Monografia alunos Jornalismo sobre ts puc minas

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Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais
Curso de Comunicação Social
Introdução aos Estudos de Comunicação
Comunicação e Inclusão Social no Teatro dos Sentidos
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Ana Martins
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(31)9412-4061
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Ayana Braga
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(31)7595-8056
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Bárbara Ferreira
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(31)8896-7730
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Ingrid Stockler
512496
(31)9750-4522
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Isabela Oliveira
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(31)8797-3299
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Belo Horizonte
5 de junho de 2015
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 2
2 COMUNICAÇÃO E INCLUSÃO SOCIAL NA PERIFERIA DA GRANDE BH ......... 3
2.1 Informação ........................................................................................................... 3
2.2 Linguagem e seus signos................................................................................... 3
2.3 Comunicação ....................................................................................................... 4
2.4 Comunicação e mobilização social ................................................................... 5
2.5 Comunicação e inclusão social ......................................................................... 7
2.6 A arte e a cultura ................................................................................................. 8
2.7 Acesso à cultura ................................................................................................ 10
3 CONCEITO DE DEFICIÊNCIA............................................................................... 12
4 AUDIODESCRIÇÃO .............................................................................................. 12
5 AS ORIGENS DO TEATRO ................................................................................... 13
6 O TEATRO DOS SENTIDOS ................................................................................. 14
6.1 O que é ............................................................................................................... 15
6.2 Como surgiu ...................................................................................................... 16
6.3 O teatro e a comunicação ................................................................................. 17
6.4 O processo comunicacional do teatro ............................................................ 18
7 CONCLUSÃO ........................................................................................................ 20
REFERÊNCIAS ...................................................................................................... 21
1
1 INTRODUÇÃO
O presente trabalho de pesquisa pretende mostrar como o Teatro dos
Sentidos trabalha na inclusão de deficientes visuais no teatro, ao acesso a cultura,
propiciando assim, a essas pessoas, um espetáculo privilegiado com momentos e
viagens inesquecíveis pelo mundo da imaginação, com o auxílio dos sentidos
remanescentes, que não a visão.
O conhecimento de Artes Cênicas é fundamental para que o ser humano
desenvolva sua autonomia de criação através de conceitos sólidos e embasados,
abstraindo sensibilidade que nos possibilita pensar de forma reflexiva e crítica em
que, através da arte, influenciará pessoas de forma significativa e positiva no meio
social em que vivemos.
O Teatro dos Sentidos introduz um novo olhar artístico no mundo teatral,
levando o público a se colocar no lugar daquele que não possui a visão, entendendo
como pode ser nítida, compreensível e bonita a maneira que eles têm de enxergar o
mundo.
O projeto desperta o ser humano para uma nova leitura, compreensão e
concepção de vida, através de experiências físicas, estéticas e teatrais de
conhecimento e interpretação do próprio eu, sendo estimulado a pensar e agir como
alguém que não enxerga.
Com isso, o Teatro dos Sentidos ensina, de maneira lúdica, mas reflexiva,
conceitos humanos, de respeito e diversidade às diferenças, introduzindo novas
emoções e sentimentos por meio dos outros sentidos – tato, paladar, olfato e
audição.
Busca valorizar a comunicação que se dá no desenvolvimento do projeto,
deixando uma salva para o questionamento e compreensão do mundo ao redor,
despertando a consciência crítica por ter que passar por aquilo que o outro sente na
pele, os obstáculos que enfrentam e que até então, não eram percebidos.
2
2 COMUNICAÇÃO E INCLUSÃO SOCIAL NA PERIFERIA DA GRANDE BH
2.1 Informação
Informação é o resultado do processamento, manipulação e organização
de dados, de tal forma que represente uma modificação no conhecimento do
sistema (pessoa, animal ou máquina) que a recebe. A informação permite resolver
problemas e tomar decisões, tendo em conta que o seu uso racional é a base do
conhecimento.
Os dados são percebidos através dos sentidos e, uma vez integrados,
acabam por gerar a informação necessária para produzir o conhecimento.
Considera-se que a sabedoria é a capacidade para julgar corretamente quando,
como, onde e com que objetivo se aplica o conhecimento adquirido.
Le Coadic (1996), pesquisador da área da Ciência da Informação, destaca
que o valor da informação varia conforme o indivíduo, as necessidades e o contexto
em que é produzida e compartilhada. Uma informação pode ser altamente relevante
para um indivíduo e a mesma informação pode não ter significado nenhum para
outro indivíduo. Para Freire, o conhecimento
[...] exige uma presença curiosa do sujeito em face do mundo. Requer sua
ação transformadora sobre a realidade. Demanda uma busca constante.
Implica em invenção e reinvenção. Reclama a reflexão crítica de cada um
sobre o ato mesmo de conhecer, pelo qual se reconhece conhecendo e, ao
reconhecer-se assim, percebe “como” de seu conhecer e os
condicionamentos a que está submetido seu ato. (FREIRE, 1970, p. 27).
