o ruído ocupacional no exercicio profissional da odontologia

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O RUÍDO OCUPACIONAL NO EXERCÍCIO PROFISSIONAL DA
ODONTOLOGIA.
Aridiane de Castro Borges*
Fillipe Gonçalves Coura Abreu*
Lucas Correa da Silva*
Ramon Ewerton Almeida Costa*
Samuel Siqueira Henrique dos Santos*
Elaine T. Pitanga Fernandes**
RESUMO
Tanto o profissional como acadêmicos de Odontologia estão freqüentemente
expostos a diversas fontes de ruídos oriundos de equipamentos utilizados no consultório
odontológico. O objetivo desse trabalho foi realizar uma revisão de literatura sobre os
efeitos ocupacionais do ruído, bem como o conhecimento destes por alunos e
profissionais durante o exercício profissional da odontologia. Após o levantamento da
literatura pertinente concluiu-se que os efeitos nocivos do ruído não se limitam apenas às
lesões do aparelho auditivo, mas comprometem diversos outros órgãos, aparelhos e
funções do organismo. Além dos danos auditivos, os principais efeitos do ruído são:
estresse, irritabilidade, nervosismo, queda na produtividade, alterações na pressão arterial,
cefaléia, tontura, problemas digestivos e zumbido. Com relação ao conhecimento sobre os
efeitos do ruído, os alunos de graduação em Odontologia têm consciência dos riscos e
medidas de prevenção relacionadas ao mesmo, enquanto os cirurgiões-dentista tem muito
pouco conhecimento a respeito do ruído e suas conseqüências. Ambos não usam
equipamento de proteção individual durante o atendimento clínico. Como método
preventivo ao ruído ocupacional estudiosos preconizam a inclusão do protetor auricular
como equipamento de proteção individual para o cirurgião-dentista, bem como programas
de conservação auditiva nas universidades.
PALAVRAS-CHAVE: Ruído ocupacional, Odontologia, Perda auditiva.
*Alunos do 8º período do curso de Odontologia da FACS/UNIVALE.
** Professora Adjunta da FACS/UNIVALE; Mestre em Clínica Odontológica
2
INTRODUÇÃO
O tema ruído, suas repercussões na saúde e a maneira de estabelecer controle do
mesmo tem sido objetivo de crescentes estudos e preocupações no campo da saúde
publica (SANTOS, 1996).
Segundo Souza, Matos e Nunes (2002) o termo ruído deve ser usado para
descrever um som indesejável, de forma distinta do termo som, utilizado apenas para as
sensações prazerosas.
O exercício profissional da Odontologia traz ao longo de sua trajetória alguns
riscos ocupacionais severos. Dentre eles, os problemas auditivos oriundos dos ruídos do
ambiente clínico são bastante freqüentes, causando danos irreversíveis aos profissionais
atuantes. Os altos níveis de ruído são advindos de várias fontes, presentes no consultório
odontológico, tais como, compressores de ar, sugadores de saliva, bombas de aspiração à
vácuo e turbinas de alta rotação, além de outros fatores como som ambiente e ruído
externo ao ambiente de trabalho (GARBIN et al., 2004; TORRES et al., 2007).
As possíveis marcas dos anos de trabalho são cumulativas e só serão observadas
ao final da carreira, quando nada mais ou muito pouco pode ser feito (TORRES et al.,
2007). A cronicidade dos efeitos e as dificuldades de estabelecer correlações diretas com
doenças que comprometem o aparelho auditivo fazem do ruído um agente reconhecível,
mas com repercussões pouco “visíveis”, sendo necessário chamar a atenção para o real
problema que afeta os trabalhadores de saúde bucal (SOUZA, MATOS e NUNES, 2002).
Os efeitos nocivos do ruído não se limitam apenas às lesões do aparelho auditivo,
mas comprometem diversos outros órgãos, aparelhos e funções do organismo,
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contribuindo dessa maneira para aumentar as preocupações e esforços na eliminação e/ou
controle desse agente (SOUZA, MATOS e NUNES, 2002; GARBIN et al., 2004).
Em virtude disso, os profissionais da classe odontológica devem ser
conscientizados sobre a sua existência bem como sobre as conseqüências danosas que
representam para sua saúde (SOUZA, MATOS e NUNES, 2002).
