Diretrizes gramaticais no processo de ensino

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DIRETRIZES GRAMATICAIS NO PROCESSO DE
ENSINO/ APRENDIZAGEM DE PORTUGUÊS
PARA ESTRANGEIROS
Adriana ALBUQUERQUE 1
RESUMO
O objetivo deste artigo é apresentar algumas reflexões acerca de questões gramaticais relevantes para o ensino
de Português para Estrangeiros. Nossa discussão terá como base teórica os parâmetros que norteiam a Gramática
Funcional do Discurso (HENGEVELD, 2004), considerando, portanto, aspectos que vão além do ensino
tradicional da gramática. Contudo, para esta discussão, reconhecemos a necessidade de o professor ter o
domínio das regras prescritas por nossos gramáticos, tendo em vista que, somente assim, acreditamos que ele
poderá tornar-se competente o suficiente para discernir sobre o que se deve ensinar em uma aula de segunda
língua e/ou de língua estrangeira e, sobretudo, escolher o melhor caminho para apresentar conteúdos
gramaticais pertinentes ao seu aprendiz.
PALAVRAS-CHAVE: Português para estrangeiros. Ensino de gramática. Verbos.
ABSTRACT
The purpose of this article is to present some reflections on grammatical issues that are relevant to the teaching
of Portuguese for Foreigners. The theoretical basis for this discussion will be the parameters that guide the
Functional Discourse Grammar (HENGEVELD, 2004); therefore, some aspects that go beyond traditional
grammar teaching will be considered here. However, we also recognize that the teacher needs to have mastery
of the rules prescribed by traditional grammarians, given that only then he/she can become competent enough
to discern what should be taught in a second language and/or foreign language class. Above all, this way he/she
can choose the best way to present grammatical content which is relevant to the students.
KEYWORDS: Portuguese for Foreigners. Grammar teaching. Verbs.
1
Professora Adjunta da PUC-RIO; co-coordenadora dos cursos de graduação de Português para Estrangeiros e do curso de
Especialização em Formação de Professores de Português para Estrangeiros, nessa mesma instituição.
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Diretrizes gramaticais no processo de ensino/aprendizagem de português para estrangeiros
INTRODUÇÃO
Na área de pesquisa sobre o Português como Segunda Língua para Estrangeiros (PL2E), na PUC-Rio,
adotamos, entre outras teorias, alguns conceitos da Gramática Funcional do Discurso (GFD), desenvolvida por
Hengeveld (2004), porque, apesar de tal modelo de análise entender a gramática como um sistema formalizado
que incorpora fenômenos inerentes à construção do discurso pelos interlocutores, defende a ideia de que para
se entender o estrutural deve-se considerar a semântica, a intenção do falante e a sua relação com a construção
do discurso, além de sua influência no uso deste, considerando-se que tais relações são expressas por meio de
estratégias comunicativas.
Nesta teoria, trabalhamos com as duas camadas verticais que representam os aspectos interpessoal e
representacional da linguagem. A oração, neste sentido, é vista como a representação de um ato de fala, estando
localizada no tempo e no espaço, podendo ser avaliada no que se refere às suas condições de felicidade.
O nível Interpessoal se refere à estratégia linguística adotada por um falante ao usar uma dada unidade
linguística em seu enunciado. O nível mais alto, Move, corresponde a uma contribuição autônoma do falante
para uma interação contínua, que, na fala, geralmente, corresponde a um turno.
O nível Representacional se refere à função textual dos elementos linguísticos usados pelo falante em
seu enunciado. O nível mais alto é o Episódio, o qual apresenta um conjunto semanticamente coerente de
conteúdos proposicionais.
Sendo assim, o trabalho que apresentamos, aqui, discorre sobre algumas diretrizes relevantes para se
abordarem determinados tempos do modo indicativo, de forma prática, objetiva e funcional, em aulas de
português como segunda língua ou, ainda, na elaboração de materiais didáticos que se destinam a este público.