2.2 Linguagem e seus signos
Segundo Houaiss (1991), linguagem pode se referir tanto à capacidade
especificamente humana para aquisição e utilização de sistemas complexos de
comunicação, quanto a uma instância específica de um sistema de comunicação
complexo.
3
A linguagem constitui-se em um conjunto ou sistema de signos utilizados para
exprimir ideias, emoções ou sentimentos e que serve como mediação de
conhecimento entre o homem e o mundo. Signo, de acordo com Peirce (1977), é
entendido como qualquer coisa que simbolize, represente ou expresse algo ou
alguma coisa. São aceitos por convenção e legitimados pelo grupo ou sociedade. A
linguagem é um instrumento universal, mas que varia de sociedade para sociedade,
de grupo para grupo e entre grupos. Isto porque a linguagem é um sistema
semiótico cuja compreensão dependerá do compartilhamento dos mesmos signos e,
consequentemente, das mesmas experiências sociais que variam conforme o tempo
e o espaço. Ou seja, a comunicação só se concretiza quando os homens, ou
sujeitos, dispõem do mesmo repertório e das mesmas vivências para fazer sentido o
que é produzido e, assim, levar ao entendimento o conhecimento das coisas
dispostas no mundo. A comunicação, portanto, é uma criação humana que surge da
necessidade dos sujeitos sociais de se interagirem e a linguagem é o produto do
meio social que viabiliza essa interação.
2.3 Comunicação
Como primeira abordagem do conceito de comunicação, pode-se começar
pela sua etimologia. A palavra deriva do latim communicare, que significa “partilhar
algo, pôr em comum”. Portanto, a comunicação é um fenómeno inerente à relação
que os seres vivos mantêm quando se encontram em grupo. Através da
comunicação, as pessoas ou os animais obtêm notícias/informações sobre o seu
entorno e podem partilhar com os outros.
O processo comunicativo implica a emissão de sinais (sons, gestos, indícios,
etc.) com a intenção de dar a conhecer uma mensagem. Para que a comunicação
seja bem-sucedida, o receptor deve ser capaz de descodificar a mensagem e de
interpretar. O processo reverte-se assim que o receptor responde e passa a ser o
emissor (sendo que o emissor original passa a ser o receptor do ato comunicativo).
No caso dos seres humanos, a comunicação é um ato próprio da atividade
psíquica, que deriva do pensamento, da linguagem e do desenvolvimento das
4
capacidades psicossociais de relação. A troca de mensagens (que pode ser verbal
ou não verbal) permite ao individuo de influenciar os demais e ser influenciado, por
sua vez.
Entre os elementos que se podem distinguir no processo comunicativo,
encontra-se o código (conjunto de signos usado na transmissão e recepção da
mensagem), o canal (o meio pelo qual circula a mensagem), o emissor (aquele que
emite a mensagem) e o receptor (aquele a quem é endereçada a mensagem).
O ato de pensar pressupõe a formação de palavras para organizar o
pensamento e o coloca-lo em ação. Era necessário nomear as coisas que se
revelavam aos olhos do homem. Mas, antes de tudo, era necessária a criação de um
sistema que possibilitasse a interação entre os homens. E essa interação recebe o
nome de comunicação.
Para Bateson (1979), a vida em sociedade realiza-se pela troca de
informação; o mediador da interação com o outro é a comunicação, que se opõe à
noção de entropia e permitiria tornar transparentes as relações entre os homens. Os
fenômenos da comunicação seriam a chave e a explicação de todos os
comportamentos
humanos.
Esta
tentativa
de
explicar
a
diversidade
dos
comportamentos a partir de um princípio único da comunicação permitiria ao homem
conhecer as regras da interação entre os indivíduos e destes com o ambiente. No
entanto, esta ânsia de controlar os mecanismos sociais, de encontrar um princípio
regulador denota a dificuldade de aceitar a finitude do homem e deste viver com as
suas próprias incapacidades. Perpetuar as leis sobre o funcionamento do social é
não admitir a dimensão múltipla do ser humano.
[...] a forma exata para começar a pensar no padrão que liga é pensarmos
nele como sendo primeiramente (signifique esta palavra o que significar)
uma dança entre partes de atuação recíproca e só secundariamente
circunscrita a variadas espécies de limites físicos, e aos limites impostos
caracteristicamente pelo organismo. (BATESON,1979, p. 21).
2.4 Comunicação e mobilização social
A mobilização social é muitas vezes confundida com manifestações públicas
com a presença de pessoas em uma praça, passeata, concentração. Mas isso não
5
caracteriza uma mobilização. A mobilização ocorre quando um grupo de pessoas,
uma comunidade ou uma sociedade decide e age com um objetivo comum,
buscando, quotidianamente, resultados decididos e desejados por todos.
Toda mobilização é criada para alcançar um objetivo pré-definido, um
propósito comum por isso é um ato de razão, pressupõe um sentido de público,
aquilo que convém a todos. Para que ela seja útil a uma sociedade, deve estar
orientada para a construção de um projeto futuro, se seu propósito é passageiro
converte-se em um evento, uma campanha e não em uma mobilização, esta requer
uma dedicação contínua e produz resultados quotidianamente.
