1 Janusz Korczak e a Shoá A vida de um educador Mister Benny do Bom Retiro Paulistano As judiarias em Portugal Mikva do século XVII encontrada na Bahia editoriaL 2 Nós guardamos ÍNDICE a memória da comunidade judaica. LOUIS LITTO, filho de Isidore F. Litichevsky e Mania (Minnie) Elsky, um dos patronos da biblioteca do AHJB. Ajude-nos a preservá-la Patrocine nossos projetos. 3 CARO LEITOR ÍNDICE Um consulente nosso interpretou com discernimento a missão do AHJB na sociedade. Trata-se do pesquisador Israel Blajberg do Rio de Janeiro que veio a São Paulo em busca de documentos e informações sobre militares judeus, tema ao qual ele se dedica há anos. 03 EDITORIAL E ÍNDICE Na sede do AHJB ele pesquisou e coletou boa parte do matérial disponível para executar seu trabalho. Declarou, com extrema simplicidade, que utilizará, em seu próximo livro, o material aqui pesquisado. 06 NOTÍCIAS Ao voltar ao Rio de Janeiro, Blajberg enviounos um e-mail que transcrevemos à página 34, e que nos incentivou a continuar, com mais empenho ainda, o nosso trabalho. Como Arquivo Histórico consideramos que a nossa função é exatamente cumprir nosso papel na sociedade certos de que para trilhar o futuro com segurança, precisamos conhecer e fazer conhecer o nosso passado. E é isso que o Acervo oferece aos interessados. É também essa a função deste Boletim AHJB e das matérias que publicamos nesta edição. Há material sobre os judeus em São Paulo: a biografia de um personagem misterioso e a visão do bairro de Higienópolis habitado por judeus. Temos ainda uma matéria pouco abordada na literatura, a passagem pouco conhecida de Janusz Korszak pela Terra de Israel. Temos também um artigo sobre o Direito e o cristão-novo em Portugal de Henrique Czamarka e algo também raro, o trabalho inédito de Reuven Faingold sobre um seguidor do Sabateismo. A isso acrescente-se o Índice do material já pubicado por nós e preparado por Abraão Gitelman, diretor de Cultura Iídiche do Arquivo, que torna accessível aos pesquisadores a riqueza deste material. Boa Leitura. Sema Petragnani, Editora Os artigos assinados não refletem necessariamente a opinião do AHJB. 04 PALAVRA DO PRESIDENTE 05 CORRESPONDÊNCIA 08 Paulo Valadares MISTER BENNY, O PERSONAGEM DO BOM RETIRO PAULISTANO 12 Sarita Mucinic Sarue JANUSZ KORCZAK E A SHOÁ: A VIDA DE UM EDUCADOR 17 Carlos Kertesz MIKVÁ DO SÉCULO XVII ENCONTRADA NA BAHIA 18 Reuven Faingold SHABATAI TZEVI NA VISÃO DE UM JUDEU-CONVERSO 23 Lucia Chermont VIVER EM HIGIENÓPOLIS - DIVERSIDADE CULTURAL 28 Saul Kirschbaum OS JUDEUS ITALIANOS REFUGIADOS DO FASCISMO E O ANTISSEMITISMO DO GOVERNO VARGAS, 1938-1945 29 Indicações e Revistas especializadas 30 Henrique Czamarka AS JUDIARIAS EM PORTUGAL – ASPECTOS JURÍDICOS E HISTÓRICOS – UMA ABORDAGEM 34 Israel Blajberg MEMÓRIA JUDAICA DO BRASIL 35 ÍNDICE DOS BOLETINS DO AHJB 45 PESQUISADORES 46 DOAÇÕES 47 IMAGENS VENDIDAS OU CEDIDAS A linguagem e soletração em cada artigo respeita a escolha do autor. O BOLETIM DO AHJB é enviado gratuitamente aos sócios, a instituições culturais do Brasil e do exterior, e é também distribuído aos visitantes e consulentes que o solicitam. Lembramos aos colaboradores que este boletim possui ISSN (International Standard Serial Number), número internacional normatizado para publicações seriadas. Os artigos inéditos podem ser enviados à Redação pelo e-mail [email protected] DIRETORIA: PRESIDENTE Serebrenic VICE-presidente Bettina diretores núcleos: biblioteca e documentação Roney Cytrynowicz Presidente Maurício SerebrinicJayme 1o Vice Presidente Carlos R. de MelloLenci Kertész 2o Vicede Presidente Roney Cytrynovicz Diretor FINANCEIRO Jayme Serebrenic DIRETORA SecretAria Geral Myriam Chansky DIR. DE ACERVOS DOCUMENTAIS E BIBLIOTECA Roney Cytrynowicz DIR. DE Acervos Especiais Simão Frost DIR. DE COMUNICAÇÃO Sema Petragnani DIR. DE CULTURA IÍDICHE Abrahão Gitelman DIR. DE DIVULGAÇÃO Sonia Lea Shnaider DIR. DE Educação Anna Rosa Campagnano Bigazzi DIR. DE EXPOSIÇÕES Miriam S. S. Landa DIR. DE GENEALOGIA Paulo Valadares DIR. HISTÓRIA ORAL Marília Freidenson DIR. DE Música Samuel Belk DIR. DE PATRIMÔNIO Maurício Serebrinic DIR. DE PESQUISA Léa V. Freitag DIR. DE PROJETOS INSTITUCIONAIS Henrique Stobieck DIR. DE RELAÇÕES INSTITUCIONAIS Paulina Faiguenboim dir. de seções e informática Carlos R. De Mello Kertész ADMINISTRAÇÃO Eliane Klein BIBLIOTECA Theodora da C. F. Barbosa DOCUMENTAÇÃO, PESQUISA, PROJETO E EDUCAÇÃO Lúcia Chermont FOTOTECA Arnaldo Lev SERVIÇOS GERAIS José Messias Ribeiro Santos ESTAGIÁRIOS Gabriela Munin REDAÇÃO - EDITORES Sema Petragnani e Paulo Valadares REVISÃO Suely Pfeferman TRADUÇÃO Flora Martinelli DIAGRAMAÇÃO Alexandra Marchesini PROJETO GRÁFICO Ciro Girard/satelitesmg.com.br IMPRESSÃO Northgraph Gráfica CONTATOS [email protected] ou pelos telefones 11 3088-0879 / 2157.4124 PALAVRA DO PRESIDENTE 4 A PALAVRA DO PRESIDENTE Caros amigos, Estamos na época de PESSACH e para nós, judeus, é uma das datas mais importantes do nosso calendário. Trata-se da libertação do Povo Judeu da escravidão de Mitzraim. Como tantas outras vezes na história de nosso povo, mais um tirano tentou nos escravizar, submeter e destruir e, mais uma vez, guiados por haShem, encontramos o caminho certo. A História relatando os 40 anos durante os quais estivemos vagando pelo deserto do Sinai já é conhecida por todos e, como sempre, o povo judeu sofreu bastante até alcançar a Terra Prometida, Eretz Israel. Mas conseguimos! E hoje, temos uma nação judaica forte e consolidada, que tem dado sua contribuição positiva à Civilização moderna, democrática e livre. O Arquivo Histórico Judaico Brasileiro (AHJB), ao longo dos seus 35 anos também vem lutando para sobreviver. Hoje temos sede própria, estamos bem instalados e o nosso acervo se encontra armazenado com qualidade e profissionalismo. Continuamos a nossa luta para tornar o AHJB um modelo para a nossa sociedade. Para isso, é indispensável conseguirmos recursos. Recursos Humanos e Financeiros. Contamos com a colaboração dos nossos Diretores e Sócios e de toda a Comunidade Judaica, que têm no AHJB o depositário da sua história. SHALOM e CHAG SAMEACH a todos MAURICIO SEREBRINIC PRESIDENTE 5 “(…) can you help me find out what happened to the brother of my grandfather Sam Glicker? My grandfather’s brother emigrated to Brazil from New York City sometime after 1915. In 1915, he was living in New York, working as a baker, after emigrating to the United States in 1913 from Yedinitz, Bessarabia, Russia (now called Edinet, Ukraine). I do not know his first name, and the family last heard from him in 1950 when he was living in Sao Paulo with his wife and married daughter or son (I can’t recall which). I belive he was born around 1881. His brothers living in the United States were my grandfather Sam (Yiddish name Yishayah or Shaia), Jack, Meyer, and Joseph Glicker. His mother’s name was Bindel Glicker (maiden name Rosenblatt) and his father’s name was Israel Glicker. The only other details I know about my grandfather’s brother in Brazil are that he had one damaged eye, and that he said in his 1950 letter that his son (or son-in-law) was involved in revolutionary activities (…)”. CORRESPONDÊNCIA (...) tomei conhecimento da publicação de seu abrangente estudo genealógico sobre a família LAFER-KLABIN, publicado no boletim do AHJB, no qual meu ramo é tratado à pág. 38. Sou trineto de Leon Klabin, bisneto de Luiz Klabin [III], neto de Ana [Klabin 3(IV)] e Salomão Leifert, filho de Waldemar Leifert e Julia; casado com Maria Helena, pai de Tiago e Marcela. Gostaria de lhe contar um detalhe muito curioso sobre Leon Klabin: viúvo de Chaia Sarah Papert, sua primeira esposa, falecida em 1910, ele casou-se em segundas núpcias com BEYLA LEIFERT (neé ENENSON, viúva de Moyses Leifert). Beyla (ou Bella) era mãe de Salomão Leifert, casado com Anna Klabin (ela neta de Leon, filha de Luiz Klabin e Rose Lowet). Portanto, em virtude desse 2º matrimônio, o avô de Anna, Leon Klabin, passou a ser também seu sogro! Receba meus cumprimentos pelo trabalho realizado e votos de feliz 2012 (...). GILBERTO CARLOS LEIFERT, S. Paulo, S.P. FLO WOLF, Atlanta - Georgia, USA Núcleo de Genealogia do AHJB responde: Localizamos o seu tio-avô e a esposa, José Gliker, Shabetai b. Israel (Iedenitz, 1884 – S. Paulo, 21/03/1952) e Riveka Gliker (Iedenitz, 1892 – S. Paulo, 08/02/1951). Em: Os primeiros judeus de S. Paulo, p. 128. A filha do casal, Aida (ou Ida), “26 anos, costureira, romena” e o marido Jayme (ou Chaim Rubim) Narovsky, “33 anos, alfaiate, polonês” pertenciam à Juventude Comunista. Foram expulsos para Varsóvia, embarcando no navio francês Aurigny no porto de Santos no dia 06/07/1936. “(…) my family has looked for information about them for 60 years. Now, thanks to your website and museum, and your kindness, we finally know some answers (…)”. FLO WOLF, Atlanta, Giorgia, USA O músico americano Chaim Zemach procurou informações sobre familiares em S. Paulo. Ao saber que um deles, ABRAHAM BERTIE LEVI (1899-1968), é nome de rua na cidade, agradeceu as informações genealógicas e comentou: “(…) Absolutely amazing! Only yesterday I didn’t know much about Bertie, the first cousin of my father Isaac Semach, and today I know not only that he had a street named after him but also where exactly it is!? Thank you very much! CHAIM ZEMACH - Montclair State University e Metropolitan Opera Orchestra Recebemos a ligação do Daniel Borger, filho do Hans Borger falecido no final do ano passado, que informou que seu pai deixou no testamento sua biblioteca pessoal para o Arquivo Histórico Judaico Brasileiro. O AHJB agradece a doação. Após uma visita pela primeira vez ao AHJB, no dia dois de fevereiro passado, a Profª. Drª. Ana Magalhães, da Divisão de Pesquisa em Arte e Teoria e Crítica do Museu de Arte Contemporânea de São Paulo, enviou-nos o seguinte e-mail: Muito obrigada pela visita de ontem e pela genealogia de Modigliani e de Marguerita Sarfatti, também pelos artigos e pelo link. Obrigadissima pela descoberta de mais esse universo! Quero encontrá-los mais vezes e estou a disposição para colaborar! - Ana NOTÍCIAS 6 Consul-geral dos paises-baixos, Jan gijs schouten, visita o ahjb Para conhecer o AHJB, recebemos com prazer a visita do consul-geral dos Paises-Baixos, Jan Gijs Schouten, no dia 13 de dezembro de 2011, convidado pelo presidente Mauricio Serebrenic. O convite foi feito anteriormente durante um almoço no Consulado dos Paises Baixos em São Paulo e House do Brasil, ocasião em que além do cônsul e da consulesa, estavam presentes a diretora da Anne Frank Joelke Offringa e o Coordenador de Cultura da Secretaria de Educação da Prefeitura de São Paulo. Na ocasião, foi feito o convite aos presentes para conhecerem a Exposição que estava sendo realizada em unidades do CEU, sobre Anne Frank, promovendo um trabalho de conscientização dos jovens da periferia sobre as diferenças e os problemas causados pela intolerância. O Sr. Jan Gijs Schouten mostrou-se muito interessado em conhecer o nosso trabalho e, gentilmente, ofereceu ao Arquivo um belíssimo livro, “O Brasil Holandês – a família Nassau, Moedas e Medalhas” de autoria de Alfredo G. Gallas e Fernanda Disperah Gallas, integrado a nossa Biblioteca e disponibilizado ao nosso público para consultas. CERIMÔNIA NO CEMITÉRIO ISRAELITA DE SALVADOR Foi lembrada (hazkará) com cerimônia no Cemitério Israelita de Salvador, localizado na rua Quinta dos Lázaros, as 9 horas do 15 de janeiro de 2012, a dentista Sara Violeta de Mello Kertesz que falecera na mesma data em 1962, repentinamente aos 49 anos. Ela nascera em Manaus, filha do comerciante Salomão e Rachel de Mello, membros de uma antiga família de judeus marroquinos radicados há muitos anos no Brasil. Sara casou-se com o engenheiro e empresário Kertész (Jorge) György (1910-1989), nascido em Budapeste. O casal teve três filhos: Carlos Roberto (vicepresidente do AHJB), Eduardo z’l e Mário de Mello Kertész, prefeito de Salvador por duas vezes. Ela foi uma mulher bem-humorada, popular e muito culta – para um perfil biográfico, leia-se o Jornal da Metrópole, Salvador, 13/01/2012, pp. 12-3. A cerimônia teve a presença de descendentes, familiares e amigos da família. Johan IV Von Nassau e esposa Maria Von Leon-Heinsberg, ancestrais de Mauricio de Nassau, Bernard Van Orley, c. 1528-1530, The Paul Getty Museum, los Angeles. Livro doado pelo cônsul. MEMORIAL CONTA A HISTÓRIA DA IMIGRAÇÃO JUDAICA Em dois de janeiro último, São Paulo ganhou um inusitado espaço cultural, o “MEMORIAL DO CEMITÉRIO ISRAELITA DA VILA MARIANA” que tem sua sede na antiga Casa de Tahara. O Memorial conta a história da comunidade judaica em São Paulo, através de painéis ilustrativos, tendo como pano de fundo a instalação do primeiro cemitério israelita da Capital. O plano expositivo é de autoria do historiador Roney Cytrynowicz, vice presidente do AHJB e do arquiteto Marcos Cartum e preserva as características originais da antiga construção. O Memorial tem a função de celebrar e registrar a história, a presença judaica e a memória da diversidade em São Paulo. Os ritos funerários e a concepção de morte no judaismo também são destacados. “É um projeto pioneiro em termos de cemitérios paulistanos, ressalta Cytrynowicz. O Menorial fica aberto para visitação de segunda a quintafeira, das 7h às 16h; às sextas, das 7h às 15h. Atualmente, o tombamento do Cemitério Israelita de Vila Mariana está sendo pleiteado junto ao Conselho do Patrimônio Histórico. 7 NOTÍCIAS DEFESA DE MESTRADO NA PUC-SP Em 17 de novembro de 2011, no prédio da PUC-SP, rua Ministro Godoy nº 969, foi defendida pela historiadora Lucia Chermont, Coordenadora do Atendimento, Documentação, Pesquisa, Projetos e Educação do AHJB, a dissertação de mestrado, Memória e Experiência de Judeus de Higienópolis e arredores, S. Paulo (1960-1970), que rendeu um texto de 138 páginas. Formou na banca examinadora, a Drª Maria do Rosário da Cunha Peixoto, orientadora do trabalho; o Dr. Luiz Antonio Dias (PUC-SP) e o Dr. Roney Cytrynowicz (USP e vice-presidente do AHJB). Os personagens deste trabalho são judeus residentes no bairro de Higienópolis e a autora tem como objetivo do trabalho compreender “através da ótica de alguns destes sujeitos, como essa vivência foi experimentada, não apenas como uma opção prática, mas também em suas dimensões imaginárias e sentimental”. Ela baseou-se fundamentalmente em treze entrevistas feitas a moradores do bairro. São eles: Rabino Jacob Begun, Alain Bigio, Myriam Chansky, Póla Cohen, Israel Diksztejn, Leon Diksztejn, Olivia Haftel, Arieh Halpern, Sima Halpern, Rachel Mandelbaum, Victor Sayeg, Geny Serber e Cecília Sztutman. A argüição desenvolveu-se tranquilamente, sendo abordados nela desde os aspectos teóricos ao tema desenvolvido na dissertação, para proveito da platéia formada por estudiosos e amigos da candidata ao grau de mestre. No final da seção a candidata foi Dra. Maria do Rosário da Cunha Peixoto, Lucia Chermont, Dr. aprovada com a nota máxima. Luiz Antonio Dias e Dr. Roney Cytrynowicz A SINAGOGA DA CONGREGAÇÃO ISRAELITA PAULISTA FEZ HOMENAGEM áS VÍTIMAS DO HOLOCAUSTO O Arquivo Histórico Judaico Brasileiro, para a exposição “Homenagem às Vitimas do Holocausto”, de 27 a 6 de fevereiro último, promovida pela Congregação Israelita Paulista, cedeu de seu acervo documentos e objetos da Segunda Guerra Mundial. A receptividade do público presente na inauguração do evento foi grande e muito comovente. VERGANGENHEITSBEWÄLTIGUNG O jornal italiano “La Repubblica” datado de 14/12/2011 traz uma foto, mostrando crianças atrás das grades de um campo de concentração que ilustra matéria intitulada “TESTE PARA OBTER A CIDADANIA ALEMÃ ESTÁ SOB ACUSAÇÃO POR IGNORAR A “SHOÁ”. O texto citado esclarece que, a partir de setembro de 2010, a obtenção da desejada cidadania alemã será condicionada a atender perguntas as mais variadas sobre a História da República Federal da Alemanha, não focalizando o Holocausto, completamente ignorado no mencionado teste. O fato enfureceu a comunidade judaica e, segundo Stephan Kramer, membro do Conselho Central Judaico, “tal omissão representa um estranho modo de interpretar a história”. Cláudia Roth, representante do Partido Verde, definiu a questão como “... um exame grotesco. A Alemanha, afinal, continua tendo dificuldades ao se confrontar com a parte mais dolorosa do seu passado”. E aqui chegamos à palavra Vergangenheitsbewältigung, titulo, na realidade, desta matéria. Fica demonstrado que por este processo histórico surgiram, com o decorrer dos anos, novos termos. É uma palavra composta alemã que descreve o processo de lidar com o passado ou, mais claramente, a reconciliação com o passado, descrevendo bem o modo de afrontar e ministrar os ensinamentos tirados desta elaboração. Essa é a palavra usada para se referir ao processo de superação das brutalidades cometidas pela Alemanha? Aufarbeitung é outro termo que também descreve o modo de afrontar e administrar os ensinamentos tirados dessas elaborações e é traduzível como elaboração do passado. Essas duas palavras são usadas para se referir ao processo de superação das brutalidades cometidas. BIOGRAFIA 8 MISTER BENNY, O PERSONAGEM DO BOM RETIRO PAULISTANO PAULO VALADARES * Mr. Benny foi o personagem popular no Bom Retiro nos anos em que aquele bairro paulistano era um bairro étnico – um bairro ligado aos judeus paulistanos. Ele se destacava por andar de cabeça coberta por turbante e principalmente por ser um judeu negro numa comunidade essencialmente de origem europeia. Por ter sido um homem de vida modesta, candidato a cantor e professor de inglês, cujo aluno mais conhecido teria sido o empresário e entertainer Silvio Santos, não há material biográfico sobre ele. Ele é apenas a personagem incidental em poucos trabalhos publicados. Interessado em construir um perfil biográfico deste original e simpático personagem, procurei o Arquivo Nacional no Rio de Janeiro, entrevistei seus contemporâneos. Agradeço particularmente a Maria Helena Soares Miranda e Josimere Borges (ambas do Arquivo Nacional), Darlan Souza Ferreira, Fabio Koifman, Branco Leone, Nissim Moses, Ardem Zylbertsztajn, Abrão Bernardo Zweiman, dentre outros que me ajudaram nesta empreitada. O resultado é o trabalho que levo aos leitores. (...) AN INDIAN FROM THE LAND OF ETHIOPIA (...) O Talmude fala de “um indiano vindo da Etiópia” (KID. 22b; BB 74b); milhares de anos depois, encontramos na comunidade paulistana um judeu com identidade parecida. Trata-se do homem que conhecíamos como Mr. Beny, que falava obliquamente de seu passado e que se identificava como filho de pai etíope e mãe indiana. Os nomes de sua família sofrem variações conforme as versões consultadas. Na documentação oficial, ele aparece como filho de Patel Zavarg (na revista O Hebreu, Patel Yehuda Zahavi, etíope) e Melea Yanga (no RG de Mr. Beny: Malca). Ele teria nascido em Jaipur, no Rajastão, em 13 de abril de 1927. Seu nome era Benny Yanga Zavarg ou, religiosamente, Beny ben Patel. Todas estas informações foram fixadas a partir de suas declarações. É possível que por alguma razão estejam distorcidos, pois não se encontram similares nas pesquisas. Dr. Nissim Menachem Moses Talkar, conhecido como Nissim Moses, que possui o maior acervo genealógico sobre os judeus da Índia, supõe que o sobrenome correto seja Zaveri. Este sugere uma família ligada à venda de joias, pois, na comunidade dos Bene Israel, há apenas outro sobrenome parecido, Zawlikar. Sua chegada ao Brasil se deu em circunstâncias misteriosas. Ele se apresentou às autoridades brasileiras em duas FOTOTECA - AHJB versões diferentes da chegada. A primeira, mais inverossímil, afirmava que viera quando criança a Porto Alegre, numa viagem marítima de recreio com a mãe em 1937 – não devemos esquecer que ele era de origem social modesta. A outra, referendada pelo delegado Isaías de Aquino Soares garantia que ele era tripulante do vapor inglês Orbans e desertara no porto do Rio de Janeiro, em janeiro de 1941, aos treze ou catorze anos de idade. Não possuía qualquer documento que o identificasse ou apresentasse prova de sua cidadania. Ele pretendia fixar-se no país. Seu desejo, porém, foi indeferido em 3 de maio de 1944. O seu pedido foi analisado em vários níveis; recebeu até o OK do Conselho de Imigração e Colonização. Todavia, o parecerista final foi mais atento às minúcias e observou que o “suplicante” era de: “(...) raça negra, raça esse (sic) cuja emigração atualmente não consulta aos interesses nacionais, conforme doutrina formada em casos idênticos. Nessas condições proponho que “in limine”, o pedido seja indeferido (...)”