indissociabilidade entre teoria e prática - uma

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INDISSOCIABILIDADE ENTRE TEORIA E PRÁTICA: UMA EXPERIÊNCIA
PSICOPEDAGÓGICA
Ana Maria Siqueira Silva¹, Profª Drª Magda Ivonete Montagnini²
1
Bolsista PIBC/UEG
2
Orientadora, Curso de Pedagogia, Unidade Universitária de Ciências Sócio-Econômicas e
Humanas, UEG, Anápolis – GO
RESUMO
O conhecimento construído no primeiro ano desta pesquisa nos remeteu, neste segundo ano
de estudo, a investigar sobre os processos cognitivos e problemas de aprendizagem. Pesquisar
sobre este tema justifica-se pela emergência de reforçar o conhecimento das origens do
fracasso escolar. O enfoque dado foi o psicogenético definido por Piaget. Paín (1985) e
Fernández (1990) se apropriam destes postulados psicogenéticos e desenvolvem teorias que
abordam os problemas de aprendizagem. Com base nessa fundamentação teórica, elaborou-se
uma análise dos dados coletados através de uma entrevista realizada com vinte professores do
Ensino Fundamental que atuam nas cidades de Goiânia e Anápolis, pelos alunos do 3º período
do Curso de Pedagogia da Universidade Estadual de Goiás (UEG), Unidade Universitária de
Ciências Sócio-Econômicas e Humanas (UnUCSEH), Anápolis, GO. Foi investigada a
concepção destes professores acerca dos problemas de aprendizagem, buscando revelar
diferentes aspectos relacionados à maneira como os professores percebem estes problemas no
cotidiano da sala de aula, quais fatores atribuem como suas causas, como se posicionam frente
a tal questão e qual é o papel da escola, juntamente com a família na superação de tais
problemas.
Palavras-Chave : Indissociabilidade, Teoria, Prática.
Introdução
O presente trabalho refere-se à apresentação do desenvolvimento do subprojeto
Indissociabilidade entre teoria e prática: Uma experiência psicopedagógica, vinculado ao
projeto de pesquisa da Professora Drª Magda Ivonete Montagnini, da Unidade Universitária
de Ciências Sócio-Econômicas e Humanas (UnUCSEH), da Universidade Estadual de Goiás
(UEG), de Anápolis, Goiás.
Considerando a existência de diversas teorias que explicam as dificuldades de
aprendizagem, optou-se pelo enfoque psicogenético definido por Piaget no objetivo de se
apropriar dos fatores implicados no processo da aprendizagem, a fim de tornar possível a
atuação do pedagogo no processo de diagnosticar as falhas no processamento das funções
cognitivas dos indivíduos para planejar a intervenção pedagógica necessária a cada caso.
Segundo Piaget (1973, 1978), existem cinco processos mentais que são desencadeados
quando o indivíduo aprende: assimilação, acomodação, adaptação, organização e
equilibração. Todo ato inteligente no qual a assimilação e a acomodação estão equilibradas,
constitui-se uma adaptação. Toda vez que há equilibração cognitiva há simultaneamente o
assimilar, o acomodar e o adaptar-se cognitivamente. A capacidade de equilibração cognitiva
depende da organização mental do sujeito. Quando estes cinco processos não são explorados
pela mente da pessoa, poderá haver a sobreposição do assimilar sobre o acomodar e então o
indivíduo não aprende de forma significativa. Isto ocorre quando, no jogo, o assimilar se
sobrepor ao acomodar e na imitação, ocorrer o contrário. Estes são, pois, problemas de
aprendizagem provocados por causas internas.
Para Fernández (1990), os problemas de aprendizagem desencadeadores de fracasso
escolar podem ser gerados por causas externas e internas à estrutura familiar, individual, no
primeiro caso, são problemas de aprendizagem reativos, no segundo caso, são problemas de
aprendizagem denominados inibição ou sintoma. Quando se atua nas causas externas, o
trabalho pedagógico é preventivo e quando se trata de causas internas, a intervenção é
terapêutica pelos psicólogos, sobretudo.
Cada pessoa tem a sua matiz de aprendizagem. A isto, Fernández, (1990) denomina
modalidade de aprendizagem. A análise da forma como a inteligência opera permite chegar à
modalidade de aprendizagem do indivíduo. A superação de problemas de aprendizagem exige
que o professor identifique os desvios e os obstáculos básicos no matiz de aprendizagem do
sujeito que o impede de crescer na aprendizagem. Para isso, é necessário que se aproprie e
crie instrumentos de trabalho e, ao mesmo tempo, desenvolva um discurso significativo,
fundamentado teoricamente, que possibilite compreender esses problemas e reorientar sua
prática no sentido de minimizá- los ou eliminá- los.
