CENTRO FEDERAL DE EDUCAÇÃO TECNOLÓGICA DE MINAS GERAIS DIRETORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO COORDENAÇÃO DO CURSO DE MESTRADO EM MODELAGEM MATEMÁTICA E COMPUTACIONAL FEM-ABC APLICADO À SOLUÇÃO DE PROBLEMAS DE ESPALHAMENTO ELETROMAGNÉTICO LUCIANO SILVA BARBOSA Dissertação de Mestrado submetida ao Colegiado do Programa de PósGraduação em Modelagem Matemática e Computacional do Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais, como requisito parcial à obtenção de título de Mestre em Modelagem Matemática e Computacional. Linha de Pesquisa: Métodos Matemáticos Aplicados Orientador: Prof. Dr. Márcio Matias Afonso Co-orientador: Prof. Dr. Marco Aurélio de Oliveira Schroeder Belo Horizonte 20 de Dezembro de 2010 Aos meus pais. Resumo Problemas de espalhamento eletromagnético são de grande importância no mundo moderno. A necessidade de se compreenderem problemas cada vez mais complexos motiva o desenvolvimento da modelagem eletromagnética computacional. Neste trabalho, o método de elementos finitos (FEM) é aplicado a problemas de espalhamento eletromagnético bidimensional. Para limitar o domínio de tais problemas, uma condição de contorno absorvente (ABC) de Bayliss-Turkel é deduzida e incorporada à formulação matemática. As formulações FEM-ABC de primeira e de segunda ordens são desenvolvidas e comparadas com a solução analítica do espalhamento eletromagnético de um corpo dielétrico. A análise de erro dos resultados mostra que a solução FEM-ABC fornece boa aproximação para a solução dessa classe de problemas, principalmente quando é utilizada a ABC de segunda ordem. i Abstract Electromagnetic scattering problems are of great importance in the modern world. The need to understand increasingly complex problems motivates the development of computational electromagnetic modeling. In this work, the finite element method (FEM) is applied to two-dimensional electromagnetic scattering problems. To limit the domain of such problems, an absorbing boundary condition (ABC) of Bayliss-Turkel is derived and incorporated into the mathematical formulation. The first and second orders FEM-ABC formulations are developed and compared with the analytical solution of the electromagnetic scattering from a dielectric body. The error analysis of the results shows that the FEM-ABC solution provides a good approximation to the solution of this class of problems, especially when using the second order ABC. ii Agradecimentos A Deus, criador de todas as coisas. Ao meu pai, Geraldo, e à minha mãe, Vera, um agradecimento especial, por me amarem incondicionalmente e por contribuírem de forma decisiva em minha formação pessoal e profissional. Amo vocês. Ao meu irmão, Laércio, à minha irmã, Débora e ao meu sobrinho, Mateus, por estarem sempre presentes em minha vida. À minha noiva, Solange, pelo companheirismo ao longo desta caminhada. Ao professor Márcio Matias Afonso, meu orientador. Sem a sua brilhante e dedicada orientação, este sonho não teria se transformado em realidade. Ao professor Marco Aurélio de Oliveira Schroeder, meu co-orientador, por aumentar a minha admiração pelas belas equações de Maxwell. Aos professores Antônio Paulo Baêta Scarpelli, Cristina Duarte Murta e Maria Elizabeth de Gouvêa pela maestria, competência e carinho com que conduziram suas aulas. À Letícia Marques, primeira pessoa a incentivar-me a fazer este mestrado, por acreditar sempre em mim. Às professoras Allana Mátar de Figueiredo e Mônica Buccini Siqueira pelas valiosas considerações gramaticais. Alguns colegas de trabalho, colegas do mestrado, alunos e ex-alunos destacaramse pelo companheirismo e incentivo nessa caminhada. Seus nomes merecem ser citados, apesar do risco de não serem mencionados todos. Muito obrigado aos colegas de trabalho Andréa Guimarães, Anselmo, Aparecida Debona, Carlos Eufrásio, Davi, Eliane Moreira, Gabriel, Hudson, Ívina, Jener, Liliane, Lucas, Luiz Esteves, Magda, Malvina, Maria Imaculada, Mary Ane, Renato Frade, Patrícia Patrício, Tânia Araújo, Tânia Lima, Willio e a todos os outros que convivem ou conviveram comigo no dia a dia da sala de iii aula. A todos os colegas de mestrado, em especial ao Anderson, à Flávia, à Pâmela, ao Rafael Alípio e ao Saulo. A todos os meus queridos alunos e ex-alunos, em especial ao André Luiz, à Carla Bechelane, à Catarine Eloísa, à Débora Microni, ao Felipe Eufrásio, à Jéssyca Irene, à Laura Diniz, ao Leonardo Costa, ao Mathias Loredo e ao Ricardo Motai. A todos, muito obrigado! iv Sumário Lista de figuras ..................................................................................................................... 1 Lista de tabelas ..................................................................................................................... 2 Lista de símbolos .................................................................................................................. 3 1 Introdução ............................................................................................................................ 5 2 Espalhamento eletromagnético ............................................................................................ 8 2.1 Introdução ...................................................................................................................... 8 2.2 O espalhamento eletromagnético .................................................................................... 8 2.3 As equações de Maxwell ................................................................................................ 9 2.4 Relações constitutivas................................................................................................... 11 2.5 Condições de interface.................................................................................................. 12 2.6 A equação de onda de Helmholtz .................................................................................. 13 2.7 Condição de contorno absorvente ................................................................................. 14 2.8 Métodos numéricos para a solução de problemas de espalhamento ............................... 14 2.9 Sumário ........................................................................................................................ 17 3 Formulação matemática para problemas de espalhamento ............................................ 18 3.1 Introdução .................................................................................................................... 18 3.2 Formulação forte .......................................................................................................... 18 v 3.3 Formulação fraca .......................................................................................................... 20 3.4 Incorporação da ABC de primeira ordem ...................................................................... 20 3.5 Incorporação da ABC de segunda ordem ...................................................................... 23 3.6 Sumário ........................................................................................................................ 25 4 Discretização....................................................................................................................... 26 4.1 Introdução .................................................................................................................... 26 4.2 Discretização do domínio ............................................................................................. 26 4.3 Elemento de referência e funções de interpolação ......................................................... 27 4.4 Jacobiano ..................................................................................................................... 29 4.5 Discretização das variáveis físicas pelo método de Galerkin ......................................... 31 4.6 O sistema matricial ....................................................................................................... 34 4.7 Sumário ........................................................................................................................ 34 5 Resultados........................................................................................................................... 35 5.1 Introdução .................................................................................................................... 35 5.2 Descrição do problema ................................................................................................. 35 5.3 Solução FEM-ABC de primeira ordem ......................................................................... 38 5.4 Solução FEM-ABC de segunda ordem ......................................................................... 39 5.5 Influência da densidade da malha ................................................................................. 40 5.6 Influência da localização da fronteira ABC ................................................................... 42 5.7 Influência da forma da fronteira ABC ........................................................................... 43 5.8 Análise do custo computacional.................................................................................... 44 5.9 Sumário ........................................................................................................................ 45 6 Conclusão e propostas de continuidade............................................................................. 47 vi Apêndices ................................................................................................................................ 49 A Identidades vetoriais ....................................................................................................... 49 B Dedução da ABC de segunda ordem ............................................................................... 50 C Incorporação da ABC de segunda ordem à formulação ................................................... 52 D Pseudocódigos ................................................................................................................ 54 Referências bibliográficas ....................................................................................................... 56 vii Lista de figuras 1.1 Exemplos de emissores (E) e receptores (R) de ondas eletromagnéticas .......................... 5 2.1 Situação típica de espalhamento: (a) fonte; (b) espalhador .............................................. 8 3.1 Geometria de um espalhador bidimensional arbitrário................................................... 19 3.2 O espalhador da figura (3.1) após a incorporação da ABC (em tracejado) ..................... 21 4.1 Alguns tipos de elemento .............................................................................................. 