Diante do exposto este estudo tem como objetivo realizar uma revisão de literatura
sobre os efeitos ocupacionais do ruído, bem como o conhecimento destes por alunos e
profissionais durante o exercício da Odontologia.
REVISÃO DA LITERATURA
O cirurgião-dentista está exposto à vários agentes estressores durante a execução
de suas tarefas diárias. Entre eles, o ruído ambiental pode ser considerado um dos mais
prejudiciais em função da cronicidade do seu efeito, além de ser um agente facilmente
ignorado, pois suas conseqüências somente poderão ser observadas com o passar dos
anos, em alguns casos tarde demais (SOUZA, MATOS e NUNES, 2002; TORRES et al.,
2007).
As principais fontes de ruído as quais os cirurgiões dentistas estão expostos
diariamente são: compressores de ar, sugadores de saliva, bombas de aspiração à vácuo e
turbinas de alta rotação, além de outros fatores como som ambiente, choro e gritos de
crianças e ainda ruídos externos ao ambiente de trabalho, como conversação de clientes
na sala de espera e barulho de trânsito (BRASIL, 2006; GARBIN et al., 2004; TORRES
et al., 2007).
4
De acordo com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), o ruído
assim como os demais agentes físicos associados está entre os riscos mais freqüentes a
que estão sujeitos os profissionais que atuam na assistência odontológica (BRASIL,
2006).
A Organização Mundial de Saúde estima que em torno de 15% dos trabalhadores
de países desenvolvidos estejam expostos a intensidades deletérias à audição (WHO,
2001).
No que diz respeito à legislação brasileira relativa à segurança e medicina do
trabalho, o Ministério da Saúde, através da Norma Regulamentadora nº 15, anexo nº 1, da
Portaria nº 3.214, de 08 de junho de 1978, estabelece que os sons potencialmente
perigosos estão acima de 85 dB (A), embora o limiar seguro possa variar de pessoa para
pessoa e até de ouvido para ouvido. Quanto aos limites de tolerância, o tempo máximo de
exposição a um ruído de 85 dB equivale a oito horas, sendo que se em 86 dB este tempo
passa para sete, em 87 dB cai para seis horas e em 88 dB sua tolerância baixa para cinco
horas (BRASIL, 1999).
Em relação aos níveis de ruído, a Organização Mundial de Saúde (OMS)
preconiza que o limiar seguro é de 55 dB, recomendando a utilização de algum tipo de
proteção em níveis acima deste. Quando o nível de ruído ultrapassa 75 dB(A), as pessoas
começam a sentir desconforto acústico, e além de 80 dB(A), as mais sensíveis podem
sofrer perda de audição, o que se generaliza quando ocorrem níveis acima de 85 dB(A)
(OMS, 2002).
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A Norma Regulamentadora 17 (NR-17) preconiza que para o trabalho ser
executado de forma segura e eficiente, o nível de ruído aceitável deve ser de 65 dB, no
que tange às condições de conforto acústico (BRASIL, 1999).
Os ruídos ambientais provenientes de equipamentos usados durante o tratamento
odontológico são extremamente prejudiciais à saúde do cirurgião-dentista e, além de
promoverem a diminuição da capacidade auditiva, levam os profissionais ao estresse,
estafa, irritabilidade, nervosismo, queda na produtividade e alterações na pressão arterial.
A continuidade do ruído tem efeitos adversos no raciocínio, na habilidade e na exatidão
de resolução de problemas (SAQUY, et al. 1990; SMITH, 1997; DIAS, CORDEIRO e
GONÇALVES, 2006; OLIVEIRA, CAMPOS e GARCIA, 2007).
Devido ao fato de tais ruídos não poderem ser eliminados, torna-se importante à
conscientização precoce dos dentistas quanto aos riscos a que estão expostos para que
possam controlá-los (SOUZA, MATOS e NUNES, 2002; GARBIN, et al., 2004;
OLIVEIRA, CAMPOS e GARCIA, 2007).
