). Mas essa é a cultura do inferno.
3. Terrena. "Não é a sabedoria que desce lá do alto", então deve ser de baixo! Sabedoria do inferno é o
padrão entre os homens. É "da terra". Uma terra em que os mais fortes devoram os mais fracos. Cada
um por si e que os demais que se danem. Contudo, esses não são os padrões de Deus. Ele disse que "os
mansos herdarão a terra!", "Quem perder sua vida no serviço a outros, achá-la-á."
4. Animal (não espiritual). A palavra descreve o homem "natural" ou seja, o homen não regenerado,
que não consegue viver um padrão sobrenatural e voltado para o bem do outro. É material e sensual,
portanto sub-natural, pois não foi assim que Deus fez o homen. Vemos essa característica animal logo
depois do primeiro pecado, no Jardim do Éden. Adão parece um animal com suas costas na parede
quando confrontado por Deus. E em resposta, ele vai ao ataque, culpando a mulher e depois a Deus
pelo seu pecado.
Vemos isso o tempo todo. É só reparar, filas de banco, engarrafamento de trânsito, disputas pelas
últimas vagas em estacionamentos, lutas desesperadas pela vantagem que queremos ter sobre todos.
5. Demoníaca. Aqui descobrimos a verdadeira origem dessa sabedoria. É a cultura do inferno! É assim
que os demônios vivem. Quando adotamos o padrão de ambição, amor próprio, divisão e contendas nos
revelamos como cidadãos de uma sociedade totalmente possessa pelo culto de si mesmo, em que cada
um devora o outro, falando mal, acusando, criticando, xingando. Cria pessoas nunca satisfeitas,
descontentes, ou acomodadas. Sempre exigindo mais e mais, mais conquistas, mais honras, mais
dinheiro, mais posses, mais glória. Que maneira horrível de se viver!
Sl 131 "Não é ambiciosa minha alma. Não anda a procura de grandes coisas, de coisas maravilhosas
demais para mim..."
6. Confusão e toda espécie de coisas ruins. Quais os resultados esperados da cultura do inferno, em
que é cada um por si? O primeiro é confusão. A palavra fala de desordem. Encrencas. Esse zelo
amargurado é o que causa brigas em nossos casamentos, entre irmãos, nos esportes. Leva para úlceras,
hipertensão, enfartos, brigas, familias desfeitas, separação, divórcio, lágrimas, ressentimento, mágoas,
igrejas dividas, um testemunho perdido.
Jesus disse "Vinde a mim... aprendei de mim, pois sou MANSO E HUMILDE DE CORAÇÃO e achareis
descanso para vossas almas!" Jesus ofereceu vida por meio da morte--morte para si, para sua ambição,
para sua fama, para a defesa dos seus direitos, para a promoção dos seus interesses. Quando você não
se importa com quem recebe a gloria, fica livre para amar!
II. A Cultura do Céu: Pacífica e Bondosa (16-18)
A cultura do céu compartilha a vantagem em vez de levar vantagem. Se for necessário, leva
desvantagem. Isso não significa ser "capachão", mas cristão. O "jeitão" do céu é pensar nos outros antes
de mim mesmo.
Assim como a cultura e sabedoria do inferno tem sua roupa típica, a sabedoria do alto também se veste
de forma única. Essa sabedoria manifesta-se numa vida transformada-- coração, cabeça e conduta. (13).
Sabedoria diante de Deus, não é tanto uma questão intelectual, mas moral.
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1. Pura -- Pureza de mente, pureza de vida, são ridicularizados em nossos dias. A sabedoria do inferno é
suja, esperta, cheia de gracinhas que gozam da santidade da pureza moral. Essa sabedoria do inferno já
contaminou a terra. Dizem que a indústria da pornografia nos EUA gera mais de 10 bilhões de dólares
por ano. Dez mil novos filmes pornográficos são produzidos, e mais de 700 milhões de vídeos são
emprestados. A corrupção mundial devora o dinheiro do povo.
Criticamos a corrupção dos grandes, mas um dia eles eram pequenos como nós. E a infidelidade nessas
coisas pequenas transformou-se nessa grande corrupção que nos deixa indignados.
2. Pacífica--não causa, mas cura conflitos! Um pacificador está sempre pronto para paz! Quer resolver
conflitos a qualquer custo! Não guarda mágoas! Nao permite que haja barreiras entre os irmãos.
Porque sabe viver pela graça, pela aceitação incondicional de Deus, não tem nada a perder. Nada para
defender. Não precisa proteger seus próprios interesses a qualquer custo. Quando errado, é capaz de
pedir perdão. Quando certo, não precisa brigar até humilhar os outros. Para esse indivíduo, pessoas são
mais importantes que posições.
3. Indulgente (amável)--moderado, cortês, gentil, tolerante, manso. Não arrogante, não é sábio aos
seus próprios olhos, tem "poder sob controle". É um fruto do Espírito. É uma maneira de ver e tratar as
pessoas, que não as usa, mas as ama.
4. Tratável (compreensiva) - A cultura do céu é ensinável, acessível, ouve, se submete, não rancoroso,
não cria motivos para discutir... disposto. Essa pessoa ouve críticas com humildade e cresce.
5. Plena de Misericórdia e Fruto da Justíça (Gl 5:22) - Cidadãos do céus mostram compaixão, mesmo
que o outro não tenha razão. Interesse genuíno pelo outro que leva a abrir mão dos meus interesses,
meus direitos, e tratar o outro com misericórdia. Firmeza com compaixão. "Plena de misericórdia"
significa "ser controlado" pela misericórdia, assim como "cheio do Espírito" significa ser controlado pelo
Espírito. Mas como? Uma pessoa controlada pela misericórdia sempre deixa que a misericórdia ganhe
quando há um conflito em seu espírito.
6. Imparcial. Não olha somente para si mesmo e seus interesses (2:1-11). Não julga as pessoas pelo que
tem, pelo que sabem, pelo que podem fazer por ela. Tem a perspectiva de Deus sobre as pessoas.
7. Sem fingimento -- Não faz da vida um "show". Não usa máscaras, nem finge ser o que não é. Pois na
verdade é transparente. Quem é assim? Mais uma vez, descobrimos que não somos nós, mas Cristo. Ele
é a sabedoria de Deus que se tornou sabedoria para nós. E hoje quer viver Sua vida em nós.
Qual é a sua cultura? Você semeia a paz, procurando sempre levar vantagem? Ou compartilha as
vantagens que já recebeu em Cristo Jesus (v. 18)?
A CULTURA DO CÉU NÃO PROCURA LEVAR VANTAGEM; MAS COMPARTILHA A VANTAGEM QUE JÁ
TEM EM CRISTO.
Cristão Também faz Dieta!
Tiago 1:22-25
ESTUDO SOBRE O NOVO TESTAMENTO
Professor Dr. Antony Steff Gilson de Oliveira
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As pessoas hoje têm tomado muito cuidado com seu peso para não terem sua saúde prejudicada.
Mas, e quanto ao seu "peso espiritual"? Não é difícil perceber que muitos crentes na igreja estão muito
acima do peso espiritual adequado e por isso deixaram de ser saudáveis na obra do Senhor.
Se não queremos ser bebês espirituais que, além de serem imaturos ainda correm
risco de saúde por causa de sua obesidade, temos que seguir um regime bem
especial que envolve dois elementos principais: Comer a Palavra e Fazer Exercício
Espiritual. Crescimento espiritual depende de uma dieta regular da Palavra de Deus e
deixar de lado muitas calorias de alimentos inapropriados para a alma. Mas comer e
beber da Palavra não é suficiente em si para garantir crescimento e mudança
espiritual. E não é uma evidência suficiente para mostrar uma fé verdadeira. Também temos que
praticar a Palavra, ou seja, fazer exercício espiritual.
É sobre isso que Tiago nos adverte em Tiago 1.22-25. Sermos assíduos aos cultos e EBDs, ouvirmos as
mensagens, estudarmos as lições bíblicas e decorarmos versículos só fará o crente engordar seu ego se
ele não aplicar o que está aprendendo e praticar em sua vida diária.
Vejamos a dieta que Tiago nos prescreve:
I. Devemos COMER a Palavra (19-22)
A. Sendo Ouvintes da Palavra (22a; 19-21)
Ser ouvinte é muito bom. É o primeiro passo! Temos que criar condições para que possamos ouvir a
Palavra, e muito.
-Fechar a boca e abrir os ouvidos (19a)
-Ser ensináveis e não rebeldes (19b-20)
-Limpar o jardim da alma e deixar a Palavra crescer (21)
O Deus vivo falou, e continua falando para nós através da Palavra! Cada "i" e "til" da Palavra dEle tem
eterno valor (Mt 5:18) Nenhuma Palavra que Ele falou voltará vazia (Is 55:11). Tudo é útil para fazer-nos
crescer. Temos que desejar essa palavra como recém-nascidos, mas temos que passar do leite para
comida sólida. A Palavra de Deus é a nossa vida: "Nem só de pão viverá o homem" (Mt 4.4)
Porém, assim como as crianças preferem comer salgadinhos, chocolates e outras coisas que não fazem
muito bem à saúde, nós também preferimos alimentar nossa alma com muitas calorias que não vêem da
Palavra. Preferimos passar horas com a internet ligada ou diante da TV assistindo filmes do que gastar
quinze minutos diários fazendo devocional. Preferimos ser fiéis torcedores de nosso time de futebol não
perdendo nenhum de seus jogos do que ser fiéis em nosso culto doméstico. Trocamos a comida
saudável da Palavra pela alimentação calórica do mundo.
Se seremos ouvintes assíduos da Palavra, teremos que tomar algumas decisões duras e objetivas.
O que você fará essa semana para resgatar seu primeiro amor pela Palavra? Confira Hb 4.11-14.
B. Não sendo hipócritas (enganados) (22b)
Mas não podemos nos enganar a nós mesmos, pensando que podemos brincar com Deus e Sua Palavra!
O "engano" de nós mesmos leva para o mal chamado hipocrisia. Convencemos a nós mesmos de que a
espiritualidade é uma medida de conhecimento. Colocamos uma fita métrica ao redor do cérebro para
determinar espiritualidade, enquanto Deus coloca uma fita métrica ao redor do coração.
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Esse é um perigo muito grande em nossas igrejas. Admiramos o Ph.D. em Bíblia, sem saber se sua vida é
condizente com aquilo que ele aprendeu. Menosprezamos os humildes, que talvez nem consigam ler e
escrever, mas que têm uma vida digna conforme Deus deseja.
O crítério de Deus é muito diferente. O próprio Jesus reservou suas críticas mais duras justamente para
as pessoas que sabiam mais, mas que praticaram menos. Os fariseus eram campeões de concursos
bíblicos, mas também batiam todos os recordes nas Olimpiadas da Hipocrisia (Mt 23:1-4, 13-15, 23, 25,
27,28). O Senhor espera que sejamos praticantes constantes de sua Palavra.
II. Devemos PRATICAR a Palavra (23-25)
Comida sem exercício é uma garantia que seremos bebês gordinhos, mas inúteis. Porém , comida boa
com exercício regular é a melhor receita para a saúde espiritual!
Ser ouvinte não é o fim. A palavra implantada tem um propósito maior-mudança interior! Muitos
crentes marcam suas Bíblias, mas não deixam que suas Bíblias marquem suas vidas.
Alguém talvez comente, "Já estudei a Bíblia de capa a capa 5 vezes", mas a pergunta mais importante
é, "Quantas vezes a Bíblia estudou você?" Estudo bíblico sem aplicação é um esforço sem proveito. É
impossível ser um ouvinte verdadeiro da Palavra, sem que a Palavra mexa conosco. É hora de levar a
sério os defeitos revelados nEla. A palavra "praticantes" parece 3 vezes nesse texto (22, 23, 25). Confira
também Mt 7.22-24, onde Jesus adverte sobre praticar o que Ele não mandou e deixar de lado o que Ele
realmente quer de nós.
O texto conta uma ilustração, usando a idéia de um espelho. Espelhos no mundo
antigo não eram nada tão sofisticados como hoje. Bronze ou prata polidos serviriam
para refletir, mesmo que imperfeitamente, a imagem da pessoa. Mas para isso,
tornou-se necessário olhar bem no espelho. Tiago usa essa figura para mostrar como
é ridículo uma pessoa esforçar-se para polir seu espelho, gastar um bom tempo
"contemplando" (a palavra implica uma observação cuidadosa) seu rosto, só para
depois não fazer absolutamente nada sobre o que descobriu.
Por isso, algumas pessoas não gostam de ler a Bíblia, vir a igreja ou ouvir um sermão. Mas, infelizmente,
muitos de nós dentro da igreja também fugimos da luz da Palavra. Continuamos, ano após anos, do
mesmo jeito. Criamos hábitos de ignorância, desculpando e justificando o que descobrimos no espelho
da Palavra. Ou fazemos auto-proteção para não sermos atingidos pela Luz da Palavra.
Mas somente quando olhamos no espelho da Palavra para ver a condição do nosso coração é que
vamos tomar o primeiro passo em direção à mudança e crescimento espiritual.
Sua vida reflete o tanto que você tem ouvido
da Palavra? Obviamente, a resposta é não.
Seria impossível para qualquer um de nós
por em prática tudo que ouvimos. Somos
muito fracos, muito falhos e muito
esquecidos. Cometemos, porém, um outro
erro ainda maior. Pensamos que, pelo fato
de que não podemos fazer tudo, então não
adianta fazer nada. Ficamos acomodados em
nosso pecados, acostumados ao status quo,
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Professor: Rev. Antony Steff Gilson de Oliveira, Pastor da Igreja Presbiteriana em Renovação
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estagnados no tempo e no espaço.
É hora de mudar! Já pensou como sua vida e a minha seriam diferentes se somente praticávamos uma
lição por semana extraída da nossa hora silenciosa, da nossa leitura, dos sermões e dos estudos que
ouvimos? Imagine em um ano como nossa vida mudaria! Mas posso ir um passo além. Imaginemos se
somente praticássemos uma lição por ano! Se Deus transformasse uma área da nossa vida pela sua
graça por ano-aquele problema de ira, fofoca, ciúmes, cobiça, mentira, desonestidade, falta de
submissão ao marido, falta de amor sacrificial pela esposa, educação espiritual dos filhos, envolvimento
missionário na igreja, serviço na igreja, fidelidade no dízimo...
Nosso problema é que adquirimos uma casca dura que serve para nos proteger dos lances da Palavra. E
fazendo assim, enganamo-nos a nós mesmos.
Uma última observação sobre vs. 24. Reparem na última frase: e logo se esquece de como era a sua
aparência, ou, em outras palavras, de que tipo de pessoa ele é. Essa pessoa nunca muda.
Fica parada no tempo, estagnado na lagoa da sua própria hipocrisia. Mas como mudar? Comocrescer?
Como posso quebrar os hábitos do passado? Como posso vencer o pecado que tenazmente me assedia?
Os passos de mudança bíblica são traçados pelas frases chaves desse último versículo:
1) "Considerar atentamente" -a palavra é ainda mais forte que a palavra anteriormente usada
"contemplar". A idéia é de alguém curvado sobre o espelho para realmente gravar todo detalhe.
É a mesma palavra usada em Lc 24.12 para quando Pedro abaixou-se para examinar atentamente o
túmulo vazio e as roupas de Jesus. Temos que debruçar, inclinar, dobrar, examinar. Não acontece numa
devocional feita por dever apenas! Exige tempo! Por isso rejeito a distinção falsa entre tempo
"devocional" e tempo de "estudo" na Palavra. Descobrimos na Palavra que somos miseráveis
pecadores. A inspeção de nós mesmos no espelho da Palavra é mais como um Raio-X do nosso coração.
Quando nos aproximamos da Palavra, é para ela diagnosticar qual é a doença de nosso coração. É
impossível você olhar para si mesmo na Palavra sem perceber a sujeira, os defeitos e o pecado que
existe em sua vida. A pessoa hipócrita não é assim. Ela olha no espelho e vê o pecado de outros refletido
nele. Só percebe sua própria glória, pois ele se cobre de chumbo para que os raios x não penetrem até o
seu coração.
2. "Lei da Liberdade"- Tiago usa a frase "lei perfeita, lei da liberdade". Como pode ser uma "lei" de
"liberdade"? É justamente pelo fato de que a lei nos traz a verdade de Deus sobre mim mesmo, sobre
meu pecado, sobre minha necessidade. E a verdade nos liberta (Jo 8.34). Sou liberto da hipocrisia, da
necessidade de usar uma máscara, pintar meu rosto, de usar cosméticos para fingir que sou o que não
sou. Pela primeira vez, fico livre para ser como Cristo!
Uma vez revelada nossa extrema carência, só temos uma opção, que é correr até o trono da graça. Não
há graça para quem não contempla seu rosto (coração) natural no Espelho da Palavra. Ao mesmo
tempo, não há graça para quem somente fica mergulhado na lama do seu pecado. Erramos quando
caímos na auto-piedade, na depressão, no desânimo sobre nosso coração maligno. Agora é hora de
abraçar a obra de Cristo em nosso lugar. Elevar os olhos até a cruz, e realmente compreender o que é
que Jesus fez por nós. Ele pagou o preço pelo nosso pecado! Sou livre! O pecado não mais domina sobre
mim! Não preciso obedecê-lo. Não sou escravo! Por isso eu me humilho e me curvo diante da cruz de
Cristo. Como Tiago dirá mais tarde, Deus resiste os soberbos, mas dá graça aos humildes. Mas para
quem contempla sua miserável pobreza de espírito, há um trono que jorra graça e misericórdia.
Clamamos a Deus para mudar nosso coração, e há graça suficiente para fazer isso. (Hb 4:12,13,16)
3. "Persevera"-ao contrário daquele que se desculpa, o verdadeiro crente não foge. Não se defende.
Não inventa desculpas. Ele se contempla como é, e guarda a imagem, mesmo feia que seja.
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4. "Sendo Operoso Praticante"-Agora chegou a hora, pela graça de Deus, para simplesmente obedecer.
Assim como a propaganda NIKE, "just do it". Somente faça! "Crer e observar". Custe o que custar,
obedeça a Palavra. É nessa hora que precisamos renovar a nossa mente (Rm 12:1,2) para sermos
transformados de glória e glória, como por espelho, contemplando a glória de Jesus (2 Co 3:18).
O que você viu no espelho hoje? Um bebê gordo? Ou um crente maduro? Será que você tem sido um
ouvinte preguiçoso? Será que seu conceito de espiritualidade é o mero conhecimento da Palavra? Será
que você se considera uma pessoa muito religiosa, mas de fato você criou o hábito de simplesmente
desculpar o que você vê de si mesmo na Palavra? Será que você tem sido hipócrita, fingindo religião
diante da platéia, quando de fato seu interior está podre? Você está cansado de viver uma mentira?
Jesus tem a solução, pois pode fazer um transplante em seu coração. Basta confiar nEle e Sua obra na
cruz, morrendo em seu lugar, ressuscitando ao terceiro dia, prova viva do perdão dos pecados. Convido
a você hoje, ao contemplar essa vida dupla que tem vivido, para olhar bem à miséria do seu próprio
coração, para depois receber a misericórdia que vem do o trono da graça.
A fé verdadeira contempla sua miséria
mas corre para a misericórdia de Cristo Jesus
Fé e Obras
Tiago 2:14-26 (Parte I)
ESTUDO SOBRE O NOVO TESTAMENTO
Professor Dr. Antony Steff Gilson de Oliveira
Reverendo da Igreja Presbiteriana em Renovação do Brasil – IPRB
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Certa vez um pastor bem conhecido em sua cidade estava comendo peixe num restaurante, quando o
ateu mais arrogante da cidade entrou e sentou-se ao lado dele. O ateu logo começou a zombar do
pastor, e perguntou-lhe, “Pois é, pastor, a Bíblia está cheia de contradições. O que você faz quando
encontrar uma delas?”
“Simples” respondeu o pastor. “Há muito que ainda não entendo na Bíblia, mas faço igual o que estou
fazendo com esse peixe que estou comendo. Tiro os espinhos, coloco-os de lado, e deixo qualquer tolo
que quiser, engasgar-se neles.”
Tiago 2.14-26 é um que tem sido como espinho na garganta de alguns. Inclusive, o grande Reformador,
Martinho Lutero, quase engasgou neste mesmo texto. Ele chamou o livro de Tiago uma “Epóstola de
Palha”, pelo simples fato de que não conseguia engolir o ensino de Tiago sobre Fé e Obras. O problema
centraliza-se em textos que parecem contraditórios:
Rm 4:5 Mas ao que não trabalha, porém crê naquele que justifica ao ímpio, a sua fé lhe é atribuída como
justiça.” Rm 3.28 “Concluímos, pois, que o homem é justificado pela fé, independemente das obras da
lei.”
Tg 2:24 “Verificais que uma pessoa é justificada por obras, e não por fé somente.”
E agora? Quem tem razão--Paulo ou Tiago? A Bíblia se contradiz? Somos salvos pela fé somente, ou
pelas obras? Qual a importância de obras na vida cristã? Antes de analisarmos o texto versículo por
versículo (próximo artigo), precisamos tratar dessa questão.
O problema não é tão difícil como parece, especialmente quando entendemos bem o CONTEXTO dos
textos em questão. Para descobrirmos a resposta à nossa pergunta, devemos voltar ao que a Escritura
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declara em claro e alto som. Partindo do que sabemos com certeza, podemos interpretar os textos mais
difíceis, dentro de seus respectivos contextos. Vamos descobrir dois princípios fundamentais, o
primeiro, a perspectiva de Paulo, o segundo, a perspectiva de Tiago.
1. Só fé em Jesus Cristo salva, sem o acréscimo de obras (a perspectiva de Paulo).
O texto bíblico é unânime, de começo ao fim . . . Não há nada em nós capaz de merecer a vida eterna.
Rm 3:10-12 “não há justo, nem sequer um; não há quem entenda, não há quem busque a Deus; todos se
extraviaram, à uma se fizeram inúteis; não há quem faça o bem, não há nem um sequer.
Is 64:6 Mas todos nós somos como o imundo, e todas as nossas justiças como trapo da imundícia
Ef 2:8,9—Porque pela graça sois salvos mediate a fé, e isto não vem de vós, é dom de Deus; não de
obras, para que ninguém se glorie.
Tt 3:5—não por obras de justiça praticadas por nós, mas segundo sua misericórdia, ele nos salvou.
2 Tm 1:9—nos salvou e nos chamou com santa vocação; não segundo as nossas obras, mas conforme a
sua própria determinação e graça que nos foi dada em Cristo Jesus antes dos tempos eternos.
Rm 3:20-28 “visto que ninguém será justificado diante dele por obras da lei . . . Mas agora, sem lei, se
manifestou a justiça de Deus testemunhada pela lei e pelos profetas, justiça de Deus mediante a fé em
Jesus Cristo, para todos os que crêem . . . sendo justificados gratuitamente, por sua graça, mediante a
redenção que há em Cristo Jesus; . . . Concluímos, pois, que o homem é justificado pela fé,
independentemente das obras da lei.
Quando lemos esses textos, só podemos concluir que a salvação é obra de Deus, independente das
obras, para que somente Deus receba toda a glória. A fé não é uma obra, mas uma resposta à obra
prévia de Deus no coração humano. Significa receber um presente dado por Deus. Ninguém se vangloria
por estender a mão para receber um presente. A glória pertence àquele que o doou.
Inclusive, à luz desse presente de valor inestimável, qualquer tentativa de comprá-lo diminui tamanho
sacrifício feito por Cristo para torná-lo possível. Por exemplo, digamos que um dia você descobre que
precisa de um transplante de rim. A única pessoa no mundo que tem um órgão compatível com seu
corpo é sua própria mãe. Quando ela fica sabendo da sua necessidade, no mesmo instante oferece doar
o rim dela. Depois da cirurgia, você chega para sua mãe e diz, “Mãe, a senhora me deu vida quando
entrei nesse mundo; agora a senhora salvou a minha vida. Sou muito grato. Quero fazer alguma coisa
para pagar a senhora pelo que fez por mim. Quanto posso te dar pelo seu rim? Será que R$7 seria bom?
Essa é a diferença entre todas as religiões do mundo e o verdadeiro cristianismo. As religiões ensinam
que o homem faz boas obras PARA SER SALVO, enquanto a Bíblia ensina que fazemos boas obras POR
QUE JÁ SOMOS SALVOS. A religião exalta ao homem, e diminui tamanho sacrifício de Cristo na cruz, pois
acha que pode merecer a salvação. Mas o cristianismo exalta a Deus, pois reconhece que seria
impossível pagar o que foi comprado por Cristo na cruz. Religião é motivada pela culpa, mas cristianismo
pela graça. Religião leva à escravidão, dúvida e insegurança, enquanto cristianismo verdadeiro leva à
segurança de um relacionamento filial com Deus.
Então, qual o lugar de obras na vida cristã? Obras são muito importantes, mas como resposta de
gratidão pelo que Deus já fez por nós em Cristo.
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Paulo e Tiago estão falando em dois contextos diferentes. Paulo combate a idéia de que um
relacionamento com Deus pode ser “comprado” por boas obras, enquanto Tiago luta contra aqueles
que dizem que a salvação não precisa fazer nenhuma diferença na maneira de se viver a vida. É como se
os dois estivessem de costas um para o outro, unidos, mas combatendo inimigos diferentes. Para
ambos, a fé em Cristo Jesus é o meio da salvação. Mas Paulo combate o LEGALISMO enquanto Tiago
combate a LIBERTINAGEM.
2. A verdadeira fé em Jesus nunca fica só, mas rompe-se em obras (a perspectiva de Tiago).
Se somos salvos somente pela fé, o que acontece depois? Voltemos para a história do transplante de
rim, doado pela sua mãe. Se você realmente se viu como condenado à morte, sem esperança; se você
recebeu um presente de valor inestimável, um rim da sua própria mãe, sua vida depois será diferente!
Você vai amar sua mãe como nunca amava antes. Você faria de tudo para agradá-la—ela é a sua vida!
Você vai querer servi-la—lavar louça, levá-la para comer fora, enviar o melhor cartão para o Dia das
Mães, etc. Não para ganhar a salvação—você já a tem! Mas porque você foi salvo, pela graça e pelo
amor dela!
Tiago combate a idéia de que uma pessoa genuinamente convertida a Deus possa continuar sua vida
como se nada tivesse acontecido. A salvação verdadeira não inclui nenhum requisito além da fé—a mão
do mendigo esticado para receber a esmola do céu. Mas implica em mudança radical de vida depois,
pela obra do Espírito Santo que habita no cristão, pela compreensão de tudo que Cristo fez por nós na
cruz.
Tiago não nos chama para “fabricar” obras, acrescentar ítens na nossa lista de afazeres espirituais. O
ponto é que uma fé verdadeira, que vem de Deus, que trouxe nova vida pelo Espírito Santo,
naturalmente produz o fruto de boas obras. Temos parte no processo, sim. Cooperamos com a graça de
Deus na produção de boas obras. Caso contrário Tiago não teria razão de escrever.
Paulo diz a mesma coisa em 2Co 5:17 Se alguém está em Cristo, nova criatura é; as coisas antigas já
passaram; eis que se fizeram novas. Gl 2:20 Sou crucificado com Cristo, logo, já não sou eu quem vive,
mas Cristo vive em mim.
Num certo sentido, Paulo descreve como o homem é justificado diante de Deus, enquanto Tiago
descreve como o homem demonstra sua justificação diante dos homens. Um fala da perspectiva vertical
enquanto o outro, da horizontal.
Tg 2:24 “Verificais que uma pessoa é justificada por obras, e não por fé somente.
Recebemos a vida, e depois revelamos a vida (de Jesus). Na justificação divina, somos DECLARADOS
justos. Na justificação diante dos homens, somos DEMONSTRADOS justos. A fé falsa baseia-se em
PROFISSÃO, mas a fé verdadeira baseia-se em POSSESSÃO. Em outras palavras, a fé que salva rompese em obras.
Esse é o ensino unânime das Escrituas: Primeiro fé, depois obras. Mas as obras não nos santificam.
Mesmo depois da salvação, a vida cristã se vive pela fé, e não pelas obras. As obras são resposta de
gratidão produzidas em nossas vidas pelo Espírito Santo (Gal 3.1-3). Vejo como Paulo concorda com
Tiago quanto à importância de obras como resultado (sobre-natural) da salvação pela fé:
Ef 2:10—Pois somos feitura dele, criados em Cristo Jesus para boas obras, as quais Deus de antemão
preparou para que andássemos nelas.
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Tito 1:16—No tocante a Deus professam conhecê-lo, entretanto o negam por suas obras, por isso que
são abomináveis, desobedientes e reprovados para toda boa obra.
Tiago nos lembra de que a fé verdadeira, que abraça Jesus e Sua obra na cruz como a única esperança
de vida eterna, não pode ficar só. Infelizmente, algumas pessoas afirmavam fé em Jesus, mas era uma fé
que desejava muito a desejar. Era uma fé como os demônios têm (Tg 2.19). Eles crêem no único Deus.
Crêem que Jesus é o Filho de Deus; sabem que Jesus morreu na cruz pelos pecados. E além disso, sua
“fé” os faz tremer! Eles têm uma resposta emocional. Mas nem por isso são salvos!
Historicamente, a fé evangélica tem entendido que a fé que salva envolve três elementos: 1)
Conhecimento dos fatos do Evangelho 2) Afirmação dos fatos do Evangelho 3) CONFIANÇA PESSOAL nos
fatos do Evangelho para MINHA salvação.
Muitos hoje possuem itens um e dois acima. Mas não chegam à fé verdadeira, que exige apropriação
pessoal do Evangelho. Não lançam o peso da sua esperança de vida eterna sobre o Jesus e somente
Jesus. Afirmam os fatos do Evangelho, mas não confiam unica e exclusivamente neles para vida eterna.
Esse passo “radical” só vem quando Deus converte a alma de alguém. E quando esse “novo nascimento”
acontecer, há mudanças radicais na vida da pessoa. É isso que Paulo e Tiago afirmam juntos.
Um outro Reformador do XVI século, João Calvino, conseguiu reconciliar o ensino de Paulo e Tiago
quando declarou, Só fé em Jesus Cristo é que salva, mas fé em Jesus Cristo nunca fica só.
Fé que Funciona
Tiago 2:14-26 (Parte II)
ESTUDO SOBRE O NOVO TESTAMENTO
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Como criança, eu gostava muito de brincar dom dominós, montando fileiras sinuosas e derrubando o
primeiro na esperança de que todos caíssem. Se por acaso houve uma interrupção do “efeito dominó”,
eu sabia que algo estava errado—um dominó fora do lugar, um desnível na superfície, algum outro
defeito.
O livro de Tiago mostra o “efeito dominó” na vida cristã. A fé genuína em Cristo Jesus inevitavelmente
leva para uma vida de boas obras. Se porventura isso não acontecer, existe ampla evidência de que algo
está errado. Ou a pessoa nunca “entrou na linha” (não aceitou Jesus de verdade) ou está com algum
defeito sério em sua vida (está desalinhado ou desajustado).
Já descobrimos no primeiro estudo desse texto que não existe nenhuma contradição entre Paulo e Tiago
quando se trata da fé e das boas obras na vida cristã. Descobrimos dois princípios fundamentais:
1. Só fé em Jesus Cristo é que salva, nunca obras. Obras não são uma condição de salvação, nem da
santificação, que acontece pela fé em Cristo (Ef 2.8,9).
2. A verdadeira fé em Jesus nunca fica só, mas rompe-se em obras. Obras acompanham a verdadeira
fé, como expressão da vida de Cristo em nós. São produzidas por um coração cheio de graça, não culpa.