A mobilização social é um ato de comunicação, não se confunde com
propaganda ou divulgação, mas exige ações de comunicação no seu sentido amplo,
enquanto processo de compartilhamento de discurso, visões e informações. O que
dá estabilidade a um processo de mobilização social é saber que o que eu faço e
decido no meu campo de atuação quotidiana, está sendo feito e decidido, por outros
em seus próprios campos de atuação, com os mesmos propósitos e sentidos.
A comunicação é estratégica em projetos sociais. Primeiro, garantindo a
difusão de informações e a disseminação de conhecimento. Segundo, em estreita
articulação com o primeiro, visa a uma transformação cultural mais profunda através
da promoção de comportamentos, atitudes, práticas e valores que colaborem para a
mudança social. Terceiro, a comunicação como meio de mobilização social,
subsidiando o trabalho de integração e articulação dos diferentes segmentos da
sociedade, promovendo o envolvimento das comunidades no processo de tomada
de decisão e na implementação das ações.
A comunicação para mobilização social é transformadora, pressupõe uma
compreensão profunda de seu papel na vida social, seu processo, suas técnicas e
suas linguagens. O trabalho de comunicação, ao dar forma e sentido à ação através
da produção discursiva, nos mais diversos suportes, faz a conexão entre as muitas
instâncias sociais e suas várias formas de expressão.
Essa metodologia tem como base o pressuposto de ação planejada que
fortalece o processo participativo, evitando as decisões por imposição de ideias
particulares de grupos ou indivíduos. O planejamento de comunicação participativo
fundamenta-se na possibilidade de criação ilimitada capaz de permitir a cada passo
do processo, a descoberta de novas formas de reflexão e de ação.
6
Somente com a participação das pessoas, grupos e comunidades o quadro
da exclusão social no país pode ser transformado. Inicialmente é necessário gerar
uma consciência coletiva para a necessidade da mudança de valores e hábitos.
Para alcançar tal objetivo, é fundamental investir nos processos, nas vivências
pessoais e comunitárias, na cultura. Através de estratégias e ações de comunicação
será possível a mobilização comunitária e social, o estímulo da participação
autônoma dos grupos que compõem a comunidade e a sensibilização da opinião
pública sobre as grandes questões nacionais.
2.5 Comunicação e inclusão social
A
inclusão
social
é
apontada
hoje
como
condição
vital
para
o
desenvolvimento de qualquer cidadão, uma vez que é pré requisito para a
participação na vida pública, assumindo um significado de destaque na vida social
da pessoa ao possibilitar o exercício de direitos e deveres. Dessa forma, fica claro
que incluir socialmente é o primeiro passo para inserir os indivíduos excluídos em
uma nova realidade local e global.
A comunicação ocorre a partir e para o outro, conforme mencionado por
Paulo Freire (1970), comunicar fundamenta-se em um processo de coparticipação. A
linguagem é um sistema que engloba códigos que só serão decodificados se o
grupo compartilhar do mesmo repertório ou conjunto de signos necessários para o
entendimento. Se o grupo compartilha do mesmo sistema estará incluído, pois
compreenderá a mensagem mais efetivamente estabelecendo uma relação ativa
dentro do processo dialógico. Diferentemente daquele grupo que não participa do
mesmo sistema. Este estará excluído, a margem ou do lado de fora desse grupo,
uma vez que, não entenderá a mensagem, já que não efetivou uma relação de
reciprocidade. Assim, o sentido não se realizará.
No entanto, não basta fazer parte do mesmo sistema. É preciso saber
dominá-lo. Compreender as suas estruturas e mecanismos pelo qual age e se
baseia. Freire (1970) afirma que “a educação é comunicação, é diálogo, na medida
em que não é transferência de saber, mas um encontro de sujeitos interlocutores
7
que buscam a significação dos significados.” (FREIRE, 1970, p. 46). E a educação
entre os mais pobres, geralmente não é a prioridade. E sim o desejo de saciar a
fome de cada dia. Neste sentido, a escolarização daqueles que, são deixados ou
vivem a margem da sociedade, são os que têm o menor índice de escolarização,
pois não há sentido em saber ler e escrever se não tem o que comer. Portanto, a
linguagem será um fator a mais para contribuir ao sentimento de não pertença
daquilo que convencionou a chamar sociedade.
2.6 A arte e a cultura
A palavra “arte” integra a grandiosidade do ser humano. O homem é o único
ser que executa e necessita da arte, não apenas como forma de expressão, ou
atividade lúdica, mas também porque desde sempre aspirou a superar a sua
mortalidade deixando a sua marca na história. Consciente que a sua presença física
é efêmera, o homem sempre a procurou perpetuar, deixando marcas expressivas
das suas vivências, emoções e sentimentos, sobrevivendo assim ao longo dos
tempos, através do seu legado.
Hoje, através da evolução da arte, podemos perceber a evolução do homem,
não apenas o ser biológico, mas também o seu espírito, o seu crescimento. Embora
as artes difiram muito umas das outras, brotam todas da mesma fonte, a
necessidade que o homem tem de recorrer a meios significativos para exprimir e
comunicar os pensamentos e as emoções, para dar forma e substância ao seu
imaginário e à sua condição humana.