A Perda Auditiva Induzida por Ruído (PAIR) pode ser conceituada como uma
diminuição gradual da acuidade auditiva do tipo neurossensorial decorrente da exposição
contínua a níveis elevados de ruído, constituindo-se em doença profissional de grande
prevalência no meio odontológico. O indivíduo acometido pela PAIR é capaz de ouvir,
porém incapaz de compreender o que está sendo dito. Na Odontologia, o ruído pode
provocar ainda uma queda de 60% na produtividade por dificultar a concentração,
propiciando erros, desperdícios e acidentes por distração. É importante ressaltar que tal
distúrbio é irreversível e de evolução progressiva, passível totalmente de prevenção, de
modo que cessada a causa ou minimizada para níveis não lesivos, a perda se estabilizará.
A PAIR não é corrigida nem cirurgicamente, e muito menos com o uso de aparatos
auditivos. Sabe-se que a exposição freqüente a elevados níveis de ruídos provenientes do
ambiente profissional, é um potencial fator de risco para que o cirurgião-dentista seja
6
acometido pela Perda Auditiva Induzida por Ruído (PAIR). Segundo dados do Ministério
da Saúde, além dos sintomas auditivos freqüentes, o trabalhador portador de PAIR
também apresenta queixas como cefaléia, tontura, irritabilidade e problemas digestivos
(BRASIL, 2006).
Dentre os efeitos decorrentes da perda auditivas, Dias e Cordeiro (2008),
ressaltam ainda o zumbido que ao propiciar dificuldades inclusive em contexto
extralaborais, influencia negativamente na qualidade de vida do trabalhador e das pessoas
que o cercam.
Assim como nos consultórios odontológicos, nas faculdades de Odontologia as
atividades de ensino-aprendizagem requerem o uso de equipamentos que emitem ruído
(instrumentos rotatórios de alta e baixa rotação, máquinas de laboratório, etc). Desta
forma faz-se importante investigar o conhecimento de alunos e profissionais a respeito
dos riscos ocupacionais provocados pelo ruído (TORRES, 2007).
Fernandes, Oliveira e Fernandes (2004), pesquisaram a que níveis de ruído o
cirurgião-dentista de Bauru está exposto em seu consultório dentário quando utiliza sua
caneta de alta rotação, e se esse ruído pode ou não trazer conseqüências a ele.
Pesquisaram ainda através de um questionário, o nível de conhecimento dos cirurgiõesdentistas a respeito de ruídos. Realizaram medições em 21 consultórios dentários, tanto
do ruído ambiental, quanto das canetas de alta rotação em funcionamento, vinte e cinco
profissionais responderam ao questionário. Através dos resultados os autores concluíram
que o cirurgião-dentista não corre riscos de perda auditiva, mas a sua saúde física e
mental e seu bem estar podem ser alterados por conta do ruído da caneta de alta rotação
somada ao ruído ambiental; verificaram também que os profissionais conhecem muito
pouco a respeito do ruído e suas conseqüências, e não adotam praticamente nenhuma
atitude para se prevenir contra as conseqüências da exposição ao ruído.
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Garbin et al. (2006), elaboraram um estudo com o objetivo de realizar uma
avaliação ocupacional do nível de ruído produzido em 40 equipos ocupados por 80 alunos
divididos em dupla, durante atividade clínica, na disciplina de Clínica Integrada da
Faculdade de Odontologia de Araçatuba UNESP. Os resultados mostraram que o nível de
ruído, tanto a média, máxima e a mínima (76,0 dB; 83,4 dB e 70,0 dB, respectivamente)
não consta de uma atividade insalubre conforme a NR-15 norma de segurança e medicina
do trabalho e não estabelece a obrigatoriedade quanto ao uso do protetor auditivo. No
entanto o valor máximo ficou acima do limitado de 80 dB da norma NR-17, e por fim
todos os valores ficaram acima de 65 dB da norma NBR-10152 de conforto acústico.
Dessa forma os autores concluíram que o profissional deve adotar medidas de
comportamento preventivo, como o uso de protetor auricular, mesmo que não obrigatório,
para evitar lesões auditivas ao longo de sua carreira. Os autores ressaltam ainda que as
universidades devem realizar avaliações de insalubridade nas clínicas de graduação, e
assim alertar os futuros profissionais dos riscos ocupacionais, aos quais estão expostos.