Recebemos a vida, e depois revelamos a vida (de Jesus). Na justificação divina, somos DECLARADOS
justos. Na justificação diante dos homens, somos DEMONSTRADOS justos. A fé falsa baseia-se em
PROFISSÃO só, mas a fé verdadeira baseia-se em POSSESSÃO. Em outras palavras, a fé que salva rompese em obras.
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Só fé em Jesus Cristo é que salva, Mas fé em Jesus Cristo nunca é só.
Jesus nos disse que “pelos frutos os conhecereis”. Se alguém professa ser crente em Cristo mas sua vida
não mudou em nada, será que realmente é salvo? Embora não possamos julgar aos outros, segundo 2
Coríntios 13.5, devemos julgar a nós mesmos: Examinai-vos a vós mesmos se realmente estais na fé;
provai-vos a vós mesmos. Por isso, Tiago sugere provas concretas de uma fé genuína em seu livro. Para
ele “’Crer’ é um verbo ativo e presente”.
Em Tiago 2.14-16 vamos descobrir pelo menos três características de uma fé “de boca pra fora”, e não
“de coração para dentro”. Essa fé sem o efeito dominó de obras é inútil, inválida e morta.
I. Fé sem Obras é Inútil (14-16)
Tiago pergunta, “qual o proveito” de uma fé sem obras (vss. 14,16). Tal fé sem obras é inoperante (vs.
20). O que ele está dizendo? Uma fé verdadeira é como uma semente plantada no solo fértil da vida de
Jesus, que tem todas as condições possíveis para gerar fruto. Se uma semente não der fruto, só existem
duas opções—ou o solo é ruim, ou a semente está morta. Sabemos que em Cristo o “Solo” é perfeito.
Então o problema deve estar na semente.
A. Fé Falsa é uma Fantasia! Fé sem obras, nas palavras de Jesus, é como sal insípido, sem sabor, que
não presta para nada. É um ramo não ligado à videira, que só presta para ser podado e queimado.
Na época em que Tiago escreveu havia muita empolgação, até mesmo “intoxicação” com a graça. No
contexto judaico de legalismo opressivo, em que o povo carregava fardos enormes de “performance” da
lei, de repente, a verdade de Cristo os libertou. Mas existia um perigo, perigo que Paulo também
atacava em suas cartas. “Pequemos, para que a graça super abunde?”
“De jeito nenhum!”, vem a resposta tanto de Paulo como de Tiago. Quem tem essa perspectiva nunca
compreendeu a graça do Senhor! É a prova mais clara de que nunca fora regenerado.
Fomos salvos com propósito. Salvação em Cristo é muito mais que um apólice de seguros de vida, que
alguém compra e coloca numa gaveta e esquece! A salvação genuína significa uma vida “em Cristo” com
“Cristo em nós”.
As perguntas no vs. 14 é retórica; os leitores já sabiam a resposta: “Qual é o proveito, se alguém disser
que tem fé, mas não tiver obras? Pode, acaso, semelhante fé salvá-lo?” Entende-se que existem vários
tipos de “fé”. Existe uma fé verdadeira e uma fé falsa. A primeira é uma possessão, a outra é mera
profissão. Por isso a pergunta, “pode, acaso ‘semelhante’ fé salvá-lo?” Esse tipo de fé falsa é inútil.
B. Fé Falsa é Insensível.
Vss 15 e 16 ilustram a insensibilidade (inutilidade) de tal fé. Por ser uma fé morta, não responde. Não
faz nada. Não reage. Não sente. Não faz bem para ninguém, muito menos a pessoa que diz que a possui.
Seria o auge de auto-engano e crueldade imaginar que meras palavras de consolo tomariam o lugar de
obras de consolo. “Aquela” fé é “de boca pra fora”. As palavras de quem diz “Ide em paz, aquecei-vos e
fartai-vos” caem para terra. É uma fé falada, não uma vida vivida. É uma falsa compaixão, sem coração,
sem realidade, uma fantasia
Temos que questionar a nós mesmos se temos criado calos na nossa fé. Se estamos ficando endurecidos
pelas necessidades que encontramos ao nosso redor. Se não somos mais chocados pela miséria que o
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pecado tem produzido em nosso mundo... crianças com defeitos físicos... mendigos ... bêbedos...
aidéticos... ovelhas sem pastor.
Será que somos compassivos diante de por atores e atrizes em filmes e novelas, mas endurecidos diante
de tragédias na vida real? De que vale nossa ortodoxia se não resulta em ortopraxia?
Quantas vezes nossa fé não passa de hipocrisia, palavras vazias que soam bonitas mas que fazem
absolutamente nada? Quantas vezes caímos numa rotina de chavões evangélicas, mas que não fazem
bem para ninguém! Há pessoas que conseguem farejar falsa doutrina de 50 km, mas não conseguem dar
um copo de água fria para uma pessoa sedenta. Tiago, falando em nome de Deus, não tem paciência
para esse tipo de fé cerebral e hipócrita.
Fé sem obras é hipocrisa.
Obras sem fé é religiosidade.
Fé que rompe-se em obras é espiritualidade.
II. Fé sem obras não se valida (18-25) A palavra “justificação” admite de mais de um significado no Novo
Testamento. Quando Paulo fala em “justificação” do crente, normalmente descreve um ato judicial do
Supremo Juíz, em que Ele declara alguém não somente livre do pecado, mas coberto da justiça de Jesus
(2 Co 5:21). Ser “declarado justo” é o significado básico de “justificação”. Nesse caso, essa “transação”
acontece entre Deus e o homem só, e é invisível por outros homens. Então, como saber se é verdadeira?
A única maneira de tornar fé visível é pelas obras.
A fé invisível torna-se visível quando veste-se em obras.
Assim como existem dois tipos de fé (profissão e possessão), também existem dois tipos de justificação.
Existe um outro significado, o uso de Tiago aqui, que significa “mostrar-se justo” ou “validar”(cp. Rm
3:4,1 Tm 3:16, Lc 7:35).
Por exemplo, quando falamos em “justificar um voto”, queremos dizer “validar nossa ausência na
votação”. Quando Tiago fala em justificação, tem em mente essa idéia de “validar”a fé. É a idéia de ter o
“reconhecimento de firma” da nossa fé. No cartório humano nossas obras validam a fé que dizemos que
temos.
Paulo diz, “Deus justifica quem crê em Jesus, sem obras da lei.” Tiago acrescenta, “O homem tem sua fé
validada pelo fruto que produz.” Em ambos os casos, salvação é sempre pela fé, sem obras, sem
condição, a não ser fé em Cristo Jesus. Mas essa fé é “radical”—produz mudanças na “raíz” do coração,
que com o passar do tempo, produzem fruto.
A. Fé Verdadeira exige Mais que Conhecimento e Emoção (18-19).
Tiago usa o efeito “choque” para defender sua tese. Distingue entre dois tipos de fé—uma fé falsa,
invisível, ou pelo menos incompleta, que até os demônios tem, e uma fé verdadeira, visível, que
manifesta-se pelas obras.
Segundo vs. 19, os demônios são ortodoxos! Monoteístas, trinitarianos, crêem na divindade e
humanidade de Jesus, crêem que Jesus morreu na cruz pelos pecados, crêem que ressuscitou ao
terceiro dia! Além disso, eles têm uma reação emocional a esses fatos (tremem). Mas não são salvos.
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Falta-lhes um ingrediente essencial, que transforma fé falsa em fé genuína: CONFIANÇA.
B. Fé Verdadeira Justifica-se Pelas Obras (20-23). Abraão foi DEMONSTRADO justo 30 a 40 anos depois
que foi DECLARADO justo, quando ofereceu Isaque no altar (Gn 22). Leia bem o texto.
Tiago afirma a salvação pela fé somente . . . vs. 23 deixa isso muito claro, citando Gn 15:6.
“Abraão creu em Deus, e isso lhe foi imputado para justiça”. Mas veja bem: O processo que se iniciou
depois que ele creu em Deus--a semente da sua fé-- brotou, e 40 anos depois, justificou-se diante de
Deus e do mundo. Sua fé na realidade de Deus, na obra de Deus em sua vida, na promessa de Deus, era
tão grande, que ele podia colocar TUDO no altar de Deus, seu único filho, o filho da promessa, sua
esperança do futuro, sua alegria. Somente uma fé madura, arraigada na soberania e no amor de Deus, é
capaz disso.
Conforme vss 22 e 23, “foi pelas obras que a fé se consumou”, ou seja “se aperfeiçoou”, se fez
“perfeita”, completa. Em outras palavras, o fruto da fé é obras.
Às vezes, teremos que esperar muito tempo, como Abraão, para ver que tipo de fruto a fé a de produzir.
Mas certamente será produzido. E se não existe, temos toda razão para questionar se a fé existe
também.
Por isso vs. 24 diz que somos justificados—no sentido de sermos demonstrados como pessoas de fé—
pelo fruto da nossa fé. A pessoa é DEMONSTRADA justa pelas obras baseadas em fé.,
Um segundo exemplo é Raabe. Ela começou do outro lado do espectro da humanidade que Abraão—
prostituta, cananita, mulher mentirosa. Mas ela também foi aceita por Deus, baseada numa fé
inabalável em Deus e Sua Palavra, e depois, manifestada diante de todos por obras de fé, obras
arriscadas. Ela colocou tudo no altar também, e assim sua fé foi validada.
III. Fé sem obras é morta (17, 20, 26)
O grande clímax do texto está no vs. 26. De fato, começa no vs. 17: A fé invisível—fé “de boca pra
fora”—não é uma fé viva, não é uma fé verdadeira, mas morta. A ordem é simples: Recebemos a vida, e
depois revelamos a vida (de Jesus).
Assim como um corpo sem o espírito não tem força, nem vida, assim uma “fé” que não rompe-se em
obras é morta. Fica totalmente insensível, fria, dura. Não reage. Não sente. Não mexe. Não cresce.
O que fazemos revela quem somos. Se não fazemos nada, somos mortos. Se a árvore só produz fruto
podre, a árvore está podre:
Mt 7:16-20 Pelos seus frutos os conhecereis. Colhem-se, porventura, uvas dos espinheiros ou figos dos
abrolhos? Assim toda árvore boa produz bons frutos, porém a árvore má produz frutos maus. Não pode
a árvore boa produzir frutos maus, nem a árvore má produzir frutos bons. Toda árvore que não produz
bom fruto é cortada e lançada ao fogo. Assim, pois, pelos seus frutos os conhecereis.
1 Jo 3:7-10 Filhinhos, não vos deixeis enganar por ninguém; aquele que pratica a justiça é justo, assim
como ele é justo. Aquele que pratica o pecado procede do diabro, porque o diabo vive pecando desde o
princípio. Para isto se manifestou o Filho de Deus, para destruir as obras do diabo. Todo aquele que é
nascido de Deus não vive na prática de pecado; pois o que permanece nele é a divina semente; ora, esse
não pode viver pecadno, porque é nascido de Deus. Nisto são manifestos os filhos de Deus e os filhos do
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diabo: todo aquele que não pratica justiça não procede de Deus, também aquele que não ama a seu
irmão.
Não podemos “fabricar” boas obras. São o produto natural de quem tem vida em si, a vida de Jesus,
cultivada e demonstrada pelo Espírito Santo, que nos “cutuca” em direção a um caráter aprovado por
Deus. Tiago escreve por esse mesmo Espírito para nos “cutucar” em direção às obras que revelam uma
fé verdadeira. Podemos recapitular as “obras” que ele mesmo já mencionou até esse ponto no livro
como provas de uma fé genuúina, uma fé presente e ativo:
1. Reage as provações com alegria (1.2-12)
2. Resiste tentação, CRENDO que Deus é bom e que não tenta a ninguém, mas que a culpa pelo pecado
vem de mim mesmo (1.13-18)
3. Recebe a Palavra, como praticante e não somente ouvinte. Quem foi regenerador pela Palavra da
verdade não consegue mais viver sem ela. Deve sua vida a Ela! (1.19-25).
4. Reflete sua religião em generosidade, santidade e palavras peneiradas (1.26,27).
5. Rejeita favoritismo (2.1-13).
Mais tarde na carta, Tiago dará outras obras que são fruto natural de quem realmente crê em Jesus.
Mas por ora, cabe a nós fazermos o que Paulo sugere em 2 Co 13:5, e examinar-nos a nós mesmos, para
ver se realmente estamos na fé. Se confiamos, mas confiamos mesmo em Cristo Jesus e somente Cristo,
então é hora de deixar que a vida dEle seja vivida em nós, em nosso caráter, transformado diariamente,
de glória a glória, à imagem de Cristo.
Só fé em Jesus Cristo é que salva, Mas fé em Jesus Cristo nunca fica só.
Feche os olhos e Abra os Braços Tiago 2:1-13
ESTUDO SOBRE O NOVO TESTAMENTO
Professor Dr. Antony Steff Gilson de Oliveira
Reverendo da Igreja Presbiteriana em Renovação do Brasil – IPRB
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O príncipe Leopoldo era, como todos os demais príncipes são, rodeado de tudo aquilo que desejava. Se
ele queria um brinquedo novo, ele o tinha. Se queria passear a cavalo, sem demora um dos servos o
levava a passear. E para toda hora, exceto aquelas nas quais estudava, tinha sempre alguém de plantão
para brincar com ele.
Porém, certo dia uma dúvida lhe assaltou a mente: "estas pessoas que me cercam e me assistem
verdadeiramente se importam comigo? Ou será que me assistem somente por que sou o príncipe? E se
eu não fosse um príncipe, me dariam atenção do mesmo jeito?"
Resolveu levar sua dúvida à última consequência. Um belo dia pediu a seu pai que queria passar uns dias
na casa de sua tia Cristina e para lá se foi. Na verdade, o que ele fez foi ganhar uns dias para deixar suas
roupas de príncipe e andar como simples rapaz pela aldeia mais próxima do castelo.
Que experiência! Na igreja que entrou absolutamente ninguém o notou; na mercearia ninguém lhe
ofereceu nada; na praça ninguém parou para cumprimentá-lo ou nem mesmo perceberam sua
presença.
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Decidiu fazer um teste: enfaixou sua perna esquerda e sentou-se no canto da praça como se estivesse
gravemente ferido e esperou para ver quem se importaria com ele. Praticamente ficou a tarde inteira lá,
vendo muitos homens e mulheres passando por ele e deixando-o como estava, talvez pensando que ele
era apenas um filho de mendigo. Até que, já quase no pôr do Sol, um camponês o viu e decidiu socorrêlo. O príncipe Leopoldo foi respondendo às perguntas do camponês como se de fato fosse filho de
mendigo e observava até que ponto iria seu interesse.
Foi quando o camponês o tomou nos braços e iria levá-lo para o hospital que ele se revelou como
príncipe. Então Leopoldo o levou ao castelo e o recompensou por sua bondade revelada a alguém que
até então ele não conhecia. Naquele dia o camponês disse ao príncipe: "Na verdade, quem deveria ser
honrado aqui deveria ser meu pai, pois foi com ele que aprendi a fechar os olhos e abrir os braços para
acolher qualquer homem."
Esta história ilustra bem a advertência que Tiago nos faz em sua carta. No capítulo 2, dos versículos de 1
a 13 ele expressa a idéia de que a maneira como tratamos as pessoas a nossa volta revela o que
realmente cremos a respeito de Deus.
Tiago percebeu que aquela igreja tratava bem aos "príncipes" mas, quanto aos "do povo", nem sequer
os notavam. Ele cita na carta as viúvas e órfãos, pessoas praticamente sem sustento, desesperadas,
desempregadas, sem teto e sem direitos naquela época (será diferente dos dias de hoje?). Naquele
tempo em uma sociedade agrícola, sem INSS, sem orfanatos e sem asilos o que tais pessoas poderiam
fazer? Quase nada. E pior, quem as ajudava não tinha perspectiva nenhuma de receber algo em retorno.
Nenhuma gratificação; nenhum presente; nenhuma remuneração, pois, eram pessoas indefesas e
incapazes de remunerarem seus benfeitores.
Assim como o príncipe Leopoldo testou os homens de sua aldeia vizinha, Tiago criou um estudo de caso
para nos ajudar a verificar se sabemos praticar a Palavra de Deus ou não. O que acontece quando essas
pessoas menos privilegiadas-órfãos, viúvas, doentes, fracos, pobres, menosprezados, drogados,
bêbedos-entram na igreja? Quando pessoas "problemáticas" querem fazer parte da nossa comunhão?
Como encaramos as pessoas? Existem preconceitos entre nós? Valorizamos certas pessoas mais que
outras? Tiago, no "estudo de caso", envia dois visitantes para nosso culto-um rico, e um pobre. Depois,
ele avalia como os tratamos. E de sua avaliação concluímos que favoritismo é incompatível com a fé por
quatro motivos:
I. Favoritismo é Incompatível com a Fé em Cristo (1-4)
A palavra acepção de pessoas literalmente traz a idéia de levantar o rosto de alguém, ou seja, olhar
simples e somente para sua aparência, e tratar com favor e respeito aqueles que podem nos retribuir. É
interessante notar que a palavra é unicamente cristã, talvez pelo fato de que o favoritismo era tão
aceito no mundo antigo, como hoje, que não foi nem identificado.
Tiago apresenta um cenário semelhante ao que contamos no início. Precisamos entender que a vasta
maioria das pessoas na igreja primitiva eram pobres, escravos, menosprezados. A visita de um rico
certamente seria ocasião especial.
O problema com favoritismo (que é o fruto de uma raiz podre) está no coração. Revela um coração que
é cobiçoso, egoísta, com valores mundanos, crítico (juíz) e perverso.
Quase toda igreja tem suas panelinhas (não há problema com panelinhas, desde que não tenham
tampa!). . . pessoas que encaram a igreja mais como clube do que como templo. Existem pessoas que
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usam a igreja para subir a escada social, para chegar ao topo da pirâmide espiritual.
A vida de Cristo em nós significa que devemos ver as pessoas como Jesus as via quando de seu
ministério terreno (com órfãos e viúvas, 1.26). Será que eu vejo pessoas?
Jesus não fez acepção de pessoas (Mt 22:16). Para ele, a viúva com duas moedinhas valia tanto quanto
ou até mais que o fariseu rico. Jesus via o potencial nas pessoas. Julgava pessoas não pelo seu passado,
mas pelo seu futuro. Via em Pedro não uma pedra em sua sandália, mas uma rocha para sua Igreja. Via
em Mateus não um coletor de impostos corrupto, mas um Escritor do Evangelho. Tocava no leproso.
Confraternizava com os menosprezados, tanto rico como pobre.
A fé verdadeira não julga pessoas pela cor de sua pele, pela roupa de grife ou não, pelo país de origem,
pelo carro que dirige, pelo status social, pelos graus e cursos, pelo dinheiro e casa que tem, pelo bairro
onde mora. A fé verdadeira olha para todas as pessoas como candidatos para serem nosso próximo-alvo
do nosso amor e do amor de Jesus. Não vê pelo que pode RECEBER, mas pelo que pode DAR.
Essa é a vida de Jesus em nós! O evangelho de Marcos nos lembra que Jesus não veio para ser servido,
mas para servir, e dar a sua vida em resgate (10.45). Como praticamos a vida de Cristo em nós ?
Aceitamos o irmão em Cristo porque Jesus vive nele? Recebemos o descrente, porque Cristo morreu por
ele?
O filho de Deus vê todos não pela aparência, mas em relação a família de Deus. Fica cego a diferenças
nacionais, sociais, econômicos, intelectuais.
II. Favoritismo é Incompatível com a Escolha de Deus (5)
Ao olharmos para a história da igreja percebemos que desde o início seus membros não foram amados
por toda a sociedade. Ainda no primeiro século da era cristã, o filósofo romano Celso já descrevia os
crentes como sendo: "vulgar, como um enxame de morcegos ou formigas fugindo da sus formigueira, ou
rãs conduzindo um simpósio no meio de um brejo, ou minhocas numa convenção num canto da lama".
Porém, o apóstolo Paulo já havia dito aos crentes que Deus havia escolhido para ser seu povo
justamente aqueles que eram os fracos e humildes ( 1 Co 1.26-27). Isto não significa que não há ricos e
prósperos entre os escolhidos de Deus, mas Paulo queria consolar os crentes de Corinto pelo fato de
que eles já enfrentavam o menosprezo da sociedade por causa de muitos serem pobres. Na verdade,
podemos dizer que, enquanto o amor do homem é seletivo, o de Deus é "cego".
III. Favoritismo é Incompatível com a Realidade (Atual) Social (6,7)
Tiago aponta a incoerência de prestigiar as mesmas pessoas que estavam acabando com a igreja.
Aqueles que haviam mal-tratado, menosprezado, oprimido, processado e blasfemado, agora recebiam
lugar de honra na igreja.
A realidade cultural do primeiro século, e por quase todos os séculos desde então, é que a maior parte
da igreja verdadeira é composta de pobres, marginalizados. Deus torce por aqueles que são menos
favorecidos. É uma demonstração de falta de bom senso e lógica exaltar na igreja justamente aqueles
que mais perseguem a igreja de Jesus Cristo.
IV. Favoritismo é Incompatível com a Palavra de Deus (8-13)
A parábola do Bom Samaritano respondeu uma vez para sempre a pergunta: "Quem é o meu próximo?"
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Para Jesus, a questão de amor pelo próximo não é "quem é meu próximo", mas "para quem eu posso
ser o próximo".
Conforme vs 9, se eu pratico acepção de pessoas, se eu olhar o exterior como o homem natural olha,
sou transgressor da Lei, não somente de um pontinho, mas de tudo. Revelo a sujeira do meu coração,
que não vê as pessoas como Jesus vê. Mostro que sou caracterizado pela rebeldia. Quebrando um só
ponto da lei, eu me declaro em alto e bom som que sou capaz de quebrar tudo.
É como bater com um martelo, mesmo que levemente, em um canto de uma grande vitrine. Se você
quebrar o vidro naquele lugar, você quebra tudo. Você se classifica como quebrador de vidros.
Tiago, nos versículos 12 e 13, conclui dizendo que devemos proceder de tal forma como pessoas que
vivem debaixo da Lei de Cristo, que é justamente amor pelo próximo, tratando a todos com dignidade,
com respeito, com amor.
Mas o que significam esses versículos ? Será que o cristão há de ser julgado e condenado? Creio que
não. Jesus já pagou o preço pelos nossos pecados. Porém, existe disciplina na família de Deus. As vezes
Deus precisa nos humilhar, para experimentarmos um pouco do tratamento que damos para os outros.
Certamente a Bíblia fala que devemos mostrar honra e respeito especial para certos grupos de pessoas:
Pais (Ef 6:1,2)
Velhos (Lv 19:32
Autoridades 1 Pe 2
Líderes Espirituais (1 Ts 5:12,13)
Mas também devemos tratar a todos com dignidade. Algumas pessoas, especialmente pessoas mais
simples pelos padrões deste mundo, são muito sensíveis a discriminação no tratamento para com eles.
Quando é que praticamos acepção de pessoas?
Quando só conversamos com nosso grupo de amigos depois do culto;
Quando só convidamos para nosso grupo pequeno, pessoas que têm o mesmo padrão social que o
nosso;
Quando olhamos para pessoas com desprezo, sem saber nada sobre elas, suas circunstâncias, suas
dificuldades;
Quando tratamos de forma diferenciada uma empregada ou um jardineiro do que trataremos um
executivo de uma multi-nacional;
Quando permitimos que pessoas que têm duas vezes nossa idade nos chamem de Sr e Senhora quando
nós os chamamos de você;
Quando agimos como que qualquer coisa serve para os pobres em nossas doações, que nunca dariamos
para outras pessoas;
Quando concluímos automaticamente que pobre é pobre pela própria escolha (e esquecemos de Pv
22.2 que diz que o rico e o pobre se encontram; a um e outro fez o Senhor);
Quando criamos uma igreja homogênea, ou seja, em que desejamos que todas as pessoas sejam como
nós, da nossa classe social, econômica, intelectual, etc. Mas essa não é a igreja de Jesus, a família de
Deus. Precisamos de todos os irmãos.
Após meditarmos na exortação de Tiago, é preciso tomar cuidado daqui para frente. Da próxima vez que
você se encontrar com um "próximo" lhe estenda a mão logo. Pode ser que ele seja um "príncipe
Leopoldo" enviado por Deus para testá-lo. Quando você o ver lembre-se: "Feche os olhos para sua
aparência e abra os braços para acolhê-lo."
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LENDO MATEUS COM OLHOS JUDEUS
Pr. Walter Santos Baptista
Os Evangelhos chamados Sinóticos têm sido objeto de intenso estudo desde a primeira parte do século
19. O chamado "Problema Sinótico" tem ocupado os estudiosos por dezenas de anos em uma
verdadeira caçada às fontes destes Evangelhos, tendo ficado claro para estes mestres que os Evangelhos
de Lucas e Mateus tinham incorporado a maior parte do Evangelho de Marcos, tendo, porém,
elementos comuns que nele não estavam. Tem-se dado, igualmente, a busca da chamada fonte ou
documento Q (inicial da palavra alemã Quelle, que significa "fonte"), ou mesmo de várias formas deste
documento, o qual é supostamente a fonte ou fontes dos Sinóticos. Os pesquisadores do assunto hoje
têm a tradição oral e as primitivas narrativas escritas como fontes comuns dos Evangelhos Sinóticos.
Os evangelistas, aqui incluindo João, apresentam distintos retratos de Jesus Cristo. Acerca desse
assunto, LAGRANGE expressou-se,
"Marcos trabalha no calor terreno da terracota; Lucas esculpe no mármore branco (tanto no Evangelho
quanto no livro dos Atos, a geografia é teológica, sua mente é fascinada pela vasta expansão da missão
universal do Cristianismo); A visão de Mateus é colorida por um forte interesse na eclesiologia (seu estilo
é hierático e litúrgico); João, por outro lado, é um sacramentalista com uma percepção mística do
mistério da Palavra feita carne".
Os Evangelhos canônicos foram compostos entre os anos 55 e 85 do calendário romano, e são
considerados como forma escrita da tradição oral da Igreja Apostólica. Lucas, em 1.1-3, refere-se à
existência de muitos Evangelhos baseados nas narrações feitas pelos discípulos e por pessoas que
testemunharam os fatos. Marcos teria ouvido de Pedro, e Mateus havia feito uma compilação das
próprias palavras de Jesus em aramaico.
O papel de Israel, nos Evangelhos é o de guia: os goyim (gentios) deveriam unir-se a Israel, visto que
este não perdera a posição até então ocupada. SCHLESINGER afirma que "o evangelista Mateus nada
sabe a respeito da invalidação da antiga aliança. Para ele, o chamado das nações gentílicas é coisa
secundária. A comunidade que possui o reino não é um novo Israel, senão o verdadeiro Israel."
O problema que se apresenta é o do reconhecimento do novo estado de coisas que Jesus, o Nazareno
prega. Mateus é o "Evangelho do cumprimento" (5.17-20). Jesus enviado apenas às ovelhas perdidas da
casa de Israel (15.24); Salvador do Seu povo (1.21). É o "nazareno" de uma não identificada profecia
(2.23).
De acordo com Mateus, o Malkut haShamaim ("Reino dos Céus") é o cumprimento das antigas
profecias, a última realização da Torah ("instrução, lei"), o judaísmo dos antepassados levado à sua
maior perfeição. A nova ordem não é a negação da antiga aliança, mas a sua consecução (Mt 26.28), de
acordo com o oráculo de Jeremias em 31.31-33. Mateus se refere a uma aliança que se renova
periodicamente. Para ele, a Igreja de Cristo personifica a autêntica fé de Israel.
O LUGAR DE MATEUS NOS SINÓTICOS
No Evangelho de Mateus, quatro elementos, que são a Lei, o Juízo, a Igreja e a Missão Universal, estão
perfeitamente integrados como círculo e expansão da Pessoa, de Cristo e Sua missão neste mundo.
O Evangelho de Mateus é ao mesmo tempo um livro teológico, ou seja, faz um estudo e busca a
compreensão de Deus em Jesus e Seu destino escatológico, já que Ele revela Deus entre nós (11.25ss).
Mas é, também, um livro antropológico porque se volta para o ser humano. Mateus é um livro
eclesiológico, porque a comunidade de Cristo exerce o serviço aos irmãos e a ajuda aos pequenos, como
o expressa o capítulo 18.
O Evangelho de Mateus tem sido sempre de elevada estima por seu íntimo relacionamento com o
ambiente palestino do qual Jesus veio e no qual viveu, e pela admirável síntese de seu ensino. Seu
autor, Mateus (ou Levi) foi um dos apóstolos e testemunha ocular, que segundo Papias (c. 140 d.C.),
"colocou em ordem os ditos do Senhor na língua hebraica (aramaica), que cada um traduziu do melhor
modo que podia".
O vocábulo grego logia, palavra que significa "sentenças" e título da obra/fonte em aramaico do
Evangelho de Mateus, reproduz o hebraico devarim que significa "palavras", "fatos". A obra aramaica de
Mateus já não mais existe. Assim, há quem admita que o Evangelho de Mateus, seqüência dessa
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primeira obra, tenha sido escrito em grego numa data bem posterior, por um autor familiarizado com o
ambiente helenístico da Igreja da Ásia Menor, e que fez uso abundante de materiais conhecidos na
Igreja Primitiva como didakê ou "instrução".
O conceituado pensador judeu Martin BUBER escreve em sua obra Dois Tipos de Fé que o Cristianismo
como tal teve início quando as convocações de Jesus para entrar no chegado Malkut haShamaim foram
entendidas como um convite à conversão. Para Buber, esse foi o momento de infidelidade à religião de
Israel. E a doutrina de Cristo não é uma evolução e aperfeiçoamento do que viera anteriormente (a
Antiga Aliança), mas uma deturpação e um desvio.
CINCO BLOCOS
O Evangelho original em língua semítica foi escrito entre 50 a 65 d.C., provavelmente começando com o
ministério de João, o Batista (o atual capítulo 3) e terminou com relato tradicional da
paixão/ressurreição. O Evangelho de Mateus está dividido em cinco seções que são centradas nos cinco
grandes discursos de Jesus, espelho na Nova Aliança dos cinco livros de Moisés.
O Primeiro Sermão (capítulos 5 a 7) foi anunciado numa montanha. É o Sinai da Nova Aliança. É
precedido pela chamada dos discípulos e numerosas curas e exorcismos. Jesus proclama deste modo a
chegada do Malkut haShamaim. Mateus utiliza essa expressão porque respeitosa e judaicamente evita
falar o nome de Deus que seria mencionado na expressão sinônima Malkut haElohim, ou seja, "Reino de
Deus". O que marca o fim do primeiro "livro" ou seção é a expressão de 7.28, "E aconteceu que
concluindo Jesus este discurso..."
O Segundo Sermão (10.5-42) apresenta as instruções dadas aos Seus discípulos antes de Jesus enviá-los
em missão. Os doze vão armados com poder para exorcizar e curar, como tinham visto Jesus fazer na
tríplice série de três milagres que precedem esta seção. Termina toda a seção com a expressão de 11.1,
"E aconteceu que, acabando Jesus de dar instruções aos seus doze discípulos..."
As seções narrativas dos capítulos 11 e 12 falam da oposição a Jesus e Sua pregação da chegada do
"reino dos céus" por parte dos captores de João, o Batista, das cidades ímpias de Corazim e Betsaida, e
da mentalidade dos perushim (fariseus), preparando para o capítulo 13, que o Terceiro Sermão, coleção
de sete parábolas que ilustram este chegado reino. 13.53 encerra a seção dizendo "E aconteceu que
Jesus, concluindo estas parábolas..."