As pessoas de todas as culturas sempre procuraram, e sempre hão de
procurar, respostas a questões relativas à sua existência. Cada cultura desenvolve
meios através dos quais são partilhadas e transmitidas as perspectivas que resultam
dessa procura de compreensão. Os elementos básicos da comunicação são as
palavras, os movimentos, os toques, os sons, os ritmos e as imagens. (UNESCO,
2006, p. 9).
A arte poderá resumir-se como sendo através de vários meios a expressão de
sentimentos de quem a cria e a criação de sentimentos de quem a observa e recria.
8
Sentir e fruir a arte é um ato pessoal e espontâneo. Neste processo simples, está
envolvida toda a nossa existência e a da própria civilização. Concorda-se com a
ideia de que a “a arte é um plural de sentidos”. (PINTO, 2006, p. 6). Em resumo: De
um modo geral a arte pode definir-se como a capacidade que o homem possui de
produzir objetos ou realizar ações com as quais – cumprindo ou não finalidades úteis
– ele possa expressar ideias, sentimentos ou emoções estéticas, isto é, suscetíveis
de produzir prazer estético (…) como manifestação de riqueza e plenitude do ser.
(PINTO, 2006, p. 4).
A definição de arte baseia-se em critérios, que Pinto (2006) reconhece como
sendo a criatividade, a originalidade, a intencionalidade, a autenticidade, a
comunicabilidade, o rigor estético e a mensagem ou mensagens. As artes diferem
no seu tipo, pelos meios de expressão que se utilizam, mas também variam de
acordo com a conotação própria de cada cultura. Em muitas culturas designa-se por
“arte” as expressões que comunicam perspectivas e abrem espaço para reflexão na
mente das pessoas. Ao longo da história, vários tipos de expressão artística
receberam rótulos. É importante reconhecer que, embora termos como “dança”,
“música”, “drama” e “poesia” sejam de utilização universal, o significado mais
profundo de tais palavras difere de cultura para cultura (UNESCO, 2006, p. 9). A arte
não existe apenas no seu conceito, mas através dos artistas e das suas criações.
Estes atos de comunicação revestem-se de um significado especial:
nascem de uma inspiração criadora, fruto da inteligência, da imaginação e
da sensibilidade (…) exigem igualmente domínio técnico e formal; são atos
únicos porque são produto da originalidade dos seus criadores. (PINTO,
2006, p. 4).
A arte e a necessidade de comunicação através de mecanismos e
movimentos criativos e artísticos fazem parte integrante do ser humano. Todos os
indivíduos necessitam de se exprimir, na sua singularidade e originalidade criativa,
aprendendo
a
conhecer e
a
explorar o
seu
corpo
no seu
todo,
em
multidisciplinaridade, como instrumento de comunicação artística e criativa, consigo
próprio, com a sua cultura e com o exterior.
Cada cultura possui as suas expressões artísticas e as suas práticas culturais
específicas. As culturas, na sua diversidade, e os seus produtos criativos e
artísticos, representam formas contemporâneas e tradicionais de criatividade
humana que contribuem para o patrimônio, a beleza e a identidade das civilizações
9
humanas. A arte é simultaneamente manifestação de cultura e meio de
comunicação do conhecimento cultural. O termo “cultura”, mostrando-se igualmente
complexo, é definido como o “conjunto das estruturas sociais e das manifestações
artísticas, religiosas e intelectuais que definem um grupo ou uma sociedade em
relação a outras”. (OLIVEIRA, 2007, p. 2135). A cultura faz parte da herança de uma
comunidade, com os seus costumes, os seus conhecimentos, o seu patrimônio, as
suas instituições, e contribui para a formação do indivíduo enquanto ser social.
2.7 Acesso à cultura
Para as pessoas com deficiência, não é suficiente ter o acesso à cultura como
direito. Este direito, embora inquestionável por ser universal, somente se efetiva na
medida em que os recursos de acessibilidade estão disponíveis em cada momento
de contato com os espaços, bens, serviços e produtos culturais. A Convenção sobre
os Direitos das Pessoas com Deficiência, tratado de Direitos Humanos, homologada
pela Organização das Nações Unidas e ratificada pelo Brasil em 2008, na forma de
emenda constitucional, traz o entrelaçamento entre a cultura e as pessoas com
deficiência a partir do novo direito – a acessibilidade. (BRASIL, 2009.)
Ao pensar em cultura, habitualmente, faz-se referência ao conjunto das artes,
expressões e tradições dos povos, antes e agora, representado por bens e riquezas
materiais e imateriais, serviços e produtos, os quais permitem a apropriação de
conteúdo e fonte de entretenimento e deleite. Ainda que muitos não saibam, a
cultura faz parte dos direitos humanos e, como tal, toda e qualquer pessoa humana
é titular do direito de acesso à cultura. Entretanto, a era dos Direitos Humanos é
recente, iniciando-se formalmente com a Declaração Universal dos Direitos
Humanos (DUDH), adotada pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 1948,
como uma proposta de todas as nações a favor da paz. A Declaração se destaca e é
amplamente difundida por seu artigo 1°, que diz: “Todos os seres humanos nascem
livres e iguais em dignidade e em direitos. Dotados de razão e de consciência,
devem agir uns para com os outros em espírito de fraternidade.” (BRASIL, 2010).