Com o objetivo de avaliar o nível de conhecimento de acadêmicos de Odontologia
acerca da PAIR, Torres et al. (2007) realizaram um estudo com 68 alunos do curso de
Odontologia da Universidade da Paraíba. Os dados foram coletados através de um
questionário. Os resultados mostraram que 79,5% dos estudantes sabem que a PAIR é
uma perda da capacidade auditiva provocada por exposição constante ao ruído, 4,5%
complementaram, classificando-a como doença ocupacional. Com relação as causas,
92,6% citaram o ruído constante como condição de risco para a PAIR, sendo o
compressor e a alta rotação os mais citados como fonte de ruído. Como medidas de
proteção o protetor auricular, a localização adequada do compressor e a manutenção
técnica dos equipamento foram as mais relacionadas. Os resultados observados indicaram
que os acadêmicos conhecem a PAIR, sabem que o cirurgião dentista é um profissional de
risco para tal patologia e ainda conhecem suas causas e medidas de prevenção, apesar de
não utilizá-las. Os autores consideram que há necessidade de conscientização dos
acadêmicos para utilização de tais medidas, visto que esta problemática interfere na
qualidade de vida dos que atuam na profissão odontológica.
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Oliveira, Campos e Garcia (2007), observaram e compararam a percepção dos
alunos de um curso de Odontologia quanto aos efeitos de ruído dentro do ambiente de
trabalho odontológico. A população foi constituída de 196 alunos do curso de graduação
da faculdade de Odontologia de Araraquara – UNESP, do segundo ao quarto ano. O
instrumento de análise foi questionário contendo questões relativas à exposição e às
principais fontes de ruído ocupacional. Os resultados mostraram que 93,9% dos alunos do
segundo ano, 96,8% do terceiro e 100% dos alunos do quarto ano julgaram que estão
sendo expostos aos ruídos ambientais durante os trabalhos na clínica e laboratórios. A
principal fonte de ruídos durante as atividades clínico/laboratoriais relatada pelos alunos
do segundo e terceiro ano foi a caneta de alta rotação (18,2 e 8,1% respectivamente) e,
para o quarto ano, foi a bomba à vácuo (25%). Com relação à reação ao ruído, 36,4% dos
alunos do segundo ano, 67,7% do terceiro e 52,9% do quarto mencionaram que ele
incomoda. Os autores concluíram que a percepção quanto à exposição ao ruído ambiental
aumenta no decorrer do curso, à medida em que os alunos entram cada vez mais em
contato com o mesmo. A maioria dos alunos da graduação possuía consciência da
presença do ruído ocupacional e de suas conseqüências sobre a sua saúde, porém seus
conhecimentos a respeito de medidas preventivas adequadas, bem como da intensidade
máxima à qual podem se expor durante a execução de seu trabalho diário ainda são
limitados.
Torres (2007), investigou o conhecimento de acadêmicos de Odontologia de uma
Universidade Pública do Rio Grande do Norte acerca da Perda Auditiva Induzida pelo
Ruído (PAIR), relacionando-o aos níveis de ruído a que estão expostos e à tomada de
medidas preventivas durante as atividades clínicas. Foi observado que 95% dos
indivíduos sabem que o cirurgião dentista é um profissional de risco para a PAIR. Dentre
as causas da PAIR, a caneta de alta rotação foi lembrada por 92,4% dos acadêmicos. Dos
que enumeraram medidas de proteção para a PAIR, 92% citaram o uso de protetor
auricular, embora 97% dos pesquisados terem relatado não usar nenhum tipo de medida
preventiva em relação ao ruído. Observou-se também que 96% dos acadêmicos percebem
o ruído durante o atendimento clínico, o que chega a incomodar 28,1% deles. Quanto aos
níveis de ruído, as canetas de alta rotação dos acadêmicos apresentaram um valor médio
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de 80,5 dB variando de 72,3 a 88,3 dB. Já a média de ruído ambiente na Clínica Integrada
foi de 74,8 dB. Apesar dos níveis de ruído observados neste estudo encontrarem-se abaixo
dos limites de tolerância estabelecidos pela legislação, o autor considerou que podem
provocar prejuízos à saúde dos profissionais da Odontologia. Dessa forma sugeriu que os
cursos de graduação deveriam incentivar os alunos a se prevenir das doenças
ocupacionais e melhor preservar sua saúde.
Estudos abordando os efeitos do ruído ocupacional na saúde do cirurgião dentista
tem sido objeto de crescentes investigações na área da saúde pública. Desta forma,
Paraguay (1999) realizou um estudo com o objetivo de verificar se o ruído presente no
consultório odontológico exerce alterações na acuidade auditiva do cirurgião dentista. Foi
realizada uma pesquisa prática com exames auditivos e anamnese para coleta dos dados
de profissionais, classificando-os de acordo com o tempo de exposição ao ruído.
