vol. 68 - nº 4 - Julho/Agosto 2009 Melanocitoma associado a membrana neovascular subretiniana 191 Revista Brasileira de ISSN 0034-7280 Oftalmologia PUBLICAÇÃO OFICIAL: SOCIEDADE BRASILEIRA DE OFTALMOLOGIA SOCIEDADE BRASILEIRA DE CATARATA E IMPLANTES INTRAOCULARES SOCIEDADE BRASILEIRA DE CIRURGIA REFRATIVA Indexada nas bases de dados: SciELO WEB OF SCIENCE Scientific Electronic Library OnLine Disponível eletronicamente: www.sboportal.org.br Publicação bimestral Editor Chefe Raul Nunes Galvarro Vianna - Niterói - RJ Co-editores Acácio Muralha Neto - Niterói - RJ Ana Luisa Hofling de Lima - São Paulo - SP Helena Parente Solari - Niterói - RJ Jaco Lavinsky - Porto Alegre - RS José Beniz Neto - Goiania - GO Marcelo Luis Occhiutto - São Paulo - SP Marcio Bittar Nehemy - Belo Horizonte - MG Marcos Pereira de Ávila - Goiania - GO Paulo Fadel - Curitiba - PR Roberto Lorens Marback - Salvador - BA Sergio Kwitko - Porto Alegre - RS Corpo Editorial Internacional Baruch D. 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Chong - Califórnia -EUA Miguel Burnier Jr. - Montreal-Canadá Peter Laibson - Phyladelphia -EUA Steve Arshinoff - Toronto -Canadá Daniel Grigera - Olivos - Argentina Curt Hartleben Martkin - Colina Roma -México Felix Gil Carrasco - México - México Corpo Editorial Nacional Abelardo de Souza Couto Jr.- Rio de Janeiro- RJ Adalmir Mortera Dantas- Niteroi- RJ Antonio Augusto Velasco E Cruz- Ribeirao Preto- SP Ari de Souza Pena- Niteroi- RJ Arlindo Jose Freire Portes - Rio de Janeiro - RJ Armando Stefano Crema- Rio de Janeiro- RJ Carlos Alexandre de Amorim Garcia- Natal- RN Carlos Augusto Moreira Jr.- Curitiba- PR Carlos Ramos de Souza Dias- Sao Paulo- SP Celso Marra Pereira- Rio de Janeiro- RJ Claudio do Carmo Chaves - Manaus - AM Denise de Freitas- Sao Paulo- SP Edmundo Frota De Almeida Sobrinho- Belem- PA Eduardo Cunha de Souza- Sao Paulo- SP Eduardo Ferrari Marback- Salvador- BA Fernando Cançado Trindade- Belo Horizonte- MG Fernando Oréfice- Belo Horizonte- MG Flavio Rezende- Rio de Janeiro- RJ Francisco de Assis Cordeiro Barbosa- Recife- PE LILACS Literatura Latino-americana em Ciências da Saúde Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior http://www.capes.gov.br Rev Bras Oftalmol, v. 68, n. 4, p. 191-252, Jul./Ago. 2009 Francisco Grupenmacher- Curitiba- PR Francisco Valter da Justa Freitas- Fortaleza- CE Giovanni N.U.I.Colombini- Rio de Janeiro- RJ Guilherme Herzog Neto- Rio de Janeiro- RJ Haroldo Vieira de Moraes Jr.- Rio de Janeiro- RJ Henderson Celestino de Almeida- Belo Horizonte- MG Hilton Arcoverde G. de Medeiros- Brasilia- DF Homero Gusmao de Almeida- Belo Horizonte- MG Italo Mundialino Marcon- Porto Alegre- RS João Borges Fortes Filho- Porto Alegre- RS João Luiz Lobo Ferreira- Florianopolis- SC João Orlando Ribeiro Goncalves- Teresina- PI Joaquim Marinho de Queiroz- Belem- PA Jose Ricardo Carvalho L. Rehder- Sao Paulo- SP Laurentino Biccas Neto- Vitoria- ES Leiria de Andrade Neto- Fortaleza- CE Liana Maria V. de O. Ventura- Recife- PE Luiz Claudio Santos de Souza Lima - Rio de Janeiro - RJ Manuel Augusto Pereira Vilela- Porto Alegre- RS Marcelo Palis Ventura- Niteroi- RJ Marco Antonio Rey de Faria- Natal- RN Maria de Lourdes Veronese Rodrigues- Ribeirao Preto- SP Maria Rosa Bet de Moraes Silva- Botucatu- SP Mario Luiz Ribeiro Monteiro - São Paulo- SP Maurício Bastos Pereira - RJ Mario Martins dos Santos Motta- Rio de Janeiro- RJ Miguel Angelo Padilha Velasco- Rio de Janeiro- RJ Miguel Hage Amaro - Belém - PA Milton Ruiz Alves- Sao Paulo- SP Nassim da Silveira Calixto- Belo Horizonte- MG Newton Kara Jose - Sao Paulo - SP Newton Kara José Jr. - São Paulo - SP Octávio Moura Brasil do Amaral Fo.- Rio de Janeiro- RJ Oswaldo Moura Brasil- Rio de Janeiro- RJ Paulo Augusto De Arruda Mello- Sao Paulo- SP Paulo Schor- Sao Paulo- SP Remo Susanna Jr.- Sao Paulo- SP Renato Ambrosio Jr.- Rio de Janeiro- RJ Renato Luiz Nahoum Curi- Niteroi- RJ Riuitiro Yamane - Niterói - RJ Rogerio Alves Costa- Araraquara- SP Rubens Camargo Siqueira- S.J do Rio Preto- SP Sebastiao Cronemberger So.- Belo Horizonte- MG Sergio Henrique S. Meirelles- Rio de Janeiro- RJ Silvana Artioli Schellini - Botucatu- SP Suel Abujamra- Sao Paulo- SP Tadeu Cvintal- Sao Paulo- SP Valenio Peres Franca- Nova Lima- MG Virgilio Augusto M. Centurion- Sao Paulo- SP Walton Nose- Sao Paulo- SP Wesley Ribeiro Campos- Passos- MG Yoshifumi Yamane- Rio de Janeiro- RJ Redação: Rua São Salvador, 107 Laranjeiras CEP 22231-170 Rio de Janeiro - RJ Tel: (0xx21) 3235-9220 Fax: (0xx21) 2205-2240 Tiragem: 5.000 exemplares Edição: Bimestral Secretaria: Marcelo Diniz Editoração Eletrônica: Sociedade Brasileira de Oftalmologia Responsável: Marco Antonio Pinto DG 25341RJ Publicidade: Sociedade Brasileira de Oftalmologia Responsável: João Diniz [email protected] Contato publicitário: Westinghouse Carvalho Tels.: (11)3726-6941 / 9274-0724 [email protected] Revisão: Eliana de Souza FENAJ-RP 15638/71/05 Normalização: Edna Terezinha Rother Assinatura Anual: R$240,00 ou US$210,00 192 Revista Brasileira de Oftalmologia Rua São Salvador, 107 - Laranjeiras - CEP 22231-170 - Rio de Janeiro - RJ Tels: (0xx21) 3235-9220 - Fax: (0xx21) 2205-2240 - e-mail: [email protected] - www.sboportal.org.br Revista Brasileira de Oftalmologia, ISSN 0034-7280, é uma publicação bimestral da Sociedade Brasileira de Oftalmologia Diretoria da SBO 2009-2010 Presidente Mário Motta Vice-presidente RJ Aderbal de Albuquerque Alves Jr. Vice-presidentes regionais Fernando Trindade João Borges Fortes Filho Miguel Hage Amaro Roberto Marback Secretário Geral Armando Crema 1º Secretário Almir Ghiaroni 2º Secretário Lília Muralha Tesoureiro Sansão Kac Diretor de Cursos Arlindo Portes Diretor de Publicações Raul Vianna Diretor de Biblioteca Ricardo Lima de Almeida Neves Conselho Consultivo Aderbal de Albuquerque Alves Celso Marra Pereira Morizot Leite Filho Luiz Carlos Portes Miguel Ângelo Padilha Oswaldo Moura Brasil Conselho Fiscal Efetivos Paiva Gonçalves Neto Gilberto dos Passos Giovanni Colombini Suplentes Mário Nagao Octávio Moura Brasil Roberli Bichara Pinto SOCIEDADES FILIADAS A SOCIEDADE BRASILEIRA DE OFTALMOLOGIA Associação Brasileira de Banco de Olhos e Transplante de Córnea Presidente: Dr. Ari de Souza Pena Sociedade Catarinense de Oftalmologia Presidente: Dr. Walbert de Paula e Souza Associação Matogrossense de Oftalmologia Presidente: Dr. Fabiano Saulo Rocha Jr. Sociedade Goiana de Oftalmologia Presidente: Dr. Solimar Moisés de Souza Associação Pan-Americana de Banco de Olhos Presidente: Dr. Elcio Hideo Sato Associação Paranaense de Oftalmologia Presidente: Dr. Ezequiel Portella Associação Sul Matogrossense de Oftalmologia Presidente: Dr. Beogival Wagner Lucas Santos Associação Sul-Mineira de Oftalmologia Presidente: Dr. Elias Donato Sociedade Alagoana de Oftalmologia Presidente: Dr. Jack Arnold Oliveira Lima Sociedade Brasileira de Administração em Oftalmologia Presidente: Dr. Renato Ambrósio Jr. Sociedade Brasileira de Catarata e Implantes Intraoculares Presidente: Dr. Marco Rey Faria Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica Ocular Presidente: Dra. Ana Estela Besteti P. P. Sant’Anna Sociedade Brasileira de Cirurgia Refrativa Presidente: Dr. José Ricardo Lima Rehder Sociedade Brasileira de Ecografia em Oftalmologia Presidente: Dr. Celso Klejnberg Sociedade Maranhense de Oftalmologia Presidente: Dr. Mauro César Viana de Oliveira Sociedade de Oftalmologia da Bahia Presidente: Dra. Cláudia Galvão Brochado Sociedade de Oftalmologia do Ceará Presidente: Dr. David da Rocha Lucena Sociedade Norte Nordeste de Oftalmologia Presidente: Dr. Luiz Nogueira Sociedade de Oftalmologia do Nordeste Mineiro Presidente: Dr. Mauro César Gobira Guimarães Sociedade de Oftalmologia de Pernambuco Presidente: Dr. Paulo Josse Suassuna de Medeiros Sociedade de Oftalmologia do Rio Grande do Norte Presidente: Dr. Uchoandro Bezerra Costa Uchôa Sociedade de Oftalmologia do Rio Grande do Sul Presidente: Dr. Afonso Reichel Pereira Sociedade Paraibana de Oftalmologia Presidente: Dr. Ivandemberg Velloso Meira Lima Sociedade de Oftalmologia do Amazonas Presidente: Dr. Manuel Neuzimar Pinheiro Junior Sociedade Paraense de Oftalmologia Presidente: Dr. Ofir Dias Vieira Sociedade Capixaba de Oftalmologia Presidente: Dr. César Fracalossi Barbieri Sociedade Sergipana de Oftalmologia Presidente: Dr. Joel Carvalhal Borges 193 Revista Brasileira de ISSN 0034-7280 Oftalmologia PUBLICAÇÃO OFICIAL: SOCIEDADE BRASILEIRA DE OFTALMOLOGIA SOCIEDADE BRASILEIRA DE CATARATA E IMPLANTES INTRAOCULARES SOCIEDADE BRASILEIRA DE CIRURGIA REFRATIVA Fundada em 01 de junho de 1942 CODEN: RBOFA9 Indexada nas bases de dados: SciELO Scientific Electronic Library OnLine WEB OF SCIENCE Disponível eletronicamente: www.sboportal.org.br Publicação bimestral LILACS Literatura Latino-americana em Ciências da Saúde Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior http://www.capes.gov.br Rev Bras Oftalmol, v. 68, n. 4, p. 191-252, Jul./Ago. 2009 Sumário - Contents Editorial 195 Novidades na cirurgia de catarata: lentes intraoculares asféricas Newton Kara-José Junior Artigos originais 197 Emergências oftalmológicas em um hospital dia Ophthalmological’s emergencies of a day hospital Ana Carolina Igreja Leonor, Joyce Treinta Dalfré, Pedro Bertino Moreira, Osmar Antônio Gaiotto Júnior 201 Perfil do paciente com ceratopatia bolhosa pós-facectomia atendidos em hospital público Profile of patient with aphakic/pseudopfakic bullous keratopaty attended at public hospital Marcony Rodrigues de Santhiago, Luiz Alberto Molina Monica, Newton Kara-Junior, Beatriz de Abreu Fiúza Gomes, Pedro Moreira Bertino, Maysa Godoy Gomes Mazurek, Yoshifume Yamane, Sergio Henrique Sampaio Meirelles 206 Prevalência de infecção por Chlamydia tracomatis em amostras oculares de pacientes com conjuntivite em laboratório de genética e biologia molecular na região metropolitana de Florianópolis Prevalence of infection by chlamydia trachomatis in ocular samples of patients with conjunctivitis in genetic and molecular biology laboratory from metropolitan area of Florianópolis, Brazil Marcos de Oliveira Machado, Diego de Souza Fraga, João Fernandes Floriano, Maria Elizabeth Menezes, Jefferson Traebert 194 212 Biometria ultrassônica no cálculo do poder dióptrico de lentes intraoculares: estudo comparativo dos métodos de contato e de imersão Ultrasound biometry and intraocular lens power calculation: comparative study of the contact and immersion techniques Felipe Cortizas Ré Martins, Marcos Enrique Miyaji, Vagner Loduca Lima, José Ricardo Carvalho Lima Rehder 216 Comparison between OPD-scan results and contrast sensitivity of three intraocular lenses: spheric AcrySof SN60AT, aspheric AcrySof SN60WF and multifocal AcrySof Restor lens Estudo comparativo da análise de frente de onda e sensibilidade ao contraste entre as lentes intra-oculares multifocal AcrySof Restor SN60D3, monofocal AcrySof SN60WF asférica e a monofocal SN60AT esférica Celso Takashi Nakano, Wilson Takashi Hida, Newton Kara-Jose Junior, Antonio Francisco Pimenta Motta, Danilo Fante, Victor Ferreira Masson, Alexandre Reis, Mauricio Pamplona, Iris de Souza Yamane, Ricardo Holzchuh, Amaryllis Avakian 223 Resultados da associação trabeculotomia-trabeculectomia em pacientes não idosos Results of trabeculotomy-trabeculectomy in not elderly patients Angelo Ferreira Passos, Kélcia Kiefer, Rodrigo Carvalho Amador 231 Ensino de oftalmologia na graduação médica. Estudo comparativo de aprendizado na oftalmoscopia direta com oftalmoscópio convencional e de campo amplo (Panoptic) Teaching ophthalmology at university medical undergraduate course. Comparative study of direct ophthalmoscopy between conventional ophthalmoscope and widefield ophthalmoscope (panoptic) as evaluation method Eduardo de França Damasceno, Nadyr Antonia Pereira Damasceno, Adroaldo de Alencar Costa Filho 237 Melanocitoma associado à membrana neovascular sub-retiniana Melanocytoma associated to subretinal neovascular membrane Eduardo F. Marback, Fernanda Fernandes Pereira, Cláudia Galvão, Otacílio de Oliveira Maia Jr, Roberto L. Marback Relato de Caso 241 Importância do exame oftalmológico na doença de von Hippel-Lindau The importance of the ophthalmological examination in von Hippel-Lindau disease Ricardo Evangelista Marrocos de Aragão, Iêda Maria Alexandre Barreira, Andreya Ferreira Rodrigues Bezerra, Régia Maria Gondim Ramos, Felipe Bezerra Alves Pereira 245 Metástase orbital como primeira manifestação clínica de hepatocarcinoma Orbital metastasis as the first clinical manifestation of hepatocellular carcinoma Mariluze Sardinha, Epaminondas de Souza Mendes Junior, Juliana Cabral Duarte Brandão, Paulo Roberto Fontes Athanázio, Roberto Lorens Marback Instruções aos autores 250 Normas para publicação de artigos na RBO EDITORIAL 195 Novidades na cirurgia de catarata: lentes intraoculares asféricas C om o desenvolvimento de sensores de frente de onda e a popularização dos aparelhos de “Wave Front” foi possível avaliar, com boa precisão, o desempenho do Sistema Óptico humano. Assim, conseguiram-se caracterizar algumas das imperfeições deste Sistema, como as aberrações ópticas (de alta e de baixa ordem), que podem comprometer a qualidade visual. Algumas destas deficiências ópticas podem ser compensadas com lentes corretoras (aberrações de baixa ordem), outras não(1-2). Sabe-se também que, embora o Sistema Óptico ocular (córnea, cristalino, humor vítreo) seja imperfeito, projetando uma imagem “degradada” na superfície da retina, a imagem que realmente chega ao córtex cerebral é, em geral, quase perfeita. Isto