. 9 O político paulista Alexandre Marcondes Machado Filho (1892-1974), Ministro da Justiça e dos Negócios Interiores, seguiu a recomendação dos escalões inferiores e indeferiu o pedido. De algum modo, o grumete adolescente Beny tomou conhecimento desta manifestação e desapareceu no burburinho da cidade grande, para evitar a deportação. Durante anos, viveu como clandestino no Brasil. Esperou mudar as tendências e, somente depois do final da Guerra reapareceu para solicitar sua naturalização em 1955. Já estava bem ambientado aos costumes nacionais, tanto que trouxe documentação suficiente para não ser recusado. Eram declarações de algumas pessoas, afirmando que ele era seu professor de inglês. Uma delas era do procurador federal Dr. Alberico Saraiva Ribeiro, a quem Mr. Benny lecionava inglês “três vezes por semana, à razão de três mil cruzeiros mensais”. É uma testemunha socialmente importante, destacada por isto no processo de naturalização. Perguntado sobre o que acontecera neste tempo, ele contou uma história confusa, que ficara doente e fora para o interior restabelecerse. Mesmo assim, a polícia conseguiu rastrear alguns dos endereços onde ele morara no Rio de Janeiro. São vários endereços no centro da capital federal e até no Seamen’s Hotel, localizado na Rua Marquês de Abrantes nº 165, no Flamengo. Em 27 de novembro de 1956, lhe foi concedida a nacionalidade e o direito de permanência no País. No começo dos anos sessenta, ele se estabeleceu em São Paulo, no Bom Retiro. AS TRIBOS PERDIDAS, A ÍNDIA E O BRASIL Não há correntes imigratórias da Índia para o Brasil, mesmo quando esta era parte do Império Português e havia uma consagrada rota marítima entre Lisboa, Cochim e Goa, chamada Carreira da Índia. Há registros da vinda de alguns canarins (indianos de Goa) para a Bahia, nos dias coloniais e recentemente, PIO’s (People of Indian Origin), notadamente com o fim das províncias ultramarinas portuguesas. Estima-se em três mil a popu- BIOGRAFIA lação desta comunidade, dividida principalmente em sindhis em Manaus e goeses em São Paulo. Não há registro de judeus vindos daqueles lados. Benny Yanga pertence àquele grupo de judeus que, nascidos em locais longínquos ou exóticos como Herat no Afeganistão ou Harbin na China, por circunstâncias fortuitas, chegaram a São Paulo, onde terminaram seus dias, mas que não faziam parte de um grupo organizado para imigração. As relações dos judeus com a Índia são muito antigas e se perdem entre as lendas. Já são citadas sob o nome de Hodu na Bíblia, no livro de Esther (1:1; 8:9). Nos anos vinte do século passado, havia três grupos de judeus vivendo na Índia. Eram os judeus de Cochim, a comunidade Bene Israel e os Baghdadi. Hoje, outros grupos são listados a estes. Os dois primeiros grupos são autóctones, provavelmente descendendo das dez míticas Tribos Perdidas, e o outro grupo, os Baghdadi, oriundos do mundo islâmico especialmente de Bagdá. No séc. XVII, Mosseh Pereyra de Paiva, comerciante judeu de Amsterdã, esteve na Índia e escreveu um relatório sobre os judeus que encontrou por lá. (...) He toda esta Gente muito bem disposta, e de natural dócil, Grandíssimos Judeus, E bahale torah, e não menos mercadores no que podem furar, a cor he amulatada (...). No British Raj, a Índia foi governada, entre 1921 e 1926, por Rufus Daniel Isaacs, 1º Marquês de Reading (1860-1935), um sefaradita da família Mendoza e primo do ator inglês Peter Sellers (1926-1980). Não se sabe nada do passado indiano de Mr. Benny. Ele raramente falava disto, nem aos amigos mais próximos, por alguma razão que lhe era dolorosa. Não se deve esquecer que ele apareceu adolescente no Brasil. Não se sabe quando Benny Yanga deixou a Índia. Pelas conversas que ele manteve com os amigos, é possível traçar um percurso mais ou menos possível do seu peregrinar. Nos tumultos que precederam a independência da Índia, ele deve ter migrado com a mãe para a Inglaterra. No clima crispado da época, ser judeu ou simpatizante dos britânicos não devia ser confortável na Índia. Muitos anos depois, ele falava com saudades de um irmão “rabino” que vivia em Liverpool. MR. BENNY NO BOM RETIRO Mr. Benny chegou ao Bom Retiro no começo dos anos sessenta. Durante todos estes anos, viveu como professor de inglês; dizia-se também shadchan (casamenteiro) e chegou a tentar uma carreira de cantor. Era notado não só pela aparência física ou por suas atividades, mas BIOGRAFIA 10 pela simpatia e pela cultura. Contava suas histórias, de quando vivera no “Estrangeiro”, sem mostrar mágoas por incompreensões passadas. Ele frequentava simultaneamente dois mundos diferentes, a comunidade judaica, da qual fazia parte, e também o show-business paulistano. Era encontrado nas sinagogas ou em outras instituições judaicas, mas também em estúdios de televisão onde buscava uma carreira de cantor popular. As suas histórias são muitas. O escritor Branco Leone, cujo pai foi aluno de Mr. Benny, lembrou-se com carinho de sua presença e de “um burrico de plástico que ele me deu (desses que abria a boca quando se aproximava uma espiga de milho com um imã)”. O Dr. Ardem Zylbertsztajn, professor da Universidade Federal de Santa Catarina, lembrou-se de dois episódios marcantes de sua vida com Mr. Benny, que mostram um pouco de sua personalidade. “A minha lembrança mais antiga dele é de 1962, quando fui com meu pai ao modesto cômodo em que morava na Rua da Graça, quase esquina com a Silva Pinto. Meu pai queria saber se ele poderia ensinar as rezas para o meu Bar Mitzva, que se aproximava. Modestamente, respondeu que não tinha conhecimento suficiente para isso.” Seguindo o ciclo da vida: “A última vez que vi Mister Benny foi em 1990, em um dos corredores do Hospital Albert Einstein, onde meu pai estava internado após ter sofrido um derrame. Ele perguntou se poderia ir ao quarto fazer uma reza, com o que concordei, ainda que descrente dessas coisas. Meu pai não se recuperou, mas fiquei contente que tenha recebido uma benção de Mister Beny antes de falecer.” MR. BENNY NO SHOW-BUSINESS O show-business brasileiro nos anos sessenta ainda estava em formação. O sucesso de um cantor, entenda-se por sucesso a venda de discos e shows, vinha de sua exposição nos meios eletrônicos de comunicações, sobretudo o rádio e depois a televisão. O centro musical se deslocara do Rio de Janeiro, com a substituição do samba pela influência da música jovem americana. O principal grupo de comunicação eletrônica era a Record em São Paulo, com uma programação musical da promoção de festivais a programas de auditórios, criando ídolos populares. Dois judeus ocuparam posições destacadas na consolidação deste mercado artístico, um deles foi o apresen- tador de TV Silvio Santos (Senor Abravanel), com seus programas de calouros e de auditórios; e outro, o empresário Marcos Lázaro (Mordechai Eliezer Margulies, 1925-2003), um poilisher vindo da Argentina, que trouxe competência e seriedade na administração de carreiras dos artistas que surgiam. Benny Yanga (B. Y.) tentou entrar neste mercado. Sua voz era pequena, tendendo a metálica e cantava em inglês. Possuía um repertório próprio, canções de sua autoria e do maestro Costa Gomes, que fazia os arranjos musicais para os seus discos. Tinha bons contatos no meio musical, tanto que gravou no mítico selo pernambucano Mocambo do bessaraber José Rozemblit (19272007). Gravou dois compactos com títulos parecidos: Two songs to your heart e Four songs to your heart. Uma das canções era descrita como um hully gully em ... iídiche chamado Zug, zug, zug. B. Y. teve uma trajetória modesta como cantor. Sua carreira não decolou por uma série de injunções da época. Ele não tinha a estampa do ídolo que se idealizava num rapaz branco e cabeludo. Cantava em inglês num momento de afirmação nacionalista; somente anos depois, outro cantor brasileiro e também judeu, Morris Albert (Maurício Alberto Kaiserman), tornou-se sucesso mundial com a canção Feelings (1976), cantada em inglês. Sem espaço neste mercado eletrônico, ele passou a vender seus discos pessoalmente, algo que pode ser visto como pioneiro, pois é uma atitude que precedeu os chamados “independentes”. B.Y. tampouco conseguiu ser um cantor da comunidade israelita paulistana. Sua passagem pelo meio artístico lhe rendeu amigos fiéis como os cantores Jair Rodrigues e Moacir Montana, que lhe acompanharam até o final da vida. Uma das raras imagens encontradas de Benny é sua participação no programa “Pinga-Fogo”, transmitido às 22h de 20 de dezembro de 1971, pela TV Tupi (Canal 4). O entrevistado era o médium espírita Chico Xavier (1910 – 2002) e os convidados entrevistadores eram 11 BIOGRAFIA o radialista Vicente Leporace (1912 – 1978), o deputado Freitas Nobre (1921 – 1990), o ator Anselmo Duarte (1920 – 2009), o cantor Blecaute (1919 – 1983) e a jornalista Liba Friedman. A sua pergunta era simples. Ele fora convidado a ver uma “materialização”, no centro, do professor Herculano Pires (1914 – 1979), junto com outro judeu, mas só ele viu o fenômeno. Por quê? Chico Xavier lhe disse que talvez ele fosse “(...) portador do que nós chamamos clarividência mediúnica, talvez não muito desenvolvida, por enquanto, mas suscetível de encontrar um grau muito elevado de evolução.” (http://www.youtube.com/watch?v=OQHH5uSCGs&feature=related) CONCLUSÃO Originário das míticas Tribos Perdidas, B. Y. vagou pelo mundo, mas viveu a parte mais importante de sua vida num bairro paulistano. Ele investiu bastante no sonho de ser cantor, carreira extremamente ingrata para muitos, tal a dificuldade de alcançar o sucesso. O final de sua vida foi difícil economicamente, como fora toda a sua vida. Porém, ele teve o amparo da comunidade judaica paulistana através de suas instituições de auxílio mútuo. Acometido por uma arritmia combinada com nefrite crônica, ele faleceu em São Paulo, a 27 de outubro de 2000, e foi sepultado no Cemitério Israelita do Butantã. (*) Paulo Valadares - Historiador e Genealogista Blog: www.bestaesfolada.blogspot.com Família judia indiana. Coleção particular Livro de Rezcas, India. Coleção Particular. ARTIGO 12 JANUSZ KORCZAK E A SHOÁ: A VIDA DE UM EDUCADOR Sarita Mucinic Sarue * Janusz Korczak nasceu em Varsóvia em 1878 com o nome de Henryk Goldszmit. Para entendermos o significado de sua vida precisamos conhecê-lo ainda criança e a história de sua família. Nos 64 anos de vida, ocupou diversas posições. Foi médico, escritor, educador e defensor das crianças. Faleceu tragicamente no campo de Treblinka, em 1942. Descendente de uma das poucas famílias da elite judaica integrada à sociedade polonesa, os Goldszmit constituíam uma família de maskilim ou eruditos judeus, inseridos nas idéias do Iluminismo que pretendiam revolucionar as bases da vida, da educação e do pensamento judaico. Henryk representava a terceira geração da família instruída em curso superior. Seu avô paterno, Tzvi Hirsh Goldszmit, nasceu em 1805 em Hrubieszow, pequena cidade da Polônia. Médico e líder comunitário, Hirsh dedicou-se à solução do problema da emancipação e da integração dos judeus na sociedade polonesa. Joseph, seu pai, foi advogado em Varsóvia e publicou diversos artigos dirigidos à comunidade judaica em língua polonesa. O avô e o pai de Korczak dominavam três idiomas: o polonês, o iídiche e o hebraico. A dedicação dos Goldszmit à comunidade judaica foi relatada no diário que Korczak escreveu no gueto de PINACOTECA - AHJB Varsóvia nos últimos meses de 1942, depois publicado como Diário do Gueto, assim expressa: “Eu deveria consagrar aqui muito espaço ao meu pai (Joseph): realizou em vida aquilo a que ele mesmo aspirou tão forte e antes dele meu avô quis realizar.” Korczak, Diário do Gueto (1942), 1986, p.115 Joseph casou com Cecylia Gebicka, judia secular, educada dentro dos moldes da Haskalá (ou Iluminismo Judaico), à semelhança de seu marido. A avó materna residiu na casa dos Goldszmit assim que enviuvou e exerceu grande influência na educação do neto. Korczak, que possuía o nome Henryk, em homenagem ao avô paterno, recebeu educação polonesa, não aprendeu o hebraico e nem o iídiche. Dominava, entretanto, o polonês os idiomas russo, francês e alemão. O encontro de Korczak com o Judaísmo ocorreu aos cinco anos de idade, após a morte de seu canário por intermédio de um vizinho polonês. Enfrentou, pela primeira vez, o dilema de ser judeu em um país católico1. Korczak descreveu o fato do seguinte modo em seu diário: “Eu quis colocar uma cruz no túmulo. A empregada disse que não, porque era um pássaro, portanto bem inferior ao homem. Chorá-lo já era um pecado. Eis aí a empregada. Mas o que o filho do zelador disse era bem pior: o canário era judeu. E eu também. Eu era judeu e ele, polonês e católico. Ele estará um dia no paraíso; quanto a mim, com a condição de nunca pronunciar palavras feias e levar-lhe docilmente açúcar furtado de casa, poderei entrar, após a minha morte, em alguma coisa que não propriamente o inferno, mas onde, de toda forma, é muito escuro. E eu tive medo do escuro. A morte – judeu – o inferno. O escuro paraíso judeu. Dava o que pensar.” KORCZAK, Diário do Gueto (1942), 1986, p.12. 1 Fundada como um reino cristão em meados do século X, a Polônia era constituída de dois grupos étnicos distintos: germanos e eslavos. Os germanos a oeste, convertidos à fé luterana no século XVI; os eslavos, cristãos ortodoxos, a leste, se firmaram como os mais fervorosos seguidores do Catolicismo do leste europeu, situação que provocou a simbiose entre a nacionalidade e a religião: um verdadeiro polonês é católico. (LIFTON, 2005, p.8) 13 ARTIGO PINACOTECA - AHJB Não foi por acaso que Korczak resolveu estudar Medicina, pois durante sua adolescência denunciava, no próprio diário e posteriormente em artigos para um jornal polonês, a miséria do povo e as injustiças contra as crianças. No período em que cursou a Universidade, continuou escrevendo artigos sobre crianças carentes e admirava o partido socialista polonês, mas não se engajava politicamente. Ele acreditava no ideal do Socialismo como transformação da sociedade, porém, acima disso, acreditava que somente pela Educação o mundo se tornaria justo. Ainda estudante, deixou por alguns meses a casa de seus pais e foi morar no bairro pobre de Varsóvia, a fim de conhecer de perto as necessidades do proletariado. Korczak escreveu vários livros dirigidos ao público infantil e adulto. Alguns deles foram traduzidos para a língua portuguesa: O Rei Mateusinho I2, Quando eu voltar a ser criança3, Como amar uma criança 4 e o Diário do Gueto (1942). Ficou popularmente conhecido por apresentar ideias sobre os Direitos da Criança e da Educação Democrática, trazendo novas concepções para o desenvolvimento da capacidade de raciocínio crítico do aluno e o despertar do conhecimento do adulto às fases de crescimento da criança. Após graduar-se em Medicina Pediátrica, fez residên2 Rei Mateusinho I foi publicado, pela primeira vez, em 1923. 3 A edição original de Quando eu voltar a ser criança é de 1925. 