A Quarta coleção de palavras de Jesus (capítulo 18) registra Seu ensino sobre os deveres dos discípulos.
As narrativas da capacitação dos discípulos, a transfiguração, a Sua paixão predita conduzem a essa
seção. O capítulo 19.1 dá por encerrado o bloco.
A Quinta e última seção, e seu discurso principal (capítulos 24 e 25) tem caráter profético. Ele é o centro
da seção, apesar de o capítulo 23 se apresentar como um discurso com sete "ais" contra os escribas e
fariseus. 26.1 encerra todo o Evangelho por dizer "... quando Jesus concluiu todos estes discursos..."
É preciso que honestamente se registre que nem todos os estudiosos concordam como esta ordem
estrutural ou princípio interno de composição em cinco livros ou cinco seções do Evangelho de Mateus.
L. VAGANAY, citado por SLOYAN, divide-o em três seções (3.1 - 4.22; 4.23 - 11.20; 12.1 - 25.46), sendo
que a primeira e a segunda partes fazem paralelo com Marcos 1.1-20 e 2.23 - 13.37.
LÉON-DUFOUR divide Mateus em duas partes que são
o ensino de Jesus como guia para a conduta da comunidade de Cristo (o Sermão do Monte) até a
confissão de Pedro em Cesaréia de Filipos, e
a proclamação da salvação (o kerygma), bem como a paixão vindoura e a preocupação com as
chamadas "últimas coisas".
Até mesmo no fato de que Mateus, apresentando Jesus como a fonte da Torah cristã, adota o modo dos
perushim, visto que estes eram extremamente preocupados com a Torah. É aí que Mateus é totalmente
diferente de Paulo, no fato de que não o evangelista faz pouco caso da Lei como tal. Pelo contrário, ele
aprova e referenda a Lei, mesmo para cristãos. Trata-se, no entanto, de uma Lei nova designada a
suplantar e a substituir as leis mosaicas. Em alguns lugares até apresenta uma lei mais rigorosa que a
mosaica, e assim fazendo, reflete um desejo de produzir uma justiça que excederá a dos sopherim
(escribas) e perushim (cf. 5.20).
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O Evangelho de Mateus é, antes de tudo, o Evangelho do Reino, em suas parábolas, na pregação de
Jesus, na consciência da condição do povo remido por Deus vivendo no meio de um mundo ímpio. Há
uma forte corrente de escatologia apocalíptica (especialmente nos capítulos 24 e 25, o "Pequeno
Apocalipse") tão ao gosto da sofrida gente judia.
Presume-se que este Evangelho tenha sido escrito em Antioquia da Síria. Talvez o fato da grande
presença de judeus em Antioquia tenha levado a certa urgência na sua confecção. Parece que Mateus
havia se defrontado com essa pressa ao responder à alegação de que Jesus não havia verdadeiramente
morrido. É assim que ficam registradas informações como 27.54, 62-66; 28.11-15, e que parecem sugerir
uma controvérsia com os judeus.
O EVANGELHO DOS JUDEUS
O Evangelho de Mateus reserva seu caráter essencialmente judaico ao enfatizar o tema do
"cumprimento" mais do que qualquer outro evangelista, Mateus cita as profecias do Antigo Testamento
e as aplica aos eventos da vida e do ministério de Jesus. A Sua genealogia traçada a partir de Abraão, a
ênfase em Jesus como o Rei messiânico e Legislador, mas, ao mesmo tempo, "o Servo Sofredor",
mostram que para este evangelista a nota principal do ensino cristão é que Jesus era Aquele que fora
predito por Moisés e pelos profetas.
A determinação de Mateus em apresentar Jesus como um novo e superior Moisés o leva a "moldar o
seu Jesus de acordo com a figura de Moisés no Êxodo" Como Moisés, Jesus quase pereceu na chamada
matança dos inocentes . Como Moisés em Midiã, Jesus ficou um tempo em desterro no Egito. Como
Moisés, apresentou o Seu grande ensino num monte. Como os ensinos de Moisés estão registrados em
cinco livros, há em Mateus, como já mencionamos, cinco blocos de material pedagógico, terminando
cada um com um colofon, uma conclusão formal (5.1 - 7.29; 10.5 - 11.1; 13.1-53; 18.1 - 19.1; 24.2 26.1).
Principais características deste Evangelho:
Ter sido escrito para os judeus. Foi escrito por um judeu para convencer os judeus. Assim, um dos
grandes objetivos deste Evangelho é demonstrar que todas as profecias do Antigo Testamento se
cumprem em Jesus, e por isso, é o Messias. Daí, a frase com suas variantes que é dezesseis vezes
recorrente: "Tudo isso aconteceu para que se cumprisse o que fora dito pelo profeta..." O nascimento e
o nome de Jesus são cumprimento de profecias (1.21-23); a fuga para o Egito também (2.14,15); a
matança dos inocentes (2.16-18); o regresso e a fixação de José, bem como a infância de Jesus em
Nazaré (2.13); o uso de parábolas (13.34,35); a traição por trinta moedas de prata (27.9); o sorteio da
roupa do Mestre enquanto preso à cruz (27.35).
judaismo de Jesus é percebido na sua atitude para com a Lei. Ele não veio para destruir a Lei, mas para
cumpri-la.
Há em Mateus um interesse apocalíptico particularmente forte. É basicamente encontrado nos capítulos
24 e 25.
Seu evangelho docente é outra característica especial. A sistematização do seu trabalho usando dois
números significativos para o judeu: o 3 e o 7. Exemplos desta sistematização são:
José recebe 3 mensagens;
Pedro nega a Jesus 3 vezes;
Pilatos faz 3 perguntas;
No capítulo 13, há 7 parábolas do reino;
No capítulo 23, há 7 "ais" pronunciados acerca dos escribas e fariseus;
A genealogia é um excelente exemplo desta sistematização. Mateus quer demonstrar que Jesus é da
linhagem de Davi. Como em hebraico não há numerais, usam-se as consoantes do alfabeto que
possuem, portanto, valor numérico. Por exemplo, David, ou seja, D V D. A soma dá 14. A genealogia de
Jesus em Mateus consiste em 3 grupos de 14 nomes. Tudo feito para que o leitor judeu perceba a
messianidade de Cristo embutida nas palavras, números e valores.
Somente quem conhece a riqueza do pensamento rabínico galileu, ambiente de Jesus, pode
acompanhar e compreender plenamente os seus sermões e dar plena força às suas próprias palavras e
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expressões. SCHLESINGER afirma que para Jesus, seus ensinamentos não pressupõem o abandono da
religião judaica.
O Evangelho de Mateus é, portanto, o que mais se aproxima do pensamento judaico, e aquele no qual a
hostilidade contra os judeus é menos acentuada, e sua principal característica é mostrar como Jesus
realiza as obras divinas. Que a missão de Jesus é dirigida primordialmente aos b'nei Israel (filhos de
Israel), não há dúvida. É bastante ler os versos 10.5,6; 15.24 (cf. Jo 1.11).
Baseado no original aramaico, o atual Evangelho de Mateus manifesta pelo estilo, forma, fraseologia e
expressões, o método de discussão de caráter semita. A intenção do autor é introduzir a mensagem do
Malkut (reino) nos quadros da religião judaica. Multiplica as citações do Tanach (Antigo Testamento)
para mostrar a sua realização na vida de Jesus.
Para Jesus, a importância da Torah é sintetizada na fórmula "Não penseis que vim destruir a lei ou os
profetas; não vim para destruí-los, mas para cumpri-los" (5.17). E quando denuncia a hipocrisia dos
sopherim e dos perushim, mesmo assim assume o ensino deles.
Jesus no Monte parece refletir a tipologia de Moisés. Relembra, pelo cenário e conteúdo de sua prédica,
o grande mediador da lei de Deus no judaismo, A seriação de dez milagres operados por Jesus lembra as
dez pragas do Egito. A "nuvem luminosa" que envolve Jesus transfigurado, no episódio do Monte Tabor,
em que são mencionados também Elias e Moisés, reassume com destaque a conceituação judaica da
Shekinah, que é a presença divina no povo de Israel.
A época da redação do Evangelho de Mateus era dura para os cristãos. Os judeus mostravam-lhes uma
hostilidade acentuada, quase do mesmo modo que os romanos.
Para alguém tão versado na tradição judaica como Mateus, é evidente que, para contar a história do
Messias, a primeira tarefa a empreender é demonstrar que é o Messias. E para isso, deve provar em
primeiro lugar que o Messias pertence à linhagem de Davi. Conseqüentemente, Mateus começa por
apresentar uma genealogia (1.1- 17). Registramos abaixo um paralelo entre fatos, eventos e palavras do
Evangelho de Mateus com sua correspondência no Antigo Testamento.
Mt 1.22,23
Is 7.14
Mt 2.2
Nm 24.17; Is 60.3
Mt 2.5,6
Mq 1.33; 5.2; Sm 5.2
Mt 2.16-18
Jr 1.24; Gn 35.19; Ex 15,16
Mt 2.13-15
Os 11.1
Mt 2.19,20
Ex 4.19
Mt 2.22,23
não se sabe onde, pois não há no Antigo Testamento qualquer referência ao
Messias como nazareno. É possível que Mateus tenha feito um jogo de palavras
com nazireu (= Jz 13.5), ou de Is 11.1 ou Zc 6.12, "Renovo", em hebraico netzer. O
jogo é "nazareno"" com "nazireu" ou "nazareno" com "netzer"
Mt 3.11,12
Ez 36.24-26; 2Rs 5.10
Mt 3.3
Is 40.3
Mt 3.4 4.4
2Rs 1.8; 1Rs 17.6;
Ml 4.5
Dt 8.3
Mt 4.6
Sl 91, 11, 12
Mt 4.7
Dt 6.16
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Mt 4.10
Dt 6.13,14;
Mt 4.14-16
Is 9.1,2;
Mt 5.4
Sl 37.11
Mt 8.17
Is 53.4
Mt 9.12,13
Os 6.6
Mt 21.1
Zc 14.4
Mt 21.12,13
Jr 7.1,11
Mt 24.31?
Dn 7.13,14
Mt 26.15
Zc 11.12
Mt 27.7-10
Zc 11.13
Mt 27.24
Dt 21.6,7
Mt 27.34
Sl 69.22
Mt 27.46
Sl 22.2, 17-19
E, ainda, a controvérsia sobre o Shabbath (Repouso) (Mt 12.11-14) como cumprimento de Isaías 42.1-4.
TEMAS E PROBLEMAS ESPECIAIS
Cristologia
Destacam-se na cristologia de Mateus:
A comparação de Mateus com Marcos para detectar quais as diferenças entre os dois Evangelhos
mesmo onde correm paralelamente. O de Mateus é freqüentemente mais explícito que o de Marcos.
Os títulos cristológicos usados no Evangelho de Mateus, que são ricos e significativos. "Filho de Davi",
por exemplo, aparece logo no seu primeiro versículo, identificando Jesus com o Messias davídico. É
sintomático que esse título aparece sempre nos lábios dos necessitados. Mateus usa o título Kyrios
(Senhor) mais do que Marcos. É palavra que vai desde o "senhor" da linguagem quotidiana (13.27) até à
confissão da Divindade. O mesmo ocorre com o título "Filho do Homem".
Profecia e Cumprimento
Em Mateus o retorno de Jesus do Egito cumpre o texto veterotestamentário que se refere a Êxodo 2.15.
O pranto das mães de Belém cumpre a referência de Jeremias ao pranto de Raquel pelos seus filhos em
Ramá.
Jesus que se muda para Nazaré cumpre "o que fora dito pelos profetas"
A compra de um campo pelos sacerdotes por trinta moedas de prata cumpre as Escrituras descrevendo
ações realizadas por Jeremias e Zacarias (27.9).
A Lei
A questão da atitude do evangelista com respeito à Lei é um assunto crucial no Evangelho de Mateus. As
dificuldades se prendem a vários fatores:
Várias passagens podem ser compreendidas como uma firme defesa da Lei (ex.: 5.18,19; 8.4; 19.17,18) e
mesmo a autoridade dos fariseus e mestres da Lei em interpretá-la (23.2,3). Espera-se dos discípulos de
Jesus que jejuem, dêem esmolas (6.2-4) e que paguem as taxas do templo (17.24-27).
Algumas passagens podem ser vistas como um "amaciamento" da rejeição de Marcos de certas partes
da Lei. A adição da cláusula que encerra um "exceto" ("não sendo por causa", ARC) em 19.9 e a omissão
de Marcos 7.19b ("ficando puras todas as comidas) na perícope correspondente de Mateus (15.1-20)
têm convencido muitos que Mateus não anula qualquer ordem do Antigo Testamento.
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Há algumas passagens onde, formalmente pelo menos, a letra da lei veterotestamentária é suplantada
(ex.: 5.33-37) ou uma instituição do Antigo Testamento que é reverenciada parece ser depreciada e
potencialmente suplantada (ex.: 12.6).
Há uma passagem (5.17-20) que é amplamente reconhecida como programática do ponto de vista legal
de Mateus.
CARÁTER LITERÁRIO
Das 105 seções de Marcos, 93 aparecem em Mateus e 81 em Lucas. 4 seções de Marcos não aparecem
em Mateus e em Lucas. Marcos tem 661 versículos; Mateus, 1068 e Lucas, 1149. Em seu texto, Mateus
reproduz nada menos que 606 dos versículos de Marcos; Lucas, 320. Mateus usa 51% das palavras de
Marcos.
Voltamos a registrar que afirmam alguns estudiosos que o Evangelho de Mateus como o temos hoje não
provém diretamente da mão do apóstolo Mateus, pois quem foi testemunha ocular da vida de Cristo
não precisaria usar Marcos como fonte para narrá-la. No entanto, Papias afirma que Mateus colecionou
os ditos de Jesus em língua hebraica. Há evidência suficiente de que o Evangelho de Mateus como o
conhecemos é uma obra compilada de várias fontes escritas, do Evangelho de Marcos e de uma coleção
de ditos de Jesus originalmente escritos em hebraico ou aramaico. Papias, bispo de Hierápolis (moderna
Turquia) cerca de 125 d.C. explora esse assuntos na sua obra Explicações dos Ditos (Logion) do Senhor.
Cerca de 3/5 do Evangelho é devotada aos discursos de Jesus.
CONCLUSÃO
As opiniões acerca deste Evangelho e o que representa e/ou pode representar para o moderno
judaismo são variadas. Em círculos judaicos mais ortodoxos, afirma-se que " O que é bom no Novo
Testamento, não é bom; o que é novo não é bom. No entanto, Martin BUBER, o célebre pensador,
filósofo e teólogo judeu deixou afirmação de que "Quem encontra Jesus Cristo encontra o judaísmo". O
próprio Pinhas LAPIDE que o citou opinou que "O judeu Jesus e a hebraicidade básica de sua mensagem
servirão de critérios para maior aproximação possível do sentido original da obra-prima de sua ética,
sentido oculto na versão grega do evangelho".
FONTES PRIMÁRIAS
AHERN, Barnabas M. The Gospels in the Light of Modern Research. Em: RYAN, M. Rosalie (Org.).
Contemporary New Testament Studies. Collegeville, Liturgical Press, 1965, pp. 131-`152
ASIMOV, Isaac. Guia de la Biblia - Nuevo Testamento. Barcelona, Plaza & Janes, 1988. Trad. B. G. Ibañez.
BARCLAY, William. Mateo 2 Vols. 1a Reimpressão. Buenos Aires, La Aurora, 1973. Trad. M. P. Rivas.
CARSON, D. A. Matthew Em: GAEBELEIN, Frank E. (Org.).The Expositor's Bible Commentary, Vol. 8.
Grand Rapids, Zondervan, 1984, pp. 3 - 600.
LAPIDE, Pinhas. O Sermão da Montanha - Utopia ou Programa? Petrópolis, Vozes, 1986. Trad. F. Dattler.
PIKAZA, Javier. A Teologia de Mateus. SP, Paulinas, 1978. Trad. J. R. Vidigal.
RYAN, M. Rosalie. Saint Matthew. Em: RYAN, Op. Cit., p. 238.
SANDMEL, Anti-Semitism in the New Testament. Philadelphia, Fortress, 1978.
SCHLESINGER, Hugo. Os Evangelhos e os Judeus. SP, Paulinas, 1985
SLOYAN, Gerard S. The Gospel According to Matthew. Em RYAN, Op. Cit., pp . 239-246.
ZOLLI, Eugenio. Guia Do Antigo E Do Novo Testamento. SP, Paulinas, 1961. Trad. F. Dattler.
FONTES SECUNDÁRIAS
ACHTEMEIER, Paul J. e Elizabeth. The Old Testament Roots of Our Faith. 2ª impr. Philadelphia, Fortress,
1981.
CHOURAQUI, André. A Bíblia - Matyah (O Evangelho Segundo Mateus). Rio, Imago, 1996. Trad. L.
Duarte.
GABEL, John B. e WHEELER, Charles B. A Bíblia Como Literatura. São Paulo, Loyola, 1993. Trad. A. U.
Sobral e M. S. Gonçalves.
KERMODE, Frank. Mateus. Em: ALTER, Robert e KERMODE, Frank. Guia Literário da Bíblia. SP, UNESP,
1997. Trad. R. Fiker. Páginas 417 - 431.
L'ABBAYE de Saint-Andre.Le Nouveau Testament. Bruges, L'Abbaye de Saint-Andre.
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MALINA. Bruce J. The New Testament World - insights from cultural anthropology. Atlanta, John Know,
1981.
RHYMER, Joseph and BULLEN, Anthony. Companion to the Good News New Testament. Glasgow,
Collins, 1977.
LEVANDO A SÉRIO A SEGURANÇA DA SALVAÇÃO
ESTUDO SOBRE O NOVO TESTAMENTO
Professor Dr. Antony Steff Gilson de Oliveira
Reverendo da Igreja Presbiteriana em Renovação do Brasil – IPRB
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"Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que, segundo a sua grande misericórdia, nos
regenerou para uma viva esperança, pela ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos, para uma
herança incorruptível, incontaminável e inacessível, reservada no céus para vós, que pelo poder de Deus
sois guardados mediante a fé, para a salvação que está preparada para se revelar no último tempo" (1Pe
1.3-5)
Os arminianos ensinam que o salvo pode "cair da graça", ou seja, "perder a salvação" (?!) porque ela
depende da vontade do ser humano. O ensino bíblico posto em evidência por João Calvino é que os
salvos não se perdem, não podem se perder, porque a vontade do Deus que os salvou não muda. É
assim que encontramos nas Escrituras as preciosas palavras: "para o louvor da glória da sua graça, a qual
nos deu gratuitamente no Amado", e, ainda, "Segundo a sua própria vontade, ele nos gerou pela palavra
da verdade, para que fôssemos como primícias das suas criaturas" (Ef 1.6; Tg 1.18). Igualmente, há uma
palavra no livro de Jó que expressa, "Bem sei eu que tudo podes, e que nenhum dos teus propósitos
pode ser impedido" (42.2).
No arminianismo, o ser humano é responsável por conservar-se salvo, mantendo continuamente a fé e a
obediência. O ensino da Bíblia Sagrada é que a salvação é do Senhor. Daniel, o profeta, nos repassa essa
palavra que nos diz com absoluta clareza: "Ao Senhor, nosso Deus, pertencem a misercórdia e o perdão;
pois nos rebelamos contra ele. E se nós vamos ao último livro da Bíblia, o vidente de Patmos nos dirá:
"Depois destas coisas, ouvi no céu como que uma grande voz de uma imensa multidão, que dizia:
Aleluia! A salvação e a glória e o poder pertencem ao nosso Deus" (Ap 19.1).
Por isso, por ser uma dádiva de Deus não pode ser perdida (cf. Jo 6.39; 10.27-29; Rm 2.4; (.37-39). Pelo
contrário, Jesus nos diz para nosso conforto: "A vontade do que me enviou é esta: Que eu não perca
nenhum de todos aqueles que me deu, mas que eu o ressuscite no último dia" (Jo 6.39); e nesta outra
expressão do Salvador:
"As minhas ovelhas ouvem a minha voz, e eu as conheço, e elas me seguem; eu lhes dou a vida eterna, e
jamais perecerão; e ninguém as arrebatará da minha mão. Meu Pai, que mas deu, é maior do que todos;
e ninguém pode arrebatá-las da mão de meu Pai" (Jo 10.27-29).
Há quem não tenha certeza da salvação? Há quem, chamando-se cristão, não leve a sério a segurança
dessa salvação? Sim; por essa razão, João explicou porque escreveu o Evangelho que leva o seu nome:
"Jesus, na verdade, operou na presença de seus discípulos ainda muitos outros sinais que não estão
escritos neste livro; estes, porém, estão escritos para que creiais que Jesus é o Cristo. o Filho de Deus, e
para que, crendo, tenhais vida em seu nome" (Jo 20. 30,31). E João, na sua Primeira Carta, "Estas coisas
vos escrevo, a vós que credes no nome do Filho de Deus, para que saibais que tendes a vida eterna",
porque havia já naquela época alguns que não tinham muita segurança da salvação concedida por Jesus
( 5.13).
É privilégio do salvo saber que está eternamente salvo (glória a Deus por isso!), mas não é privilégio
algum viver na incerteza da salvação. Pode alguém receber a vida eterna, e depois perdê-la, indo
eternamente para o inferno? Há grupos que dizem que sim, e estão bem espalhados na Cristandade. A
Bíblia diz um veemente "NÃO!", ou como diz a antiga palavra de ordem:
UMA VEZ SALVO, SALVO PARA SEMPRE!!!
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E isso porque "os dons e a vocação de Deus são irrevogáveis" (Rm 11.29 TEB).
A doutrina da segurança eterna do salvo tem outros nomes: "perseverança dos santos", "perseverança
dos salvos", dos regenerados, daqueles que são feitos novas criaturas em Cristo. Um crente pode até
errar, mas ele cai e se levanta porque essa queda é temporária. Spurgeon sugere que é como num
navio: podemos cair muitas vezes no seu convés, mas Deus não permitirá que sejamos jogados no mar!
Estávamos atravessando para a Ilha de Itaparica no ferry boat, e aconteceu que o barco jogava tanto
que algumas pessoas se desequilibraram, e eu também teria caído se não estivesse me segurando no
cabo. Que excelente ilustração para a segurança da salvação... Nós estamos num barco (aliás, o barco é
uma figura da Igreja), podemos cair no chão, mas não somos jogados à fúria das águas (Jo 6.37). O
problema é que há muita gente que diz possuir a fé, mas não sabe o que seja, nem crê no que fala (1Jo
2.19; 2Pe 2.22).
A CERTEZA DA SEGURANÇA
A certeza da segurança da salvação, a certeza da perseverança vem de uma compreensão clara das
coisas elementares dessa salvação. O regenerado se caracteriza por certas qualidades éticas e
espirituais. Por exemplo, pelo discernimento da verdade . Não está aqui na palavra de Deus? "Quanto a
vós, a unção que dele recebestes fica em vós, e não tendes necessidade de que alguém vos ensine; mas,
como a sua unção vos ensina a respeito de todas as coisas, e é verdadeira, e não é mentira, como vos
ensinou ela, assim nele permanecei" (1Jo 2.27).Essa é uma grande verdade espiritual que nós temos.
Querem ver outra que nos dá segurança? A posse do Espírito Santo. Não andamos ansiosamente
buscando o Espírito Santo, não, porque quando cremos recebemos o Espírito: Ele é nosso (creio que fica
melhor dizer, nós somos dEle); não é um objeto a ser possuído, Ele é que nos possui quando somos
convencidos do pecado, da justiça e do juízo (1Jo 3.24; Rm 8.9, 14).
Uma terceira realidade espiritual é o amor à paz e à fraternidade (1 Jo 3.10,11,14). Vejo que todas elas
são privilégios maravilhosos dados ao crente pela misericórdia de Deus. A justificação, quando você é
declarado reto, livre, limpo dos seus pecados do passado (Rm 5.1); a adoção como filho de Deus,
realidade marcante do seu presente (Jo 1.12; Rm 8.14, 15; Gl 3.26; 1Jo 3.1); e a santificação, quando
você é declarado separado para Deus, como reserva especial para o nosso Pai .
E isso se perde? Podemos perder a justificação, e a adoção , a santificação, e a glorificação que nos
aguarda? Somos reservados, regenerados para uma herança incorruptível (ela não decai, não se
estraga), incontaminável (nenhum fungo pode maculá-la), e ela não murcha, essa herança que está
reservada nos céus para os santos. Isso é a glorificação! E isso se perde? E isso vai para o lixo? A
LIMPURB vai levar a nossa salvação! Não! Estamos seguros! E por que estamos seguros? Por causa do
amor de Deus que é imutável (Hb 6.17,18). Não pode existir essa idéia que Deus me ama hoje, mas
amanhã ,não sei não... O amor de Deus não muda! Estamos seguros por causa de Suas promessas. E as
promessas de Deus mudam? A palavra de Deus diz, "ele mesmo disse: Não te deixarei, nem te
desampararei" (Hb 13.5). Que promessa extraordinária! Quero ainda ir à Carta aos Hebreus: "para que
por duas coisas imutáveis, nas quais é impossível que Deus minta, tenhamos poderosa consolação, nós,
os que nos refugiamos em lançar mão da esperança proposta" (Hb 6.18). As gloriosas promessas de
Deus não mudam!
Porque temos segurança da nossa salvação? Por causa da aliança feita com Deus. No profeta Jeremias, o
texto diz: "E lhes darei um só coração, e um só caminho, para que me temam para sempre, para o seu
bem e o bem de seus filhos, depois deles; e farei com eles um pacto eterno de não me desviar de fazerlhes o bem; e porei o meu temor no seu coração, para que nunca se apartem de mim" (Jr 32.39,40).
Como Deus é fiel; nós cantamos sempre a Sua fidelidade para conosco:
"Tu és fiel, Senhor, meu Pai celeste,
pleno poder aos teus filhos darás.
Nunca mudaste, tu nunca faltaste:
Tal como eras, tu sempre serás".
Estamos seguros por causa do valor do sacrifício de Jesus Cristo, que não foi um sacrifício em vão. Vejo
em João 6.39, o próprio Senhor dizendo, e repetimos o que já foi mencionado: "A vontade do que me
enviou é esta: Que eu não perca nenhum de todos aqueles que me deu, mas que eu o ressuscite no
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último dia".
Estamos seguros por causa do Espírito Santo que vive nos salvos, "o qual é o penhor da nossa herança,
para redenção da possessão de Deus, para o louvor da sua glória" (Ef 1.14). Assim, até parece que as
perguntas de Romanos 8.31 a 39 foram feitas a pessoas que não criam na salvação eterna do crente.
essas perguntas são:
"Se Deus é por nós, quem será contra nós?" (v. 31b);
"Quem intentará acusação contra os escolhidos de Deus?" (v. 33a);
"Quem os condenará?" (v. 34a);
"Quem nos separará bo amor de Cristo?" (v. 35a);
e , aí, temos outras perguntas: "a tribulação, ou a angústia, ou a perseguição, etc." (cf. v. 35), perguntas
que falam de um modo tão claro, e para cada uma delas a resposta é "nada, ninguém, coisa alguma
pode nos separar". É verdade que Satanás, que é o nosso arqui-inimigo, o nosso resistente-mór, tudo faz
para derrubar o crente. Ele usa anjos maus, é verdade, e usa gente incrédula, é verdade. E a lista do
verso 35 de Romanos 8 fazem parte de um rol das possíveis dificuldades que poderiam ser interpretadas
como ausência do amor de Deus. Quais são elas? A tribulação, a angústia, a perseguição, a fome, a
nudez, o perigo (seja qual for), a espada . Não, nada disso nos separa do amor de Deus. Pelo contrário,
vou, então, ao Salmo 44.22, e encontro a expressão, "Mas por amor de ti somos entregues à morte o dia
todo; somos considerados como ovelhas para o matadouro".
Dá para entender, então, que essas dificuldades nos vêm porque fomos entregues à morte o dia todo?
Ora, quem ama a Deus é odiado pelo mundo; quem ora a Deus Satanás odeia porque ele não pode ver o
seu império estremecido pela nossa oração. É por isso. Assim, a nossa maior qualidade dada por Jesus
Cristo é sermos "mais que vencedores", diz a Escritura (Rm 8.37). No entanto, coitado do ímpio , ele é
por natureza uma pessoa alienada, a Bíblia o diz: "Alienam-se os ímpios desde a madre; andam errados
desde que nasceram, proferindo mentiras" (Sl 58.3). Vejam só: desde o útero, eles são alienados?!
Precisa qualidade maior para os verdadeiros crentes que a segurança da salvação? Mas um filho de
Deus, o salvo em Cristo Jesus, quem já recebeu o sopro, o toque do Espírito, esse pode acontecer de cair
em pecado, quando, então, vai perder muita coisa: a alegria da salvação (Sl 51.12), a bênção da
comunhão com os irmãos, mas deve se levantar. Sim, porque o crente em Jesus Cristo, o verdadeiro
crente, não fica derrubado, não. Miquéias, o profeta, diz: "Não te alegres, inimiga minha, a meu
respeito; quando eu cair, levantar-me-ei; quando me sentar nas trevas, o Senhor será a minha luz.
Sofrerei a indignação do Senhor, porque tenho pecado contra ele; até que ele julgue a minha causa,
execute o meu direito. Ele me tirará para a luz, e eu verei a sua justiça" (7.8,9), pois, "Confirmados pelo
Senhor são os passos do homem em cujo caminho ele se deleita; ainda que caia, não ficará prostrado,
pois o Senhor lhe segura a mão" (Sl 37.23,24).
Até o erro, o pecado, tem seu lado de crescimento. Paulo quando escreve o Hino de Exaltação a Deus
pelo Seu cuidado amoroso, diz que "sabemos que todas as coisas concorrem para o bem daqueles que
amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito" (Rm 8.28). Até o pecado, até o
engano, até aquilo que não devíamos fazer mas fizemos, sendo circunstancial, ele nos ensina, tem seu
valor pedagógico. O crente em Jesus Cristo não pode perder a salvação porque tem um grande Salvador
que não deixa a Sua obra pela metade, não. A missão de Jesus não ficou no Calvário, não: foi até à
ressurreição, e Ele saiu dentre os mortos, e garantiu a nossa salvação. Como é que um grandioso
Salvador como esse nos deixaria na metade do caminho?
Também porque não podemos perder a nossa redenção, visto que, mesmo acusados por Satanás, temos
um advogado diante do Pai (1Jo 2.1; cf. Hb 9.24).
Outra razão é porque estamos guardados pelo poder de Deus. Volto à Palavra Santa: "pelo poder de
Deus sois guardados, mediante a fé" (1Pe 1.5a; cf. 2Tm 1.12). Uma das mais preciosas lições da Nova
Aliança é que a salvação não depende de mim, nem de minhas obras, nem de meus atos, mas me é
concedida pela graça, pela misericórdia, pelo amor de Deus, amor que eu não mereço. Assim diz a Santa
Escritura. E diz várias vezes que eu não mereço, e que você não merece: "Sendo justificados
gratuitamente pela sua graça, mediante a redenção que há em Cristo Jesus...porque todos pecaram e
destituídos estão da glória de Deus" (Rm 3. 24, 23). Nós não merecemos, mas Deus nos concede Sua
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salvação. Se formos a outros textos, temos também muita palavra abençoadora: "Porque pela graça sois
salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus; não vem das obras, para que ninguém se
glorie" (Ef 2.8,9; cf. Cl 1.12-14; 2Tm 1.8,9). Isso quer dizer que o crente em Jesus Cristo é nascido de
Deus (1Jo 5.1); nascido de uma semente que não se estraga, não apodrece. Vejam só: "tendo renascido,
não de semente corruptível, mas de incorruptível, pela palavra de Deus, a qual vive e permanece" (1Pe
1.23), razão porque cada filho de Deus, cada filha do Pai Celestial participa igualmente da Sua natureza.
