ESTIMATIVA DA TAXA DE CRESCIMENTO E BIOMASSA DA MACRÓFITA AQUÁTICA Cabomba aquatica Aubl. (Cabombaceae), NO AÇUDE DE DOIS IRMÃOS - RECIFE - PE Talita Oliveira de Araújo1, Leonardo Rafael Chaves Coelho Xavier2, Paula Regina Fortunato do Nascimento3 e Sonia Maria Barreto Pereira4 Introdução Macrófitas aquáticas são plantas cujas partes fotossintéticas ativas estão permanentemente, ou temporariamente, submersas ou flutuantes em água [1]. São organismos visíveis a olho nu, compreendendo desde macroalgas até angiospermas [1]. Essa vegetação é de grande importância nos ecossistemas, tanto sob o ponto de vista ecológico como econômico [2;3]. As elevadas taxas de produção primária e o rápido crescimento populacional de várias espécies de macrófitas favorecem a colonização dessa vegetação em vastas áreas [4]. Quando esse crescimento acentuado causa problemas para a utilização dos ecossistemas, surge, então, a necessidade de aplicação de métodos de controle ou manejo [5;6]. Cabomba Aubl. é um gênero de macrófita aquática incluída na família Cabombaceae. Os representantes desse gênero são estritamente aquáticos e submersos, exceto, por suas flores e folhas flutuantes que podem aparecer eventualmente [7]. Em diversos países o gênero Cabomba está sendo considerado uma erva daninha muito prejudicial. Isto ocorre porque as espécies apresentam um potencial elevado de dispersão, juntamente com a habilidade de crescer, se adaptando a uma ampla escala de circunstâncias ambientais. Aliado a estes parâmetros, destaca-se a não eficácia e sustentabilidade dos métodos de controle químico e físico convencionais [8;9]. Devido a expressiva quantidade da macrófita Cabomba aquatica no açude de Dois Irmãos e dos problemas gerados por esta vegetação, o objetivo desse trabalho é estimar a produção de Cabomba aquatica Albl., no açude de Dois Irmãos localizado no Parque Zoobotânico de Dois Irmãos – Recife – Pernambuco. Material e métodos Para acompanhamento do crescimento e o conseqüente acúmulo de biomassa da C. aquática foi realizado um experimento que compreendeu os meses do período chuvoso e seco e durou de setembro de 2008 a junho de 2009. Durante esse período, em campo, foi eleito um ponto de coleta no açude de Dois Irmãos – Recife - PE. Foram escolhidos, de forma aleatória, 150 ápices de diferentes indivíduos da referida espécie. Cada ramo da macrófita recebeu um marcador plástico, logo abaixo de 5 cm da porção apical. Após 15 dias, os ápices foram cortados abaixo da abraçadeira, coletados e acondicionados em sacos plásticos devidamente etiquetados. Para a determinação da densidade da C. aquática, foram obtidas seis amostras de forma aleatória utilizando como unidade amostral um quadrado com dimensão de 25 cm X 25 cm. As macrófitas delimitadas por essa unidade amostral foram retiradas manualmente, tomando-se o máximo cuidado para a coleta de plantas completas. Todo material coletado foi levado imediatamente para o Laboratório de Ficologia do Programa de PósGraduação da Universidade Federal Rural de Pernambuco, com a finalidade de evitar alteração no peso. Neste laboratório, foram retirados os marcadores plásticos dos ápices da C. aquatica, cortando-se no nível da marcação e medindo-se o comprimento final (cm). Os ápices, depois de medidos, foram levados à estufa, regulada a 70°C, até que atingisse peso seco (PS) constante. Posteriormente, as amostras foram pesadas em balança digital, sendo os valores obtidos expressos em g.PS/ápice/15 dias. Em seguida, foi realizada a contagem de indivíduos da C. aquatica, sendo posteriormente realizada a média por mês. desses indivíduos e na seqüência extrapolando-a para m2. Também foi possível analisar a produtividade da espécie estudada, sendo o resultado expresso em gramas de peso seco por ápice, por dia (g.PS/ápice.d). Para as análises estatísticas foi utilizado o teste de Qui-quadrado, calculado a partir do Programa Excel. ________________ 1. Primeira Autora é Bacharel em Ciência Biológicas pela Universidade Federal Rural de Pernambuco. Rua Dom Manoel de Medeiros, s/n, Dois Irmãos, Recife-PE, CEP 52171-900. E-mail: [email protected] 2. Segundo Autor é Professor Bacharel em Ciência Biológicas pela Universidade Federal Rural de Pernambuco. Rua Dom Manoel de Medeiros, s/n, Dois Irmãos, Recife-PE, CEP 52171-900. E-mail:[email protected] 3. Terceira Autora é professora da Faculdade Frassinetti do Recife. Av. Conde da Boa Vista, 921, Recife - PE. E-mail: [email protected]. 