4 A primeira parte de A Criança na sua Família foi originalmente publicada em 1919. A primeira edição completa de Como amar uma criança é de 1920. cia no Hospital Judaico Infantil. Pouco tempo depois, foi convocado pelo Exército Imperial Russo para servir na guerra Russo-Japonesa (1904-1905), em um trem hospital na ferrovia Transiberiana. Durante a guerra, ainda encontrava tempo para escrever artigos sobre a criança e fornecia notícias da guerra em sua coluna na revista Glos. Em Varsóvia, os artigos de Korczak haviam sido amplamente recebidos pelo público, consagrando-o como o novo escritor jovem da literatura. Esses artigos foram incluídos no seu livro Crianças de Salão (1906). Após alguns anos trabalhando no Hospital Infantil Judaico, Korczak viajou para Berlim, Paris e Londres para completar sua Especialização em Pediatria. Aprofundou conhecimentos sobre a criança, suas doenças, tratamentos, necessidades e sobre como lhes oferecer morte digna. Korczak também se interessou pelo desenvolvimento emocional da criança em relação ao mundo adulto, o que o levou a estudar os métodos pedagógicos de Johann Heinrich Pestalozzi e Maria Montessori. De volta a Varsóvia, decidiu trabalhar como monitor de colônias de férias para crianças carentes, judias e polonesas. Na Universidade, conheceu colegas judeus que o levaram a participar, também como palestrante, dos encontros semanais na casa de Nahum Sokolow, onde eram debatidos problemas da comunidade judaica, bem como sobre crianças sem oportunidades. No período, entrou em contato com a Ezra, instituição judaica de ajuda à criança órfã. A partir de 1912, abandonou a carreira médica para se ARTIGO 14 tornar o educador do Orfanato Don Sierot, na Rua Krochmalna, nº 92, juntamente com a educadora Stefania Wilczinska. Janusz e Stefania aspiravam a um orfanato que funcionasse como uma comunidade democrática, em que os jovens pudessem constituir um Parlamento próprio, um tribunal e um jornal e que, dentro do trabalho grupal, as crianças tivessem a oportunidade de conviver com outras pessoas com honestidade e responsabilidade. Após dois anos de existência do Orfanato, foi criado um Parlamento que contava com vinte deputados, eleitos por voto secreto, Korczak como presidente honorário e um secretário. Estes escolhiam entre si uma Comissão Legislativa de cinco membros e um vice-presidente para compor o Senado, que aprovava ou rejeitava as leis propostas pelo Conselho Jurídico. A entrada da Rússia na 1ª Guerra determinou o fim do regime comunista. Em 1914, Korczak se alistou, novamente, como médico do exército russo por quatro anos consecutivos. O orfanato, com cento e cinquenta crianças, ficou sob os cuidados de Stefania que, com poucos recursos financeiros, conseguiu mantê-lo até o fim da 1ª Guerra em 1918. Entre a 1a e a 2a Guerras Mundiais (1918-1939), Korczak dirigiu um orfanato polonês chamado Nasz Dom com a educadora Marina Falska. Em 1926, um jornal judaico infantil Mali Pshegolond em língua polonesa passou a ser escrito e dirigido por jovens e crianças, sob orientação de Korczak. Encontro com a Terra de Israel O desejo de Korczak de conhecer a Terra de Israel recebeu influência de duas educadoras de seu orfanato que FOTOTECA - AHJB haviam emigrado na década de 1920 para a Palestina. Vários alunos seguiram o mesmo destino. As educadoras Feiga Lipshitz e Ester Budko Gad iniciaram troca de correspondência em que contavam todas as dificuldades e desafios de adaptação a uma nova terra. Os educadores do orfanato eram, em sua maioria, monitores de movimentos juvenis sionistas que se aproximaram de Korczak e Wilczinska e trouxeram novas idéias. Com aprovação de Korczak, promoveram o encontro das crianças do orfanato com as crianças dos movimentos juvenis, introduziram vocabulário no idioma hebraico, acrescentaram a bandeira azul e branca e transmitiram ideias sionistas para construção de uma sociedade justa na Terra de Israel. A estada de Stefania por três meses no Kibutz Ein Harod em 1932 foi o impulso que Korczak precisava para decidir conhecer a terra dos seus ancestrais. Entre 1934 e 1936, Korczak viajou duas vezes para a Palestina e ficou hospedado no Kibutz Ein Harod. Nas duas estadas na Terra de Israel, Korczak era convidado, diariamente, a proferir palestras sobre Educação, o Modelo Democrático de Autogestão dos dois orfanatos que fundou e sobre Temas Pediátricos. Os desafios dos jovens pioneiros na realização do ideal sionista, o sistema de educação desenvolvido no kibutz, a vida das crianças e o trabalho agrícola foram temas que suscitaram em Korczak vários questionamentos pessoais. Ele expressou em suas cartas o permanente desejo de retornar à Terra de Israel para mais uma visita ou para lá morar definitivamente. Por influência de Joseph Arnon, um dos educadores bolsistas do orfanato, estabeleceu contato com o movimento juvenil sionista Hashomer Hatzair. Após a emigração de Arnon à Palestina, trocaram correspondência entre 1932 e 1940. Essas cartas foram publicadas por Arnon e apresentaram as ideias de Korczak sobre a construção da nova terra pelos jovens pioneiros e seu dilema pessoal sobre a questão de emigrar ou não para a Terra de Israel. “Se existe um país, onde é oferecida a chance à criança para expressar honestamente seus sonhos e temores, suas aspirações e suas perplexidades – possivelmente é em Eretz Israel. Lá deveria ser erguido um monumento ao órfão desconhecido [...] 15 ARTIGO PINACOTECA - AHJB [...] Não perdi a esperança de passar meus últimos anos em Eretz Israel e lá sentir saudades da Polônia. Goldszmit” Carta de Korczak enviada a Joseph Arnon5 em 08/10/1932. “Ao menos se tivesse recursos, gostaria de passar meio ano na Terra de Israel, para contemplar o passado, e meio ano na Polônia, para manter as coisas acontecendo por lá [...]. Durante anos, tenho observado o desamparo, a tristeza silenciosa das crianças sensíveis, por um lado, as artimanhas descaradas dos animais adultos, por outro. Receio que estejamos apenas testemunhando a destruição, sem sentido, de tudo o que é honesto e amável, o massacre dos cordeiros pelos lobos. Não tenho ilusões – o mesmo deve acontecer na Terra de Israel. Talvez, dadas as minhas condições não familiares lá, minha falta de contatos, ignorância da língua e distância de todas as pessoas, poderia ser capaz de fazer de mim mesmo uma pequena célula monástica, mas viajar para executar este ou aquele trabalho – não, nunca. É demais comprometer-me deste modo.” Carta de Korczak enviada a Joseph Arnon em 06/12/1933 Korczak, nessas cartas, expressou seu sentimento de impotência em defender a criança na Polônia, em seu desamparo e tristeza, vítima das artimanhas dos adultos, a quem ele se refere como animais, em alusão ao Nazismo. Ele se decepcionou com sua pátria polonesa na condição de espectador da tragédia que se desenrolava à sua frente, pela banalização da violência, e exprimiu novamente o desejo de se transferir para a Terra de Israel e lá estudar em um cheder, em Jerusalém ou em Tiberíades. Entretanto, sabia que as maiores vítimas do Nazismo eram as crianças; por isso não poderia abandoná-las. Esse seu compromisso com elas era a razão pela qual não poderia estabelecer-se definitivamente na Terra de Israel, ainda que, em algumas cartas, demonstrasse a esperança de passar os últimos anos de vida lá. “Quando tive minha primeira experiência indo em direção à Terra de Israel, senti algo diferente mais do que uma surpresa, mais do que curiosidade, uma sensação de orgulho, de alegria [...] nenhuma pessoa, nem meus pais – eu sou o primeiro – fui merecedor e cheguei a isso.“ KORCZAK, Rashamim vehirhurim, 1978, p.86 ARTIGO 16 O encontro com a Terra de Israel o aproximou do Judaísmo e da comunidade judaica. Ao retornar a Varsóvia, candidatou-se a membro da diretoria da Agência Judaica. Depois, na segunda viagem, foi de cidade em cidade proferir palestras de incentivo à imigração judaica à Palestina. Aproximou-se dos diversos movimentos juvenis judaicos sionistas e participou dos seminários de educadores, como palestrante. Escreveu textos sobre diversos temas sobre a criança judia na Diáspora, sobre a Terra de Israel e o Kibutz e sobre as crianças da Bíblia Judaica. Por fim, as dificuldades impostas pela sociedade aos judeus poloneses devido ao crescente antissemitismo trouxeram-lhe angústias e dissabores. Ele tentou influenciar as autoridades em favor das duzentas crianças do orfanato judaico para que não fossem transferidas para o gueto de Varsóvia, mas seus esforços foram em vão. Independentemente da abominável situação vivida pelos judeus dentro do gueto, Korczak, Wilczinska, os educadores e as crianças mantiveram-se fiéis aos princípios de ética e respeito humano. Ele lutou até os últimos dias de vida pelo direito das crianças de morrerem com dignidade. Seu desejo de viver na Terra de Israel não se realizou e sua vida terminou no campo de extermínio de Treblinka ao lado das duzentas crianças e dos educadores como Stefania, entre outros. O legado de Korczak foi ter deixado uma obra de inegável riqueza e atualidade, sua memória não ficará completa se não contemplarmos seu interesse e apego ao Judaísmo, à causa sionista e à Terra de Israel. Além disso, a multiplicidade de campos envolvidos na vida e no trabalho de Korczak dão abertura a inúmeras possibilidades de interpretações e pesquisas, que abrangem áreas como Psicologia, História, Pedagogia, Linguística e Medicina Pediátrica. “Que farei depois da guerra? Talvez me chamem para ajudar a construir uma nova ordem no mundo ou na Polônia? A coisa é pouco provável e, aliás, não gostaria disto. Ser obrigado a tornar-se funcionário [...]. Gosto de ter as mãos livres para agir. Tenho a intenção de escrever: [...] um romance em dois volumes. A história se passa na Palestina. A noite de núpcias de um casal de pioneiros ao pé do Monte Guilboa; no próprio lugar onde fora a fonte; fala-se desta montanha e desta fonte no livro de Moisés. Uma vez terminada a Guerra, as pessoas não poderão, por muito tempo, olhar-se nos olhos sem ler aí esta pergunta: Como é que você ainda está aqui? O que você fez para sobreviver?” Korczak, Diário no Gueto, 1986, p.22 Fonte: Beit Lohamei Haghetaot. Bibliografia ARNON, J. Quem foi Janusz Korczak? Tradução de Fanny Feffer dirigida por J. Guinsburg. São Paulo: Perspectiva, 2005 KORCZAK, J. Dat Hayeled. Israel, By Ghetto Fighters´House Ltd, 1978. LIFTON, B.J. The King of Children, The Life and Death of Janusz Korczak. United States: American Academy of Pediatrics, 2005. PERLIS, I. Ish Yehudi Mepolin - Chaio Upeulo Shel Janusz Korczak, Beith Lohamei Haghetaot by Ghetto Fighter’ House, Israel Ltd: 1986. (*) Sarita Mucinic Sarue - professora de Judaísmo na Hebraica de São Paulo - mestre na Área de Língua Hebraica, Literatura e Cultura Judaicas, do Departamento de Letras Orientais da Faculdade de Filosofia, Letras, Ciências Humanas da Universidade São Paulo. PINACOTECA - AHJB 17 ARTIGO MIKVÁ DO SÉCULO XVII ENCONTRADA NA BAHIA Prof. Carlos Kertész * Foi publicada recentemente, no “Estado de São Paulo”, uma matéria relativamente extensa e com chamada na primeira página falando sobre a descoberta em Salvador de uma suposta mikvá (banho ritual judaico), em pleno Centro Histórico, num palacete datado de 1680. Esta informação chegou ao meu conhecimento um dia antes de uma viagem a Salvador. Sendo baiano e vice-presidente do Arquivo Histórico Judaico Brasileiro em São Paulo, achei por bem visitar o local e tomar conhecimento dos fatos para relatar aos meus colegas de Diretoria. Assim o fiz e fui até o Hotel Villa Bahia, no Largo do Cruzeiro de São Francisco ns 16 e 18, Pelourinho, onde fui muito bem recebido pela equipe de Bruno Guinard, empresário francês e dono do hotel. A mikvá se encontra na parte interna do piso térreo, numa área de acesso restrito e situada num ambiente ajardinado e bem cuidado, refletindo o capricho como é mantida. Tudo de muito bom gosto. Esta notícia poderia passar sem maior destaque se não mudasse toda a história da presença de uma comunidade judaica na Bahia, uma vez comprovada, naquela época do período inquisitorial português no Brasil. Tudo começou em 2005, quando o empresário francês Bruno Guinard, reformando um velho casarão para instalação de moderno hotel bem próximo da famosa Igreja de São Francisco, encontrou no pavimento térreo muitos escombros Com muita sensibilidade, retirou-os cuidadosamente e, bem embaixo, encontrou uma banheira, maior que as comuns, revestida de azulejos que, ficou sabendo serem do século XVII. No mesmo local, encontrou acima, uma espécie de forno a lenha, certamente empregado para manter a água de chuva utilizada no tal “banho” numa temperatura agradável. Uma família judaica de passagem pelo restaurante do hotel depois da restauração da área, teve sua atenção despertada e começou então a cogitar a hipótese do referido engenho (foto) ser na verdade uma mikva. Devido à inexistência em Salvador de pesquisadores entendidos em história daquela época, o diretor do ho- tel convidou a Profª. Anita Novinsky de São Paulo e a historiadora Suzana Severs para comandarem os trabalhos de investigação de tão importante fato e que até hoje não foram concluídos. Em Salvador, ouvi hipóteses sem qualquer certificação: 01. Trata-se do local onde funcionou uma Sinagoga secreta mantida por cristãos novos fugindo da Inquisição; 02. Teria sido a residência de algum abastado cristãonovo que tinha sua mikvá particular; 03. Nem uma coisa nem outra, uma vez que foram encontradas instalações similares em outros casarões do mesmo bairro de Salvador, onde moravam os nobres e abastados daquela época. Só um trabalho sério e científico poderá responder estas indagações, mas tudo indica, pela aparência, que se trata de uma mikvá de fato. Com a palavra os senhores estudiosos para desvendarem mais um mistério desta nossa Nação Baiana. (*) Carlos Kertész é engenheiro civil, professor da Escola de Administração da Universidade Federal da Bahia e vice-presidente do AHJB-SP. ARTIGO 18 SHABATAI TZEVI NA VISÃO DE UM JUDEU-CONVERSO Prof. Reuven Faingold * Shabatai Tzevi (1626-1676), um dos personagens mais curiosos da história judaica, foi retratado em diversas obras judaicas e não judaicas. Parte destes textos descansa na poeira das bibliotecas e arquivos. Ao vasto material estudado pelo Prof. Guershom Scholem, revelaremos um novo documento do século 17, desta vez escrito por um judeu-converso. O AUTOR DO TEXTO No acervo de obras raras da Biblioteca Nacional de Jerusalém, despertou minha curiosidade um texto de 16 páginas, redigido por um converso espanhol do século 17. Esta obra intitulada “Abreviado y devoto assumpto cathólico sacado de la Sagrada escritura contra la ceguedad y engaño de los pérfidos iudíos… Pequeña Historia del Falso Mesías de los judíos (Sabaday Giby) sucedido en la Turquía del año 1666”; escrita por Antonio García Soldani, não aparece nos textos bibliográficos, sendo difícil apurar dados históricos sobre o autor do texto. los (carimbos) reais, prêmio de enorme prestígio naqueles tempos. O texto de Soldani foi dedicado ao rei Carlos II da Espanha. Não obstante, nas vezes em que García Soldani é lembrado, os dados colhidos são escassos. As poucas linhas não nos permitem desvendar sua enigmática identidade. Assim, por exemplo, no início do século 18, o estudioso Christian Wolff determinou que “Antônio García Soldani era um eclesiástico de Castela, cujos escritos se opunham ao Cristianismo”. Um rápido olhar pelo texto nos ensina que a afirmação de Wolff não faz sentido, uma vez que o texto “Abreviado y devoto asumpto” sim possibilita extrair dados sobre a verdadeira identidade do tal Soldani. Vejamos os principais argumentos encontrados: 4. O texto foi escrito e publicado em espanhol e não em italiano ou latim, indicando que Soldani tinha domínio completo deste idioma. O espanhol era a língua predominante entre os conversos hispanos refugiados em Livorno. 1. Antônio Garcia Soldani não seria um eclesiástico e sim um judeu-converso. Sua data de nascimento é desconhecida, porém tudo indica que ele fazia parte dos 6.000 judeus de origem sefaradita que se estabeleceram em Livorno, em 1663; decidindo por livre e espontânea vontade deixar o Judaísmo. 2. Soldani era um hábil diplomata responsável pelas negociações entre a corte espanhola do rei Carlos II de Hasburgo e agentes políticos e religiosos de outras nações européias. Reconhecendo seus méritos no desempenho das funções diplomáticas, ele foi agraciado com três se- 3. Na obra “Abreviado y devoto assumpto” de Garcia Soldani não há data, mas ela deve ter sido escrita em Livorno após 1676. Esta afirmação está sustentada em diversos fatos relacionados à época vivida por Shabatai Tzevi, especialmente episódios dos últimos anos de vida quando Shabatai tinha completado 50 anos, idade avançada naqueles dias. 5. Os conhecimentos de Soldani sobre Cristianismo não são profundos, utilizando fontes cristãs de forma muito precária. As citações foram extraídas de versículos tradicionais mencionados anteriormente por apóstatas e conversos espanhóis como Abner de Burgos e Alfonso de Valliadolid. 6. Soldani não demonstra domínio das fontes judaicas nem da língua hebraica. Diferente da atitude dos apóstatas, no seu texto não há uma única palavra em caracteres hebraicos, nem versículos bíblicos citados em hebraico. 7. A única palavra hebraica, escrita em caracteres latinos é chachamim no plural; sendo que Soldani, ao referir-se a Shabatai Tzevi, deveria ter usado chacham no singular. 8. O nome do Messias de Esmirna foi escrito em espanhol de forma errônea. Soldani não usa a grafia Shabatai Tzevi (ou Shabetai Sevi / Tzvi), mas Sabaday Giby (Abreviado, págs. 13, 14 e 15). 