ocorre porque o Sistema Sensorial (neuroadaptação) compensa grande quantidade das deficiências da porção óptica do globo, fazendo com que o Sistema Visual como um todo seja surpreendente. Porém, em algumas situações, aberrações em excesso podem comprometer a qualidade visual, tal como a aberração esférica que diminui a sensibilidade ao contraste em ambientes com pouca iluminação. Neste contexto, a oftalmologia moderna tem a oportunidade de corrigir algumas das deficiências ópticas do globo ocular, principalmente quando é realizada a cirurgia de catarata, com implante de lentes intraoculares (LIO) especiais (“premium”). Mesmo considerando que algumas aberrações ópticas não precisam de correção externa, uma vez que o Sistema Sensorial ocular já se encarrega de sua compensação, acreditamos que a redução de determinadas imperfeições ópticas podem trazer benefícios visuais em situações específicas. Desta forma, embora o objetivo principal da cirurgia de catarata continue sendo a melhora da qualidade visual por meio da substituição do cristalino opacificado, consideramos que, em casos específicos, possa haver benefícios adicionais com implante de LIOs especiais(2-4). Uma modalidade de imperfeição óptica ocular que não pode ser resolvida com lentes corretoras (óculos), mas é passível de compensação com LIOs especiais, é a aberração esférica (alta ordem), a qual se trata de uma imprecisão na asfericidade periférica da córnea (a superfície corneal periférica é mais plana do que deveria ser), que prejudica a visão de longe em situações de pouca luminosidade, quando a midríase pupilar permite que os raios luminosos que incidem na periferia corneal sigam em direção à retina; esses raios serão focalizados anteriormente à mácula, diminuindo a qualidade visual(1-4). Já foi demonstrado que, com a idade, a qualidade óptica vai se deteriorando, e uma possível causa desta degradação é a inversão de padrão de aberração esférica do cristalino, de negativo no adulto jovem (que compensaria parcialmente a aberração corneal positiva), para valores negativos menores, ou até positivos quando o cristalino está opacificado(2,3). As lentes esféricas convencionais são refrativamente similares ao cristalino adulto, apresentam aberração esférica positiva, ou seja, além de não compensarem a aberração esférica corneal (em média +0.27mm), mantêm a mesma indução adicional de aberração positiva do cristalino maduro. Entretanto, os pacientes em geral não se queixam, pois era a aberração óptica que eles, por muito tempo, já apresentavam devido à catarata. Porém, com implante de LIOs esféricas, são privados da oportunidade, teórica, de se melhorar ainda mais a visão, após a facectomia. A solução proposta para compensar a aberração esférica é o implante da LIO asférica (aberração negativa), que corrigirá, ao menos parcialmente, a direção dos raios incidentes periféricos (aberração positiva) em ambientes com baixa luminosidade(5,6) . As lentes asféricas variam em relação a asfericidade, de forma que, as LIOs mais utilizadas, Tecnis (AMO), Acrysof IQ (Alcon labs) e Akreos AO (Bausch & Lomb), apresentam diferentes potenciais para compensação da aberração esférica da córnea. A aberração esférica corneal na média populacional é de 0.27mm positivos; teoricamente em condições de diâmetro pupilar de 6 mm, a LIO Akreos AO (Baush & Lomb) apresenta 0.0mm de aberração esférica residual, ou seja, são livres de aberração; a LIO Tecnis (AMO) possui asfericidade de - 0.27mm, tentando compensar totalmente a aberração corneal considerando a média populacional e a LIO Acrysof IQ (Alcon labs) -de 0.20mm, que deixa, se considerada a média populacional, um residual de aberração positiva de 0,07mm(6). Na indicação de LIOs asféricas alguns fatores individuais(7) devem ser considerados: É notório que alguns pacientes idosos apresentam miose senil, nesses casos em que o diâmetro pupilar é inferior a 4mm, mesmo se houver aberração corneal esférica, os raios luminosos aberrados não passarão pela pupila, assim, nestas condições, o implante de LIOs asféricas seria desnecessário. Em casos que o paciente já foi submetido à cirurgia refrativa à Laser para hipermetropia, a córnea periférica já está mais curva, ou seja, a aberração corneal periférica passou a ser negativa. Nestas situações, a LIO esférica convencional é indicada para se compensar a nova aberração induzida. Por outro lado, nos casos de indivíduos Rev Bras Oftalmol. 2009; 68 (4): 195-6 196 Novidades na cirurgia de catarata: lentes intraoculares asféricas submetidos à cirurgia corretiva para miopia por Laser, a córnea periférica fica ainda mais plana, sendo assim, mais vantajoso o implante da LIO asférica durante a cirurgia de catarata. Em determinados casos, a aberração esférica positiva residual pode ser benéfica, pois embora possa diminuir a visão de longe no escuro, aumenta a profundidade de foco, facilitando a visão de perto. Atualmente se tem estudado as LIOs asféricas, com objetivo de se personalizar a cirurgia de catarata(7),obtendose valores de aberração esférica residuais finais em torno de 0.10 mm, com possível melhora na qualidade óptica e acuidade visual. Estudos(8,9) têm sugerido que para pacientes com aberração esférica corneana entre -0.15 e +0.15 poderia ser implantada uma LIO asférica livre de aberração, como a Akreos AO (Baush & Lomb), em pacientes com valores entre +0.16 e +0.33 Acrysof IQ (Alcon labs), e para pacientes com valores acima de +0.33, a LIO Tecnis (AMO). Existe a tendência para personalizar a cirurgia de catarata, a fim de se obter resultados visuais ainda melhores(8,9). No futuro, assim como é feita a biometria para se determinar o valor dióptrico da LIO a ser implantada, a fim de se corrigir os erros refrativos esféricos (aberrações de baixa ordem) e, em certos casos, realizado a topografia para se estimar o astigmatismo corneal (aberração de baixa ordem), objetivando-se compensá-lo com incisões relaxantes limbares ou LIOs tóricas, talvez também possa ser realizado, rotineiramente, o exame de frente de onda, para se estimar a aberração esférica da córnea, a fim de que esta possa ser compensada com determinada LIO asférica. É importante, contudo, considerar que o Sistema Visual dispõe de um mecanismo compensatório de aberrações ópticas, que é a neuroadaptação, capaz de, em muitos casos, resolver o problema da aberração esférica, bem como de outras deficiências ópticas por si só. Considerando este fato, antes de oferecermos uma solução para um problema visual, que achamos, que o paciente deva ter, baseado somente em exames complementares, é importante saber, se realmente, a pessoa está prejudicada pelo problema e se a correção será de fato benéfica, baseando-se nas necessidades e características individuais. Os avanços tecnológicos na cirurgia de catarata certamente vêm para melhorar a prática oftalmológica e os resultados visuais obtidos, porém, a experiência clínica do médico, assim como a percepção individual do paciente são importantes fatores, que devem ser considerados antes de se optar por determinada solução corretiva. É fundamental que o oftalmologista esteja constantemente atualizado a respeito dos avanços tecnológicos, por meio de cursos e da literatura, para poder identificar opções adequadas de tratamento, assim como, ainda deve ter a sensibilidade para avaliar corretamente a eficácia das soluções disponíveis para cada caso. A uniformidade nestas condutas é importante para valorizar ainda mais o trabalho da oftalmologia. Colaborou com este editorial o Dr. Marcony Rodrigues de Santhiago, Fellow cirúrgico e pesquisador do Setor de Catarata do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo – USP – São Paulo -SP, Brasil REFERÊNCIAS: 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. Applegate RA. Thibos LN. Hilmantel G. Optics of aberroscopy and super vision.J Cataract Refract Surg. 2001 27(7):1093-107. Applegate RA. Limits to vision: can we do better than nature? J Refract Surg 2000; 16:S547–S551. Holladay JT, Piers PA, Koranyi G, van der Mooren M, Norrby NES. A new intraocular lens design to reduce spherical aberration of pseudophakic eyes. J Refract Surg 2002;18:683–691 Bellucci R, Morselli S, Piers P. Comparison of wavefront aberrations and optical quality of eyes implanted with five different intraocular lenses. J Refract Surg 2004; 20:297–306 Ginsburg AP. Contrast sensitivity: determining the visual quality and function of cataract, intraocular lenses and refractive surgery. Curr Opin Ophthalmol. 2006 Feb;17(1):19-26. Montés-Micó R, Ferrer-Blasco T, Cerviño A. Analysis of the possible benefits of aspheric intraocular lenses: review of the literature. J Cataract Refract Surg. 2009 Jan;35(1):172-81. Review. Wang L, Koch DD. Custom optimization of intraocular lens asphericity. J Cataract Refract Surg 2007; 33:1713–1720 Applegate RA, Marsack JD, Ramos R, Sarver EJ. Interaction between aberrations to improve or reduce visual performance. J Cataract Refract Surg 2003; 29:1487–1495 Beiko GHH. Aspheric IOLs: matching corneal and IOL wavefront. In: Chang DF, ed, Mastering Refractive IOLs; the Art and Science. Thorofare, NJ, Slack, 2008; 278–281 Newton Kara-José Junior Livre-docente, Professor Colaborador da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo – USP – São Paulo (SP), Brasil. Rev Bras Oftalmol. 2009; 68 (4): 195-6 ARTIGO ORIGINAL 197 Emergências oftalmológicas em um hospital dia Ophthalmological’s emergencies of a day hospital Ana Carolina Igreja Leonor1, Joyce Treinta Dalfré2, Pedro Bertino Moreira3, Osmar Antônio Gaiotto Júnior4 RESUMO Objetivo: Determinar as principais causas de atendimento oftalmológico de urgência e emergência. Métodos: Foram examinados prospectivamente, no período de fevereiro a julho de 2007, 810 pacientes do Hospital Dia da Santa Casa de Misericórdia de Limeira, correlacionando-os com sexo, faixa etária e procedência dos pacientes. Resultados: Houve predominância do sexo masculino (66,6%), na faixa etária de 19 a 40 anos (74%) entre os homens e de 0 a 18 anos (52%) entre as mulheres. As causas mais comuns de atendimento foram corpo estranho ocular (32%), conjuntivite viral (17%) e afecções das pálpebras e anexos (12%). Conclusão: Neste estudo das emergências oftalmológicas houve prevalência do sexo masculino, de pacientes na faixa etária economicamente ativa e de casos de corpo estranho ocular. Descritores: Conjuntivite; Corpos estranhos no olho; Pálpebras; Análise estatística; Serviços médicos de emergência 1 Médica Residente do Brasil; 2 Médica Residente do 3 Médico Preceptor do de Limeira – Limeira 4 Médico Coordenador Brasil. Departamento de Oftalmologia do Hospital Dia da Santa Casa de Misericórdia de Limeira – Limeira - SP, Departamento de Oftalmologia do Hospital Dia da Santa Casa de Misericórdia de Limeira – Limeira SP, Brasil; Departamento de Oftalmologia, Setor de Córnea e Catarata, do Hospital Dia da Santa Casa de Misericórdia (SP), Brasil; do Departamento de Oftalmologia do Hospital Dia da Santa Casa de Misericórdia de Limeira – Limeira SP, Trabalho realizado no Serviço de Oftalmologia do Hospital Dia da Santa Casa de Misericórdia de Limeira – Limeira - SP, Brasil Recebido para publicação em: 29/12/2008 - Aceito para publicação em 29/4/2009 Rev Bras Oftalmol. 2009; 68 (4): 197-200 198 Leonor ACI, Dalfré JT, Moreira PB, Gaiotto Júnior OA INTRODUÇÃO A s emergências oftalmológicas são importantes causas de morbidades e estão presentes em nosso cotidiano, devendo o oftalmologista estar apto a este tipo de atendimento já que o tratamento inadequado pode levar à perda da capacidade visual do paciente. Quando comparadas com as demais emergências médicas, as oftalmológicas não são as mais frequentes, e nem sempre é o oftalmologista o primeiro a ser consultado.Isto prejudica muitas vezes o prognóstico ocular devido ao despreparo de plantonistas não especialistas em adotar medidas imediatas e corretas(1). A população está exposta a diversos fatores de risco que podem levar à procura de atendimento oftalmológico de urgência(2). Mesmo quando não são tão graves requerem cuidados médicos especializados e tratamento, por vezes, prolongado, principalmente quando há perfuração ocular(3). Este trabalho teve a finalidade de pesquisar a incidência das emergências oftalmológicas do setor oftalmológico do Hospital Dia da Santa Casa de Misericórdia de Limeira-SP, o qual recebe pacientes encaminhados de ambulatórios e prontos-socorros das cidades e regiões (Engenheiro Coelho, Iracemápolis, Cordeirópolis e Americana), em 810 pacientes atendidos durante o período de fevereiro a julho de 2007. Figura 1: Gráfico relacionando percentual entre idade e sexo dos pacientes Figura 2: Gráfico relacionando percentual entre idade e diagnóstico dos pacientes MÉTODOS Foram analisadas as fichas de atendimento de 810 pacientes atendidos no pronto-socorro de oftalmologia do Hospital Dia da Santa Casa de Misericórdia de Limeira-SP, nos meses de fevereiro a julho de 2007, em horário de seu funcionamento normal (entre 7:30 até 17:00h). Em todos os pacientes do estudo foi realizado exame oftalmológico completo, a fim de determinar o diagnóstico exato e o tratamento mais adequado(4). Foram considerados para efeito deste trabalho a idade, o sexo, a data de atendimento e o diagnóstico de entrada, que por sua vez foi classificado de acordo com o Código Internacional de Doenças (CID-10) (5). Os registros incompletos foram excluídos da análise final.Os retornos não foram considerados (2) . Os dados foram armazenados no programa excel, e submetidos à análise estatística descritiva(6). Rev Bras Oftalmol. 