www.visbrasil.org.br COMENTÁRIOS O QUE HÁ DE NOVIDADE NA ATUAL EPIDEMIA DE GRIPE? Há uma justa preocupação mundial sobre a iminente pandemia de gripe originada no México. A influenza é uma antiga doença que já provocou inúmeras pandemias. Hipócrates em 412 AC descreve uma epidemia provavelmente causada pelo vírus da influenza. Foram descritas e acompanhadas pandemias de Influenza nos anos de 1357 (onde surge o nome “Influenza”), 1580, 1781, 1830, 1889-1890, 1900, 1918-1919 (Pandemia da “’Gripe espanhola”), 1957, 1968, 1977. Richard Shope demonstra em 1920 que a Influenza é causada por um vírus. Sir Christopher Andrewes, Wilson Smith, and Sir Patrick Laidlaw isolam em 1933 o virus da Influenza. (História da Influenza: http://www.stanford.edu/group/virus/1999/rahul23/timeline.html) Este vírus tem a peculiar característica de se modificar de tempos em tempos de modo que os organismos infectados costumam não ter anticorpos contra estes novatos. Sabe-se desde 1878 que a provável origem destes vírus é o sudeste da China o que foi confirmado na década de 1970 e que originariamente acometem aves aquáticas. Neste longínquo rincão, em contato com porcos de criação e os seus criadores, nas fazendas chinesas, ocorre uma inquietante mistura dos genes deste vírus e vez por outra surge uma cepa infectante à espécie humana, com a característica de se propagar facilmente pelo contato interpessoal. Destas mutações podem surgir microorganismos realmente letais, como foi o caso da famigerada “Gripe espanhola” em 1918, que por sinal não teve nada a ver com a Espanha. Curiosamente a identidade do vírus da “gripe espanhola” (recuperado em 1998 de um cadáver congelado no Alaska) é a mesma da atual e vulgarmente conhecida “Gripe suína” – que também não tem nada a ver com os porcos. O nome que se dá aos dois é AH1N1. Há três tipos de vírus da Influenza: A, B, C. que podem acometer o homem. O mais importante, no entanto é o tipo A. O vírus A tem em sua superfície duas glicoproteinas, a hemaglutinina-H e a neuraminidase-N, que têm a propriedade de facilitar a penetração do vírus nas células. O vírus da influenza mede entre 80 a 120 nm (nanomicra). Para se ter uma idéia da dimensão, se nós fôssemos do tamanho do Pão de Açúcar o vírus seria menor que um grão de areia. Podem existir centenas de tipos diferentes destes seres pois o H ( de Hemoaglutinina) tem 16 diferentes formas e o N (de Neuraminidase) tem 9 formas. Além disso, ainda existem os tipos B e C. Além das aves, podem ser infectados: o homem, as baleias, as focas, os cavalos, os porcos e praticamente qualquer mamífero. Peixes, anfíbios, insetos, crustáceos, répteis e quelônios estão aparentemente de fora deste seleto grupo. www.visbrasil.org.br COMENTÁRIOS Uma das características destes vírus, quando se adaptam aos humanos, é a sua alta infecciosidade e transmissibilidade pelas vias respiratórias. A letalidade, no entanto, é muito variável embora nestes termos, em geral, não seja considerada uma doença grave pela sua letalidade. Contudo pela quantidade de pessoas que atinge pode provocar um número absoluto muito grande de mortes. Numa estimativa quase otimista de uma epidemia no Brasil, com 10% da população contraindo a doença e com 1% de letalidade, pode-se calcular que morreriam quase 200.000 brasileiros em alguns meses. Sem contar que um número enorme de pessoas, uns 20 milhões, precisariam de assistência médica do SUS, faltariam às aulas e ao trabalho. Os prejuízos seriam imensos. Em 2005 surgiu o vírus AH5N1 da “Gripe aviária” que ainda circula por aí. Foi então que se elaborou o primeiro plano estratégico de âmbito mundial para tentar conter a propagação da gripe. Nas epidemias passadas quando as autoridades sanitárias se davam conta a epidemia já estava instalada. Hoje com os modernos métodos de biologia molecular é possível identificar rapidamente o vírus infectante e eliminar seus reservatórios, principalmente as aves de criação infectadas. Também foram desenvolvidos medicamentos eficazes para combater a virose. Isto permite conter a propagação do vírus até se desenvolver uma vacina, o que leva no mínimo seis meses (e isto já começou a ser feito para este AH1N1). No caso do AH5N1 “Gripe