19 A IMAGEM DE SHABATAI Baseando-se em fontes judaicas, o Prof. Guershom Scholem e outros estudiosos do movimento shabataísta coincidem em afirmar que Shabatai Tzevi nasceu em 9 de Av de 1626 em Esmirna, no Império Otomano. É possível que essa data tenha sido “ajustada” ao calendário judaico, pois a tradição estabelece que o Messias apresentarse-ia neste dia de luto e jejum pelas destruições dos dois Templos de Jerusalém. As fontes cristãs, por sua parte, não aceitam as judaicas. Na maioria dos documentos escritos pelos cristãos, não se menciona a data de Tishá BeAv de 1626. Certamente, há um motivo para a exclusão desta data; afinal, existem fortes discrepâncias entre judeus e cristãos acerca do tempo em que chegaria o Messias: judeus do século 17 acreditavam que a redenção do Povo de Israel viria em 40 anos, portanto, em 1666. Já os cristãos dedicaram esforços, tentando distorcer essa contagem judaica para o advento do Messias. É curioso que quase todos os textos cristãos que versam sobre Messias tenham um caráter apocalíptico. Todos foram escritos após 1666, negando Shabatai Tzevi como desejado salvador dos judeus. ARTIGO de espírito pouco comum e aplicado nos estudos cabalísticos. O Prof. Guershom Scholem foi o primeiro autor a destacar aspectos psicológicos no comportamento de Shabatai Tzevi. Estes assuntos despertaram a atenção dos historiadores, tornando-se o principal alvo de pesquisa nas últimas décadas. Dentre os tópicos psicológicos discutidos, citaremos a relação afetiva de Shabatai Tzevi com sua mãe, os sinais nítidos de sintomas de melancolia e profunda tristeza, frustrações e momentos de euforia e iluminação alternados com momentos de equilíbrio emocional. Soldani ignora qualquer sintoma psicológico presente em Shabatai, acompanhando assim uma tendência constante dos escritos da época. EUFORIA E ILUMINAÇÕES Os discípulos de Shabatai Tzevi descreveram a eloquencia e a genialidade do mestre, em termos de fortes distúrbios internos e crises psicológicas suscitadas por al- Shabatai Tzevi era filho primogênito de Mordechai Tzevi, um modesto comerciante de aves de origem ashquenazita. O patriarca da família teria migrado da Grécia, enriquecendo o suficiente até se converter em agente e intermediário dos comerciantes ingleses e holandeses que atuavam em Esmirna. Garcia Soldani explica que o pai de Shabatai era Mardoqueo Levi, sem citar a cidade grega da qual seria originário. Entretanto, há textos similares em que se menciona como sua pátria a cidade de Patras, Morea ou ainda lugares menores sob domínio turco-otomano. Os autores pouco se interessaram na educação de Shabatai Tzevi, desconhecendo as marcantes influências pedagógicas dos grandes rabinos Isaac de Albo e Josef Espaça. Essas fontes se limitam somente a afirmar que Shabatai era um talmid chacham (ou seminarista) desde jovem. Um texto italiano elogia suas qualidades proféticas e seu saber cabalístico, afirmando ser detentor de uma vivacidade Shabatai Tzvi "Rei dos JUdeus", visto por Iohannes Meyfsens. Gravura, século XVII ARTIGO 20 tos e baixos de melancolia e iluminação. Shabatai teria dificuldades para achar sua homostasis, um equilíbrio físico, mental e emocional. Numa das mais conhecidas iluminações (alguns falam em alucinações), Shabatai Tzevi desposou Sarah, uma jovem orfã meretriz, encomendada por ele da Itália. Seu casamento teria sido realizado no Cairo em 31 de março de 1664, aos 38 anos. García Soldani não registra nada daquilo relacionado nas fontes judaicas. Na primeira iluminação registrada pelo converso de Livorno em 1662, Shabatai Tzevi viajava a Jerusalém via Rodes. Ao adentrar a cidade santa, teria postado na sua frente um anjo, solicitando aproximar-se do povo para ser venerado. Em troca dessa veneração , o “Messias de Esmirna” o salvaria da miséria. Isto foi comentado pelo próprio Shabatai e todos nele acreditavam. Esta iluminação aparece em vários textos, dentre eles a “Relation de la veritable Imposture du faux Messie des Juifs”, escrito na França em 1667, e na “Lettera mandata da Constantinopoli a Roma”, publicada em italiano em outubro do mesmo ano. A segunda iluminação de Garcia Soldani teria sido copiada, quase literalmente, do texto italiano acima citado, a “Lettera mandata de Constantinopoli a Roma”. Nele, Soldani comenta sobre uma jovem donzela de 16 ou 17 anos, muito venerada, da família de Shabatai, que profetizava nos círculos judaicos da cidade de Galata, na Turquia. Ela contava a membros de sua família que o Todo Poderoso se postara diante dela, segurando uma espada resplandecente e prometendo-lhe “coisas fascinantes”, dentre elas a vinda do Messias Shabatai. EFERVESCÊNCIA SOCIAL E ISLAMIZAÇÃO Nas pesquisas do Shabataísmo, boa parte dos estudiosos destacam o clima tenso que reinava por volta de 1666, e as condições específicas que contribuíram para o surgimento de uma verdadeira atmosfera de efervescência messiânica justamente naquele ano apocalíptico. Em quase todas as comunidades judaicas, há um enorme interesse em entender a possível aparição do “Messias de Esmirna” como o anunciado redentor do povo. A efervescência messiânica gerada por Shabatai nas comunidades judaicas de Esmirna, Constantinopla, e outros importantes centros do Império Otomano, produziu uma crise nas estruturas comunitárias. Literalmente, no século 17 os judeus começaram a dividir-se entre shabataístas, seguidores do messianismo de Sha- batai Tzevi, e anti-shabataístas, ferrenhos opositores à sua vinda, tratando-o como impostor e falsário. Também entre os moradores não judeus do Império Turco-Otomano esse clima de efervescência messiânica se estendeu. Corriam livremente nas ruas de Constantinopla versos e cânticos dedicados a Shabatai Tzevi. Um deles, inserido no “Romancero Sefaradita” dizia: Hakamim van airando / detrás del nuestro goel / sisim ribbon de judería, /todos iban detrás de él. No Império Otomano era constante a repressão às manifestações e revoltas. A pena de morte era o castigo imposto àqueles que pretendiam atentar contra a calma e a política dos sultões. Três impostores ou falsos redentores atuantes no Império Turco foram perseguidos, inseridos na categoria de insurretos e sentenciados com todo o rigor da lei. Foram eles: Padre Ottomane, Mahomed Bei e Shabatai Tzevi. Estes falsos salvadores aparecem em obra escrita em Londres e traduzida em Hamburgo em 1669. Os insurretos capturados pelo governo turco estavam sujeitos às rigorosas penas impostas pelas autoridades locais. Em 1666, iniciava-se o ano da redenção messiânica judaica. O dia anunciado seria 15 de Sivan 5437 do calendário judaico, correspondente a 18 de junho de 1666, no calendário gregoriano. García Soldani informa que, naquele dia, “el escándalo que andava em Turquia de quadrillas de judíos que seguian el malvado y embustero Sabaday, era uma cosa espantosa”. Os judeus mais fascinados com a figura de Shabatai doavam obséquios e presentes a serem distribuídos entre donzelas orfãs que casariam. Era uma grande mitzvá (ou preceito judaico) ajudar aquelas moças carentes. O clima de efervescência messiânica se alastrou por todos os cantos do Império Turco. Soldani comenta no seu texto que Shabatai, insatisfeito com a agitação popular, começou a corresponder-se com os líderes das diversas sinagogas fora do Império. Ao dirigir-se às comunidades, Shabatai Tzevi solicitou dos judeus “alegrarem-se para todos poderem congregar-se em Jerusalém”, tal qual fala a Profecia de Israel. É possível que Soldani conhecesse o teor das cartas remetidas às comunidades por Shabatai, uma vez que essas cartas também haviam chegado à comunidade judaica de Livorno. A efervescência shabataísta havia contagiado a comunidade israelita de Livorno e Soldani acompanhava de perto o cotidiano de sua cidade. Em correspondência citada por Garcia Soldani, os ju- 21 deus da Turquia são interrogados por seus correligionários da Itália sobre o porquê de estarem tão alegres e felizes. Os primeiros respondem que “a alegria tem como motivo o fato de o Messias haver chegado e em breve lhe precisarem dar as boas-vindas”. Obviamente, respostas como estas motivaram comunidades inteiras a viajarem até a Turquia, o maior centro de mística e redenção do século 17. As autoridades turcas não viam com bons olhos a agitação messiânica liderada por Shabatai Tzevi. Como pode um não muçulmano considerar-se um santo, movimentar multidões de fiéis e seguidores e, acima de tudo, fazer proselitismo num país governado por muçulmanos? O sultão e as autoridades não poderiam consentir jamais com uma situação dessas. Assim, no momento em que o mufti (ou líder em assuntos político-religiosos) descreveu o clima vigente na Turquia como insustentável, o sultão ordenou deter Shabatai e encaminhá-lo ao palácio. Em 13 de setembro de 1666, Shabatai Tzevi foi levado a Adrianópolis, diante do “Conselho do Reino”, na presença do sultão turco. Os que presenciaram este momento histórico relatam que Shabatai estava totalmente passivo, como se a magia negra o tivesse dominado. A conversão ao Islamismo foi a punição aplicada, e tudo leva a crer que naquele preciso momento Shabatai teria negado suas pretensões messiânicas. Naturalmente, as autoridades presentes não aceitaram suas palavras. Antônio García Soldani reconstruiu em seu texto o possível diálogo entre Shabatai Tzevi e o sultão turco, articulado em 15 de setembro 1666: Y así entró Sabaday em presencia del Rey, donde estavan muchos sabios, le fue preguntado como se llamava? Respondió que Sabaday Giby. Fuele dicho: Eres tú el Mesías de los Judíos? Habla presto. Respondió: Que sabia bien que no era más que un pobre hombre, y que los judíos le havian hecho perder el juicio y el entendimiento. No es bastante eso, le fue dicho al Sabaday, y para llevar estos escándalos delante, y desengañar al mundo, mira lo que quieres hazer? Porque a[h]ora, aquí en mi presencia te ha de ser cortada la cabeza al instante o que renuncíes a la Ley Mosaica, y te hagas turco. Respondió Sabatay: Pensaré un poco en ello. No hay que pensar más, dixeron los circunstantes… (Soldani, Abreviado). O resultado de dita audiência é conhecido pelos estudos de Guershom Scholem. Shabatai Tzevi teria levantado ARTIGO seu dedo e declarado que, a partir daquele instante, seria um muslim. Ato seguido colocou na cabeça o tarbusch (chapéu típico dos turcos), recebeu nome muçulmano e ouviu as palavras do sultão: “Agora está tudo em ordem; tudo está andando no caminho da verdade”. ÚLTIMOS DIAS DE SHABATAI O judeu-converso Antônio García Soldani encerrou seu texto relatando os últimos dias do falso Messias de Esmirna, agora como muçulmano. O autor nos explica um fato fundamental para poder entender a conversão de Shabatai Tzevi ao Islamismo. Na época, os muçulmanos não recebiam novos fiéis do Judaísmo e. para que um judeu conseguisse entrar na religião de Maomé, precisava primeiramente ser batizado. Este deve ter sido o procedimento aplicado a Shabatai, pouco antes de receber seu novo nome “Agis Mehemet Aga”, que em árabe significa “Ilustre Senhor Maomé”. Para Soldani, Shabatai Tzevi era um judeu convertido ao Islã muito importante, talvez o mais respeitável do Império Turco-Otomano. Sendo assim, o sultão decretou que fosse nomeado “Portero do Serrallo”(ou porteiro do palácio) outorgando-lhe uma quantia diária de três escudos. Vários seguidores e discípulos do “Messias de Esmirna” se islamizaram, inclusive sua esposa. A mudança de religião teria ocasionado em Shabatai Tzevi uma profunda depressão, segundo aparece em carta dirigida a seu irmão Elias, escrita uma semana depois da islamização. Segundo o historiador Guershom Scholem, Natan de Gaza sequer aparece no texto do converso Garcia Soldani. Talvez tenha sabido da conversão ao Islamismo no início de novembro de 1666. Nos escritos de Garcia Soldani, há uma clara referência ao significado oculto da história de Shabatai Tzevi para o mundo cristão. Criado nos ensinamentos do Cristianismo, Soldani explica que a maioria dos católicos entende o episódio envolvendo o falso messias como uma profecia que se concretiza. Ele acha também que Shabatai Tzevi representa um dos tantos falsos messias reverenciados pelos judeus após a vinda de Cristo. Para ele, os judeus são incrédulos, cegos e carentes de Providência Divina. PALAVRAS FINAIS A obra escrita por Antônio Garcia Soldani é importante por vários motivos: 1. É o primeiro texto escrito em espanhol por um converso apóstata da fé; enquanto outros conversos do século ARTIGO 22 17 não demonstraram nenhum interesse pelo messianismo e, nem muito menos pelo episódio de Shabatai Tzevi. 2. Não há dúvida de que as poucas páginas escritas por Soldani trazem as principais etapas da história de Shabatai Tzevi, incluindo dados biográficos indispensáveis, duas das três iluminações vivenciadas por Shabatai Tzevi, a efervescência messiânica ocasionada pelo personagem nas diversas comunidades judaicas e, finalmente, a islamização. 3. Diante das numerosas tentativas de comparar Shabatai Tzevi a Cristo, Soldani coloca ante seu leitor os conceitos de falso e verdadeiro messias. 4. Diferente de apóstatas atuantes em comunidades judaicas da Europa Ocidental, Garcia Soldani não sustenta sua versão em informantes. Ele prefere trazer sua própria versão com dados apurados em Livorno. 5. É bastante difícil saber a difusão e repercussão do texto “Abreviado e devoto assumpto” de Garcia Soldani. Certamente, esta obra foi escrita para um público culto, mas não sabemos quem a imprimiu ou quantas cópias foram impressas. A introdução a Carlos II, rei de Espanha, sinaliza um marcado interesse dos círculos reais neste tipo de literatura. 6. O texto do judeu-converso Soldani não foi reimpresso nos países da Europa Ocidental, o que demonstra uma exclusividade em relação ao conteúdo. 7. A obra de Soldani faz parte de uma literatura de apologia cristã focada no messianismo de Shabatai Tzevi. Todos estes textos antijudaicos são tendenciosos e foram escritos no decorrer do século 17, em quase todas as línguas da Europa. BIBLIOGRAFIA AMZALAK, M.B., Shabbetahai Sevi – Uma carta em português do século XVII em que se testemunham factos relativos a sua vida. Lisboa 1925. ATTIAS, M., A Sepharadic Romancero. STUDIES & REPORTS. Ben Tzvi Institute for Research on Jewish Communities in the Middle East. Vol. 1, Jerusalem 1953. HEYD, U., Teudá turquit al-Shabatai Tzevi. TARBIZ 25, págs. 337-339. Lettera mandata da Constantinopoli a Roma...etc. Relation de la veritable Imposture du Faux Messie des Juifs. Nomme Sabbatay Sevi, juif native de Smyrne, maintenant nomme Achis [=Aziz] Mehemet Aga, Turc Portier du Serrail du Grand Seigneur. Éscrite de Constantinople le vingt-deuxième Novembre 1666 par un Religieux digne de Foy Fidelle tesmoin de ce qu´il ecrit, et envoyée a un de ses amis a Marseille. Avignon, chez Michel Chastel, 1667, 51 págs. SIMONSOHN, S., A Christian Report from Constantinople regarding Shabbathai Sevi (1666). JJS XII, 1961, págs. 33-58. SOLDANI, Antônio Garcia, Abreviado y devoto assumpto cathólico sacado de la Sagrada Escritura contra la ceguedad y engaño de los pérfidos Iudíos… Pequeña Historia del Falso Mesías de los Iudíos (Sabaday Giby) sucedido en la Turquía del año 1666. SCHOLEM, Gershom, Sabbatai Sevi: The Mystical Messiah: 1626-1676, Routledge Kegan Paul, London, 1973. (*) O autor é historiador e educador, PHD pela Universidade Hebraica de Jerusalém. Professor titular da pós-graduação no Departamento de Artes Plásticas da FAAP em São Paulo e Ribeirão Preto; sócio fundador da Sociedade Genealógica Judaica do Brasil e membro do Congresso Mundial de Ciências Judaicas de Jerusalém. Colaborações e artigos inéditos são muito bem vindos Podem ser enviados à Redação por e-mail ou CD, em arquivos de extensão “doc”ou “txt”. As referências bibliográficas obedecem às disposições normativas da ABNT-NBR 6023. Fotos e ilustrações devem ser escaneadas em 300 dpi. Apreciamos sugestões e aceitamos também críticas construtivas. O envio é para [email protected] O endereço do Arquivo Histórico Judaico Brasileiro é Rua Estela Sezefreda, 76 - CEP 05415-070, São Paulo - SP 23 ARTIGO Viver em Higienópolis - diversidade cultural LUCIA CHERMONT * O texto que segue envolve algumas das reflexões que desenvolvi no segundo capítulo da minha dissertação de mestrado, que busca apreender a vivência e a experiência de alguns judeus que optaram por morar no bairro de Higienópolis e arredores. A única pessoa entre os entrevistados que morou no bairro nos anos de 1940 e que mencionou as paisagens anteriores à verticalização do bairro, com bastante nostalgia, foi a Sra. Olívia Haftel. Ela se lembra de um bairro quase sem comércio, em que o único ponto de táxi ficava na Praça Vilaboim. Para ela, no bairro de sua infância, a quantidade de prédios e de judeus era muito baixa. Ela se refere a estes dois elementos, a verticalização e os judeus que vieram depois da família dela, de forma pouco apreciada. Ainda em tom de intimidade com o território que considera seu, enumerou os primeiros prédios que surgiram: “não acompanhei em datas, mas lembro bem”. Ela comenta que geralmente se lembra do local e do nome do arquiteto ou do construtor, dependendo do prestígio que estes possuem. Em sua narrativa, vão surgindo os nomes – Armando Borg, Artacho Jurado, Lindenberg – e das ruas, avenidas e praças do bairro – Sabará, Higienópolis, Maranhão, Vilaboim, num cruzamento de nomes renomados com o mapa do bairro, num jogo de reciprocidade de prestígio e valorização do bairro e dos construtores. Sobre os antigos moradores da região, a elite paulistana e os casarões, somente a Sra. Olívia e a Sra. Myriam fazem alguma menção à existência deles. Os outros não tinham conhecimento, nem se relacionavam com esse grupo ou com a memória da constituição dessa territorialidade no bairro. Os nomes das famílias Cunha Bueno e Ademar de Barros vêm à lembrança da Sra. Olívia, assim como o local onde habitavam. Ela cita o nome da rua, se era na esquina, faz referência ao que virou atualmente e lembra: “Na esquina, onde era a antiga Polícia Federal, morava a família Cunha Bueno... eles tinham um filho louco e esse filho morava no subsolo. E a gente tinha um medo de passar de manhã cedo, ele gritava, porque ele tinha ataques. [...] o Ademar de Barros morava lá embaixo. Eu me lem- FOTOTECA - AHJB bro dos filhos do Ademar de Barros, o Ademarzinho que era gordo, ele ia andar de motocicleta aqui no Pacaembu.” [1] Myriam Chansky, que vivenciou e participou do processo de verticalização, relatou com pesar a destruição da paisagem e de algumas mansões para prédios. Para ela, as memórias das mansões estão ligadas às famílias que ali moravam: “Quem morava num dos lados do meu prédio na Albuquerque Lins? Era a família do Ademar de Barros... Eu morava no 16˚ andar; então, eu via toda a casa e a casa dele tinha 1 Entrevista concedida a Lucia Chermont por Olívia Haftel. São Paulo, 23/ 01/ 2010. ARTIGO 24 uma ligação com a rua de trás, com a Basílio Machado. Ele tinha outro terreno... tinha duas frentes, só que ninguém sabia. Tinha ainda sobrado alguma coisa da família Simonsen na São Vicente de Paula... eu vi, lá nesse pedaço onde eu morava, mansões maravilhosas que foram vendidas e demolidas.” [2] A avaliação da Sra. Myriam sobre o adensamento de judeus no bairro é diferente da Sra. Olívia. A Sra. Myriam, quando casou, mudou para os arredores de Higienópolis. Logo, mudou-se temporariamente para os EUA, devido à pós-graduação que seu marido faria naquele país. Voltou em 1962, num bairro que, progressivamente, se foi tornando bastante judaico. Para ela, essa transformação foi muito positiva, pois todos seus amigos do Bom Retiro foram morar em Higienópolis. Ela lembra que não tinha quase nenhum prédio no entorno, mas que logo começou o boom das construções. Ela acredita que a maioria dos edifícios construídos era de engenheiros e construtores judeus, que tinham construído os prédios no Bom Retiro e estavam, naquele momento, construindo e se mudando para Higienópolis. A Sra. Myriam relata também que a saída do Bom Retiro e a entrada no bairro de Higienópolis foi um marco importante em sua vida e na de seus amigos: “os judeus que estavam ‘bem de vida’, mesmo os profissionais liberais, já tinham mudado para Higienópolis. Depois, os que eram os donos de confecções também se mudaram para Higienópolis” fato que ressalta que a saída para o novo território representava uma solidificação do novo status social do seu núcleo. Marcou a memória dos entrevistados estabelecidos no bairro na década de 1950, a