10
Apesar da afirmativa de liberdade e igualdade entre todas as pessoas, na
prática, esta premissa encontra-se longe de ser a realidade da maioria da população
mundial, a qual ainda vive sob diversas formas de exclusão, sem a garantia das
condições de dignidade inerentes à pessoa humana. Pensando na garantia da
igualdade e da dignidade entre todos, a mesma Declaração se desdobra em outros
vinte e nove artigos, os quais contemplam os diferentes aspectos da vida humana e
confere a eles o status de direitos universais. O artigo 27 é dedicado à cultura e
enuncia:
I) Todo o homem tem o direito de participar livremente da vida cultural da
comunidade, de fruir as artes e de participar do progresso científico e de
fruir de seus benefícios.
II) Todo o homem tem direito à proteção dos interesses morais e materiais
decorrentes de qualquer produção científica, literária ou artística da qual
seja autor. (BRASIL, 2010).
Os Direitos Humanos são universais, no entanto, a violação de um direito
significa a violação do todo indivisível. Conclui-se, conforme enfatiza Santos (1997),
que “temos o direito a ser iguais quando a nossa diferença nos inferioriza; e temos o
direito a ser diferentes quando a nossa igualdade nos descaracteriza”.
Daí a necessidade de uma igualdade que reconheça as diferenças e de uma
diferença que não produza, alimente ou reproduza as desigualdades.
Considera-se que a legislação brasileira para a pessoa com deficiência é uma
das mais avançadas do mundo. Todas as diretrizes, definições e os detalhamentos
das condições de acessibilidade, os quais já constavam do marco legal brasileiro até
2008, foram elevados à equivalência de emenda constitucional com a ratificação da
Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, com especificidades
destinadas às pessoas com deficiência, que foi elaborada de 2002 a 2006, quando
passou a ser adotada pela ONU. A não observância da acessibilidade (um direito)
significa ato de discriminação contra as pessoas com deficiência, pois caracteriza a
existência de barreiras que limitam sua capacidade de participação em bases iguais
às demais pessoas. (PAULA; MAIOR, 2008).
Pretende-se destacar a importância do direito de acesso à cultura,
corroborado por Cohen, Duarte e Brasileiro (2012):
Assumir o compromisso com a democratização da cultura significa também
pensar em uma multidisciplinaridade na qual a questão da acessibilidade
11
deve estar necessariamente inserida. Trata-se de garantir um direito, que
envolve o TER ACESSO, o PERCORRER, o VER, o OUVIR, o TOCAR e o
SENTIR os bens culturais produzidos pela sociedade através dos tempos e
disponibilizados para toda a comunidade. (COHEN; DUARTE;
BRASILEIRO, 2012, p. 22).
3 CONCEITO DE DEFICIÊNCIA
Há uma tendência em juntar o conceito de deficiência ao de incapacidade,
desencadeando o indeferimento de debates legítimos, como também medidas
inadequadas por parte das autoridades e órgãos interessados. A conceituação
adequada, segundo preconiza a Classificação Internacional de Funcionalidade,
Incapacidade e Saúde, não prende a incapacidade à deficiência como limitação
genérica, porque nem toda deficiência resulta em limitação de capacidade nem em
problemas de desempenho, assim como a deficiência poderá comprometer tão
somente função específica, preservando a realização de outras. Logo, não é porque
existe alguma incapacidade que a pessoa deve ser rotulada genericamente de
incapaz.
Assim, o conceito de deficiência deve ser compreendido como toda perda ou
anormalidade de uma estrutura ou função psicológica, fisiológica ou anatômica que
gere incapacidade ou capacidade para o desempenho de atividade, dentro do
padrão considerado normal para o ser humano, levando-se em conta que a
incapacidade é restrita a determinada atividade (andar, ver, ouvir, falar, desempenho
intelectual), o que não significa incapacidade genérica. É o que consta do art. 5o , §
1o , I, do Decreto n. 5.296/2004 ao considerar como “pessoa portadora de
deficiência”, “a que possui limitação ou incapacidade para o desempenho de
atividade e se enquadra nas categorias” de deficiências física, auditiva, visual,
mental e múltipla.
4 AUDIODESCRIÇÃO
12
A audiodescrição é o recurso que permite a inclusão de pessoas com
deficiência visual em cinema, teatro e programas de televisão. No Brasil, segundo
dados do IBGE, existem aproximadamente 16,5 milhões de pessoas com deficiência
visual total e parcial, que encontram-se excluídos da experiência audiovisual e
cênica.