4. Quarta Autora é Professora Titular do Departamento de Botânica, Universidade Federal Rural de Pernambuco. Rua Dom Manoel de Medeiros, s/n, Dois Irmãos, Recife-PE, CEP 52171-900. E-mail:[email protected] Apoio financeiro: CAPES e CNPq. Para as análises de variância, as diferenças foram consideradas significativas quando p < 0.05. Resultados e discussão O maior valor médio de crescimento diário da referida planta, durante todo o experimento, foi de 0,77 cm/ápice/dia, no mês de novembro/2008 e o menor valor foi observado no mês de maio/2009 com 0,54 cm/ápice/dia (Fig. 1). Esses valores são semelhantes ao encontrado nos reservatórios do Complexo Hidroelétrico de Paulo Afonso (BA) pela macrófita Egeria densa Planchon. Esta espécie possui uma elevada taxa de crescimento sendo considerada, entre as macrófitas submersas existentes no Brasil, como a planta daninha de maior expressão em reservatórios de geração de energia e represas rurais [10]. Em relação aos valores médios de crescimento entre os meses de coleta durante o tempo do experimento, pôde-se observar que não houve diferença significativa (p>0.05). Diversos trabalhos afirmam que geralmente as macrófitas de regiões tropicais possuem desenvolvimento contínuo devido a uniformidade climática [11;12], e isso foi comprovado neste trabalho. O controle mecânico manual das macrófitas realizado de forma descontínua no açude de Dois Irmãos não influenciou o crescimento desta planta. Não foi observada diferença significativa (p>0.05) nos valores médios de biomassa dos ápices de C. aquatica entre os meses de coleta durante o experimento. Este fato já era esperado, pois a produção de biomassa de macrófitas aquáticas em regiões tropicais não varia estatisticamente, em função da sazonalidade [3]. O maior valor de biomassa de C. aquatica foi observado no mês de novembro/2008 e o menor valor foi registrado no mês de maio/2009 com, respectivamente, 0,14 e 0,07 g.PS/ápice/15 dias (Fig. 2). Discordando com o baixo valor de biomassa encontrado no presente trabalho, Nascimento [13] após analisar a capacidade de regeneração de algumas macrófitas do açude de Dois Irmãos, Recife (PE) através do acompanhamento da biomassa, obteve resultados que indicam que o gênero Cabomba possui uma estratégia de rápido crescimento e acúmulo de biomassa em curto intervalo de tempo, podendo atingir biomassa de 26,21 gPS/m2 em 90 dias. Houve diferença significativa (p<0,05) do número de indivíduos entre os meses de coleta durante o tempo do experimento. Mostrando que a baixa densidade em algumas épocas do ano foi provocada pela ação antrópica das retiradas das plantas, e que influenciou o número de indivíduo da referida planta. C. aquatica obteve o maior número de indivíduos no mês de outubro/2008, com 792 ind./m2 e o menor no mês de setembro/2008, com 685 ind./m2 (Fig. 3). Extrapolando os valores do número de indivíduos, observou-se que a referida espécie pode chegar a ocupar no açude de Dois Irmãos 0,08 ind./ha. Essa densidade é abaixa comparada ao potencial de crescimento que esta espécie possui, como observado no trabalho realizado por Hanlon [14], em 1982, em algumas Bacias Hidrográficas na Flórida, onde uma infestação da C. aquatica atingiu cerca de 850 ha e este índice aumentou para 1250 ha em 1984 e para 1510 ha em 1988 [15]. Mostrando com isso que a espécie possui facilidade no processo de colonização de novas áreas devido, principalmente, à fragilidade de seus ramos que ao se partirem podem facilmente ser levados para novas áreas pela correnteza. Verificou-se que os ápices de C. aquatica obtiveram valores de produtividade primária bastantes semelhantes variando entre 2,0 x 10-3 a 6,6 x 10-4 gPSápice-1d-1 (Fig. 4). A produtividade primária está diretamente relacionada à parâmetros ambientais, tais como temperatura, luminosidade e disponibilidade de nutrientes. Estes fatores, dificilmente, atuam isolados nos ambientes naturais, mas influenciam as características fotossintéticas das macrófitas, tanto em escalas diárias como sazonais [16]. O método utilizado no açude de Dois Irmãos é o controle manual (físico), o que não é apropriado devido ao tamanho deste açude, pelo valor elevado de crescimento da C. aquatica e extensão da área ocupada por essa vegetação [4]. Além disso, as plantas retiradas do açude são colocadas nas margens do mesmo, dificultando ainda mais o seu controle, pois toda matéria que é decomposta, retorna ao açude pelo processo de lixiviação. Talvez, seja melhor, aliar o método já existente nesta localidade com outro alternativo. Neste caso, o método biológico é o mais recomendável, já que o método químico (uso de herbicidas) é menos aceito pela sociedade e liberado pela legislação ambiental, pois o mesmo não é seletivo. A partir da realização deste trabalho, fica demonstrado também que é de extrema importância a recomendação ou indicação para a retirada das plantas depositadas nas margens, as quais poderiam ser úteis, por exemplo, na adubação e serem utilizadas na própria sementeira do Hortozoobotânico. Agradecimentos Os autores agradecem ao Sr. Antônio de Pádua, Diretor do Parque Zoobotânico de Dois Irmãos, pela autorização e acesso ao Açude. E ao apoio financeiro recebido pelo Fundo Setorial de Recursos Hídricos (CTHidro) e Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Referências [1] [2] [3] [4] [5] [6] COOK, C.D.K. 1974. Water plants of the world. The hague, W. Junk. SAMPAIO, E.V.D.B.; OLIVEIRA, N.M.B.; NASCIMENTO, P.R.F. 2007. 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Figura 2 – Variação da biomassa quinzenal da Cabomba aquatica Aubl. durante o período estudado (set./2008 - jun./2009), no açude de Dois Irmãos – Recife – Pernambuco. Figura 3 – Variação de indivíduos por m2 da Cabomba aquatica Aubl. durante o período estudado (set./2008 – jun./2009), no açude de Dois Irmãos – Recife – Pernambuco. Figura 4 – Produtividade primária da Cabomba aquatica Aubl. durante o período estudado (set/2008 – jun/2009), no açude de Dois Irmãos – Recife – Pernambuco.