chegada dos judeus do Egito, em função do nacionalismo de Nasser, da Guerra do Canal de Suez em 1956/57, considerada, pelo demógrafo Rene Decol [3], como a última grande corrente imigratória de judeus para o Brasil. Alain Bigio, ele mesmo imigrante do Egito, que chegara ao Brasil em 1953, num período em que a saída do Egito era mais fácil, pois não havia apreensão das contas bancárias nem desapropriação dos bens e limite de dinheiro para sair do país. Relata o esforço da comunidade judaica, de sua própria família e dos judeus egípcios estabelecidos aqui para ajudarem a imigração deste grupo para o Brasil. Segundo ele, esta se deu por meio das cartas de chamada, pela mobilização das instituições de auxílio ao imigrante, como a HIAS[4], e pelo órgão representativo comunitário, a Federação Israelita do Estado de São Paulo (FISESP)[5]. Deu-se também pela estratégia comunitária de alugar prédios inteiros para acomodar aqueles que não tinham recursos para se estabelecerem no primeiro momento. A opção desses imigrantes pelo bairro de Higienópolis se deu em função da proximidade com o local da primeira moradia, um edifício na Avenida São João, alugado pela comunidade para acolhê-los. A denominação de “edifícios dos egípcios” ficou marcada. O Sr. Alain lembra que, nessa época, morava com tios e primos em uma casa alugada, que tinha um grande jardim, e os filhos dos novos imigrantes judeus egípcios vinham brincar e os casais iam visitá-los. Nessa época, ganharam vários novos amigos. Buscando apreender como se deu o encontro no bairro, ou não, e as tensões entre as várias origens, várias realidades se apresentam. De maneira geral, os grupos ficaram divididos territorialmente entre os judeus asquenazi e sefaradi, mas, por exemplo, na narrativa do Rabino Jacob Begun, asquenazi ortodoxo, ele relata que, na década de 1970, quando fundou uma pré-escola no bairro de Higienópolis, o público que a frequentava era majoritariamente de judeus sefaradi. O Rabino é um dos poucos que transpõem a questão das territorialidades asquenazi/sefaradi. Ressalta, entretanto, com sentimento de orgulho que permeou todo o seu relato, que fundou a primeira sinagoga de rito asquenazi do bairro, numa sala improvisada da escola, cujos frequentadores eram pessoas da redondeza, judeus asquenazi. Outro intercâmbio, também relatado pelo Rabino Jacob Begun, foi a respeito da inauguração da sinagoga dos judeus da Mooca, na Rua Piauí. Segundo ele, na época da construção foi falar com a liderança da sinagoga para construírem uma mikve[6]. Ele conta que, como a sinagoga da Rua Piauí naquele momento não tinha um rabino, ele explicou a importância da construção de uma mikve, que, segundo o Talmud[7], é mais importante que a construção de uma sinagoga, para garantir a pureza da família[8]. Mais significativo acerca dos estranhamentos e das tensões entre judeus asquenazi e sefaradi no bairro - não no que tange a casamentos ou Bar Mitzvá, quando as pessoas vão festejar uma ocasião especial, mas nas rezas diárias - é o relato do Sr. Leon Diksztejn. Ele diz que, certa vez, foi à sinagoga Mekor Haim rezar kadish[9] para o seu pai. “[...] entre uma reza e outra, tinha uma aula. Aí o Rabino era o Dichi, o velho, deu a aula toda em árabe. (risos) 2 Entrevista concedida a Lucia Chermont por Myriam Chansky. São Paulo, 16/10/ 2009. 3 DECOL, René. Imigrações urbanas para o Brasil: o caso dos judeus. 1999. Tese de Doutorado em Demografia – Dpto. de Demografia, Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Unicamp, São Paulo, 1999. 4 Hebrew Immigrant Aid Society, fundada em 1881 nos EUA, para ajudar os judeus oprimidos e perseguidos pelo mundo. 5 Entidade que visa reunir a comunidade judaica do estado de São Paulo. Foi fundada em 23 de dezembro de 1946, com o intuito de atender os imigrantes 6 Banho ritual, por imersão, destinado à purificação. 7 Conjunto de produção literária do texto bíblico formado pela Guemará e pela Mishná. 8 Segundo as leis judaicas, a mulher casada deve ir à mikve, se purificar depois da menstruação. 9 Nome dado à prece especial dita regularmente nas rezas cotidianas e em enterros em memória dos entes falecidos, na qual se dá ênfase à glorificação e santificação do nome de Deus. Geralmente, é realizada pelos filhos ou parentes próximos do falecido. judeus que fugiam da Europa, organizar o ensino e representá-los politicamente. Site: <www.fisesp.org.br>. 25 Terminando a aula, sabe o que ele perguntou? Vous avez compris?, em puro francês (risos). Si je compris? Non (risos) Vous avez compris? Pode ser que a rotina fosse outra, mas, naquele dia, ele deu aula em árabe. Bom, você perguntou se eu frequento a Mekor Haim. Então, não adianta muito frequentar a Mekor Haim.”[10] Ele relatou com muito humor a distinção – nada sutil – que o Rabino havia feito dele em relação aos frequentadores habituais da sinagoga, judeus sírios e libaneses, que compreendiam tanto o árabe como o francês. Para ele, rezar na sinagoga sefaradi não era problema nenhum. Todavia, os indícios de que ele não era dali, que era um estranho, foram sentidos e compreendidos por ele, que nunca mais voltou. A Sra. Myriam relatou sua percepção da ocupação do bairro por outros judeus – primeiro, os egípcios e depois os sírios e libaneses – ao caminhar pelo bairro, nas feiras e na vizinhança. Já para Victor Sayeg, que saiu do núcleo judaico sefaradi da Mooca, núcleo de concentração de judeus do Oriente Médio, incluindo sírios e libaneses, o encontro com os judeus asquenazi, que tinham outros costumes, deu-se propriamente quando se estabeleceu com a família no bairro de Higienópolis. Segundo ele, já frequentava o clube Hebraica mesmo quando morava na Mooca, mas a grande proxi10 Entrevista concedida a Lucia Chermont por Leon Diksztejn. São Paulo, 21/ 04/ 2010. Sinagoga Mekor Chaim, São Paulo - FOTOTECA AHJB ARTIGO midade com o seu núcleo abafava a percepção dos costumes diferentes dos demais grupos. Na Mooca, eles eram como uma “tribo”. Eram somente judeus sefaradi, e tinham acesso apenas às tradições e costumes dos judeus sefaradi.. A mudança para Higienópolis, que não era um território somente sefaradi, fez com que ele percebesse, pela primeira vez, costumes diferentes dos seus. Quando perguntei se o hábito da família frequentar a sinagoga se alterou com a mudança de bairro para Higienópolis, ele respondeu que não. A mudança mais significativa, segundo ele, foi que não havia rabino na sinagoga da Mooca; por isso, a observância aos rituais religiosos não era tão rigorosa. Na sinagoga da Rua Piauí, contrataram um rabino e toda a comunidade foi se tornando mais religiosa. Ele faz uma menção à imigração dos sírios e libaneses na década de 1970 como um fator que também influenciou o aumento da religiosidade da sua comunidade. Para ele, esses grupos que chegaram eram mais observantes, pois eram discriminados nos países de origem. Aqui, encontraram um grupo que, por um longo período, tinha se agregado socialmente, se assimilado e estava sem orientação religiosa. O encontro desses dois grupos – da Mooca, com o grupo que chegou em 1970 – gerou um aumento da religiosidade no grupo todo. Quando fazia a reconstituição da chegada dos judeus ao bairro, relatando que o grupo da Mooca chegou primeiro, sempre se referia aos judeus sírios e libaneses, incluindo os egípcios, sem fazer menção aos as- ARTIGO 26 quenazim do Bom Retiro, por exemplo. Isso demonstra que judeus asquenazi e sefaradi, mesmo habitando o mesmo espaço, não compartilhavam várias facetas da vida. Porém, mesmo dentro do grupo sefaradi – egípcios, sírios e libaneses - encontrei focos de tensões. O Sr. Alain Bigio, em sua narrativa, tem uma explicação do porquê de a sinagoga da Rua São Vicente de Paulo, a Mekor Haim, não ser predominantemente de judeus egípcios atualmente, mas sim dos sírios e libaneses. Segundo ele, os judeus que vieram do Egito eram culturalmente sefaradi; mesmo aqueles com sobrenomes de origem asquenazi acabavam assimilando à cultura sefaradi. No Egito, eles não tinham sinagogas distintas, para as linhas religiosas: ortodoxas, conservadoras e reformistas; eram todos simplesmente judeus. O costume era o de que os mais próximos e ativos na sinagoga fossem mais literais na observância e os menos próximos fossem menos, mas todos frequentavam a mesma sinagoga. Ninguém fundava outra sinagoga mais liberal ou voltada para outro tipo de interpretação das leis judaicas. A sinagoga Mekor Haim foi fundada pelos judeus egípcios com essa estrutura que absorvia as diversidades no grau de observância religiosa dos frequentadores. Houve um momento, segundo o Sr. Alain, que os ortodoxos tomaram conta da sinagoga e começaram a expulsar os menos observantes, motivo que fez com que os judeus egípcios se afastassem do núcleo que tinham construído. Para ele, o entrosamento com a comunidade brasileira e a judaica asquenazi era inevitável; assim, ele relata que muitos filhos de judeus egípcios preferem, muitas vezes, frequentar sinagogas mais liberais ou mesmo outras de orientação sefaradi, mas não tão ortodoxas como a Mekor Haim. Um território judaico no bairro de Higienópolis - relatado como totalmente desvinculado das questões religiosas e das tensões de origens asquenazi/sefaradi, bem como entre judeus e não judeus - foi o Círculo Israelita. Foi mencionado por dois entrevistados como sendo um local de lazer que promovia a sociabilidade entre judeus e não judeus. O Sr. Arieh Halpern relata que, quando morou em Higienópolis, de 1969 a 1977, jogou futebol no clube do Círculo, chegando a disputar o Campeonato Paulista. No time do Círculo, havia dois judeus, ele e outro. A questão étnica não entrava nas qualificações exigidas para participar do time. Já a Sra. Myriam contou que seu sogro, depois que ficou viúvo, foi morar com ela e seu marido, e que ele jogava cartas no Círculo Israelita todos os sábados. Ela contou também que, por um motivo que desconhece, o pessoal que jogava passou a frequentar outro clube, o Piratininga, também no bairro. O fato de o Círculo ser uma instituição judaica não o beneficiou nem impediu a mudança dos jogadores para o Piratininga, que não era um clube judaico. As fronteiras tinham territórios em algumas atividades nas quais a etnização fazia sentido, mas, em outras, não, como o time de futebol ou o local do carteado da terceira idade. Outra instituição do bairro que foi citada pelos entrevistados foi o Colégio Hebraico Brasileiro Renascença. Myriam Chansky lembra-se de quando alugaram uma casa para fazer uma sede da pré-escola em Higienópolis e de como foram abrindo as séries gradualmente. O Colégio Renascença, que funcionava no Bom Retiro, inaugurou uma sede no bairro de Higienópolis, na esquina da Rua Bahia com a Rua Pará, em 1968. Isso ocorreu após as alunas normalistas da escola terem realizado uma pesquisa que envolvia um longo questionário com as famílias judaicas residentes no bairro de Higienópolis e constatarem a existência de um número significativo dessas na região, as quais tinham interesse em matricular seus filhos em uma escola judaica. A nova sede contava com jardim de infância, primeira e segunda séries do primário[11]. Para Myriam Chansky, a vivência na Esco11 CHERMONT, Lucia. Judeus em Higienópolis: dois momentos de reformulação urbana em São Paulo. In: ENCONTRO NACIONAL DO ARQUIVO HISTÓRICO JUDAICO BRASILEIRO, 4.: memória e identidade – 300 anos de nascimento de Antônio José da Silva, o judeu, 2008, São Paulo. Anais... São Paulo: Arquivo Histórico Judaico Brasileiro, 2008. Sinagoga Monte Sinai. FOTOTECA - AHJB 27 la Judaica Renascença de Higienópolis foi uma experiência muito importante para seus filhos, pois grandes amizades formaram-se e perduraram por toda a vida. Sobre o Renascença de Higienópolis, a Sra. Póla fez um relato interessante: quando fecharam a sinagoga da Penha, o rolo de Tora[12] foi doado para a sinagoga do Colégio Renascença. Em troca, todos os que tinham cadeira na sinagoga da Penha ganharam uma cadeira na sinagoga do Colégio Renascença. As sinagogas são instituições privadas; geralmente, um grupo de pessoas aluga ou compra uma casa ou terreno e instaura um templo no local. Essas mesmas pessoas e os frequentadores do templo financiam a compra ou aluguel e tudo o que for necessário para a sobrevivência dele. Por isso, é comum venderem cadeiras na sinagoga para ajudar na sua manutenção. Desta forma, no período das Grandes Festas, Rosh Hashaná e Iom Kipur – respectivamente, Ano Novo Judaico e Dia do Jejum – quando as sinagogas ficam lotadas, as pessoas que compraram cadeiras têm lugar reservado. A negociação do rolo de Torá da sinagoga da Penha com a sinagoga do Colégio Renascença se deu, segundo a Sra. Póla, porque muitos judeus da Penha vieram morar em Higienópolis. Quando a sinagoga fechou eles já estavam estabelecidos neste bairro. Busquei mostrar, neste breve recorte da minha dissertação de mestrado, um pouco da forma como os entrevistados vivenciaram as tensões religiosas e de origem, no bairro de Higienópolis e nas suas vidas. 12 Contém os Cinco Livros de Moisés (o Pentateuco) escritos à mão no hebraico original da direita para a esquerda, sem pontuações, vírgulas, pontos, números de capítulos ou versículos. É escrito sobre pergaminho, enrolado ao redor de duas hastes de madeira ornamentadas e adornados com acessórios especiais. É (geralmente) guardado na Arca de cada sinagoga, e rotineiramente lido em voz alta em todas as sinagogas. ARTIGO BIBLIOGRAFIA Periódicos KHOURY, Yara A. Narrativas orais na investigação da história social. Revista do Programa de Estudos Pós-Graduados em História e do Departamento de História –1989. PORTELLI, Alessandro. A Filosofia e os fatos: narração, interpretação e significado nas memórias e nas fontes orais. Tempo - Revista do Departamento de História da UFF, Rio de Janeiro, vol. 1, n. 2, p. 59-72, 1996. 128 THOMPSON, Alistair. Recompondo a memória: questões sobre a relação entre a história oral e as memórias. Revista do programa de estudos pós-graduados em História e do Departamento de História – PUC-SP, n. 15, p. 51–84, abr. 1997. Teses e dissertações DECOL, René. Imigrações urbanas para o Brasil: o caso dos judeus. 1999. Tese (Doutorado em Demografia)– Dpto. de Demografia, Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Unicamp, Campinas, SP, 1999. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BARTH, Fredrik. Grupos étnicos e suas fronteiras. In: POUTIGNAC; STREIFF-FENART. Teorias da etnicidade. São Paulo: Editora Unesp, 1997. BIGIO, Alain. Travessia de Ismaleyah a Higienópolis: a história de um judeu egípcio contemporâneo. São Paulo: Edição Privada, 2008. BOSI, E. Memória e sociedade. São Paulo: Companhia das Letras, 1994. CHERMONT, Lucia. Judeus em Higienópolis: dois momentos de reformulação urbana em São Paulo. In: ENCONTRO NACIONAL DO ARQUIVO HISTÓRICO JUDAICO BRASILEIRO, 4.: memória e identidade – 300 anos de nascimento de Antônio José da Silva, o judeu, 2008, São Paulo. Anais... São Paulo: Arquivo Histórico Judaico Brasileiro, 2008. FISCHER, M. A etnicidade e os estratagemas da memória. In: CLIFFORD, J; MARCUS, G. (Orgs.). Writing Culture. Berkeley; Los Angeles; London: Univ. of California Press, 1986. THOMPSON, E. P. Introdução: costumes e cultura. In: ______. Costumes em comum: estudos sobre a cultura popular tradicional. São Paulo: Companhia das Letras, 1998. p. 9-24. (*) Lucia Chermont - Graduada em História PUC-SP; Pósgraduada em Comunicação pela ESPM; mestre em História Social pela PUC-SP. Coordenadora de Atendimento e pesquisa do AHJB. Alunas do Colégio Renascença. FOTOTECA - AHJB LIVROS 28 Os judeus italianos refugiados do fascismo e o antissemitismo do Governo Vargas, 1938-1945 Saul Kirschbaum * Tão-somente guarda-te a ti mesmo, e guarda bem a tua alma, que não te esqueças daquelas coisas que os teus olhos têm visto, e não se apartem do teu coração todos os dias da tua vida; e as farás saber a teus filhos, e aos filhos de teus filhos. Deuteronômio 4:9 De autoria de Anna Rosa Campagnano, a EDUSP vem de publicar In Difesa della Razza: Os judeus italianos refugiados do fascismo e o antissemitismo do Governo Vargas, 1938-1945 (São Paulo, 2011, 352 pp.), pondo à disposição do público brasileiro um relato amplamente documentado das peripécias que tiveram de enfrentar judeus italianos para emigrar para o Brasil, deixados sem alternativa em face do aguçamento das perseguições que os ameaçavam na terra natal. Quando se fala nas vítimas do Nazi-Fascismo, a ideia que logo vem à mente é a Shoá, a catástrofe que se abateu sobre milhões de judeus de toda a Europa, assassinados nos campos de extermínio instalados na Polônia ou pelos Einsatzgruppen. Em relação à Itália, a primeira impressão é de que lá o sofrimento dos judeus foi muito menor, uma vez que Mussolini, apesar de aliado de Hitler, não tinha implantado medidas antissemitas, ou pelo menos tinha resistido muito às pressões alemãs neste sentido. Na verdade, o Fascismo, em sua fase de ascensão, até mesmo criou leis que fortaleceram as comunidades judaicas e recebeu apoio explícito e filiação de um número significativo de judeus. Com a chegada de Hitler ao poder na Alemanha, a Itália se constituiu em lugar de abrigo para judeus alemães e, mais tarde, austríacos. Consta que em 1938 viviam na Itália cerca de 10 mil refugiados judeus. Mas este “paraíso” não se manteve por muito tempo. Em novembro de 1938 foram promulgadas várias leis anti-judaicas, conhecidas como In Difesa della Razza. Os judeus foram definidos em bases raciais e excluídos do serviço civil, das forças armadas, do Partido Fascista e da propriedade de empresas que empregassem muitos italianos. Todas as naturalizações obtidas a partir de 1º de janeiro de 1919 foram anuladas, e todos os judeus estrangeiros e desnaturalizados receberam ordem de sair da Itália até março de 1939. Os profissionais liberais judeus tiveram sua atuação restrita a clientes e pacientes judeus. Os casamentos mistos foram proibidos. Foram estabelecidos limites para a posse de propriedades, especialmente terras agrícolas. Cerca de 10% dos judeus emigraram, e outros 10% se converteram. Com a ocupação da Itália pela Alemanha, em setembro de 1943, a situação ficou muito mais trágica. Os judeus passaram a ser deportados; de fato, já em outubro de 1943, mil judeus de Roma foram deportados para Auschwitz; no total, cerca de 8 mil judeus italianos foram aniquilados nos campos de extermínio alemães. À medida que a situação se agravava, os judeus empreenderam todos os esforços para emigrar, para encontrar lugares seguros. Muitos tentaram vir para o Brasil, e se depararam com o problema que costuma atormentar os refugiados: as vítimas são vistas como culpadas de seus infortúnios e os países que poderiam recebê-los impuseram toda a sorte de dificuldades, demorando a emitir vistos de entrada, ou simplesmente se negando a emiti-los; estabelecendo exigências que certamente não poderiam ser satisfeitas pelos refugiados, como documentos de naturalidade, garantia de emprego ou patrimônio e impedindo-os de desembarcar de navios que, assim, navegavam de porto em porto carregando uma massa humana cada vez mais desesperada. Uma situação que deve ser lembrada e transmitida aos filhos e aos filhos dos filhos. Anna Rosa Campagnano, doutora em História pela USP, traz para nosso conhecimento uma minuciosa pesquisa, resultado da compilação de documentos, muitos dos quais até então desconhecidos, armazenados no Centro Bibliográfico Judaico, na Unione delle Comunità Ebraiche Italiane, no Arquivo Histórico do Itamaraty, no Arquivo Histórico Judaico Brasileiro, nos cemitérios judaicos da Vila Mariana e do Butantã, nos arquivos da Chevra Kadisha em São Paulo e no Rio de Janeiro, entre outros. Para abranger toda a extensão da tragédia, Campagnano procura, por um lado, as raízes do estabelecimento judaico na Itália desde o Ressurgimento, em 1861; por outro, a crescente inclinação do governo Getúlio Vargas para o regime de Benito Mussolini. Leitura indispensável para quem se sente comprometido com a injunção de não esquecer, e de fazer saber aos filhos e aos filhos dos filhos. (*) O autor é doutor em Língua Hebraica, Literatura e Cultura Judaica pela FFLCH da Universidade de São Paulo. 