Nosso objetivo é apresentar, em linhas gerais, o uso do pretérito perfeito e do imperfeito do indicativo,
tendo em vista que os quase 20 anos de experiência na área, como professora de PL2E e como coordenadora
do curso de Formação de Professores de Português para Estrangeiros, têm nos mostrado a expressiva falta de
“intimidade” de muitos professores de português com as sutilezas e peculiaridades que estes tópicos, aqui
tratados, apresentam. Parece-nos, muitas vezes, que estamos trabalhando com o óbvio, pois, ao nos depararmos
com práticas discursivas cotidianas de determinados usos destes tópicos verbais, nas aulas do curso de
Formação, ouvimos, em diversos momentos, frases como “É mesmo! Nós fazemos assim” ou “Nossa! Eu nunca
tinha pensado nisso, mas é assim mesmo que falamos”.
Desta forma, acreditamos que fazer um exercício de mudança de ponto de vista, uma alteração de
enfoque, é fundamental para que se possa iniciar um trabalho de descrição do português como segunda língua;
o que podemos chamar, nas palavras da professora Rosa Marina de Brito Meyer, de "torção do pensamento", e
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o que nós chamaríamos de "olhar estrangeiro". Um olhar de estranhamento, de encontro com o novo, e que é
construído a partir do Outro. Olhar que parece não pertencer a nenhum território, que parece não ter uma
identidade definida.
Segundo Revuz (1998, p. 229), no texto A Língua estrangeira entre o desejo de um outro lugar e o
risco do exílio, “aprender uma outra língua é fazer a experiência de seu próprio estranhamento no mesmo
momento em que nos familiarizamos com o estranho da língua e da comunidade que a faz viver.” Dessa forma,
entendemos que há no processo de ensino-aprendizagem de uma segunda língua um duplo estranhamento: de
um lado, o dos professores, o olhar estrangeiro, e, do outro, o dos alunos, o olhar do estrangeiro.
Passamos, então, a seguir, para a apresentação do nosso olhar enviesado, estrangeiro e óbvio para os
dois referidos passados do modo indicativo.
1. OS PASSADOS EM PORTUGUÊS: PRETÉRITOS IMPERFEITO
E PERFEITO DO INDICATIVO
1.1. O pretérito imperfeito
Segundo Cunha e Cintra (2013, p. 465-466), o pretérito imperfeito encerra uma ideia de continuidade,
de duração do processo verbal mais acentuada do que os outros tempos pretérito e que o seu valor fundamental
é o de designar um fato passado, mas não concluído. Afirmam, ainda, que o referido tempo é empregado
quando: a) transportamo-nos a uma época passada e descrevemos o que então era presente, b) indicamos, entre
ações simultâneas, o que estava sendo processado quando outra ação sobreveio, c) denotamos uma ação
habitual ou repetida, d) designamos fatos passados concebidos como contínuos ou permanentes, e) denotamos
um fato com valor de futuro do pretérito, f) queremos ser polidos, atenuando uma afirmação ou um pedido e g)
situamos vagamente, no tempo, contos, lendas, fábulas, etc.
Essas informações sobre o uso do imperfeito são, basicamente, apresentadas por quase todas as
gramáticas de cunho tradicional e, por sua vez, em quase todo material didático destinado ao ensino de
português língua materna ou não. Contudo, é preciso observar que as formas temporais não são utilizadas,
apenas, para fixar cronologias de estados de coisas, relacionando, unicamente, suas referências aos tempos
simultâneo, anterior ou posterior ao ato de fala.
Para Castilho (2012, p. 432), utilizamos os tempos, também, para nos deslocarmos livremente pela
linha do tempo, de acordo com nossas necessidades expressivas, refugiando-nos, segundo o autor, em um
tempo imaginário, que escapa à medição cronológica ou em um domínio vago, genérico, impreciso, atemporal.
O referido autor apresenta os seguintes valores semânticos para o pretérito imperfeito:
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(116) Pretérito imperfeito real, indicando anterioridade não pontual
a) Estado de coisas durativo: Quando cheguei, ela olhava pelo buraco da fechadura.
b) Estado de coisas iterativo: Lá vejo o atalho que vai dar na várzea. /Lá o barranco por
onde eu subia.