2009; 68 (4): 197-200 Figura 3: Gráfico relacionando percentual entre sexo e diagnóstico dos pacientes RESULTADOS Durante o período de realização do estudo, foram atendidos 810 pacientes no ambulatório de urgência, sendo 540 (66,6%) do sexo masculino e 270 (33,4%) do sexo feminino. Emergências oftalmológicas em um hospital dia 199 Figura 4: Gráfico relacionando percentual entre n° de casos e cidades de origem dos pacientes Figura 5: Gráfico relacionando percentual entre n° de casos e diagnóstico dos pacientes Observando a figura 1, notamos que a faixa etária predominante no sexo feminino foi de 0 a 18 anos (52%) e no sexo masculino, de 19 a 40 anos (74%). Nota-se na figura 2 que na faixa etária de 0 a 18 anos o diagnóstico prevalente foi conjuntivite viral (32%). O diagnóstico de corpo estranho ocular predominou nas faixas etárias de 19 a 40 anos (42%) e de 41 a 60 anos (34%). Nos pacientes com mais de 61 anos houve prevalência de outros diagnósticos mais isolados (48%), tais como hiposfagma, ametropia, glaucoma, catarata e disfunção das vias lacrimais. A Figura 3 mostra maior prevalência de casos de conjuntivite viral (29%) e afecções das pálpebras e anexos (23%) no sexo feminino. Já no sexo masculino houve prevalência de casos de corpo estranho (44%) e em mesma frequência afecções das pálpebras e anexos (11%) e conjuntivites virais (11%). Na Figura 4, observa-se que em nosso serviço houve predominância de pacientes da própria cidade, Limeira, com porcentagem de 90%, seguido das cidades Iracemápolis (4%) e Engenheiro Coelho (4%). Observando a figura 5, nota-se que os diagnósticos mais prevalentes foram corpo estranho ocular (32%), conjuntivite viral (17%) e afecções das pálpebras e anexos (12%). minhamentos dos prontos-socorros e ambulatórios gerais. Constatamos, em nosso estudo, a predominância do sexo masculino nos atendimentos emergenciais realizados, concordando com as casuísticas encontradas na literatura(7-9). Há também concordância no que se refere à faixa etária mais acometida, que é a de adultos jovens e em idade produtiva, principalmente entre os homens, podendo ser explicado devido à quantidade populacional dessa faixa etária, inexperiência, falta de instrução adequada no uso de equipamentos de segurança e, não raro, condições inadequadas no ambiente de trabalho(8). Dentre os diagnósticos mais frequentes, o que explica em nosso estudo o diagnóstico de corpo estranho ocular é o fato de que a cidade de Limeira é referência na produção de jóias e bijuterias em nosso país, apresentando um grande número de pessoas que trabalham com solda elétrica e funções afins. Outro diagnóstico prevalente em nosso serviço foi o de conjuntivite viral, o que difere dos achados de Adam Netto(1) e Gómez(10), que encontraram maior incidência de conjuntivites bacterianas. Acreditamos que este resultado se deve ao fato de que nosso serviço receba pacientes previamente triados e portanto muitos casos de conjuntivite bacteriana acabem sendo tratados e resolvidos em ambulatórios e prontos-socorros, deixando de ser encaminhados ao oftalmologista. Notamos que, na maioria dos pacientes encaminhados com quadro de conjuntivite viral havia sido introduzido tratamento com colírio antibiótico, de onde deduzimos a desorientação de muitos médicos não oftalmologistas a respeito dos tipos de conjuntivite. As doenças das pálpebras e anexos em concordância com os trabalhos de Schellini et al.(11) e Adam Netto(1) também foram bastante frequentes. DISCUSSÃO O setor oftalmológico da Santa Casa de Misericórdia de Limeira - SP, por ser um serviço de residência médica e credenciado ao SUS, atende uma grande demanda de urgências e emergências da cidade de Limeira e região.Geralmente os atendimentos têm origem de enca- Rev Bras Oftalmol. 2009; 68 (4): 197-200 200 Leonor ACI, Dalfré JT, Moreira PB, Gaiotto Júnior OA CONCLUSÃO No estudo das emergências oftalmológicas em nosso serviço, houve prevalência do sexo masculino sobre o feminino, de pacientes na faixa etária economicamente ativa e de casos de corpo estranho ocular, demonstrando grande relação dos acidentes com o setor ocupacional. Notamos em nosso trabalho uma predominância do diagnóstico de conjuntivite viral em relação à bacteriana. Talvez este resultado se deva à antibioticoterapia tópica indiscriminada para os casos de conjuntivite na prestação do primeiro atendimento. Seria de grande importância o estímulo do uso de equipamentos de proteção no ambiente de trabalho e instrução dos trabalhadores sobre os riscos de acidentes. ABSTRACT Objective: The objective was to ascertain the main cause of the urgency and emergency in all ophthalmological diagnosis. Methods: Between february and july of 2007, eight hundred and one patients were examined prospectively at Hospital Dia da Santa Casa de Misericórdia de Limeira - SP . Patients were correlated with sex, age and origin. Results: Most of these patients were men (66%) between nineteen and forty years old (74%) and female from zero to eighteen years old (52%). The most frequent causes for all the diagnosis were eye foreign body (32%), viralconjunctivitis (17%) and eyelids and adnexa diseases (12%). Conclusion: In this study of Ophthalmological´s emergencies, there were prevalence of men, patients in economically active age and cases of eye foreign body. Keywords: Conjunctivitis; Eye foreign bodies; Eyelids; Statistical analysis; Emergency medical services Rev Bras Oftalmol. 2009; 68 (4): 197-200 REFERÊNCIAS 1. Adam Netto A, Wayhs LF, Santos Jr EC. Diagnósticos emergenciais em oftalmologia em um hospital universitário. Rev Bras Oftalmol.2002; 61(12): 877-83. 2. Sugano DM, Ávila, MP, Lima VL, Carvalho F, Rehder JR. Estudo do perfil de demanda e morbidade ocular em um serviço de emergência oftalmológica no período de 1999 a 2002. Rev Bras Oftalmol. 2004; 63(4): 231-5. 3. Campos Jr JC. Perfil do atendimento oftalmológico de urgência. Rev Bras Oftalmol. 2004; 63(2): 89-91. 4. Mantilla Silva M, Servat Univazo J. Emergencias oftalmologicas en el hospital regional docente de Trujillo. Rev Oftalmol (Lima). 1986; 7(1): 13-9. 5. Classificação estatística internacional de doenças e problemas relacionados à saúde. CID10. Genebra; OPAS/OMS; 2000. 6. Lima DM, Stillitano I, Gifoni A, Lobato FT, Cardoso G. 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Leonor Rua Santa Cruz, nº 1070 - apto 92 CEP 13480-042 - Limeira - SP Tel: (19) 34415250 E-mail: [email protected] ARTIGO ORIGINAL 201 Perfil do paciente com ceratopatia bolhosa pós-facectomia atendidos em hospital público Profile of patient with aphakic/pseudopfakic bullous keratopaty attended at public hospital Marcony Rodrigues de Santhiago1, Luiz Alberto Molina Monica2, Newton Kara-Junior3, Beatriz de Abreu Fiúza Gomes4, Pedro Moreira Bertino5, Maysa Godoy Gomes Mazurek6, Yoshifume Yamane7, Sergio Henrique Sampaio Meirelles8 RESUMO Objetivo: Identificar e analisar criticamente o perfil dos pacientes com ceratopatia bolhosa atendidos em um hospital municipal. Métodos: Foi realizada análise retrospectiva de 35 olhos de 35 pacientes em acompanhamento no setor de córnea e doenças externas do Hospital da Piedade, que apresentavam ceratopatia bolhosa pós-facectomia. Foram excluídos aqueles onde não se conseguiu determinar características pré e per-operatórias fundamentais em nossa pesquisa. Esta seleção de pacientes foi realizada durante o período de janeiro de 2007 a junho de 2007. Resultados: Como principais resultados observouse que a ceratopatia bolhosa ocorreu em 22.86 % (8 olhos) dos casos pós-facectomia extracapsular (FEC) e 74.28 % (26 olhos) pós- facoemulsificação. Em 25.71 % (9 olhos) foi documentado rotura de cápsula posterior (RCP) com perda vítrea. Em 94.29 % (33 olhos) a lente intraocular se localizava na câmara posterior, e dois pacientes estavam afácicos. A acuidade visual de todos os pacientes era pior que 20/200. O tempo médio de evolução entre a facectomia e o diagnostico de ceratopatia bolhosa foi 11,93 meses (1 - 44 meses). Conclusão: A análise adequada do endotélio corneano é condição essencial para o sucesso da cirurgia de catarata com transparência corneal, e que a ceratopatia bolhosa parece estar mais associada à facoemulsificação. Esta informação deve ser interpretada com cautela, já que esta relação pode vir do maior numero de facoemulsificações realizadas no Hospital onde foi realizado o estudo e muitas destas por cirurgiões em treinamento. Descritores: Doenças da córnea/cirurgia; Transplante de córnea/etiologia; Extração de catarata/efeitos adversos; Complicações pós-operatórias ¹Estagiário e Pesquisador do Setor de Catarata e do Setor de Cirurgia Refrativa do Hospital da Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo – USP – São Paulo - SP, Brasil; 2 Chefe do Setor de Córnea e Doenças Externas do Hospital Municipal da Piedade – Rio de Janeiro - RJ, Brasil; 3 Livre-docente, Professor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo – USP – São Paulo (SP), Brasil; Chefe do Setor de Catarata do Hospital das Clinicas Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo – USP – São Paulo - SP, Brasil; 4 Pós-graduanda (Mestrado) do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho da Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ – Rio de Janeiro (RJ), Brasil; 5 Médico Colaborador do Setor Catarata do Hospital Municipal da Piedade – Rio de Janeiro - RJ, Brasil; 6 Estagiário do Setor de Catarata do Hospital da Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo – USP – São Paulo - SP, Brasil; 7 Chefe do Setor de Estrabismo do Hospital Municipal da Piedade – Rio de Janeiro - RJ, Brasil; 8 Chefe do Serviço de Oftalmologia do Hospital Municipal da Piedade – Rio de Janeiro - RJ, Brasil. Trabalho realizado no Hospital Municipal da Piedade – Rio de Janeiro - RJ, Brasil Recebido para publicação em: 24/12/2008 - Aceito para publicação em 31/8/2009 Rev Bras Oftalmol. 2009; 68 (4): 201-5 202 Santhiago MR, Monica LAM, Kara-Jose Junior N, Gomes BAF, Bertino PM, Mazurek MGG, Yamane Y, Meirelles SHS INTRODUÇÃO P roduzida por descompensação de função do endotélio corneal, que leva a formação de bolhas epiteliais, a ceratopatia bolhosa é condição clínica crônica e irreversível, sendo uma das principais indicações de transplante de córnea em vários países(1-4). Os estudos vêm mostrando um importante aumento na incidência desta patologia, provavelmente relacionado ao maior número de procedimentos cirúrgicos. A cirurgia de catarata, que aumentou cerca de 200% nos últimos 10 anos, contribui de maneira importante dentre as causas de ceratopatia bolhosa em todo o mundo(¹). Estudo japonês demonstrou recentemente a facectomia como principal causa de ceratopatia bolhosa no Japão(¹), sendo também a principal indicação de transplante penetrante de córnea. No Brasil há estudos que sugerem este tipo de disfunção corneal como a segunda indicação de transplante atrás apenas do ceratocone(4,5). Um artigo apresentou a ceratopatia bolhosa como 1º indicação em pacientes entre 71 e 80 anos(6), já outro artigo nacional demonstra esta patologia como principal indicação para aqueles pacientes na fila de transplante de córnea em Sergipe(7). Nos EUA a mesma é responsável por 39% das indicações de transplante de córnea ficando o ceratocone com 11%(8). É por ter impacto social tão importante, que o presente estudo tem como objetivo identificar e analisar criticamente o perfil dos pacientes com ceratopatia bolhosa atendidos no Hospital Municipal da Piedade. MÉTODOS Com aprovação do comitê de ética e pesquisa do Hospital Municipal da Piedade, foi realizado estudo de coorte longitudinal com análise retrospectiva em 35 olhos de 35 pacientes cujo objetivo fora determinar o perfil do paciente com ceratopatia bolhosa pós-cirurgia de catarata, com ênfase nas características per-operatórias. Os pacientes estão em acompanhamento no setor de córnea e doenças externas do Hospital da Piedade. Foram incluídos no estudo todos os pacientes que apresentaram ceratopatia bolhosa pós-facectomia atendidos no setor de córnea e doenças externas do Hospital da Piedade, entre janeiro de 2007 e julho de 2007. Foram excluídos aqueles onde não se conseguiu determinar características pré e per-operatórias fundamen- Rev Bras Oftalmol. 