27 4.2 Mapeamento de um elemento linear: (a) unidimensional; (b) bidimensional ................. 28 5.1 Cilindro dielétrico de comprimento infinito e raio a, iluminado em incidência normal por uma onda plana, monocromática e uniforme ............................................... 36 5.2 A geometria do problema proposto ............................................................................... 36 5.3 Malha 1, com 1570 elementos e 921 nós ....................................................................... 37 5.4 Campo elétrico total na superfície do espalhador: comparação entre a solução FEM-ABC de primeira ordem e a solução analítica ...................................................... 38 5.5 Erro percentual e erro percentual médio com ABC de primeira ordem .......................... 39 5.6 (a) Solução FEM-ABC de segunda ordem para a malha 1; (b) erro percentual e erro percentual médio ................................................................................................... 40 5.7 Malha 2, com 2384 elementos e 1328 nós ..................................................................... 40 5.8 Soluções FEM-ABC de primeira e de segunda ordens para a malha 2 ........................... 41 5.9 Soluções FEM-ABC de primeira e de segunda ordens para a malha 3 ........................... 42 5.10 Deformações obtidas a partir da malha 2: (a) Malha 4: elíptica de semieixos 1,0 X 0,8 ,com 2360 elementos e 1316 nós; (b) Malha 5: elíptica de semieixos 1,2 X 0,6 ,com 2186 elementos e 1229 nós ............................................................... 43 5.11 Disposição dos termos não nulos na matriz gerada pelo FEM-ABC para a malha 3 ........................................................................................................................ 45 1 Lista de tabelas 5.1 Tempos de processamento, em segundos ...................................................................... 44 2 Lista de símbolos Símbolos alfanuméricos B = densidade de fluxo magnético ( Wb m 2 ) D = densidade de fluxo elétrico ( C m 2 ) E = intensidade de campo elétrico ( V m ) E i = intensidade de campo elétrico incidente ( V m ) E zi = componente na direção z do vetor E i E s = intensidade de campo elétrico espalhado ( V m ) H = intensidade de campo magnético ( A m ) H i = intensidade de campo magnético incidente ( A m ) H s = intensidade de campo magnético espalhado ( A m ) J = densidade de corrente ( A m 2 ) j = unidade imaginária ( 1 ) k = constante de propagação k 0 = constante de fase do espaço livre q = constante da formulação ABC U = campo exato no domínio tridimensional U = campo exato no domínio bidimensional u = campo aproximado no domínio bidimensional u i = campo incidente u s = campo espalhado w = função de ponderação Símbolos gregos 1 = constante eletromagnética 2 = constante eletromagnética = permissividade elétrica ( F m ) 0 = permissividade elétrica do espaço livre ( F m ) r = permissividade elétrica relativa 3 = operador diferencial da formulação ABC 1 = constante da formulação ABC 2 = constante da formulação ABC e = fronteira do domínio s = fronteira do espalhador = curvatura do elemento ( m 1 ) = comprimento de onda ( m ) = permeabilidade magnética ( H m ) 0 = permeabilidade magnética do espaço livre ( H m ) r = permeabilidade magnética relativa i = ângulo de incidência ( rad ) v = densidade volumétrica de carga elétrica ( C m 3 ) = condutividade elétrica ( S m ) domínio interior ao espalhador 0 espaço livre ' união de e 0 = frequência angular ( rad s ) Abreviações ABC = Condição de Contorno Absorvente FDM = Método das Diferenças Finitas FEM = Método de Elementos Finitos MoM = Método dos Momentos 4 Capítulo 1 Introdução A previsão da existência de ondas eletromagnéticas, feita por James Clerk Maxwell na segunda metade do século XIX, é um trabalho revolucionário no campo do eletromagnetismo [1]. A verificação experimental da existência de tais ondas é realizada alguns anos mais tarde, por Heinrich Hertz, através da detecção de ondas de rádio [2]. Isso permite o surgimento de diversos dispositivos que se baseiam na emissão e/ou na recepção de ondas eletromagnéticas, como mostra a figura 1.1. Dentre os dispositivos apresentados na figura, apenas o rádio não funciona como emissor (E), e apenas a linha de transmissão, o rastreador e o transmissor de FM/TV não funcionam como receptores (R). Os demais – aeronave, navio, radar, retransmissor de microondas, telecomunicações, walkie talkie – têm seu funcionamento baseado tanto na emissão quanto na recepção de ondas eletromagnéticas. Figura 1.1: Exemplos de emissores (E) e receptores (R) de ondas eletromagnéticas [3]. 5 Um fenômeno de grande interesse relacionado à propagação de ondas eletromagnéticas é o espalhamento eletromagnético. Quando um objeto, denominado espalhador, é iluminado por uma onda eletromagnética, correntes elétricas são induzidas em sua superfície. Isso o torna fonte de outra onda eletromagnética, denominada onda espalhada, que se superpõe à onda incidente. O fenômeno que dá origem à onda espalhada é denominado espalhamento eletromagnético [4], [5]. Vários dos dispositivos apresentados na figura 1.1 são exemplos de espalhadores práticos. Se as características do espalhador forem conhecidas, é possível prever a forma da onda espalhada. Há também o fenômeno do espalhamento inverso, em que as características do espalhador são obtidas a partir do campo espalhado. As aplicações relacionadas ao espalhamento eletromagnético abrangem diversas áreas, incluindo biomedicina, defesa nacional, geofísica, radar, telecomunicações e outras. É cada vez maior o número de situações em que o espalhamento eletromagnético é aplicado no mundo moderno. São exemplos de tais aplicações: o funcionamento dos radares para detecção de submarinos e aeronaves [6]; a modelagem da estrutura de florestas pelo sensoriamento remoto [7]; a detecção e identificação de cilindros enterrados [8]; a determinação das propriedades físicas das geleiras marítimas a partir do campo espalhado por elas [9]; o espalhamento devido a tubos circulares e não circulares com fronteiras irregulares [10], [11]; o espalhamento devido a um arranjo periódico de espalhadores idênticos [12]. Problemas de espalhamento eletromagnético podem ser solucionados analiticamente ou através de métodos numéricos computacionais. A solução analítica, apesar de exata, só pode ser obtida em casos particulares, o que limita o número de problemas tratados [13]. Faz-se necessária, então, a modelagem computacional. Os métodos numéricos fornecem soluções aproximadas. Apesar disso, essas soluções são, em determinadas condições, suficientemente precisas para os propósitos de engenharia. O problema de espalhamento eletromagnético proposto neste trabalho é solucionado pelo método de elementos finitos, ou FEM1. Usado inicialmente para resolver problemas de análise de estruturas [14], esse método é atualmente aplicado não somente na solução de problemas de eletromagnetismo [15], mas também na eletrostática [16], na eletromecânica [17], em cálculos de eletrocardiografia [18] e em várias outras áreas [19]. 1 Abreviatura de Finite Element Method. 6 Uma vez que o campo espalhado propaga-se em todas as direções, o problema de espalhamento eletromagnético é aberto. Como o FEM não é capaz de tratar, isoladamente, esse tipo de problema, é necessário que uma fronteira artificial seja colocada a certa distância do espalhador, para limitar a geometria do problema e tornar finito o domínio computacional. A proposta deste trabalho é impor uma condição de contorno de modo que a onda espalhada seja absorvida nessa fronteira. Essa condição é denominada condição de contorno absorvente, ou ABC2 [20], [21]. Uma vantagem do FEM é a economia computacional, uma vez que ele gera matrizes esparsas. Outro ponto positivo é que sua formulação é relativamente simples mesmo quando o domínio está preenchido com materiais não homogêneos e quando o espalhador tem forma geométrica complexa [22]. A incorporação de uma ABC à formulação mantém essas vantagens e permite ao FEM solucionar problemas abertos. O objetivo geral desta dissertação é investigar o fenômeno do espalhamento eletromagnético. Para isso é usado o método de elementos finitos com uma condição de contorno absorvente. Os objetivos específicos são: i) obter a formulação para problemas de espalhamento eletromagnético bidimensional; ii) incorporar a essa formulação condições de contorno absorventes, tanto de primeira quanto de segunda ordens; iii) utilizar a formulação FEM-ABC na implementação de ferramentas computacionais que solucionem numericamente o problema proposto; iv) apresentar e analisar os resultados obtidos. Esta dissertação está organizada em 6 capítulos, incluindo este capítulo introdutório. No capítulo 2, são apresentados os conceitos físicos e matemáticos necessários ao desenvolvimento do trabalho. No capítulo 3, esses conceitos são usados na dedução de uma formulação para problemas de espalhamento eletromagnético. No capítulo 4, após serem definidos os conceitos inerentes ao método de elementos finitos, é feita a discretização dessa formulação pelo método de Galerkin. No capítulo 5, são apresentados os resultados e é feita uma análise de sensibilidade, em que são testados diversos fatores que influem na precisão dos mesmos. Finalmente, no último capítulo, é apresentada uma síntese dos resultados e é feito um encaminhamento a estudos futuros. 2 Abreviatura de Absorbing Boundary Condition. 7 Capítulo 2 Espalhamento eletromagnético 2.1 Introdução Neste capítulo, são descritos os conceitos físicos necessários à compreensão do espalhamento eletromagnético. Após serem apresentadas as equações que governam o fenômeno, é feita uma breve descrição de alguns métodos numéricos capazes de solucionar problemas dessa natureza. Esses conceitos e equações são fundamentais no processo de solução de problemas de espalhamento, uma vez que é a partir deles que pode ser obtida a formulação de tais problemas. 2.2 O espalhamento eletromagnético A descrição do espalhamento eletromagnético pode ser feita a partir da figura 2.1, que ilustra uma situação típica em que ocorre esse tipo de fenômeno. Figura 2.1: Situação típica de espalhamento: (a) fonte; (b) espalhador [22]. 8 Nessa figura, a fonte (a) gera uma onda eletromagnética que se propaga no espaço livre, 0 . Essa onda incide em um objeto (b), denominado espalhador. A forma geométrica desse domínio ( ) e os materiais que o constituem são supostos inicialmente arbitrários. A onda incidente é descrita pelo campo elétrico incidente, E i , e pelo campo magnético incidente, H i . A onda espalhada é descrita pelo campo elétrico espalhado, E s , e pelo campo magnético espalhado, H s . A onda espalhada superpõe-se à onda incidente e altera tanto o campo elétrico total quanto o campo magnético total em todo o espaço para E e H , respectivamente. A expressão matemática para cada um desses campos passa a ser: E Ei Es ; H H i H s. (2.1) (2.2) Para a modelagem de problemas relacionados ao espalhamento eletromagnético, são fundamentais as equações de Maxwell. 