Ora, o irmão participa da natureza de Deus: se Deus morrer, o irmão morre. Mas como Deus não morre,
não Se corrompe, não Se esfuma, o irmão, a irmã está selado, e protegido, e guardado quanto a sua
salvação para o Dia Final (cf. 2Co 1.21,22; Ef 4.30).
E tem mais: o crente em Jesus Cristo não se perde porque a alegria dos anjos não se acaba; a alegria que
foi demonstrada nos céus no dia da sua conversão essa não se acaba(Lc 15.10), ou será que existe um
ciclo de ALEGRIA NO CÉU - tristeza porque você caiu - ALEGRIA porque você voltou - tristeza porque
você novamente caiu? Será que a Bíblia ensina isso?
SEGURANÇA E PERSEVERANÇA
No entanto, que tranqüilidade tem o crente em Jesus Cristo que leva a sério a segurança da salvação!...
As promessas do Senhor nos dão segurança (cf. Jr 32.40; Jo 6.37; 2Tm 2.19); vida eterna não é fumaça
(cf. Jo 6.47)! Não é "talvez tenha", não é "quem sabe se eu vou ter a salvação", não! (cf. 1Jo 5.11-13).
Nós estamos seguros, seguros nas mãos fortes do Senhor! (cf. Sl 37.23,24,28a; 97.10). E lembremos que
a ressurreição de Jesus Cristo é o alicerce desta segurança (Ef 2.6).
Vejam agora uma coisa muito séria: só quando se confia em Jesus até certo ponto é que se tem medo
de perder a salvação ("Olha, Jesus, eu confio até chegar perto do Calvário; lá em cima, não..." ). Se a
nossa confiança é até certo ponto, fica difícil, porque aí você tem medo de perder a salvação. Daí em
diante, se a obra de Jesus fica pelo meio do caminho, esse crente, essa irmã, é deixado só, abandonado.
Como fica, então, a promessa de Jesus em João 14.18 que diz: "Não vos deixarei órfãos"? E aquela que
diz "estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos"? (Mt 28.20). Ou Jesus é nossa
esperança para tudo, ou não é esperança para coisa nenhuma! Mas, Paulo, apóstolo, nos fala ao
coração dizendo: "o qual vos confirmarás até o fim, para serdes irrepreensíveis no dia de nosso Senhor
Jesus Cristo. Fiel é Deus, pelo qual fostes chamados para a comunhão de seu Filho Jesus Cristo nosso
Senhor" (1Co 1. 8,9). Que palavra linda e extraordinária! Por isso, à luz destes fatos, não entendo como
há quem pregue que a salvação pode ser perdida?! Que testemunho notável para sua família, para seus
amigos, para seus colegas, o irmão confirmado na fé, você confirmada na fé em Jesus Cristo. Não é
(graças a Deus!) salvação-por-enquanto, não; e graças a Deus não é salvação temporária, não é
condicional, não é até certo limite. É uma eterna e gloriosa salvação! Por isso, os santos perseveram:
porque Deus é fiel (1Co 1.9). E Deus é fiel no que planejou, e no que prometeu.
Assim, essa monstruosa, herética, diabólica idéia do crente perder a salvação repudia toda a boa nova
do evangelho de Jesus! Nega que Jesus Cristo seja digno de crédito ao dizer que nada nos arrebata da
Sua mão (cf. Jo 10.28; 1Jo 5.10,11); faz de Deus um mentiroso (Hb 6.17-20); anula João 3.16, e desfaz
toda a verdade que está revelada em Romanos capítulos 4, 5 e 8; cancela a justificação, e o perdão dos
pecados, e a adoção de filhos, e o batismo no Espírito Santo, e os dons do Espírito, e o fruto do Espírito
já cultivado no irmão. Tudo isso vai para o lixo se o irmão crê que vai perder um dia a sua salvação. Faz
ser um sonho, um esfumaçado sonho o Salmo 23 com sua gloriosa declaração de confiança, "O Senhor é
meu pastor; nada me faltará", e o Salmo 32 onde se lê, "Bem-aventurado aquele cuja transgressão é
perdoada, e cujo pecado é coberto". Isso vai embora, pelo esgoto! Isso desaparece da minha vida
porque eu não creio, acho que amanhã vou perder a salvação?! Hoje eu a tenho, mas não garanto por
amanhã?! Se a perda da salvação é verdadeira, ou, mesmo, imaginável, a Bíblia está brigando com ela
mesma, está se contradizendo porque fala de "eterna salvação", "eterna redenção" e "vida eterna"
dezessete vezes só no Evangelho de João (cf. Hb 5.9; 9.12); fala de "peso eterno de glória mui
excelente", de "eterna consolação", de "herança eterna", e de "aliança eterna" (cf. 2Co 4.17; 2Ts 2.16;
Hb 9.15; 13.20).
Mas há quem saia do nosso meio? Há? Sem dúvida! E a Bíblia diz que há aqueles que não se agüentaram
no nosso meio porque "saíram dentre nós, mas não eram dos nossos; porque, se fossem dos nossos,
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teriam permanecido conosco; mas todos eles saíram para que se manifestasse que não são dos nossos"
(1Jo 2.19). Voltaram para o mundo porque a ele pertenciam, abandonaram a família de fé. Mas, há
quem saia do nosso meio? Há sim: são aqueles a quem Jesus Cristo vai dizer, "Nunca vos conheci" (cf.
Mt 7.21-23).
A Escritura Sagrada tem três lições que não podemos jamais esquecer. A perdição humana é total,
porque a Queda foi total, e todos fomos arrastados pelo pecado.
Paciência na Provação
Tiago 5:7-12
ESTUDO SOBRE O NOVO TESTAMENTO
Professor Dr. Antony Steff Gilson de Oliveira
Reverendo da Igreja Presbiteriana em Renovação do Brasil – IPRB
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Eu odeio esperar. No volante, não quero ficar atrás de um carro andando 30 km/h. No supermercado,
fico irritado quando a moça precisa trocar o papel do caixa justamente na hora que eu chego à frente da
fila. No banco, perco paciência com as filas serpentinas.
Sou como aquela pessoa que orou a Deus, “Senhor, dá-me paciência, e eu a quero AGORA!”
Talvez fiquemos impacientes por causa de filas intermináveis e carros lentos. Mas o livro de Tiago
consolava irmãos que enfrentavam situações bem mais difíceis. Muitos deles eram pessoas pobres,
marginalizadas, perseguidas por serem cristãos (2:5-7). Precisavam de paciência para sobreviver as
tribulações da vida.
No texto anterior (5:1-6), descobrimos que os ricos haviam oprimido esses pobres. Haviam vivido uma
vida luxuosa, enquanto retiveram o salário dos diaristas, levaram os pobres diante dos tribunais para
defraudá-los, condenando e matando alguns pela injustiça.
Foi justamente neste contexto que Tiago agora fala às pessoas oprimidas, atribuladas, sofridas, que
estavam passando por males severos sem entender porque Deus não fazia nada. O enfoque muda dos
opressores para os oprimidos, dos perseguidores para os perseguidos. Seus leitores enfrentavam a
tentação de serem impacientes; queriam que algo acontecesse, e já. Corriam o risco de FAZER algo
acontecer, tomando em suas próprias mãos a vingança.
Tiago usa 2 palavras diferentes que descrevem a qualidade de paciência na vida do cristão. A primeira
palavra significa “longânimidade” ou seja, alguém que demora a esquentar, especialmente em relação a
pessoas. A segunda palavra traz a idéia de “ficar debaixo” de uma pressão, tribulação ou aflição,
especialmente em relação a circunstâncias. Podemos juntar as duas idéias para dizer que, o cristão
maduro aprende a permanecer debaixo de sofrimento sem perder paciência com as pessoas ao seu
redor.
7 Sede, pois, irmãos, pacientes, até à vinda do Senhor. Eis que o lavrador aguarda com paciência o
precioso fruto da terra, até receber as primeiras e as últimas chuvas.
8 Sede vós também pacientes e fortalecei o vosso coração, pois a vinda do Senhor está próxima.
9 Irmãos, não vos queixeis uns dos outros, para não serdes julgados. Eis que o juiz está às portas.
10 Irmãos, tomai por modelo no sofrimento e na paciência os profetas, os quais falaram em nome do
Senhor.
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11 Eis que temos por felizes os que perseveraram firmes. Tendes ouvido da paciência de Jó e vistes que
fim o Senhor lhe deu; porque o Senhor é cheio de terna misericórdia e compassivo.
12 Acima de tudo, porém, meus irmãos, não jureis nem pelo céu, nem pela terra, nem por qualquer outro
voto; antes, seja o vosso sim sim, e o vosso não não, para não cairdes em juízo.
Precisamos fazer algumas observações de imediato. Primeiro, fica óbvio que o tema desse penúltimo
parágrafo do livro é paciência (ou talvez, perseverança). Note a repetição: Vs. 7 “pacientes . . . com
paciência”; Vs. 8 “pacientes; Vs. 10 “paciência”; Vs. 11 “perseveraram firmes . . . paciência de Jó”
Segundo, é interessante notar que o texto destaca pelo menos três vezes a vinda do Senhor como a
bendita esperança do cristão diante das tribulações.
Vs. 7 “até a vinda do Senhor”; Vs. 8 “A vinda do Senhor está próxima”; Vs. 9 “O juiz está às portas”
Juntando esses dois temas (paciência e a vinda do Senhor) podemos resumir a lição principal que Tiago
quer nos transmitir:
A fé verdadeira persevera em meio a tribulação na esperança da vinda do Senhor.
Como que o cristão maduro enfrenta provação? Descobrimos pelo menos quatro atitudes que nos
encorajam nesse texto:
I. A Fé Verdadeira é Paciente em Provação . . . Confiante da Vinda do Senhor (7,8)
Como reagimos diantes das provações dessa vida?
*Uma doença crônica que rouba nossa alegria
*Um casamento morto
*Um filho desviado
*Um patrão ou colega de serviço ou escola que nos aborrece
*Uma situação financeira desesperada
*Uma morte que nos deixa com um vazio constante no coração . . .
A resposta é: esperar, confiante na vinda do Senhor. Não devemos reivindicar bênção, declarar em
nome de Jesus que nossos problemas desaparecerão, decretar a vontade do Senhor ou, através do
pensamento positivo, verter as nossas circunstâncias. Quem dera, fosse tão simples! O único conselho
que Tiago nos dá é: Sede pacientes . . . até a vinda do Senhor.
7 Sede, pois, irmãos, pacientes, até à vinda do Senhor. Eis que o lavrador aguarda com paciência o
precioso fruto da terra, até receber as primeiras e as últimas chuvas.
8 Sede vós também pacientes e fortalecei o vosso coração, pois a vinda do Senhor está próxima.
A volta de Cristo Jesus é a “bendita esperança” de todo cristão. Jesus falou que neste mundo teremos
tribulação (Jo 16:33). Paulo ecoou o mesmo princípio dizendo que “todos que querem viver
piedosamente em Cristo Jesus sofrerão perseguição (2 Tm 3:12).” (cf At 14:22) O próprio livro de Jó
(Elifaz) falou, O homem nasce para o enfado como as faíscas das brasass voam para cima. (5:7)
A palavra “vinda” do Senhor significa mais que a chegada dele. Refere à presença dele também, e esse é
o nosso consolo. A dura realidade é que Deus não consertará todos os males desse mundo até a volta de
Jesus!
Rm 8:17,18 Ora, se somos filhos, somos também herdeiros, herdeiros de Deus e co-herdeiros com Cristo;
se com ele sofrermos, para que também com ele sejamos glorificados. Porque para mim tenho por certo
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que os sofimentos do tempo presente não são para se comparar com a glória por vir a ser revelada em
nós.
2 Co 4:17 Porque a nossa leve momentânea tribulação produz para nós eterno peso de glória, acima de
toda comparação, não atentando nós nas coisas que se vêem, mas nas que se não vêem, porque as que
se vêem são temporais, e as que se não vêem são eternas.
Conforme a ilutração no texto, é impossível ser um fazendeiro, um “lavrador”, um agricultor, sem ter
paciência! Naquela cultura, havia um tempo prolongado entre as chuvas de outubro/novembro (no
início do plantio) e março/abril (no final). Um tempo de espera, sem nenhum fruto. Mas o jardineiro
esperava. . . . e esperava . . . na certeza de que o fruto viria. A vida cristã é assim. O segredo de
perseverança quando o caminho é duro, é saber que Deus está produzindo fruto em nós. Gememos em
nós mesmos, esperando a colheita.
Filipenses nos encoraja na vida cristã, que às vezes parece tão lenta, tão demorada: Estou plenamente
certo de que aquele que começou boa obra em vós há de completá-la até ao dia de Cristo Jesus. (1:6).
(Cf. 1 Jo 3:2,3: Amados, agora somos filhos de Deus, e ainda não se manifestou o que havemos de ser.
Sabemos que, quando ele se manifestar, seremos semelhantes a ele, porque havemos de vê-lo como ele
é. A a si mesmo se purifica todo o que nele tem esta esperança, assim como ele é puro.
Somos encorajados na vida cristã, mesmo que às vezes pareça tão lenta, tão demorada. Deus está
produzindo fruto em nossas vidas; mesmo que o resultado final demore, virá!
Mas, como Tiago pôde afirmar que a vinda de Jesus estava próxima, se quase 2000 anos já se
passaram, e Jesus ainda não voltou? Entendemos que, até a primeira vinda de Jesus, todo o tempo e a
história estavam marchando em direção ao precipício chamado “eternidade”. Mas, depois da
ressurreição e ascenção de Cristo, o próximo evento na cronologia divina é o retorno de Cristo.
Não resta outro acontecimento antes do final dos tempos. Em outras palavras, chegamos à beirada do
precipício e estamos agora andando na margem dele. A qualquer momento, a qualquer hora, Jesus pode
voltar. O fim está próximo! No momento em que ele voltar, nosso sofrimento acabará . . . estaremos
com o Senhor . . . o sofrimento terminará:
Ap 21:3,4 Então ouvi grande voz vinda do trono, dizendo, Éis o tabernáculo de Deus com os homens.
Deus habitará com eles. Eles serão povos de Deus e Deus mesmo estará com eles. E lhes enxugará dos
olhos toda lágrmia, e a morte já não existirá, já não haverá luto, nem pranto, nem dor, porque as
primeiras coisas passaram.
À luz dessa realidade, temos que fortalecer nossos corações . . . Em outras palavras, temos que firmar as
raízes para produzirmos fruto em meio a tempestade! As raízes fundas na promessa da vinda do Senhor.
Devemos focalizar nessas verdades, encorajar uns aos outros diariamente, lembrar de valores eternos e
viver para eles. A palavra “fortalecer” traz a idéia de “fixar, de forma resoluta” (Lc 9:51).
II. A Fé Verdadeira é Paciente em Provação . . . Confiante na Justiça do Senhor (9)
9 Irmãos, não vos queixeis uns dos outros, para não serdes julgados. Eis que o juiz está às portas.
Além da perseguição de fora (dos ricos), havia a possibilidade de aflição de dentro da igreja. Tiago é
realista. Reconhece que, às vezes, os irmãos não se dão tão bem juntos. Paulo também reconheceu esse
fato em Ef 4:2 “com toda humildade e mansidão, com longanimidade (= paciência), suportando-vos uns
aos outros em amor, esforçando-vos diligentemente por preservar a unidade do Espírito no vínculo da
paz.”
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A ordem é para não se queixarem uns contra os outros. A palavra “queixar” traz a idéia de ficar
exasperado com alguém, ao ponto de agonizar por dentro, de gemer. Foi usada em vários outros textos:
2 Co 5:2, 4 E por isso, neste tabernáculo gememos, aspirando por ser revistidos da nossa habitação
celestial
Rm 8:23 E não somente ela, mas também nós que temos as primícias do Espírito, igualmente gememos
em nosso íntimo, guardando a adoção de filhos, a redenção do nosso corpo
Mc 7:34 Jesus, erguendo os olhos ao céu, suspirou e disse . . .
Rm 8:26 O Espírito intercede por nós sobremaneira com gemidos inexprimíveis
Tiago adverte os leitores a não se queixarem entre si, pois existe um perigo real deles mesmos serem
julgados, caso tiverem errado. Mas ao mesmo tempo oferece uma palavra de consolo—o Juiz está à
porta. Em outras palavras, vingança pertence ao Senhor, não a nós. Se nosso irmão nos maltrata, se
somos blasfemados, alvo de fofocas, Deus sabe disso. Ele pode providenciar uma solução.
Em vez de criar casos entre irmãos, devemos sofrer a injustiça (confiantes na justiça do Senhor) antes de
corer o risco de injustiçar o outro. Vingança pertence ao Senhor, mesmo dentro da família da fé. Deus
quer que paz reine entre nós (veja 1 Co 6).
III. A Fé Verdadeira Persevera em Provação . . . Confiante da Misericórdia do Senhor (10,11)
Temos uma rica tradição histórica! A fé dos nossos antepassados, que não tiveram os mesmos
privilégios como nós, nos deixa um exemplo. Os profetas, que falaram com autoridade como
representantes do Senhor, sofreram muitos males, mas com grande paciência.
A razão porque todos esses antepassados perseveraram, é porque sabiam algo que seus perseguidores
não sabiam—que seu Deus era misericordioso e bondoso (compassivo).
10 Irmãos, tomai por modelo no sofrimento e na paciência os profetas, os quais falaram em nome do
Senhor.
11 Eis que temos por felizes os que perseveraram firmes. Tendes ouvido da paciência de Jó e vistes que
fim o Senhor lhe deu; porque o Senhor é cheio de terna misericórdia e compassivo.
A palavra “misericordioso” significa “de grande compaixão”. Em outras palavras, Deus SENTE o que
sentimos. É isso que o livro de Hebreus fala sobre Jesus:
Hb 4:15, 16 “Porque não temos sumo sacerdote que não possa compadecer-se (=sentir junto, sofrer
junto conosco) das nossas fraquezas, antes foi ele tentado em todas as coisas, à nossa semelhança, mas
sem pecado. Acheguemo-nos, portanto, confiadamente, junto ao trono da graça, a fim de recebermos
misericórdia e acharmos graça para socorro em ocasião oportuna. (cf. Hb 2:17,18)
Temos que confiar no caráter do nosso Deus! Em meio a sofrimento, temos que fixar nossa âncora
naquilo que sabemos ser verdadeiro a respeito de Jesus. O difícil em tempos de crise é acreditar que Ele
realmente quer o nosso bem . . . que Ele realmente é um Deus bom . . . que Ele sente conosco . . . que
nos ama.
IV. A Fé Verdadeira Persevera em Provação . . . Confiante na Soberania do Senhor (12)
12 Acima de tudo, porém, meus irmãos, não jureis nem pelo céu, nem pela terra, nem por qualquer outro
voto; antes, seja o vosso sim sim, e o vosso não não, para não cairdes em juízo.
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Esse versículo parece mudar de assunto. Mas está ligado à idéia de respostas à provação.
Quando nos encontramos em apertos, somos tentados a fazer votos precipitados na esperança de nos
livrar da situação. Podemos imaginar situações em que alguém, querendo se livrar de uma dificuldade,
assume um ompromisso, jura por algo sobre o qual não tem controle, ou faz uma promessa. Em outras
palavras, é muito fácil em meio a provação, dizer coisas que você não quis dizer—votos, promessas,
ameaças, palavrões: “Se o Senhor me livrar dessa, prometo servi-lo o resto da minha vida . . .” O
juramento é uma tentativa de “validar” as palavras, de assumir uma postura de controle e poder que
não temos. Deus é o único soberano. Só Ele nos livrará do sofrimento, no tempo dEle. Não podemos
apressar a vontade dEle através de promessas vãs. Por isso, a fé persevera em provação confiante na
soberania do Senhor, sem tentar manipular a situação pelas nossas palavras.
Ninguém gosta de esperar. Mas às vezes é a melhor maneira de mostrar nossa confiança no Senhor.
Glorificamos a Deus quando perseveramos pacientemente pela vontade dEle, confiantes
1) da Vinda dEle para “acertar as contas” (7,8)
2) na Justiça dEle, para fazer a coisa certa (9)
3) na Misericórdia dEle, para ter compaixão de nós (10,11)
4) na Soberania dEle, para resolver tudo em Seu tempo (12)
A fé verdadeira persevera em meio a tribulação na esperança da vinda do Senhor.
O “Show do Cristão”
Tiago 1:26-27
ESTUDO SOBRE O NOVO TESTAMENTO
Professor Dr. Antony Steff Gilson de Oliveira
Reverendo da Igreja Presbiteriana em Renovação do Brasil – IPRB
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Como identificar uma pessoa “espiritual”? Se tivéssemos um “religiômetro”, qual seria o índice?
O número de vezes que realiza uma hora silenciosa? A fidelidade no dízimo? A freqüência aos cultos? O
corte de cabelo? A “moda” de roupa que usa (ou deixa de usar)?
Infelizmente, nossa definição de espiritualidade muitas vezes reflete somente uma perspectiva externa,
e não o coração. Por isso 1 Sm 16:7 nos lembra que “O homem vê o exterior, porém o Senhor, o
coração”. Medimos espiritualidade muitas vezes por atos religiosos, ou às vezes pelo conhecimento que
alguém possui. Mas a medida de Deus é diferente. Deus não coloca sua fita de medir ao redor da
cabeça, mas ao redor do coração.
Parte do problema está com a própria palavra “religião”, que vem do latim “religione” e traz a idéia de
“religar-se” a um deus. O problema é que essa é uma tarefa impossível para o homem através do seu
próprio esforço.
A verdadeira religião começa com Deus—o esforço dEle! Ele é o Único capaz de esticar os braços o
suficiente para nos atrair para si mesmo. O sacrifício de Jesus efetuou uma mudança “religiosa”, ou seja,
homem e Deus podem ser reconciliados de novo, pela transformação no coração humano.
Os fariseus eram campeões de Religião. Mas era um Show—o “Show da Religião”. Mas Deus quer algo
diferente. Um “Show do Coração”. Um coração verdadeiro, transformado por Jesus.
Essa transformação no coração tem evidências práticas e claras. São evidências que brotam do coração,
dificlmente finjidas ou falsificadas. O livro de Tiago, cujo tema é “Provas de uma Fé Verdadeira”, nos
oferece três avaliações do nosso coração que se registram no “religiômetro” divino.
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Aprendemos em Tiago 1.26,27 que
A fé verdadeira REFLETE SUA RELIGIÃO num coração transformado por Jesus.
Nesses versículos encontramos em miniatura as mensagens principais do livro de Tiago.
I. A Verdadeira Religião PENEIRA AS PALAVRAS (26)
O texto começa jogando dúvida sobre a real existência da fé da pessoa que supõe ser religiosa. O
problema é que sua língua o trai! Se suas palavras só destroem, não importa se ela vá à igreja sempre
que as portas estejam abertas, se ela leia a Bíblia inteira três vezes por ano ou se contribua
generosamente para missões. Sua religião é vazia!
Certa vez alguém disse que a língua é o músculo mais comprido do corpo humano, pois tem sua origem
no coração. Jesus disse, “A boca fala do que está cheio o coração” . Tiago faz essa conexão entre a língua
e o coração no final do versículo quando diz que essa pessoa está “enganando o próprio coração”.
Tiago expõe o coração humano pelo que é, para que os cristãos deixem Jesus tomar controle de seus
corações. É triste imaginar que essa pessoa se engana, pensando que ela é grande coisa no Reino de
Deus, pois participa de muitas atividades religiosas. Ela mantém um padrão de espiritualidade
estabelecido por homens, mas ignora o padrão divino. Seu coração está longe de Deus!
A palavra “refrear” foi usada para descrever o freio na boca dos cavalos, um pequeno instrumento
inserido na parte sensível da boca do cavalo e capaz de direcionar seu corpo inteiro. O cristão que tem
Jesus reinando em seu coração usa uma santa peneira para pesar suas palavras ANTES que são faladas.
O Espírito Santo segura a peneira, e os furos são finos e feitos pela Palavra de Deus. As palavras pesadas
e podres ele joga fora. Somente o que passa pela peneira divina sai dos seus lábios.
Somente o Espírito Santo é capaz de transformar um coração podre num coração limpo. Certamente a
nossa conversão a Jesus é um bom começo, pois limpa a fonte das palavras. Mas é preciso nos vigiar
diariamente para manter as águas cristalinas (Rm 12.2).
II. A Verdadeira Religião PROTEGE OS MENOS-PRIVILEGIADOS (27a)
O próximo versículo apresenta um contraste. Se religião vazia, inútil e impotente manifesta-se numa
língua desenfreada, como seria uma religião pura, sem mácula? (A palavra traz a idéia de não ter
nenhuma mancha, ser irrepreensível). Como será uma vida realmente espiritual diante de Deus?
A resposta é inesperada! Tiago não cita uma lista de afazeres religiosos. Não dá pontos pelos anos de
freqüência na EBD. Fala do tratamento dado aos órfàos e às viúvas.
Naquela época, ainda pior do que hoje, órfãos e viúvas eram pessoas muito carentes. Numa sociedade
agrícola, sem INSS, orfanatos, asilos, ou assistência social, essas pessoas sofriam demais. Quem os
ajudava não tinha perspectiva nenhuma de retorno.
Quem “visita” órfãos e viúvas em suas tribulações demonstra “religião” (mudança interior) verdadeira. A
palavra “visitar” pode nos enganar... a idéia não é de simplesmente passar na casa de alguém e dar um
“alô” ocasional. O termo significa “cuidar, acompanhar, preocupar-se com”. Está no tempo presente,
indicando que é uma ATITUDE CONSTANTE!
Logo, Tiago destacará ainda mais esse tema quando condena acepção de pessoas na igreja (2.1-11) e
insensibilidade às pessoas com necessidades reaias (2.15-17).
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Como você encara os menos-privilegiados? É sensível e compassivo? Ou crítico e cético? Evita-os? Ou
procura oportunidades, dentro do possível, para mostrar-lhes o amor de Cristo?
Essa idéia de sensibilidade às necessidades daqueles ao nosso redor também reflete um tema de
destaque no livro de Provérbios (fonte de muitas idéias em Tiago):
Provérbios 21:13 O que tapa o ouvido ao clamor do pobre também clamará e não será ouvido. 28:27 O
que dá ao pobre não terá falta, mas o que dele esconde os seus olhos será cumulado de maldições.
29:7 Informa-se o justo da causa dos pobres, mas o perverso de nada disso quer saber.
14:31 O que oprime ao pobre insulta aquele que o criou, mas a este honra o que se compadece do
necessitado.
19:17 Quem se compadece do pobre ao Senhor empresta, e este lhe paga o seu benefício.
31:8,9 Abre a tua boca a favor do mudo, pelo direito de todos os que se acham desamparados.
Abre a tua boca, julga retamente, e faze justiça aos pobres e aos necessitados.
À luz do que Tiago (e Jesus) ensinam a respeito dos menos-privilegiados, a nossa primeira resposta não
deve ser sair correndo para dar uma esmola. Primeiro Jesus quer transformar nosso coração.
Precisamos clamar a Ele para nos dar um coração compassivo e sensível.
Fico triste quando ouço como alguns que se dizem cristãos tratam pessoas mais humildes. O problema é
que não encaram as pessoas como Jesus as encarava. Por isso, clamemos a Ele para que sejamos
sensíveis, sábios e genuínos na proteção dos menos-privilegiados.
III. PRESERVA A PUREZA (27b)
A terceira evidência de uma fé verdadeira, que registra no “religiômetro divino”, é uma vida pura. É
interessante que Tiago não diz, “Adquira pureza” ou “vença espiritualidade pela luta”.
Fala “guardar-se” incontaminado do mundo. O verbo é presente, e traz a idéia de uma vigia constante,
uma preservação e proteção de uma posição já adquirida.
Mais uma vez, notamos que Tiago vai voltar para essa idéia mais tarde no capítulo quatro, quando trata
da questão dos desejos mundanos que habitam em nossos corações (4.1-4).
Aqui, Tiago soa como o Apóstolo Paulo, que sempre nos chama para uma vida DIGNA da alta posição
nos concedida em Cristo Jesus! Na conversão obtemos essa posição, de sermos vestidos com a justiça
de Cristo (2 Co 5:21). Agora, baseado nessa alta posição que temos diante de Deus, pelos méritos de
Jesus, devemos andar de modo digno.
Outra vez, estamos falando sobre mais do que mero comportamento. Trata-se de uma questão interna,
do coração humano. Guardar-se incontaminado do mundo fala sobre muito mais do que observar listas
de atividades que você faz (ou deixa de fazer). Iinfelizmente, muitas vezes somos mais conhecidos como
crentes pelos nossos não-fazeres do que pelos fazeres.
Permitimos que o mundo nos conforme ao seu padrão, ou somos transformados diariamente pela
realidade de uma cidadania fora deste mundo? Somos seduzidos pelas atrações temporais dessa vida,
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ou temos olhos fixados nas celesteais? Paqueiramos o mundo para ver o que ele pode nos oferecer,
pensando que podemos brincar com tentação? Adotamos os padrões e a aparência do mundo para
sermos aceitos por ele?
Jesus nos chamou para ficarmos NO MUNDO, sem sermos DO MUNDO.
O povo do Exodo descobriu como isso é difícil uma vez que você é contaminado pelos valores do
mundo. Demorou uma noite para tirar Israel do Egito, mas 40 anos para tirar o Egito do coração de
Israel.
O profeta Daniel nos deixa um exemplo positivo de como estar no mundo sem ser do mundo. Resolveu
não contaminar-se com as finas regalias ilícitas do rei. Guardou-se incontaminado do mundo. E Deus
honrou-o.
No “religiômetro divino” há três registros que nos ajudam a medir nosso próprio coração. A fé
verdadeira:
1) Peneira as Palavras
2) Protege os menos-Privilegiados
3) Preserva a Pureza
Resumindo, podemos afirmar que
A fé verdadeira REFLETE SUA RELIGIÃO num coração transformado por Jesus.
O SIGNIFICADO DE 'FIM DA LEI" EM ROMANOS 10.4
ESTUDO SOBRE O NOVO TESTAMENTO
Professor Dr. Antony Steff Gilson de Oliveira
Reverendo da Igreja Presbiteriana em Renovação do Brasil – IPRB
www.fatebra.com.br
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O grande volume de literatura produzida nos últimos anos enfocando o tema da lei em Paulo demonstra
o caráter polêmico do assunto.1 Os principais textos "legais" do apóstolo têm sido cuidadosamente
investigados,2 interpretações tradicionais são postas em cheque, surgem novas questões e
perspectivas,3 conseqüentemente soluções inusitadas e desafiadoras são apresentadas.4 A
interpretação de Romanos 10.4, já bem conhecida como um "campo de batalha", tornou-se ainda mais
debatida com o surgimento da chamada "nova perspectiva" sobre Paulo e a lei.