O recurso consiste na descrição clara e objetiva de todas as informações que
compreendemos visualmente e que não estão contidas nos diálogos, como, por
exemplo, expressões faciais e corporais que comuniquem algo, informações sobre o
ambiente, figurinos, efeitos especiais, mudanças de tempo e espaço, além da leitura
de créditos, títulos e qualquer informação escrita na tela. A audiodescrição permite
que o usuário receba a informação contida na imagem ao mesmo tempo em que
esta aparece, possibilitando que a pessoa desfrute integralmente da obra, seguindo
a trama e captando a subjetividade da narrativa, da mesma forma que alguém que
enxerga.
A primeira vez que a audiodescrição apareceu formalmente descrita como tal,
foi na tese de pós-graduação “Master of Arts”, apresentada na Universidade de São
Francisco pelo norte-americano Gregory Frazier, em 1975. Uma série de estudos
começaram a ser feitos e os resultados favoráveis que foram sendo comprovados
nessas primeiras experiências fizeram com que a técnica se desenvolvesse em
teatros, museus e cinemas dos Estados Unidos durante a década de 80. O encontro
de Frazier com August Copolla facilitou a divulgação da audiodescrição pela
América do Norte.
5 AS ORIGENS DO TEATRO
Segundo a Enciclopédia Britannica (1990, vol. 28), a palavra teatro deriva do
grego theaomai: olhar com atenção, perceber, contemplar. Theaomai não significa
ver no sentido comum, mas sim ter uma experiência intensa, envolvente, meditativa,
inquiridora, a fim de descobrir o significado mais profundo; uma cuidadosa e
deliberada visão que interpreta seu objeto.
13
O teatro, mais do que ser um local público onde se vê, é o lugar condensado
da vivência das ambiguidades e paradoxos, onde as coisas são tomadas em mais
de uma forma ou sentido. Existem várias teorias sobre a origem do teatro, pois
existem poucas evidências e mais especulações. Uma hipótese é de que este teria
surgido a partir dos rituais primitivos. Outra hipótese seria o surgimento a partir da
contação de histórias, ou se desenvolvido a partir de danças, jogos, imitações. Os
rituais na história da humanidade começam por volta de 80.000 anos antes de
Cristo.
A consolidação do teatro, na Grécia Antiga, deu-se em função das
manifestações em homenagem ao deus do vinho, Dionísio. A cada nova safra de
uva, era realizada uma festa em agradecimento ao deus, através de procissões.
Com o passar do tempo, essas procissões, conhecidas como "Ditirambos", foram
ficando cada vez mais elaboradas, e surgiram os "diretores de coro", os
organizadores
de
procissões.
Os
participantes
cantavam,
dançavam
e
apresentavam diversas cenas das peripécias de Dionísio.
O primeiro diretor de coro foi Téspis, que foi convidado pelo tirano Pisístrato
para dirigir a procissão de Atenas. Téspis desenvolveu o uso de máscaras para
representar, pois em razão do grande número de participantes era impossível todos
escutarem os relatos, porém podiam visualizar o sentimento da cena pelas
máscaras. O coro era composto pelos narradores da história, que através de
representação, canções e danças, relatavam as histórias do personagem. Ele era o
intermediário entre o ator e a plateia, e trazia os pensamentos e sentimentos à tona,
além de trazer também a conclusão da peça.
Em uma dessas procissões, Téspis inovou ao subir em um tablado para
responder ao coro, logo em seguida Téspis se passou por Dionísio, fingindo que o
espírito de Dionísio havia adentrado seu corpo, e assim, tornou-se o primeiro
respondedor de coro. Em razão disso, surgiram os diálogos e Téspis tornou-se o
primeiro ator grego.
6 O TEATRO DOS SENTIDOS
14
6.1 O que é
O Teatro dos Sentidos é uma nova técnica de encenação feita especialmente
para uma plateia de deficientes visuais ou para um público com olhos vendados.
Esta modalidade de teatro é caracterizada pela utilização de textos particularmente
adaptados, resultando na máxima estimulação dos sentidos remanescentes
(audição, olfato, paladar e tato), suprimindo a visão.
O espectador experimenta uma enorme riqueza de sensações e compreende
totalmente a história encenada. É teatro para não ser visto, ou para ser “visto” de
outra maneira. A imagem do que ocorre é fruto da criação interna e pessoal de cada
espectador. A fantasia é estimulada pelos outros sentidos.
De acordo com o Projeto Teatro dos Sentidos de Paula Wenke personagens
narradores são criados para gerar uma comunicação direta com a plateia. Em tempo
presente, eles têm a função de descrever o que não pode ser visto em tempo real ou
o que não pode ser adaptado para a cena. Também estimulam o envolvimento do
público provocando suspense, dúvida, emoções.
No espetáculo são experimentados sabores, são utilizadas essências que
provocam odores, instrumentos musicais cujo timbre e ritmo reforçam os tons
dramáticos, uma extensa trilha de efeitos sonoros extraídos de CDs especializados e
ainda outras surpresas que tocam, literalmente, o espectador.
Nas peças teatrais há a Mesa dos Provocadores que é fundamental para
execução e iniciação do espetáculo exercendo e inserindo a apreciação do
comportamento e dos sentidos humanos: o paladar através da degustação,
experimentação de alguns alimentos oferecidos durante a apresentação, o olfato, o
tato, a audição. Todos esses sentidos são trabalhados e apreciados durante um
espetáculo teatral.