2.3 As equações de Maxwell Em problemas de eletromagnetismo, o ponto de partida para análises quantitativas são as equações de Maxwell, que descrevem leis físicas concernentes às relações entre campos elétricos e magnéticos, cargas e correntes associados a ondas eletromagnéticas. Seguem as equações na forma diferencial [23]. Essa forma leva naturalmente às equações diferenciais a serem solucionadas neste trabalho. São elas: B E t (Lei de Faraday); (2.3) D H J (Lei de Maxwell-Ampère); t D ρ v (Lei de Gauss); B 0 (Lei de Gauss para o magnetismo); onde: E x, y, z; t = intensidade de campo elétrico (V/m); H x, y, z; t = intensidade de campo magnético (A/m); D x, y, z; t = densidade de fluxo elétrico (C/m2); 9 (2.4) (2.5) (2.6) B x, y, z; t = densidade de fluxo magnético (Wb/m2); J x, y, z; t = densidade de corrente elétrica (A/m2); ρ v x, y, z; t = densidade volumétrica de carga elétrica (C/m3). As equações (2.3) a (2.6) são, muitas vezes, usadas em conjunto com a equação da continuidade, que relaciona variações da densidade de corrente, J , com a taxa de variação temporal da densidade de carga, ou seja, ρ J v . t (2.7) Em situações práticas, pode-se supor que a fonte esteja suficientemente afastada do espalhador, de modo que a onda incidente seja plana e uniforme ao atingi-lo. Nesse caso, a região de fontes pode ser excluída da análise do problema e somente sua influência sobre o espalhador é avaliada, ou seja, J 0 e ρ v 0 . Outra suposição comumente feita em estudos dessa natureza é que os campos elétrico e magnético oscilam harmonicamente em uma única frequência angular, . Assim, o fenômeno de espalhamento ocorre em regime harmônico e as equações de Maxwell podem ser expressas no domínio da frequência, em que o fator temporal, e jt , faz com que tais equações sejam independentes do tempo, por meio da substituição do operador t por j [4]. Uma vez que, para o caso harmônico, as equações (2.5) e (2.6) podem ser obtidas das equações (2.3) e (2.4), com o auxílio da equação (2.7), a forma harmônica das equações de Maxwell é dada pelas seguintes expressões: E jB ; H jD . (2.8) (2.9) onde os campos instantâneos ( E , B , H e D ) se relacionam com suas formas complexas ( E , B , H e D ) por: E x, y, z; t Re E x, y, z e jt ; B x, y, z; t ReBx, y, z e H x, y, z; t ReH x, y, z e D x, y, z; t ReDx, y, z e jt ; ; . jt jt 10 As equações (2.8) e (2.9) traduzem as equações de Maxwell na forma indefinida, pois o número de equações é menor que o número de incógnitas. Para que as equações de Maxwell tornem-se definidas, são especificadas as relações constitutivas entre os campos em estudo. 2.4 Relações constitutivas As equações de Maxwell descrevem a propagação de ondas eletromagnéticas não somente no espaço livre, mas também em meios materiais. Os meios materiais são constituídos de partículas que, ao serem sujeitas a campos eletromagnéticos, interagem com estes, produzindo correntes e modificando a propagação de ondas nesses meios em relação ao espaço livre. As relações constitutivas descrevem o comportamento dos campos nesses materiais em escala macroscópica. São elas: D E ; B H ; J E . (2.10) (2.11) (2.12) onde , e são, respectivamente, a permissividade elétrica, a permeabilidade magnética e a condutividade elétrica do material em questão. Os parâmetros constitutivos, , e , são constantes quando os meios em estudo são lineares, homogêneos, isotrópicos e não dispersivos. Isso acontece quando esses parâmetros não dependem, respectivamente, nem do módulo do campo aplicado, nem da posição, nem da direção do campo aplicado, nem da frequência. Nesse caso, os parâmetros , e , apresentados nas equações (2.10) a (2.12), são escalares. As relações constitutivas permitem obter as equações de Maxwell na forma definida: E jH ; H jE ; (2.13) (2.14) onde E e H são os campos a serem determinados. Os termos e são, comumente, desmembrados em: r 0 (2.15) 11 r 0 (2.16) onde: 0 8,85 10 12 F m é a permissividade elétrica do espaço livre; 0 4 10 7 H m é a permeabilidade magnética do espaço livre; r é a permissividade elétrica relativa; r é a permeabilidade magnética relativa. Assim, a descrição completa de um problema de eletromagnetismo deve incluir informações das equações de Maxwell, das relações constitutivas e das condições de interface. 2.5 Condições de interface A forma diferencial das equações de Maxwell representa derivadas espaciais dos campos elétrico e magnético, como pode ser visto nas equações (2.13) e (2.14). Na fronteira do domínio e na interface entre dois meios diferentes no interior deste, os meios envolvidos sofrem variações abruptas em suas propriedades elétricas. Assim, as derivadas dos campos não modelam o fenômeno em tais fronteiras. Nessas regiões, fazse necessária uma descrição dos próprios campos, em vez do comportamento de suas derivadas. As condições obedecidas pelos campos na superfície de separação entre dois meios distintos são denominadas condições de interface. Quando não há fontes nessa interface, tem-se [4]: nˆ E1 E2 0 ; nˆ H1 H 2 0 ; nˆ D1 D2 0 ; nˆ B1 B2 0 . (2.17) (2.18) (2.19) (2.20) Pelas equações (2.17) e (2.18), percebe-se que o componente tangencial dos campos E e H deve ser contínuo ao longo da interface. Já as equações (2.19) e (2.20) informam que o componente normal dos campos D e B não deve exibir descontinuidades ao longo da interface. 12 2.6 A equação de onda de Helmholtz Problemas de espalhamento eletromagnético estão relacionados diretamente com a propagação de ondas eletromagnéticas. Por isso, a solução desse tipo de problema pode ser obtida a partir da equação de onda de Helmholtz para campos eletromagnéticos. As equações (2.13) e (2.14) são equações diferenciais de primeira ordem. Observa-se que elas estão acopladas, ou seja, ambos os campos E e H aparecem em cada uma delas. É possível desacoplá-las, às custas de aumentar a ordem de derivação. Ao tomar o rotacional de ambos os lados da equação (2.13) obtém-se, com o auxílio da identidade vetorial (A.1) do Apêndice A e das equações (2.5), (2.10) e (2.14), a equação de onda para o campo elétrico: 2 E k 2 E 0 ; (2.21) onde k é a constante de propagação, obtida a partir de k 2 2 . Com um procedimento semelhante, obtém-se a equação de onda para o campo magnético: 2 H k 2 H 0 . (2.22) Devido à semelhança entre as equações (2.21) e (2.22), pode-se escrever a equação de onda generalizada: 2U k 2U 0 . (2.23) Esta é a equação de onda de Helmholtz, onde U E na equação (2.21) e U H na equação (2.22). Uma simplificação na equação (2.23) pode ser obtida para problemas bidimensionais. Nesse caso, o campo U só tem um componente, U U z a z , e a referida equação pode ser expressa como: 1U z k 02 2U z 0 . (2.24) onde 1 r1 e 2 r para a formulação do campo elétrico, e 1 r1 e 2 r para a formulação do campo magnético. Além disso, k 0 , a constante de propagação do espaço livre, é obtida a partir de k 02 2 0 0 ou então de k 0 2 , sendo o comprimento de onda. A equação (2.24) é o ponto de partida para a obtenção da formulação matemática para problemas bidimensionais de espalhamento eletromagnético. 13 2.7 Condição de contorno absorvente Em problemas abertos, como o de espalhamento eletromagnético, a condição de contorno, imposta a uma distância infinita do espalhador, é a condição de radiação de Sommerfeld. Quando todas as fontes e espalhadores estão imersos no espaço livre e a uma distância finita da origem de um sistema de coordenadas qualquer, a condição de radiação de Sommerfeld assume, em duas dimensões, a seguinte forma [24]: U z lim jk 0U z 0 (2.25) onde x 2 y 2 . A equação (2.25) informa que o campo U z e a sua derivada normal devem ser nulos no infinito, para que seja possível solucionar o problema. Porém, para que o método de elementos finitos seja usado na solução de problemas de espalhamento eletromagnético, uma condição de contorno deve ser imposta em uma fronteira artificial, localizada a uma distância finita do espalhador. Tal condição deve fazer essa fronteira parecer tão transparente quanto possível para o campo espalhado, ou seja, ela deve minimizar reflexões não físicas na fronteira. Uma classe de condições de contorno que satisfaz essa exigência é a condição de contorno absorvente. Ela relaciona o campo em um nó apenas ao campo nos nós adjacentes, ou seja, a natureza esparsa da matriz gerada pelo FEM é mantida com o uso de uma ABC 3. Esta é uma das principais vantagens da formulação FEM-ABC. 2.8 Métodos numéricos para a solução de problemas de espalhamento A explicação física dos diversos fenômenos da natureza é obtida a partir de modelos, que são representações simplificadas da realidade passíveis de serem modeladas matematicamente. A modelagem matemática de sistemas físicos permite a obtenção de soluções para diversos problemas. Quando esses modelos são aplicados a situações práticas, os problemas tratados, agora pertencentes ao domínio da engenharia, tornam-se muitas vezes complexos demais para serem solucionados analiticamente. Surgem então os métodos numéricos, que permitem obter soluções aproximadas de 3 No capítulo 4, são descritos com mais detalhes conceitos próprios do FEM, tais como: nós, elementos, malhas, etc. 14 problemas mais gerais. A implementação computacional das formulações para tais problemas torna esse processo mais eficiente. Com o desenvolvimento vertiginoso dos computadores, muitos problemas, antes intratáveis, podem, agora, ser solucionados sistematicamente. Para problemas práticos de eletromagnetismo, a modelagem eletromagnética computacional permite solucionar numericamente uma ampla variedade de problemas. Devido à grande diversidade de tipos de problemas, vários métodos são propostos, cada qual com suas vantagens e desvantagens. Alguns dos métodos mais usados na solução de problemas de espalhamento eletromagnético são: o método das diferenças finitas, o método dos momentos e o método de elementos finitos. O método das diferenças finitas, ou FDM4, é um método aproximado para solucionar equações diferenciais. Sua implementação é relativamente simples e baseiase na substituição da operação de diferenciação por uma subtração entre pontos do domínio, seguida de uma divisão pelo intervalo entre esses pontos. Obtém-se, dessa forma, um sistema de equações algébricas em que as incógnitas são os valores das grandezas (campo, potencial, etc.) nos nós. Devido à sua simplicidade, é um método apropriado para tratar domínios não lineares, não homogêneos e anisotrópicos. Entretanto, o FDM possui dois inconvenientes: exige uma malha regular, o que dificulta a modelagem de problemas em que o gradiente dos campos é intenso e em que as superfícies são curvas; e não representa com facilidade os campos na interface de meios diferentes. Esses inconvenientes são o motivo pelo qual o FDM não é usado neste trabalho. O método dos momentos, ou MoM5, é um método exato que soluciona problemas em que a incógnita aparece dentro de um sinal de integral. Uma vez que cálculos com equações integrais são, em geral, mais laboriosos, esse método é mais apropriado para tratar de problemas lineares, homogêneos e isotrópicos. Uma vantagem do MoM é que ele incorpora naturalmente a condição de radiação de Sommerfeld. Sua formulação permite descrever os campos na própria fronteira do domínio, o que reduz a dimensão do problema. Isso é obtido ao relacionar o campo em um nó da fronteira com o campo em todos os outros nós desta, inclusive com o nó em questão. Tal procedimento traz dois inconvenientes: gera matrizes cheias, o que eleva o custo computacional; e produz 4 5 Abreviatura de Finite Diference Method. Abreviatura de Moment Method. 