Esta "nova perspectiva" sobre Paulo e a lei de Moisés vem se desenvolvendo a partir de obras de Krister
Stendahl (1963) e principalmente E. P. Sanders (1977). Nessas obras é descartada a interpretação
tradicional que entende que Paulo e o Novo Testamento nos apresentam o judaísmo daquele período
como uma religião legalista. Conseqüentemente, surgiram várias novas interpretações para explicar a
polêmica de Paulo contra a lei. A abordagem sociológica de J. D. G. Dunn é a que tem sido mais aceita:
Paulo combate as obras da lei não porque expressam legalismo, mas porque "obras da lei" para Paulo se
referem aos emblemas característicos do judaísmo (leis dietárias, sábado, e circuncisão), os quais
enfatizam a separação entre judeus e gentios que Cristo aboliu.
É neste contexto que a interpretação de Romanos 10.4 ganha relevância extraordinária. O desafio
exegético não é somente determinar se te/loj ("fim") deve ser entendido por "fim/terminação" ou
"alvo/cumprimento" e em que sentido, mas agora é preciso tratar também da natureza da antítese
presente no contexto em face dos novos questionamentos apresentados pela "nova perspectiva". Em
outras palavras, é preciso determinar se Paulo está combatendo ou não o legalismo judaico como
tradicionalmente se tem interpretado.
Portanto, nosso intuito neste trabalho é determinar o significado de Romanos 10.4 em seu contexto,
procurando interagir com as principais questões e opiniões contemporâneas.
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Professor: Rev. Antony Steff Gilson de Oliveira, Pastor da Igreja Presbiteriana em Renovação
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I. Análise Contextual
Nos capítulos 9 a 11 de Romanos Paulo retoma o tema já tratado de maneira provisional em 3.1-8, qual
seja, a vindicação dos propósitos e do caráter de Deus em face à incredulidade dos judeus. S. K. Williams
caracteriza o objetivo de Paulo em Romanos como a demonstração de que o seu evangelho está em
perfeita concordância não somente com o plano de Deus mas também com quem Deus é: Senhor de
todos os povos e para sempre fiel à sua própria natureza e propósito.5 Observamos também que já em
1.16 Paulo delineia a prioridade dos judeus na história da salvação a despeito de sua incredulidade (cp.
2.9-10; 3.1-2). Como ressaltou J. C. Beker: "Paulo demonstra como ele integra a universalidade do
evangelho e a particularidade de Israel."6
Paulo introduz esta seção da carta (caps. 9-11) falando da tristeza do seu coração pela incredulidade dos
seus compatriotas judeus (9.1-3) e menciona os privilégios concedidos por Deus a eles (9.4-5). Contudo
a palavra de Deus não falhou7 , pois somente são verdadeiros israelitas os filhos da promessa, os quais
são objeto do decreto soberano da eleição de Deus (9.6-13). Esta eleição não depende das obras
praticadas pelas pessoas, quer sejam obras boas ou más, mas da vontade do que chama.8 Não há
injustiça em Deus porque esta é uma questão de misericórdia (9.14-18); assim Deus manifesta tanto a
sua ira e poder em vasos de ira, preparados para a destruição, como a riqueza da sua glória em vasos de
misericórdia, preparados de antemão para a glória (9.19-23). A estes (que somos nós os crentes) Deus
chamou não só dentre os judeus mas também dentre os gentios segundo seu propósito manifestado
anteriormente pelos profetas (9.25-29). Nas passagens de Oséias (Os 2.25 e 2.1) citadas em 9.25-26
Paulo faz referência à salvação concedida aos dentre os gentios, e nas de Isaías (Is 10.22; 28.22; 1.9),
citadas em 9.27-28, ele faz referência à salvação somente do remanescente dos filhos de Israel, que são
os seus verdadeiros descendentes.9
Se até aqui Paulo focalizou o seu tema da perspectiva dos propósitos soberanos e do caráter justo de
Deus, agora, de 9.30-10.21, ele o focaliza da perspectiva da atitude de Israel. No capítulo 11 ele
abordará a questão a partir de uma perspectiva harmonizada na qual a soberania divina e a
responsabilidade humana são enfatizadas.
Em contraste com os salvos dentre os gentios, os quais alcançaram a justiça que decorre da fé, embora
não a buscassem,10 os não-salvos dentre Israel, apesar de buscarem lei de justiça, não atingiram essa
lei, pois sua busca não decorreu da fé e sim como que das obras, e assim vieram a tropeçar na pedra de
tropeço porque nela não creram (9.30-33).11 Paulo ora pela salvação deles dizendo que são zelosos por
Deus, porém sem entendimento (10.1-2).O problema deles é desconsiderar ( a)gnoou=ntej,
"desconhecendo")12 a justiça providenciada por Deus e tentar estabelecer a sua própria justiça, não se
sujeitando assim à justiça que vem de Deus,13 pois Cristo, para todo o que crê (judeu ou gentio), é o fim
de se usar a lei para tentar estabelecer a justiça própria14 (10.3-4). A lei traz a exigência da prática;15
resta, portanto, ao transgressor da lei16 (quer judeu ou gentio) o caminho da justiça que é pela fé em
Cristo — "todo aquele (judeu ou gentio) que invocar o nome do Senhor, será salvo" (10.5-13). A fé vem
pela pregação da palavra de Cristo; contudo, a incredulidade dos judeus cumpre os propósitos de Deus
que incluem também revelar-se aos gentios (10.14-21).
Deus se mantém fiel para com o seu povo ("a quem de antemão conheceu") salvando-lhe no presente o
remanescente segundo a eleição da graça, do qual Paulo faz parte (11.1-5). Sendo pela graça, fica
excluído o caminho das obras; a justiça17 que Israel continua buscando (e)pizhtei=, "busca"), somente a
eleição (ou seja, os eleitos) obteve ( e)pe/tuxen, "alcançou"), os demais foram endurecidos como
profetizado no passado (11.6-10). A incredulidade dos judeus serve ao propósito divino de trazer a
salvação aos gentios; contudo, essa queda é reversível, pois, mediante o ciúme, a "plenitude" de Israel
(o número total dos eleitos) haverá de ser salva, abandonando a incredulidade, sendo reenxertada na
sua própria raiz (11.11-24). Somente uma parte de Israel é endurecida e isso durará enquanto a
plenitude dos gentios está também sendo salva. É desta maneira (ou(/twj, "assim") que todo o Israel18
será salvo, como prometido nas Escrituras (11.25-27). Por causa da irrevocabilidade dos dons e da
vocação de Deus, Israel, apesar de estar em posição de inimizade, também participa (desta maneira)19
da sua misericórdia concedida a todos (judeus e gentios), pois todos estão igualmente encerrados na
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desobediência (11.28-32). Paulo termina exaltando a Deus por sua sabedoria e conhecimento
manifestados em seus juízos e caminhos soberanos (11.33-36).
II. A Antítese entre Legalismo e Fé
e a Nova Perspectiva
Para os eruditos da "nova perspectiva", esta passagem não apresenta qualquer indício de que Paulo
esteja combatendo o legalismo judaico. E. P. Sanders, por exemplo, argumenta que em 10.3 o contraste
é entre a justiça que está disponível somente ao povo do pacto, o qual é observante da Torá, e uma
justiça disponível pela fé a todos:
Sua própria justiça, em outras palavras, significa aquela justiça que somente os judeus têm o privilégio
de possuir, antes que justiça própria que consiste em os indivíduos apresentarem seus méritos como
uma reivindicação diante de Deus.20
J. D. G. Dunn entende que i)di/an, "própria," refere-se não ao status justo que cada israelita buscava
alcançar, mas à "justiça que é peculiar ao povo do pacto, a justiça que era possessão somente deles e
não dos gentios."21 S. R. Bechtler conclui:
O problema descrito em 10.3, portanto, não é que Israel, pelos seus esforços meritórios, esteja
procurando criar a sua própria justiça, mas que o seu zeloso apego à sua visão exclusivista do pacto
impede a possibilidade da oferta da salvação aos gentios fora do pacto.22
Todavia, toda esta seção (capítulos 9-11), bem como toda a carta, mostra que a justiça própria que os
judeus procuram estabelecer encontra-se em oposição à justiça de Deus, ficando assim do lado oposto
no paralelismo antitético que permeia toda a carta: por um lado a miséria e as realizações humanas e
por outro a ação redentora divina em Cristo através da justiça e)k pi/stewj, "pela fé". Não há como
negar o fato de que Paulo estabelece fortemente uma antítese ao legalismo judaico; é o que
comprovaremos abaixo.
A. Antítese no contexto próximo
1. Romanos 9.1-29 - Somente os filhos da promessa são considerados filhos de Deus e não todos os
descendentes naturais de Abraão (9.6-8). Em 9.9, a promessa de um filho para Sara contrasta com a
providência de Abraão (não mencionada no texto) de obter filho da escrava. No caso dos filhos de
Rebeca, Paulo enfatiza que a eleição23 de Deus independe das obras praticadas, sejam boas ou más,
quer pelo que é aceito ou pelo que é rejeitado (9.10-13). Ao enfatizar que a salvação é concedida
somente aos que são contemplados pela misericórdia de Deus, Paulo mostra que a vontade e o esforço
humanos nada podem reivindicar de Deus (9.14-18). O homem não se encontra numa posição na qual
possa reclamar das escolhas de Deus (9.19-20). Tanto os "vasos de ira" como os "vasos de misericórdia"
indicam a situação de miséria do homem (9.21-23). Os verbos e particípio e)ka/lesen, "chamou",
kale/sw, "chamarei" , h)gaphme/nwn, "amada" , klhqh/sontai, "serão chamados", swqh/setai, "será
salvo", poih/sai, "cumprirá" e e)gkate/lipen , "deixado," mostram que somente a ação de Deus pode
reverter a miséria do homem (judeu ou gentio) (9.24-29).
2. Romanos 9.30-10.21 - Não foi o esforço humano (mh\ diw/konta, "que não buscavam") que levou os
gentios a alcançarem a justiça e)k pi/stewj, "que decorre da fé". Por outro lado, Paulo mostra que Israel
fracassou em sua busca da no/mon dikaiosu/nhj, "lei de justiça", porque o fez ouk ) e)k pi/stewj a)ll )w(j
e)c e)/rgwn, "porque não decorreu da fé, e, sim, como que das obras"24 (9.30-32). O caminho das obras
(em contraste com o caminho da fé) implica num tropeço na pedra que Deus colocou justamente para
que o homem, nela crendo, não ficasse mais nessa miserável posição de humilhação (ou)
kataisxunqh/setai, "não será confundido") (9.32-33). Paulo deixa claro que apesar do zelo que
demonstram por Deus, os judeus não possuem a salvação (10.1-2). Esta salvação de Deus é recebida
quando o homem cessa de usar a lei (te/loj no/mou, "fim da lei") para estabelecer a justiça própria e,
deixando de ignorar o caminho de justiça que Deus providenciou, ele se sujeita a esta justiça, crendo
que em Cristo ele é salvo independentemente de qualquer justiça própria (10.3-4). Paulo estabelece um
contraste (de, "mas" em 10.6) entre a justiça e)k [tou=,] no/mou, "decorrente da lei," e a justiça e)k
pi/stewj, "decorrente da fé": pela primeira o homem só obtém vida mediante a prática da lei, o que lhe
é impossível;25 pela segunda o homem é salvo apenas crendo e confessando que em Cristo Deus é
quem agiu para nos libertar de nossa miséria. Pela invocação do nome do Senhor o homem reconhece
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tanto o seu fracasso em atender às demandas da lei, como também a suficiência do poder de Deus para
nos salvar (10.5-15). Tanto a incredulidade e a rebeldia de Israel, como a insensatez e a indiferença dos
gentios, mostram a miséria humana e contrastam com a bondade de Deus em chamar a todos para
receberem o seu favor (quer enviando pregadores do evangelho, ou provocando ciúmes e ira, quer
revelando-se ou estendendo a mão, 10.16-21).
3. Romanos 11.1-36 - É a graça de Deus (xa/riti, "pela graça") e não as obras dos homens (ou)ke/ti e)c
e)/rgwn , "já não é pelas obras") que determina a eleição divina do remanescente de Israel, eleição essa
que traz salvação a esse remanescente (ontem e hoje), em contraste com o fracasso da atual busca de
Israel que só traz mais endurecimento, cegueira e miséria (11.1-10). Somente Deus pode reverter a
miséria humana: primeiro, Deus usa o tropeço de Israel para trazer a salvação, riqueza e reconciliação
aos gentios; segundo, Deus usa o ciúme de Israel para salvar e restabelecer à vida os que fazem parte da
plh/rwma a)utw=n, "sua plenitude"; só Deus, em sua bondade, é poderoso para enxertar (pela fé) os
gentios na oliveira boa, e nela reenxertar (afastando a incredulidade)26 os ramos naturais cortados
(judeus incrédulos) (11.11-24). Enquanto as palavras "impiedades", "pecados", "inimigos" descrevem a
miséria judaica, por outro lado, Deus, em sua fidelidade e amor, é aquele que liberta completamente o
seu povo (11.25-29). Tanto gentios como judeus estão aprisionados na desobediência; somente pela
misericórdia de Deus podem ser libertados (11.30-32). Só Deus merece o louvor das suas criaturas, pois
ninguém primeiro deu a ele para que Deus lhe ficasse devendo uma retribuição, pelo contrário, "dele e
por meio dele e para ele são todas as cousas. A ele, pois, a glória eternamente. Amém."(11.33-36).
Em resumo: O contexto descreve os judeus incrédulos como estando cortados da raiz santa,
aprisionados na desobediência, vivendo em impiedade e pecados como inimigos, estando endurecidos,
cegados, num estado de miséria, tendo tropeçado, procurando, todavia, ser zelosos por Deus, porém
sem entendimento, tentando estabelecer sua justiça própria, justiça que julgam provir da lei, como que
pelas obras, ignorando a justiça de Deus em Cristo, não se sujeitando a ela, tendo fracassado
completamente em seus esforços. Estão mortos (11.15)!27 Schreiner, tendo em mente as idéias de J. D.
G. Dunn, observa corretamente: "Práticas que separavam os judeus dos gentios, tais como circuncisão,
sábado e leis alimentares, não são sequer mencionadas nesta seção da carta." E conclui:
Parece que a maneira mais natural de se ler Romanos 9.32 e 10.3 é ver que os judeus fracassaram ao
tentarem ser justos com base em suas obras, e estas obras não podem ser limitadas a parte da lei.
Assim, está evidente no texto uma crítica à justiça-de-obras num sentido amplo. Embora Paulo proclame
a inclusão dos gentios em Romanos 9-11, os judeus não são especificamente reprovados por serem tão
exclusivos em Romanos 9.30-10.8. Pelo contrário, eles são censurados por fracassarem na obediência à
lei e por legalismo.28
B. Antítese na carta
1. Romanos 3.19-20 - Nesta passagem Paulo está resumindo o seu argumento anterior (Rm 1.18-3.18).
O significado de "obras da lei" em 3.20 não pode ser separado do que Paulo diz a respeito da lei em
Romanos 2. Nesse capítulo, Paulo claramente está procurando convencer os judeus do fracasso de sua
tentativa de guardar a lei. Paulo não os critica por observarem a circuncisão, mas por não obedecerem
às normas morais da lei (2.21-22) enquanto pensam que a circuncisão poderia protegê-los do
julgamento de Deus. Conclui-se que "obras da lei" em 3.20 designa de maneira ampla os atos exigidos
pela lei, e a razão para a condenação é o fracasso em se guardar a lei. Romanos 3.20 fala da
incapacidade humana para obedecer a lei. O problema não é uma atitude errada ou um espírito
exclusivista, mas sim a desobediência. Paulo afirma que ninguém será justificado por fazer o que a lei
requer, pois ninguém obedece toda a lei.
2. Romanos 3.27-4.529 - Apesar da nova exegese deste texto apresentada pelos representantes da nova
perspectiva,30 a maneira mais natural de se ler esta passagem é ver aqui uma polêmica contra a
tentativa de se obter salvação pela prática de boas obras. Paulo afirma que a jactância foi excluída não
pela "lei das obras" mas pela "lei da fé". O verso 28 provê a base (ga/r, "pois") para a exclusão dessa
jactância. A jactância é excluída porque "o homem é justificado pela fé independentemente das obras
da lei." Como "obras da lei" refere-se à lei como um todo, pode-se concluir que Paulo está falando
contra aqueles que chegam a se orgulhar por tentarem obter a salvação por sua prática das obras
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prescritas na lei de Moisés. Paulo continua tratando do mesmo assunto usando o caso de Abraão em
4.1-5. A prática de determinadas obras constitui a base para a jactância (4.2). Se Abraão tivesse sido
justificado desta maneira, Deus lhe seria obrigado a pagar o salário por ter realizado essa obra requerida
(4.4). Mas não foi assim que Abraão foi justificado; foi a sua fé em Deus que lhe foi
imputada/reconhecida para justiça (4.3), e assim, como ímpio que era, ele recebeu a dom divino da
justiça salvadora (4.5).31
3. Romanos 4.6-8 - Davi fala de uma "justiça à parte das obras" como sendo a bênção do perdão das
iniqüidades e pecados. Para Davi, "iniqüidades" e "pecados" (verso 7) são uma outra maneira de
descrever as obras que se diz estarem faltando (xwri\j e)/rgwn, "independentemente de obras") no
verso 6. Não se pode inferir das palavras de Paulo que os "pecados de Davi" consistiam numa ênfase na
circuncisão ou em outros "emblemas separadores" que causavam a exclusão dos gentios do povo de
Deus (a circuncisão, as leis dietárias, e o calendário religioso judaico). As suas "impiedades" e "pecados"
descritos aqui são termos gerais para aquele que peca por desobedecer a lei. Schreiner conclui:
A conexão entre o fracasso (sic) de Davi em realizar as "obras" necessárias em 4.6 e a reivindicação de
Paulo de que a justiça é "à parte das obras da lei" (3.28) sugere que a razão pela qual as "obras da lei"
não justificam é o fracasso em se obedecer toda a lei.32
Na conclusão de sua pesquisa na carta aos Gálatas, Augustus N. Lopes afirma:
...o ataque de Paulo às "obras da lei" em Gálatas faz parte da sua polêmica mais geral contra o sistema
legalista e inadequado do judaísmo palestino, como uma religião de méritos e em direta oposição ao
evangelho da graça revelado em Cristo, conforme tradicionalmente se vem afirmando. Embora a ênfase
de Dunn na função sociológica da lei nos desafie a ampliar nossa interpretação e incluir também este
aspecto na polêmica de Paulo contra as "obras da lei" em Gálatas, sua tese fundamental, bem como
muitas teses da "nova perspectiva" sobre o judaísmo e Paulo, não pode ser aceita senão debaixo de
severas restrições e qualificações. Portanto, desde que não conseguimos ser convencidos por elas,
resta-nos permanecer com a interpretação tradicional, que, mesmo parecendo antiquada e indefensável
para muitos, continua refletindo mais exatamente a intenção de Paulo ao afirmar que a salvação é pela
fé, sem as "obras da lei".33
III. Fim ou Alvo da Lei ?
Já vimos que o contexto mostra (1) que Paulo está combatendo o legalismo judaico, (2) que os judeus
deveriam ter cessado de usar a lei para tentar estabelecer a justiça própria, (3) que a salvação oferecida
na pregação da fé implica numa sujeição à justiça de Deus, ou seja, em cessar de confiar nos supostos
méritos próprios (provindos da prática das obras da lei) para confiar somente em Cristo, o Redentor, (4)
que Cristo é um salvador tão suficiente que para o homem receber essa salvação ele deve cessar de
inquirir sobre o que precisa praticar para ser salvo, pois basta invocar o nome do Senhor, crendo e
confessando a Jesus como Senhor. Diante disso, vemos que Paulo está tratando da questão da
experiência pessoal da salvação, da apropriação da justiça de Deus em Cristo. É nesse contexto que ele
afirma que Cristo é fim da lei (te/loj no/mou) para justiça a/para/de todo o que crê, e a maneira mais
natural de entender esta expressão, de acordo com o contexto é: "Cristo é a cessação da lei com vistas à
justiça, isto para todo o que crê."
Notamos que Paulo não está fazendo uma declaração abrangente sobre o relacionamento entre o Velho
Testamento e o Novo Testamento, ou afirmando que no Novo Testamento a lei tem um papel
predominantemente negativo. Parece ser esse o receio dos que, apesar de aceitarem que no contexto
Paulo trata do legalismo judaico, ainda preferem traduzir te/loj por "alvo". É o caso de C. E. B. Cranfield:
Aqueles que pensam que a atitude de Paulo para com a lei era predominantemente negativa são
naturalmente inclinados a escolher o sentido, "terminação"...Esta interpretação possui muitos adeptos;
mas, à vista de passagens tais como Romanos 7.12, 14a, 8.4, 13.8-10 e da declaração categórica em
Romanos 3.31, e também do fato de que Paulo repetidamente apela para o Pentateuco para apoiar os
seus argumentos (talvez especialmente sugestivo seja o fato que ele faz assim em Romanos 10.6-10),
parece extremamente provável que ela deva ser rejeitada, e a tradução "alvo" preferida.34
Vê-se que este receio de Cranfield o impediu até de considerar a interpretação que defendemos, a qual
não implica numa abrogação da lei no Novo Testamento. Entende-se a posição de Cranfield como uma
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reação contra os que afirmam que em Romanos 10.4 Paulo ensina que Cristo aboliu a lei. Não é este o
nosso caso. Concordo inteiramente com a advertência e conclusão de Schreiner:
...o principal problema com muitas interpretações de Romanos 10.4 é que os eruditos estão tentando
apoiar seu entendimento global do relacionamento entre a lei e o evangelho com base neste texto.
Conseqüentemente, grandes batalhas são travadas sobre se Cristo é o alvo ou o fim da lei. Os assuntos
nesta disputa teológica são inteiramente cruciais, e carecem de novas discussões. Mas a minha tese
neste artigo é que Paulo em Romanos 10.4 tem em vista algo mais modesto. O problema específico que
ele combate é a tendência humana de fazer mal uso da lei para estabelecer a justiça própria. O
propósito do texto não é prover uma declaração programática sobre o relacionamento entre o
evangelho e a lei. Paulo está respondendo a um problema específico: o uso da lei para se estabelecer a
justiça própria. Não é para se surpreender, então, que Romanos 10.4 viesse a conter um declaração
experimental, pois Paulo está reagindo a um problema experimental. Tal tentativa de se estabelecer a
justiça própria tem grandes conseqüências para Paulo, visto que os que assim fazem fracassaram em se
submeter à justiça salvadora de Deus. Eles deveriam ter se submetido à justiça de Deus, visto que crer
em Cristo é o fim de se usar a lei para estabelecer a justiça própria para todos os que crêem.35
A. A Palavra "te/loj"
Alguns afirmam que te/loj em Paulo geralmente significa "alvo". Todavia, essa teoria não pode ser
sustentada pela evidência. A única passagem Paulina em que te/loj pode significar "alvo" é 1 Timóteo
1.5. Os dois usos de te/loj em Romanos 6.21-22 devem ser traduzidos por "resultado" e não por "alvo".
Em 2 Coríntios 3.13 te/loj deve ser traduzido por "fim"; dificilmente poderia significar "alvo". O sentido
temporal de te/loj pode ser constatado como predominante no Novo Testamento, tanto em
construções preposicionais (certamente em Mt 10.22; 24.13; Mc 13.13; 1 Co 1.8; Hb 3.14; 6.11; Ap 2.26;
provavelmente em Lc 18.5; Jo 13.1; 2 Co 1.13; 1 Ts 2.16), como em construções sem preposição
(certamente em Mt 24.6, 14; Mc 3.26; 13.7; Lc 1.33; 21.9; 1 Co 15.24; Hb 7.3; 1 Pe 4.7; Ap 21.6; 22.13;
provavelmente em Mt 26.58). As únicas passagens em que te/loj poderia significar "alvo", em nosso
entender, além de 1 Timóteo 1.5, são 1 Pedro 1.9 e Lucas 22.37.
Em Romanos 10.4 ambas as interpretações são possíveis, dado o uso da palavra; todavia, a maneira
mais comum em que Paulo usa esse termo nos leva a esperar o sentido "fim". Não há, como vimos na
análise anterior, argumentos contextuais para preferirmos "alvo"; portanto, linguisticamente é
preferível traduzir te/loj por "fim". Käsemann afirma ser ridículo enfatizar a conexão lógica com a
metáfora de corrida em 9.31s e, em assim fazendo, esquecer de 9.32s.36
B. Argumentos Finais na Interpretação
de Romanos 10.4
A relação lógica entre os versos 3 e 4 apoia a nossa interpretação. A conjunção ga/r, "porque," no início
de 10.4, mostra que este verso está intimamente ligado ao verso anterior. A principal proposição do
verso 3 é que os judeus não se submeteram à justiça de Deus. Vimos que a melhor maneira de
entendermos isso é que os judeus não se submeteram à ação de Deus pela qual ele declara justos os
que nele confiam. Os dois particípios (a)gnoou=ntej, "desconhecendo," e zhtou=ntej, "procurando") no
verso 3 explicam a razão pela qual os judeus não se submeteram à justiça salvadora de Deus: porque
eles ignoraram a justiça de Deus e porque eles tentaram estabelecer a sua própria justiça. Vimos pela
ligação com o contexto (em especial 9.30-33) e com toda a polêmica contra o legalismo judaico nesta
carta, que Paulo está afirmando que alguns judeus pensavam que poderiam obter justiça pela prática
daquilo que a lei determina. Está claro que Paulo entende que eles estavam errados em não se sujeitar à
justiça de Deus e que esta sujeição deveria se expressar através da fé em Cristo. O verso 4, então, provê
a razão pela qual os judeus deveriam ter se submetido à justiça de Deus: Cristo põe um fim à tentativa
de se estabelecer a justiça própria. Leon Morris registra a expressão de Victor P. Furnish: Cristo "escreve
‘finis’ ao triste espetáculo da vã tentativa humana de alcançar a vida através das obras da lei."37
Schreiner acertadamente observa:
A íntima conexão entre os versos 3-4 demonstra que Paulo não está fazendo uma declaração teológica
global entre a lei e o evangelho no verso 4. Ele está respondendo ao problema específico levantado no
verso 3 de pessoas erroneamente usando a lei para estabelecer sua própria justiça. No verso 4 Paulo
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afirma que aqueles que crêem em Cristo cessam de usar a lei como um meio para se estabelecer a
justiça própria.38
Há pessoas que desaprovam esta exegese afirmando que ei)j dikaiosu/nhn, "para justiça," está mais
próximo de Xristo/j, "Cristo", do que de te/loj ga/r no/mou, "porque o fim da lei". Devemos notar,
entretanto, que esta última frase é movida para o início da oração para dar ênfase ao fato de que Cristo
põe um fim nessa atitude errada para com a lei. "Seifrid corretamente argumenta que ei)j dikaiosu/nhn,
"para justiça," não está relacionado a tudo quanto precede mas somente ao nominativo predicativo
te/loj no/mou, "fim da lei"."39
A expressão panti\ t%= pisteu/onti, "a/para/de todo o que crê," dá suporte à idéia de que Paulo não
está fazendo uma declaração global sobre a relação entre o evangelho e a lei. Cristo não é o fim de se
usar a lei para justiça no caso dos judeus do verso 3. O verso 4 é uma declaração acerca da experiência
dos crentes em Cristo, qual seja: todos os que confiam em Cristo para serem justificados cessam de usar
a lei para estabelecer a sua própria justiça.
A partícula ga/r, "pois, ora," no verso 5 indica que os versos 5-8 provêem uma base para o verso 4: o
verso 5 afirma que aquele que busca a justiça da lei viverá somente se praticar a lei . Por causa da
exigência da prática da lei pelo homem40 nesse verso 5 e o contraste das obras com a fé em todo o
contexto, como temos mostrado, deve-se concluir que há uma idéia implícita neste verso, qual seja:
ninguém pode cumprir a lei e, assim, a justiça não pode ser alcançada através da tentativa de se guardar
a lei. Os versos 6-8 ensinam que Cristo já realizou tudo o que nos era impossível de cumprir. A justiça
não vem pela prática da lei, pois ninguém pode cumpri-la perfeitamente; a justiça é oferecida mediante
a fé em Cristo. Desta maneira, os versos 5-8 fundamentam o verso 4 ao confirmarem que o crer em
Cristo põe um fim em toda a tentativa de se obter justiça através da lei.
É importante observar que Paulo não está sugerindo aqui que antes da vinda de Cristo todos os judeus
usavam a lei para estabelecer a justiça própria. Paulo ensina que Abraão (Rm 4.1-5; Gl 3.6-9) e Davi (Rm
4.6-8) foram salvos pela fé e não pelas obras. É justo entender que Paulo está mencionando Cristo no
verso 4 porque agora, com a chegada de Cristo na plenitude dos tempos41 (Gl 4.4), o modo específico
de se manifestar confiança em Deus e em suas promessas é depositar a confiança em Deus que enviou
seu Filho para fazer propiciação pelos nossos pecados (Rm 3.21-26).
IV. Conclusão
Romanos 10.4 deve ser entendido a partir da perspectiva da polêmica de Paulo contra o legalismo
judaico. Os judeus deveriam ter deixado de procurar estabelecer a sua própria justiça pela prática da lei
porque pela prática da lei ninguém será justificado, visto que todos, judeus e gentios, estão debaixo do
pecado. Antes, eles deveriam ter se submetido à justiça de Deus crendo em Cristo. Cristo, sim, realizou
aquilo que é impossível aos homens, para obter-lhes a justiça, a qual ele lhes oferece gratuitamente
pela fé, à parte das obras da lei. Os judeus deveriam, portanto, ter compreendido que Cristo, para
aquele que crê, põe um fim a esta maneira errônea de buscar a justiça pelas obras da lei.
Paulo não está fazendo uma declaração teológica global acerca do relacionamento entre a lei e o
evangelho. Ele não está afirmando que a lei foi abolida, nem que Cristo é o alvo da lei, nem que a
exclusividade da lei foi posta de lado, etc. Ele está tratando, a partir da perspectiva da experiência dos
crentes, do problema do legalismo dos judeus: Cristo, para o crente, é o fim do legalismo. Usando a
frase de Furnish: Cristo "escreve ‘finis’ ao triste espetáculo da tentativa humana de obter vida através
das obras da lei."
V. Implicações Práticas de"Alvo" ou "Fim"
O problema do legalismo não foi só do judeu no passado, mas está sempre presente como uma
tentação para os cristãos de todos os tempos. É comum hoje encontrar crentes legalistas que não se dão
conta da incoerência de suas posições: confiam em Cristo como Salvador, mas sentem que precisam
fazer algo para merecer a sua salvação. Pastores se debatem contra o legalismo evangélico de suas
ovelhas; parece que a soteriologia legalista do romanismo, espiritismo, etc., ainda influencia a vida de fé
dos convertidos. Problemas de depressão espiritual têm, por vezes, como raiz, uma apreensão
defeituosa e distorcida da justificação pela fé. Ademais, na evangelização do povo brasileiro é
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imprescindível focalizar que Cristo põe fim à tendência humana de pensar que se pode "comprar" com
obras a eterna salvação.
Vê-se que este texto de Paulo é tremendamente prático, e aplica-se a todos os casos acima
mencionados, ajudando para que hoje as pessoas tenham uma verdadeira experiência da salvação, uma
fé verdadeira. Esta nossa interpretação entende que Paulo está tratando da experiência das pessoas de
seu tempo, de seus patrícios que erraram nessa área, bem como de crentes que descobriram em Cristo
a libertação do legalismo. A interpretação que traduz te/loj por "alvo" não realça tanto este aspecto
experimental presente tanto no texto como em seu contexto, pelo contrário, introduz uma discussão
teológica sobre o relacionamento entre os testamentos que chega a obscurecer o contraste (em 10.515) entre o caminho inviável das obras e o caminho da graça mediante a fé em Cristo.