Cirurgiões-dentistas com, aproximadamente, cinco anos de vida profissional não
referiram queixas audiológicas. Após este período, as queixas começaram a surgir:
cefaléia, zumbidos, diminuição auditiva e irritabilidade. Segundo o autor as audiometrias
tonais e vocais confirmam que a perda auditiva induzida por ruído acometem estes
profissionais e que eles nada fazem para minimizar o barulho no ambiente.
Lacerda et al. (2002), analisaram os níveis de pressão sonora (NPS) presente no
consultório odontológico a fim de detectar se pode ser considerado como fator de risco de
acordo com o limite máximo de ruído permitido pela legislação do trabalho para as
pessoas que atuam neste local. Foram realizadas avaliações em diferentes circunstâncias,
ou seja, desde o ambiente silencioso até o mais ruidoso, com todos os equipamentos
funcionando, e avaliação individual de cada peça de mão. Os resultados revelaram
variações de 45 a 76 dB(A) em diferentes medições no consultório odontológico e de 70 a
78 dB(A) nas peças de mão. Os autores concluíram que os níveis de pressão sonora
encontrados podem causar desconforto, sem necessariamente implicar em risco ou dano à
saúde.
10
Ruschel et al. (2005), averiguaram a existência da perda auditiva induzida pelo
ruído em cirurgiões-dentistas, relacionando o grau de perda auditiva encontrado ao tempo
de exposição diária, ao ruído ocupacional e ao tempo de atividade profissional na clinica
odontológica. Para tanto, foi realizado uma avaliação audiológica através dos
procedimentos de audiometria tonal limiar, logoaudiometria, imitanciometria e emissões
otoacústica. Os autores concluíram que houve de fato uma interferência do ruído
ocupacional na audição dos cirurgiões-dentistas. O rebaixamento do limiar auditivo em
forma de gota acústica foi verificado em 100% dos profissionais com tempo de atuação
na Odontologia superior a cinco anos. O fator que mais fortemente incidiu como
colaborador da perda auditiva foi o tempo de atividade profissional.
Lelo et al. (2009), avaliaram os limiares auditivos por meio da audiometria tonal
limiar (ATL), em 30 cirurgiões-dentistas que atuam a mais de três anos na profissão, com
idade máxima de ate 45 anos. Todos os participantes passaram pelos seguintes
procedimentos: anamnese, meatoscopia, ATL, logoaudiometria e imitanciometria. Os
resultados mostraram que 27% dos odontólogos apresentaram queixa de zumbido, 30%
de insônia e 37% dor de cabeça. Segundo os autores, tais achados justificam a
necessidade da realização de exames audiometricos periódicos e o uso de protetores
auriculares para a manutenção da saúde auditiva e a diminuição dos sintomas associados.
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DISCUSSÃO
Autores como Garbin, et al. (2004); Fernandes, Oliveira e Fernandes, (2004);
Brasil, (2006); Torres, et al. (2007) concordam que o cirurgião-dentista, basicamente, está
sujeito a dois tipos de ruídos: o ruído ambiental, constituído pelos ruídos externos ao seu
ambiente de trabalho, tais como o trânsito, vozes, compressor de ar (quando se localizar
fora do ambiente), telefone, campainha, ruídos provenientes da sala de espera, e pelos
ruídos provenientes de seu próprio ambiente de trabalho, tais como as canetas
odontológicas, compressor de ar (quando localizado no ambiente), sugador,
amalgamador, condicionador de ar, entre outros
O aumento das fontes produtoras de ruído tem prejudicado a qualidade de vida dos
profissionais, acelerando a deterioração do aparelho auditivo podendo causar lesões
irreversíveis, dependendo da intensidade do ruído e do tempo de exposição (GARBIN et
al., 2006).
