Como a queda do petróleo afeta os negócios BrasilVenezuela?

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Como a queda do petróleo afeta os
negócios Brasil­Venezuela?
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Com vitória de Eduardo Cunha e
Lava Jato, Congresso pode
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Ruth Costas
Da BBC Brasil em São Paulo
19 janeiro 2015
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Destaques e Análises
Venezuela é responsável por terceiro maior superávit da balança comercial brasileira
A Venezuela é o país latino­americano que mais deve sofrer se os preços do petróleo
se estabilizarem no atual patamar, bem mais baixo que há alguns meses. E não é
difícil entender por quê.
O produto representa cerca de 95% das receitas de exportação do país e mais de
Novidade em Tóquio: camarões
vivos cobertos com formigas
40% do orçamento do governo.
A recente queda do barril venezuelano ­ da casa dos US$ 100 para menos de US$
50 ­ na prática significa um corte radical nas divisas para financiar importações,
gastos sociais e demais despesas do governo.
Leia mais: Levy acena com mudança em política de preços na Petrobras
Além disso, a queda ocorre em um momento difícil para a economia do país.
As inovações que o Japão quer
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A inflação venezuelana é hoje quase dez vezes maior que a brasileira, e a
escassez de produtos básicos (resultado da queda na produção interna e
restrições à importação) transforma uma simples compra de fralda ou leite em uma
peregrinação por mercados.
Já há quem aposte até em um default venezuelano. A agência Fitch, por exemplo,
recentemente rebaixou a classificação de crédito do país para CCC, que indica
risco de moratória.
Leia mais: Três iniciativas que enriqueceram a Coreia do Sul
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"A Venezuela está à beira de uma insolvência cambial ­ com a queda da receita
das suas exportações ­, e uma moratória poderia ocorrer nos próximos meses", diz
o professor Carlos Eduardo Carvalho, especialista em economia da América Latina
da PUC­SP.
E o que a queda do petróleo – e esse aprofundamento da crise venezuelana ­
poderia significar para o Brasil e para os negócios entre os dois países?
Reflexos
Como identificar uma nova forma
de vida
Há certo consenso entre economistas e especialistas consultados pela BBC de
que o Brasil deve ser afetado por uma deterioração do cenário político e
econômico venezuelano.
Primeiro, em função do peso da relação econômica e do comercial bilateral. Hoje,
a Venezuela é responsável pelo terceiro maior superávit bilateral da balança
comercial brasileira, atrás apenas da China e da Holanda (porta de entrada de
toda a Europa).
Não fosse esse saldo no comércio com o país, o déficit registrado na balança
comercial brasileira seria quase o dobro do que foi no ano passado, de US$ 3,93
bilhões.
Suar realmente emagrece?
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Entre as empresas brasileiras que nos últimos anos se animaram a investir na
Venezuela, estão a Gerdau, a Braskem, a Alcicla e o Grupo Ultra. E também há
uma série de construtoras atuando no país (algumas apoiadas por recursos do
BNDES).
Além disso, a Venezuela agora é membro do Mercosul. "E a crise venezuelana
pode se tornar um grande desafio para o bloco", diz Carvalho.
O professor que tem 26 milhões
de alunos
"Acho difícil o presidente Nicolás Maduro resolver o caos em que está a economia
do país hoje sem um ajuste selvagem, que envolva uma grande desvalorização.
Mas as consequências desse ajuste são imprevisíveis. O pior cenário é o de um
aumento da instabilidade política ou uma convulsão social – caso em que seria
esperada uma atuação do Mercosul."
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operador de drones'
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raio­X da URSS
Desabastecimento leva a filas e peregrinação por produtos
'Decisão em xeque'
Para José Augusto de Castro, presidente da Associação de Comércio Exterior do
Brasil (AEB) "se a crise venezuelana se aprofundar, a decisão de incluir o país no
Mercosul será colocada em xeque". A última barreira à participação plena do país
no bloco sul­americano ocorreu em dezembro do ano passado, quando o
Congresso paraguaio deu sinal verde à incorporação de Caracas ao grupo.
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"Não houve aumento do comércio nos últimos anos, e uma Venezuela em crise vai
dificultar ainda mais as negociações do Mercosul com outros países e blocos", diz
Castro.
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Fernando Portela, diretor da Câmara de Comércio e Indústria Venezuelana­
Brasileira (Cavenbra), por exemplo, acredita em uma queda de até 20% nas
exportações no pior cenário.