Notas
1 Ver, por exemplo, o artigo de Douglas J. Moo, "Paul and the Law in the Last Ten Years," em Scottish
Journal of Theology 40 (1987) 287-306.
2 Conferir o esforço para categorizar os usos paulinos de no/moj, "lei," por exemplo, em Douglas J. Moo,
"‘Law’, ‘Works of the Law,’ and Legalism in Paul," em Westminster Theological Journal 45 (1983) 73-100.
3 John M. G. Barclay, em seu artigo "Paul and the Law: Observations on Some Recent Debates," em
Themelios 12 (September 1986) 5-15, oferece um excelente resumo dos principais pontos em debate.
4 Thomas R. Schreiner, em seu artigo "‘Works of the Law’ in Paul," em Novum Testamentum 33 (1991)
217-244, apresenta e combate as novas soluções; James D. G. Dunn, em "The New Perspective on Paul,"
em Bulletin of the John Rylands Lybrary 65 (1983) 95-122, descreve o novo panorama nos estudos
paulinos e defende a sua teoria.
5 S. K. Williams, "The ‘Righteousness of God’ in Romans," em Journal of Biblical Literature 99 (1980) 254.
6 J. C. Beker, Paul the Apostle (Philadelphia: Fortress, 1980) 89.
7 "E não pensemos que a palavra de Deus haja falhado" (9.6) é confirmado adiante em 9.28: "porque o
Senhor cumprirá a sua palavra sobre a terra, cabalmente e em breve". Toda a seção é recheada de
citações do Velho Testamento para comprovar o cumprimento da palavra de Deus.
8 Paulo neste ponto menciona a antítese sustentada em toda a carta: a salvação de Deus não é
procedente de obras humanas. Ver 9.32 e 11.6.
9 Esta mesma distinção interna dentro da descendência "segundo a carne" de Abraão também é feita
em 9.6 ("Israel"), 9.7 ("seus filhos", "tua descendência"), 9.8 ("filhos de Deus", "devem ser considerados
como filhos da promessa"), 11.5 ("remanescente segundo a eleição da graça"), 11.7 ("a eleição"), 11.12:
("a sua plenitude"), e 11.28 ("amados por causa dos patriarcas"). Ver também Romanos 2.28-29 ("judeu
é aquele que o é interiormente").
10 Romanos 10.19-20 revela que esta conquista dos gentios é fruto da iniciativa de Deus.
11 A antítese agora é entre "das obras" e "da fé" sendo que em 9.11 (no grego, v.12) é entre "por obras"
e "por aquele que chama", isto por causa da perspectiva usada em cada seção. Em 11.6 é entre "pelas
obras" e "pela graça".
12 Comparar o sentido do verbo em 1 Coríntios 14.38 e Romanos 2.4.
13 Paulo já havia tratado desta justiça de Deus em Cristo "no tempo presente" em 3.21-26.
14 Esta é a interpretação que defenderei adiante.
15 Comparar com 2.13 ("Porque os simples ouvidores da lei não são justos diante de Deus, mas os que
praticam a lei hão de ser justificados") e 2.25 ("Porque a circuncisão tem valor se praticares a lei").
16 Paulo já tinha mostrado que o judeu é transgressor da lei em 2.17-27. Também em 3.9-19, 23.
17 Não há como negar o paralelo com 9.30-32 (diw/kwn no/mon dikaiosu/nhj, "que buscava lei de
justiça") e 10.1-5.(th\n i)di/an [dikaiosu/nhn] zhtou=ntej sth=sai, "procurando estabelecer a sua própria
(justiça)".
18 "Todo o Israel" (11.26) que será salvo é distinto da nação de Israel como um todo (11.25), tal como
em 9.6: "nem todos os de Israel são de fato israelitas". Ver também 2.28, 29; 4.12; 9.7-8.
19 Acima descrita: possuindo um remanescente eleito pela graça de Deus (9.6-8, 23, 27-29, 11.5-7, 12,
26), o qual está sendo e será salvo (9.24, 27; 11.1-5, 14, 15, 25-27, 31-32) pela fé em Jesus (10.9-13;
11.20 com 11.23), mesmo que seja mediante a incitação à emulação (10.19; 11.11-14, 23-24, 28, 30-32).
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20 E. P. Sanders, Paul, the Law, and the Jewish People (Philadelphia: Fortress, 1983) 38. Tradução minha,
itálicos dele.
21 J. D. G. Dunn, Romans, WBC (Dallas: Word, 1988) 2:587, tradução minha.
22 S. R. Bechtler, "Christ, the te/loj of the Law: The Goal of Romans 10:4," em Catholic Biblical Quarterly,
56 (1994) 298, tradução minha.
23 A palavra e)klogh/, "eleição" (9.11), é a mesma usada para a eleição da graça para a salvação em
11.5-7, onde também há um contraste com e)c e)/rgwn, "pelas obras".
24 Esta expressão no presente contexto indica a realização humana tentando alcançar justiça. Moo
observa que neste contexto (9.11-12) "obras" deve incluir qualquer coisa que os homens façam, "quer
boa ou má", e afirma: "‘Obras’ são consideradas como sendo boas ações que poderiam ser concebidas
como meritórias " ( "‘Law’, ‘Works of the Law,’" 95-96, tradução minha, itálicos dele).
25 Paulo já havia mostrado em 3.20 que este caminho é impossível ao pecador: "visto que ninguém será
justificado diante dele por obras da lei, em razão de que pela lei vem o pleno conhecimento do pecado,"
e já havia dado a razão em 3.9: "pois já temos demonstrado que todos, tanto judeus como gregos, estão
debaixo do pecado".
26 Comparar com 11.26: "apartará de Jacó as impiedades".
27 É surpreendente como esta descrição se encaixa com o "eu" de Romanos 7.9-25: "...e eu morri. E o
mandamento que me fora para vida, verifiquei que este mesmo se me tornou para morte. Porque o
pecado, prevalecendo-se do mandamento, pelo mesmo mandamento me enganou e me matou" (7.9b11).
28 Thomas R. Schreiner, "Paul’s View of the Law in Romans 10.4-5," em Westminster Theological Journal
55 (1993) 116-117, tradução minha.
29 Ver a defesa de Schreiner de que 3.27-28 trata do mesmo assunto que 4.1-5, em "‘Works of the Law’
in Paul," 232.
30 Ver exposição e avaliação por Schreiner, "‘Works of Law’ in Paul," 233-238.
31 Para uma defesa convincente a partir deste e de outros textos paulinos de que Paulo combatia o
legalismo, veja R. H. Gundry, "Grace, Works, and Staying Saved in Paul," em Biblica 66 (1985) 1-38.
Também B. L. Martin, Christ and the Law in Paul, SuppNovT 62 (Leiden: Brill, 1989) 93-96.
32 Schreiner, "‘Works of the Law’ in Paul," 229, tradução minha.
33 Augustus N. G. Lopes, "Paulo e a Lei de Moisés: Um Estudo sobre as ‘Obras da Lei’ em Gálatas" em
Chamado para Servir: Ensaios em Homenagem a Russell P. Shedd, ed. Alan B. Pieratt (São Paulo: Vida
Nova, 1994) 71.
34 C. E. B. Cranfield, "St. Paul and the Law," em Scottish Journal of Theology (1964) 49, tradução minha.
35 Schreiner, "Paul’s View of the Law in Romans 10:4-5," 124, tradução minha.
36 E. Käsemann, Commentary on Romans (Grand Rapids: Eerdmans, 1980) 283.
37 L. Morris, The Epistle to the Romans (Grand Rapids: Eerdmans, 1988) 381, tradução minha.
38 Schreiner, "Paul’s View of the Law in Romans 10:4," 122, tradução minha.
39 Ibid., 123, referindo-se a M. A. Seifrid, "Paul’s Approach to the Old Testament in Romans 10:6-8," em
Trinity Journal 6 (1985) 9, nota 29, tradução minha.
40 Cranfield entende que se trata do homem Jesus Cristo e que o de\, "mas," no verso 6 indica o
contraste entre o justo estado que Cristo obteve por sua obediência, por suas obras, e o justo estado
que os homens recebem pela fé nele (Romans, 2:521-22). Ao fazer isso Cranfield se vê obrigado a
afirmar que a citação desse mesmo verso de Levítico 18.5 em Gl 3.12 também refere-se à obediência de
Cristo (Romans, 2:522 n. 2), o que é totalmente improvável. Contra Cranfield veja a argumentação de F.
F. Bruce, Commentary on Galatians, NIGNTC (Grand Rapids: Eerdmans, 1982) 163; e também Schreiner,
"Paul’s View of the Law in Romans 10:4," 126.
41 Käsemann corretamente chama atenção para o "argumento profundamente apocalíptico" do texto,
mas erroneamente o liga a uma descontinuidade e contradição entre a lei e Cristo (Romans, 282).
OS IRMÃOS DE JESUS
ESTUDO SOBRE O NOVO TESTAMENTO
Professor Dr. Antony Steff Gilson de Oliveira
69
Professor: Rev. Antony Steff Gilson de Oliveira, Pastor da Igreja Presbiteriana em Renovação
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Reverendo da Igreja Presbiteriana em Renovação do Brasil – IPRB
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Os "irmãos de Jesus", de que fala a Bíblia, seriam apenas seus primos? José continuou sem conhecer sua
esposa mesmo depois do nascimento de Jesus? O que dizem os comentaristas nas bíblias aprovadas
pela Igreja Católica? É admissível supor que os irmãos de Jesus, que não criam nele, fossem seus
apóstolos? Tentaremos encontrar respostas para essas indagações. Usaremos as seguintes versões
bíblicas:
(a) A BÍBLIA DE JERUSALÉM, Paulus Editora, 1973, 8a impressão em janeiro/2000, rubricada em
1.11.1980 por Paulo Evaristo Arns, Arcebispo Metropolitano de São Paulo. O trabalho de tradução foi
"realizado por uma equipe de exegetas católicos e protestantes e por um grupo de revisores literários".
Nas referências, será assim mencionada: Bíblia {católica] de Jerusalém.
(b) BÍBLIA SAGRADA, Edição Ecumênica, tradução do padre Antônio Pereira de Figueiredo; notas e
dicionário prático pelo Monsenhor José Alberto L. de Castro Pinto, Bispo Auxiliar do Rio de Janeiro;
edição aprovada pelo cardeal D. Jaime de Barros Câmara, Arcebispo do Rio de Janeiro; BARSA, 1964. Nas
referências, será designada assim: Bíblia [católica] Sagrada.
(c) BÍBLIA APOLOGÉTICA, João Ferreira de Almeida, Corrigida e Revisada, ICP Editora, 2000, notas do
Instituto Cristão de Pesquisas. Será assim indicada: Bíblia Apologética.
(d) BÍBLIA DE ESTUDO PENTECOSTAL, Almeida, revista e corrigida, Casa Publicadora das Assembléias de
Deus (CPAD), 1995. será referida: Bíblia de Estudo Pentecostal.
Inicialmente, veremos os versículos que falam dos "irmãos de Jesus", extraídos da Bíblia [católica] de
Jerusalém:
"Não é ele o filho do carpinteiro? E não se chama a mãe dele Maria e seus irmãos Tiago, José, Simão e
Judas? E as suas irmãs não vivem todas entre nós? Donde então lhe vêm todas essas coisas? E se
escandalizavam dele. Mas Jesus lhes disse: "Não há profeta sem honra, exceto em sua pátria e em sua
casa" (Mateus 13.55-58; Marcos 6.3-6).
"Estando ainda a falar às multidões, sua mãe e seus irmãos estavam fora, procurando falar-lhe.Jesus
respondeu àquele que o avisou: "Quem é minha mãe e quem são meus irmãos?" E apontando para os
discípulos com a mão, disse: "Aqui estão a minha mãe e os meus irmãos, porque aquele que fizer a
vontade de meu Pai que está nos Céus, esse é meu irmão, irmã e mãe". (Mateus 12.46-50; Marcos 3.3235; Lucas 8.19-21).
"Depois disso, desceu a Cafarnaum, ele, sua mãe, seus irmãos e seus discípulos, e ali ficaram apenas
alguns dias". (João 2.12).
"Aproximava-se a festa judaica das Tendas. Disseram-lhe, então, os seus irmãos: 'Parte daqui e vai para
a Judéia, para que teus discípulos vejam as obras que fazes, pois ninguém age às ocultas, quando quer
ser publicamente conhecido. Já que fazes tais coisas, manifesta-te ao mundo!' Pois nem mesmo os seus
irmãos criam nele"(João 7.2-5).
"Tendo entrado na cidade, subiram à sala superior, onde costumavam ficar. Eram Pedro e João, Tiago e
André, Filipe e Tomé, Bartolomeu e Mateus;Tiago, filho de Alfeu, e Simão, o Zelota; e Judas, filho de
Tiago.Todos estes, unânimes, perseveravam na oração com algumas mulheres, entre as quais Maria, a
mãe de Jesus, e com os irmãos dele" (Atos 1.13-14). Comentários da Bíblia de Jerusalém: "O apóstolo
Judas é distinto de Judas, irmão de Jesus (cf. Mt 13.55; Mc 6.3) e irmão de Tiago (Judas 1). Não se deve
também, parece, identificar o apóstolo Tiago, filho de Alfeu, com Tiago, irmão do Senhor (At 12.17;
15.13, etc)".
"Não temos o direito de levar conosco, nas viagens, uma mulher cristã, como os outros apóstolos e os
irmãos do Senhor e Cefas?" (1 Coríntios 9.5).
"Em seguida, após três anos, subi a Jerusalém para avistar-me com Cefas e fiquei com ele quinze
dias.Não vi nenhum apóstolo, mas somente Tiago, o irmão do Senhor. Isto vos escrevo e vos asseguro
diante de Deus que não minto" (Gálatas 1.18-20). Comentários da Bíblia de Jerusalém: "Outros
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traduzem: "a não ser Tiago", supondo que Tiago faça parte dos Doze e se identifique com o filho de
Alfeu (Mt 10.3p), ou tomando "apóstolo" em sentido lato (cf.Rm 1.1+)".
A Igreja Católica assim se manifestou em seu Catecismo:
"A isto objeta-se por vezes que a Escritura menciona irmãos e irmãs de Jesus. A Igreja sempre entendeu
que essas passagens não designam outros filhos da Virgem Maria: Com efeito, Tiago e José, "irmãos de
Jesus" (Mateus 13.55), são os filhos de uma Maria discípula de Cristo (Mateus 27.56), que
significativamente é designada como "a outra Maria" (Mateus 28.1). Trata-se de parentes próximos de
Jesus, consoante uma expressão conhecida do Antigo Testamento (Gênesis 13.8; 14.16; 29.15, etc.)"
(Catecismo da Igreja Católica, p. 141. # 500).
De uma página de apologética católica na Internet colhemos a seguinte explicação extra-oficial:
"São Lucas esclarece que Tiago e Judas eram filhos de Alfeu ou Cléofas (Lucas 6.15-16). Portanto o eram
também José e Simão. Mas não Jesus, que sabemos era filho de "José, o carpinteiro". Portanto, não
poderiam ser irmãos carnais. Por outro lado, São Mateus dá o nome da mãe deles: "Entre as quais
estava... Maria, mãe de Tiago e de José" (Mateus 27.56). Não se pode confundir esta Maria com sua
homônima, esposa de José, o carpinteiro. São João deixa bem clara essa distinção: "Junto à cruz de Jesus
estava sua mãe e a irmã (prima) de sua Mãe, Maria, mulher de Cléofas" (João 19.25), cuja filha se
chamava Maria Salomé. São as bem conhecidas "três Marias". Aliás, atualmente os protestantes mais
cultos já nem levantam mais essa objeção".
Vejamos agora quais as "Marias" citadas nos evangelhos (Bíblia [católica] de Jerusalém):
NA CRUCIFICAÇÃO
"Estavam ali muitas mulheres, olhando de longe. Haviam acompanhado Jesus desde a Galiléia, a servi-lo.
Entre elas, Maria Madalena, Maria, mãe de Tiago e de José, e a mãe dos filhos de Zebedeu" (Mt 27.56).
"E também ali estavam ali algumas mulheres, olhando de longe. Entre elas, Maria Madalena, Maria, mãe
de Tiago, o Menor, e de José, e Salomé" (Mc 15.40). Comentário da referida Bíblia: "Provavelmente,
[Salomé] é a mesma que Mt 27.56 denomina a mãe dos filhos de Zebedeu".
"Perto da cruz de Jesus, permaneciam de pé sua mãe, a irmã de sua mãe, Maria, mulher de Clopas, e
Maria Madalena" (Jo 19.25). Comentários da referida Bíblia, referindo-se "a irmã de sua mãe": "Ou se
trata de Salomé, mãe dos filhos de Zebedeu (cf. Mt 27.56p) ou, ligando essa denominação ao que se
segue, "Maria, mulher de Clopas".
NA RESSURREIÇÃO
"Após o sábado, ao raiar do primeiro dia da semana, Maria Madalena e a outra Maria vieram ver o
sepulcro" (Mt 28.1). Comentário da referida Bíblia sobre a "outra Maria": "Isto é, "Maria [mãe] de Tiago"
(Mc 16.1; Lc 24.10; cf. Mt 27.56)".
"Passado o sábado, Maria Madalena e Maria, mãe de Tiago, e Salomé compraram aromas para ir ungilo" (Mc 16.1-2).
"Eram Maria Madalena, Joana e Maria, mãe de Tiago" (Lc 24.10),
Vejamos agora quais os "Tiagos" citados nos evangelhos, conforme consta do Dicionário na parte final
da Bíblia [católica] Sagrada, item "b" retro:
1. Tiago - "O Maior (mais velho), filho de Zebedeu e Salomé e irmão de São João Evangelista (Mt 4.21).
era de Betsaida na Galiléia, pescador (Mc 1.19) e companheiro de São Pedro como seus irmãos (Lc
5.10)."
2. Tiago - "O Menor (mais moço), filho de Alfeu ou Cléofas (Mt 10.3; Mc 3.18; Lc 6.15; At 1.13) e de
Maria (Jo 19.25). Foi chamado "irmão do Senhor" (Gl 1.19), no sentido semita [relativo aos judeus] que
tem essa palavra que pode se aplicar aos primos e outros consangüíneos em linha colateral mais
afastados, e até mesmo aos simples conacionais. Tiago Menor era primo de Jesus por ser sobrinho de S.
José. N. Senhor apareceu-lhe uma semana depois da Ressurreição (1 Co 15.7). Foi o primeiro bispo de
Jerusalém depois da dispersão dos Apóstolos.O fato de Paulo o ter procurado (Gl 1.19) e de ter ele feito
o discurso final no Concílio de Jerusalém parece provar isto (At 15.13) Foi morto no Templo por
instigação do sumo Sacerdote Anás II, tendo sido lançado de uma galeria e espancado até à morte (62
depois de Cristo)".
3. Epístola de S. Tiago - "Uma das epístolas católicas atribuída a São Tiago, o menor..."
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Vejamos agora quais os "Judas" citados nos evangelhos, segundo Dicionário da Bíblia [católica] Sagrada,
item "b" retro:
1. Judas - "Habitante de Damasco que hospedou S.Paulo (At 9.11)".
2. Judas Iscariotes - "O Apóstolo que traiu N. Senhor (Mt 10.4; Mc 3.19; Lc 6.16). Iscariot quer dizer
"homem de Cariot", aldeia de Judá".
3. Judas Tadeu - "Um dos doze apóstolos (Mt 10.3; Mc 3.18; Lc 6.16; Jo 14.22). É o irmão de Tiago o
Menor e "irmão", isto é, primo do Senhor (At 1.13); Mt 13.55; Mc 6.3)".
4. Epístola de S. Judas Tadeu - Um dos livros canônicos do Novo Testamento, classificado entre as
chamadas "Epístolas Católicas".
A partir dessas informações surgem algumas indagações:
Primeiro - Os apóstolos Tiago (o Menor) e Judas (Tadeu) são os mesmos chamados de "irmãos de
Jesus" em Mateus 13.55 e Marcos 6.3? Que dizem as bíblias católicas retrocitadas?
O que vimos foram interpretações discordantes. A Bíblia de Jerusalém diz nos comentários sobre Atos
1.13 que "o apóstolo Judas é distinto de Judas, irmão de Jesus", isto é, não são a mesma pessoa, ou seja,
o apóstolo Judas é uma pessoa e o irmão de Jesus, com idêntico nome, é outra pessoa. No mesmo
passo, diz que o apóstolo Tiago, filho de Alfeu, não é o mesmo Tiago, irmão do Senhor. Reiterando a sua
posição, referida Bíblia afirma nos comentários sobre Gálatas 1-18-20: "Outros traduzem: "a não ser
Tiago", supondo que Tiago faça parte dos Doze e se identifique com o filho de Alfeu (Mt 10.3p), ou
tomando "apóstolo" em sentido lato (cf. Rm 1.1+)".
Por outro lado, a Bíblia Sagrada, católica, como discriminada no início deste trabalho, assume posição
diferente. O dicionário que compõe essa Bíblia diz que "Tiago, o Menor, filho de Alfeu ou Cléofas (Mt
19.3; Mc 3.18; Lc 6.15; At 1.13) e de Maria (Jo 19.25), foi chamado "irmão do Senhor". Diz mais que
"Tiago Menor era primo de Jesus por ser sobrinho de S.José". Confirmando, diz que "Judas Tadeu, um
dos apóstolos (Mt 10.3; Mc 3.18...) é o irmão de Tiago, o Menor, e "irmão", isto é, primo do Senhor (At
1.13; Mt 13.55; Mc 6.3)". O descompasso é lamentável, a menos que se configure aí o "livre-exame" situação em que comentaristas ou exegetas católicos interpretam livremente os textos bíblicos sem
guardar coerência com a cúpula do Vaticano.
No particular, concordo plenamente com a Bíblia [católica] de Jerusalém. Os irmãos de Jesus (Mt 13.55 e
Mc 6.3, etc.), não foram apóstolos ou mesmo discípulos, pelo seguinte:
a) Os irmãos de Jesus não criam nEle. No registro de João 7.2-5 nota-se claramente essa incredulidade.
Entende-se, também, que Jesus evitou a companhia deles nesse episódio (Jo 7.8-10). Ao dizerem "para
que teus discípulos vejam as obras que fazes" seus irmãos se excluíram do rol dos seguidores de Jesus.
Ademais, Jesus não iria escolher para apóstolo alguém que não cria nEle.
b) Segundo, a Bíblia estabelece distinção entre ser discípulo e ser irmão de Jesus (Jo 2.12; At 1.13-14; 1
Co 9.5; Gl 1.18-20). Por exemplo, em certa ocasião Jesus estava com seus discípulos em determinado
local, e lá fora estavam sua mãe e seus irmãos (Mt 12.46-50; Mc 3.32-35; Lc 8.19-21).
Segundo, a tia de Jesus - irmã de sua mãe Maria - era Salomé, mãe dos filhos de Zebedeu, ou era
Maria, mulher de Cléofas?
Vejamos mais uma vez o que relata João 19.25: "Perto da cruz de Jesus, permaneciam de pé sua mãe, a
irmã de sua mãe, Maria, mulher de Cléofas, e Maria Madalena".
A frase está de tal forma postada que admite duas interpretações. A primeira é a de que "a irmã de sua
mãe" é uma pessoa, e Maria, mulher de Cléofas, outra. A segunda hipótese é a de que o nome da tia de
Jesus é Maria, a mulher de Cléofas. A Bíblia [católica] de Jerusalém concorda comigo quando diz: "Ou se
trata de Salomé, mãe dos filhos de Zebedeu (Mt 27.56) ou, ligando essa denominação ao que se segue,
"Maria, mulher de Clopas".
A Bíblia Sagrada, edição católica, afirma no seu "dicionário": "Maria de Cléofas" é irmã da SS. Virgem
Maria, i.e. sua prima, pois em hebraico a palavra tem um sentido mais lato. Segundo uns seria a mãe de
Tiago (o menor), José, Simão e Judas Tadeu e esposa de Cléofas também chamado Alfeu (Mt 27.56; Mc
3.18; 6;3; 15.40). Segundo outros são duas pessoas com o mesmo nome, uma, irmã de S. José, seria a
esposa de Alfeu e mãe de Tiago Menor e José; e a outra seria cunhada de S. José por ser casada com
Cléofas, irmão de S. José, e seria a mãe de Simão e Judas Tadeu. Como quer que seja, uma Maria de
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Cléofas e uma Maria, mãe de Tiago, aparecem nos Evangelhos como tendo acompanhado o Senhor até
o Gólgota e preparado os aromas... (Jo 19.25; Lc 24.10; Mt 28.9)".
Terceiro, de quem seriam filhos os irmãos de Jesus?
Não eram filhos de Zebedeu e de sua provável mulher Salomé, porque os filhos destes eram João e
Tiago (Mt 4.21). Ora, os irmãos de Jesus foram Tiago, José, Simão e Judas, afora algumas irmãs (Mt
13.55-56, Mc 6.3). João está excluído dessa relação. Além disso, os irmãos de Jesus não criam nEle (Jo
7.5). Logo, João, apóstolo, não foi seu irmão.
Não eram filhos de Maria, mulher de Alfeu ou Cléofas, cujo filho Tiago, o menor, foi apóstolo (Mt 10.3;
Mc 15.40), e como tal não poderia ser irmão de Jesus, porque estes não criam nEle (Jo 7.5). Ademais,
não consta que Tiago, José, Simão e Judas, irmãos do Senhor, fossem filhos do referido casal.
A Bíblia [católica] de Jerusalém é de parecer semelhante quando diz: "O apóstolo Judas é DISTINTO de
Judas, irmão de Jesus (cf. Mt 13.55; Mc 6.3) e irmão de Tiago (Judas 1). Não se deve também, parece,
IDENTIFICAR o apóstolo Tiago, filho de Alfeu, com Tiago, irmão do Senhor (At 12.17; 15.13, etc)". Realce
acrescentado. Contrapondo-se, a outra Bíblia, católica, diz que Judas, apóstolo, é o irmão de Tiago o
menor e "irmão", isto é, primo do Senhor (Mt 13.55; Mc 6.3). Ou seja, Tiago e Judas, eram ao mesmo
tempo irmãos (ou primos) e apóstolos.
Se os irmãos de Jesus não eram filhos de Zebedeu, nem o eram de Alfeu, seria da tia de Jesus, não
devidamente identificada em João 19.25? Não pode ser porque essa tia de Jesus já foi devidamente
identificada pelo catolicismo, ao dizer que ou se chamava Salomé,mãe dos filhos de Zebedeu, ou era
Maria, mulher de Cléofas.
Vamos agora ler o que dizem outros comentaristas a respeito dos irmãos de Jesus.
IRMÃOS DO SENHOR - "Aqueles de quem se fala em Mateus 12.46 e 13.55, e outros lugares,como
irmãos de Jesus, seriam filhos de José e Maria? Segundo uma opinião que já vem do segundo século
pelo menos, esses "irmãos de Jesus" eram filhos de um primeiro matrimônio de José. Mais tarde foram,
por alguns críticos considerados primos do nosso Salvador. Podem, contudo, ter sido filhos de José e
Maria. Em todas as passagens, menos uma, em que esses irmãos de Jesus são mencionados nos
Evangelhos, acham-se associados com Maria. Se eram eles filhos mais velhos de José, não seria então
Jesus o herdeiro do trono de Davi, segundo as nossas noções de primogenitura. Eles não acreditavam
em Jesus no princípio da Sua missão, e até, segundo parece (Jo 7.5), depois que os apóstolos foram
escolhidos; e por essa razão eles não puderam ser do número dos Doze, dos quais, na verdade, eles
particularmente se distinguem, quando num período posterior são vistos na companhia deles (At 1.14).
Não devem, portanto, ser confundidos com os filhos de Alfeu, embora tenham os mesmos nomes. Além
disso, as palavras "filho" e "mãe", sendo empregadas nesta passagem (Mt 13.55) no seu natural e
principal sentido, semelhantemente devem ser tomados os nomes "irmão" e "irmã" , pelo menos, até
ao ponto de excluir o termo "primo". O fato de terem os filhos de Alfeu, bem como os irmãos do Senhor,
os nomes de Tiago, José e Judas, nada prova, visto que esses nomes eram muito vulgares nas famílias
judaicas. Estranha-se que não fossem lembrados estes irmãos, quando Jesus confiou a sua mãe aos
cuidados de João; mas isso explica-se pela razão de que a esse tempo ainda eles não criam Nele. A
conversão deles parece ter sido quando se realizou a aparição de Jesus a Tiago, depois da Sua
ressurreição (1 Co 15.7)." (Dicionário Bíblico Universal, pelo Rev Buckland, Editora Vida, 1993).
IRMÃOS DO SENHOR - "Relação de parentesco atribuída a Tiago, José, Simão e Judas, Mt 13.55;Mc 6.3,
que aparecem em companhia de Maria, Mt 12.47-50; Mc 3.31-35; Lc 8.19-21, foram juntos para
Cafarnaum no princípio da vida pública de Jesus, Jo 2.12, mas não creram nele senão no fim de sua
carreira. Jo 7.4,5. Depois da ressurreição, eles se acham em companhia dos discípulos, At 1.14, e mais
tarde os seus nomes aparecem na lista dos obreiros cristãos, 1 Co 9.5. Tiago, um deles, salientou-se
como líder na Igreja de Jerusalém, At 12.7; 15.13; Gl 1.19; 2.9, e foi autor da epístola que traz o seu
nome. Em que sentido eram eles irmãos de Jesus? Tem sido assunto de muitas discussões. Nos tempos
antigos, julgava-se que eram filhos de José, do primeiro matrimônio. O seu nome não aparece mais na
história do evangelho. Sendo José mais velho que Maria é provável que tivesse morrido logo e que
tivesse casado antes. Esta opinião é razoável, mas em face das narrativas de Mt 1.25 e Lc 2.7, não é
provável. No quarto século, S. Jerônimo deu outra explicação, dizendo que eram primos de Cristo, pelo
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lado materno, filhos de Alfeu ou Cléofas com Maria, irmã da mãe de Jesus. Esta explicação se infere,
comparando Mc 15.40 com Jo 19.25, e a identidade dos nomes Alfeu e Cléofas. Segundo esta idéia,
Tiago, filho de Alfeu, e talvez Simão e Judas, contados entre os apóstolos, fossem irmãos de Jesus.
Porém, os apóstolos se distinguiam dos irmãos, estes nem ao menos criam nele, e não é provável que
duas irmãs tivessem o mesmo nome. Outra idéia muito antiga é que eles eram primos de Jesus pelo lado
paterno e outros ainda supõem que eram os filhos da viúva do irmão de José, Dt 25.5-10. Todas estas
opiniões ou teorias parecem ter por fim sustentar a perpétua virgindade de Maria. O que parece mais
razoável e mais natural é que eles eram filhos de Maria depois de nascido Jesus.Que esta teve mais
filhos é claramente deduzido de Mt 1.25 e Lc 2.7 que explica a constante associação dos irmãos do
Senhor com Maria" (Dicionário da Bíblia, John D. Davis, 21a Edição/2000, Confederação Evangélica do
Brasil).
SEUS IRMÃOS - "Não há razão para supor que estes irmãos, tanto como as irmãs mencionadas (Mt
13.55-56), não eram filhos de José Maria" (O Novo Comentário da Bíblia, vol. II, Nova Vida, 1990, 9a
Edição).
