Eixo temático: 8. Clima e planejamento urbano/rural. INFLUÊNCIA DO FENÔMENO EL NIÑO NOS ELEMENTOS CLIMÁTICOS TEMPERATURA DO AR, UMIDADE E PRECIPITAÇÃO EM GOIÂNIA – GO: UMA ANALISE DO EPISÓDIO DE 1997/98. Diego Tarley Ferreira Nascimento. Mestrando em Geografia pelo Instituto de Estudos Socioambientais IESA/UFG. Goiânia, Goiás. E-mail: [email protected]. Dentre os fenômenos climáticos de maiores repercussões no meio ambiente e, por conseguinte, na sociedade, está o El Nino. Considerado como o aquecimento anormal das águas superficiais do Oceano Pacífico este fenômeno acarreta desvios nos elementos climáticos produzindo um comportamento anômalo do clima em diversas áreas do globo terrestre. Segundo Cunha (2000 apud BORSATO; SOUZA FILHO, 2006) o fenômeno El Nino influência, no caso do Brasil, o setor norte da Região Nordeste, leste da Região Amazônica (na faixa tropical) e a Região Sul, porém no caso da Região Centro-oeste não há nenhuma tendência observada devido à baixa previsibilidade para esta região. Portanto, a elaboração deste trabalho parte da premissa da existência de uma anomalia climática em Goiânia, capital do estado de Goiás – coração do centro-oeste brasileiro –, durante a ocorrência do fenômeno El Niño, conforme retratado por Elizabete Alves Ferreira, meteorologista do 10° Distrito de Meteorologia (DIME-INMET), e pelo C entro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos – CPTEC. Para tanto, foram coletados e tratados dados diários de mínima e máxima temperatura, de umidade e totais mensais de precipitação da estação climatológica localizada na EMBRAPA Arroz e Feijão – Santo Antônio de Goiás, durante os anos de 1997 e 1998, comparado-os ao padrão climático do município (normal climatológica de 61-90 disponível na homepage do Instituto Nacional de Meteorologia – INMET), para que fosse possível levantar tendências de desvios nos elementos climáticos. Os dados demonstraram desvios no elemento temperatura do ar, o qual constatou-se desvios positivos (aumento) na máxima e mínima temperatura do ar em 1997, continuando no ano seguinte (1998) com maior intensidade nas mínimas (desvios variando entre 2,5°C, em julho, e 4,3°C, em agosto). Os elementos umidade do ar e precipitação não apresentaram considerável modificação. Palavras-chave: El Niño, desvio climático, Goiânia Between the climatic phenomenon’s of large repercussion in environment and, consequently, in society, be present the El Nino. Considerate like the anomalous heating of the superficial waters of Ocean Pacific, this phenomenon cause deviation in climatic elements producing one anomalous actions of clime in diverse area in globe. According to Cunha (2000 apud BORSATO; SOUZA FILHO, 2006), the phenomena El Nino influence, in case of Brazil, the section north of Norwest Region, east of Amazon Region (in tropical zone) and the South Region, but in case of Central-west Region don‘t have neither tendency observable because this lower previsibilidad for this region. Therefore, the elaboration this work part of premise of existence the one climatic anomaly in Goiânia, capital of Goiás state – heart of center-west Brazilian -, during the occurrence of El Nino phenomena, according reported by the Elizabete Alvez Ferreira, meteorologist of 10º Distrito de Meteorologia (DIME-INMET), and by the Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos – CPTEC. However, has going collected and processed diary dates of minimum and maximum air temperature, humidity e totally monthly of precipitation of climatology station located in EMBRAPA Arroz e Feijão – Santo Antônio de Goiás, during the years 1997 and 1998, compare us as climatic pattern of city (climatic common of 61-90 available in homepage of Instituto Nacional de Meteorologia – INMET), by the was possible register tendencies of deviate in climatic elements. The dates demonstrate deviates in air temperature, which was found deviates (increase) in maximum and minimum air temperature