Segundo Paín, (1985), a inibição precoce de atividades assimilativo-acomodativo dá
lugar a modalidade nos processos representativos cujos extremos podemos caracterizar da
seguinte maneira:
Hiperassimilação – Excesso da interferênc ia da subjetividade do sujeito.
Hipoassimilação – Escassez da interferência da subjetividade do sujeito.
Hiperacomodação – Excesso da interferência do estímulo externo.
Hipoacomodação – Escassez da interferência do estímulo externo.
É importante saber como o professor conceitua dificuldades de aprendizagem, pois ao
se ter conhecimento dos fatores que estes sujeitos apontam como causas, motivos e
conseqüências, poderá ser possível analisar, através de seu discurso, se a sua postura em
relação a esse problema não acaba por agravá- lo ainda mais, na medida em que ele abandona
o aluno à margem de sua própria dificuldade, ou ao contrário, se a preocupação do professor
diante do problema potencializa a aprendizagem do aluno.
De uma maneira geral, objetivou-se contribuir de forma ativa para a compreensão da
intervenção pedagógica tendo em conta a indissociabilidade entre teoria e prática.
Especificamente, objetivou-se _Compreender a indissociabilidade entre teoria e
prática como um princípio epistemológico direcionador do processo de formação de
professores e da ação dos professores no magistério. _ Aprofundar estudos acerca da teoria de
Jean Piaget, Sara Paín e Alícia Fernandez. _Saber como o professor de Ensino Fundamental
pensa os problemas
de aprendizagem. _Realizar uma análise estatística descritiva com
apresentação dos resultados em freqüência relativa (%). _Apresentar em eventos científicos as
sínteses teóricas e experimentais alcançadas.
Material e Métodos
A metodologia utilizada num primeiro momento foi a pesquisa bibliográfica, mais
especificamente por estudos referentes aos processos cognitivos e problemas de
aprendizagem, fundamentados na teoria psicogenética de Jean Piaget.
Em um segundo momento, a pesquisa adquiriu caráter qualitativo descritivo e a
metodologia utilizada para a obtenção dos dados foi entrevista semi-estruturada, realizada
com vinte professores do Ensino Fundamental, os quais atuam nas cidades de Goiânia e
Anápolis, pelos alunos do 3º período do Curso de Pedagogia da UnUCSEH/UEG, Anápolis,
GO.
Foram entrevistados 20 educadores de escolas de Ensino Fundamental das cidades de
Anápolis e Goiânia; sendo que 13 lecionam em escolas de periferia, 3 em escolas localizadas
no centro da cidade e 3 em escolas particulares. A escolha das escolas fo i pelo critério dos
alunos que procederam às entrevistas, cabendo à esta bolsista, autora deste relatório a
organização e análise dos dados coletados.
Resultados e Discussão
Os resumos das leituras realizadas contribuíram significativamente para a
compreensão do objeto de estudo desta investigação. Procedeu-se a elaboração de resumos
das leituras a fim de facilitar a sistematização dos conteúdos lidos no sentido de selecionar os
conceitos básicos relacionados ao assunto da presente investigação.
Fundamentando-se no referencial teórico acima citado, pode-se, a partir das análises
da entrevista aplicada pelos alunos do 3º período do Curso de Pedagogia da UEG/UnUCSEH
– Anápolis – GO e respondidos por professores de Ensino Fundamental, apresentar as
seguintes considerações:
Em relação à formação profissional dos professores entrevistados, observa-se que
65% deles estão cursando, ou já concluíram o curso de Pedagogia. Não se pretende
estabelecer um perfil desejável de profissional em um quadro de atribuições práticas
genericamente delineadas, mas, para que um diagnóstico possa ter êxito, é necessário que o
professor faça uso de conhecimentos teóricos e práticos, que possam transformar-se em novos
conhecimentos aplicáveis a cada caso em especial.
Dentre os fatores presentes no meio ambiente e que condicionam o não aprender das
crianças, podemos perceber que 24% dos professores entrevistados aponta os problemas de
desestrutura familiar. O que demonstra a presença da utilização de conhecimentos do senso
comum, uma vez que a estrutura familiar e individual é apontada por FERNÁNDEZ (1990)
como fatores internos, tratando-se de problemas de aprendizagem sintoma ou inibição, que
significa dificuldade para aprender decorrente do tipo de relações familiares que o sujeito tem
em função da dinâmica sócio-afetiva da família. A fundamentação de práticas e argumentos
pedagógicos no senso comum dificulta a explicitação dos problemas de aprendizagem.
Em relação à questão que diz respeito ao número de crianças que não aprende
devido a problemas de relacionamento familiar ou por influência de fatores ambientais, a
metade dos professores acredita que os que não aprendem porque têm problemas de âmbito
familiar é maior. Fica claro que o referencial para o ensino deve ser sempre a criança, e que
tanto professores como a escola deve conhecer e compreender melhor como se dá o
desenvolvimento infantil, os períodos evolutivos em que essas crianças se encontram, para
que se assegure um ensino e uma aprendizagem mais eficaz, favorecendo o entendimento do
aluno.