29 GENEALOGIA INDICAÇÕES REVISTAS ESPECIALIZADAS Há várias revistas especializadas em genealogia judaica. Neste número destacamos duas, publicando uma página de cada uma dessas: REVUE DU CERCLE DE GÉNÉALOGIE JUIVE Editada pelo CÉRCLE DE GÉNÉALOGIE JUIVE 45, RUE LA BRUYÈRE, 75009, PARIS FRANCE www.genealog.org SHEMOT Editada pela JEWISH GENEALOGICAL SOCIETY OF GREAT BRITAIN 33, SEYMOUR PLACE, LONDON, W1H 5AU www.jgsgb.org.uk/ A JEWISH VOICE FROM OTTOMAN SALONICA: THE LADINO MEMOIR OF SA´ADI BESALEL A-LEVI. Stanford: Stanford University Press, 2012, 372 páginas. Em 1731 chegou a Salonica um tipógrafo judeu vindo da Holanda, que rapidamente inseriu-se naquele mundo vivido em ladino. Filho ou neto deste tipógrafo, Sa´adi Besalel a-Levi (1820-1903), filho de Besalel a-Levi Ashkenazi e Merkada (Morpurgo) Kovo, cantor e compositor, editor de textos religiosos e seculares em hebraico e ladino e do jornal La epoka, viveu o momento de transição desta comunidade na entrada para a era contemporânea e laica. Rebelde, ele se indispôs com rabinos e foi excomungado. Amargurado escreveu as memórias em ladino e caracteres soletreos. É uma visão contestadora de aspectos desta comunidade e também um documento linguístico. O manuscrito passou ao filho, que deixou para o sobrinho, e este ao filho, o médico carioca Sadi Sílvio Levy – pai, dentre outros, de Joaquim Vieira Ferreira Levy, alto funcionário na área da Fazenda Pública nos governos FHC e Lula - que o doou em 1977 para o Jewish National and University Library em Jerusalém, com a intenção de ser publicado numa edição bilíngue. Com edição e introdução de Aron Rodrigue e Sarah Abrevaya Stein, tradução e transliteração de Isaac Jerusalmi ele foi publicado neste ano como era o desejo do seu doador. DIREITO 30 AS JUDIARIAS EM PORTUGAL Aspectos jurídicos e históricos uma abordagem Henrique Czamarka* Ao Prof. David José Perez, in memoriam, ilustre sábio e saudoso mestre, de quem muito aprendi. SUMÁRIO 1. Legislação aplicável aos judeus: Ordenações Afonsinas. Relações com o Estado e com os cristãos. 2. A presença dos judeus em Portugal (Idade Média). Regiões habitadas. Atividades desenvolvidas. 3. A administração interna das judiarias. Os “Arrabys das Comunas”. Aplicação dos preceitos religiosos ao cotidiano. 4. A expulsão dos judeus, de Portugal. Conversão forçada. A decisão do Rei D.Manoel (1497). 5. O ocaso. A memória remanescente. 6. Bibliografia. LEGISLAÇÃO APLICÁVEL AOS JUDEUS: ORDENAÇÕES AFONSINAS. RELAÇÕES COM O ESTADO E COM OS CRISTÃOS. Em termos de consolidação jurídica das disposições baixadas no Reino de Portugal, inclusive, no que concerne aos judeus, foram consolidadas leis sob a denominação de “Ordenaçõens do Senhor Rey D. Affonso v.” chamadas de Ordenações Afonsinas, das quais destacamos: Título LXVI: Que o Judeo nom tenha mancebo Chrisptaõ por soldad, nem a bem fazer. Título LXVII: Que os jJudeos nom entrem em casa das Chrisptaãs, nem as Chrisptaãs em casa dos Judeos. Título LXVIII: Que os Judeos nom arrendem Igrejas, nem Moesteiros, nem as rendas delles. Título LXVIIII: Que os Judeos nom sejam escusados de pagar Portagem, nem avudos por vizinhos em alguma Villa, ainda que hi morem longamente. Título LXX: Que os Judeos nom gouvam do privilegio, e beneficio da Ley da Avoenga. Título LXXI: Que os Arrabys das Comunas guardem em seus Julgados os seus direitos, e custumes. Título LXXII: De como os Judeos, que se tornaõ Chrisptaõs, ham de dar Carta de quitaçom aas molheres, que ficaõ Judias, passado hum anno. Título LXXIII: De como ham de seer feitos os contrautos antre os Chrisptaõs, e os Judeos. Título LXXIIII: De como as Comunas dos Judeos ham de pagar o serviço Real. Título LXXV: De como os Judeos nom ham de levar armas quando forem a receber Elrey, ou fazer outros jogos. Título LXXVI: De como os judeos ham de viver em Judarias apartadamente. Título LXXVII: Que os judeos nom sejam presos por dizerem contra elles, que se tornarom Chrisptaaõs em Castella, salvo seendo delles querellado. Título LXXVIII: Da forma em que ha de seer feita a doaçom, que ElRey fezer dos beens d’algum Judeo, por comprar ouro, ou prata, ou moedas. Título LXXVIIII: De como o Judeo converso aa Fé de Jesus Christo deve herdar a seu Padre, e a sua Madre. Título LXXX: Das penas, que averam os Judeos, se forem achados fora da Judaria despois do fino da Ooraçom. 31 DIREITO Título LXXXI: De como o Arraby Moor dos Judeos, e como outros Arrabys devem d’husar de suas Jurdiçooens. Título LXXXII: Que os Judeos nom sejam, presos por dizerem contra elles, que fizerom moeda falsa, ou comprarom ouro, ou prata, salvo seendo primeiro delles querellado. Título LXXXIII: Do Privilegio dado ao Judeo, que se trona Chrisptaaõ. Título LXXXIIII:Que o Judeo possa demandar sua divida ao Chrisptaaõ, posto que sejam passados vinte annos, nom embargante a Ley antes feita en contrairo. Título LXXXV: Que os Judeos nom sejam Officaaes d’ElRey, nem dos Iffantes, nem de quaeesquer outros Senhores. Título LXXXVI: Que os Judeos tragam sinaaes vermelhos. Título LXXXVII:Do Judeo, que rompe a Igreja per mandado d’alguum Chrisptaaõ. Título LXXXVIII: Que nom valha testemunho de Chrisptaaõ contra Judeo sem testemunho de Judeu, e o Juiz valha contra elles no que se passar perante elle. Título LXXXVIIII: Do que doesta Chrisptaaõ que foi Judeo, que responda sobrello perante o Juiz secular. Título LXXXX: Que o Judeo ao Sabado nom seja costrangido responder em Juizo. Título LXXXXI: Do Judeo, que bebe na taverna. Título LXXXXII: Se for contenda antre Chrisptaaõ, e Judeo, a quem perteencerá o conhecimento della. Título LXXXXIII: De como os Tabelliaaens dos Judeos haõ de fazer suas Escripturas. Título LXXXXIIII: Que nom façam tornar nenhum Judeo Chrisptaaõ contra sua vontade. Título LXXXXV:Do Judeu, que se torna Chrisptaaõ, e despois se torna Judeu. Título LXXXXVI: Que nenhum Judeu nom faça contrauto onzaneiro com Chrisptaõ, nem com outro Judeu. Título LXXXXVII: Se o Chrisptaaõ fez obligaçom ao Judeu por dinheiro, possa dizer, passados dous annos, que os nom recebeo. Título LXXXXVIII: Que as pagas, e entregas feitas pelos Chrisptaaõs, e Judeos, se possam fazer sem a presença do Juiz. Cabe destacar de tais disposições legislativas, que os judeus deveriam habitar em regiões muradas e fechadas por portas, chamadas de judiarias. Estas eram abertas, quando das denominadas orações de matinas e fechadas, recolhendo-se os judeus ao seu bairro “depois que o sino da oração for acabado de tanger” tal “sino da oração” era aquele para o denominado Ângelo (reza da noite), sendo que o fechamento das judiarias era submetido à vigilância de dois guardas reais, por força do disposto nas referidas Ordenações Afonsinas. No dizer de Elias Lipiner (Santa Inquisição: Terror e Linguagem): “Havia algumas exceções permissivas, encontrando-se entre elas uma assim redigida: se algum judeu for chamado de alguma tal pessoa, que deva ir à sua casa, ou lhe for grande necessidade ir lá por causa que ao cristão ou ao judeu seja mister, que possa lá ir, contanto que leve candeia e cristão consigo enquanto for, e vier pela vila; e assim o possam fazer físicos e cirurgiões, ou outros mesteirais, se para seus ofícios e misteres forem chamados.” A PRESENÇA DOS JUDEUS EM PORTUGAL (IDADE MÉDIA). REGIÕES HABITADAS. ATIVIDADES DESENVOLVIDAS. Difícil a fixação, ainda que aproximada da presença dos judeus, na Península Ibérica e, em particular, no território que veio a se tornar o Reino de Portugal. No dizer de J. Lucio de Azevedo, “não parece temerário supor terem vindo os primeiros judeus nas armadas dos Fenícios, seus vizinhos, e com a dispersão final da raça, após a tomada de Jerusalém pelos Romanos, encaminhasse muitos para junto dos seus irmãos, que na Ibéria hospitaleira e fecunda prosperavam.” (citado por Jorge Martins – “Portugal e os Judeus”). Entretanto, há provas evidentes de que, a partir do século X, constata-se a presença de judeus em Portugal, sendo que, em Santarém, existiu a mais antiga sinagoga do país, datada de 1147. No reinado de D.Dinis (1279-1325), por força das pressões crescentes do clero e da nobreza, havia tenaz oposição à presença de judeus, em altos cargos administrativos, levando-os inclusive ao uso de sinal identificador em público (chapéu cônico). Existem vestígios arqueológicos, em restos de estátuas e murais comprobatórios de tal fato. DIREITO 32 Induvidosa a existência da judiaria velha de Lisboa, onde foi edificada uma sinagoga, por D.Judas, Rabi-Mor, no reinado de D.Dinis (Samuel Schwarz, citado por Jorge Martins, in op cit). Numerosas judiarias existiam em Sua presença está comprovada, praticamente em todo o território lusitano. Destacam-se por sua importância, as de Lisboa (onde havia duas), Santarém, Évora, Coimbra, Obidos, Guimarães, Braga, Leiria, Setubal, Castelo de Vide, Bragança, Estremoz, Tomar, Belmonte, Lamego, Guarda, Porto e Marvão. Outrossim, os judeus exerciam à época diversas atividades profissionais e empresariais, destacando-se as dos médicos, artesãos, açougueiros (inclusive para efetuar o abate de animais, observado o ritual judaico) e tabeliães, para lavratura de atos notariais, como ainda existem até a data de hoje. Era frequente a existência destes tabeliães nas judiarias em hospitais, leprosários e cadeias, para cumprimento de penas por violação da legislação penal. Havia cemitério privativo dos judeus, campos santos, fora dos limites da maioria das judiarias de certo porte. Excepcionalmente, houve sepultamentos em cemitérios cristãos, quando as judiarias eram de pequeno porte. Cabe destacar que a judiaria de Faro continha a comunidade judaica mais antiga do Algarve. Dedicava-se à pesca e sua salga, além de ter lagares onde armazenavam vinho ou azeite não só para uso próprio como para exportação. Muito significativa é a referência a esta judiaria, pois, estabeleceu-se em Faro a primeira tipografia de Portugal, e dela saiu impresso, o Pentateuco sob a responsabilidade de Samuel Gacon. Geralmente, os trabalhos históricos especializados silenciam sobre uma atividade que não deixa de ser profissional por certo, em razão de um pudor que não tem lugar na pesquisa científica. Na idade média portuguesa, existiram “casas de mancebia”, isto é, prostíbulos. Aqueles encontrados nas judiarias, em geral as de maior porte, v.g. a de Lisboa, eram compostos por mulheres judias e o comércio do sexo fazia-se privativamente com homens de mesmo credo. Isto se explica já que, por força das normas da igreja, proibida estava a relação sexual de judeus com mulheres cristãs. A ADMINISTRAÇÃO INTERNA DAS JUDIARIAS. OS “ARRABYS DAS COMUNAS”. APLICAÇÃO DOS PRECEITOS RELIGIOSOS AO COTIDIANO. A administração interna das judiarias valia-se dos modelos da gestão, então,existente nas comunas e freguesias cristãs, tendo pessoas encarregadas da própria gover- nabilidade, geralmente exercida pelos assim chamados “homens de bem”. As questões de vária ordem surgidas entre os judeus decidiam-se em foro privilegiado, já que, frequentemente encontramos, na estrutura das judiarias, a presença de Arrabys (ou rabinos), para dirimi-las. A autoridade do Arraby excedia os limites da atividade religiosa, alargando-se, inclusive, para decisões sobre o cotidiano dos judeus e, em diversa ocasião, no relacionamento com as autoridades cristãs e até com o próprio rei. Algumas das judiarias possuíam um midrash para estudos do Talmude, e mikvot (casas de banho), para observância do ritual judaico. Aliás, em Tomar, após pesquisas arqueológicas, foi encontrada uma mikva perfeitamente identificada, além do prédio da sinagoga. Do mesmo modo, as casas que compunham as antigas judiarias apresentavam nas ombreiras das portas principais, ranhuras onde eram colocadas as mezuzot, as mesmas que ainda se mostram presentes nas casas judaicas, com a oração Shemá (ou reza de proteção aos lares ao Deus Único) em pergaminho em seu interior. A EXPULSÃO DOS JUDEUS DE PORTUGAL. CONVERSÃO FORÇADA. A DECISÃO DO REI D.MANOEL (1497). Em 1483, Tomáz de Torquemada foi nomeado inquisidorgeral na Espanha, oferecendo forte incremento à instalação de tribunais para aqueles que não eram cristãos. Fortaleceu-se o Reino Espanhol em 1492, unificado com a conquista de Granada. Em 31 de março, os assim chamados reis católicos Fernando e Isabel assinaram o Édito de Expulsão dos Judeus. Em grande número, foram batizados à força, mormente pela ação da rainha. Porém, em tal ambiente e temendo o agravamento de sua situação, os judeus fugiram da Espanha, em número aproximado de 150.000, a maior parte dos quais para Portugal. Por óbvio, eis que é bastante extensa a fronteira entre os dois países. Assim, as regiões limítrofes portuguesas foram aquelas que receberam o maior contingente de judeus fugidos da Espanha, em especial, cabe lembrar as judiarias que se formaram em Marvão, Castelo de Vide, Belmonte, entre outras. Em 05 de dezembro de 1496, o rei D.Manuel decreta, em Portugal, a saída dos mouros e judeus que “são filhos de maldição”, sendo que dita saída se deveria dar até o mês de outubro do ano seguinte, inclusive. Por outro lado, o rei português, com evidentes propósitos expansionistas, casa-se com a filha dos reinantes espanhóis Fernando e Isabel. Consequência imediata é a expulsão daqueles que 33 permaneceram em sua fé judaica e o batismo em massa daqueles outros que, no porto de Lisboa, aguardavam transporte para sua fuga de Portugal. O batismo forçado de milhares de pessoas nas condições acima indicadas, em 1497, acabou por ser conhecido como o Episódio dos Batizados em Pé, assunto tratado em profundidade pelo historiador Elias Lipiner, em erudito ensaio publicado em 1998, pouco antes de sua morte. (“Os Baptizados em Pé” – estudos acerca da origem da luta dos cristãosnovos em Portugal. Ed. Vega. 1998. 492 páginas). DIREITO BIBLIOGRAFIA (consultada) A – FONTE Ordenações Afonsinas – Livro 2º. – trabalho elaborado por Ivone Susana Cortesão Heitor, consultado no site http://www1.ci.uc.pt/ihti/proj/afonsinas/ B – ESTUDOS FERRO, Maria José Pimenta – OS JUDEUS EM PORTUGAL NO SÉCULO XIV. Instituto de Alta Cultura. Centro de Estudos Históricos. Lisboa. 1970 O OCASO. A MEMÓRIA REMANESCENTE. O período posterior a 1497 caracteriza-se como um dos mais tristonhos da história judaica. Os cristãos novos (assim chamados aqueles conversos que permaneceram no país) e os que continuaram professando a religião judaica secretamente foram submetidos, em grande parte, aos severos rigores da inquisição que, além de exercer com grave intensidade a tortura muitas vezes resultante em morte, frequentemente, condenava os ímpios (no seu dizer) ao “braço secular”, isto é, à morte na fogueira, na hipótese de serem capturados e, em esfinge, quando eram foragidos. Os bens dos sentenciados eram revertidos à propriedade do Tribunal do Santo Ofício , que lhes dava, por vezes, outros destinos. Qualquer que fosse a decisão condenatória, os infelizes condenados saíam nos chamados autos de fé, vestidos a caráter com os “sambenitos”, tristes espetáculos assistidos pelo populacho e autoridades civis e eclesiásticas, muitas vezes no terreiro do paço, em Lisboa. Atualmente, identificam-se as regiões das judiarias e das ruas que as compunham, com as seguintes denominações: rua dos judeus, rua nova, rua nova da judiaria, travessa da judiaria, antigas escadas da Esnoga (ou sinagoga), rua das escadas da Esnoga. FERRO TAVARES, Maria José – AS JUDIARIAS DE PORTUGAL. Edição CTT Correios de Portugal [Lisboa]. Julho de 2010 KAYSERLING, Meyer – HISTÓRIA DOS JUDEUS EM PORTUGAL. Introdução e notas Anita W. Novinsky. Editora Perspectiva. 2ª. Edição. São Paulo. 2009 LIPINER, Elias – SANTA INQUISIÇÃO: TERROR E LINGUAGEM. Editora Documentário. Rio de Janeiro. 1977 LIPINER, Elias – OS ARQUIVOS NACIONAIS DA TORRE DO TOMBO EM LISBOA E HISTORIOGRAFIA JUDAICA, in Em Nome da Fé (Estudos in memoriam de Elias Lipiner). Editora Perspectiva. São Paulo. 1999 MARTINS, Jorge – PORTUGAL E OS JUDEUS – Volume 1. Editora Nova Vega. Lisboa. 2006 SARAIVA, Antonio José – INQUISIÇÃO E CRISTÃOS NOVOS. Editorial Inova. Porto. 