Estudiosos (Souza, Matos e Nunes, 2002; Garbin et al., 2004) corroboram a idéia
de que os efeitos nocivos do ruído não se limitam apenas às lesões do aparelho auditivo,
mas comprometem diversos outros órgãos, aparelhos e funções do organismo,
contribuindo dessa maneira para aumentar as preocupações e esforços na eliminação e/ou
controle desse agente. Além dos danos auditivos, os principais efeitos do ruído relatados
pelos pesquisadores (Saquy, et al. 1990; Smith, 1997; Dias, Cordeiro e Gonçalves, 200);
Oliveira, Campos e Garcia, 2007) são: estresse, irritabilidade, nervosismo, queda na
produtividade, alterações na pressão arterial. Outros autores ainda citam a cefaléia,
tontura e problemas digestivos (BRASIL, 2006) e o zumbido (DIAS e CORDEIRO,
2008). Cordeiro et al. (2005) relatam uma associação positiva entre ruído e acidentes de
trabalho ao avaliarem trabalhadores na cidade de Botucatu, São Paulo.
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No que diz respeito à legislação que controla o ruído, observa-se uma divergência
entre as formas da Lei, uma vez que nem o Ministério da Saúde, nem a Organização
Mundial de Saúde chegaram a um consenso quanto aos limiares seguros do nível de ruído
(BRASIL, 1999; OMS, 2002). A Norma Regulamentadora NR 15 do Ministério da Saúde
estabelece um valor máximo de 85dB(A) para uma jornada de 8 horas de trabalho diário,
enquanto a OMS preconiza que o limiar seguro é de 55dB(A). Nesse meio fica o
cirurgião-dentista à revelia, exposto aos riscos ocupacionais e sofrendo as conseqüências
da perda auditiva induzida pelo ruído.
Nas aulas práticas dos cursos de Odontologia a acústica ambiente é caracterizada
por altos níveis de ruído em relação a outras áreas de ensino, atribuídos ao ruído
exagerado produzido por instrumentos rotatórios de baixa e alta rotação e ao uso
simultâneo de equipamento odontológico por várias pessoas ao mesmo tempo (TORRES,
2007).
Nos estudos realizados por Garbin et al. (2006) e Torres (2007) para avaliação do
nível de ruído durante as atividades clínicas em faculdades de Odontologia, os resultados
encontrados ficaram abaixo do limite de tolerância estabelecido pela legislação e, portanto
não indicaram uma atividade insalubre. Resultado semelhante foi constatado por Lacerda
et al. (2002) e Fernandes, Oliveira e Fernandes (2004) ao analisarem os níveis de pressão
sonora em consultórios odontológicos. Lacerda el al. (2002); Garbin et al. (2006) e Torres
(2007) concordam que apesar de não oferecerem risco para a perda auditiva, os níveis de
ruído encontrados podem provocar desconforto e prejuízos à saúde e qualidade de vida
dos profissionais da Odontologia.
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Paraguay (1999) e Ruschel et al. (2005) realizaram exames audiometricos para
avaliarem os limiares auditivos de cirurgiões-dentistas. Paraguay (1999) obteve como
resultados em sua pesquisa que os odontólogos com cinco anos ou mais de atuação
profissional apresentaram alterações no exame de audiometria tonal limiar, dado este
confirmado através dos achados de Ruschel et al. (2005). Os autores corroboram que
houve de fato uma interferência do ruído ocupacional na audição dos cirurgiões-dentistas.
Com relação à percepção de alunos de graduação em Odontologia quanto aos
efeitos do ruído dentro do ambiente de trabalho odontológico, os estudos mostram que os
mesmos têm consciência dos riscos e medidas de prevenção relacionadas ao ruído,
embora não ponham em prática tal conhecimento (TORRES et al. 2007; OLIVEIRA,
CAMPOS E GARCIA, 2007). Já em relação ao conhecimento dos profissionais
Fernandes, Oliveira e Fernandes, (2004) relatam que eles conhecem muito pouco a
respeito do ruído e suas conseqüências e também não adotam praticamente nenhuma
medida preventiva.
Em função dos efeitos cumulativos do ruído, a percepção para a importância de
sua prevenção é extremamente relevante para os futuros profissionais, visto que não há
como desfazer os danos causados pelo ruído depois que eles se instalaram (SOUZA,
MATTOS e NUNES, 2002; OLIVEIRA, CAMPOS e GARCIA, 2007).