15 singularidades, o que requer um procedimento especial para sua extração. Devido a esses inconvenientes, o MoM não é usado neste trabalho. O método de elementos finitos, ou FEM, é um método aproximado usado na solução de equações diferenciais. O valor da incógnita nos nós é obtido a partir da contribuição de cada elemento, através da conectividade entre os nós deste. No interior de cada elemento, a incógnita é aproximada por uma função de interpolação e, por meio do método de resíduos ponderados ou do método variacional, a equação diferencial original é transformada em um sistema algébrico de equações em que a matriz de coeficientes obtida é esparsa e, em alguns casos, também simétrica. A malha gerada pelo FEM é facilmente ajustável, ou seja, ao dividir o domínio em elementos de forma e tamanho arbitrários, é possível solucionar com maior precisão problemas com geometrias arbitrárias e com variações abruptas de campo [25]. Além disso, ele descreve com facilidade domínios não lineares, não homogêneos e anisotrópicos. Uma desvantagem do FEM é que ele não trata, isoladamente, problemas abertos. Esse inconveniente pode ser contornado com o uso de uma condição de contorno absorvente. Devido a suas potencialidades, esse método é o escolhido para solucionar os problemas propostos neste trabalho. São basicamente quatro as fases do FEM. A primeira é a discretização, onde o domínio, inicialmente contínuo, é dividido em um grande número de subdomínios (ou elementos) e passa a ser um domínio discreto. O objetivo dessa fase é a obtenção tanto das coordenadas dos nós da malha quanto dos nós pertencentes a cada elemento. A segunda fase é a determinação das equações que descrevem o fenômeno nos elementos. Com isso é obtida, a partir da formulação do problema e com o auxílio de funções de interpolação, a contribuição de cada elemento. Na terceira fase, é obtido o sistema matricial, onde as contribuições de todos os elementos são armazenadas. Finalmente, na quarta fase, o sistema matricial obtido é solucionado, diretamente ou com o uso de métodos eficientes de solução de sistemas matriciais esparsos, uma vez que matrizes esparsas são inerentes ao FEM. No capítulo 4, essas fases são descritas com maior riqueza de detalhes. Usado inicialmente para solucionar problemas de mecânica, o FEM só foi aplicado sistematicamente a problemas de eletromagnetismo a partir da década de 1970. Porém, o aumento da velocidade de processamento dos computadores faz com que uma de suas principais vantagens passe a ser amplamente explorada: sua baixa complexidade 16 computacional, comparada com outros métodos. Isso torna o FEM um poderoso método numérico para a solução de problemas de espalhamento. 2.9 Sumário Problemas de espalhamento eletromagnético têm aplicações práticas relevantes em diversas áreas. A partir das equações de Maxwell, pode-se obter a equação de onda que governa esse fenômeno. Com o método de elementos finitos, é possível solucionar problemas de espalhamento eletromagnético a um baixo custo computacional. Para isso, uma condição de contorno absorvente deve ser incorporada à formulação do problema. 17 Capítulo 3 Formulação matemática para problemas de espalhamento 3.1 Introdução Neste capítulo, é deduzida a formulação matemática para problemas bidimensionais de espalhamento eletromagnético. Após serem feitas as considerações necessárias à modelagem de problemas bidimensionais, são desenvolvidas as formulações forte e fraca, seguidas pela incorporação de condições de contorno absorventes, tanto de primeira quanto de segunda ordens. Esse procedimento torna possível a aplicação do método de elementos finitos a problemas dessa natureza. 3.2 Formulação forte No capítulo anterior, foi apresentado, na figura 2.1, um espalhador tridimensional arbitrário, imerso no espaço livre 0 e iluminado por uma onda eletromagnética proveniente de uma fonte localizada em uma posição arbitrária em relação ao espalhador. Naquela figura, é sugerido o estudo do espalhamento eletromagnético por um avião, espalhador típico desse tipo de problema. Se, em uma primeira aproximação da forma geométrica de um avião, for considerado apenas o corpo deste (que é significativamente maior que as asas, cauda, turbina, etc.), essa geometria pode ser representada por um cilindro. Quando uma onda incide perpendicularmente ao eixo de um cilindro infinito, de seção transversal arbitrária e 18 cujas características eletromagnéticas são uniformes ao longo do eixo deste, não há variações de campo nessa direção. Então, o problema pode ser solucionado em duas dimensões, por meio da determinação dos campos E e H nos pontos de uma seção transversal do mesmo. A figura 3.1 apresenta uma versão bidimensional para o problema apresentado na figura 2.1. Um espalhador bidimensional arbitrário, também imerso no espaço livre 0 , é iluminado por uma onda plana, monocromática e uniforme, que incide no espalhador sob um ângulo i . Figura 3.1: Geometria de um espalhador bidimensional arbitrário Na figura 3.1, s é a fronteira do espalhador e n̂ é o vetor normal unitário exterior. Esse fenômeno é governado pela equação de onda de Helmholtz, equação (2.24), pela condição de radiação de Sommerfeld, equação (2.25), e pela condição de contorno apropriada [22]: x ' ; 1U z k 02 2U z 0 , U z lim jk 0U z 0 1 (3.1) (3.2) U z , n x s . (3.3) As equações (3.1) a (3.3) definem a formulação forte para o problema. O termo ' representa a união dos domínios e 0 . O termo na equação (3.3) representa a taxa de variação do campo na direção normal à fronteira do espalhador. 19 3.3 Formulação fraca Na formulação forte, o campo U z deve obedecer às equações (3.1) a (3.3) em todos os pontos do domínio. Essa é uma exigência muito grande, uma vez que o domínio pode estar preenchido com diferentes materiais e, nas interfaces destes, a equação (3.1) não é satisfeita. Para contornar essa dificuldade, permite-se um resíduo para a forma forte, definido por [22]: R 1u k 02 2 u ; (3.4) onde o campo u na equação (3.4) é uma aproximação para o campo exato U z na equação (3.1). Através do método dos resíduos ponderados, chega-se à formulação fraca integrando-se o resíduo em todo o domínio , por meio de uma função de ponderação, w, e forçando a integral a zero [26]: u wd 1 k 02 2 w ud 0 . (3.5) Utilizando as identidades vetoriais (A.2) e (A.3) do Apêndice A, a equação (3.5) pode ser escrita como: w u d 1 k 02 2 w ud wd s 0 ; s (3.6) Seguem algumas observações sobre a equação (3.6): i) as duas primeiras integrais nessa equação são avaliadas no domínio , enquanto a terceira é avaliada sobre a fronteira s ; ii) essa equação é simétrica, pois a ordem de derivação, tanto do campo quanto da função de ponderação, são iguais; iii) podem ser obtidas, por simples troca de variável, as expressões para a formulação fraca tanto do campo elétrico quanto do campo magnético. 3.4 Incorporação da ABC de primeira ordem As duas primeiras integrais na equação (3.6) são tratadas diretamente pelo FEM. Já a terceira integral nessa equação requer um tratamento especial. A derivada normal do campo deve satisfazer à condição de radiação de Sommerfeld, dada pela equação (3.2). Porém, a implementação da formulação por meio de uma fronteira ABC exige uma 20 extensão do domínio , agora delimitado por uma fronteira e , um pouco afastada do espalhador. Em compensação, o domínio 0 passa a ser apenas a região entre as fronteiras s e e . A figura 3.2 ilustra essa nova situação. Figura 3.2: O espalhador da figura (3.1) após a incorporação da fronteira ABC (em tracejado). A escolha da localização da fronteira e é influenciada por dois interesses conflitantes: exatidão e custo computacional. Quanto mais afastada do espalhador estiver a fronteira ABC, melhor é a aproximação para a condição de radiação de Sommerfeld, equação (3.2). Por outro lado, quanto mais próxima ela estiver, menor é o erro originado pela discretização e, também, menor é o custo computacional. Uma análise da relação entre as fronteiras s e e é feita no capítulo 5, seção 5.6. Na dedução de uma ABC que possa ser aplicada na região de campo próximo, parte-se do princípio que o campo espalhado pode ser expresso na seguinte forma assintótica [24], [27]: us e jk n 0 An n , (3.7) onde , são coordenadas polares. Esta é a versão bidimensional da expansão de Wilcox para campos eletromagnéticos [28]. A ordem de uma ABC está relacionada com o número de termos utilizados dessa série, sendo que, na maioria dos casos, é utilizada uma ABC de primeira ou de segunda ordens [29]. Uma limitação ao usar uma condição de contorno absorvente é que ela leva a soluções não exatas, pois parte da onda espalhada pode ser refletida na fronteira ABC, principalmente para grandes ângulos de incidência [24]. 