of 1997, beginning in next year (1998) with more intensity in minimum (oscillation ranging between 2,5ºC, in july, and 4,3ºC, in august). The elements air humidity and precipitation don’t showed considerable change. Key-words: El Niño, deviation climatic, Goiânia. INTRODUÇÃO Qualquer discussão relativa ao clima é oportuna e importante. Oportuna por trazer à população e à comunidade cientifica informações sobre fenômenos e elementos climáticos que afetam a sociedade no tocante à economia, produção de alimentos, bem-estar, saúde e etc. e importante ao frisar que alguns fenômenos climáticos são ainda pouco compreendidos ou ainda, mesmo os fenômenos conhecidos, trazem certas particularidades regionais relevantes. Dentre os fenômenos climáticos de maiores repercussões no meio ambiente e, por conseguinte, na sociedade, está o El Nino. O fenômeno consiste no aquecimento anormal das águas superficiais do Oceano Pacífico acarretando desvios nos elementos climáticos temperatura, precipitação e umidade produzindo um comportamento anômalo do clima em diversas áreas do globo terrestre. O fenômeno El Nino é compreendido como “o aquecimento anômalo das águas superficiais e sub-superficiais do Oceano Pacífico Equatorial” (OLIVEIRA, 1999, p. 74) e sua ocorrência acarreta um gama de modificações no sistema de circulação atmosférica mundial, repercutindo num cenário atípico das trocas de energia entre a atmosfera e a superfície. Segundo Cunha (2000 apud BORSATO;SOUZA FILHO, 2006) o fenômeno El Nino influencia, no caso do Brasil, o setor norte da Região Nordeste, leste da Região Amazônica (na faixa tropical) e a Região Sul, repercutindo, respectivamente, secas severas com aumento das temperaturas médias, diminuição da precipitação com risco de secas e precipitações mais abundantes. Porém no caso da Região centro-oeste, não há nenhuma tendência observada devido à baixa previsibilidade para esta região. O aquecimento e o subseqüente resfriamento num episódio típico de El Niño tem duração de 12 a 18 meses e sua evolução típica mostra uma tendência de iniciar-se no começo do ano, atingindo máxima intensidade durante dezembro daquele mesmo ano ou janeiro do ano seguinte, vindo a se enfraquecer na metade deste segundo ano. No episódio mais recente de El Nino (1997-98), considerado pela Organização Meteorológica Mundial, órgão vinculado à ONU - Organização das Nações Unidas –, como o mais intenso da história, os mecanismos atmosféricos estabelecidos se mantiveram até abril/maio de 1998 com intenso vigor impedindo que as massas polares ultrapassassem o Sul do Brasil, o que levou a inundações no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina, bem como a alteração dos mecanismos de precipitação regular sobre o Nordeste Brasileiro, entre fevereiro e maio, levando a uma seca extrema à grande parte daquela região. A elaboração deste trabalho se baseia na hipótese de existência de uma anomalia climática em Goiânia durante a ocorrência do fenômeno El Niño, conforme retratado por Elizabete Alves Ferreira, meteorologista do 10° Distrito de Meteoro logia (DIME). Segundo a mesma, a baixa umidade do ar registrada em março de 2007 no referido município, o qual considera bastante atípico, é resultado das poucas chuvas e altas temperaturas, ocasionadas por uma espécie de bloqueio ocorrido no Oceano Pacífico, que impede a chegada de frentes frias ao centro do País. A meteorologista ainda explica que: (...) esses aumentos da temperatura são cíclicos e têm sido observados a cada 4 ou anos. Foi assim que em 1998 [ano de ocorrência do El Nino] foi registrado 34,6° em 27 de abril e média de 32,2° para o mês. Nos anos s eguintes o calor deu trégua, e voltou em 2002 (O POPULAR, 2007). Segundo o Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos – CEPTC (2007) –, as características atmosféricas observadas em março de 2007, período em que se evidencia desenvolvimento do fenômeno La Niña (compreendido como o resfriamento das águas