Considerando que o ruído é um fator presente na vida do cirurgião-dentista desde
a sua formação profissional e que a prevenção é o único meio para se preservar a sua
saúde auditiva, Garbin et al. (2006) e Torres et al. (2007) recomendam que o cirurgiãodentista inclua o protetor auricular no Equipamento de Proteção Individual (EPI)
objetivando minimizar a exposição ao ruído no consultório odontológico, bem como a
ocorrência de lesões auditivas. No mesmo sentido Lelo et al. (2009) além de
preconizarem o uso de protetores auriculares, ressaltam a necessidade dos profissionais
realizarem exames audiométricos periódicos visando a manutenção da saúde auditiva.
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A pouca informação referente ao ruído em consultório odontológico durante a
graduação pode estar dificultando que esses profissionais controlem o ruído em seus
consultórios e se previnam de possíveis alterações auditivas. Neste sentido, Torres et al.
(2007) e Torres (2007) concordam que para tal conscientização dos acadêmicos, as
faculdades de Odontologia, deveriam implementar um programa de conservação auditiva
que contemplasse o fornecimento de informações acerca da PAIR e a exigência de que no
Equipamento de Proteção Individual de uso já rotineiro, em função das normas de
biossegurança adotadas, seja incluído o protetor auricular, o que o tornaria também de uso
obrigatório no atendimento clínico. Dessa forma, o acadêmico de Odontologia, deve
encarar a importância de identificar riscos e procurar eliminá-los, desde já, de seu
ambiente de trabalho, a fim de atingir, no futuro, uma ótima saúde e qualidade de vida.
CONCLUSÃO
- Os principais efeitos do ruído ocupacional na vida do cirurgião dentista são:
diminuição da capacidade auditiva, estresse, estafa, irritabilidade, nervosismo, cefaléia,
tontura, problemas digestivos, queda na produtividade, alterações na pressão arterial e
aumento no risco de acidentes.
- Com relação ao conhecimento sobre os efeitos do ruído, os alunos de graduação
em Odontologia têm consciência dos riscos e medidas de prevenção relacionadas ao
mesmo, enquanto os cirurgiões-dentista têm muito pouco conhecimento a respeito do
ruído e suas conseqüências. Ambos não usam equipamento de proteção individual durante
o atendimento clínico.
- Maior ênfase sobre os riscos inerentes ao ruído ocupacional na Odontologia deve
ser dada nos cursos de graduação, enfocando os aspectos preventivos relacionados ao
ruído incentivando cada vez mais o aluno a prevenir-se das doenças ocupacionais e
melhor preservar sua saúde.
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ABSTRACT
THE OCCUPATIONAL NOISE IN THE PRACTICE OF DENTISTRY.
Tanto o profissional como acadêmicos de Odontologia estão freqüentemente
expostos a diversas fontes de ruídos oriundos de equipamentos utilizados no consultório
odontológico. The objective of this work was to carry through a literature revision on the
occupational effect of the noise, as well as the knowledge of these for pupils and
professionals during the professional exercise of the odontologia. After the survey of
pertinent literature was concluded that the harmful effect of the noise if do not limit only
to the injuries of the auditory device, but compromises diverse other agencies, devices
and functions of the organism. Beyond the auditory damages, the main effect of the noise
are: it estresse, digestive irritability, nervousness, fall in the productivity, alterations in the
arterial pressure, chronic headache, giddiness, problems and humming. Com relação ao
conhecimento sobre os efeitos do ruído, os alunos de graduação em Odontologia têm
consciência dos riscos e medidas de prevenção relacionadas ao mesmo, enquanto os
cirurgiões-dentista tem muito pouco conhecimento a respeito do ruído e suas
conseqüências. Both do not use equipment of individual protection during the clinical
attendance. As studious preventive method to the occupational noise they praise the
inclusion of the auricular protector as equipment of individual protection for the surgeondentist, as well as programs of auditory conservation in the universities.
KEY-WORDS: Occupational noise, Surgeon-Dentist, Auditory loss.
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AGRADECIMENTOS
A Deus por estar sempre presente em nossas vidas e tornando tudo possível. À
professora e orientadora Elaine Pitanga por seu apoio, paciência e inspiração no
amadurecimento dos nossos conhecimentos e conceitos que nos levaram a execução e
conclusão deste artigo. Agradecemos o apoio dos nossos amigos e familiares por toda
confiança depositada, o que tornou possível a realização desse trabalho.
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portaria 3.214 de 08 de junho de 1978. In: Segurança e Medicina do Trabalho – Manual
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