21 Algumas estratégias para minimizar o erro cometido ao usar uma formulação FEMABC são apresentadas no capítulo 5. A expansão de Wilcox, equação (3.7), é o ponto de partida para a solução computacional do problema de espalhamento eletromagnético. Para solucionar o problema por meio de uma ABC de primeira ordem, é considerado apenas o primeiro termo dessa equação, de forma que o campo espalhado é dado pela seguinte expressão [24]: u s A e jk . (3.8) ou seja, o produto de uma função de por uma função de . Assim, independentemente da forma assumida por A , a derivada dessa equação em relação a é direta: u s 1 s u . jk 0 2 (3.9) sendo k k 0 , pois r r 1 na fronteira ABC. Para tornar possível o uso de fronteiras não circulares, faz-se: 1 ; . n (3.10) onde é a curvatura do elemento de fronteira no nó em questão. Fazendo-se, também, u s u u i , chega-se a: u u i jk 0 u jk 0 u i . n 2 n 2 (3.11) Multiplicando a equação (3.11) por 1 , obtém-se a condição de contorno absorvente de primeira ordem de Bayliss-Turkel [30], [31]: 1 u q u , n (3.12) sendo os valores de e q dados, respectivamente, por: 1 jk 0 ; 2 q 1 (3.13) u i 1 jk 0 u i . n 2 (3.14) 22 A expressão matemática para o campo incidente é: u i e jk0 x cos i ysen i . (3.15) Como k 0 e i são conhecidos, é possível calcular u i e x, y u i em qualquer ponto n do domínio. Para um dado elemento da fronteira ABC, esses cálculos e, consequentemente, os cálculos de na equação (3.13) e q na equação (3.14) são feitos para o ponto médio do referido elemento. Por isso, esses termos são constantes para esse elemento. As constantes e q , por serem números complexos, ilustram a realização de cálculos no domínio da frequência, em concordância com a forma assumida pelas equações de Maxwell, equações (2.8) e (2.9). Observa-se que, para a ABC de primeira ordem, dada pelas equações (3.12), (3.13) e (3.14), a derivada normal do campo u é proporcional ao próprio campo u . A incorporação desta ABC à formulação é feita por substituição direta da equação (3.12) na equação (3.6), com o auxílio da equação (3.3): w 1u d k 02 2 w ud q wd e w ud e 0 . e e (3.16) Esta é a versão assumida pela formulação após a incorporação da ABC de primeira ordem. A equação (3.16) está em condições de ser submetida à aplicação do método de elementos finitos, o que é feito no próximo capítulo. 3.5 Incorporação da ABC de segunda ordem ABC’s de primeira ordem são mais simples de implementar e têm um baixo custo computacional. Porém, quando é necessária maior exatidão, ou quando a fronteira ABC deve ser colocada mais próxima do espalhador, é recomendado o uso de uma ABC de segunda ordem [20]. Para se obter a ABC de segunda ordem de Bayliss-Turkel, são considerados os quatro primeiros termos da equação (3.7), de modo que o campo espalhado assume a seguinte forma [27]: us A A2 A3 e jk A0 1 . 2 3 23 (3.17) Nesse caso, a forma final da ABC de segunda ordem também é dada pela equação (3.12). Porém, os termos e q são dados, respectivamente, por [24]: j 2 j 2 ; 8 j k 0 2 j k 0 e2 2 (3.18) j1 u i j 2 i 2u i . 1 jk 0 u 2 n 2 8 j k 2 j k 0 0 e (3.19) 1 jk 0 q 1 Os detalhes da dedução das equações (3.12), (3.18) e (3.19) são apresentados no Apêndice B. Na equação (3.18), o termo é um operador diferencial. Já o termo q na equação (3.19) é constante em um elemento específico. Nota-se que, para a ABC de segunda ordem, equações (3.12), (3.18) e (3.19), a derivada normal do campo u não é proporcional ao campo u , como na ABC de primeira ordem. Aqui, há uma relação entre a derivada normal do campo u e a derivada segunda tangencial desse mesmo campo. Essa relação interfere significativamente no processo de obtenção da formulação. Quando os valores de e q são dados, respectivamente, pelas equações (3.18) e (3.19), a obtenção da formulação via ABC de segunda ordem é mais elaborada. Após manipulações matemáticas, apresentadas no Apêndice C, obtém-se: w 1u d k 02 2 w ud q wd e 1 w ud e e e x2 , y 2 u w u 2 d e 2 w 0; e e e e x , y 1 (3.20) 1 Esta é a versão assumida pela formulação após a incorporação da ABC de segunda ordem. Assim como a equação (3.16), a equação (3.20) está em condições de ser submetida à aplicação do FEM. Nessa equação, o elemento é linear e x1 , y1 e x2 , y 2 são as coordenadas de um elemento de fronteira típico, e . As constantes 1 e 2 , nessa mesma equação, estão relacionadas com o operador , na equação (3.18), por: 1 2 2 ; e2 (3.21) sendo j 2 1 1 jk 0 ; 2 8 j k 0 (3.22) 24 2 j 1 . 2 j k 0 (3.23) A formulação de segunda ordem, equação (3.20), reduz-se à de primeira ordem, equação (3.16), quando 2 0 na equação (3.23) e 1 é calculado pela equação (3.13). Além da ABC de Bayliss-Turkel, há outras condições de contorno absorventes capazes de solucionar problemas de espalhamento eletromagnético, tais como a ABC de Engquist-Majda [32]. O uso de tal ABC é deixado como proposta de trabalho futuro. 3.6 Sumário Neste capítulo, é desenvolvida a formulação matemática para problemas de espalhamento eletromagnético bidimensional. São incorporadas condições de contorno absorventes à formulação fraca. Isso é obtido a partir da expansão de Wilcox para campos eletromagnéticos, o que permite que tais problemas possam ser solucionados diretamente pelo método de elementos finitos. A obtenção da ABC de primeira ordem e sua incorporação à formulação são diretas. Já para a ABC de segunda ordem, é necessária uma série de desenvolvimentos adicionais. Ambas as formulações assim obtidas podem ser submetidas à aplicação do método de elementos finitos. Para isso, deve ser feita a discretização, tanto das variáveis geométricas quanto das variáveis físicas. 25 Capítulo 4 Discretização 4.1 Introdução Problemas de espalhamento eletromagnético bidimensional são solucionados, por meio do FEM-ABC, em uma região fechada do plano xy, região essa conhecida como domínio. Solucionar tais problemas significa encontrar o valor do campo em cada ponto desse domínio. Quando o problema é resolvido analiticamente, a solução é expressa, geralmente, em termos de uma função ou de uma série infinita. Assim, quando o domínio é contínuo, existem infinitos pontos onde essa solução pode ser expressa, ou seja, o problema possui infinitos graus de liberdade. Quando, porém, o problema é resolvido numericamente, a solução é encontrada em um número finito de elementos, ou seja, o domínio passa a ser discreto. O objetivo principal da primeira fase do método de elementos finitos, a discretização, é justamente a obtenção desses elementos. Nas demais fases do FEM, é preciso discretizar também as variáveis físicas. Neste capítulo, a solução computacional do problema de espalhamento eletromagnético é obtida pela aplicação sistemática do método de elementos finitos. 4.2 Discretização do domínio O valor do campo em cada nó é obtido pelo FEM a partir do cálculo da contribuição dos elementos, que são figuras geométricas simples obtidas pela conexão de nós vizinhos do domínio. Assim, os nós constituem os vértices dos elementos. Duas formas geométricas comumente utilizadas para discretizar uma região plana são aquelas 26 em que os elementos são quadriláteros ou triângulos, sendo que, para essa última forma, os elementos se adaptam mais facilmente a domínios irregulares. Para discretizar a fronteira de tal região, os elementos são segmentos de reta ou curva, obtidos pela conexão entre nós adjacentes dessa fronteira. Tanto os elementos unidimensionais quanto os bidimensionais podem ser lineares (um nó em cada vértice) ou quadráticos (um nó adicional em cada aresta). A figura 4.1 mostra exemplos de elementos lineares e quadráticos, tanto unidimensionais quanto bidimensionais. Figura 4.1: Alguns tipos de elemento. A fase da discretização consiste na descrição do domínio e gera um conjunto de elementos denominado malha. Existem vários outros tipos de elementos, inclusive tridimensionais, mas neste trabalho são utilizados somente os elementos uni e bidimensionais, ambos lineares. Os elementos são gerados no plano xy . Para fins computacionais, porém, é interessante que cada elemento seja descrito em um plano padrão, o que é obtido com o auxílio das funções de interpolação. 4.3 Elemento de referência e funções de interpolação Após ser obtida a matriz de coordenadas 6 de todos os elementos da malha, são calculadas as contribuições devidas a cada um desses elementos. Esse cálculo, porém, não é feito em função das coordenadas reais do elemento em questão, mas em função das coordenadas em um espaço padrão, onde é definido um elemento de referência. O mapeamento do espaço real para o espaço padrão é feito a partir das funções de interpolação. Uma função de interpolação ( N i ou N j ) permite intercalar o valor da(s) coordenada(s) ( ou ) no espaço do elemento de referência em função da(s) coordenada(s) do espaço real ( x ou xy ). A figura 4.2 ilustra a definição do elemento de 6 A matriz de coordenadas de um elemento informa as coordenadas dos nós desse elemento. 27 referência a partir do mapeamento de um elemento linear: (a) unidimensional e (b) bidimensional. Figura 4.2: Mapeamento de um elemento linear: (a) unidimensional; (b) bidimensional [33]. Pela figura 4.2, percebe-se que cada nó do elemento recebe uma numeração, tanto no espaço real quanto no espaço padrão. As funções de interpolação permitem obter a correspondência entre essas duas numerações, conforme descrito a seguir. Em uma dimensão, as funções de interpolação são definidas por [33]: N1 1 ; 2 N2 1 ; 2 (4.1) 1 1. (4.2) Nas equações (4.1) e (4.2), é a coordenada do ponto no espaço padrão. A relação entre a coordenada de um ponto qualquer do elemento no espaço x e a coordenada correspondente é dada por: 2 x N i xi . (4.3) i 1 Pode-se perceber, a partir da equação (4.3), com o auxílio da figura 4.2(a), que: Para 1 x x1 ; Para 1 x x2 . Esta é a relação entre a numeração do elemento no espaço real e no espaço padrão para o elemento unidimensional. Para outros valores de nesse intervalo são obtidos valores de x entre x1 e x 2 . Em duas dimensões, as funções de interpolação são dadas por [33]: N1 ; (4.4) N2 ; (4.5) 28 N 3 1 ; 0 1; 0 1. (4.6) Observa-se que, tanto em uma quanto em duas dimensões, as funções de interpolação são normalizadas, ou seja, N i 1. i A relação entre as coordenadas de um ponto qualquer do elemento no espaço xy e as correspondentes coordenadas é: 3 x , N i , xi ; (4.7) i 1 3 y , N i , yi . (4.8) i 1 Assim, dado um ponto no espaço , , encontra-se o correspondente ponto no espaço x, y . De acordo com as equações (4.7) e (4.8), e com o auxílio da figura 4.2(b), percebe-se que: Para , 1,0 x, y x1 , y1 ; Para , 0,1 x, y x2 , y 2 ; Para , 0,0 x, y x3 , y3 . Esta é a relação entre a numeração do elemento no espaço real e no espaço padrão para o elemento bidimensional. Para outro ponto do espaço contido no elemento de referência, as funções de interpolação permitem obter as coordenadas desse ponto no espaço xy, desde que a matriz de coordenadas do elemento seja conhecida. Outra relação entre o espaço real e o espaço padrão é dada pelo jacobiano. 4.4 Jacobiano O jacobiano relaciona a(s) taxa(s) de variação da(s) coordenada(s) no espaço real com a(s) do espaço padrão. Em uma dimensão, a expressão que define o jacobiano é obtida dessa relação, com o auxílio das equações (4.1) a (4.3) [33]: J 2 dN dx dN dN 2 x x i xi 1 x1 x2 2 1 d i 1 d d d 2 29 (4.9) A equação (4.9) mostra que, em uma dimensão, o jacobiano é igual à metade do comprimento do elemento. Assim, para um elemento linear unidimensional típico, o jacobiano pode ser dado por: J x1 x2 2 y1 y2 2 2 . (4.10) Apesar de cada nó de um elemento unidimensional ter coordenadas x e y, não significa que o cálculo do jacobiano seja um problema bidimensional. Em duas dimensões, o jacobiano é obtido pelo determinante da matriz jacobiana, n, dada por [33]: x n y x . y (4.11) A matriz jacobiana pode ser obtida a partir da matriz de coordenadas e da matriz de derivadas das funções de interpolação. Essas matrizes são dadas, respectivamente, por: x1 c x 2 x3 N 1 D N 1 y1 y 2 ; y 3 N 2 N 2 (4.12) N 3 . N 3 (4.13) Assim, a equação (4.11) pode ser escrita em função das equações (4.12) e (4.13), com o auxílio das equações (4.7) e (4.8): 3 N i , xi i 1 n Dc 3 N i , x i i 1 N i , yi i 1 , 3 N i , yi i 1 3 (4.14) ou seja, a matriz jacobiana é o produto da matriz de derivadas das funções de interpolação pela matriz de coordenadas. 