IRMÃOS DO SENHOR (Mateus 12.46-50) - "Por insistir na teoria da virgindade perpétua de Maria, o
Catolicismo Romano os levou a explicar erroneamente o sentido da expressão irmãos. Assim, eles
acreditam que Jesus não tinha irmãos no verdadeiro sentido dessa palavra e o grau de parentesco que
ela exprime. No entanto,esse raciocínio não desfruta de nenhum apoio escriturístico. A Bíblia é clara ao
afirmar que Jesus tinha quatro irmãos, além de várias irmãs (Mt 13.55,56; Mc 3.31-35; 6.3; Lc 8.19-21;
Jo 2.12; 7.2-10; At 1.14; 1 Co 9.5; Gl 1.19). A teoria desenvolvida pelos católicos romanos e por alguns
protestantes, que visa defender que Maria permaneceu virgem, é totalmente fútil. Esse conceito só
passou a fazer parte da teologia muitos séculos depois de Jesus. Seu objetivo, é claro, era exaltar Maria,
criando, assim, a mariolaria" (Bíblia Apologética, João F. Almeida, ICP Editora, 1a Edição, 2000).
Quarto, José e Maria se "conheceram" após o nascimento de Jesus?
A nossa análise terá como base o seguinte registro: "José, ao despertar do sono, agiu conforme o Anjo
do Senhor lhe ordenara e recebeu em casa sua mulher.Mas não a conheceu até o dia em que ela deu à
luz um filho. E ele o chamou com o nome de Jesus" (Mateus 1.24-25, Bíblia [católica] de Jerusalém).
A passagem acima diz claramente que José, atendendo ao anjo, recebeu em sua casa a sua esposa
Maria, e foram viver como marido e mulher. Está dito que Maria foi a mulher de José; que José não
conheceu a sua esposa enquanto ela estava grávida de Jesus; que Jesus nasceu de uma virgem, porque
José somente conheceu sua mulher - ou seja, teve relações com ela - depois do nascimento de Jesus.
Católicos há que contestam o que está escrito na Bíblia, e dizem que "nas Sagradas Escrituras a
expressão "até que" é empregada muitas vezes para indicar um tempo indeterminado, e não para
marcar algo que ainda não aconteceu". Não iremos nos estender na refutação dessa tese porque as
duas bíblias de início citadas, aprovadas pelo catolicismo, interpretam corretamente referido
versículo.Vejamos:
"Mas [José] não a conheceu até o dia em que ela deu à luz um filho, e ele o chamou com o nome de
Jesus": "O texto não considera o período ulterior [depois do parto] e por si não afirma a virgindade
perpétua de Maria, mas o resto do Evangelho, bem como a tradição da Igreja, a supõem" (Comentário
da Bíblia [católica] de Jerusalém).
Em outras palavras, os exegetas católicos, que trabalharam na edição da referida Bíblia, reconheceram o
óbvio, ou seja, que até o nascimento de Jesus, José e Maria não se "conheceram". Todavia, dizem bem
quando entendem que a Tradição "supõe", isto é, o dogma da perpétua virgindade de Maria é uma
suposição, não uma realidade bíblica. O comentário acima coloca por terra argumentos outros não
oficiais, segundo os quais José não conheceu sua esposa nem antes nem depois do nascimento de Jesus.
Outro comentário: "Enquanto (ou até que): esta palavra portuguesa traduz o latim donec e o grego heos
ou, que por sua vez estão calcados sobre a expressão hebraica ad ki que se refere ao tempo anterior a
esse limite sem nada dizer do tempo posterior, cf. Gn 8.7;Sl 109.1; Mt 12.20; 1 Tm 4.13. A tradução
exata seria: "sem que ele a tivesse conhecido, deu à luz...", pois a nossa expressão "sem que" tem o
mesmo valor" (Bíblia [católica] Sagrada.
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O que a Bíblia acima está dizendo em seus comentários é que o "ATÉ" não foi ALÉM do nascimento de
Jesus, ou seja, enquanto grávida e até dar à luz não houve "conhecimento" mútuo do casal.
Concordando com as Bíblias Católicas, a Bíblia Apologética, usada pelos evangélicos, assim esclarece:
"Veja a preposição "até" em qualquer concordância bíblia e ficará surpreso a respeito do seu significado.
Observe alguns exemplos: Levíticos 11.24-25: "E por estes sereis imundos: qualquer que tocar os seus
cadáveres, imundo será ATÉ à tarde". E depois da tarde, eles permaneceriam imundos? Vejamos agora
Apocalipse 20.3: "E lançou-o no abismo, e ali o encerrou, e pôs selo sobre ele, para que não mais engane
as nações, ATÉ que os mil anos se acabem. E depois importa que seja solto por um pouco tempo".
Assim, a relação existente antes do nascimento de Jesus se modificou [como se modificou a situação de
Satanás após os mil anos de prisão], não a conheceu até que ela deu à luz. Essa passagem declara que,
depois do nascimento de Jesus, José Maria tiveram uma vida conjugal normal, como qualquer outro
casal. Nenhum autor do Novo Testamento ensina a doutrina da virgindade perpétua de Maria. Se se
tratasse de uma doutrina ou ensinamento vital ou essencial como requer o catolicismo romano,
certamente Paulo e os outros discípulos teriam mencionado a respeito. Assim resta ao catolicismo
romano apegar-se à tradição, porque a Bíblia não aceita essa teoria (Colossenses 2.8)".
A expressão "não coabitou com Maria ATÉ QUE nascesse Jesus" está muito clara. Ligada à fala do anjo
que disse a José que RECEBESSE Maria, sua mulher, ficou entendido que passado o período da gravidez
e do descanso depois do parto, José e Maria, marido e mulher, continuariam uma vida a dois como
todos os casais do mundo. Assim aconteceu, pois tiveram muitos filhos, conforme está em Mateus
13.55-56. José e Maria constituíram um casal muito feliz e foram abençoados por Deus. E por ter filhos,
por amar o seu esposo, por ter sido mãe, Maria não pecou nem perdeu a sua santidade. Maternidade e
santidade podem caminhar juntas, sem que uma prejudique a outra. Sexo no casamento não pecado.
Quinto, houve ordem divina para que José não "conhecesse" sua mulher?
Se não havia a intenção formal nem de José nem de Maria de viverem sem relações íntimas, embora
residissem sob o mesmo teto, teria havido alguma ordem divina nesse sentido? O leitor deverá ler
cuidadosamente Mateus 1.18-25 e Lucas 1.26-38 para verificar a inexistência de qualquer tipo
impedimento. A resposta de Maria ao anjo - "Como é que vai ser isso, se eu não conheço homem
algum?" (Lc 1.34) - pode ser interpretada como um voto de virgindade? A Bíblia [católica] de Jerusalém,
em seus comentários, responde: "A "virgem" Maria é apenas noiva (v.27) e não tem relações conjugais
(sentido semítico de "conhecer", cf. Gn 4.1; etc.). Esse fato, que parece opor-se ao anúncio dos vv. 3133, induz à explicação do v. 35. NADA NO TEXTO IMPÔE A IDÉIA DE UM VOTO DE VIRGINDADE" (realce
acrescentado).
Sexto, o que diz a Igreja Católica sobre o Matrimônio?
a) "Os atos com os quais os cônjuges se unem íntima e castamente são honestos e dignos e a
sexualidade é fonte de alegria e prazer"? (Catecismo da Igreja Católica, p. 612, # 2362). Por que com
Maria seria diferente?
b) "Pela união dos esposos realiza-se o duplo fim do matrimônio: o bem dos cônjuges e a transmissão da
vida", pois que "esses dois significados ou valores do casamento não podem ser separados sem alterar a
vida espiritual do casal" (C.I.C. p. 612, # 2363). Por que com o casal José Maria seria diferente? Esses
"valores" não diziam respeito também a eles?
c) "A sagrada Escritura e a prática tradicional da Igreja vêem nas famílias numerosas um sinal da bênção
divina e da generosidade dos pais"? (C.I.C., p. 615, # 2373). Por que Maria não podia ter muitos filhos?
d) "Exige a indissolubilidade e a fidelidade da doação recíproca e abre-se à fecundidade"? (C.I.C. p. 449
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#1643). Por que doação recíproca e fecundidade deveriam ficar for a do casamento de José e Maria?
e) "O instinto do Matrimônio e o amor dos esposos estão, por sua índole natural, ordenados à
procriação e à educação dos filhos... e por causa dessas coisas são como que coroados de sua maior
glória"? Se "os filhos são o dom mais excelente do Matrimônio e contribuem grandemente para o bem
dos próprios pais... pois "Deus mesmo disse: "Crescei e Multiplicai" (Gn 2.18)" (C.I.C. p.452 #1652). José
e Maria não deveriam crescer e multiplicar? Eles não tinham essa índole natural à procriação?
f) "A sexualidade está ordenada para o amor conjugal entre o homem e a mulher,e no casamento a
intimidade corporal dos esposos se torna um sinal de um penhor de comunhão espiritual"? (C.I.C., p.611
#2360). Por que eles não podiam?
g) "Por causa da prostituição cada um tenha a sua própria mulher, e cada uma tenha o seu próprio
marido", e que "a mulher não tem poder sobre o seu próprio corpo, mas tem-no o marido"; e que "não
vos defraudeis [negar relação íntima] um ao outro, senão por consentimento mútuo por algum tempo,
para vos aplicardes à oração; mas que "depois ajuntai-vos outra vez para que Satanás não vos tente por
causa da incontinência [ausência de relações sexuais]", tudo como está escrito nas palavras inspiradas
do apóstolo Paulo (1 Coríntios 7.2-5). A abstinência do casal não estaria fora dos propósitos de Deus?
Lembremo-nos das palavras de Jesus: "Aquele que fizer a vontade de meu Pai que está nos Céus, esse é
meu irmão, irmã e mãe" (Mt 12.46-50). Lembremo-nos também das palavras de Maria: "Fazei tudo o
que Ele vos disser" (Jo 2.5)
OUTRAS CONSIDERAÇÕES
1) Lemos em João 2.12: "Desceu [Jesus] a Carfanaum, com sua mãe, seus irmãos e seus discípulos. E
ficaram ali muitos dias". Não pode ser outro o entendimento: Jesus com sua família, a mãe com seus
filhos ficaram muitos dias naquela cidade. Não há como forçarmos uma interpretação que nos levaria a
pensar que Maria, não tendo filhos com José, resolvera criar seis ou mais parentes. Vejam também a
distinção entre "discípulos" e "irmãos".
2) Quando o termo "irmãos e irmãs" é empregado em conjunto com "pai" ou "mãe", o sentido não pode
ser o de primos e primas, mas de irmãos biológicos, filhos de um mesmo pai ou mãe. Exemplo: "Se
alguém vier a mim, e não aborrecer a seu pai, e mãe, e mulher, e filhos, e irmãos, e irmãs, e até mesmo
a sua própria vida, não pode ser meu discípulo" (Lucas 14.26).
3) Vejamos quais as palavras usadas no grego - a língua original do Novo Testamento - para designar
IRMÃOS, IRMÃS, PARENTES, PRIMOS e SOBRINHOS, conforme a Concordância Fiel do Novo testamento,
dois volumes, Editora Fiel, 1a Edição, 1994:
Adelphos - Usada 343 vezes para designar pessoas que têm em comum pai e mãe, ou apenas pai ou
mãe; indicar duas pessoas que têm um ancestral comum ou que faz parte do mesmo povo, ou membros
da mesma religião. Com essa palavra são nomeados os irmãos de Jesus (Mt 12.46-4813.55; Mc 6.3; Jo
2.12; 7.3,5,10; At 1.14; 1 Co 9.5; Gl 1.19; Jd 1).
Adelphe - O termo é traduzido 26 vezes como irmã, indicando (poucas vezes) a participante de uma
mesma fé, e (a maioria dos casos) a filha de um mesmo pai ou mãe. Foi usado, por exemplo, para
designar as irmãs de Jesus (Mt 13.56; Mc 3.32; 6.3), a irmã da mãe de Jesus (Jo 19.25), as irmãs de
Lázaro, Marta e Maria (Jo 11.1,3,5,28,39).
Syngenis - Usado como o feminino de "parente" para indicar o parentesco de Maria, mãe de Jesus, com
Isabel: "Também Isabel, tua parenta..."(Lc 1.36).
Syngenes - Termo usado para designar pessoa consangüínea, da mesma família, ou da mesma pátria
(compatriota). Vejamos alguns dos 11 casos em que o termo foi usado:
Mc 6.4 - "Um profeta só é desprezado em sua pátria, em sua parentela e em sua casa". Nota: Quando se
trata dos "irmãos de Jesus", o termo usado é "adelphos" ou "aldephe".
Lc 1.36 - "Isabel tua parenta". Nota: Se Isabel fosse irmã de Maria (filhas de pais comuns) o termo teria
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sido "adelphe", de igual modo como foi usado em Jo 19.25 para designar a irmã da santa Maria.
Lc 2.44 - " e puseram a procurá-lo entre os parentes e conhecidos".
Lc 21.16 - "Sereis traídos até por vosso pai e mãe, irmãos, parentes, amigos, e farão morrer pessoas do
vosso meio..." Nota: Muito importante registrar que nesse versículo são usadas as palavras "adelphos",
para irmãos, e "syngenes", para parentes. Entende-se que o termo "adelphos", quando associado às
palavras pai ou mãe tem o natural significado de filhos carnais.
Anepsios - Usada somente uma vez para identificar o termo "primo", na seguinte passagem: "Saúdamvos Aristarco, meu companheiro de prisão, e Marcos, PRIMO de Barnabé..." (Colossenses 4.10, Bíblia
[católica] de Jerusalém). Nota: Havia portanto na linguagem grega palavras para identificar irmãos,
primos e parentes. Logo, se Tiago, José, Simão, Judas e mais algumas mulheres (Mt 13.55-56; Mc 6.3)
fossem parentes de Jesus, e não filhos de Maria, a palavra grega mais correta seria "anepsios" ou
"syngenes".
4) Gostaria de chamar a atenção dos leitores para o que está em Atos 1.13-14: Tendo chegado, subiram
ao cenáculo, onde permaneciam. Os presentes eram Pedro e Tiago, João e André, Filipe e Tomé,
Bartolomeu e Mateus; Tiago, filho de Alfeu, Simão, o Zelote, e Judas, filho de Tiago. Todos estes
perseveravam unanimemente em oração e súplicas, com as mulheres, e Maria, mãe de Jesus, e com
seus irmãos".
Entendo que Maria, as outras mulheres e os irmãos de Jesus eram pessoas distintas dos apóstolos acima
citados. Tiago e Judas, irmãos de Jesus, não estavam incluídos naquela relação. Juntaram-se aos
apóstolos naquela ocasião.
Não me parece justo procurarmos uma mãe para os irmãos de Jesus. A outra Maria, que pode ser a de
Alfeu ou Cléofas, era mãe de Tiago e de José. Vejam:
"Maria, mãe de Tiago e de José" (Mt 27.56); "Maria, mãe de Tiago, o menor, e de José" (Mc 15.40);
"Maria, mãe de Tiago" (Lc 24.10); "Tiago, filho de Alfeu" (Mt 10.3; Lc 6.15; At 1.13).
Ora, os irmãos de Jesus se chamavam Tiago, José, Simão e Judas. O mesmo cuidado com o que os
evangelistas Mateus e Marcos citaram os nomes de todos os irmãos de Jesus, um por um, teria usado
para descrever os filhos dessa Maria. Entretanto, só foram citados Tiago e José. E Simão, com quem
fica? A Bíblia descreve os seguintes: Simão, irmão de Jesus (Mt 13.55; Mc 6.3); Simão, chamado Pedro,
apóstolo (Mt 4.18; 10.3); Simão, o Zelote, apóstolo (Mt 10.4; Mc 3.18; Lc 6.15; At 1.13). Ainda há outros
com o nome Simão, como por exemplo Simão Iscariotes, pai de Judas, o traidor (Jo 6.71). A Bíblia com
muita propriedade identifica cada um com o detalhe do apelido ou do parentesco. E Judas? A Bíblia diz
que Judas, apóstolo, era filho deTiago (Lc 6.16). Não há nenhum registro afirmando que a outra Maria
ou Maria, de Cléofas, tenha um filho com o nome de Judas. É quase certo que o autor da Epístola de
Judas seja o irmão do Senhor, como descrito em Mateus 13.55 e Marcos 6.3, pelos seguintes motivos: 1)
Ele não se apresenta como apóstolo de Cristo, mas como "servo" e irmão de Tiago (Jd 1.1); 2) A sua
exortação no v. 17 sugere que ele não fazia parte dos Doze.
Os dados levantados apontam para o entendimento de que Tiago, Simão, José Judas, e mais algumas
mulheres, eram realmente irmãos carnais de Jesus, filhos de Maria e de José.
Quem me Fez Pecar?
Tiago 1:13-16
ESTUDO SOBRE O NOVO TESTAMENTO
Professor Dr. Antony Steff Gilson de Oliveira
Reverendo da Igreja Presbiteriana em Renovação do Brasil – IPRB
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Quando André aceitou assumir a diretoria daquela escola publica já sabia que teria muito trabalho pela
frente. Aquela escola era muito conhecida pela indisciplina dos alunos, mas, ele estava disposto a mudar
esta situação.
Então ele começou seu trabalho chamando os alunos a sua sala.
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---Pedro, perguntou o diretor, por que você roubou os biscoitos de seu amigo?
---Sabe o que é, disse Pedro, é que meus pais discutiram quando eu tinha seis anos de idade e hoje eu
não consigo parar de comer. E depois eu iria pagar pelos biscoitos... André ficou surpreendido com
aquela resposta, mas era apenas o começo. Veja o que disseram outros alunos:
---Beatriz, por que você falta às aulas de educação física?
---É porque eu tenho um defeito genético que me faz detestar educação física.
---Patrícia, por que você não faz sua lição de casa?
---Porque minha mãe não me dá chocolate. O senhor tem que dizer para ela que se ela não me der
chocolate eu não vou fazer a lição mesmo, e vou ser burra pelo resto da vida. Será que ela não entende?
---Paulo, por que você não assiste às aulas de geografia?
--- Porque eu tenho trauma de geografia.
André ficou impressionado com a capacidade daqueles alunos de justificarem seu mau comportamento.
Vivemos em dias de vitimização, em que o homem faz de tudo para não assumir a culpa pelo seu
pecado. Incrível o que faríamos, as desculpas que inventaríamos, para não admitir que somos ruins,
pecadores eculpados.
Quem me faz pecar? Certamento não pode ser minha a culpa. Tem que haver alguém que posso culpar.
Mas como vamos descobrir, reconhecer que a fonte do pecado está dentro em mim, e não fora, é um
dos primeiros sinais de alguém que tem uma fé viva. De fato, é condição ou pré-requisito para uma fé
verdadeira, pois sem esse reconhecimento ninguém se salva!
O verdadeiro crente por definição vive a sua fé no nível do coração., Esse é um dos problemas com
muito evangelismo dos nossos dias. Tentamos salvar pessoas que não sabem que estão perdidas!
Oferecemos Jesus como se fosse mais uma opção de auto-ajuda, ou talvez uma amuleta para trazer
prosperidade e boa sorte, e não a única esperança de pessoas desesperadas, em perigo de eterna
condenação no inferno. Mas ninguém vai querer ser achado quando não sabe que está perdido.
Ninguém se salva quando não sabe que está condenado.
O autor bíblico, Tiago, já 2000 anos atrás, antecipava essa tendência do coração humano de culpar a
todos menos a si mesmo pelo pecado. Pior é que, quando culpamos aos outros, estamos de fato
culpando o próprio Deus pelo nosso pecado.
Olhando para o texto de Tiago 1.13-16 percebemos como ele lidava com esta tendência do coração
humano. Primeiro ele deixou uma clara proibição de não jogar a culpa pelo pecado em outros,
principalmente Deus e, segundo, ele explicou que a raíz de todo pecado não está nos outros, mas, sim,
em mim mesmo.
I. A Proibição: Não Culpar a Deus pelo meu Pecado 1.13)
Alguns leitores de Tiago estavam culpando a Deus por uma provação que levava ao pecado. Como
alguns hoje não pagam seus impostos e se justificam dizendo: "Se eu pagar tais impostos minha
empresa não vai sobreviver", muitos ali se justificavam com desculpas semelhantes.
Mas essas justificativas pelo pecado, em efeito, culpavam o próprio Deus que prometeu Não vos
sobreveio tentação que não fosse humana; mas Deus é fiel, e não permitirá que sejais tentados além das
vossas forças; pelo contrário, juntamente com a tentação vos proverá livramento, de sorte que a possais
suportar (1 Co 10:13).
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Afirmar que outros são responsáveis pelo meu pecado é o caminho mais fácil e mais popular de
escaparmos responsabilidade pessoal.
A palavra "tentação" constroi uma ponte entre esse parágrafo e o anterior. É a mesma palavra
traduzida "provação" e "tentação". A idéia é de uma situação difícil que provoca uma resposta.
Mas tudo depende de quem origina a situação. Quando Deus nos coloca numa situação de provação,
sempre é para nos aprovar, mostrar genuína nossa fé. Quando o Inimigo explora desta mesma situação,
é para nos derrubar, desqualificar e, acima de tudo, para sujar o nome do nosso Deus. Quando
provados, podemos dizer que somos testados por Deus, para revelar Seu Filho em nós. Mas nunca,
nunca, podemos dizer que Deus é responsável direta ou indiretamente por nos colocar numa situação
que nos provoca a pecar.
Talvez você esteja pensando, "Mas eu nunca iria culpar a Deus pelo meu pecado." Mas pense de novo.
Somos experts em racionalização e justificação do nosso pecado. Temos "n" maneiras de passar a culpa
pelo nosso próprio a outros e, na última análise, no próprio Senhor.
A expressão Deus não pode ser tentado pelo mal indica que não há nada em Deus que corresponda à
tentação. Não há nada em Deus que possa ser seduzido a fazer o mal. É como alguém que tenta agarrar
com suas mãos a neblina da manhã: sua tentativa será tola e inútil.
Uma vez que Deus não é seduzido pelo mal e nada há nele de mal, Ele não é a fonte nem o responsável,
direta ou indiretamente, pelo meu pecado. Seria totalmente incoerente para Deus tentar incitar alguém
ao mal, visto que Ele é tão distante do pecado que não podia nem encarar seu próprio Filho na cruz do
Calvário.
Gostaria que você me acompanhasse por um pequeno tour, primeiro pelo mundo, depois pelas
Escrituras, para descobrir como o homem atual não é muito diferente do que o homem antigo em
termos do desvio da culpa.
O Mundo Atual
Como culpamos a Deus e outros pelo nosso pecado? Uma variedade de respostas, que refletem a
degradação dos nossos tempos, são encontradas. Boa parte das tentativas científicas, filosóficas,
teológicas e psicológicas dos nossos dias tem como propósito isentar o homem da culpa e transferí-la
para outros!
1. Ciência
Evolução-o homem é produto de tempo + chance ou "acaso". Um mesclar de átomos formando, por
acaso, moléculas, um conglomerado a-moral que, graças à sorte, formaram um ser inteligente.
Então, não sou eu culpado pelo "pecado" (se tal existe) mas sim, o conjunto de elementos e qúimicas
que compõem o "Eu"
Medicina-o homem está "doente", mas não culpado. Ele sofre da doença de alcoolismo, mas não pode
ser chamado um "alcoólatra" ou bêbedo (hoje, usa-se o novo termo, "acoolista" para dar a idéia de que
ele é vítima do álcool, não um adorador dele.) Pessoas que abusam da comida tem transtornos
alimentares quando de fato são bolímicas ou glutonas.
Genética-o homem é produto de DNA, genes e cromossomos e é programado por eles para ser o que é.
2. Psicologia
Behaviorismo-o homem é produto do seu ambiente. Ele é um animal, que quando condicionado pelo
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mal, mau se tornará, mas quando condicionado pelo bem, será bom. Culpado é o ambiente.
Auto-estima-a raiz de todos os males é que não me amo o suficiente . . . por isso, fico desanimado, bebo
demais, fofoco, minto, etc. Culpado são os que me oprimiram.
Trauma e Regressão à Infância- Os verdadeiros culpados são meus pais e Deus.
Vitimização-não sou membro de uma família conturbada pelo pecado, mas uma família disfuncional.
Psicánálise-sou dirigido por instintos básicos que, quando remprimidos, me levam a extrapolar meus
desejos. Complexos sexuais causados pelos pais, pela sociedade, pelo id, ego ou contra-ego, mas
certamente não pela minha natureza pecaminosa. Culpada é a sociedade, a religião e o instinto básico.
3. Teologia/Filosofia
Pós-modernismo. O mundo atual evoluiu para uma filosofia/teologia de pós-modernismo. O que
enfrentamos hoje quando fazemos a pergunta, "Quem é responsável pelo meu pecado?" é "O que é
pecado?" O pecado se tornou relativo. (Pós modernismo não é tão pós-moderno assim . . . quase 4000
anos atrás na época dos juízes havia muitos pós-modernistas: "Cada um faz o que era reto aos seus
próprios olhos." No mundo hoje, não existe absolutos. Ninguém tem o direito de dizer "Isso é errado"
ou "aquilo é pecado". Se não existe um absoluto, estou livre do pecado, pois afinal, não existe pecado
quando não há lei. Eu sou minha própria lei. Por isso listamos pós-modernismo como resposta
"teológica" à questão da culpa e do pecado.
Batalha espiritual-Mas existem outras tentativas mais sutis de minimizar o pecado, mais "espirituais". O
que se vê em muitas igrejas hoje é uma ênfase em batalha espiritual que tem praticamente o mesmo
efeito de isentar o indivíduo do seu pecado. Em algumas formas de batalha espiritual os demônios é que
são responsáveis pelo pecado do homem.
Alguns movimentos chegam a dar nomes para esses demônios que não encontramos de forma alguma
na Bíblia. O efeito é que, de forma sutil, culpamos a outros e não a nós mesmos pelo pecado:
Tenho o demônio de depressão . . . de ira . . . de fornicação . . . de espancamento... de sonegação . . . de
mentira . . . É muito cômodo, então, fazer um exorcismo, algum rito religioso, para me livrar do
"demônio" e também da culpa. Mas enquanto não tratamos da raíz, esses "demônios" voltam.
Maldição de família-Uma outra forma "religiosa" de me justificar e isentar da culpa é pela doutrina da
"maldição de família". Não sou eu o responsável pelo pecado, pois tenho fantasmas pairando sobre meu
passado; ancestrais que são responsáveis pelo que sou. Precisoregressar, renunciar, decretar para me
livrar dessa maldição que me força a pecar. Mas de novo, não sou eu mas outros (e na última análise, o
próprio Deus que me colocou nessa família) que são responsáveis pelo meu pecado.
Cura Interior-Certamente há necessidade de cura interior para todos nós. O pecado tem deixado
circatrizes em nossos corações. Mas alguns movimentos promovem técnicas espetaculares, emocionais
e/ou psicológicas para lidar com o pecado sem perseguir o problema até a raíz-o coração humano e a
natureza humana. Somos vítimas, muitas vezes, sim; mas também somos responsáveis diante de Deus
pelas nossas reações pecaminosas ao pecado. Ao invés de culpar aos outros (alguns movimentos até
chegam ao ponto de "perdoar a Deus", devemos confessar nosso pecado. Em vez de culpar os pais,
irmão, patrões, vizinhos, devemos perdoá-los e nos arrepender dos nossos pecados.
Não negamos a influência e o impacto que o pecado de outros têm, que existem feridas profundas,
circatrizes e verdadeiras vítimas do pecado. Mas não podemos culpar essas circunstância pelo nosso
pecado! De uma forma ou outra, todas essas respostas, todas essas tentativas, representam maneiras
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de nós culparmos o próprio Deus pelo nosso pecado. Afinal de contas, é como que disséssemos que foi
Ele que nos colocou naquela família, foi Ele que permitiu que nossos ancestrais fossem assim, foi Ele que
não impediu que os demônios nos atacassem, foi Ele que permitiu que perdéssemos nosso emprego, foi
Ele que enviou aquela mulher para trabalhar na minha firma, foi Ele que...
Será que eu e você caímos no mesmo erro que Tiago adverte? Culpar aos outros, e especialmente a
Deus, é marca de quem não está permitindo que a vida de Jesus seja vivida nele.
II. A Explicação: Eu Sou Responsável pelo meu Próprio Pecado (14-15)
Onde não há culpa pessoal, não há graça individual. Para alguém ser salvo, tem que ficar perdido.
Tentamos salvar algumas pessoas mostrando todos os benefícios sem primeiro mostrar que são
perdidas.
Tiago mostra como eu sou o principal responsável pelo meu próprio pecado. O verdadeiro cristão, para
se tornar cristão, tem que reconhecer esse fato. O primeiro ponto do Evangelho é: Eu sou pecador! Essa
mensagem não é muito popular em nossos dias. Preferimos falar em erros, falhas, defeitinhos, mas não
em pecado como ofensa contra um Deus santo.
Tiago usa uma analogia apropriada de pecado sexual para descrever o processo mortífero que leva ao
pecado:
Cobiça Atrai
Seduz
Concebe Dá à luz: pecado
Morte
As Escrituras
Culpar outros pelo meu pecado tem uma longa história nas Escrituras. Veja:
1. Adão e Eva (Gn 3:12-)
Quando Deus confrontou Adão ele transferiu sua culpa para outro dizendo que a culpa não era dele,
mas sim da mulher. Aliás, disse Adão, foi a mulher que Tu me deste; ou seja, no final das contas a culpa
era de Deus que lhe tinha dado aquela mulher. E, afinal, por que Deus tinha de criar a serpente? Mais
uma razão pela qual ele não era culpado e sim Deus, até a serpente que o enganou existia pela vontade
de Deus.
2. Arão (Ex 32:24)
Moisés teve de confrontar seu irmão por Ter levado o povo à idolatria. Mas este também transferiu sua
culpa para outro. "Olha Moisés, visto que você sumiu e não voltava, e o povo precisava de uma direção
espiritual dadas as desfavoráveis circunstâncias, não tive escolha a não ser fazer este bezerro de ouro".
3. Saul (1 Sm 13:12)
Samuel ficou extremamente triste quando viu que Saul havia oficiado o sacrifício que era de sua
responsabilidade. Confrontado, Saul não admitiu sua desobediência, apenas disse que o fez por causa
das circunstâncias tão urgentes. Vemos, portanto, que o homem de hoje não é diferente do homem do
passado.
Haverá, então, algum remédio para isto?
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O caminho da graça começa quando reconhecemos a nossa culpa!
Pv 28:13 diz: O que encobre as suas transgressões, jamais prosperará; mas o que as confessa e deixa,
alcançará misericórdia. (Sl 32:1-5)
1 Jo 1:9 diz que se confessarmos os nossos pecados Deus é fiel para nos perdoar. Esse é um caminho
confiável, tanto para aquele que nunca abraçou Jesus como seu Salvador, quanto para aquele que já
conhece Jesus mas é tentado a se desculpar pelo pecado. Confissão significa concordar com Deus sobre
o meu pecado. Os pecados devem ser identificados pelos seus nomes e confessados. É chegar diante
dele e dizer: Senhor, pequei contra ti porque tenho mágoas em meu coração e tua Palavra diz que isto é
pecado. Perdoa-me. A obra de Cristo na cruz, morrendo no nosso lugar, pagando o preço de toda a
sujeira que já cometemos, é suficiente para livrar da condenação eterna todos que depositam sua
confiança unica e exclusivamente nEle. Sua ressurreição garante que todos os nossos pecados foram
perdoados.