A música está presente durante todo tempo nas apresentações. O Teatro dos
Sentidos é um aprendizado necessário para que as pessoas desenvolvam a
intuição, a imaginação e o raciocínio lógico. Acalma a mente, relaxando o corpo
humano e inserindo novos sentimentos, emoções e modo de enxergar o mundo ao
seu redor de forma crítica e construtiva.
15
Considero o Teatro dos Sentidos impactante, não apenas pelo cunho
inovador, mas pelo que representa para o espectador que, nesta
modalidade de teatro, toca o texto através da percepção dos sentidos.
Presenciei a forte emoção de uma criança cega ao ser surpreendida pelo
delicado contato com os cabelos (então descritos no texto) da personagem.
Observei, do mesmo modo, a inserção de uma criança não deficiente, de
olhos vendados, ao universo dos que não enxergam: é a referência da vida
através dos sentidos aguçados pela impossibilidade visual. Certamente, é
um raro momento de descobertas para um mundo que existe além do olhar.
Viva o Teatro dos Sentidos! 1
6.2 Como surgiu
A carioca Paula Wenke, graduada em Artes Cênicas pela Universidade de
Brasília (UnB) e licenciada pelo MEC (Ministério da Educação) para formar atores,
dirige teatro e outras mídias. Além destas funções é locutora, e também poetisa; foi
ela quem iniciou o projeto.
Segundo a autora desta metodologia, habitante de Brasília desde os 11 anos
de idade, quando da sua volta ao Rio de Janeiro sua cidade natal ao passear pelas
orlas da Lagoa e das praias de Ipanema e Leblon, sentia-se privilegiada ao poder
ver diariamente a paisagem de sua cidade natal. Durante essas caminhadas vinha a
mente o fato de “alguns” habitarem a mesma cidade sem poderem contemplá-la por
causa de alguma deficiência física. Neste ponto começava surgir o desejo de
“emprestar” os olhos para quem já não os tinha mais, ou nunca os teve. Neste
mesmo período, a Casa da Gávea, Centro Cultural onde a professora ministrava seu
curso de Interpretação Teatral, realizava leituras dramatizadas todas ás segundasfeiras, após as suas aulas. Os textos eram lidos com forte interpretação, mas sem
proposta de encenação. Paula assistia a quase todas, fazendo dessas leituras um
exercício de direção: ouvia tudo de olhos fechados, visualizando e imaginando as
cenas. Nesta mesma época, matriculou-se em seu curso, o aluno Carlos Ceasar,
que por sua vez, ministrava cursos de contação de histórias, no Instituto Benjamin
Constant, para deficientes visuais.
1
Depoimento da espectadora Sandra Castiel, obtido em uma entrevista realizada após o espetáculo
do Teatro dos Sentidos.
16
A ideia de produzir espetáculos especialmente para cegos acabou surgindo
dessa configuração de fatos. O contato físico e a convivência dessas pessoas
videntes e não videntes trazem resultados positivos para todos os participantes.
O Teatro dos Sentidos foi criado a partir da dificuldade do cego de perceber a
dramaturgia e passou a ser uma facilidade para outros deficientes, idosos e outros
grupos poderem ser inclusos na sociedade.
6.3 O teatro e a comunicação
O Teatro dos Sentidos introduz um novo olhar artístico no mundo teatral,
incluindo em seu repertório pessoas videntes que atuam como se não enxergassem
levando a pessoa a pensar e sentir como alguém que não teve a oportunidade de
ver as coisas reais, palpáveis, visíveis e também aquelas que têm beleza e requinte
aos olhos humanos.
Despertando o ser humano para uma nova leitura, compreensão e concepção
de vida, através de novas experiências físicas, estéticas e teatrais de conhecimento
e interpretação do próprio eu. O ser humano é estimulado a caminhar, pensar e agir
como alguém que não enxerga, sendo assim é ensinado o conceito de alteridade em
que uma pessoa se coloca no lugar do outro, aprendendo a respeitar as diferenças e
a diversidade cultural, social e educacional se introduzindo em um novo estilo de
atuação e interpretação teatral. O Teatro dos Sentidos introduz o desenvolvimento
de novas emoções e sentimentos humanos percebidos por meio dos órgãos dos
sentidos, a solidariedade está presente nesta técnica à inclusão educacional e social
valorizando o ser humano portador de deficiência visual.
O projeto busca desenvolver o sentimento de solidariedade na plateia, através
de uma experiência lúdica e prazerosa que também promove a reflexão e desperta o
desejo de mudar a nossa realidade social, já que os deficientes ainda lutam para
garantir seus direitos básicos, mesmo tendo-os previstos pela Constituição.
De acordo com o Censo 2010, feito pelo IBGE, o Brasil tem cerca de 45,6
milhões de deficientes, um percentual de 23,9%. A deficiência visual apresentou a
maior ocorrência, afetando 18,8% da população brasileira.