30 Uma vez estabelecidas as relações entre o espaço real e o espaço padrão, é possível calcular, nesse último espaço, a contribuição de cada elemento para o sistema matricial. 4.5 Discretização das variáveis físicas pelo método de Galerkin O cálculo das contribuições dos elementos é feito a partir da discretização das variáveis físicas. Para isso, é adotada outra notação para a formulação desenvolvida no capítulo 3. Assim, partindo da formulação FEM-ABC de segunda ordem, equação (3.20): w 1u d k 02 2 w ud q wd e 1 w ud e e e x2 , y 2 u w u 2 d e 2 w 0, e e e e x , y 1 (4.15) 1 pode-se escrevê-la na forma bilinear [22]: aw, u w, u w, u i e w, u e b(w, u) e c(w, u) e 0 ; onde: aw, u w 1u d ; w, u k 02 2 w ud ; w, u i w, u e e qwd e ; e 1 w ud e ; e bw, u e 2 e cw, u e w u d e ; e e x2 , y 2 u 2 w . e x , y 1 1 31 (4.16) sendo as constantes q , 1 e 2 dadas, respectivamente, pelas equações (3.19), (3.22) e (3.23): q 1 j1 u i j 2 i 2u i ; 1 jk 0 u n 2 8 j k 0 2 j k 0 e2 j 2 1 1 jk 0 ; 2 8 j k 0 2 j 1 . 2 j k 0 Na equação (4.15), e é a fronteira externa onde se impõe a ABC e é o domínio interior a essa fronteira. As variáveis físicas, campo e função de ponderação, assumem a forma discretizada quando é aplicado o método de Galerkin. A expressão para cada uma dessas variáveis é dada, respectivamente, por [22]: n u u h v h g h Ni di g h ; (4.17) i 1 n w wh N j c j . (4.18) j 1 Na equação (4.17), o campo aproximado na região é uma média, ponderada pelas funções de interpolação, dos campos desconhecidos em cada nó. A essa média é somado o termo g h , que representa o conjunto de pontos onde o campo é conhecido. Na equação (4.18), a função de ponderação é discretizada de modo semelhante, sendo c j uma constante arbitrária. O termo n representa o número de nós de um dado elemento. Ao longo de todo este trabalho, não há nenhum ponto onde o potencial seja previamente conhecido. Isso faz com que o termo g h seja nulo na equação (4.17). A substituição das equações (4.17) e (4.18) na equação (4.16) permite obter a formulação FEM-ABC para problemas de espalhamento eletromagnético bidimensional em que g h 0 : aN , N N , N d N , N bN , N cN , N d N , N u ne i 1 ns i j i j i i 1 ns i j i j i j i i 1 i i j (4.19) onde: aN i , N j N i 1N j d e ; (4.20) e 32 N , N k N N , u q N d i j 2 0 e 2 i N j d e ; (4.21) e ; (4.22) i e i N , N 1 N i N j d e ; j e i i e bN i , N j 2 e e cN i , N j (4.23) e N i N j d e ; e e x (4.24) N j 2 2 . 2 Ni e x , y 1 1 e ,y (4.25) Na equação (4.19), ne e ns são, respectivamente, o número de elementos bi e unidimensionais. Nas equações (4.20) e (4.21), a integração é feita no domínio do elemento bidimensional, e . Nas equações (4.22) a (4.24), a integração é feita no domínio do elemento unidimensional, e . Tais integrais são calculadas numericamente pelo método de Gauss-Legendre. Na equação (4.25), o termo 2 N i N j e é calculado nos extremos do elemento unidimensional. A diferença entre esses valores fornece o termo cNi , N j . e Observa-se que a formulação FEM-ABC de primeira ordem pode ser obtida a partir da equação (4.19). Neste caso, os termos bNi , N j e cN i , N j são ambos nulos: aN , N N , N d N , N d N , N u ne ns i i 1 j i j i i 1 ns i j onde: aN i , N j N i 1N j d e ; e N , N k N N , u q N d i j 2 0 e 2 i N j d e ; e ; i i e N , N i j e e i N i N j d e ; e 33 i i 1 i j i ; (4.26) sendo as constantes q e dadas, respectivamente, pelas equações (3.14) e (3.13): q 1 u i 1 jk 0 u i ; n 2 1 jk 0 . 2 As equações (4.19) e (4.26) estão em um formato que permite a implementação computacional, uma vez que elas estão discretizadas. O sistema matricial a ser solucionado é obtido diretamente a partir de qualquer uma delas. 4.6 O sistema matricial Ao serem efetuados os somatórios na equação (4.19), são calculadas as contribuições de todos os elementos. Essas contribuições, ao serem armazenadas em uma matriz K , permitem que a equação (4.19) gere o seguinte sistema matricial: K d f . (4.27) Na equação (4.27), K é a matriz global de contribuições. Ela é uma matriz quadrada de ordem m , onde m é o número de nós cujo campo é desconhecido (ou o número de equações do sistema). Nessa mesma equação, f é um vetor coluna de dimensão m , também chamado vetor de fontes, estando, assim, associado ao termo u i ; e d é a incógnita, um vetor coluna também de dimensão m e associado ao campo u . Dessa forma, é possível encontrar a solução para o problema a partir da resolução do sistema linear apresentado na equação (4.27). 4.7 Sumário Neste capítulo, o método de elementos finitos é aplicado sistematicamente ao problema de espalhamento eletromagnético. Após ser mostrado o processo de discretização da geometria, é feito um mapeamento do espaço através do conceito de elemento de referência. As funções de interpolação e o jacobiano permitem obter a contribuição de cada elemento ao relacionar o espaço real e o espaço padrão. As variáveis físicas são discretizadas pelo método de Galerkin, o que permite que a formulação FEM-ABC seja implementada computacionalmente. Tal implementação permite obter, a partir do sistema matricial gerado, a solução de problemas de espalhamento eletromagnético bidimensional. 34 Capítulo 5 Resultados 5.1 Introdução Neste capítulo, são apresentados os resultados obtidos a partir das formulações FEM-ABC desenvolvidas nos capítulos anteriores. São testadas as formulações de primeira e de segunda ordens. É feita, em seguida, uma análise de sensibilidade, em que são analisados alguns dos fatores que influem na exatidão dos resultados. Com isso, pretende-se validar tais formulações, para que seja possível aplicá-las em situações práticas mais gerais e usá-las como base para formulações mais elaboradas. 5.2 Descrição do problema A superfície de muitos espalhadores práticos, tais como fuselagem de aviões, mísseis etc., podem frequentemente ser representadas por estruturas cilíndricas [34]. Portanto, os cilindros representam uma importante classe de superfícies geométricas [4]. O cilindro circular, devido à sua simplicidade e ao fato de a sua solução ser representada em termos de funções bem conhecidas e tabuladas (tais como as funções de Bessel e de Hankel), é, provavelmente, uma das geometrias mais amplamente usadas para representar espalhadores práticos. O espalhador escolhido para análise neste trabalho é um cilindro circular dielétrico, homogêneo, de raio a e infinito na direção z, iluminado em incidência normal por uma onda plana, monocromática e uniforme, conforme mostra a figura 5.1. Essa figura é uma simplificação do problema apresentado na figura 2.1. 35 Figura 5.1: Cilindro dielétrico de comprimento infinito e raio a, iluminado em incidência normal por uma onda plana, monocromática e uniforme [4]. Este é um problema clássico da teoria eletromagnética e possui solução analítica [5], [22]. Como a incidência da onda é normal ao eixo z e as características eletromagnéticas do espalhador não variam nessa direção, o problema pode ser solucionado em duas dimensões, por meio do cálculo do campo espalhado na seção transversal do mesmo. A figura 5.2 apresenta a geometria para o problema bidimensional, um corte transversal da figura 5.1. Essa figura é uma simplificação da figura 3.2. Figura 5.2: A geometria do problema proposto. O espalhador descrito na figura 5.2 permite validar a formulação proposta no capítulo 3 e discretizada no capítulo 4. Uma vez que o espalhador é um dielétrico, não há nenhum nó do domínio onde o campo é conhecido a priori [35]. Então, a forma discretizada da formulação FEM-ABC é dada ou pela equação (4.26), ao ser usada a ABC de primeira ordem, ou pela equação (4.19), ao ser usada a de segunda ordem. Para fins de validação, são escolhidos os seguintes parâmetros: ângulo de incidência da onda, i 180 0 ; frequência da onda incidente, f 0,3GHz ( 1m ); raio do espalhador, a 0,3 ; permissividade elétrica relativa do material que constitui o espalhador, r 3,0 ; permeabilidade magnética relativa deste mesmo material, r 1,0 [22], [36]. Ao campo espalhado é somado o campo incidente, para se obter o 36 campo total. Uma vez que o campo elétrico incidente só tem um componente, E i E zi aˆ z , componente esse paralelo ao eixo do espalhador, o campo elétrico é o campo escolhido para ser determinado neste trabalho. Apesar disso, as formulações aqui desenvolvidas também permitem obter o campo magnético, o que é deixado como proposta de trabalho futuro. O domínio é discretizado pelo software Triangle [37], um gerador de malhas bidimensional de alta qualidade que faz a Triangulação Delaunay 7 de uma região a partir da descrição de sua fronteira. Para ser gerada uma malha, é preciso especificar a densidade de elementos e as dimensões da fronteira ABC. A título de ilustração, a área máxima de um elemento qualquer é fixada em 0,0052 e a fronteira ABC é escolhida como uma circunferência de raio 0,9 , concêntrica ao espalhador. Nesse caso, a malha gerada pelo Triangle possui 1570 elementos, 228 dos quais no interior do espalhador, e 921 nós, 90 destes sobre a superfície do espalhador e outros 270 sobre a fronteira ABC. O aspecto dessa malha, denominada malha 1, é apresentado na figura 5.3. Figura 5.3: Malha 1, com 1570 elementos e 921 nós. Um programa escrito no Matlab8 permite obter o campo elétrico total na superfície do espalhador. No apêndice D, são apresentados os pseudocódigos para esse programa. É possível obter uma série de variações com o programa desenvolvido: pode ser usada uma ABC de primeira ou de segunda ordens; podem ser variadas tanto a densidade da malha, quanto a distância da fronteira ABC ao espalhador; ou, ainda, a forma dessa 7 Triangulação Delaunay de um conjunto de pontos é uma triangulação cujos vértices são o conjunto de pontos, tendo a propriedade que nenhum ponto desse conjunto cai no interior do circuncírculo (círculo que passa pelos três vértices) de qualquer triângulo na triangulação. 8 MATrix LABoratory: software de alto desempenho destinado a fazer cálculos com matrizes. 37 fronteira. Tais variações permitem verificar a influência de cada uma dessas mudanças na exatidão dos resultados, o que é feito a seguir. 