Combustíveis fósseis podem matar oceanos

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Quarta-feira, 18 outubro de 2006
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Combustíveis fósseis podem matar oceanos
Fernando Reinach*
Imagine que o homem nunca tivesse derramado uma gota de petróleo no
oceano. Apesar das fotos de pássaros embebidos em óleo serem as
imagens que vêm à mente quando imaginamos o efeito disso, hoje
sabemos que estes desastres ecológicos não são a maior ameaça. O
verdadeiro perigo é invisível, impossível de fotografar, mas fácil de
medir: é o aumento da acidez dos oceanos. Há décadas foi demonstrado
que a queima de combustíveis fósseis provoca aumento de gás
carbônico na atmosfera, mas faz somente poucos anos que os cientistas
desconfiam que seu aumento pode estar também acidificando os
oceanos.
A ciência por traz deste efeito é simples. Se você coloca em um copo de
água gotas de fenolftaleína, ela se torna ligeiramente rósea (a
fenolftaleína é um indicador de acidez que também era usado como
laxante). Aí você usa um canudo para assoprar na água fazendo bolhas.
Aos pouco a água se torna incolor, indicando a acidificação da água. O
que acontece é que o gás carbônico (CO2) sai dos nossos pulmões,
reage com a água e forma ácido carbônico, que acidifica a água e muda
a cor da fenolftaleína. É isso que os cientistas acreditam estar
acontecendo nos oceanos.
Desde que começamos a queimar petróleo, em 1850, a concentração de
CO2 na atmosfera vem aumentado, e com isso mais CO2 se dissolve no
mar e aumenta sua acidez. Em 1800, o pH do mar era 8,16, hoje é de
8,05 e pode chegar a 7,9 no final do século. Isto significa que a acidez
vai quase dobrar em 300 anos.
O que os cientistas investigam é como o aumento da acidez afeta os
seres vivos que habitam os oceanos. Provavelmente os mais afetados
são os que têm carbonato de cálcio em seu esqueleto, como as conchas,
os corais, os ouriços e outros seres microscópicos. A razão é simples. Se
você já examinou o interior de um tubo de água antigo deve ter
observado que ao longo dos anos se acumula um precipitado branco. É o
carbonato de cálcio. Esta é uma das substâncias que estes animais
utilizam em seus esqueletos. Para remover o carbonato do tubo basta
lavar com uma mistura de água e vinagre, já que o carbonato é
facilmente dissolvido no meio ácido criado pelo vinagre.
Os cientistas acreditam que a acidificação dos oceanos provoca um
efeito parecido nos animais. Mesmo um pequeno aumento da acidez
pode dissolver parte dos esqueletos dos animais ou dificultar sua
formação. Este fenômeno, ao longo dos séculos, pode levar à extinção
uma grande parte da biodiversidade marinha.
Parece não haver dúvida de que a acidificação dos oceanos está
ocorrendo, o que não se sabe é se o seu grau é suficiente para afetar a
sobrevivência dos animais. Os cientistas do Painel Internacional de
Mudanças Climáticas sinalizaram que a acidificação dos oceanos é das
suas principais preocupações.
Se você usa etanol em vez de gasolina, e cada vez que enche o tanque se
satisfaz por combater o o aquecimento, você tem um segundo motivo de
satisfação: utilizando energias renováveis, você também ajuda a
preservar os recifes de coral.
Mais informações em Sick Seas, na Nature, volume 442, página 978, de
2006.
*[email protected]
Biólogo
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