17
As leis – como a Lei nº 7.853/89, considerada a mais inclusiva das Américas,
por seu conteúdo –, que são garantidas pela Constituição Brasileira, pela
Declaração Universal dos Direitos Humanos, pela Organização das Nações Unidas
(ONU) e por outras organizações atuantes em estados e municípios, asseguram ao
deficiente visual o direito a igualdade, de ir e vir, acessibilidade, transporte,
dignidade, liberdade, acesso à informação, liberdade de expressão, trabalho e
educação adequada, com o objetivo de integrá-lo a sociedade, dando a
possibilidade de uma vida normal e saudável como todos os outros cidadãos.
Entretanto, as coisas não funcionam como deveriam no Brasil. É preciso
reconhecer que o cenário em que os deficientes vivem teve avanços e melhorias.
Mas o governo ainda investe pouco para endossar os direitos dessa parcela da
população que enfrenta diversos conflitos para se firmar na comunidade.
Através de pesquisas promovidas pelo próprio projeto, a plateia passa a se
mobilizar para encontrar uma maneira de agir em prol da inclusão dos deficientes e
para garantir a eles uma vida digna. Repensando as atitudes como cidadãos,
constrói-se um ambiente cada vez mais acessível e solidário. O projeto busca
desenvolver o sentimento de solidariedade na plateia, através de uma experiência
lúdica e prazerosa que também promove a reflexão e desperta o desejo de mudar a
realidade social, já que os deficientes ainda lutam para garantir seus direitos
básicos, mesmo tendo-os previstos pela Constituição.
Achei muito legal a iniciativa de trazer essa peça para Belo Horizonte, pois
atualmente é difícil encontrar peças que possam conscientizar as pessoas,
ao mesmo tempo que acrescenta algo a mais na experiência de vida de
cada um, podendo até mesmo influenciar e criar novas concepções de
vida.2
6.4 O processo comunicacional do teatro
O projeto mostra que é possível ter uma total percepção de uma peça teatral,
desde que seus elementos estejam todos adaptados para o público alvo. Os
2
Depoimento da espectadora Alessandra Andrade, obtido em uma entrevista realizada após o
espetáculo do Teatro dos Sentidos.
18
sentidos remanescentes, se bem estimulados, conseguem suprir a visão, que
julgamos ser o sentido fundamental para a captação e compreensão do mundo.
Sem o uso da visão, é preciso pensar na forma correta de fomentar todos os
outros sentidos, de forma que fique claro o que está ocorrendo.
A visão é uma facilidade para quem a tem, tornando-se cômodo e não
necessário desenvolver de forma mais complexa os outros sentidos. Para quem tem
baixa visão ou não enxerga, é preciso que os outros sentidos sejam estimulados
para que se compreenda o mundo. Quando os “enxergantes” se colocam na posição
de um deficiente visual, vê-se o quanto a visão pode ser substituída de forma a
continuar compreendendo o mundo, de uma forma mais delicada e sutil.
Segundo João Gomes Filho (2003), existem ações de percepção que, se
usadas de forma correta, conseguem levar a informação de forma tão rápida e
eficaz, por parte do público, quanto a visão. O fator da percepção visual está
fundamentalmente ligado aos atributos relativos á capacidade, facilidade e rapidez
desejáveis na captação, decodificação e compreensão da informação por parte do
usuário-receptor, na relação deste com o signo e, secundariamente, também com o
entorno no qual o signo deve estar se destacando. Tais atributos crescem em
importância dependendo da categoria a que o signo pertencer e, naturalmente, do
tipo e quantidade de elementos informacionais, do papel funcional do signo, assim
como do repertório cultural do usuário (público) – receptor da mensagem.
Ainda segundo Filho, na ergonomia é sempre conveniente pensar na adoção
do fator tátil desde o início do projeto do signo quando ainda podem ser estudadas
soluções como configurações anatômicas que possibilitem o usuário encontrar ou
manusear determinadas funções sem a necessidade da visão; aplicação de texturas
em elementos planos ou volumétricos que os caracterizem de tal maneira que o seu
uso se faça sem olhá-lo e que, pelo simples contato ou pressão, o operador-usuário
já os reconheça imediatamente, ou ainda, simplesmente pelo conforto no toque ou
pega desses elementos.
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7 CONCLUSÃO
Os motivos existentes para que continue sendo feita essa inclusão à cultura
de pessoas com deficiência é cada vez maior, pois dados estatísticos mostram o
quão grande é o número de deficientes. Sendo então, necessária a adequação de
fontes culturais – como teatros, filmes, exposições – para atender a esse público que
tem o direito de ser inserido na sociedade.
Com o Teatro dos Sentidos, percebe-se que o público cego tem interesse e
capacidade de compreender qualquer espetáculo desde que ele seja adaptado para
tal, possibilitando a inclusão de tais e colaborando para a sensibilidade do público
não cego.
Como conclusão, o Teatro dos Sentidos visa contribuir com a sociedade,
acrescentando de forma significativa à valorização dos sentidos e dos deficientes de
todos os gêneros, fazendo com que o mundo do outro seja observado e
preocupando-se com o modo em que ele vive e é tratado, procurando uma
sociedade unificada e com os direitos de todos os seus cidadãos atendidos.
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