Não há necessidade para os alunos da escola do Diretor André, muito menos nós, justificarmos nosso
pecado. O caminho da graça começa quando reconhecemos a nossa culpa, e corremos até o perdão
oferecido por Cristo Jesus.
Reavivamento Hoje
Tiago 5:13-18
Pr. Davi Merkh
O Brasil precisa de um reavivamento. Um reavivamento que provoca mudanças reais e duradouras no
seio da igreja, da sociedade e da família. Um reavivamento que é mais que fogo de palha, show gospel,
louvorzão e emoção. Algo que transforma-nos de tal forma, que somos controlados pelo Espírito de
Deus, usando a Palavra de Deus, para nos conformar à imagem de Deus.
Quando se fala em reavivamento hoje, pensa-se em igrejas avivadas. Pensa-se em fanaticismo, expulsão
de demônios, guerra espiritual, línguas, batismos no Espírito, reivindicações de bênção “em nome de
Jesus”, curas e milagres. Mas será que é isso que encontramos nas Escrituras como sinal de
reavivamento? Ou será que o reavivamento bíblico é algo mais profundo, humilde, contundente, que
evidencia-se muito mais no lar do que no culto público, mais em oração particular do que louvorzão,
que se vê mais numa igreja inflamada pela causa de missões do que na construção de um templo
luxuoso e cada vez mais confortável para seus membros?
O livro de Tiago nos ensina sobre reavivamento verdadeiro, ou seja, uma fé verdadeira e suas evidências
na vida real. “Provas de uma fé verdadeira” é o tema do livro.
O livro termina como começou, falando de provações, sofrimento e tribulação. O primeiro parágrafo do
livro nos ensinou que a fé verdadeira (a vida de Jesus em nós) manifesta-se na hora de provações.
Nessas horas, cabe a nós olharmos para o Senhor em oração, clamando por sabedoria para lidar
corretamente com a situação (1.5).
O último texto do livro é considerado por alguns como um dos trechos mais difíceis, não somente de
Tiago, mas de todo o NT. Mas se analisarmos bem o contexto, o texto em si não é tão problemático. De
fato, vai direto ao assunto. E o assunto principal é oração, ou seja, uma comunhão viva com Deus. Nos
ensina que A FÉ VERDADEIRA FALA COM DEUS, em todas as circunstâncias, na alegria e tristeza, na
força ou na fraqueza, na bonança ou na tempestade. Esse é o reavivamento verdadeiro que Tiago quer
provocar—uma comunhão constante com Deus através de Jesus Cristo.
13 Está alguém entre vós sofrendo? Faça oração. Está alguém alegre? Cante louvores.
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14 Está alguém entre vós doente? Chame os presbíteros da igreja, e estes façam oração sobre ele,
ungindo -o com óleo, em nome do Senhor.
15 E a oração da fé salvará o enfermo, e o Senhor o levantará; e, se houver cometido pecados, ser-lhe-ão
perdoados.
16 Confessai, pois, os vossos pecados uns aos outros e orai uns pelos outros, para serdes curados. Muito
pode, por sua eficácia, a súplica do justo.
17 Elias era homem semelhante a nós, sujeito aos mesmos sentimentos, e orou, com instância, para que
não chovesse sobre a terra, e, por três anos e seis meses, não choveu.
18 E orou, de novo, e o céu deu chuva, e a terra fez germinar seus frutos.
Há vários problemas interpretativos neste texto:
Que tipo de sofrimento está em vista (13)?
Que tipo de doença? (14)
Por que a oração dos líderes espirituais é mais eficaz (15)?
O que significa a unção com óleo? É algo a ser praticado hoje? Se não, por que não? Se sim, porque não
o fazemos?
Há uma promessa aqui de cura? Se não, o que significa que "a oração da fé salvará o enfermo"? Se sim,
porque não saímos com óleo sagrado ungindo a todos os enfermos?
Se for uma promessa, não seria uma cura da nossa mortalidade? Não seria o fim da morte, pelo menos
as mortes causadas por doenças?
É impressionante o número de abusos desse texto. O sacramento de extrema unção da igreja romana
baseia-se neste texto. Algumas igrejas neo-pentecostais usam o texto para defender um uso místico de
óleo sagrado para assistir em todo tipo de milagre imaginável. Mas é isso que Tiago tem em mente?
Infelizmente, alguns têm até lucrado com a venda de “óleos sagrados”. É possível ver propagandas e
fazer compras, por exemplo, de 6 frascos de 10 ml de "Óleo Sagrado da Unção" por somente R$168.
Existe também "óleo da unção bíblico"" que contém azeite de oliveira, incenso e canela (somente R$
96); "Óleo da unção Rosa de Sarom" (somente R$96); "Óleo da unção de alegria"(também R$ 96);
"Bálsamo de Gileade para Unção". Uma propaganda afirma "Muitos têm sido roubados por Satanás, que
tudo faz para que o uso da unção com óleo não aconteça no dia-a-dia do crente.. . você vai ver, porém,
que muitas bênçãos estão ao seu alcance, ao entender o simbolismo e o sentido espiritual da unção com
óleo, e fazendo dele uso em sua vida."
E se eu e você não compramos esse óleo? Será que estamos perdendo uma bênção? Será que perdemos
nossa chance para reavivamento pela unção sagrada?
Algumas Observações Iniciais
1. O contexto do texto é paciência no sofrimento e perseguição (5.1-12). Alguns irmãos estavam
desfalecendo por causa das tribulações dessa vida, suas injustiças, crime, perseguição. Prestes a desistir,
desanimados e tristes, exaustos depois de tanto lutar contra o mal.
2. O tema do texto é oração, não unção com óleo! Todos os 6 vss. falam de oração. Note as frase e os
termos usados:
Vs. 13: sofrendo? Ore! Alegre? Cante louvores (forma de oração)
Vs. 14: doente? (fraco) Ore!
Vs. 15: oração (não óleo) salvará o enfermo; o Senhor o levantará.
Vs. 16: orai uns pelos outro . . . . a súplica do justo (a oração tem poder, não porque torce o braço de
Deus, mas porque expressa nossa fé no poder de Deus, e glorifica a Ele quando Ele responde!)
Vs 17: Elias orou (era como nós—fraco, falho, depressivo . . . )
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Vs. 18: orou
3. A mensagem do texto como um todo é que a fé verdadeira fala com Deus! O reavivamento
verdadeiro vem pela comunhão constante com o Criador do Universo e Seu Filho Jesus Cristo.
O ponto do texto é simples, claro e objetivo. A maior e mais clara evidência de uma fé viva, é alguém
que vive sua fé em diálogo constante com o Senhor. Deus é uma realidade tão presente em sua vida,
que não consegue deixar minutos passarem sem falar com Ele!
No texto, descobrimos 3 situações em que o crente fala com Deus.
I. A Fé Verdadeira Fala com Deus no Sofrimento (13a)
Está alguém entre vós sofrendo? Faça oração.
“sofrendo”— traz a idéia de estar em apertos, passando por uma situação difícil, passando mal. Esta é
uma situação que exige oração! Uma forma da mesma palavra “sofrendo” foi usada no vs 10. Foi usada
por Paulo em 2 Tm 2.9 do sofrimento de Paulo na prisão (perseguição) e na exortação para Timóteo
para “suportar as aflições” associadas com seu ministério (4:5). Mal-tratamento por causa do evangelho
está em vista.
Nós oramos, sim, nas nossas aflições (veja Tiago 1:2-5, 1 Pe 5:7, Fp 4:6). Mas nem sempre aproveitamos
da oração como a nossa primeira linha de defesa em meio as dificuldades. Às vezes é nosso último
recurso—quando ficamos desesperados, depois de tentar tudo. Mas Deus quer que a oração seja nossa
primeira opção.
Você está sofrendo hoje? Sofrendo injustiças por causa da sua fé? Sendo ridicularizado pelos colegas da
escola por ser crente? Sendo margenalizado por familiares que não conhecem Jesus? Sendo prejudicado
na carreira por não ser como os outros? A resposta é: ore, e continue orando (a ordem está no tempo
presente). Não desfaleça! Lembre-se do que Paulo diz em Rm 8:18 Porque para mim tenho por certo que
os sofrimentos do tempo presente não são para se comparar com a glória por vir a ser revelada em nós.
II. A Fé Verdadeira Fala com Deus na Alegria (13:b)
Tiago nos apresenta uma segunda situação em que devemos falar com Deus. É o oposto da primeira.
Está alguém alegre? Cante louvores.
“Está alguém alegre (encorajado, de bom humor)?”—Fale com o Senhor por meio de louvores! A
palavra descreve alguém que está bem de vida--não necessariamente fisicamente, mas espiritualmente
e emocionalmente. Essa pessoa regozija-se no Senhor e não nas circunstâncias.
Talvez seja alguém que já passou pelos apertos, problemas ou perseguições descritos na primeira parte
do versículo. Apesar dos tormentos, conseguiu enxergar Aquele que é invisível. Por isso, fala com Deus
pelo canto! O coração que transborda de alegria só pode cantar sua gratidão ao Senhor—mesmo nas
tribulações!
Foi justamente essa a resposta de Paulo e Silas em At 16:22-25. Açoitados, lançados na cadeia, os pés
prendidos num tronco, sem poder dormir . . . costas como carne moída com feridas abertas, secas, com
moscas, mosquitos e talvez ratos ao redor . . . Mas sua esperança estava fixada em algo maior.
Experimentaram o que Deus pede em 1 Ts 5:16-18 que diz, “regozijai-vos sempre... orai sem cessar... em
tudo dai graças.”
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Esse é o significado do andar com Deus, e o segredo de “reavivamento”: viver sempre na presença de
Jesus, em comunhão com Ele, pela oração. Essa fé é contagiosa!
III. A Fé Verdadeira Fala com Deus na Fraqueza Espiritual (5:14-18)
A última situação em que o cristão fala com Deus é a que Tiago mais desenvolve. Fé em Deus não tenta
enfrentar a luta sozinho! Nas horas de fraqueza física-espiritual, clama a Deus.
14 Está alguém entre vós doente? Chame os presbíteros da igreja, e estes façam oração sobre ele,
ungindo -o com óleo, em nome do Senhor.
15 E a oração da fé salvará o enfermo, e o Senhor o levantará; e, se houver cometido pecados, ser-lhe-ão
perdoados.
16 Confessai, pois, os vossos pecados uns aos outros e orai uns pelos outros, para serdes curados. Muito
pode, por sua eficácia, a súplica do justo.
17 Elias era homem semelhante a nós, sujeito aos mesmos sentimentos, e orou, com instância, para que
não chovesse sobre a terra, e, por três anos e seis meses, não choveu.
18 E orou, de novo, e o céu deu chuva, e a terra fez germinar seus frutos.
“Está alguém doente (fraco)?” A resposta é: Ore! Ore uns pelos outros! Verifique diante do Senhor se
há algum pecado não confessado. Mas ore.
Vamos examinar esse texto mais de perto. Os termos usados são interessantes, pois apontam mais que
uma mera doença física, como muitos entendem. Falam mais de “doença espiritual”, ou seja, desânimo,
fraqueza, ou até mesmo enfermidade física que tem origem espiritual. Quase todos os termos admitem
desse sentido duplo (físico-espiritual).
"doente" (vs. 14) = esse termo foi usado no NT com significado de “fraqueza”, tanto emocional como
espiritual; (At 20:35, Rm 4:19, 8:3, 14:1-2, 1 Co 8:11-12, 2 Co 11:21, 29, 12:10, 13:3,4,9), além de doença
física.
"o enfermo"(vs 15)—mais uma vez, o termo pode indicar mais que uma doença física, e inclui idéias
como exaustão (cp. Hb 12:3--para não vos fatigueis, desmaiando em vossas almas).
“Chame os presbíteros”--Por que o "fraco/doente" chama para si os presbíteros (líderes espirituais da
igreja) e não os diáconos (servos em questões físicas-materiais)? Provavelmente pelo fato de que os
“doentes” aqui são fracos espiritualmente, depois de travar muitas lutas na vida. Precisavam chamar
aqueles que eram mais fortes espiritualmente. O mesmo sentimento encontra-se em 1 Ts 5.14:
Exortamos-vos, também, irmãos, a que admoesteis os insubmissos, consoleis os desanimados, ampareis
os fracos (mesma palavra), e sejais longânimos para com todos.
Podemos entender que é o doente e não os líderes espirituais que tomam a iniciativa (ele os chama).
Por que? Não seria a responsabilidade dos líderes irem atrás dessa ovelha doente? Mas, se a “doença”
da ovelha fosse uma questão de debilitação espiritual (até mesmo por motivos de pecado), então ELA
precisava tomar a iniciativa. Chama os presbíteros justamente pelo fato de que seu problema é mais
espiritual do que físico.
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“façam oração sobre ele”— O texto transmite a idéia é de alguém prostrado, exausto, desanimado,
indisposto, sofrendo mesmo; não entendemos aqui alguém com um simples resfriado, dorzinha nas
costas, ou dor de cabeça, pedindo uma “cura”. Algo muito mais sério está vista.
"ungindo-o com óleo" (14) Esse ato acompanha a oração e é subordinada a ela, gramatica e
logicamente. A palavra “ungir” não é o termo mais comum para unção espiritual nas Escrituras (aquele
termo é chrio, de onde vem o nome "Cristo", ou seja, "Ungido"). A unção com óleo é secundária no
texto, subordinada à oração, acompanhando a oração. Como ato visível e palpável ministra esperança
para o “doente”, daquilo que é invisível e abstrato (a oração e o perdão).
Óleo foi usado com fins medicinais (Lc 10:34) e sobrenaturais (Mc 6:13) no NT. Também foi um símbolo
nas Escrituras de uma separação especial de alguém para uma atuação especial divina. Pode ser que os
líderes também ministravam a unção como forma de consolo e refrigério físico para reanimar o fraco,
além de simbolizar seu pedido por uma atuação especial de Deus em sua vida.
“em nome do Senhor”-- Essa frase já virou chavão em nossos dias traz a idéia de uma oração feita
dentro da vontade do Senhor, debaixo da autoridade dEle, conforme a vontade dEle, como
representantes dEle. Não é uma forma de mandar, exigir ou reivindicar bênção, como se fosse um
feticho evangélico. Muito pelo contrário. Expressa humildade e submissão à vontade de Jesus. Oração
feita “em nome de Jesus” precisa ser “como Jesus faria”.
"salvará o enfermo"—algumas Bíblias traduzem a palavra “salvará” com "curará", mas o verbo é o
verbo comum no NT para salvação da alma. É um termo espiritual mas que, novamente, admite de dois
sentidos—salvação física (cura) e salvação espiritual. Tudo depende do uso no contexto.
Existe a possibilidade aqui de se referir tanto a uma “salvação” espiritual (restauração) como física (cura
depois de confissão).
“O Senhor o levantará”-- Repare que é uma oração de fé, não do doente, mas dos presbíteros, que faz
com que o Senhor o levante! (Aqueles que argumentam que alguém não foi curado por falta de fé
enganam-se, pois a fé reconhecida por Deus nesse texto não é do doente/fraco mas daqueles que oram
sobre ele, ou seja, os líderes espirituais!) Repare também que é o SENHOR e não algum milagreiro que
recebe a glória como responsável pela restauração. O Senhor o levantará.
2 Co 12:7-10 é um texto paralelo interessante. É possível que o Senhor nos levante, sem
necessariamente nos curar! A graça dEle nos sustém, mesmo que a situação não seja resolvida!
Aprendemos a depender dEle, e por isso somos fortes, mesmo sendo fracos!
“e se houver cometido pecados, ser-lhe-ão perdoados”—A frase aqui é chave. Encontramos a
associação antes implícita, agora explícita, entre “doença” e pecado. Na situação que Tiago tem em
vista, existe uma forte conexão entre doença física e pecado. Esse é o ponto do texto, e a chave de
interpretação. O verbo traduzido “houver cometido pecados” traz a idéia de pecados do passado que
continuam surtindo efeitos no presente em sua vida. Em outras palavras, nunca foram resolvidos. Talvez
em meio a perseguição ele blasfemou, duvidou, mentiu ou fugiu de Deus.
Talvez desonrou o nome de Jesus. Por isso, agora encontra-se desfalecido e desamparado.
Pensa que não presta mais, que pisou na bola, e que não existe retorno para ele. Se ele foi disciplinado
pela igreja, talvez seja por isso que é SUA responsabilidade chamar os presbíteros até ele. Como
representantes espirituais da congregação, eles precisam ouvir sua confissão para depois restaurá-lo.
“Confessai, POIS”—À luz da seriedade de pecado e suas conseqüências na vida de um cristão, somos
chamados a não esconder nosso pecado! Pv 28:13 nos lembra, O que encobre as suas transgressões
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jamais prosperará; mas o que as confessa e deixa, alcançará misericórdia.
Pecado certamente pode ser uma causa de doença física/espiritual em nossas vidas! Por isso precisamos
sempre ser transparentes uns com os outros e não brincar com nossa fé. Nossos pecados podem nos
arrastar para o abismo de desânimo, derrota e desfalecimento. "Orai uns pelos outros, para serdes
curados."
Resumindo, devemos clamar a Deus quando nossa fé enfraquece. Devemos confessar nossos pecados
uns aos outros, e orar uns pelos outros, para que a nossa fé não desfaleça. Se alguém cair em pecado e
por isso, entra em parafuso, sofre fisica e espiritualmente, deve chamar os líderes espirituais da igreja
para interceder por ele. Deus diz que ouvirá essa oração.
Segundo esse texto, oração em todos os momentos da vida (a verdadeira e constante comunhão com
Deus) é um dos ingredientes fundamentais de reavivamento verdadeiro, profundo, duradouro e bíblico.
A fé verdadeira manifesta-se em oração: dependência total; confiança absoluta; conversa genuina, não
finjida, com Deus em todos os momentos. Não um show de oração, mas uma atitude profunda de
humildade e dependência.
Será que a fé verdadeira manifesta-se em nós numa vida mais e mais marcada pela comunhão com
Deus? Em todas as situações da vida, será que nossa primeira resposta é falar com ele?
Jesus quer ser nosso melhor amigo. Esse tipo de relacionamento com Jesus é exatamente isso—um
relacionamento! Uma amizade!
Aplicação: Como tornar esse estilo de vida algo natural? Quantas vezes eu preciso ser lembrado desses
mesmos princípios? No início, talvez um pouco forçado. Para alguns, é mais fácil do que para outros.
Mas temos um Companheiro, um Advogado, alguém chamado ao nosso lado para nos ajudar.
*Transformar os momentos mais rotineiros do dia em cultos de oração (lavar louça, enfrentar trânsito
*Orar pelas pessoas que encontra quando as vê
*Orar pelas notícias (guerra, fome, inchentes)
*Agradecer pelos benefícios enquanto os recebe (água quente, comida, roupa, sol, luz elétrica,
encanamento) (Não por acaso Paulo diz “Em tudo dai graças” logo depois de “Orai sem cessar”) (1 Ts
5:18)
*Orar no início, meio e fim de uma aula
*Orar num aconselhamento com um amigo ou numa confrontação
*Orar na disciplina do seu filho, ou quando recebendo uma bronca do seu pai.
*Gastar os primeiros e últimos momentos do dia em conversa com o Senhor
*Cultivar o hábito de entregar todos os serviços durante o dia ao Senhor
Vida Imprevisível
Tiago 4:13-17
ESTUDO SOBRE O NOVO TESTAMENTO
Professor Dr. Antony Steff Gilson de Oliveira
Reverendo da Igreja Presbiteriana em Renovação do Brasil – IPRB
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Nunca me esquecerei do testemunho feito por meu amigo, Roberto, no cemitério, depois do
falecimento trágico de sua esposa Valéria. Roberto deu um desafio para todos ali presentes, em que
mencionou um texto estranho do livro de Eclesiastes:
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Melhor é ir à casa onde há luto do que ir à casa onde há banquete,
Pois naquela se vê o fim de todos os homens;
E os vivos que o tomem em consideração (Ecl 7:2)
Certa vez um sábio comentou sobre o texto: “Uma visita a um lar abalado pela tragédia nos relembra a
brevidade da vida e a necessidade de um viver sábio. Tal visita é melhor do que a visita a um lugar de
festividade impetuosa.”
Tiago 4.13-17 nos lembra de que a vida, sim, é breve e imprevisível e por isso, deve ser vivida com
humildade e submissão sob a soberana mão de Deus.
Atendei agora, vós que dizeis: Hoje, ou amanhã, iremos para a cidade tal, e lá passaremos um ano, e
negociaremos e teremos lucros. Vós não sabeis o que sucederá amanhã. Que é a vossa vida? Sois apenas
como neblina que aparece por instante e logo se dissipa. Em vez disso, devíeis dizer, Se o Senhor quiser,
não só viveremos, como faremos isto ou aquilo. Agora, entretanto, vos jactais das vossas arrogantes
pretensões. Toda jactância semelhante a essa é maligna. Portanto, aquele que sabe que deve fazer o
bem e não o faz, nisso está pecando.
O livro de Tiago tem mais de 50 ordens (imperativos e proibições) em pouco mais de 100 versículos;
temos, na média, uma ordem a cumprir de dois em dois versículos!
No capítulo 4 de Tiago, nos primeiros dois versículos, descobrimos uma implicação da nossa fé agarrada
em Cristo—A Fé Genuína Rejeita Valores Mundanos. A fé verdadeira vive sua vida à luz de realidades
celestiais. Não ama esse mundo, em que somos peregrinos. Não se agarra nele.
Não constrói sua vida sobre o luxo, pois o luxo um dia vai virar lixo. Vive à luz da eternidade, com
convicção e firmeza e esperança e dedicação à causa de Cristo e Seu Reino.
Reconhece que tudo que se vê aqui um dia se derreterá. Esses fatos ficam mais claros para os
verdadeiros cristãos em velórios! É nessas horas que percebemos a realidade da nossa fé. Nós nos
entristecemos, choramos,mas não como aqueles que não têm esperança. Nos agarramos mais que
nunca na verdade de um Jesus vivo, ressurreto.
“Por que Jesus está vivo, o amanhã enfrento!
Porque vivo está, temor não há.
Porque eu bem sei, bem sei que é dele o meu futuro . . .”
Tiago 4:13-17 continua essa linha de pensamento, nos advertindo sobre a brevidade dessa vida. A FÉ
VERDADEIRA RECONHECE QUE A VIDA É IMPREVISÍVEL! O texto condena a arrogância e soberba de
pessoas que viviam suas vidas agarradas no mundo, como se fossem soberanas, como se fossem eles
que mandavam na terra, como se eles mesmos fossem onipotentes, oniscientes, auto-suficientes. O fato
é que nossa vida é um vapor que aparece e desaparece.
Como, então, viveremos, à luz de uma vida imprevisível? Desanimamos? Desistimos? Abandonamos a
Jesus? Viramos as costas? Na verdade, podemos ver 3 REALIDADES VIVIDAS por aqueles que têm uma
fé genuína:
I. Devemos Reconhecer que a Vida é Breve e Imprevisível (13,14)
Quantas vezes nesses últimos anos, temos sido lembrados de que a nossa vida é breve. Que ninguém
entre nós é capaz de controlar seu destino. Que ninguém de fato sabe o que há de acontecer amanhã.
Esses pensamentos podem nos levar ao desespero. Mas devem nos levar a esperança. Não em nós, mas
em Deus, o único que sabe exatamente o que há de acontecer amanhã. O número dos nossos dias já
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está escrito no livro dEle. Não há nenhuma surpresa! Ele sabe quanto tempo nos resta. Cada dia, temos
exatamente um dia a menos para gastar em torno de Jesus e Seu Reino. A pergunta é: Como estamos
investindo nossa vida, nosso tempo? Estamos vivendo hoje, para a eternidade?
Infelizmente, algumas pessoas vivem suas vidas como se fossem indestrutíveis. Como se fossem mestres
do seu próprio destino. Como se nunca teriam fim. Tiago condena esse tipo de humanismo, secularismo,
que exalta o homem e seus planos, sem levar em consideração a vontade de Deus (vs. 13)
Atendei agora, vós que dizeis: Hoje, ou amanhã, iremos para a cidade tal, e lá passaremos um ano, e
negociaremos e teremos lucros.
Não há nada de errado com planejamento. A Bíblia nos encoraja a sermos diligentes, a planejar para o
futuro, como a formiga que prepara sua casa para o inverno. Mas nunca somos encorajados a planejar
nosso futuro num vácuo de auto-suficiência. Tudo que fazemos tem que ser submetido ao Plano Divino.
Tudo que planejamos tem que ser coerente com os valores bíblicos. Tudo que sonhamos tem que ser
coerente com o uso de nossas vidas para eternidade.
Penso comigo mesmo sobre os nossos planos, nossos sonhos, nossos ideais, nossos alvos como casal.
Planos para crescer e envelhecer juntos. Planos para celebrar bodas de prata. Planos para visitar os
filhos, os netos. Planos para viajar. Planos para conhecer, quem sabe, outros lugares do mundo.
Mas Tiago nos adverte. Enquanto planejamos, nunca podemos esquecer de quem somos. Somos seres
frágeis e dependentes. Somos finitos, limitados, fracos, vítimas de um mundo contaminado pelo pecado.
No texto, os negociantes judaicos, que por sinal haviam experimentado muito sucesso na vida, faziam
seus planos numa redoma de auto-suficiência. Estavam construindo suas vidas sobre um fundamento de
luxo, só para descobrir no fim que tudo era lixo. Faziam seus planos sem Deus.
Construíam seus castelos sobre a areia. Mas a onda da soberania de Deus subiu na praia, e levou tudo
para o fundo do mar.
Nunca podemos deixar Deus fora dos nossos planos (v14):
Vós não sabeis o que sucederá amanhã. Que é a vossa vida?
Sois apenas como neblina que aparece por instante e logo se dissipa.
Esse texto nos alerta sobre duas razões porque todos os nossos planos devem ser submetidos à
soberania de Deus:
1. Porque somos ignorantes do futuro. Não sabemos o que vai acontecer amanhã. Somos limitados.
Finitos. Não somos oniscientes. Podemos e devemos fazer planos, mas nunca com arrogância, autosuficiência, prepotência, ou autonomia.
Esse fato deve nos levar a humildade e dependência, cientes de que, no momento em que Jesus tira sua
mão sustentadora das nossas vidas, pararemos de respirar. Por isso, vivemos nossas vidas cientes da
soberania de Deus. Ele sabe. Ele se importa. Ele traça os planos para nossa vida.
Ele direciona. Podemos lançar sobre Ele toda a nossa ansiedade, porque Ele tem cuidado de nós!
2. Porque somos impotentes. Também não somos onipotentes. Não temos poder nem de acrescentar
um fio de cabelo nas nossas cabeças, muito menos mais um minuto para nossas vidas (Mt 6:27). Somos
como neblina que aparece e logo se dissipa.
Por isso vivemos nossas vidas amarradas em Jesus, na esperança de vê-lo a qualquer instante. O cristão
não precisa temer a morte! Choramos, sim, pelos que ficam, pela dor, pelo vazio. Mas quando vivemos
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nossas vidas com olhos fixos no alvo, há uma certa expectativa do além. Somos peregrinos! Somos
forasteiros!
II. Devemos Reconhecer que Deus é Soberano (15)
Uma fábula européia conta a história de uma aranha orgulhosa: “Havia uma aranha no canto de um
celeiro que admirava tanto sua teia, que a cada dia limpava, arrumava e mostrava para todos que
passavam. Porém um dia, enquanto admirando sua bela obra-de-arte, ficou incomodada com a única
coisa que impedia que esta fosse a melhor teia-de-aranha na história do mundo. Foi aquele fio lá em
cima, que estragava toda a estética do resto. Não teve dúvidas, cortou logo o fio que ligava sua teia ao
teto, porém logo em seguida, seu mundo ruiu.
Infelizmente é isso que muitas pessoas estão fazendo. Cortam o fio que leva a Deus. Decidem que
podem construir sua teia-de-aranha sem nenhum fio no teto. Abandonam a fé.
Expressamos nossa confiança na soberania de Deus através de um reconhecimento simples, humilde e
dependente, de que Deus tem tudo sob controle. “Se Deus quiser.”
O triste hoje, é que esta frase “se Deus quiser” virou chavão, assim como a saudação “Graça e paz”. Mas
a frase está cheia de significado, quando expressa a confiança do nosso coração. Mostra que somos
seres dependentes, não autônomos, não auto-suficientes, não capazes de fazer nada fora da boa mão
de Deus. Isso mexe com nosso orgulho. Elimina nossa arrogância.
Repare que a soberania de Deus não anula planejamento. Continuamos fazendo planos, mas são planos
contingentes, dependentes, provisórios: “Se o Senhor quiser, não só viveremos, como faremos isto ou
aquilo.” Tudo condicionado à vontade de Deus. E, subentende-se, de forma coerente com Seus valores.
Em outras palavras, submetemos todos os nossos planos à soberana mão de Deus. Confiamos nEle para
estabelecer ou não os desejos do nosso coração (Sl 90:17).
Assim como Jesus falou, se alguém quer ganhar sua vida, precisa perdê-la num plano maior. Investe na
eternidade. Constrói hoje para sempre. A única maneira de fazer sentido de um mundo assim é confiar
na soberania de Deus, descansar nEle, e viver cada dia como se fosse seu último.
III. Devemos Reconhecer que Auto-Suficiência é Pecado (16,17)
O texto termina com uma advertência contra auto-suficiência. Quando fazemos planos com autosuficiência, somos orgulhosos, arrogantes, soberbos. Excluímos Deus dos nossos planos e das nossas
vidas.
Essa foi a atitude do diabo! “Agora, entretanto, vos jactais das vossas arrogantes pretensões.
Toda jactância semelhante a essa é maligna.” Vem do diabo. Ele quis construir seu próprio império
independente de Deus. Ele quis ser Deus. Sua ambição, seu egoísmo levou a sua queda.
Às vezes, gostaria muito de ser Deus. Gostaria muito que todos os meus planos já saíssem com o
carimbo divino de aprovação. Gostaria que todos os meus sonhos fossem realizados. Mas eu não sou
Deus. Ainda bem!
O versículo 17, avaliado dentro desse contexto, tem uma aplicação bem mais direta.
Portanto, aquele que sabe que deve fazer o bem e não o faz, nisso está pecando.
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Qual é o bem que se deve fazer, nesse contexto? VIVER SUA VIDA DEBAIXO DA SOBERANIA DE DEUS,
INVESTINDO SEUS POUCOS ANOS HOJE PARA O REINO DE DEUS!
Em outras palavras, viver uma vida de dependência constante de Deus. Submeter todo plano à inspeção
divina. Passar todo sonho pelo crivo da Palavra de Deus e de valores eternos. Buscar em primeiro lugar o
reino de Deus e Sua justiça. Usar meu tempo, meus bens, minha inteligência, minha energia, minha
boca, minhas mãos, para o bem do Reino de Deus. Parar de correr atrás do luxo desse mundo, que um
dia vai virar lixo. Investir em 3 eternos—a Palavra de Deus, a Pessoa de Deus, o Povo de Deus. Estes são
investimentos que durarão para todo sempre!
De fato, em termos da eternidade, realmente é muito melhor irmos para um velório do que uma festa.
Porque na casa de choro podemos considerar a fragilidade do ser humano, da nossa necessidade de
Jesus em todos os momentos de nossas vidas, da grandeza de Deus, da esperança do céu, de um Jesus
vivo, ressurreto, que nos traz todo consolo e toda esperança. À luz da ressurreição de Jesus, DEVEMOS
VIVER, HOJE PARA SEMPRE.
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