5.3 Solução FEM-ABC de primeira ordem Inicialmente, a malha 1 é usada para solucionar o problema a partir da formulação FEM-ABC de primeira ordem, equação (4.26). Tanto a solução obtida nesse caso quanto a solução analítica são mostradas na figura 5.4. Figura 5.4: Campo elétrico total na superfície do espalhador: comparação entre a solução FEM-ABC de primeira ordem e a solução analítica. Na figura (5.4), a solução analítica é mostrada em linha contínua, enquanto a solução numérica é mostrada em pontilhado 9. Observa-se que a solução numérica acompanha a analítica, sendo que em alguns trechos há um maior distanciamento entre ambas. Para avaliar o quanto essas duas soluções estão próximas, é calculado o erro relativo percentual em cada nó da superfície do espalhador, por meio da expressão: E % Eexato Ecalculado Eexato 100 (5.1) Tanto esse resultado quanto o erro percentual médio (8,7%, obtido a partir do código) são apresentados na figura 5.5. 9 Estão registrados no gráfico os valores de campo de 0° a 180°, uma vez que a solução é simétrica na outra metade do espalhador. 38 Figura 5.5: Erro percentual e erro percentual médio com ABC de primeira ordem. Ao analisar a figura 5.5, observa-se que a discordância é maior na posição angular próxima de 60°. Porém, ao avaliar curvas de erro percentual, observa-se que, em regiões onde o valor da grandeza é pequeno, mesmo pequenas discordâncias podem dar origem a grandes erros percentuais [38], [39]. Apesar disso, o erro percentual dá uma melhor ideia do comportamento global da solução, sendo esse o motivo de ele ser utilizado. 5.4 Solução FEM-ABC de segunda ordem Em seguida, o mesmo problema é solucionado a partir da formulação FEM-ABC de segunda ordem, dada pela equação (4.19). São usados os mesmos parâmetros da seção 5.2, inclusive a mesma malha. A figura 5.6 apresenta (a) a comparação entre as soluções; (b) o erro percentual e o erro percentual médio. O ajuste entre as curvas é melhor na figura 5.6(a) que na figura 5.4. Isso pode ser percebido ou por uma comparação visual entre essas figuras ou pelo menor erro percentual médio, que neste caso é de 7,9%. Assim, o uso de uma ABC de segunda ordem aumenta a exatidão dos resultados, ao diminuir o erro percentual médio. 39 Figura 5.6: (a) Solução FEM-ABC de segunda ordem para a malha 1; (b) erro percentual e erro percentual médio. 5.5 Influência da densidade da malha Para verificar a influência da densidade da malha na exatidão dos resultados, é gerada pelo Triangle outra malha com as mesmas características da malha 1, exceto pela área máxima de um elemento qualquer, agora fixada em 0,0022 . Essa malha, denominada malha 2, é mais densa, com 2384 elementos, dos quais 296 estão no interior do espalhador, e 1328 nós, sendo 90 destes sobre a superfície do espalhador e outros 270 sobre a fronteira ABC. A figura 5.7 apresenta o aspecto dessa malha refinada. Figura 5.7: Malha 2, com 2384 elementos e 1328 nós. 40 Uma comparação visual entre as malhas apresentadas nas figuras 5.3 e 5.7 mostra que a distribuição de elementos é mais homogênea nesta do que naquela. Isso porque, como o número de elementos unidimensionais na superfície do espalhador e na fronteira ABC é o mesmo nas duas malhas, e como o Triangle garante que nenhum dos elementos bidimensionais gerados tenha ângulos menores que 20,7°, ao se permitir que a área máxima de um elemento seja maior, a malha gerada pode ser mais densa perto das fronteiras e menos densa longe destas, como na malha 1. Isso influi na exatidão dos resultados, conforme mostrado a seguir. Para a malha 2, a solução analítica e as soluções obtidas com as formulações FEM-ABC de primeira e de segunda ordens são mostradas na figura 5.8. Figura 5.8: Soluções FEM-ABC de primeira e de segunda ordens para a malha 2. Nessa figura, a solução analítica é mostrada em linha contínua, a solução via FEM-ABC de primeira ordem é mostrada em pontilhado e a solução via FEM-ABC de segunda ordem é mostrada com linha de traços e pontos. O erro médio para a ABC de primeira ordem é de 6,0%, enquanto que, para a ABC de segunda ordem, esse erro é de 5,1%. As curvas de erro percentual não são apresentadas, pois elas seguem o mesmo padrão das figuras 5.5 e 5.6(b), com oscilações em torno do valor médio. Assim, de agora em diante, a análise de erro é feita apenas a partir do erro percentual médio. Os resultados desta seção mostram que o refinamento da malha aumenta a exatidão dos mesmos, tanto para a ABC de primeira ordem quanto para a de segunda. Além disso, a formulação FEM-ABC de segunda ordem fornece resultados mais exatos que a de primeira ordem [40]. 41 5.6 Influência da localização da fronteira ABC Para verificar a influência que a localização da fronteira ABC exerce na exatidão dos resultados, é gerada outra malha com as mesmas características da malha 2, só que agora a fronteira ABC é colocada a 1,2 da superfície do espalhador. Para essa fronteira mais afastada, a malha gerada pelo Triangle, denominada malha 3, contém 6024 elementos e 3238 nós, sendo 450 destes sobre a fronteira ABC. O número de elementos no interior do espalhador e o número de nós na superfície deste é o mesmo da malha 2. As informações dessa malha, comparadas com as da malha 2, indicam que, quando a fronteira ABC é colocada mais distante do espalhador, o número de nós e de elementos gerados aumenta significativamente. A figura 5.9 compara a solução analítica com as soluções obtidas pelas formulações FEM-ABC de primeira e de segunda ordens para a malha 3. Figura 5.9: Soluções FEM-ABC de primeira e de segunda ordens para a malha 3. Os erros médios são de 5,2% para a ABC de primeira ordem e de 2,1% para a ABC de segunda ordem. Esses resultados, além da comparação visual entre as figuras 5.8 e 5.9, mostram que o afastamento da fronteira ABC contribui significativamente para o aumento da exatidão dos resultados, especialmente para a formulação FEM-ABC de segunda ordem. Tal aumento ocorre porque a forma assintótica do campo espalhado, dada pela equação (3.7), é uma expressão aproximada para o campo u na região de campo próximo, que é tanto mais exata quanto mais distante do espalhador a fronteira ABC é colocada. 42 5.7 Influência da forma da fronteira ABC As formulações deduzidas neste trabalho, equações (3.16) e (3.20), podem ser aplicadas a espalhadores bidimensionais de seção transversal arbitrária; a forma da fronteira ABC também pode ser qualquer. Pode-se verificar a influência da forma da fronteira ABC na exatidão dos resultados ao distorcer uma malha, cuja fronteira ABC é circular, e transformá-la em uma fronteira elíptica, por meio de incrementos e decrementos iguais em seus semieixos. A partir da malha 2, apresentada na figura 5.7, são geradas outras duas malhas de mesmas características, mas com fronteiras ABC elípticas: a malha 4, de semieixos 1,0 x 0,8 , com 2360 elementos e 1316 nós; e a malha 5, de semieixos 1,2 x 0,6 , com 2186 elementos e 1229 nós. A figura 5.10 mostra o aspecto dessas malhas. (a) (b) Figura 5.10: Deformações obtidas a partir da malha 2: (a) Malha 4: elíptica de semieixos 1,0 x 0,8 , com 2360 elementos e 1316 nós; (b) malha 5: elíptica de semieixos 1,2 x 0,6 , com 2186 elementos e 1229 nós. Ambas as malhas deformadas são usadas para solucionar o problema por meio da formulação FEM-ABC de segunda ordem. Enquanto para a malha não deformada (malha 2) o erro percentual é de 5,1%, para as malhas menos deformada (malha 4) e mais deformada (malha 5), respectivamente, esse erro é de 7,8% e 11,2%. Isso mostra que a exatidão dos resultados é dependente da forma da fronteira ABC, fixados os demais parâmetros. Mais especificamente, para um espalhador cilíndrico de seção transversal circular, a exatidão é maior quando a fronteira ABC é paralela à superfície do espalhador em cada ponto e torna-se menor à medida que a deformação da fronteira ABC aumenta [41]. Para espalhadores cilíndricos com outras seções transversais, o estudo da relação entre a forma da fronteira ABC e a forma do espalhador é deixado como proposta de trabalho futuro. 43 5.8 Análise do custo computacional Um fator importante a ser observado quando se escolhe um método numérico é o custo computacional. A tabela 5.1 apresenta os tempos de processamento, ao serem usadas as formulações FEM-ABC de primeira e de segunda ordens, para cada uma das três primeiras malhas deste trabalho. A partir desses dados, pode-se analisar a relação entre o custo computacional e fatores como: ordem da ABC, densidade da malha e localização da fronteira ABC. Tabela 5.1: Tempos de processamento, em segundos. ABC de primeira ordem ABC de segunda ordem Malha 1 0,57 0,57 Malha 2 0,94 0,97 Malha 3 5,19 5,22 O hardware utilizado é um computador Intel 2Quad Core 2,66 GHz, com 4,0GB DDR e 320 GB de HD; Windows 7 Professional de 64 bits. O tempo computacional aumenta quando a densidade da malha aumenta, ou quando a fronteira ABC é afastada do espalhador. Esse aumento deve-se, principalmente, ao aumento da matriz gerada pelo FEM, cujo número de linhas e colunas é igual ao número de nós da malha. Uma vez que as diferenças de tempo entre as ABC’s de primeira e de segunda ordens são pequenas, é vantajoso usar uma ABC de segunda ordem, pois ela aumenta a precisão dos resultados sem aumentar muito o custo computacional. Os tempos de processamento podem ser reduzidos se forem aproveitadas as características da matriz gerada pelo FEM, altamente esparsa e simétrica. Por exemplo, como a malha 3 possui 3238 nós, a matriz obtida a partir dessa malha possui 10.484.644 termos. Destes, apenas 21.760 deles (0,21%) são não nulos [42]. A localização desses termos é representada por pontos escuros na figura 5.11, figura esta obtida a partir do Matlab. Também é observado na figura 5.11 que os termos da matriz estão dispostos simetricamente. 44 Figura 5.11: Disposição dos termos não nulos na matriz gerada pelo FEM-ABC para a malha 3. Assim, o uso de métodos eficientes de solução de sistemas matriciais esparsos permite que problemas mais complexos sejam solucionados em tempos reduzidos, uma das principais vantagens do FEM-ABC [43]. O uso de tais métodos é deixado como proposta de trabalho futuro, uma vez que, neste trabalho, os sistemas matriciais são solucionados de forma direta pelo Matlab. Uma limitação das formulações desenvolvidas neste trabalho é que nem sempre a formulação FEM-ABC de segunda ordem é mais exata que a de primeira ordem, apesar de permanecerem válidas, em tais situações, as relações entre densidade da malha, localização da fronteira ABC e exatidão dos resultados. Acredita-se que duas possíveis causas dessa limitação são a derivada segunda tangencial, que aparece na equação (3.18) ao ser obtida a ABC de segunda ordem; e o condicionamento da matriz gerada pelo FEM, que pode afetar sua simetria [44]. A análise dessas causas também é deixada como proposta de trabalho futuro. 5.9 Sumário Neste capítulo, a formulação FEM-ABC para problemas de espalhamento eletromagnético bidimensional é validada. Os resultados mostram que uma ABC de segunda ordem fornece soluções mais exatas. O aumento da densidade da malha e o afastamento da fronteira ABC também contribuem para minimizar o erro em tais cálculos. Percebe-se que a forma da fronteira ABC também está relacionada com a exatidão dos resultados: esta é maior quando a fronteira ABC e o espalhador têm a 45 mesma forma geométrica, para um espalhador cilíndrico de seção transversal circular. Por meio de medidas de tempo computacional, percebe-se que este se relaciona diretamente com a exatidão dos resultados. Métodos eficientes de solução de sistemas matriciais esparsos podem ser usados para diminuir esse tempo, aproveitando as características da matriz gerada e ressaltando uma das principais vantagens do método de elementos finitos na solução de problemas de espalhamento eletromagnético. 46 Capítulo 6 Conclusão e propostas de continuidade Neste trabalho, o método de elementos finitos é utilizado na solução de um problema de espalhamento eletromagnético bidimensional. É mostrado que problemas de espalhamento eletromagnético têm diversas aplicações práticas, tais como o funcionamento de radares para detecção de submarinos e aeronaves, a modelagem da estrutura de florestas pelo sensoriamento remoto, a descoberta das características de espalhadores a partir do campo espalhado por eles, dentre outras. O método de elementos finitos mostra-se apropriado para solucionar esse tipo de problema, pois esse método trata com facilidade domínios não homogêneos, além de possuir baixa complexidade computacional. Para isso, uma condição de contorno absorvente é deduzida e incorporada à formulação matemática do problema. Consegue-se, dessa forma, limitar o domínio do problema de espalhamento, que normalmente é infinito. São usadas ABC’s de Bayliss-Turkel de primeira e de segunda ordens, e a diferença entre ambas é testada. Também são testados outros fatores que influem na exatidão dos resultados, tais como a densidade de elementos das malhas utilizadas, a localização da fronteira ABC em relação ao espalhador e a forma geométrica dessa fronteira. A discretização das variáveis geométricas é feita a partir de elementos lineares, uni e bidimensionais. A discretização das variáveis físicas é feita pelo método de Galerkin. Após ser feita a implementação computacional, são encontrados os seguintes resultados: i) o aumento da densidade de elementos e o afastamento da fronteira ABC provocam um aumento na exatidão dos resultados, o que pode ser verificado pela redução do erro 47 percentual; ii) para um espalhador cilíndrico de seção transversal circular, os melhores resultados são obtidos quando a fronteira ABC tem a mesma forma geométrica do espalhador e, à medida que essa fronteira é deformada, a exatidão dos resultados diminui; iii) na maior parte dos casos, a formulação FEM-ABC de segunda ordem fornece resultados com menores erros percentuais que a de primeira ordem; iv) medidas de tempo de processamento mostram que os fatores que aumentam a exatidão dos resultados provocam, em contrapartida, um aumento do custo computacional, de forma que a eficiência do método é influenciada diretamente pelas características da malha utilizada; v) um estudo da matriz gerada pelo FEM mostra que, mesmo após a incorporação de uma ABC, essa matriz permanece altamente esparsa, o que se traduz em uma possibilidade promissora de uso de métodos eficientes de solução de sistemas dessa natureza. Espera-se que este trabalho contribua cientificamente nos seguintes aspectos: i) desenvolvimento de softwares que solucionem problemas de espalhamento eletromagnético bidimensional; ii) incorporação de condições de contorno absorventes de primeira e de segunda ordens ao método de elementos finitos; iii) teste das características de geradores de malhas bidimensionais, como o software Triangle. Percebe-se este trabalho como um primeiro passo, ainda tímido, rumo à descoberta das potencialidades da formulação FEM-ABC na solução de problemas mais gerais de espalhamento eletromagnético. Além disso, sabe-se que há outros métodos que, se acoplados ao método de elementos finitos, permitem solucionar problemas mais complexos de forma precisa e eficiente. Dessa forma, há várias possibilidades de estudos futuros, sendo algumas delas: i) aplicar a formulação desenvolvida neste trabalho a outros problemas de espalhamento eletromagnético, seja pela variação dos parâmetros do espalhador e da onda incidente, seja pelo cálculo de outras grandezas, tais como o campo magnético, a seção transversal de radar etc.; ii) solucionar o sistema matricial de forma eficiente, por meio de métodos que aproveitem a esparsidade de matrizes geradas pelo FEM; iii) aprimorar a formulação FEM-ABC desenvolvida neste trabalho para solucionar problemas tridimensionais. Sabe-se que esta última proposta é a mais ambiciosa, mas é o caminho natural no processo de um conhecimento cada vez mais aprimorado do método de elementos finitos. 48 Apêndices Apêndice A: Identidades vetoriais Para apresentar as identidades vetoriais que constam neste trabalho, considere que A seja um campo vetorial e g um campo escalar. Então: (A.1) A A 2 A (A.2) gA g A A g (A.3) A dS A dV S V 49 Apêndice B: Dedução da ABC de segunda ordem O ponto de partida para a dedução da condição de contorno absorvente de BaylissTurkel é a forma assintótica do campo espalhado. Em três dimensões, uma solução ur , , para a equação de Helmholtz que obedeça à condição de radiação de Sommerfeld, dada pela equação (2.25), pode ser expressa pelo seguinte teorema [28]: e jkr u r n 0 An , . rn (B.1) É sabido que um correspondente teorema em duas dimensões não existe. Esse problema é resolvido em [45], que apresenta uma solução u r , da seguinte forma: Fn Gn 1 H kr . 1 n r rn n 0 n 0 u H 01 kr (B.2) Para as funções de Hankel, H 01 e H11 , o uso da forma assintótica permite que a equação (B.2) seja escrita como [24]: us e jk n 0 An n ; (B.3) que é a equação (3.7). A partir da equação (B.3), podem ser obtidas as condições de contorno absorventes, tanto de primeira quanto de segunda ordens. A ABC de primeira ordem é obtida de forma direta no capítulo 3. Para ser obtida a ABC de segunda ordem, são considerados os quatro primeiros termos da equação (B.3). Assim, a forma assintótica do campo espalhado é dada por [27]: us A A2 A3 e jk A0 1 ; 2 3 (B.4) que é a equação (3.17). A obtenção da ABC de segunda ordem a partir da forma assintótica do campo espalhado, equação (B.3), não é direta. A sequência de procedimentos é [24]: i) deriva-se a equação (B.3) em relação a : u s 1 s e jk0 u jk o 2 n 1 nAn n1 ; (B.5) ii) substitui-se essa derivada na equação de Helmholtz em coordenadas cilíndricas, dada por: 50 1 u s 1 2u s 2 k 02 u s 0 ; 2 (B.6) iii) obtendo-se a relação de recorrência: 2 an 1 ; 2 jk 0 n 1a n 1 n a n 2 2 2 (B.7) iv) essa relação, ao ser inserida na equação (B.5), produz: u s 1 1 jk 0 2 8 jk 0 2 s 1 2 u s e ik0 u 2 jk 0 2 2 nAn n 1 n2 1 O 9 2 ; (B.8) v) substituindo a equação (B.7) na equação (B.8), obtém-se, após desprezar termos da ordem O 9 2 : u s 1 1 1 s 1 1 2u s jk 0 u 2 jk 2 2k 2 3 2 ; 2 8 jk 0 2 8k 02 3 0 0 (B.9) vi) faz-se, na equação (B.9), u s u u i e usam-se as relações de transformação da equação (3.10), acrescidas de 1 2 2 , para obter a condição de contorno 2 2 e2 absorvente de segunda ordem utilizada neste trabalho, equações (3.12), (3.18) e (3.19). A dedução feita em [30] é um pouco diferente. Lá, é deduzida uma sequência de operadores Bm , tais que: Bm u s O 2 m1 2 , m 1,2,3,... (B.10) A ABC de primeira ordem é obtida quando m 1 : B1 1 jk 0 ; 2 (B.11) e, para a ABC de segunda ordem, faz-se m 2 : B2 1 1 1 2 . jk 0 2 8 1 jk 0 2 1 jk 0 2 51 (B.12) Apêndice C: Incorporação da ABC de segunda ordem à formulação A incorporação da ABC de primeira ordem à formulação é direta, uma vez que e q são constantes. Inserindo as equações (3.12), (3.13) e (3.14) na equação (3.6) obtém-se, com o auxílio da equação (3.3), a equação (3.16). Para incorporar a ABC de segunda ordem, é necessário um desenvolvimento adicional, já que na equação (3.18) é um operador diferencial. Inicialmente, as equações (3.12), (3.18) e (3.19) são inseridas na equação (3.6), com o auxílio da equação (3.3). Em seguida, a equação (3.18) é substituída pelas equações (3.21), (3.22) e (3.23), obtendo-se: w 1u d k 02 2 w ud q wd e 1 w ud e 2 w e e e 2u e 2 d e 0 . (C.1) Observa-se que a equação (C.1) não é simétrica, pois a ordem de derivação do campo e da função de ponderação são diferentes na quinta integral dessa equação. Para que ela volte a ser simétrica, é usada a técnica de integração por partes [20]: fdg fg gdf , (C.2) onde: w d e ; e (C.3) u . e (C.4) f 2 w df 2 dg 2u e 2 d e g Então, substituindo as equações (C.3) e (C.4) na equação (C.2), a quinta integral na equação (C.1) torna-se [33]: x2 , y 2 2u u u w w e 2 2 d e 2 w e e 2 e e d e . e x1 , y1 (C.5) Inserindo a equação (C.5) na equação (C.1), obtém-se a equação (3.20), que é a formulação matemática do problema após a incorporação da ABC de segunda ordem. Acredita-se que, de alguma forma, o primeiro termo do lado direito da equação (C.5) pode ser incorporado ao segundo, em virtude da formulação apresentada em [20]. Acredita-se também que essa formulação seja simétrica, uma vez que a ordem de 52 derivação do campo e da função de ponderação são iguais na quinta integral da equação (3.20). Tal investigação é deixada como proposta de trabalho futuro. 53 Apêndice D: Pseudocódigos Rotina contribuicaoabc (cs): calcula a contribuição dos elementos unidimensionais Determinar as constantes iniciais; Determinar os pontos de Gauss com os respectivos pesos; Determinar a curvatura do elemento; Determinar o campo incidente; Determinar a derivada normal; Determinar a derivada segunda tangencial; Determinar as constantes e q ; Para i = 1, npg Determinar as funções de interpolação ( N i ); Calcular as contribuições do elemento unidimensional; Fim para Fim rotina Rotina contribuicao (c, r ): calcula a contribuição dos elementos bidimensionais Determinar as constantes iniciais; Determinar os pontos de Gauss com os respectivos pesos; Determinar as derivadas das funções de interpolação ( d ); Determinar a matriz jacobiana ( J ); Determinar o jacobiano ( det J ); Determinar J 1 ; Calcular N i ; Calcular N i N j ; Para i = 1, npg Determinar as funções de interpolação ( N i ); Calcular a contribuição do elemento bidimensional; Fim para Fim rotina 54 Rotina fem2d (malha): Programa principal Ler os dados da malha; Para e = 1, ne Determinar a matriz de coordenadas e r ; Calcular a contribuição; Armazenar a contribuição; Fim para Para s = 1, ns Determinar a matriz de coordenadas; Calcular a contribuição; Armazenar a contribuição; Fim para Solucionar o sistema matricial; Obter os resultados; Apresentar os resultados; Fim rotina 55 Referências Bibliográficas [1] Maxwell, J.C. 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