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Para Castro, da AEB, a expectativa é que haja uma redução de, no mínimo, 10%.
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No que diz respeito ao comércio bilateral, especialistas esperam uma queda nas
exportações de manufaturados e bens não essenciais para a Venezuela caso os
preços do petróleo se mantenham nesse patamar mais baixo, em função do
aumento da dificuldade do país de pagar por suas importações.
"Na realidade, as exportações para a Venezuela já vêm sofrendo uma queda ­
pequena, mas aparentemente consistente ­ em função da atual crise econômica
vivida pelo país", diz Gabriel Kohlmann, da Consultoria Prospectiva.
"Isso pode se acentuar se o petróleo não subir."
Exportações
Em 2012, as exportações brasileiras para a Venezuela eram de US$ 5 bilhões. Em
2013 ficaram em US$ 4,8 bilhões e em 2012, em US$ 4,6 bilhões.
O impacto negativo da baixa do petróleo sobre as exportações, porém, poderia ser
significativo não fosse uma mudança ocorrida na composição da cesta de produtos
embarcada para a Venezuela nos últimos anos.
"Hoje, exportamos para o país principalmente alimentos e outros produtos de
primeiríssima necessidade, que são prioridade para o governo", diz Castro, da
AEB.
Ele diz que, em 2007, o Brasil exportou para a Venezuela US$ 576 milhões em
produtos básicos e US$ 4 bilhões em manufaturados.
No ano passado, os básicos chegaram a US$ 2,1 bilhões e os manufaturados
caíram para US$ 2,5 bilhões. "E isso que alguns produtos alimentícios
processados são classificados como manufaturados', diz Castro.
Entre os principais itens embarcados para o país hoje, estão carne bovina
O que faz da Noruega o país
mais democrático do mundo?
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congelada (19,51% do total), frango em pedaços (9,19%), animais vivos bovinos
(7,40%) e açúcar (6,39%).
"Acho difícil que falte dólar para essas exportações de bens de necessidade
básica, até porque isso poderia afetar a popularidade de Maduro – e em 2015
teremos eleições legislativas na Venezuela", diz Kohlmann.
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Com menos receita do petróleo, governo tem dificuldades para gastar
Dificuldades comerciais
Não é de hoje que os venezuelanos têm encontrado dificuldades para pagar seus
parceiros comerciais.
"As companhias aéreas, por exemplo, já tiveram problemas para receber (dólares
para remessa para matrizes) – situação que poderia voltar a acontece", diz
Portela.
O governo instituiu o sistema de câmbio fixo em 2003 com objetivo de obter um
maior controle sobre os preços e evitar uma fuga de capitais.
As empresas e cidadãos venezuelanos só podem comprar dólares na taxa oficial
através de uma agência do governo ­ e apenas para fins de importação de bens ou
pagamento de viagens. Mas a escassez de divisas tem limitado essa liberação.
"Hoje, já há um total de dívidas antigas não quitadas com exportadores brasileiros
da ordem US$ 1,5 bilhão", diz José Augusto, da AEB.
"Por isso, há empresas que só exportam para o país se receberem a vista ou
adiantado."
Segundo Portela, a baixa do petróleo também deve complicar a situação de
empresas que atuam na Venezuela e precisam importar equipamentos e matéria
prima ou dependem de repasses do governo.
Incerteza
É provável que um orçamento mais apertado comprometa o ritmo de repasses
para as obras públicas, por exemplo, o que deve afetar as construtoras brasileiras
no país.
"O clima hoje é de grande incerteza. As empresas brasileiras estão numa espécie
de limbo para ver se haverá desvalorização ou se conseguirão as licenças que
precisam para importar", diz Portela, que vive em Caracas.
"Nas relações bilaterais, estamos vivendo um ciclo bem diferente que o da era
Chávez­Lula, quando as empresas brasileiras fizeram planos ambiciosos para
investir ou cooperar com a Venezuela", opina.
Mais otimista, o presidente da Federação de Câmaras de Comércio e Indústria
Venezuela­Brasil (Fecamvenez), José Francisco Marcondes, aposta em uma
recuperação dos preços do Petróleo.
"Quando o tema é negócios na Venezuela, cansei de ver pessimistas quebrarem a
cara em suas previsões", diz ele.
"Acho que é cedo demais para acreditarmos que o petróleo vai se estabilizar
nesses patamares tão baixos. Os grandes países produtores já estão se reunindo
para discutir como impulsionar os preços e eles podem chegar a uma solução que
evite esse cenário mais dramático."
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