2009; 68 (4): 201-5 Gráfico 1 Percentual dos pacientes com ceratopatia bolhosa subetidos a facoemulsificação, facectomia extracapsular e faco-trec tais em nossa pesquisa. Todos os casos foram diagnosticados por examinador experiente (L.A.M.M.) através de exame em lâmpada de fenda com reflexo especular e microscopia especular no aparelho TOPCOM SP2000P. Determinou-se perfil do paciente através de análise investigativa de prontuário. Foi identificado quando e onde foi realizada a cirurgia de catarata, a técnica cirúrgica empregada, se realizada por cirurgião residente ou não, material viscoelástico utilizado, se pseudofácico ou afácico, localização da lente intraocular (LIO) e se havia desvio da LIO. Além do tempo de evolução entre a cirurgia e o diagnóstico de ceratopatia bolhosa. A partir da análise dos dados obtidos, traçamos o perfil do paciente com determinada patologia avaliado no setor de córnea e doenças externas do Hospital da Piedade. RESULTADOS Os dados referentes aos 35 olhos dos 35 pacientes avaliados estão agrupados no Quadro 1. Na presente análise observou-se que a ceratopatia bolhosa ocorreu em 22.86% (8 olhos) dos casos pós-facectomia extracapsular (FEC) e 74.28% (26 olhos) pós-facoemulsificação. Em um dos casos, foi realizado trabeculectomia associada à facoemulsificação (Gráfico 1). Perfil do paciente com ceratopatia bolhosa pós-facectomia atendidos em hospital público 203 Quadro 1 Principais características analisadas nos 35 olhos incluídos no estudo Paciente 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 Técnica Posição RCP Sexo cirúrgica da LIO fec C.P. faco C.P. fec C.P. faco/trec C.P. faco C.P. faco C.P. fec C.P. faco C.P. faco C.P. faco C.P. fec C.P. faco C.P. faco C.P. fec C.P. faco C.P. faco C.P. fec C.P. faco C.P. faco afácico faco C.P. faco C.P. faco C.P. faco C.P. fec C.P. faco C.P. faco afácico faco C.P. faco C.P. faco C.P. faco C.P. faco C.P. fec C.P. faco C.P. faco C.P. faco C.P. S N S N N N S N N N S N N N N N N N S N N N N N N S N N S S N N N S N F F F F F F F F F F F F F F F F M F F F F F M F F F F F F M F F F F F Idade visual LogMAR Acuidade Data da cirurgia 57 70 61 69 67 72 80 65 67 71 69 72 73 81 69 61 70 73 65 54 61 79 80 65 77 72 81 79 64 78 54 71 63 75 79 >1.0 >1.0 >1.0 >1.0 >1.0 >1.0 >1.0 >1.0 >1.0 >1.0 >1.0 >1.0 >1.0 >1.0 >1.0 >1.0 >1.0 >1.0 >1.0 >1.0 >1.0 >1.0 >1.0 >1.0 >1.0 >1.0 >1.0 >1.0 >1.0 >1.0 >1.0 >1.0 >1.0 >1.0 >1.0 out/01 jul/00 fev/02 out/04 ago/03 out/05 mar/05 ago/04 out/04 mar/04 jan/06 jul/01 jul/03 abr/05 set/03 jan/06 mar/01 fev/07 mar/05 jan/06 mar/03 fev/05 abr/04 nov/05 mai/06 nov/04 abr/05 ago/05 set/03 mar/04 mar/05 out/04 jan/03 jul/02 mai/05 Diagnóstico Tempo DM “Guttata” PEX meses mai/05 dez/00 jan/03 ago/05 set/03 jul/06 mar/06 jan/06 set/05 abr/05 ago/06 dez/01 mai/04 mai/06 out/04 abr/06 set/02 abr/07 out/05 fev/07 dez/03 fev/06 mar/06 jul/06 mar/07 jun/05 ago/05 set/05 dez/04 jan/05 ago/05 out/05 mai/05 abr/03 nov/05 43 5 11 10 1 9 12 17 11 13 7 5 11 13 13 3 18 2 7 13 9 12 23 8 10 5 4 1 15 10 5 12 28 9 6 N N S N N N N N N N S N S N N N N N N N S N N N N N S N N S N N N N N S N S N S N S N N N N N N S N N S N N N N N N S N N N S N N N S N N N N N N S N N N N N N N N N N N N N N N N N N N N N N N N N N N N N N N faco = facoemulsificação; fec = facectomia extracapsular; C.P. = cápsula posterior; C.A. = cápsula anterior; S = sim; N = não; F = feminino; M = masculino; DM = diabetes mellitus; PEX = síndrome de pseudoesfoliação Em 25.71% (9 olhos) foi documentado rotura de cápsula posterior (RCP) com perda vítrea. Em 94.29% (33 olhos) a LIO se localizava na câmara posterior, e dois pacientes estavam afácicos. Em nenhum de nossos casos foi implantado LIO de câmara anterior. A média de idade dos pacientes de nosso estudo foi de 69 anos (51 – 81 anos), havendo importante predominância desta determinada condição clínica entre as mulheres nos casos documentados no setor de córnea e doenças externas do Hospital da Piedade. Em média, encontramos um tempo de 11,93 meses (1 – 44 meses) de evolução desde a cirurgia até o diagnóstico de ceratopatia bolhosa. Todos os pacientes apresentavam acuidade visual na tabela Log MAR > 1.0 (Acuidade visual < 20/200) nos olhos estudados. Em todos os olhos foram implantadas LIOs rígidas de PMMA (3 peças) no saco capsular, a não ser nos casos onde houve rotura de cápsula posterior, quando a LIO foi colocada no sulco ciliar . Como viscoelástico, a Metilcelulose®, de característica dispersiva, foi utilizada em todas as facectomias. Em 29 olhos as cirurgias foram realizadas por cirurgiões em treinamento (residentes). Rev Bras Oftalmol. 2009; 68 (4): 201-5 204 Santhiago MR, Monica LAM, Kara-Jose Junior N, Gomes BAF, Bertino PM, Mazurek MGG, Yamane Y, Meirelles SHS Como características pré-operatórias, identificamos diabetes mellitus (6 olhos), síndrome de pseudoesfoliação (1 olho ) e córnea “gutatta” (9 olhos). DISCUSSÃO Atualmente sabe-se que a perda endotelial póscirurgia de catarata é 2,5 a 8 vezes maior que a perda anual, devido ao envelhecimento de um olho não operado, independentemente da técnica cirúrgica utilizada. Foi baseado na importância do endotélio corneano(9), que ocorreram muitas descobertas e melhoramentos tecnológicos em facetomia. Incisões menores, técnicas de facoemulsificação com menor utilização de energia ultrassônica, além de novos materiais viscoelásticos são alguns dos exemplos de esforço nesse sentido(10-13). Revisando detalhadamente os arquivos dos pacientes do presente estudo, observamos a presença de fatores de risco pré-operatórios que devem ser, de maneira consistente, considerados na hora de se indicar a facectomia, principalmente no que concerne ao fato de ser um hospital com cirurgiões em treinamento. A maioria dos olhos que desenvolveram ceratopatia bolhosa foi submetida à cirurgia com cirurgião residente (29 olhos). Diabetes mellitus (6 olhos), síndrome de pseudoesfoliação (1 olho), cirurgia prévia do segmento anterior e córnea “gutatta” ( 9 olhos) são definitivamente fatores que tornam o endotélio mais susceptível ao dano cirúrgico(9). Mesmo em uma amostra reduzida desta análise, foi possível notar uma maior prevalência de diabetes mellitus em pacientes com ceratopatia bolhosa, em relação a população brasileira(14). Além disso, é importante ressaltarmos que ¼ de nossos casos ocorreram em pacientes que apresentavam córnea “gutatta”. Dos 9 olhos com tal condição prévia , 7 foram submetidos a facectomia extracapsular e apenas 2 à facoemulsificação. É por constatações desse tipo, que não devemos nos abster de uma indicação de cirurgia tríplice em paciente que apresente catarata associada à gutatta avançada(15). As LIOs de PMMA , usadas em todos os pacientes pseudofácicos do estudo, podem gerar reações inflamatórias devido à ativação do complemento, o que vai determinar a biocompatibilidade do material. Pela natureza hidrofóbica do PMMA, pode ocorrer dano tissular significativo em caso de toque da LIO no endotélio da córnea(16) . A metilcelulose® parece não ser tão eficaz em proteger o endotélio quanto os outros viscoelásticos dispersivos(10). Assim como recente pesquisa com mais de 900 Rev Bras Oftalmol. 2009; 68 (4): 201-5 pacientes realizado no Japão (1), observamos que a ceratopatia bolhosa ocorreu mais comumente pósfacoemulsificação em 74.28% (26 olhos) (1,9-10) . A facoemulsificação é atualmente realizada por mais de 90% dos cirurgiões de catarata brasileiros(17). Sabemos que é fator fundamental na formação de edema pós-operatório o número de partículas ricocheteando na câmara anterior(9-10). Atualmente, se sabe ainda, que incisões menores tendem a provocar menor perda endotelial(11), assim como incisões esclerais(12). Outro parâmetro importante é o tempo de ultrassom (US) e energia liberada na câmara anterior que está associado ao desenvolvimento de edema corneano, o que tem feito com que as técnicas de chopping ganhem cada vez mais espaço, na tentativa de se minimizar o trauma cirúrgico ao endotélio(13,18). O presente estudo, no entanto, não foi capaz de detalhar tais condições em todos os pacientes, sendo assim, dados como tempo de US e tipo de incisão, não foram incluídos nesta análise de perfil de nossos pacientes. A ruptura de cápsula posterior é a complicação peroperatória mais frequente em cirurgia de catarata, ocorrendo em cerca de 2 % dos casos(19). Em nosso estudo, esta complicação ocorreu em 25.71% dos casos o que sugere um risco relativamente maior de ocorrer ceratopatia bolhosa quando exposto a este determinado fator. Em média, encontramos um tempo de 11.87 meses (1 – 44 meses) de evolução desde a cirurgia até o diagnóstico de ceratopatia bolhosa. A média de idade dos pacientes de nosso estudo foi de 69 anos (51 – 81 anos), havendo importante predominância de mulheres nos casos documentados no setor de córnea e doenças externas do Hospital da Piedade. Outros estudos já demonstraram uma maior prevalência em faixa etária acima de 65 anos, mas diferem de nossa análise, mostrando uma prevalência maior em mulheres apenas discreta(1, 10). Notou-se ainda que, em pacientes com idade igual ou superior a setenta anos, a evolução para ceratopatia bolhosa foi mais rápido. Média de 9.3 meses comparada à média de 12.5 meses dos pacientes com menos de 70 anos. Com a proposta de analisar criticamente e determinar o perfil dos pacientes com ceratopatia bolhosa atendidos no Hospital da Piedade, nosso estudo não tem o desenho e alcance suficientes para determinar fatores de risco para patologia tão importante e com significativo impacto social na vida dos pacientes. Conclui-se, no entanto, que a análise adequada do endotélio corneano é condição “sine qua non” para o sucesso da cirurgia de catarata com transparência 205 Perfil do paciente com ceratopatia bolhosa pós-facectomia atendidos em hospital público corneal, e que a ceratopatia bolhosa parece estar mais associada à facoemulsificação, o que deve ser interpretado com cautela, já que esta relação pode vir do maior número de facoemulsificações realizadas no Hospital onde foi realizado o estudo e muitas ainda realizadas por cirurgiões inexperientes. Com a certeza de que mais estudos nesse sentido devam ser realizados, estimulamos os hospitais com cirurgiões em treinamento a pesquisar sobre suas complicações, definindo claramente as principais características destas, bem como de seus pacientes, com a finalidade de diminuir a presença destes nas filas de transplante de córnea. ABSTRACT Objective: Analyze and identify critically the profile of patients with aphakic/pseudophakic bullous keratopathy attended at a public hospital. Methods: Retrospective analysis of 35 eyes of 35 patients with diagnosis of bullous keratopathy, which has been followed in the department of cornea and external diseases of Hospital da Piedade. The one whose pre and per operative data we did not find were excluded. This selection of patients was done from January to June of 2007. Results: As main results we found that bullous keratopathy occurred in 22.86 % (8 eyes) of cases after extracapsular phakectomy and 74.28 % (26 eyes) after phacoemulsification. Rupture of posterior capsule and vitreous loss was documented in 25.71% (9 eyes). In 94.29% (33eyes) the intraocular lenses was in posterior chamber, and two patients were aphakic. The visual acuity of all patients was worse than 20/200. The mean time from phakectomy to diagnosis of bullous keratopathy was 11.93 months (1-44 months). Conclusion: Adequate analysis of corneal endothelium is an essential condition to obtain success of cataract surgery with corneal transparency, and bullous keratopathy seems to be more related to phacoemulsification. That should be read with caution since this relation may occur because of the higher number of phacoemulsifications that are practiced in that Hospital where the study was conducted and many of them was performed by training surgeons. Keywords: Corneal diseases/surgery; Corneal transplantation/etiology; Cataract extraction/adverse effects; Postoperative complications. REFERÊNCIAS 1. Shimazaki J, Amano S, Uno T, Maeda N, Yokoi N . 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Endereço para correspondência: Rua Teodoro Sampaio, nº 498 apto 35 - Pinheiros CEP 05406-000 - São Paulo - SP E mail: [email protected] Rev Bras Oftalmol. 2009; 68 (4): 201-5 ARTIGO ORIGINAL 206 Prevalência de infecção por Chlamydia tracomatis em amostras oculares de pacientes com conjuntivite em laboratório de genética e biologia molecular na região metropolitana de Florianópolis Prevalence of infection by chlamydia trachomatis in ocular samples of patients with conjunctivitis in genetic and molecular biology laboratory from metropolitan area of Florianópolis, Brazil Marcos de Oliveira Machado 1, Diego de Souza Fraga 2, João Fernandes Floriano2, Maria Elizabeth Menezes3, Jefferson Traebert4 RESUMO Objetivo: Conhecer a prevalência de infecção ocular em amostras de raspado conjuntival causada por C. trachomatis, no período de janeiro de 2004 a junho de 2007 em laboratório de Genética e Biologia Molecular da região metropolitana de Florianópolis, SC. Métodos: Realizou-se um estudo transversal e descritivo, envolvendo todos os casos de conjuntivite registrados no banco de dados do Laboratório de Genética e Biologia Molecular (DNAnálise) de janeiro de 2004 a junho de 2007. Foi observada a positividade de C. tracomatis nas amostras coletadas de raspado ocular. Resultados: Dos 660 exames realizados foram detectados 359 casos positivos (54,4%), sendo a maior parte do sexo feminino (66,3%). A prevalência foi maior na faixa etária de zero a 15 anos em pacientes de ambos os sexos, sendo 55,8% para o sexo masculino e 62,5% para o sexo feminino. Verificou-se um grande aumento de casos positivos no primeiro semestre do ano de 2006, representando 79,2% de todos os pacientes analisados. Conclusão: Houve um aumento no número de casos de conjuntivite na região metropolitana de Florianópolis no ano de 2006, causada pela C. trachomatis no laboratório de Genética e Biologia Molecular. O grande aumento de casos verificados sugere a necessidade da intensificação das ações de vigilância epidemiológica do tracoma nessa região para confirmar clinicamente o aumento da prevalência do tracoma. Descritores: Tracoma; Conjuntivite/epidemiologia; Chlamydia trachomatis; Infecções por Chlamydia; Conjuntivite de inclusão/epidemiologia 1 Doutor, Professor do Curso de Farmácia Análises Clínicas da Universidade do Sul de Santa Catarina - Tubarão - SC, Brasil; Acadêmicos do Curso de Farmácia Análises Clinicas da Universidade do Sul de Santa Catarina. Tubarão - SC, Brasil; 3 Farmacêutica-Bioquímica do Laboratório de Genética e Biologia Molecular (DNAnálise) - Florianópolis - SC, - Brasil; 4 Doutor, Professor do Grupo de Pesquisa em Saúde Bucal Coletiva da Universidade do Sul de Santa Catarina - Tubarão - SC, Brasil. 2 Recebido para publicação em: 4/5/2009 - Aceito para publicação em 26/7/2009 Rev Bras Oftalmol. 