superficiais do Oceano Pacífico Equatorial Leste - fenômeno inverso do El Niño), apresentam a ocorrência de uma situação de bloqueio atmosférico observada sobre o Pacífico Sudeste. A massa de ar seco que atuou no início de março sobre parte da América do Sul ocasionou temperaturas elevadas e baixos valores de umidade relativa do ar, principalmente nas Regiões Sudeste e Centro-Oeste do Brasil. Por isto, pode-se atribuir o mesmo mecanismo na ocorrência de El Nino, e por conseguinte, considerar influência deste fenômeno para a região Centro-Oeste, conforme referido, mesmo que de forma genérica, pelo CEPTC. Por isto tem-se como objetivo averiguar os desvios nos elementos climáticos temperatura do ar, umidade relativa e precipitação pela ocorrência do fenômeno El Niño, quantificando-se os desvios para que seja possível atualizar as discussões acerca das conseqüências deste fenômeno sobre a região Centro-oeste do Brasil, considerando o município de Goiânia, capital do estado de Goiás – coração do centro-oeste brasileiro, como estudo de caso. Goiânia, fundada na década de 1940 sob as margens do Rio Meia Ponte, localiza-se entre os paralelos 16°33'42” e 16°51'13” de latitude Sul e o s meridianos 49°27'38” e 49°07'22” de longitude Oeste. Possui uma população estimada para 2007 em 1244.645 habitantes, segundo dados do censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), e está distante 209 Km da capital federal, Brasília. Contemplando a área da Bacia do Rio Paraná, o município abrange os rios Meia Ponte, João Leite, ainda a foz do Rio dos Bois, do Corumbá e do Caldas, entre outros. Sobre sua geologia, o município pertence ao Pré-Cambriano Proterozóico e com duas manchas, uma ao centro e outra ao sudoeste, que datam do Período Neogeno (antigo Quaternário), as rochas predominantes no município são as do Complexo Granulítico Anápolis-Itauçu ao norte; e do Grupo Araxá ao sul. O relevo regional, conforme Casseti (1992), apresenta-se com altitudes que variam entre 920-950 m, no planalto dissecado de Goiânia, a 700-720 m, nos terraços e planícies da bacia do Rio Meia Ponte. Com domínio de clima tropical semi-úmido, segundo a classificação de Strahler (1975), o município apresenta temperaturas médias mensais que oscilam entre 18° e 24°C, com precipitação anual de 1.750 mm. Possuindo quatro meses de estiagem (maio a agosto), cerca de 75% do total pluviométrico ocorre na estação chuvosa - dezembro a março (NIMER, 1979). O clima de Goiânia é regido por sistemas regionais de circulação atmosférica que atuam na região Centro-Oeste, apresentando um verão quente e chuvoso, um inverno menos quente, seco com elevada amplitude térmica e uma primavera com as temperatura mais elevadas do ano (LUIZ; NASCIMENTO, 2006). METODOLOGIA Para execução do presente trabalho, foram coletados e tratados dados diários de temperatura e umidade relativa do ar e totais mensais de precipitação oriundos estação climatológica localizada na EMBRAPA Arroz e Feijão – Santo Antônio de Goiás1 para os anos de 1997 e 1998 Por meio de tratamento estatístico, que consta de elaboração de médias e desvios padrões, comparou-se os dados ao padrão climático do município advindo da normal climatológica de 61-90 (disponível na homepage do Instituto Nacional de Meteorologia – INMET). Através desta comparação, levantou-se os desvios nos elementos climáticos temperatura do ar, umidade e precipitação em Goiânia/GO. RESULTADOS E DISCUSSÃO Por meio do tratamento estatístico dos dados referentes aos anos de 1997 e 1998, ano de ocorrência do fenômeno El Niño considerado o mais intenso da história, foi possível destacar desvios nos elementos temperatura do ar, contudo não houve grande oscilação nos elementos umidade do ar e precipitação, os quais apresentaram, durante o período analisado, picos de recuo consecutivos a picos de aumento. O elemento temperatura do ar apresentou desvios positivos (aumento nos valores típicos referentes a normal climatológica), tanto