aviária” de 2005 o monitoramento do vírus tem dado resultado, por sorte, o vírus tem baixo poder infectante para humanos e não se propaga muito bem de pessoa a pessoa. O vírus AH1N1 surgiu em 2008 no México e até o momento não se sabe como. Os E.E.U.U. decidiram aplicar a estratégia adrede planejada para a “gripe aviária” como se pode verificar nos informes do CDC. http://www.cdc.gov/ncidod/eid/ O objetivo principal é reduzir ao máximo o contágio e a letalidade. Os americanos montaram uma enorme rede de notificação e validação laboratorial de casos suspeitos e fazem o tratamento por antivirais eficazes que são fornecidos diretamente aos médicos atendentes e seus pacientes. No entanto, já alertaram que caso a epidemia se alastre tal estratégia mudará. Não farão mais a validação laboratorial porque seria inviável e inútil (eles usam uma técnica sofisticada para identificar o vírus chamada “real time RT-PCR”) e também não fariam mais o tratamento com antivirais por igual razão, exceto em pacientes com condições de saúde especiais. Eles estão fazendo a validação laboratorial dos casos mexicanos e a OMS está distribuindo o conjunto de reagentes para que todos os países possam executar o teste. O uso corrente de máscaras é preconizado apenas aos profissionais de saúde ou quem esteja em contato direto com casos suspeitos (com sintomas e sinais de gripe) como proteção contra os ”perdigotos” oriundos dos espirros e tosses e, igualmente, aos pacientes, para não espalharem aquela nuvem de aerossóis quando espirrarem e tossirem. www.visbrasil.org.br COMENTÁRIOS Aparentemente um paciente estará eliminando vírus infectantes por sete dias a contar do início dos sintomas até o desaparecimento da febre. Alguém enfermo deve permanecer preferencialmente em casa, tratando-se e sendo bem alimentado. Os desdobramentos políticos O noticiário mundial e nacional tem dado grande destaque à eclosão da epidemia no México e nos E.E.U.U. e as autoridades sanitárias em todo o mundo e também aqui no Brasil, se manifestam a respeito. A Organização Mundial da Saúde – OMS orienta os países afetados e coordena a distribuição dos conjuntos diagnósticos para teste rápido de detecção do vírus (real time RT-PCR). As diretrizes básicas da campanha de enfrentamento da epidemia, ditadas pelo CDC, são explicitamente: 1. Reduzir a transmissão; 2. Reduzir a severidade; 3. Informar adequadamente aos profissionais de saúde e ao público em geral para suplantarem os desafios postos pela doença. Os americanos, contudo, desde logo alertam que o surto se expande e é esperado um aumento dos casos e das mortes nos próximos dias ou semanas. Neste ínterim boletins de orientação são expedidos diariamente à medida que a situação evolui rapidamente. Tais orientações são corroboradas e complementadas pela OMS. A meta é que todos tenham a capacidade técnica e operacional dos norte americanos e usem os testes de rápida identificação bem como o tratamento imediato e adequado dos casos confirmados. Eis então a novidade desta atual epidemia. Pela primeira vez em séculos há a real possibilidade de se interromper a eclosão de uma epidemia da Influenza. As implicações sociais e políticas são incomensuráveis. O sucesso desta empreitada poderá repetir o feito da erradicação da varíola, o controle da poliomielite, do sarampo, da rubéola e de outras doenças. O diferencial neste caso é a rapidez com que a comunidade internacional está respondendo ao desafio. Os meios de comunicação modernos têm grande parcela de responsabilidade nesta nova realidade onde as informações corretas são quase instantaneamente divulgadas permitindo que se tenha uma atitude favorável e construtiva no desenvolvimento das ações de combate à epidemia. Por outro lado põe em evidência a disparidade tecnológica, organizacional e de competência das autoridades dos diferentes países envolvidos. Assim, se no seu local de moradia as informações são insuficientes ou equivocadas, hoje é só acessar o endereço na internet das principais instituições mundiais de saúde para se saber o que efetivamente está acontecendo. A possibilidade de manipulação das informações com objetivos políticos se torna cada vez menor. Nem todo mundo vai gostar disso.