(117) Pretérito imperfeito metafórico:
a) Pelo presente, nos usos de atenuação e polidez: Eu vinha saber se você já pode
devolver meu carro. Queria que vocês aceitassem a minha proposta.
b) Pelo pretérito perfeito, no chamado “imperfeito de ruptura”: Conheceram-se em
maio, em junho se casavam.
c) Pelo imperfeito do subjuntivo: Se eu percebia que o carro ia resvalando para o buraco,
tinha saltado muito antes.
d) Pelo futuro do pretérito, no discurso indireto/no discurso indireto livre: Ela disse que
vinha logo. /Era necessário, mesmo, libertá-lo? /Você bem que podia me arranjar um
emprego. /Numa viagem ao norte, desistiu de fazer a conferência. Os colegas insistiam.
Não, não fazia.
(118) Pretérito imperfeito atemporal (“imperfeito de conatu”):
a) Sentada na borda a cama, afinal, ela ia embora.
(CASTILHO: 2012, p. 433)
No entanto, vejamos o uso do imperfeito no diálogo abaixo:
̶ Nossa, professora Adriana, como a senhora sente prazer em dar aula sobre verbos!
̶ Sinto mesmo! E, olha, que eu já gostava de gramática desde a minha adolescência.
De acordo com Castilho (2012, p. 432), “o pretérito imperfeito representa os estados de coisas que
duraram no passado”. Contudo, esta informação, aliada a todos os empregos que Cunha e Cintra (2013) e o
próprio Castilho (2012) apresentam, não dá conta de explicar para o aluno estrangeiro que no diálogo, acima,
o imperfeito está sendo usado para se referir a uma ação que ainda continua no presente. Ou seja, começou no
passado e tem duração até o momento de referência da fala.
Podemos, portanto, analisar, no referido contexto do diálogo, de acordo com o nível representacional
da GFD, a importância da função textual do elemento linguístico já para designar a intenção comunicativa do
falante. A retirada deste elemento daria uma outra referência temporal ao imperfeito, revelando um matiz de
passado durativo, acabado.
Ampliar, portanto, este olhar sobre o uso do imperfeito é fundamental para os aprendizes de PL2E que
estão em um nível intermediário de aprendizagem. É preciso, portanto, que o professor domine as regras
prescritivas, mas também amplie seus horizontes para perceber usos outros que este tempo pode apresentar.
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1.2. O pretérito perfeito
Neste artigo, iremos tratar, apenas, de algumas peculiaridades referentes ao uso do pretérito perfeito
simples, tendo em vista a limitação de páginas para esta publicação. No entanto, é importante ressaltar a
extrema relevância que o pretérito perfeito composto apresenta no processo de ensino e aprendizagem de PL2E,
pois o mesmo apresenta particularidades muito especiais ao ser comparado com tempos verbais similares em
outras línguas, tais como espanhol, francês, italiano, inglês e alemão (cf. MEYER e ALBUQUERQUE, 2011).
Cunha e Cintra (2013, p. 468-470) afirmam que o pretérito perfeito simples é empregado para
descrever o passado tal como aparece a um observador localizado no presente e o que se considera do presente,
indicando, portanto, uma ação que se produziu em certo momento do passado. Os autores ainda acrescentam
que este tempo é denotador de uma ação completamente concluída.
Castilho (2012), ao apresentar as nossas necessidades expressivas realizadas com o uso do pretérito
perfeito, mostra-nos o seguinte:
(113) Pretérito perfeito real, indicando anterioridade
a) Pretérito pontual: Andou um pouco e caiu logo em seguida.
b) Pretérito durativo: Andou um pouco e caiu logo em seguida.
c) Pretérito iterativo: Perdi sempre no jogo do bicho.
(114) Pretérito perfeito metafórico
a) Pelo imperfeito: Quando eu trabalhei lá, eu o vi diariamente.
b) Pelo mais-que-perfeito: Eu o avisei que o padeiro tinha chegado, por que você não
saiu logo para comprar o pão?
c) Pelo futuro do presente: Bateu em meu filho? Morreu!
d) Pelo futuro do presente composto: Pode passar por aqui às seis horas, porque até lá
já acabei o trabalho.
e) Pelo pretérito perfeito do subjuntivo: Quem o fez que o diga.