nas máximas quanto nas mínimas. No ano de 1997 este aumento foi pouco evidente, pois as máximas apresentaram aumento das médias mensais na ordem de 0,5°C a 2°C, com exceção dos meses de fevereiro e setembro, que apresentaram aumento de 3,5°C e 4,5°C, respectivamente. As mínimas apresent aram um progressivo acréscimo dos valores mensais, na casa dos 0,9°C a 1,7°C, demonstrando um ápice deste aumento nos meses finais do ano, setembro (2,1°C), outubro e dezembro (3,3°C). O desvio visto no elemento temperatura do ar se intensificou após o mês de setembro de 1997, prosseguindo no ano seguinte. No ano de 1998 as médias mensais da máxima temperatura do ar apresentaram aumento variando de 1,7°C (em maio) a 3,7°C (em julho). As mínimas apresentaram os maiores reflexos desta anomalia climática, com aumento entre 2,5°C (em julho) a 4,3°C (em agosto). Atenta-se neste ano o considerável aumento nas temperaturas máximas, mas principalmente, o intenso e continuo aumento existente nas mínimas. Este desvio verificado no elemento temperatura do ar pode ser justificado, em parte, pelo aquecimento das águas superficiais do Pacífico Central. Tal fenômeno interfere no regime de ventos 1 Ressalta-se a adequabilidade de utilizar os dados desta estação mesmo estando fora do município haja vista que as outras estações localizadas no município encontram-se sob efeito da urbanização. sobre toda a região equatorial do Pacífico, deslocando as nuvens que normalmente produzem chuvas abundantes na parte oeste do oceano para leste, e assim provocando grandes alterações nas condições climáticas, principalmente temperatura mais elevadas, desta região (como também em outras diversas regiões continentais ao redor do planeta) haja vista a grande quantidade de energia envolvida no processo de formação da chuva (MARENGO, 2007). CONSIDERAÇÕES FINAIS Com base neste estudo, constata-se que no referido episódio de El Niño (1997/1998) foram registradas consideráveis desvios na temperatura do ar no município de Goiânia-GO, o que não ocorreu aos elementos climáticos umidade e precipitação. Assim, este trabalho cumpre seu objetivo em afirmar que existe influência do fenômeno El Niño na região onde Goiânia está inserida (região centro-oeste), sendo possível verificar desvios nas médias das temperaturas máximas em até 4,5°C (setem bro de 1997) e nas médias das mínimas em até 4,3°C (agosto de 1998). Convém ressaltar a necessidade de analisar diferentes episódios de El Niño, para comprovar a influência deste fenômeno sobre a região, assim como analisar períodos de ocorrência de La Niña, com fim a averiguar a possibilidade deste fenômeno também influenciar o clima da Região Centrooeste. REFERENCIAL BIBLIOGRÁFICO BAIXA umidade e alta temperatura do ar assusta população. In: O POPULAR, v. 69, n.19463, 17 abr. 2007. Caderno cidades, p. 5. BORSATO, V. da A.; SOUZA FILHO, E. E de. A dinâmica climática em Porto Rico, PR. In: SIMPÓSIO BRASILEIRO DE CLIMATOLOGIA GEOGRÁFICA: os climas e a produção do espaço no Brasil, 7., 2006, Rondonópolis. Anais do VII SBCG, Rondonópolis: DGEO-UFMT, 2006. 1 CD-ROM. CASSETI, Valter. Ambiente e apropriação do relevo. São Paulo: Contexto, 1991. CENTRO de Previsão do Tempo e Estudos Climáticos - CEPTC. Disponível em: http://www.cptec.inpe.br/. Acessado em: 21, set. 2007. MARENGO, José A. Mudanças Climáticas Globais e seus efeitos sobre a biodiversidade: caracterização do clima atual e definição das alterações climáticas para o território brasileiro ao longo do século XXI. Brasília: MMA, 2007. 2° edição. 212 p. LUIZ, G. C. de; NASCIMENTO, D. T. F.. Análise do comportamento da temperatura do ar na cidade de Goiânia-GO de 2000 a 2005. In: SIMPÓSIO BRASILEIRO DE CLIMATOLOGIA GEOGRÁFICA: os climas e a produção do espaço no Brasil, 7., 2006, Rondonópolis. Anais do VII SBCG, Rondonópolis: DGEO-UFMT, 2006. 1 CD-ROM OLIVEIRA, Gilvan Sampaio de. O El Niño e você: o fenômeno climático. São José dos Campos: Transtec, 1999. 116 p.