Keila Valente de Souza

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A OCUPAÇÃO URBANA E AS CONDIÇÕES AMBIENTAIS DAS ÁREAS DE
NASCENTE DA VERTENTE NORTE DO MACIÇO DA PEDRA BRANCA – RJ
Keila Valente de Souza
Universidade do Estado do Rio de Janeiro
[email protected]
Introdução
O trabalho consiste em caracterizar as condições ambientais atuais das áreas de nascentes
fluviais acima de 50 m de altitude na vertente norte do maciço da Pedra Branca na zona oeste da
cidade do Rio de Janeiro - RJ. Elas mostram similaridades, peculiaridades, condições de conservação e
degradação frente ao processo de expansão urbana. São identificadas possíveis causas naturais ou
humanas que lhes atribuem comportamento diferenciado quanto à disponibilidade de recursos hídricos.
Neste maciço está situado o Parque Estadual da Pedra Branca que engloba todo remanescente
florestal presente a 100 metros de altitude. Na vertente norte, principalmente nas baixas encostas e na
baixada, estão os bairros de Campo Grande, Bangu, Realengo, Padre Miguel e Sulacap. A falta de um
planejamento territorial para a expansão desses bairros tem gerado conflitos entre o Parque Estadual e
principalmente as populações de média e baixa renda.
Os resultados dessa expansão urbana mostram-se de fundamental importância para a avaliação
das condições ambientais das nascentes fluviais. Busca-se constatar que as construções “formais” do
ambiente urbano, favelas e as atividades agropecuárias, que se processaram nesta vertente, agravam o
avanço da degradação ambiental sobre as áreas florestadas, retraindo a drenagem, interferindo na
qualidade e disponibilidade dos recursos hídricos e gerando problemas de poluição e enchentes nas
áreas da baixada mais à jusante. Muitas vezes, antes da ocupação urbana, a passagem de áreas
florestadas para áreas rurais, possibilitam a redução de drenagem como apontada por Farias &
Marques (2000).
Metodologia
As etapas de desenvolvimento do trabalho foram o levantamento bibliográfico referente à área
de estudo e às temáticas relativas a geomorfologia, ao ambiente e às características do uso do solo em
áreas urbanas do Rio de Janeiro.
Os dados relativos ao relevo e à drenagem foram levantados a partir de documentação
cartográfica disponível na escala de 1:10.000, do ano de 2000 produzida pelo Instituto Pereira Passos –
Rio de Janeiro. Quanto a ocupação também foram utilizados estes mapas, e mapas mais antigos na
escala de 1:50.000 do ano de 1968.
Foram delimitadas todas as bacias de drenagem que se encontram acima de 50 m de altitude na
vertente estudada. Abaixo desta altitude a grande maioria dos canais de drenagem já se encontra
incorporado ao ambiente urbano.
A drenagem foi restituída, sendo classificadas e individualizadas áreas que contem cabeceiras
de drenagem com canais permanentes e áreas de cabeceiras de drenagem que contem apenas canais de
drenagem efêmeros. As áreas com canal permanente que no começo foram totalizadas em 26 unidades
passaram para 31 unidades devido ao encontro de novos canais. Estes canais são: Morto, Caboclos,
Batalha, Lameirão, Cachorros e nascentes do rio Cabuçú que deságuam na bacia da Baía de Sepetiba;
rios Viegas, Tintas, Sandá, Piraquara, nascentes do rio Caranguejo, dos cachorros, Catarina e dos
Afonsos que deságuam na bacia baía da Guanabara. Foram encontrados 8 áreas de bacias sem canais.
Foram escolhidas e mensuradas as seguintes variáveis morfométricas relativas ao relevo e à
drenagem: área da bacia; comprimento de canais, número de nascentes; densidade de drenagem e de
nascentes; a amplitude do relevo e gradiente do canal principal. Estas variáveis foram classificadas
para serem representadas em cartogramas, que permitem identificar espacialmente as unidades
estabelecidas e verificar as similaridades e as diferenças existentes entre elas quanto a drenagem e o
relevo. Esses resultados são relacionados com as características ambientais presentes nas unidades,
assim como os dados e informações obtidos relativos à ocupação do solo.
Resultados e Discussões
A área estudada tem um total de aproximadamente 40 km². Os rios das áreas de nascentes são
permanentes, em grande maioria, e muitas se encontram ocupadas por aglomerados urbanos. O padrão
de drenagem na área do maciço é do tipo radial centrífugo. O domínio da baixada apresenta-se como
uma extensa planície flúvio-marinha.
Conforme foi demonstrado por Costa (1986) seu relevo é escarpado, de encostas convexas a
retilíneas e vales em forma de “v”. Possui vertentes predominantes simétricas, indicando uma relação
de equilíbrio entre o entalhamento e o alargamento do vale, devido às condições litológicas da região.
As encostas do maciço da Pedra Branca acham-se recobertas pelos seguintes solos: os
podzólicos, recobrindo a maior parte da área e mais restritos às de menor altitude, são solos rasos e, na
maioria das vezes, estão associados aos solos litólicos com sua textura média argilosa, tendendo, em
alguns casos, a umas fases pedregosas, derivando dos gnaisses e granitos que formam o substrato dessa
região; os latossolos em menor extensão, os planossolos e os solos, Costa (2001 apud Embrapa 1980).
Queimadas para renovação de pastos propiciam ocupações indevidas, com grande ocorrência de
desmatamentos. O grande número de pedreiras ativas e inativas e a instalação de torres de transmissão
de energia têm também contribuído para este quadro de degradação.
Os baixos cursos desses rios recebem efluentes antropogênicos em grande escala. Suas
planícies apresentam-se bastante modificados, devido às obras de drenagem e dragagem que em
termos ambientais eliminaram ou reduziram drasticamente as várzeas alagadas, Costa (2002).
Em grande parte das bacias estudadas a ocupação já está ultrapassando a cota dos 100m de
altitude. As bacias que deságuam na baia de Guanabara são as mais ocupadas por favelas e construções
formais. Já as bacias que deságuam na baia de Sepetiba são encontradas ocupações até a cota de 75 m
de altitude, as casas de veraneio ou sítios são as que transgridem os limites do parque.
A água no maciço ainda é utilizada como recurso, no vertente norte está localizado uma
unidade de tratamento de água no Rio da Prata para abastecimento da população, a falta de um plano
de manejo e zoneamento poderá acarretar problemas de saúde para a população que utiliza essa água.
Os mananciais de águas que foram fundamentais para a ocupação inicial da população e de
importantes atividades industriais, hoje não se fazem tão disponíveis. Segue abaixo a análise
morfométrica.
Nº de
Bacias
Densidade
Densidade
Area nascentes Drenagem
Amplitude
de nascente de Relevo
Gradiente
Canal
Baía de Sepetiba
Gato
0,9
8
3,2
8,9
420,5
205
Lameirão
6,5
22
2,7
3,4
974,7
850
Caboclos
3,6
22
3,6
6,1
641,7
545
Cachoeira
2,1
10
3,0
4,8
511,7
375
Batalha
4,4
11
3,2
2,5
847,3
800
I
0,7
2
1,4
2,9
511,7
140
II
0,3
2
5,7
6,7
280
275
III
0,3
1
0,7
3,3
233
50
IV
0,8
3
1,1
3,8
405,8
195
V
0,7
2
0,6
2,9
425,2
100
VI
0,3
1
0,7
3,3
196,2
75
VII
0,1
1
2,5
10
180
85
VIII
0,2
4
1,7
20
180,8
85
IX
0,1
4
2,8
40
190,1
150
X
0,4
6
2,6
15
256
250
XI
0,1
1
2
10
175
100
XII
0,8
4
1,4
5
425,2
150
XIII
0,1
2
2,5
20
130
75
Viegas
3,9
8
2,0
2,1
785
570
Tintas
6,2
7
1,8
1,1
882,5
70
3
17
9,6
5,7
333,9
106,5
Piraquara
3,5
7
1,7
2
830,8
625
Afonsos
2,7
7
2,4
2,6
203,8
195
1
3
2,12
3
390
150
Baía de
Guanabara
Caranguejo
Cachorros
Catarino
2
1
0,4
0,5
500
15
XIV
0,3
5
2,8
16,7
240,8
225
XV
0,1
3
2,68
30
175
130
XVI
0,1
1
5,7
10
209,2
160
XVII
0,3
6
3,2
20
209,2
175
XVIII
0,2
2
1,65
10
218,8
100
Bacias Sem Rio
I
1,6
II
0,4
III
0,2
IV
1
V
0,6
VI
0,1
VII
0,3
Figura 1: Análise morfométrica
Na análise morfométrica foi possível chegar as seguintes caracterizações: Existem áreas com
no mínimo 0.1 km apresentam rios permanentes como observado nas bacias XV, XVI XIII ; As
maiores densidades de rio estão nas pequenas bacias de até 0.3 km, isto pode ser um indício de que as
bacias maiores no passado tinham um número maior de rios. As menores bacias se encontram nas mais
baixas altitudes e sua amplitude de relevo e gradiente de canal tem menos variação. Estas se
encontram mais próximas das ocupações, mas ainda conservam parte de sua drenagem; as bacias XVII
e XVIII apesar de apresentarem rios permanentes, estes não são afluentes de nenhuma outra grande
bacia, sendo incorporada a área urbana. Isto reforça a hipótese de que outras bacias sem rio
permanente atualmente apresentavam estas características.
Conclusão
Embora existam na Pedra Branca grande áreas florestais, protetoras dos mananciais, vários
tipos de uso, tanto urbanos quanto rurais, vêm comprometendo a preservação das mesmas. A maior
parte das encostas é considerada imprópria para qualquer tipo de ocupação; os problemas de erosão do
maciço dão-se tanto nas áreas ocupadas quanto nas desocupadas, mas são registradas apenas as
ocorrências que causam dano às áreas urbanizadas.
A estimativa é se continuar na Pedra Branca, os aumentos de ocupações, com a emissão de
poluentes nos rios, progredindo desta forma, a maior parte dos mananciais utilizados no abastecimento
das populações circunvizinhas, estarão comprometidos para consumo.
Torna-se necessário um plano para utilização e ocupação do solo, definindo assim um uso mais
correto para que haja uma conservação do meio ambiente local.
A próxima fase do trabalho dará destaque à caracterização mais detalhada de cada bacia e
avaliará as relações entre a densidade de ocupação e as possíveis ausências de canais.
Referências Bibliográficas
COSTA, Nadja Maria Castilho da. Análise do Parque Estadual da Pedra Branca (RJ) por
Geoprocessamento: Uma contribuição ao seu plano de Manejo. 2002.2v. Tese(doutorado em
Geografia) – Instituto de Geociências, Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2002.
COSTA, Nadja Maria Castilho da. Geomorfologia Estrutural dos maciços litorâneos do Rio de Janeiro.
Dissertação (Mestrado em Geografia). Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1986.
COSTA, N.M.C.; COSTA, V.C.; LIMA, I.C.; Otaviano, Claudi Arcanjo. Potencial de Erodibilidade
das Bacias Hidrográficas do Maciço da Pedra Branca –RJ. In: Estudos de Geografia Fluminense. 1º
Ed. Rio de Janeiro. Ed. UERJ. 2001.
FILHO, Domingos Parra & SANTOS, João Almeida. Metodologia Científica. 3º. Ed. São Paulo.
Futura.2000.
FARIA, Antônio Paulo; MARQUES, Jorge Soares. O Desaperecimento de Pequenos Rios Brasileiros.
REVISTA CIÊNCIA HOJE, Rio de Janeiro, V.25, n.146,p.56-61,jan./fev.1999.
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