1968 (*) Henrique Czamarka - Bacharel e Licenciado em História, pela antiga Universidade do Estado da Guanabara, atual UERJ. VISITE-NOS. O ARQUIVO É SEU! É DE TODA A COMUNIDADE! Você pertence à comunidade judaica e quer que seusdescendentes também façam parte dela? Saber mais sobre seu passado significa ter condições de transmitir mais conhecimentos aos seus filhos. Você não está só. Visite-nos! Rua Estela Sezefreda, 76, Pinheiros - Tels. (55- 11) 3088-0879 - 2157-4124 ARTIGO 34 Memória Judaica do Brasil ISRAEL BLAJBERG * Quem passa por uma pequenina rua do bairro paulista de Pinheiros, próximo a Av. Rebouças, percebe uma construção cinzenta que se diferencia em meio ao casario tradicional da região. Mal se dá conta que por trás daquelas paredes cuja única identificação é uma pequena placa com a sigla AHJB encontra-se um dos grandes, talvez o maior repositório da memória judaica brasileira – o Arquivo Histórico Judaico Brasileiro. Alguns dias em São Paulo nos permitiram conhecer de perto esta fantástica instituição, que após se instalar em alguns endereços da cidade finalmente encontrou um local apropriado para seus fins, graças à doação do imóvel por parte de um casal sensibilizado pela importante missão a que se propõe o Arquivo. Uma dedicada Diretoria e corpo de voluntários, somado a um pequeno grupo de profissionais, permitiu ao ARQUIVO chegar ao patamar em que hoje se encontra. Logo fui recebido e instalado na sala de consultas, à entrada, onde os interessados recebem o primeiro atendimento, descrevendo as suas demandas e recebendo em seguida as caixas e demais materiais a serem examinados. Deste ponto privilegiado foi possível acompanhar o diaa-dia do Arquivo, naquela semana algo calorenta de março, 2012. Pessoas traziam documentos em doação. Surpresa, uma senhora apresenta um diploma original em pergaminho de um antepassado que fora diplomado na tradicional Escola Polytechnica do Rio de Janeiro, turma de 1924, a mesma em que me formei, 48 anos depois, em 1968! Lembrei daquela época, em que eu mesmo comprei o pergaminho e o levei a sede da Imprensa Nacional na Praça Mauá, para a devida impressão do diploma. Era igualzinho, só mudavam nomes e datas. Outro doador trouxe um manuscrito em polonês, datando de quase 100 anos, assinado e carimbado por um rabino. Cada dia grupos diferentes se reuniam, um de cultores do iídishe, outro de História Oral, mais um de organizadores da biblioteca, ao mesmo tempo em que importantes pesquisadores da historia judaica brasileira por ali passavam regularmente, examinando o rico acervo em busca de novas revelações para seus trabalhos, objeto também de visitas de diversos interessados. Portanto, o Arquivo é um lugar de memória viva. Nas di- versas caixas de documentos examinados, fragmentos de históricos episódios se revelavam a cada momento, enriquecendo com detalhes preciosos a narrativa. Era como se Frida e Egon Wolff estivessem eles mesmos ali mostrando o fruto do seu trabalho de décadas, cuidadosamente disposto em envelopes plásticos, reunidos em grupos devidamente identificados, numerados, catalogados. A meticulosidade germânica certamente facilitou o trabalho dos profissionais que tão bem implantaram no Arquivo o Fundo Casa Wolff, a partir de caixas e mais caixas vindas do Rio. É impressionante o aproveitamento ótimo de tanta informação reunida e organizada nos dois andares da residência original ampliada, espaço compacto mas agradável ao consulente, tudo em ambiente de fácil circulação, sob farta iluminação natural. Livros em iídishe, português, inglês, espanhol, revistas, jornais, documentos, fotos (mais de 40 mil) discos de vitrola, CDs, DVDs, filmes em celuloide, fitas cassete, cada material em seu nicho próprio, armários de aço, estantes ou arquivos deslizantes. As doações se sucedem, devidamente classificadas e tratadas em espaçosa mesa de trabalho sempre pronta, computadores, servidores, rede sem fio, reserva técnica, múltiplas duplicatas, espaços de reunião, enfim, uma ampla gama de ferramentas suporta o dia-a-dia do Arquivo, no que muito contribuiu um recente projeto com recursos da FAPESP. É como se estivéssemos em uma miniatura do Arquivo Nacional, instalado na antiga Casa da Moeda dos tempos do Distrito Federal. Apenas recentemente a sociedade brasileira passou a valorizar a preservação histórica, com arquivos, museus e demais entidades do setor se profissionalizando cada vez mais. O futuro certamente trará novos desafios ao Arquivo, na impressionante faina de manter viva a memória dos judeus brasileiros. Para tanto será fundamental um maior apoio, ajudando a fortalecer a instituição e colocando-a no merecido lugar junto com as grandiosas realizações dos setores cultural, religioso e social que demonstram a pujança da comunidade judaica paulista, e por que não, nacional. (*) Israel Blajberg - Escola de Engenharia [email protected] - [email protected] 35 ÍNDICE ÍNDICE DOS BOLETINS DO AHJB DE NÚMEROS 1 A 45 POR ASSUNTO ELABORADO POR ABRAHÃO GITELMAN I - ITEMIZAÇÃO GERAL AHJB Cartões Postais/Filatelia Cinema Ídiche Cinema Judaico Cristãos Novos Documentos Escolas e Educação Judaicas no Brasil Fototeca Genealogia História do Brasil História Oral Holocausto Ídiche Israel Judeus (coletividades judaicas) África do Sul Alemanha América Latina Bessarábia Brasil Brasil/Amazonas Brasil/Bahia Brasil/Minas Gerais Brasil/Pernambuco Brasil/Rio de Janeiro Brasil/Rio Grande do Sul Brasil/São Paulo Egito Espanha Império Otomano Inglaterra Itália Marrocos Portugal República Tcheca Rússia Judeus na Música Literatura Ídiche Literatura Ídiche no Brasil Literatura Hebraica Literatura Judaica/ América Latina Literatura Judaica em Português Memória e Identidade Judaica Música e Poesia Ídiche Partidos Socialistas Judeus Personalidades Pesquisa Bibliográfica Reminiscências Pessoais e Familiares Sefaraditas Sinagogas Sionismo Teatro Ídiche Yivo II - DISCRIMINAÇÃO ASSUNTO TÍTULO (Autor) NO AHJB • Biblioteca Jaime Sapolnik (Carlos Kertesz) • Biblioteca Louis Litto • Ante- projeto Pedagógico • I Encontro Nacional • Preservação do acervo e funcionamento do AHJB (Luba Schevz) • II Encontro Nacional • III Encontro Nacional • Índice dos Boletins do AHJB (1 a 28) • Um Túnel do Tempo em São Paulo (David Tabacof) • A Exposição no Memorial do Imigrante (Rabino Henry Sobel) • Midory K. Figuti- Memória Viva do Memorial (Sema Petragnani) • Atividades e Realizações (até 2004) • Acervo e Biblioteca do Casal Egon e Frieda Wolff • IV Encontro Nacional • Índice dos Boletins do AHJB (1 a 34) • IV Encontro Nacional (Carlos Kertész) • AHJB: 30 anos (Nachman Falbel) • Sarau do Arquivo (Lea Vinocur Freitag) 14 21 22 23 23 26 28 29 29 29 29 31 33 34 35 35 36 36 ÍNDICE 36 • O que se pesquisa no AHJB (Aurélie Lê Liévre) • Notícia sobre o V Encontro Nacional 37 41 • Cartões Postais- Um olhar nostálgico (Nachman Falbel) • “Destino Raro”- A peça filatélica como fonte histórica (Marcos Chusyd) • O Encontro de dois mundos (Marcos Chusyd e Abrahão Gitelman) • O Cartão Postal judaico no Brasil (Marcos Chusyd) • Exposição de Selos em Comemoração aos 60 anos da Independência de Israel • Os “Correios-Móres” de Portugal e do Brasil (Marcos Chusyd) 22 24 28 35 40 40 Cinema Ídiche • Dicionário do Cinema Ídiche (Abrahão Gitelman) • Sobre o Cinema Ïdiche (Abrahão Gitelman) 14 33 Cinema Judaico • Eva: a khátarsis do dilema de uma existência (Oscar Zimmermann) 25 Cristãos Novos • Os Arquivos Nacionais da Torre do Tombo e a Historiografia Judaica (Elias Lipiner) 16 • Fanatismo e Intolerância (Clóvis Barleta de Morais) 22 • “Do Cristianismo ao Judaísmo - A história de Isaac Oróbio de Castro” de Yosef Kaplan 23 • A Inquisição no Rio de Janeiro (Lea Vinocur Freitag) • Os Velhos Marranos e a “Judeidade” dos Brasileiros (Gilberto de Abreu Sodré Carvalho) • De Jerusalém para Lisboa, de Lisboa para o Sertão (Paulo Valadares) • O Boi e a Toura ( Jane Bichmacher de Glasman) 40 41 42 45 Documentos • Pronunciamento do Rabino Pinkuss na Catedral Evangélica de Dusseldorf em 1988 39 Escolas e Educação Judaicas no Brasil • Uma escola ídiche na São Paulo de trinta (Abrahão Gitelman) • Ações Educativas no Museu Sinagoga Kahal Zur 17 45 • Escolas Judaicas na Bahia (Carlos Kertesz) • Um livro e duas abordagens (Abrahão Gitelman) 45 45 Fototeca • Peter Scheier, fotógrafo • Peter Scheier- sua obra está em nosso arquivo • Ensaios Fotográficos de Peter Scheier- Profissões de Judeus na Década de 50 • Ensaio fotográfico: No Ano do Centenário da Imigração Japonesa • Dirigentes israelenses no Brasil • Personalidades brasileiras em Israel • Escolas judaicas no Brasil • Cooperativa de Crédito Popular do Bom Retiro 33 36 39 40 41 42 43 44 • Conversando sobre Genealogia • Shemtov b. Abraham, de Portugal, Avô de Joaquim,de Sérgio, de Francisco... 39 40 Cartões Postais/ Filatelia Genealogia (Francisco Moreno de Carvalho) • A Inquisição no rastro de cristãos-novos em Minas Gerais (Neusa Fernandes) • Mártires Cristãos- Novos na Inquisição de Lisboa (Marco Antonio Nunes da Silva) • Uma senhora de engenho na Inquisição (Neusa Fernandes) • Cristãos Novos no Brasil nos séculos XX e XXI - 26 31 33 39 (Dissertação de Mestrado de Paulo Valadares) (Lea Vinocur Freitag) Israel: Novos Paradigmas (Tânia Neumann Kaufmann) (Paulo Valadares) • Benjamin Nathan Cardozo- O Romance de uma linhagem Cristã-Nova (Paulo Valadares) • J. L. Cardozo de Bethencourt (1861-1938) - O Bibliotecário Real, Sua Ascendência e Descendência (Ana Izabel Ferraz de Oliveira Pinto de Abreu) • Semiótica do Ex-Libris de Joaquim Nabuco (Paulo Valadares) • Lafer-Klabin de Poselvja- Empreendedores e Intelectuais Brasileiros (Paulo Valadares) 41 41 44 45 37 História do Brasil História Oral Holocausto ÍNDICE • Brasil 500 anos: a prosa e o verso (Samuel Belk) • O Dia Internacional dos Direitos Humanos em Vassouras (Luiz Benyosef) • O Brasil na Terra Santa em 1876 (Prof. Reuven Faingold) • Rabino Mosse Rephael D’Aguiar-Biografia e Origem (Rabino Y. David Weitman) • Congresso de 1996 em Filadélfia • Entrevista com Tatiana Belinky • Como se conhece um povo? [Escopo e Metodologia do Núcleo de História Oral] • Um depoimento [Abram Zajdens] (Sarina Roemer) • Uma experiência de vida: a Unibes (Thea Joffe e Sarina Roemer) • Um homem extraordinário - uma entrevista difícil [O mohel David Simhon] 19 42 42 43 4 7 13 16 19 21 (Gaby Becker e Sarina Roemer) • O primeiro livro do projeto de História Oral: A imigração judaica em S. Paulo 23 (Marília Freidenson) • Projeto de História oral: a imigração judaica em S.Paulo (Gaby Becker) • Relatório do Núcleo de História Oral (Marília Freidenson e Sarina Roemer) • “Entrevistando” as Entrevistadoras: (Gaby Becker, Sarina Roemer, 24 26 27 Olívia Haftel, Adriana Jacobsberg, Thea Joffe, Marília Freidenson) • O papel do idioma na integração dos imigrantes judeus (Marília Freidenson) • O Núcleo de História Oral em Congresso em Israel (Sarina Roemer) • “Passagem para a América”- Sobre a História Oral (Estela Sahm) • Minha entrada no Lar (Bertha Kogan) • Nossa amiga Gaby • Dois vícios: Judaísmo e Futebol- Trajetória de um imigrante que foi para Campinas 29 31 31 34 35 36 (Sueli Epstein) • Um Pouco da História do Núcleo de História Oral Gaby Becker (Marília Freidenson) • Visita à Universidade Hebraica de Jerusalém - Maio de 2008 (Sarina Roemer) • O Cotidiano do “Banco Judeu” do Bom Retiro (Myriam Chansky, Ilda Klajnman e Maria Theodora da Câmara Falcão Barbosa) 39 40 44 • “Onde está Abel. seu Irmão” – notícia sobre o livro de Joe Heydecker • Cinzas e diamantes (Abrahão Gitelman) • Os Diários de Victor Klemperer (Irene Aron) • Uma lição de vida [Michael Stivelman e seu livro sobre os judeus da Transnístria] 11 15 16 16 (Carlos Heitor Cony) • Salonica 1943 - O comportamento do Rabino Zvi Koretz durante a ocupação nazista no norte da Grécia (Ana Rosa Campagnano Bigazzi) • A Questão Judaica enquanto notícia-ideologia e memória nas páginas de “O Estado de S.Paulo”(Antonio Roberto Guglielmo) • Dia da Memória {A instituição na Europa, de 17 de janeiro, como marco de lembrança do Holocausto] • Deus Absconditus: “Yosl Rakover fala com Deus” de Zvi Kolit (Nachman Falbel) • Holocausto: 60 anos (Jorge Josef) • A incrível história de um campo de concentração de judeus em Grosseto (Sema Petragnani) • Shoá: No fio da memória (Ana Rosa Campagnano Bigazzi) • Vitimização x Reparação (Jorge Josef) • A memória na história da vitimologia (Jorge Josef) • Os percalços de uma emigração [A história do navio Saint Louis] (Samuel Belk) • Os caminhos de uma sobrevivente em “Mameloshn-Memória em “Carne Viva” de Halina Grynberg (Dora Landa) • A lista de Pio XII- A reconstrução de um quebra-cabeças (Liana Gottlieb) • Entre lá e cá- A literatura do Shoá (Grace Zicker Guz) • Sons calados pelo Holocausto (Léa Vinocur Freitag) • David Bankier (1947-2010) - pedra angular da pesquisa acadêmica sobre a Shoá (Miriam Bettina P. Oelsner) 20 23 25 27 27 27 27 28 29 29 31 34 34 38 43 38 ÍNDICE Ídiche • Interações entre o ídiche e o inglês (Yecheskel Rovner) • Palavras, Códigos, Senhas, Rimas, Piadas, Provérbios e outras expressões • O ídiche no Brasil (Jacó Guinsburg) • Sobre o ídiche: expressões e impressões (Estela Sahm) • Brasiliana em Ídiche (Abrahão Gitelman) 30 33 42 Israel Judeus (coletividades judaicas) África do Sul • Clima e Civilização em Israel (José Goldemberg) Um livro, um debate e uma conferência sobre Movimento Juvenil (Oscar Zimmermann) • O Movimento Juvenil Chalutziano e o Kibutz (Henry Near) “To the Land!” -200 anos de assentamentos agrícolas judaicos (conferência realizada de 19 a 21/6/2005) • Velhos tempos de Bror Cail, o Kibutz brasileiro (Lea Vinocur Freitag) • Minha Viagem a Israel (Floriano Pesaro) • Entre o Apartheid e o Anti-semitismo (Silvia Andreucci) 32 34 34 34 42 45 22 Alemanha • Um domingo musical na casa dos Mendelssohn (Abrahão Gitelman) • A imigração judaico alemã em São Paulo (Gaby Becker) • Alsácia e Lorena - Seus judeus e o Brasil (Abrahão Gitelman) • A juventude, metáfora de uma idéia: jovens na Alemanha nazista (Célia Toledo Luna) • Os judeus alemães e o tradutor (Marcos Ocougne) • Berlim depois do Holocausto (Mario Nusbaum) 20 22 27 34 36 43 América Latina • Nas entrelinhas (Valdemar Szaniecki) • O discurso neonazista (O caso Argentina) (Samuel Belk) • Conferência das comunidades Judaicas da América Latina (Flor Schivartche) 18 28 40 Bessarábia • Bessarábia (Tatiana Serebrenic) 43 Brasil • Léxico dos ativistas sociais da coletividade, de autoria de Henrique Iusim) (Nachman Falbel) • Convenção nacional da Conib (Carlos Kertesz) • Uma imigração de judeus em 1891 (Nachman Falbel) • Protestantes e judeus: alguns paralelismos em suas trajetórias no Brasil (Abrahão Gitelman) • Dois imigrantes em cidades do interior (Frieda Wolff) • Humanus ou a construção do anti-semitismo (Saul Kirshbaum) • Alguns registros sobre a presença judaica no folclore e no imaginário da população brasileira e sua fixação no léxico (João Henrique dos Santos) • Resgate da memória histórica judaica no Brasil: Fontes para Pesquisas (Frieda Wolff) • A emigração dos judeus italianos para o Brasil (Ana R. C. Bigazzi e Sema Petragnani) • Alsácia e Lorena-seus judeus e o Brasil (Abrahão Gitelman) • Duas fontes de referência sobre a coletividade judaica do Brasil (José Knoplich) • O bombeiro brasileiro que salvou vidas na Europa em chamas (Israel Blajberg) • O judeu no imaginário brasileiro (Célia Snitzer) • “No pasarán olvidados”: Judeus do Brasil na Guerra Civil Espanhola e Resistência Francesa (Henrique Samet) • As armadilhas da narrativa histórica (Saul Kirschbaum) • Judeus no Brasil: os contraditórios e flexíveis caminhos da identidade (Eva Alterman Blay) 7 (nos campos de concentração) (Partes I e II) (Hadassa Cytrynowcz) 12 19 e 20 20 21 27 • Sem Mazl (Abraham Koralnik) • Ídiche :Mame-Loshn ou Mame-Lushn- (Língua-mãe) (Nancy Rozenchan) • Algumas considerações sobre a transliteração do ídiche para a língua portuguesa (Samuel Belk) 11 21 22 23 25 26 27 26 27 28 29 31 32 32 33 39 ÍNDICE • Experiências na colonização agrícola no Brasil (Nachman Falbel) • Breve Contribuição ao Registro da Participação de Militares Judeus Brasileiros na 2ª Guerra Mundial (Israel Blajberg) • Diásporas e diversidade cultural dos imigrantes judeus no Brasil (Rachel Mizrahi) 34 Brasil/Amazonas • A comunidade judaica de Manaus (Isaac Dahan) • Dois relatos do Amazonas (Isaac Dahan) • Identidade Psicológica e Cultural da Transculturação de Famílias Judaica e Amazonense (Deborah Isaac Pazuello) • Os “Hebraicos” na Amazônia (Maria Liberman) 24 26 36 Brasil/Bahia • Notícias da Seção Bahia • Notícias da Seção Bahia (Carlos Kertesz) • Saudosismo pode ser incurável (David Tabacoff) • Fellini e o intelectual jornaleiro (David Tabacoff) 1 11 12 16 Brasil/Minas Gerais • Meu pai: Isaias Golgher: o judeu (Romain Rolland Golgher) 28 Brasil/Pernambuco • A memória institucional judaica em Pernambuco (Tania Neumann Kaufman) • O Tetragrama e a Medalhística Holandesa dos Séculos XVI e XVII (Abrahão Gitelman) • Sinagogas de Pernambuco (José Alexandre Ribenboim e Jacques Ribenboim) 25 35 37 Brasil/Rio de Janeiro • As pequenas comunidades israelitas no Estado Rio de Janeiro (Luiz Benyosef) • Atividades do Museu Judaico do Rio de Janeiro (Max Nahmias) • O “Tição” do Colégio Pedro II: Identidade judaica no Rio de Janeiro (Paulo Valadares) • O Dia Internacional dos Direitos Humanos em Vassouras (Luiz Benyosef) 23 24 37 42 Brasil/R. Grande do Sul • As memórias de Israel Becker (Regina Igel) • Experiências na colonização agrícola judaica no Brasil (Nachman Falbel) • Meu tipo inesquecível (Rosa Motta) • Terror num Shtetl Gaúcho: Quatro Irmãos (1924) - Uma história oculta da Coluna Prestes (Paulo Valadares) 24 34 34 39 Brasil/ São Paulo • A História através de anúncios (Esther Wajskop Terdiman) 12 • Os judeus orientais da Moóca (Rachel Mizrahi) 13 • Os imigrantes de Safad e a liderança comunitária de Mário Amar (Rachel Mizrahi) 15 • A Cooperativa de Crédito Popular do Bom Retiro (Nachman Falbel 17 • Uma escola ídiche na São Paulo de trinta (Abrahão Gitelman) 17 • O Macabi de São Paulo e sua evolução (Nachman Falbel) 18 • Uma pequena omissão (Jacó Guinsburg) 18 • José Nadelman e a História dos judeus em São Paulo (Nachman Falbel) 19 • Uma colonização judaica no interior de São Paulo (Nachman Falbel) 20 • A imigração judaico-alemã em São Paulo (Gaby Becker) 22 • Os clubes dos “Judeus Comunistas” de São Paulo (Luiz Israel Febrot) 28 • A Família Hertz: Judeus em Campinas (Século XIX) (Paulo Valadares) 29 • Escolas Judaicas em São Paulo 29 • Bom Retiro, cada um tem o seu (Estela Sahm) 30 • O Bom Retiro e a imprensa israelita em São Paulo (Esther Wajskop Terdiman) 30 • Cisões e dissidências entre os judeus progressistas de São Paulo (Luiz Israel Febrot) 30 • Gueiler, griner e alguns roiter (David Lindenbaum) 30 • Os corais da coletividade (Hugueta Sendacz) 30 • O Bom Retiro, berço de confecções (Roberto Comodo) 30 • Reminiscências do movimento sionista de São Paulo (Fiszel Czeresnia) 30 • As portas de um retiro (Denise Grinspum) 30 • “Pletzale, marco zero” (Samuel Reibscheid) 30 36 43 44 ÍNDICE 40 • Judeus em Campinas: retrato de “outros” estatísticos (Paulo Valadares) • As múltiplas faces do Bom Retiro (Sarah Feldman) • Qual a família judia mais antiga de São Paulo? (Paulo Valadares) • Turismo no Triângulo (Abrahão Gitelman) • Histórias e Lendas do Bar Jacob no Bom Retiro (Ilda Klajman) • Instituições e Formação da Comunidade Judaica Paulistana Márcio Mendes da Luz) • Os primeiros judeus de São Paulo: um relato sobre vida morte (Berta Waldman) 32 32 33 34 41 41 42 Egito • Os judeus do Egito nos tempos modernos (Sarina Roemer) • Alexandria: tópicos para a História da comunidade judaica (Efraim Fernand Hemsi) • Egito - O fim de uma comunidade (Efraim Fernand Hemsi) • O êxodo dos judeus do Egito nos tempos modernos (Sarina Roemer) • Conferência da Associação Mundial para a Preservação do Patrimônio dos Judeus do Egito (Sarina Roemer) 8 12 15 32 45 Espanha • Viagem à Galícia (Carlos Kertész) • “No pasarán olvidados”: Judeus do Brasil na Guerra Civil Espanhola e Resistência Francesa (Henrique Samet) • Da Integração à Intolerância: Cristãos, Judeus e Muçulmanos na Península Ibérica (Rachel Mizrahi) • Língua e tradição: judeus- conversos espanhóis letores de São Paulo (Mª Del Pilar Roca) • Juderias da Espanha, Patrimônio da Humanidade (Flávio Bitelman) 28 32 França • “J ’accuse” de Emile Zola: 100 anos (Nachman Falbel) • Droite et Gauche (Abrahão Gitelman • Alsácia e Lorena, seus judeus e o Brasil (Abrahão Gitelman) • A família Hertz em Campinas (séc. XIX) (Paulo Valadares) • “No Pasarán Olvidados”: Judeus do Brasil na Guerra Civil Espanhola e Resistência Francesa (Henrique Samet) 11 12 27 29 32 Império Otomano • Dr. Yosef Efendi Carmona “O Dreyfus Otomano” (Prof. Reuven Faingold) 45 Inglaterra • Judeus a serviço de Sua Majestade (Israel Blajberg) 43 Itália • Emancipação dos judeus italinos (Ana Rosa Campagnano Bigazzi) • Os neo-convertidos de San Nicandro (Sema Petragnani) • A História esquecida da Morte em Veneza (Sema Petragnani) • O Anti-semitismo na Itália- ontem e hoje (Ana Rosa Campagnano Bigazzi) • Pio IX- o último Papa-rei e os judeus (Ana Rosa Campagnano Bigazzi) • A emigração dos judeus italianos para o Brasil (Ana R. C. Bigazzi e Sema Petragnani) • Os judeus da Itália entre nós (Berta Waldman) • O Diálogo Judaico-Cristão: A Visita de Bento XVI à Sinagoga de Roma (Rabino Alexandre Leone) 19 20 21 21 22 26 37 42 Marrocos • Migrantes e imigrantes - Judeus marroquinos - São Paulo e Rio de Janeiro (Rachel Mizrahi) • Os “Hebraicos” na Amazônia (Maria Liberman) 44 Portugal • Tratando de marranos [notícia sobre o livro “Os marranos em Portugal”, de Arnold Diesendruck • O V Centenário do Mosteiro dos Jerônimos e os judeus (Inácio Steinhardt) • As relações econômicas e sociais das comunidades sefarditas portuguesas • Os “Correios- Mores” de Portugal e do Brasil (Marcos Chusyd) 25 41 44 45 44 27 39 40 41 ÍNDICE República Tcheca • Um ato de vandalismo ou a resposta atrasada a uma provocação? Monumento anti-semita em Praga (Ana Rosa Campagnano) 37 Rússia • A Dispersão Judaica e o “Distrito de Residência” (Samuel Belk) 32 Judeus na Música • Felix Mendelssohn - conexões com o judaísmo (Abrahão Gitelman) • Ofer Ben Amots (Iliana Cooper) • Um final de tarde em Moscou (Abrahão Gitelman) • Um senhor chamado Nicolas (Abrahão Gitelman) • Um domingo musical na casa dos Mendelssohn (Abrahão Gitelman) • Compositores judeus no nacionalismo musical brasileiro (Léa Vinocur Freitag) • Três Pianistas na Vida Musical de São Paulo (Léa Vinocur Freitag) • O Cavaleiro Thalberg e suas Andanças (Abrahão Gitelman) 8 11 13 19 20 23 39 41 Literatura Ídiche • Glückl e seu tempo (Abrahão Gitelman) 18 Literatura Ídiche no Brasil • Judeus jogam xadrez (Isaac Borenstein) 13 • O mascate Adolfo (partes I, II e III) (Nachman Falbel) 12, 13 e 14 • Meir Kucinski: “Imigrantes, mascates e doutores” (Nachman Falbel) 25 Literatura Hebraica • Entre lá e cá - A literatura do Shoá (Grace Zicker Guz) 34 Literatura Judaica/ América Latina • Escritores judeus latino-americanos (Regina Igel) 33 Literatura Judaica em Português • “e você, continua querendo fazer ficção?” (Oscar Zimmermann) 23 • “o que foi que ele disse?”- Alguns elementos da construção do judaísmo no Brasil 26 (Berta Waldman) • Apresentando a nova “Coleção Judaica” na USP (Berta Waldman) 31 • O gosto da glosa: “Esaú e Jacó na tradição judaica” de Daisy Wajnberg 32 (Suzana Chwarts) • Imigração e Literatura (Moacyr Scliar) 35 e 44 Memória e Identidade Judaica • Memória judaica: a crucialidade da continuidade (Helena Lewin) • Entre Memória e História (Sybil Safdie Douek) • Identidade(s) Judaica(s) (Sylvana Hemsi) • Luise Weiss- A Arte da Memória (Niels Cartus) • A sobrevivência da memória: “Peço licença para contar” de Ana Ostrovsky (Júlio Lerner) • As armadilhas da narrativa histórica (Saul Kirchbaum) • Judeus no Brasil: os contraditórios e flexíveis caminhos da identidade judaica (Eva Alterman Blay) • Valor e Atualidade em Simon Dubnov (Abrahão Gitelman) Música e Poesia Ídiche • Yehuda Halevi (Samuel Belk) • Mordko Gebirtig (Samuel Belk) • Moishe Leiser (Samuel Belk) • Molly Picon (Samuel Belk) • Moishe Broderzon (Samuel Belk) • Chaim Nachman Bialik (Samuel Belk) • David Edelstadt (Samuel Belk) • Moshe Shniur (Samuel Belk) • Mark Warshavsky (Samuel Belk) • Manfred Lemm (Samuel Belk) • I. L. Peretz (Samuel Belk) 26 31 32 32 32 32 33 40 2 3 4 5 7 8 9 10 11 12 13 ÍNDICE 42 • Jacinta (Samuel Belk) 14 • Querida Rainha (Samuel Belk) 15 • O pogrom de Kishinev (Samuel Belk) 16 • As canções do Gueto (Samuel Belk) 17 • Uma criança judia (Samuel Belk) 20 • Abraham Reisen (Samuel Belk) 21 • Sobre a força de um poeta (Dagmar Gutmann) 21 • Itzik Manger (Samuel Belk) 22 • O alegre alfaiate (Samuel Belk) 24 • Sore e Rifke (Samuel Belk) 25 • A História Judaica retratada na Canção Popular (Samuel Belk) 26 • Uma panorâmica da canção ídiche (Abrahão Gitelman) 31 • O mundo musical judaico (Samuel Belk) 31 • O menino de rua [de Mordko Gebirtig] (Samuel Belk) 33 • O mundo musical judaico - A Canção do Cantonista (Samuel Belk) 39 • A canção ìdiche: uma retrospectiva (Abrahão Gitelman) 44 • Um livro e duas abordagens (Abrahão Gitelman) 45 Partidos Socialistas Judeus • Cem anos da fundação do Bund (Nachman Falbel) 6 • Centenário do Bund (Abrahão Gitelman) 8 • Uma escola ídiche na São Paulo de trinta (Abrahão Gitelman) 17 Ecos do Progressismo: História e memória da Esquerda Judaica nos anos 30 e 40 24 (Michel German) • Os clubes dos “Judeus Comunistas” de São Paulo (Luiz Israel Febrot) 28 • Cisões e dissidências entre os judeus progressistas de São Paulo (Luiz Israel Febrot) 30 • “Gueiler”, “griner” e alguns “roiter” (David Lindenbaum) 30 Personalidades • Porque Carpeaux escolheu o Brasil (Paulo Valadares) 20 • Entrevista com Alberto Dines (Abrahão Gitelman) 26 • Evocando a memória de um admirável ser humano [Emanuel Talmor] 26 (Nachman Falbel) • Meu pai: Isaias Golgher, o Judeu (Romain Rolland Golgher) 28 • Léxico dos ativistas sociais da coletividade, de autoria de Henrique Iusim 7 (Nachman Falbel) • Henrique Iusim (Ruth Iusim) 10 • Stefan Zweig e a Menorá (Abrahão Gitelman) 24 • Moses Rabinovitch - Um tipo singular 28 (Henrique Samet e Nachman Falbel) • In Memoriam de Benno Milnitzky (Nachman Falbel) 29 • Bóris Schnaiderman - O tradutor da cultura russa entre nós (Roberto Comodo) 31 • Sobre Felícia Leirner (Giselda Leirner) 32 • As cartas do Dr. Piotr Napoleon Czerniewicz (Bella Herson) 32 • O kadish tardio para o Embaixador Souza Dantas (Paulo Valadares) 32 • Visita ao Homem que mora numa biblioteca (Paulo Valadares) 35 • David José Perez, uma biografia de Nachman Falbel (Avraham Milgram) 35 • Elias Lipiner-in memoriam (Inácio Steinhardt) 37 • Centenário de Arnoldo Felmanas- Um Pioneiro pelos direitos dos naturalizados 37 (Lea Vinocur Freitag) • Onde andará o Homem-Montanha? 37 • Giorgio Mortara e a Demografia Brasileira (Ana Rosa Campagnano) 39 • In Memoriam da Historiadora Frieda Wolff (1911-2008) (Prof. Nachman Falbel) 40 • Memória de Tatiana Belinky, uma contadora de histórias (Simone Rosenthal) 40 • Karl Lieblich - Judeu, Jurista,Jornalista, Pensador, Homem de Negócios e Exilado 41 (Eva Lieblich Fernandes) • José E. Mindlin (1914-2010) 42 43 ÍNDICE • David Bankier (1947-2010)- pedra angular da pesquisa acadêmica sobre a Shoá (Miriam Bettina P. Oelsner) • De Vila Flor a Jerusalém, a jornada do general David Shaltiel, primeiro embaixador de Israel no Brasil (Paulo Valadares) • Hella Moritz (março de 1929-novembro de 2010) (Fábia Terni Leipziger) • Prof. Otto Richard Gottlieb (1920-2011) (Prof. Nicola Petragnani) • Preocupando-se com os destinos do mundo - Prof. Henrique Rattner (Guilherme Ary Plonsky) • Eliahu Chut (1933-2011), Empesário, Esportista e Jornalista (Paulo Valadares) 43 Pesquisa Bibliográfica • Pesquisa bibliográfica em Judaísmo no âmbito da biblioteca (Noemia Lerner Cutin) Reminiscências Pessoais e Familiares - Duas historinhas românticas (Abrahão Gitelman) • Viagem ao sol da meia-noite, sob as trevas do nazismo (Abrahão Gitelman) • Ideologias, máquinas e o tempo (Oscar Kuzniec) • A pedagogia do Cri-Cri [lembranças da profa. Anita Speyer] (Marília Freidenson) • Estudar, estudar e estudar (Oscar Kuzniec) • Os anos da Sibéria ( Oscar Kuzniec) • “Avó: tem duas?” (Fanny Abramovitch) • Meu tipo inesquecível (Rosa Motta) • Sonia, A Doce Celina (Léa Vinocur Freitag) • Etale, a última imigrante (Israel Blajberg) • Histórias e Lendas do Bar Jacob no Bom Retiro (Ilda Kleiman) • Bessarábia (Tatiana Serebrenic) 25 8 Sefaraditas • Sefarad - um enfoque marginal (Marília Freidenson) • Rabino Jacob Mazaltov) (Clara Kochen) • Maimônides, o Sábio Judeu (Léa Vinocur Freitag) 18 36 45 43 44 45 45 45 11 13 15 15 17 30 34 41 41 41 43 ÍNDICE Sinagogas 44 • Sinagoga: oração e ação (Eva Alterman Blay) 26 • São Paulo: dois momentos da arquitetura sinagogal da cidade (Anat Falbel) 27 • “Como cantaríamos o canto do Senhor numa terra estrangeira?” 35 e 37 [partes I e II) (Anat Falbel) • Sinagogas em Pernambuco (José Alexandre Ribenboim e Jacques Ribenboim) 37 Sionismo • Cem anos de esperança (Nachman Falbel) • 50 anos da Partilha da Palestina (Nachman Falbel) • Repensando o movimento juvenil (Oscar Zimmermann) • A Ideologia e seus descontentes (Oscar Zimmermann) • Mischak Ieladim (Resenha do livro “Ode Memórias” de Nachum Mendel (Avraham Milgram) • Reminiscências do movimento sionista de São Paulo (Fiszel Czeresnia) • Um livro, um debate e uma conferência sobre o Movimento Juvenil (Oscar Zimmermann) • O Movimento Juvenil Chalutziano e o Kibutz (Henry Near) 7 8 27 28 29 Teatro Ídiche • O sonho acabou? (Boris Cipkus) • O teatro ídiche em São Paulo: Os “círculos dramáticos” dos amadores (Nachman Falbel) • A trupe dos Cipkus- Lembranças do teatro ídiche em São Paulo (Boris Cipkus) • O sonho acabou (Boris Cipkus Cipis) • Kadish para uma cultura extinta (Saul Kirschbaum) 14 30 Yivo • O YIVO (Institute for Jewish Research) • O YIVO, o início (1925-1941) (Abrahão Gitelman) • Velhas lápides contam histórias (Abrahão Gitelman) 14 21 21 30 34 34 30 32 43 45 PESQUISADORES PESQUISADORES DE AGOSTO de 2011 a Março 2012 Ana Cristina da Silva Pesquisa particular Bernardo Kucinski Professor USP Bernardo Lerer Jornalista/ Revista Hebraica Bruno Leal Pastor de Carvalho Jornalista e Historiador/ UFRJ Carlos Perez Pesquisa particular Cesar Benevides Profº doutor/ UEMS Daniel Douek Mestrando do Centro de Estudos Judaicos FFLCH-USP Daniel Haim Mizrahi Professor/ Yavne Donato Ribeiro Divisão de arquivos e museus de São José dos Campos Edith Gross Hojda Doutora em sociologia / FFLCH-USP Eduardo Verderame Artista plástico/ Oficina Oswald de Andrade Eliane Herrera Bordalo Historiadora/ Centro Cultural Jerusalém Elza de Fátima Garibaldi Mestranda Letras PUC/SP Grazielly A. Pereira Graduanda de História/ Faculdade Anhanguera São Caetano do Sul Guilherme Rocha da Cruz Pesquisa particular Helena Ragusa Mestranda/ Universidade Estadual de Londrina Israel Blajberg Professor/ UFF Ivy Sene Costa Pós-graduanda Lato Sensu/ FGV-SP Jeffrey Lesser Profº doutor/ Emory University, EUA Joice de Souza Santos Historiadora/ Revista de História da Biblioteca Nacional Jonathan Chagas Gonzáles Jr Doutorando/ Universidade do Estado do Amazonas Jonny Naiman Sociólogo/ Memorial Arte José Carlos de Campos Pesquisa particular Liane Gotlib Zaidler Sinagoga Knesset Israel Livia Dios Vaz Auxiliar de Biblioteca/ Docs & Bytes Alexandria On-Line Lucia Chermont Mestre em História/ Arquivo Histórico Judaico Brasileiro Luciana Mirkiewicz de Souza Produtora cultural e atriz, BQ Teatro Luiz Marcio Beterro Scansani Publicitário/ Editora Linotipo Digital Luise Weiss Profª doutora de artes/ UNICAMP Maria de Fatima de Nobrega Programa Mosaico na TV Maria Luiza Tucci Carneiro Profª doutora de História/ USP Mario Rogério Sevílio de Oliveira Músico/ UNIBES Martine Bimbaum Antropóloga/ Centro da Cultura judaica Mauricio Ianês Artista plástico/ Centro da Cultura Judaica Michel Todel Gorsky Arquiteto/ pesquisa particular Monica Médici Historiadora/ Twins Bushattsky Ofra Grinfeder Artista plástica Paulo Valadares mestre em História/ diretor Arquivo Histórico Judaico Brasileiro Rachel Mizrahi doutora em História/ Centro de Documentação da Sinagoga Rua da Graça Ricardo Besen Jornalista/ CONIB Ricardo Cássio Patzer Mestrando/ Unisinos - RS Roberto Bedrikow Pesquisa particular Roney Cytrynowicz doutor em História/ diretor Arquivo Histórico Judaico Brasileiro Sálvio Roberto da Silva Filho Graduando em História/ Unicastelo Sara Schulman Instituto Cultural Israelita Brasileiro Bernardo Schulman Sarita Mucinic Sarue Mestre Centro de estudos Judaicos / Memorial da Sinagoga da Rua da Graça Sônia Goussinsky Doutoranda do Centro de Estudos Judaicos FFLCH-USP Tatiana Sampaio Ferraz Base 7 Projetos Culturais Vladimir Saccheta Saccheta & Associados Pesquisa Histórica e Produção Cultural Walter Faustino dos Santos Pesquisa particular Wilson Roberto Rodrigues da Silva Fotógrafo/ Oficina Oswald de Andrade ABRÃO JOSÉ KAHN Discos em idiche ABRAHÃO GITELMAN Livros em ídiche ALICE e ERNESTO SIMON Livros, folhetos ALICIA RAQUEL C. SALAMA Periódicos, textos e material didático ARQUIVO MUNICIPAL De SÃO JOSÉ DOS CAM- DOAÇÕES 46 DOAÇÕES RECEBIDAS DE AGOSTO de 2011 a 2012 POS – Fundação Cultural Cassiano Ricardo Livros e Periódicos da instituição ARTHUR NESTROVISKI Livros ASSOCIAÇÃO DOS AMIGOS DO MUSEU JUDAICO DE SÃO PAULO Livros BELA REBECA HERTZ Livro “A herança judaica na vida e obra de Viktor Emil Frankl” de Bela rebeca Hertz BELLA HERSON Livros de sua autoria CENTRO CULTURAL MORDECHAI ANILEVICHT Livro: A saga de uma família de Clara Wertman BIBLIOTECA NACIONAL Livros e periódicos CENTRO EDUCAÇÃO RELIGIOSA JUDAICA – COLÉGIO IAVNE Fitas VHS CESAR BENEVIDES Livros de sua autoria CILKA THALENBERG Pentateuco em alemão gótico e hebraico CLARISSA FEDER Periódico: Tribuna Judaica CLEIDE LARGMAN BOROVIK Periódicos judaicos DANIEL BORGER Biblioteca particular de Hans Borger DANIELA WEIIL DE STRANSKY 05 caixas de documentos e fotos de sua família DAVID ZISKIND Livros e periódicos ELISABETH FERNANDES/ SERVIÇO DE EDITORAÇÃO FFLCH/USP Livros ENIA RIVA RAPOPORT Moldura com a Declaração de Independência de Israel ESTELA SAHM Livro: Bérgson e Proust sobre a representação da passagem do tempo de Estela Sahm FEDERAÇÃO ISRAELITA DO ESTADO DE SÃO PAULO – FISESP Documentos e fotos institucionais FELICIA SPITZCOVSKY Documentos e imagens digitais da Sra. Chlava Hish Gawendo ILDA KLAJMAN Livros JANGIJS SCHOUTEN / Cônsul Geral do Reino dos Países Baixos Livros: O Brasil Holandês – a família Nassau, moedas e medalhas de Alfredo O. G. Gallas e Fernanda Disperati Gallas JAYME PEN Fotos e documentos de familiares LEÃO GLEZER SOBRINHO Fotocópias de documentos de Pessach Glezer, Sima Zilberaite e Malka Glezer LUCIA CHERMONT Dissertação de mestrado em História: Memória e experiência de judeus de Higienópolis e arredores, São Paulo (1960-1970) de Lucia Chermont MARCO GUERTZENSTEIN Diplomas Bernardo Guertzenstein, certificado de membro, decreto para nome de rua, fotografia de programa de TV sobre Laboratório e farmácia MARCOS CHUSYD Livros, periódicos, portes e VHS MARILIA FREIDENSON Livro: Os doze Pontos de Berlin, e a história da transformação de um relacionamento de Gisa Fonseca MICHAEL LEIPZINGER Livros MICHEL GORSKY Fotos e documentos de Rebeca Gorsky MONIQUE SOCHACZEWSKI GOLDFELD Livros MYRIAM CHANSKY Livros, periódicos e DVDs PAULINA FAIGUENBOIM Libretos de programas musicais da comunidade judaica PAULO VALADARES Cópia do boletim de Sophie Furman do Collegio Israelita de Quatro Irmãos, 1929 RACHELLE ZWEIG DOLINGER Material reunido e produzido para os livros Mulheres de valor e Homens de valor de Rachelle Dolinger RENÉE WEXLER Livros, periódicos, fotos e folhetos REVECA BITELMAN Documentos de Michel Bitelman RIVA BALABAN SISTER Discos em idiche RONEY CYTRYNOWICZ Livros da Editora Narrativa Um SARA SCHULMAN Livro: O Teatro na vida da coletividade judaica curitibana – preservando a memória de Sara Schulman SARINA ROEMER Periódicos e textos sobre os judeus no Egito SIMÃO PRISZKULNIK Periódicos SUELI PFERMAN Revista Shalom SUELI SHOSHODOLSKY Discos em idiche VALDIRENE FERREIRA GOMES Fitas cassetes de músicas em hebraico, pertenceram a Lazar Deutsch 47 IMAGENS VENDIDAS OU CEDIDAS Adriane de Oliveira Centro da Cultura Judaica Jonny Naiman Memorial Arte Bernardo Lerer Hospital Albert Einstein/ Revista Hebraica José Roitberg Revista Menorah Benjamin Seroussi Centro da Cultura Judaica Liane Gotlib Zaidler Sinagoga Knesset Israel Cezar Benevides UEMS Lucia Chermont Arquivo Histórico Judaico Brasileiro Donato Donizete dos Santos Ribeiro Fundação Cultural Cassiano Ricardo/ Arquivo Público do Município de São José dos Campos Michel Todel Gorski Pesquisa particular Israel Blajberg Pesquisa particular Joice de Souza Santos Revista de História da Biblioteca Nacional Jonathan Chagas Gonzáles Jr Mestrado Universidade do Estado do Amazonas Ricardo Besen CONIB Roney Cytrynowicz UNIBES e Chevra Cadisha Vladimir Sachetta Saccheta & Associados O ARQUIVO HISTÓRICO JUDAICO BRASILEIRO É UMA ENTIDADE DE UTILIDADE PÚBLICA DA COLETIVIDADE Colabore doando fotos, livros, jornais, documentos pessoais (passaportes, certidões) e para a preservação da memória judaica no Brasil ENDEREÇO: Rua Estela Sezefreda, 76 - Pinheiros Tel: 3088-0879 e 2157-4124 www.ahjb.com.br Estacionamento conveniado: Park Land, Rua Mateus Grou, 109 (a 50 metros do Arquivo) E S E N R TO IO DO C O Ó V S I U Q AR 48 FOTOTECA: AHJB APOIO: