MULHERES HEROÍNAS do agronegócio do nascer e do pôr do sol As mulheres sempre foram as guerreiras da agricultura familiar, e no agronegócio irão crescer ainda mais. Estarão lado a lado com os homens como protagonistas da história e de um novo agro. Agora, se dirá que por trás de uma grande mulher precisará haver um grande homem Mestre e doutor José Luiz Tejon Megido, professor e coordenador acadêmico de pós-graduação do Núcleo de Agronegócio da ESPM, conselheiro do Conselho Científico para a Agricultura Sustentável e integrante do Conselho Efetivo da ABMRA José Veríssimo Marize Porto: produtora rural que virou referência em integração lavoura-pecuáriafloresta na sua fazenda em Goiás 42 | MARÇO 2015 MULHERES Marcelo Camargo/Agência Brasil Primeira-ministra da Alemanha, Angela Merkel, defende 40% de mulheres no Conselho de Administração de Empresas A s mulheres fizeram a agricultura nos primórdios da história humana. As mulheres sempre foram as guerreiras da agricultura familiar, trabalhando de sol a sol, e no pôr do sol, nas lidas da casa, dos filhos. Por isso, as mulheres são as heroínas do nascer e do pôr do sol. Nunca paravam, mesmo ao sol se pôr, sob a lua, seu trabalho permanecia, era chamada e exigida. Um dia perguntei a um cidadão da África do Sul como era a vida no período da escravidão. E ele me respondeu: “Sabe quem mais sofria, naquele período?”, “Quem?”, perguntei, “O escravo do escravo: a mulher do escravo”, me respondeu. Mas os tempos mudaram e agora falamos nas mulheres como as melhores líderes, executivas, gestoras, vendedoras e também produtoras rurais. A Zenia, da Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul), dirige o Núcleo de Mulheres Produtoras Gaúchas, por exemplo, com quem tenho tido um prazer imenso de compartilhar. Estão longe do design de mulheres escravizadas ou submissas. Muito pelo contrário, são empreendedoras, dinâmicas, gestoras, realizadoras, destemidas, e ainda obtêm índices tecnológicos avançados quando comparados com a média do estado. As filhas, esposas, viúvas, herdeiras assumem um novo ar no agronegócio, o qual prefiro batizar de Agrossociedade. 44 | MARÇO 2015 Isso envolve um alargar do olhar, para ir além. Além das toneladas, dos graneleiros, das sacas e dos containers. Além da sustentabilidade em si, o que já traz sensibilidade. Mas as mulheres no agro representam a sensibilidade. A qualidade de vida, o amor, a procriação. Significam parecer e perceber de sentidos e de sentimentos. Além da sustentabilidade e da sensibilidade, trazem para o negócio do agro a sensitividade. O talento da mulher está, por exemplo, virando lei na Alemanha. Angela Merkel, primeira ministra alemã, quer que, no Conselho de Administração de Empresas, haja obrigatoriamente 40% de mulheres. Na Coreia do Sul, a presidente disse que vai apontar empresas que não tenham mulheres na alta direção, pois seus estudos comprovam que com mais mulheres no alto comando, o PIB coreano crescerá mais acentuadamente. Um estudo do grupo Caliper, de pesquisas de executivos nos Estados Unidos, revelou que as mulheres, no quesito liderança, obtêm mais pontos do que os homens. Em sete pontos considerados sagrados para liderar, as mulheres pontuam melhor, em média, em seis deles: flexibilidade, ousadia, predisposição ao risco, superação, empatia e foco. Aliás, sob esse ângulo, a mulher determina um intenso poder de foco em tudo o que faz. As jovens mulheres, as que estão vindo das universidades, estão desenvolvendo uma nova pecuária, vitinicultura, criação, lavoura e especialidades. Dona Marize Porto transformou-se no melhor caso de integração lavoura-pecuáriafloresta do País, em Goiás. A história dizia que por trás de um grande homem haverá sempre uma grande mulher, e agora precisamos igualar essas propostas, por trás de uma grande mulher precisará haver um grande homem. Mas, sem dúvida, abrir espaço para as mulheres assumirem posições de gestão e empreendedorismo, na produção rural, significa acima de tudo um ato inteligente. Hoje eu não duvidaria mais, e se estivesse em qualquer posição de um dos nossos leitores, teria uma diretoria com 50% de mulheres na minha empresa, sem dúvida alguma. E se fosse um revendedor ou distribuidor de máquinas e insumos, no mínimo 40% da minha força de vendas seria composta por mulheres. Foco determinado e poder de superação incríveis. Nas organizações internacionais, grandes empresas, as mulheres já têm um papel preponderante em marketing, comunicação, recursos humanos e subindo para alta direção, incluindo pesquisa e sustentabilidade. Se formos até o pósporteira das fazendas, nas agroindústrias, supermercados, energia vegetal, nas cooperativas que mais se destacam, veremos o poder feminino sensibilizando e oferecendo a sensitividade. Afinal, no mundo físico estará cada vez mais a serviço o invisível dos sentimentos. As mulheres no agro irão crescer a cada ano, não que elas já não existissem, apenas ocupavam papéis vitais, mas eram tidas como coadjuvantes. Agora estarão lado a lado com os homens como protagonistas da história e de um novo agronegócio que será cada vez mais uma Agrossociedade.