2009; 68 (4): 206-11 Prevalência de infecção por Chlamydia tracomatis em amostras oculares de pacientes com conjuntivite em laboratório... INTRODUÇÃO O tracoma (do grego Tráchomas) significa rugoso, áspero ou edemaciado, é uma ceratoconjuntivite crônica palpebral causada pela bactéria Chlamydia trachomatis, que em sua forma aguda se apresenta como uma afecção inflamatória da conjuntiva e da córnea(1,2). De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), com seis milhões de pessoas atualmente cegas como resultado da doença, o tracoma é uma das três maiores causas da cegueira. A doença é endêmica em áreas rurais pobres da África, em partes do mediterrâneo oriental, América Central e do Sul, e alguns países da Ásia. Para controlar a doença, a Global Alliance to Eliminate Trachoma by 2020 - GET 2020 - (Aliança Global para Eliminação do Tracoma até 2020) foi criada em 1997 pela OMS, numa colaboração com representantes dos setores de pesquisa e de governos(3). No Brasil, o tracoma teria chegado no século XVIII desenvolvendo-se na região do Cariri no interior do Ceará, o mais antigo foco do país(4,5). No final do século XIX, com a chegada dos Europeus outros focos surgiram nos Estados de São Paulo e Rio Grande do Sul, expandindo-se para outras regiões(6). A infecção ocorre pelo contato direto com secreções dos olhos, do nariz e da garganta de pessoas infectadas ou com objetos que tiveram contato com as secreções, como toalhas, fronhas e lençóis. Alguns insetos, como a mosca doméstica, também podem servir de veiculadores do agente causador(7). A C. trachomatis é uma bactéria patogênica causadora de doenças sexualmente transmissíveis e causa infecção principalmente no trato urogenital, mas também pode causar linfogranuloma venéreo (LGV), tracoma e conjuntivite de inclusão. No caso de tracoma, a bactéria possui um período de incubação de 5 a 12 dias, depois dos quais o indivíduo apresenta sintomas de conjuntivite ou irritação ocular; os sintomas no infectado incluem olhos vermelhos, secreção, fobia à luz, dor, lacrimejamento excessivo, e - por último - a obstrução da visão (cegueira)(2). A C. trachomatis possui 15 sorotipos diferentes já identificados. Os sorotipos L1, L2 e L3 são os grandes responsáveis pela síndrome do linfogranuloma venéreo; A, B, Ba e C são mais freqüentemente associados ao tracoma; o D a K estão ligados a outras manifestações sexualmente transmitidas, sendo que os sorotipos mais frequentes são os do tipo D, E e F(8). Assim como em outras doenças sexualmente transmissíveis (DST), a infecção genital é uma porta de entrada e aumenta o risco 207 de contrair o vírus HIV, agente da síndrome da imunodeficiência adquirida (Aids/SIDA). O controle do tracoma depende da identificação de portadores assintomáticos, os quais representam um reservatório para o agente patogênico. Acredita-se que a imunidade é apenas parcialmente protetora, pois o risco de desenvolver seqüelas como gravidez ectópica ou infertilidade, aumenta com os sucessivos episódios de infecção(9). A queda acentuada da incidência do tracoma em países industrializados pela melhoria das condições de vida e, especialmente, as de higiene, tem diminuído sua visibilidade como problema em saúde pública(10). Poucos estudos têm detalhado o comportamento do tracoma em áreas hipoendêmicas. A maioria das publicações focaliza-se no sudeste do Brasil, principalmente no Estado de São Paulo por ser uma região com muitos imigrantes do nordeste, principal região endêmica do Brasil. No estado de Santa Catarina existem poucos estudos sobre o padrão epidemiológico do tracoma. Os métodos laboratoriais utilizados para a detecção do patógeno causador de conjuntivite são em geral exames de bacterioscopia e sorologia. A introdução de técnicas de biologia molecular no laboratório clínico, como a técnica da reação da polimerização em cadeia (PCR), permite detectar o agente causador com mais precisão, exatidão, sensibilidade e especificidade, permitindo assim uma identificação do agente infeccioso com maior confiabilidade e em menor tempo(9). O conhecimento do agente causador e da progressão da doença, bem como estabelecimento do tratamento coerente e eficaz, pode determinar a sua evolução e prognóstico(11,12). Devido a esse cenário epidemiológico, o presente trabalho teve por objetivo conhecer a prevalência de infecção ocular em amostras de raspado conjuntival causada por C. trachomatis, no período de janeiro de 2004 a junho de 2007 em laboratório de Genética e Biologia Molecular da região metropolitana de Florianópolis, SC. MÉTODOS O DNAnálise - Laboratório de Análise e Pesquisa do Gene - presta assistência à região metropolitana de Florianópolis, SC, realizando exames laboratoriais por técnicas de análises de DNA/RNA para fins de diagnóstico de alta especificidade e sensibilidade. Foi realizado um estudo transversal envolvendo todos os casos de conjuntivite ocular registrados no banco de dados do Laboratório de Genética e Biologia Molecular (DNAnálise) localizado em Florianópolis, SC Rev Bras Oftalmol. 2009; 68 (4): 206-11 208 Machado MO, Fraga DS, Floriano JF, Menezes ME, Traebert J Tabela 1 Prevalência de infecção ocular por Chlamydia trachomatis em amostras de pacientes da região metropolitana de Florianópolis Sexo masculino Período No testado 2004-1 2004-2 2005-1 2005-2 2006-1 2006-2 2007-1 Total 9 18 24 23 53 85 31 243 Sexo feminino No positivo Prevalência (%) No testado 2 3 2 6 43 54 11 121 22,2 16,7 8,3 26,1 81,1 65,5 35,5 49,8 13 14 27 19 135 131 78 417 No positivo Prevalência (%) 3 1 3 4 106 89 32 238 23,7 7,1 11,1 21,0 78,5 67,9 41,0 57,0 Tabela 2 Prevalência de infecção ocular por Chlamydia trachomatis em amostras de pacientes por faixa etária (anos) da região metropolitana de Florianópolis Sexo masculino Faixa etária Teste positivo No total 0 a 15 16 a 30 31 a 45 46 a 60 > 61 Total 24 27 30 26 14 121 43 58 65 50 27 243 Sexo feminino Prevalência(%) Teste positivo No total 55,8 46,5 46,1 52,0 51,8 49,8 30 60 63 51 34 238 48 105 109 93 62 417 Tabela 3 Prevalência de infecção ocular por Chlamydia trachomatis em amostras de pacientes da região metropolitana de Florianópolis-SC, por região anatômica ocular Sexo masculino Sexo feminino Região Anatômica N % N % Superior esquerdo Inferior esquerdo Superior direito Inferior direito Total 81 82 81 81 325 24,9 25,3 24,9 24,9 100,0 141 144 138 147 570 24,7 25,3 24,2 25,8 100,0 Rev Bras Oftalmol. 2009; 68 (4): 206-11 Prevalência (%) 62,5 57,1 57,8 54,8 54,8 57,1 Prevalência de infecção por Chlamydia tracomatis em amostras oculares de pacientes com conjuntivite em laboratório... no período de janeiro de 2004 a junho de 2007. Todas as amostras foram analisadas pela técnica da reação em cadeia pela polimerase (PCR) para a detecção de C. Trachomatis. Foram analisados 660 exames coletados em pacientes com suspeita de conjuntivite pelos sinais e sintomas clínicos de prurido ocular, secreção mucóide, hiperemia conjuntival e ardência ocular, procedentes da região metropolitana de Florianópolis. Os resultados foram inseridos no software SPSS 16.0 e analisados de forma descritiva de acordo com a idade, sexo e localização anatômica espacial ocular, identificado por região superior e inferior do olho direito e esquerdo. Estudos de associação entre os resultados dos exames e faixa etária, sexo e período de ocorrência foram realizados utilizando-se o teste do qui-quadrado. O presente estudo foi submetido e aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa- CEP da Universidade do Sul de Santa Catarina. RESULTADOS O laboratório DNAnálises realizou 660 exames de detecção para C. trachomatis por PCR entre o período de janeiro de 2004 e junho de 2007. Deste total de exames, 243 (36,8%) foram de pacientes do sexo masculino e 417 (63,2%) de pacientes do sexo feminino. Foram detectados 359 casos positivos (54,4%, IC95%, 50,6-58,2) para C. trachomatis, sendo 121 casos masculinos (33,7%) e 238 casos femininos (66,3%) (p=0,070) (Tabela 1). A prevalência de casos positivos de C. trachomatis entre as faixas etárias variou de 46,15% a 55,8% para o sexo masculino e de 54,84% a 62,5% para o sexo feminino. A distribuição percentual dos casos positivos de C. trachomatis encontra-se na Tabela 2. A faixa etária com maior freqüência de casos positivos foi entre 0 e 15 anos para ambos os sexos, sendo 55,8% para o sexo masculino e 62,5% para o sexo feminino. Porém, essa diferença não foi estatisticamente significativa (p=0,978). Analisando os exames realizados semestralmente observou-se que a maior prevalência de casos de C. trachomatis foi durante o primeiro semestre do ano de 2006 (p<0,001) para ambos os sexos. Entre 2004 e 2005, não houve grandes alterações no número de casos positivos (p=0,955). Porém em 2006 acresceu um significativo número de casos positivos em ambos os sexos (totalizando 292 casos), representando 81,6% de todos os casos positivos encontrados (p<0,001). Em relação ao primeiro semestre do ano de 2007, houve uma redução no número de casos positivos em ambos os sexos 209 registrados no primeiro semestre (total de 43 casos). Com relação ao local anatômico ocular onde foi detectado o agente infeccioso, a prevalência de C. trachomatis para os gêneros variaram entre 24,9% e 25,3% para o sexo masculino e entre 24,2% e 25,8% para o sexo feminino (Tabela 3), não apresentando diferença estatística significativa (p>0,05). DISCUSSÃO Nesse estudo, 54,4% dos pacientes da região metropolitana de Florianópolis com suspeita de conjuntivite, foram diagnosticados como positivos para C. trachomatis. Embora sem diferenças estatisticamente significativas, a maior parte dos casos positivos foi da faixa etária entre zero a 15 anos, concordando com o estudo de Koizume et al. (2005), onde a maior freqüência de casos de tracoma foi a faixa etária de sete a 14 anos (82,6%)(1). Couto Júnior et al. também observaram um elevado percentual de casos de C. trachomatis (71,43%) em escolares e pré-escolares portadoras de tracoma folicular, com maior prevalência na faixa etária de nove a 15 anos(5). Assim, a presença de crianças com formas de infecção ativa, mesmo em baixa prevalência, possibilita a manutenção da cadeia de transmissão do tracoma. O tracoma pode ser inaparente na sua forma inicial, sendo que na maioria das vezes instala-se paulatinamente, podendo apresentar ligeiro desconforto ocular, leve lacrimejamento, ardor e, ainda, secreção pela manhã(13). O prurido é relatado em muitos trabalhos como sendo o sintoma mais frequente e apesar de não ser uma manifestação clínica clássica, pode atuar como facilitador da transmissão do agente(14). A menos que exista uma infecção bacteriana associada, o tracoma não apresenta secreção purulenta copiosa e nem todos os casos graves apresentam sintomatologia proporcional às manifestações clínicas(15). A C. trachomatis tem sido relatada como a segunda maior causa de doença infecciosa sexualmente transmitida não-virótica no mundo e por ser geralmente assintomática pode ser facilmente transmitida durante o parto(16). Há evidências que as adolescentes e mulheres jovens são mais susceptíveis a infecção do que mulheres mais velhas(17). Além do fator de transmissão através do parto, a C. trachomatis genital pode causar tracoma quando transmitida para o outro parceiro pelo contato direto com as mãos, objetos em geral, roupas de camas, toalhas, material de limpeza facial contaminados pelo infectado que manipulou esses materiais . Katz et al.(18) afirmam que a ausência de formas Rev Bras Oftalmol. 2009; 68 (4): 206-11 210 Machado MO, Fraga DS, Floriano JF, Menezes ME, Traebert J graves da doença e a baixa prevalência permitem caracterizar uma área como hipoendêmica e de baixo risco para formas cicatriciais e de opacificação da córnea associadas ao tracoma. A região metropolitana de Florianópolis se enquadra nessa classificação, pois não há relato na literatura epidemiologia de tracoma nessa região. O único estudo realizado no estado de Santa Catarina foi na cidade de Joinville, onde a prevalência de tracoma folicular foi de 4,9% e tracoma cicatricial de 0,65%(19). Os pesquisadores concluíram que a população estudada tem baixa prevalência de tracoma, com quadros inflamatórios brandos. Sabe-se que quanto menor a edemicidade do tracoma, mais elevada é a idade onde aparecerá o pico de prevalência de tracoma folicular. Os dados aqui apresentados demonstram que houve um aumento do número de casos de C. trachomatis em todas as faixas etárias, com maior prevalência na faixa etária de zero a 15 anos no laboratório avaliado. Os resultados encontrados apontaram para um aumento do número de casos de conjuntivite no período de janeiro a junho de 2006. Durante esse período o clima dessa região é mais quente e úmido, pois envolve a transição da estação do verão para o outono, com forte calor e chuvas frequentes. Além disso, durante esta época do ano ocorre um aumento significativo da população em função da vinda de turistas para a região. Segundo estudo realizado na região metropolitana de São Paulo, a hospedagem de pessoas de região endêmica foi um dos fatores que se mostrou associada à prevalência do tracoma(20). Os resultados apontaram também que em comunidades com baixa circulação da C. trachomatis podem persistir resíduos de casos e fontes de infecção nos segmentos mais pobres da população, que apresentam hábitos de higiene inadequados e também entre familiares de migrantes de áreas endêmicas que mantenham vínculo social com as suas comunidades de origem(20). Outros estudos descrevem ainda que a falta de água pode comprometer a higiene e aumentar o risco de contaminação da C. trachomatis causando um maior número de conjuntivite(20,21). O diagnóstico do tracoma é essencialmente clínico. O diagnóstico laboratorial do tracoma deve ser utilizado, para a constatação da circulação do agente etiológico na comunidade, e não para a confirmação de cada caso, individualmente(22). Porém, muitos casos de conjuntivite são assintomáticos ou as causas podem ser alérgicas. A menos que exista uma infecção bacteriana associada, o tracoma não apresenta secreção purulenta copiosa e nem todos os casos graves apresentam sintomatologia proporcional às manifestações clínicas(1,23). A identificação do agente infeccioso é de funda- Rev Bras Oftalmol. 