(115) Pretérito perfeito atemporal
a) Pretérito aorístico: Quem morreu, morreu.
b) Pretérito nos marcadores discursivos: Faça isso hoje, viu?
(CASTILHO: 2012, p. 433)
Sendo assim, vejamos, o exemplo de um possível diálogo a seguir:
– E aí, Bruna, tudo bem?
– Tudo tranquilo! Já sabe qual é a boa do fim de semana?
– Que nada, cara! Tenho que terminar meu trabalho final do curso de Literatura
Brasileira.
– Caramba! É mesmo!? Combinamos de tomar um chope no barzinho do Lucas. É
aniversário da Eduarda. Vê se dá pra você ir.
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– Tá. Vou ver se consigo adiantar o trabalho. Acho que até sábado, já terminei tudo e
encontro vocês lá.
– Maravilha! A gente vai te esperar! Boa sorte com o trabalho.
– Valeu! Beijo.
–Beijo!
Ao analisar o uso do pretérito perfeito (em destaque) neste diálogo, observamos que a informação geral
apresentada por Cunha e Cintra (2013), sobre este tempo, não nos ajuda muito a entender a relevância de seu
emprego sem o valor semântico de passado acabado. Neste diálogo, muito comum em nossas conversas diárias,
vemos um uso do perfeito simples com valor de futuro. Emprego este que pouquíssimos falantes nativos se dão
conta que o fazem. Entretanto, ainda que colocada, infelizmente, em uma posição de menor relevância, esta
informação é encontrada na gramática tradicional que citamos acima. Cunha e Cintra (2013, p. 470), na parte
de observações, afirmam que “na linguagem coloquial não é raro o emprego do PRETÉRITO PERFEITO SIMPLES
pelo FUTURO DO PRESENTE COMPOSTO”. E nos apresentam o seguinte exemplo: Quando virmos, lá em
baixo, o clarão da fogueira, já ele morreu... (= terá morrido). Por sua vez, como apresentado acima, Castilho
(2012) também descreve este valor semântico do pretérito perfeito chamando-o de metafórico. Ou seja, o
referido emprego deste tempo está prescrito e descrito em nossas gramáticas e, surpreendentemente, não é
abordado de forma efetiva nas aulas de PL2E. Isso ocorre porque muitos professores da nossa área de ensino se
baseiam no valor semântico mais básico do pretérito perfeito, em suas aulas e na elaboração de material
didático, tomando-o, simplesmente, como um tempo verbal de passado pontual e acabado.
Um outro importante emprego do pretérito perfeito, realizado com o advérbio sempre, também deve
ser apresentado aos aprendizes de português língua não materna.
Vejamos o exemplo:
– Você gosta de almoçar, aqui, no restaurante da universidade?
– Eu sempre almocei aqui. Adoro a comida do Bandejão.
Neste caso, o pretérito perfeito denota uma ação que não foi concluída. Ou seja, refere-se a algo que
começou no passado, continua até o presente, podendo se prolongar para o futuro. Castilho nos apresenta
exemplo similar, mas com o advérbio sempre em posição pós-verbal (Perdi sempre no jogo), indicando,
portanto, um valor de tempo anterior ao momento da fala. Além disso, apesar de categorizar tal emprego como
iterativo, o autor não o apresenta em contexto dialogado, o que pode deixar dúvidas sobre o fato de a ação já
ter terminado, referir-se somente ao passado, ou de a mesma ainda continuar no momento da fala.
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O aluno de PL2E, exposto a esse tipo de emprego, questiona o porquê de não se utilizar, simplesmente
o presente (almoço) ou pretérito perfeito composto (tenho almoçado).
Partindo de um exemplo contextualizado, preferencialmente, em um diálogo, a diferença pode ser
explicada, grosso modo, da seguinte forma:
a) Eu sempre almocei aqui  há uma intenção de informar que o locutor almoça há muito tempo e que
pretende continuar almoçando também por bastante tempo;
b) Eu tenho almoçado aqui  denota a intenção de revelar que, por alguma razão, o locutor, durante
um período determinado, começou a almoçar no referido restaurante, mas, provavelmente, vai parar
de almoçar; podemos ilustrar a ideia desta construção linguística com uma situação, por exemplo, em
que o enunciador está almoçando, provisoriamente, em tal restaurante porque sua empregada está de
férias.
c) Eu sempre almoço aqui  há uma intenção de informar que a ação de almoçar é mais recente; o que
difere bastante do uso realizado com o pretérito perfeito simples.
Em todas as situações, acima, a ação começou no passado e tem valor aspectual durativo,
ultrapassando, inclusive, temporalmente, o momento da fala. Cada escolha do falante envolve, no nível
interpessoal, segundo a GFD, uma estratégia linguística, adotada pelo falante para atingir seus objetivos
discursivos.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A escolha de determinados tempos verbais, como de qualquer outra estrutura linguística, durante o
processo discursivo é um processo natural do falante, e o ouvinte, usuário da mesma língua, sabe perfeitamente
o que quer exprimir cada uma delas. Explorar a polifuncionalidade dessas estruturas não é tarefa fácil, mas pode
e deve fazer parte dos trabalhos de pesquisa que acompanham o professor de PL2E em sua formação acadêmica.
Meyer (1998), em artigo intitulado Aspectos semântico-discursivos do português como língua
estrangeira, enfatiza a necessidade de se desenvolver estudos concernentes às estruturas semântico-discursivopragmáticas do português, uma vez que o domínio destas determinará a eficácia do desempenho linguístico
social do falante não nativo. Ler sobre o Brasil, segundo a autora, não é suficiente para que o falante não nativo
comporte-se como um brasileiro. Por outro lado, ficar, apenas, discorrendo sobre aspectos particulares da
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cultura brasileira em geral, como música, religião e culinária, também não será suficiente em termos de
conhecimento mais amplo da língua.
Podemos, ainda, acrescentar que não podemos continuar a nos ater, no processo de ensino de PL2E,
apenas a questões que discutem relações professor/aluno, formação do professor, adequação de recursos da
mídia, relatos de experiência com textos literários, etc., como se tem visto em muitos congressos e seminários
destinados ao assunto. Com isso não queremos dizer que essas questões não tenham a sua devida importância,
mas mostrar que os estudos descritivos na nossa área não se resumem a esses aspectos. A abordagem da
gramática, seguindo parâmetros funcionalistas, é de extrema relevância no ensino de PL2E e deve ser realizada
de forma abrangente, eficiente e segura pelos professores e autores de material didático.
É preciso reconhecer que estamos diante de um universo amplo, diferente, estranho, que deve ser
explorado a partir da percepção da existência das relações que fundamentam todo o processo. Relações de
estranhamento com a nossa própria língua e que nos mostram pistas de um olhar enviesado que se não se define
em um ato concluidor; um olhar que pode sacralizar o óbvio, o banal, e banalizar o sagrado.
REFERÊNCIAS
CASTILHO, A. T. de. Gramática do Português Brasileiro. 1. ed. São Paulo: Contexto, 2012.
CUNHA, C. & CINTRA, L. Nova Gramática do Português Contemporâneo. 6. ed. Rio de Janeiro: Lexicon,
2013.
HENGEVELD, K. “The architecture of a Functional Discourse Grammar.” In: MACKENZIE, J. L.; GÓMEZGONZÁLEZ, M. A. (Ed.). A new architecture for Functional Grammar. Berlin: Mouton de Gruyter, 2004, p.121.
MEYER, R. M. de. Aspectos Semântico-discursivos do Português como Língua Estrangeira. Texto apresentado
no Simpósio "O Português como Língua Estrangeira", como parte da programação da Abralin durante a
reunião Anual da SBPC, Natal, RN, Julho de 1998 (cópia mimeo).
______; ALBUQUERQUE, A. O Pretérito Perfeito Composto no Português para Estrangeiros: fronteiras com
outras línguas. Rio de Janeiro: Livre Expressão, 2011.
REVUZ, C. A Língua estrangeira entre o desejo de um outro lugar e o risco do exílio. In: SIGNORINI, Inês.
Lingua(gem) e Identidade. Campinas, São Paulo: Mercado das Letras, 1998, p. 229.
Data de submissão: abr./2016.
Data de aprovação: abr./2016.
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