Os principais problemas de aprendizagem citados pelos professores pesquisados
foram: dificuldades na leitura e na escrita, dificuldades de concentração, falta de interesse,
indisciplina, problemas afetivos/emocionais, isolamento, distração, dificuldades para resolver
as atividades propostas, agressividade, inibição e outros.
Analisando
essa
resposta,
é
possível tecer alguns comentários no que se refere à postura do professor. É fundamental que
o profissional da educação esteja preparado teoricamente para perceber quais são os
problemas de ordem interna ou externa à estrutura individual ou familiar do sujeito, pois não
cabe ao professor e nem ao pedagogo, a intervenção nos problemas de aprendizagem sintoma
ou inibição. A intervenção destes deve ser feita diante dos problemas reativos, pois eles
afetam o aprender do sujeito em suas manifestações, sem constituir fraturas internas no seu
psiquismo.
A falta de interesse por parte do aluno e as dificuldades para ler e escrever, os dois
proble mas mais citados pelos professores entrevistados, são sintomas de desestruturação
cognitiva (hipoassimilação/hipoacomodação). No caso de confirmação desse diagnóstico, o
procedimento correto seria o encaminhamento desse aluno para atendimento clínico, pois não
cabe ao professor a intervenção nesses casos. Observa-se nessa questão a predominância de
argumentos relativos ao desempenho escolar do aluno, destacando características individuais
como falta de interesse, indisciplina, isolamento, não definem a modalidade de aprendizagem,
mas apenas revelam que os professores identificam o problema de aprendizagem por meio da
produção do aluno, e do seu desempenho.
No item que questiona sobre a participação dos familiares na recuperação dos
problemas de aprendizage m da criança, percebe-se que não é satisfatória, uma vez que todos
os professores disseram que recorrem à família quando percebem a presença de problemas de
aprendizagem, contudo a maioria dos entrevistados afirmou que quando a família se interessa
pelos problemas da criança, a repercussão é boa, mas são raros os casos em que a família se
envolve nessa recuperação.
O espaço de relação das famílias é onde se constroem as modalidades de
aprendizagem. Nas famílias saudáveis se encontram a possibilidade e o entusiasmo na
confrontação de idéias. Em contraposição, quando a família não oferece oportunidades para o
sujeito vivenciar experiências novas, ocasiona-se uma disfunção nos processos mentais,
gerando problemas de aprendizagem.
A escola não deve se omitir em relação aos problemas de aprendizagem, portanto,
precisa reconhecer seu papel e contribuir para um melhor desempenho do aluno, seja revendo
sua metodologia e dando respaldo para o trabalho do professor, quando a origem da
dificuldade for decorrente de problemas da própria instituição, bem como orientar os pais,
possibilitando desta forma, uma educação justa, que visa propiciar o desenvolvimento pleno
do aluno.
Conclusão
A partir dos estudos realizados pode-se concluir que é adequado dar continuidade ao
presente trabalho investigando agora sobre como elaborar um manual de provas pedagógicas
a ser utilizado por pedagogos, tendo em conta o princípio da indissociabilidade entre teoria e
prática. Pode-se observar nas entrevistas com os professores cidadas anteriormente que a
formação teórica lança luz no processo de entender a prática e, por sua vez, a prática aponta o
que falta conhecer teoricamente para poder dar conta do processo educativo. As provas
pedagógicas são práticas psicométricas qualitativas, emintentemente que poderão indicar o
que o professor tem que conhecer teoricamente para lidar com o problema ou dificuldade de
aprendizagem do aprendiz, e até mesmo o que dominar para trabalhar com aqueles alunos que
não manifestam tais características e que devem ser estimulados no seu desenvolvimento
normal.
Devido à necessidade de atender as demandas profissionais que são impostas ao
pedagogo pelo mutável mundo contemporâneo que implanta propostas educativas escolares
inovadoras, sobretudo para o trabalho pedagógico com alunos repetentes com histórico de
fracasso no sistema regular de ensino, considera-se um assunto emergente o retomar o estudo
psicométrico em outros moldes, adequando-o à evolução da ciência, da tecnologia e aos novos
rumos da Pedagogia neste novo milênio.
Vale destacar que a pretensão maior é contribuir para o avanço da pedagogia
preventiva.
VII - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
FERNÁNDEZ, Alícia. A Inteligência Aprisionada. 2º ed. Porto Alegue: Artes Médicas,
1990.
PAÍN, Sara. Diagnóstico e tratamento dos problemas de aprendizagem. 4ª ed. Porto
Alegre: Artes Médicas. 1985.
PIAGET, Jean. Biologia e Conhecimento. Petrópolis: Vozes, 1973.
________ A Formação do Símbolo na criança. Rio de Janeiro: Zahar, 1978.
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