2009; 68 (4): 206-11 mental importância para o uso controlado de medicamentos, evitando o gasto monetário e a ocorrência de efeitos adversos desnecessários ao paciente que poderiam ainda agravar o processo inflamatório. CONCLUSÃO Embora a região metropolitana de Florianópolis seja uma área não endêmica, esse estudo apontou uma elevada prevalência de pacientes infectados com C. trachomatis nas amostras de secreção ocular de pacientes com conjuntivite no laboratório estudado. Os resultados apontam para a necessidade de ações de vigilância epidemiológica com o objetivo de confirmar clinicamente focos de tracoma e traçar eventuais ações de controle para impedir o aumento da sua prevalência na região metropolitana de Florianópolis. Agradecimentos Ao Dr. Geraldo Victor de Oliveira de Andrade, médico oftalmologista que forneceu as informações dos prontuários utilizadas nesse estudo. ABSTRACT Objective: To estimate the prevalence of ocular infection by Chlamydia trachomatis in conjuctival material, from january 2004 to june 2007 at Genetic and Molecular Biology Laboratory from Florianópolis Metropolitan area, SC. Methods: A cross-sectional and descriptive study involving all cases of conjunctivitis using the database of Genetic and Molecular biology Laboratory (DNAanálises) recorded in the period from january 2004 to june 2007 was carried out. The positivity to C. trachomatis in conjunctival material was observed. Results: A total of 660 exams to the detection of C. trachomatis in ocular samples were observed 359 (54,4%) positive cases which the most part of them were from female patients (66,3%). The majority of the cases were observed at the female group (66.3%). The highest prevalence was between one to 15 years old in both sex groups, being 55.8% in the male and 62.5% in the female group. We observed an increased number of cases between january and june of 2006 representing 79.2% of the total positive cases. Conclusion: There was an increased number of conjunctivitis at Florianópolis Metropolitan area at the year of 2006, caused by Chlamydia trachomatis detected at Genetic and Molecular Biology Laboratory. The great number of cases detected in the Prevalência de infecção por Chlamydia tracomatis em amostras oculares de pacientes com conjuntivite em laboratório... studied area suggests the need for strengthening epidemiological surveillance activities at the region to confirm clinically the increased prevalence of trachoma. Keywords: Tracoma; Conjunctivitis/epidemiology; Chlamydia trachomatis; Chlamydia infections; Conjunctivitis, inclusion/epidemiology REFERÊNCIAS 1. Prevalência do tracoma em pré-escolares e escolares no Município de São Paulo. Rev Saúde Pública. 2005; 39 (6): 937- 42. 2. Adan CBD, Scarpi MJ, Guidugli T. Eficácia da ciprofloxacina e da tetraciclina no tratamento do tracoma: estudos clínicos e microbiológico. Arq Bras Oftalmol. 1996;59(6):592-600. 3. Solomon AW, Zondervan M, Kuper H, Buchan JC, Mabey DCW, Foster A. Trachoma control. A guide for programme managers. Geneva, Switzerland: WHO; 2005. 4. Luna EJA, Medina NH, Oliveira MB. 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Marback EF, Cardoso C, Moitinho LMN, Marback RL. Estudo clínico-patológico do pilomatrixoma palpebral: experiência no hospital universitário Prof. Edgard Santos. Arq Bras Oftalmol. 2007;70(3):501- 3. Endereço para correspondência: Marcos de Oliveira Machado Avenida José Acácio Moreira, nº 787 Bairro Dehon - Caixa Postal 370 CEP 88704-900 - Tubarão - SC e-mail: [email protected] Rev Bras Oftalmol. 2009; 68 (4): 206-11 ARTIGO ORIGINAL 212 Biometria ultrassônica no cálculo do poder dióptrico de lentes intraoculares: estudo comparativo dos métodos de contato e de imersão Ultrasound biometry and intraocular lens power calculation: comparative study of the contact and immersion techniques Felipe Cortizas Ré Martins1, Marcos Enrique Miyaji2, Vagner Loduca Lima3, José Ricardo Carvalho Lima Rehder4 RESUMO Objetivo: Comparar as medidas ecobiométricas pelos métodos de imersão e de contato. Métodos: A biometria ultrassônica foi realizada em 60 olhos, pelo mesmo examinador e com o mesmo aparelho, usando os métodos de contato e de imersão em cada olho. Resultados: A menor média do comprimento axial (23,16 mm) foi obtida através do método de contato, e a maior (23,29 mm) sob imersão, usando a mesma sonda ultrassônica. A média do desvio padrão entre as repetidas medidas no mesmo olho foi menor (0,02) com a técnica de imersão, e a maior (0,07) com o método de contato, diferença estatisticamente significante (p<0,001). Os coeficientes de Pearson demonstraram alta correlação entre os dois métodos nas medidas do comprimento axial e profundidade da câmara anterior. Conclusão: O método de imersão mostrou maior precisão e reprodutibilidade, podendo evitar erros no cálculo do poder dióptrico da LIO e corresponder às expectativas visuais do paciente no pós-operatório. Descritores: Biometria; Estudo comparativo; Lentes intraoculares; Catarata; Ultrassonografia 1 Residente do 2º ano da Disciplina de Oftalmologia da Faculdade de Medicina do ABC – FMABC - Santo André (SP), Brasil; Professor Colaborador do Setor de Catarata da Disciplina de Oftalmologia da Faculdade de Medicina do ABC – FMABC - Santo André (SP), Brasil; 3 Chefe do Setor de Catarata da Disciplina de Oftalmologia da Faculdade de Medicina do ABC – FMABC - Santo André (SP), Brasil; 4 Professor Titular da Disciplina de Oftalmologia da Faculdade de Medicina do ABC – FMABC – Santo André (SP), Brasil. 2 Recebido para publicação em: 18/8/2009 - Aceito para publicação em 8/9/2009 Rev Bras Oftalmol. 2009; 68 (4): 212-5 Biometria ultrassônica no cálculo do poder dióptrico de lentes intraoculares: estudo comparativo dos métodos... INTRODUÇÃO O uso do ultrassom na oftalmologia teve seu início em 1938, com estudos analisando o possível efeito do ultrassom de alta intensidade em olhos, passando posteriormente a pesquisar seu efeito de hipertermia com função terapêutica (1). A primeira ultrassonografia foi publicada em 1956, mostrando ao mundo seu potencial diagnóstico, e logo em seguida, expandindo seu uso através de ondas ultrassonográficas tipo “A” no diagnóstico de patologias intraoculares, com a análise das diferentes características sonográficas dos variados tecidos do olho humano. Em 1958 foi desenvolvido o modo “B” (bidimensional), e em 1960 passou-se a medir as distâncias entre as estruturas oculares(2). Além de realizar medidas biométricas do globo ocular, permitindo o cálculo preciso do poder dióptrico de lentes intraoculares artificiais (LIO), as técnicas básicas desenvolvidas são ondas tipo “A” e “B”, Doppler, e modalidades tridimensionais, e atualmente a biomicroscopia ultrassônica(1-4). O exame de ecobiometria realiza medidas oculares através de ondas lineares do tipo “A”, podendo ser realizado pelo método de contato, que consiste no encontro direto da sonda do aparelho com a córnea do paciente, ou pela imersão, na qual é utilizada uma interface aquosa entre a sonda e o olho(1-5). Com o crescente avanço técnico e tecnológico das cirurgias de catarata com implante de lentes intra-oculares, e a conseqüente expectativa do paciente, tornouse fundamental um exame acurado de biometria e fórmulas adequadas para aperfeiçoar a escolha da lente (6). Considerando as propriedades inerentes a cada técnica usada, o objetivo deste estudo foi comparar as medidas biométricas obtidas no método de contato e de imersão, e avaliar sua precisão, e a reprodutibilidade das mesmas em subsequentes medidas. MÉTODOS Vinte e sete pacientes foram submetidos ao exame pré-operatório de catarata, sendo que todos realizaram biometria ultrassônica pelos dois métodos, de imersão e de contato. Foram excluídos pacientes com doenças oculares ou outras patologias que causassem dificuldade na interpretação do gráfico de onda “A”, além de não ser realizado o exame nos olhos afácicos ou pseudofácicos. Dos vinte e sete pacientes, a média de idade foi de 68,4 anos, variando entre 42 e 92 anos. O OcuScan RxP - Alcon® foi o biômetro utiliza- 213 do no padrão automático seriado de ondas tipo “A”, com ganho aproximado de 60 dB. Todas as medidas foram realizadas em um único aparelho pelo autor desse trabalho, treinado para utilização desse biômetro e com 1 ano de experiência em ambas as técnicas utilizadas. Inicialmente os pacientes foram submetidos ao exame com contato direto da sonda, sendo aferidas 10 medidas de cada olho e posteriormente ao exame de imersão, também com 10 medidas de cada olho. Foram obtidas a média do comprimento axial do globo ocular (AL), a média de profundidade da câmara anterior (ACD), o desvio padrão (DP) entre os 10 ecogramas do comprimento axial do globo, e o poder dióptrico de 3 possíveis lentes nas constantes de 118,30, 118,70 e 118,90 utilizando a fórmula SRK-T. Para avaliar a diferença no poder da lente, entre os dois métodos, foram incluídas no estudo apenas as lentes de constante 118,30, e o valor mais próximo de uma refração plana. Foi realizada a análise descritiva de todas as variáveis através de suas medidas de tendência central e de dispersão. Para as variáveis que apresentaram distribuição normal (teste de Kolmogorov-Smirnov) foi utilizado o teste t pareado, para as variáveis que não apresentaram esse princípio satisfatório, foi utilizado o teste de Wilcoxon. Foi calculado o coeficiente de correlação de Pearson. O nível de significância foi de 5%. Pacote estatístico utilizado SPSS 16.0 for windows. E para se obter um modelo matemático foi utilizado o modelo de regressão linear. RESULTADOS A média do comprimento axial ocular dos 120 exames foi de 23,23 mm, e o comprimento médio da câmara anterior de todos os exames foi de 3,19 mm. No método de imersão a média do comprimento axial foi de 23,29 mm, e do comprimento da câmara anterior foi de 3,26 mm. Enquanto sob a técnica de contato, o comprimento axial médio encontrado foi de 23,16 mm e a média da câmara anterior foi de 3,12 mm. As medidas de tendência central e de dispersão para as variáveis de comprimento axial nos dois métodos encontram-se na Tabela 1, e os valores relacionados à profundidade de câmara anterior encontram-se na Tabela 2. Foi constatada correlação muito forte 0,984 entre os valores de comprimento axial, pelo Coeficiente de Correlação de Pearson, e também entre os valores de câmara anterior (0,922). A diferença entre o compri- Rev Bras Oftalmol. 2009; 68 (4): 212-5 214 Martins FCR, Miyaji ME, Lima VL, Rehder JRCL mento axial ocular médio entre os dois métodos foi de 0,18 mm, e entre as médias dos valores de câmara anterior foi de 0,13 mm, mostrando significância estatística pelo teste t de amostras pareadas. A reprodutibilidade do exame, e consequentemente sua confiabilidade, pode ser avaliada através do desvio padrão das 10 medidas realizadas em cada olho, e comparando o mesmo nos dois métodos. Portanto, quanto menor o desvio padrão entre as diversas medições, mais confiável é o método. A média do desvio padrão de todas as medidas ecobiométricas foi de 0,05. No método de imersão foi de 0,02, enquanto no método de contato a média do desvio padrão foi de 0,07 (Tabela 3), apresentando significância estatística pelo teste de Wilcoxon. A média da diferença do poder dióptrico das LIOs entre o método de contato e de imersão foi de 0,58 dioptria (D), variando de 0 a 2,0 D de diferença no valor da LIO. DISCUSSÃO Com o advento das cirurgias de facoemulsificação com finalidades refrativas, e um aumento na expectativa por parte do paciente, a precisão da biometria é fundamental para reduzir os erros de cálculo do poder dióptrico da LIO, tornando-se essencial a aplicação de um método preciso e acurado para calcular com exatidão a LIO, vindo de encontro com as expectativas do cirurgião e obviamente do paciente. Além da biometria através de ondas de ultrassom, existe atualmente a biometria de interferometria óptica, em que estudos mostram sua superioridade na precisão do cálculo da LIO, porém esta não pode substituir totalmente a biometria acústica, principalmente em casos de baixa acuidade visual por catarata densa e outras patologias associadas à opacidade de meios(7-14). Um inconveniente no uso da biometria ultrassônica é o contato com olho, requerendo assim o uso de anestesia tópica e cuidados especiais para evitar abrasão corneana e infecção secundária(7). O método de contato apresenta a vantagem de ser mais prático, mais rápido, e mais confortável para o paciente, em que o mesmo pode estar deitado ou sentado; apresenta menos instrumentos e menor chance de contaminação instrumental. Já a técnica de imersão tem as vantagens de ter maior reprodutibilidade, não há compressão da córnea; e melhor alinhamento em pacientes pouco colaborativos(7,8). O principal motivo da menor confiabilidade do exame sob contato se deve a possibilidade de identação corneana, medindo uma câmara anterior menor, su- Rev Bras Oftalmol. 2009; 68 (4): 212-5 Tabela 1 Medidas de comprimento axial (AL) nos métodos de contato e imersão Média Mediana Desvio padrão Mínima Máxima AL(contato) AL(imersão) 23,16 23,01 1,11 21,66 29,18 23,29 23,29 1,12 21,81 29,21 (p<0,001) Tabela 2 Medidas de profundidade de câmara anterior (ACD) nos dois métodos usados ACD (Contato) ACD (Imersão) Média Mediana Desvio padrão Mínima Máxima 3,12 3,15 0,52 2,10 4,68 3,26 3,30 0,50 2,23 4,61 (p<0,001) Tabela 3 Medidas de desvio padrão (DP) em ambos métodos DP (Contato) Média Mediana Desvio padrão Mínima Máxima 0,07 0,06 0,038 0,02 0,22 DP (Imersão) 0,021 0,020 0,014 0,0 0,6 (p<0,001) bestimando deste modo o comprimento axial real do olho, ou pela formação de menisco lacrimal entre a sonda e o globo ocular, aferindo uma câmara anterior falsamente maior, superestimando o comprimento axial total do olho. Além disso, há maior dificuldade de se manter o alinhamento ocular em determinados pacientes. Na prática clínica são várias as causas de erros no cálculo da LIO, e estão presentes nas fórmulas e suas constantes, na medida ceratométrica, na medida do comprimento axial ocular, na exata localização do implante no pós-operatório e nas particularidades individuais(15-19). Biometria ultrassônica no cálculo do poder dióptrico de lentes intraoculares: estudo comparativo dos métodos... CONCLUSÃO Os dados deste estudo evidenciam precisão e reprodutibilidade dos resultados, e permitem concluir que o método de imersão é mais preciso e apresenta maior confiabilidade, podendo evitar erros no cálculo do poder dióptrico da LIO e consequente insatisfação visual do paciente no pós-operatório da cirurgia de catarata. Como se verificou diferenças significativas nos dois métodos, sugere-se adequação das diversas fórmulas de cálculo de LIO para a técnica de imersão, já que as fórmulas usadas atualmente foram baseadas principalmente em dados ecobiométricos de contato. ABSTRACT Purpose: To compare the ultrasound biometry measurements between immersion and contact techniques. Methods: The biometry was made in 60 eyes by the same examiner, using the contact and immersion techniques in each eye. Results: The lower mean axial length (23,16 mm) was found in the contact technique, and the greater (23,29) was found in the immersion technique, using the same probe. The lower mean standard deviation between recurrent measures in the same eye was found in the immersion technique, and the greater in the contact procedure, and was found statistically significant (p<0,001). The Pearson’s coefficients demonstrated high correlation between the two techniques, in measuring the axial length and anterior chamber depth. Conclusion: The immersion technique have shown more accuracy and reproducibility, avoiding errors in intraocular lens power calculation, and encountering the visual expectations of the patient. Keywords: Biometry; Comparative study; Lenses, intraocular; Cataract; Ultrsonography REFERÊNCIAS 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. 10. 11. 12. 13. 14. 15. 16. 17. 18. 19. 215 Oliveira FD, Muccioli C, Lopes YC, Soriano ES, Belfort Jr R. Biometrias óptica e ultrassônica: Comparação dos métodos usados para o cálculo da lente intraocular acomodativa. Arq Bras Oftalmol. 2004;67(6);887-91. Tehrani M, Krummenauer F, Blom E, Dick HB. Evaluation of the practicality of optical biometry and applanation ultrasound in 253 eyes. J Cataract Refract Surg. 2003;29(4):741-6. Rajan MS, Keilhorn I, Bell JA. Partial coherence laser interferometry vs conventional ultrasound biometry in intraocular lens power calculations. Eye. 2002;16(5):552-6. Connors R 3rd, Boseman P 3rd, Olson RJ. 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Curr Opin Ophthalmol. 2008; 19(1): 13-7 Rev Bras Oftalmol. 2009; 68 (4): 212-5 ARTIGO ORIGINAL 216 Comparison between OPD-scan results and contrast sensitivity of three intraocular lenses: spheric AcrySof SN60AT, aspheric AcrySof SN60WF and multifocal AcrySof Restor lens Estudo comparativo da análise de frente de onda e sensibilidade ao contraste entre as lentes intra-oculares multifocal AcrySof Restor SN60D3, monofocal AcrySof SN60WF asférica e a monofocal SN60AT esférica Celso Takashi Nakano1, Wilson Takashi Hida1, Newton Kara-Jose Junior3, Antonio Francisco Pimenta Motta1, Danilo Fante2, Victor Ferreira Masson2, Alexandre Reis2, Mauricio Pamplona2, Iris de Souza Yamane1, Ricardo Holzchuh3, Amaryllis Avakian3 ABSTRACT Purpose: Compare the OPD-scan results and the contrast sensitivity in patients who had implantation of the AcrySof SN60D3 multifocal IOL, the AcrySof SA60AT spheric monofocal IOL and the AcrySof SN60AT aspheric monofocal IOL. Methods: Thirty-two eyes received the multifocal IOL, 32 eyes received the spheric monofocal IOL and 32 eyes received the aspheric monofocal IOL. They were closely paired in age, sex, pre-operative wavefront analysis and contrast sensitivity. All patients was tested with the OPD-scan aberrometer, ETDRS chart at 100% and 9% contrasts and contrast sensitivity. Results: Statistically significant differences were detected more total aberration in SN60AT group (KW = 9.42; p=0.009) when compared to SN60D3 group (p=0.016) and SN60WF group (p=0.0047). The SN60AT group (KW = 16.20; p=0.0003) showed with high spherical aberration values compared to the SN60WF (p=0.00046) and SN60D3 (p=0.0014) group. No significant differences were found between groups in fardistance VA measured using ETDRS at 100% and 9% contrast. The SN60D3 group compared to SN60AT group (p=0.016) had low contrast sensitivity (log units) with statistical difference in 6.0 cpd (KW = 7.84; p=0.0199), but no statistical difference between SN60WF and SN60AT group (p=0.91) and SN60WF and SN60D3 group (p=0.051). The SN60D3 group had low contrast sensitivity performed under mesopic conditions (KW = 10.79; p=0,0045) in 6cpd spatial frequency compared to the SN60AT group (p=0.011) and to the SN60WF group (p=0.007) with statistical significant differences. Conclusion: In all analyzed parameters of OPD-scan aberrometry the aspheric and the multifocal IOLs provided less total and spherical aberrations than spheric IOLs. All IOLs provided an excellent high and low contrasts vision, the multifocal IOL was as good as the spheric and aspheric monofocal IOLs. Keywords: Lenses; Lenses, intraocular; Contrast sensitivity; Phacoemulsification; Vision 1 Estagiário do Setor de Catarata do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo – USP – São Paulo (SP), Brasil; Residente do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo – USP - São Paulo (SP), Brasil; 3 Chefe do Setor de Catarata do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo – USP – São Paulo (SP), Brasil. 2 Trabalho realizado na Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo – USP – São Paulo (SP), Brasil. Recebido para publicação em: 28/12/2008 - Aceito para publicação em 28/7/2009 Rev Bras Oftalmol. 2009; 68 (4): 216-22 Comparison between OPD-scan results and contrast sensitivity of three intraocular lenses: spheric AcrySof SN60AT ... INTRODUCTION W avefront science has helped explain that this decline occurs because of increasing spherical aberration of the human lens(1-3), New possibilities appeared when new technologies were developed, like the wavefront analysis using the Hartmann-Shack aberrometer and the optical path difference scan (OPD-scan), which measures the distance light travels in different paths going through the eye, measuring the optical system aberration (2,3) . The integration of wavefront technology and lens-based surgery represents a step toward improving functional vision and the quality of life for cataract patients(2-6). As we have learned that the optical wavefront of the cornea remains stable throughout life, the lens has started to come into its own as a primary locus for refractive surgery(7). The evolution in cataract surgery has evolved with new surgical techniques, instrumentals, viscoelastic devices and IOL designs that provide high-quality optical imagery at all focal distance, since the first use of them by Ridley(1). What remains is a challenge for optical scientists and material engineers to design a IOLs that compensate for any aberrations inherent in the cornea. The multifocal IOL try to minimize loss of incident light to higher orders of diffraction, reducing optical aberrations, and balancing the brightness of the focused and unfocused images(8). In the AcrySof® SN60D3 Restor® IOL, the logic of placing the diffractive element centrally depends on the near synkinesis of convergence, accommodation, and miosis. As the pupil constricts, the focal dominance of the lens shifts from almost purely distance to equal-parts’ distance and near. This approach conserves efficiency for mesopic activities when the pupil is larger, such as night driving, but reduces near vision under mesopic conditions(6). Contrast sensitivity testing has confirmed a decline in visual performance with age(6-10). Improvements in ocular biometry and cataract surgery have minimized refractive error, promoting quick visual recovery, with low intraoperative complications, good postoperative quality of functional vision, more accurately described on the basis of the ability to precisely discern details of images regardless of lighting and brightness conditions(7,11). The purpose of this study is to compare the aberrometry results with OPD-scan and contrast sensitivity in patients who had implantation of the 217 AcrySof SN60D3 multifocal IOL, the AcrySof SA60AT spheric monofocal IOL and the AcrySof SA60AT aspheric monofocal IOL in cataract surgery. METHODS This prospective, randomized study comprised 96 eyes of 48 patients selected between march 2005 and july 2006. This study was conducted according to established ethical standards for clinical research and the internal review board of our hospital approved the study protocol. Inclusion criteria was age between 45 and 75 years old, presence of cataracts, classified by the Lens Opacity System II (LOCS II), and corneal astigmatism less than 1.00 diopter in both groups, with no other ocular pathologies, no previous ocular surgery or use of topic hipotensive medication and pupil diameter of at least 3.5 mm or more under mesopic and photopic light conditions as measured by the Colvard pupillometer (Oasis, Glendora). In addition, all patients with systemic disease potentially affecting vision or specifically affecting contrast sensitivity, such as diabetes retinopathy, were excluded. Patient with intraoperative or postoperative complications, including lens fixation that could not be classified as ‘‘secure and in-the-bag’’ or lens descentration greater than 0.5 mm were not included in the study. A standard ophthalmic evaluation, performed in all visits, which included distance (6m), intermediate (70cm) and near (33cm) best corrected and uncorrected visual acuity, biomicroscopy, intraocular pressure measurement and fundoscopy. The patients were randomized, using the Randomizer® program, into one of three groups for IOL implantation as follows: spheric monofocal group, AcrySof® Natural® (SN60AT, Alcon Labs), aspheric monofocal group, AcrySof® Natural®WF (SN60WF, Alcon Labs) and multifocal group, AcrySof® Restor® (SA60D3, Alcon Labs). All patients IOL calculation were done by immersion ultrasonic technique by single experienced examinator (A.F.P.M.) using the Ocuscan RXP biometer (Alcon Labs), and the IOL power selected with HofferQ or SRK/T formulas according to measured eye axial length(12). Target refraction was plano (0D), or the first positive value for the multifocal group and target refraction was plano (0D), or the first negative value for the spheric and aspheric monofocal group. Pupil diameters were Ginsburg box phtometer (85 cd/m 2 and 6 cd/m 2 ) by means of a Colvard pupillometer (Oasis, Glendora). All subjects underwent Rev Bras Oftalmol. 2009; 68 (4): 216-22 218 Nakano CT, Hida WT, Kara-Jose Junior N, Motta AFP, Fante D, Masson VF, Reis A, Pamplona M, Yamane IS, Holzchuh R, Avakian A Table 1 Coma, spherical, high-order, and total aberrations in the SN60AT spheric, SN60WF aspheric and SN60D3 multifocal groups Variable TOTAL SN60AT SN60WF SN60D3 TILTS SN60AT SN60WF SN60D3 HIGH SN60AT SN60WF SN60D3 COMA SN60AT SN60WF SN60D3 TREFOIL SN60AT SN60WF SN60D3 4FOIL SN60AT SN60WF SN60D3 SPHERICAL SN60AT SN60WF SN60D3 HiASTIG SN60AT SN60WF SN60D3 RMS3 SN60AT SN60WF SN60D3 RMS5 SN60AT SN60WF SN60D3 N Median SD Min Max Kruskal-Wallis test 32 32 32 1.901 1.521 1.284 0.557 1.186 0.535 0.972 0.789 0.730 2.957 5.742 2.495 KW = 9.42; p=0.009 SN60WF x SN60D3: p=0.68 S60WF x SN60AT: p=0.0047 SN60D3 x SN60AT: p=0.016 32 32 32 0.761 0.793 0.734 0.498 0.808 0.427 0.103 0.218 0.280 1.983 3.734 1.717 KW = 0.64 p=0.73 32 32 32 0.878 0.829 0.752 0.206 0.698 0.322 0.519 0.302 0.292 1.161 3.153 1.523 KW = 4.64 p=0.098 32 32 32 0.375 0.426 0.319 0.185 0.474 0.160 0.033 0.170 0.119 0.804 2.137 0.601 KW = 1.04 p=0.59 32 32 32 0.499 0.499 0.519 0.261 0.364 0.334 0.191 0.128 0.118 0.953 1.419 1.311 KW = 0.61 p=0.74 32 32 32 0.214 0.217 0.199 0.114 0.195 0.083 0.053 0.043 0.030 0.562 0.730 0.317 KW = 0.94 p=0.62 32 32 32 0.422 0.124 0.174 0.202 0.087 0.132 0.007 0.019 0.019 0.618 0.353 0.515 32 32 32 0.134 0.214 0.187 0.068 0.346 0.156 0.030 0.040 0.046 0.294 1.478 0.610 KW = 1.08 p=0.58 32 32 32 0.398 0.371 0.378 0.160 0.200 0.186 0.180 0.190 0.170 0.740 0.960 0.850 KW = 0.97 p=0.62 32 32 32 0.690 0.564 0.647 0.263 0.283 0.414 0.240 0.320 0.310 1.250 1.410 1.750 KW = 3.14 p=0.21 wavefront analysis using the OPD-scan wavefront aberrometer (Nidek, Japan) under at least 6mm dilated pupils with tropicamide 1%(13-19). Analysis of Wavefront Aberrations: One measurement by the OPD scan wavefront aberrometer from each eye was evaluated at 3 months postoperative day using software that follows the standards for calculating and reporting the optical aberrations of eyes. The parameters analyzed included 1) Root-mean-square (RMS) of HOA from the third to eighth orders; 2) RMS of the total spherical aberration; Rev Bras Oftalmol. 2009; 68 (4): 216-22 KW = 16.20; p=0.0003 SN60WF x SN60D3 p=0.17 SN60WF x SN60AT p=0.00046 SN60D3 x SN60AT p=0.0014 3) RMS of total coma; and 4) RMS of total trefoil. All performed monocularly with undilated pupils, uncorrected and with best correction in place. Visual acuity for far distance was tested with the Early Treatment Diabetic Retinopathy Study (ETDRS) chart nº 2106, Precision Vision, Aurora, Colorado, USA). at 100% and 9% contrasts, at a viewing distance of 4 meters under controlled photopic conditions(14). In the multifocal group the spherical add power addition was zero diopters spheric and aspheric groups was 3,00 diopters. The Comparison between OPD-scan results and contrast sensitivity of three intraocular lenses: spheric AcrySof SN60AT ... Table 2 Mean best corrected far visual acuity ETDRS chart with 100% and 9 % contrast (logMar) between SN60AT spheric, SN60WF aspheric and SN60D3 multifocal groups SN60AT SN60WF SN60D3 ETDRS 100% ·N · Average · SD · Median · Minimum · Maximum ETDRS 9% ·N · Average · SD · Median · Minimum · Maximum 32 -0.146 0.125 -0.170 -0.240 0.280 32 -0.165 0.128 -0.210 -0.300 0.100 32 -0.175 0.123 -0.200 -0.300 0.080 32 0.024 0.056 0.020 -0.100 0.140 32 -0.003 0.176 0.040 -0.300 0.220 32 0.040 0.169 0.020 -0.240 0.420 KruskalWallis test KW = 1.61 p=0.45 KW = 0.14 p=0.93 luminance of the photopic translucent chart 4-meter test, and Jaegger chart intermediate distance test was established at 85 cd/m2 (photopic) and for the near vision test a variation of 200 cd/m2 was allowed. Contrast sensitivity was measured by VCTS® 6000 (Vistech consultants) under photopic and mesopic conditions. The chart used displays sine-wave gratings at 5 standard spatial frequencies, from 1.5 to 18 cycles/ degree (cpd). The log (base 10) of the obtained values was then taken to obtain the contrast sensitivity values that were entered in the database for statistical analysis. All surgeries were performed by the same senior surgeon (C.T.N.), with the same technique, described as follow: under topical anesthesia, a 2.75 mm self-sealing clear-cornea incision on the steepest meridian axis was created. After injection of cohesive and dispersive viscoelastic material (Celoftal and Provisc, Fortworth) with soft-shell technique, a continuous curvilinear capsulorhexis was created and hydrodisection were achieved with a solution of 1% non-preserved lidocaine in balanced salt solution(20). Cataracts were extracted with Akahoshi prechop technique and by conventional phacoemulsification with Infiniti Vision System (Alcon Labs). After cortical aspiration, the IOL was placed in the bag with careful centration using Royale® (Asico) delivery system. In postoperative day 0, patients were given topic fourth generation quinolones (gatifloxacin 0.1%) four times a day for 7 days and steroids (dexametasone 0.1%) four times a day decreased over 30 days. The patients were 219 scheduled for postoperative clinical evaluation at day 1, day 3, day 7, day 30 and day 90. Statistics Data were analyzed using the Statistical Program for Social Sciences (SPSS) version 10.0. and Statistica version 5.1/97. Statistical analysis of the results was performed by Kruskal-Wallis, Q-square and t student tests for analysis. Results were expressed as means ± SD. A P value was adjusted less than 0.017 considered statistically significant. RESULTS Of the 96 eyes included in the study, 32 were implanted with SN60WF, 32 with SN60AT and 32 with SN60D3 IOLs. No intra-operative complication was recorded in this study. There were no statistical difference between age, gender (p=0.92) and the operated eyes (p=0.37). The age was between 65.13±7.34 in SN60AT group, 66.43±8.45 in SN60WF and 62.65±8.11 years old in SN60D3 group (p=0.45). The postoperative clinical course was uneventful in all groups. The wavefront analysis (microns unit) is shown in Table 1. There were no significant differences in the mean root-mean-square (RMS) values of astigmatism aberration (HiAstig), tetrafoil (T4), trefoil (TT), total coma (TC), tilts (Ti) and higher-order aberration (HOA). The mean and standard deviation of total aberration (microns unit) values of SN60AT was 1.901 + 0.56, SN60WF was 1.52+ 1.19, and for SN60D3 group was 1.41 + 0.54. Statistically significant differences were detected with more total aberration in SN60AT group (KW = 9.42; p=0.009) when compared to SN60D3 group (p=0.016) and SN60WF group (p=0.0047). No significant differences were found between SN60WF and SN60D3 groups (p=0.68). The SN60AT group (KW = 16.20; p=0.0003) showed with high spherical aberration values compared to the SN60WF (p=0.00046) and SN60D3 (p=0.0014) group. No statistical difference between SN60WF and SN60D3 group (p=0.17). The far-distance VA measured using ETDRS at 100% and 9% contrast are shown in table 2. The SN60WF group was superior to other IOLs groups, and the differences were not statistically significant. (p=0.45 in 100% and p=0.93 in 9%). The results of contrast sensitivity under photopic conditions testing are given in figure 1. The SN60D3 group compared to SN60AT group (p=0.016) had low contrast sensitivity (log units) with statistical difference Rev Bras Oftalmol. 2009; 68 (4): 216-22 220 Nakano CT, Hida WT, Kara-Jose Junior N, Motta AFP, Fante D, Masson VF, Reis A, Pamplona M, Yamane IS, Holzchuh R, Avakian A in 6.0 cpd (KW = 7.84; p=0.0199), but no statistical difference between SN60WF and SN60AT group (p=0.91) and SN60WF and SN60D3 group (p=0.051). No statistical difference was detected in 1.5cpd (KW = 7.298; p=0.026), 3.0cpd (KW = 3.699; P=0.16), 12cpd (KW = 2.99; p=0.22) and 18cpd (KW = 4.85; p=0.089). The results of contrast sensitivity under mesopic conditions testing are given in Figure 2. The SN60D3 group had low contrast sensitivity (log units) performed under mesopic conditions (KW = 10.79; p=0.0045) in 6cpd spatial frequency compared to the SN60AT group (p=0.011) and to the SN60WF group (p=0.007) with statistical significant differences (Figure 2). No significant differences were detected comparison between SN60AT and SN60WF (p=0.46). No statistical difference was detected in 1.5cpd (KW = 0.66; p=0.72), 3.0cpd (KW = 2.61; p=0.27), 12cpd (KW = 3.35; p=0.19) and 18cpd (KW = 1.54; p=0.46). DISCUSSION In this study, we investigated the OPD-scan analysis from the third to the eighth orders in a selected sample of 48 eyes, with a narrow range of refractive errors (range, - 1.25 to 0.50 diopters) and a relatively wide age range (49 - 78 years). Studies investigated the correlation between ocular aberrations measured by wavefront technology and visual performance(15,18). They found a high inverse correlation between aberrations and visual performance. This inverse correlation between ocular aberrations and visual performance was found only in data sets with a high range of aberrations and acuities16,18. Recently, studies found that higher-order aberrations, spherical aberration, and coma were weakly correlated Rev Bras Oftalmol. 2009; 68 (4): 216-22 with age, and increasing age accounted for only 10% or less of the variation in these values(19,20). In regard to aberrations our study, we found more eyes with total and spherical aberrations in the SN60AT group as compared to SN60WF (total p=0.0047; spherical p=0.00046) and SN60D3 (total p=0.016; spherical p=0.001). There are no studies in the current literature that used the OPD-scan to compare visual performance in pseudophakic patients using multifocal or other IOLs. An experimental study showed significantly positive spherical aberration in eyes with spherical IOLs, compared to aspheric IOL(7). Rocha and associates have the same results comparing multifocal with an aspheric IOLs(21). There is no current published study comparing the OPD-scan aberrometry in aspheric IOLs with others, but Marcos and associates, showed in a experimental study significantly positive spherical aberration in eyes with spherical IOLs, compared with aspheric IOLs(7). Recent advances in aspheric monofocal lens design may lend themselves to improvements in multifocal IOLs as well. We now realize that the spherical aberration of a manufactured spherical IOL tends to increase total optical aberrations. Perhaps not all aberrations should be eliminated during cataract surgery because their deleterious effect is not clearly obvious and may probably vary according to their IOL type. In our study the SN60AT, SN60WF and SN60D3 groups were implanted with blue-light filtering yellow tinted IOLs.This fact could interfere in the exams, but some authors have shown that there is no interference in the wavefront analysis, visual acuity, or in photopic or higher luminance mesopic contrast visual acuity with and without glare or chromatic discrimination using these IOLs(22). Associated with these IOL improvements, very Comparison between OPD-scan results and contrast sensitivity of three intraocular lenses: spheric AcrySof SN60AT ... precise axial length measurements provided to all patients an excellent uncorrected and best corrected final visual acuity at high contrast in ETDRS 100% chart. The visual acuity in low contrast settings tested with ETDRS 9% chart, all groups have an equal efficiency, but with a tendency to best performance in the WF group. There are no studies in the review of current literature published using this test to compare visual performance in pseudophakic patients using multifocal and other IOLs. The monocular contrast sensitivity, at photopic conditions the SN60AT and SN60WF IOLs had gone better than SA60D3 without statistical significance, according with previous studies published, while others studies showed a statistically difference between the SA60AT and SA60D3 groups(10,23). In mesopic conditions there were no statistical difference between the 3 groups. Other study showed lower contrast sensitivity under mesopic conditions in multifocal IOLs that used refractive technology(24). Aberrations cause incoming light that would otherwise be focused to a point to be blurred, which in turn causes a reduction in visual quality. This reduction in quality is more severe under low luminance conditions because spherical aberration increases when the pupil size increases. More attention should be devoted to the relation between wavefront analysis and visual performance, and reassessment of their clinical significance is needed. In conclusion, in all analyzed parameters of OPDscan aberrometry the aspheric and the multifocal IOLs provided less total and spherical aberrations than spheric IOLs. All IOLs provided an excellent high and low contrasts vision, the multifocal IOL was as good as the spheric and aspheric monofocal IOLs. intraocular monofocal asférica e 32 olhos com a lente intraocular monofocal esférica. A avaliação oftalmológica foi realizada no primeiro, terceiro, sétimo, e nonagésimo dia pós-operatório. Todos os exames foram padronizados, realizada por um único examinador sob condições controladas de luminosidade fotópicas estabelecidas em 85 cd/ m2, medida por meio de tabelas de ETDRS, sensibilidade ao contraste e análise de aberrometria com OPD-Scan. Resultados: As médias de aberração total foi superior no grupo SN60AT (KW = 9.42; p=0.009) quando comparada com o grupo SN60D3 (p=0.016) e o grupo SN60WF (p=0.0047). O grupo SN60AT (KW = 16.20; p=0.0003) apresentou superioridade nas medias de aberração esférica comparada com o grupo SN60WF (p=0.00046) e o grupo SN60D3 (p=0.0014). Nenhuma diferença significante foi encontrada na acuidade visual para longe com e sem correção óptica com a tabela de ETDRS a 100% e 9% de contraste. O grupo SN60D3 comparada a SN60AT (p=0.016) apresentou baixa sensibilidade ao contraste em condições fotópicas com diferença estatística a 6.0 cpg (KW = 7.84; p=0.0199), mas sem diferença estatística entre os grupos SN60WF e SN60AT (p=0.91) e entre os grupos SN60WF e SN60D3 (p=0.051). O grupo SN60D3 apresentou baixa sensibilidade ao contraste em condições mesópicas (KW = 10.79; p=0,0045) a 6cpg quando comparada com o grupos SN60AT (p=0.011) e SN60WF (p=0.007). Conclusão: As lentes intraoculares multifocais e asféricas apresentaram menos aberração esférica quando comparadas à lente intraocular esférica, além da prevista multifocalidade sem correção para longe e perto. Entretanto, o grupo multifocal apresentou baixa sensibilidade ao contraste. Descritores: Lentes; Lentes intraoculares; Sensibilidade de contraste; Facoemulsificação; Visão Acknowledgements This study was presented previously in University of São Paulo Ophthalmology Congress in november 2006. There were no financial support or interest in the equipment or method mentioned, no research or traveling grant support, no consulting services provided, or commercial and proprietary interest. 1. RESUMO 3. Objetivo: Comparar a sensibilidade ao contraste e análise de “wavefront” com OPD-scan em pacientes submetidos a cirurgia de facoemulsificação com implantes de lentes intraoculares AcrySof SN60D3 multifocal, AcrySof SN60WF monofocal asférica e AcrySof SA60AT monofocal esférica. Métodos: Trinta e dois olhos com a lente intraocular multifocal, 32 olhos com a lente 221 REFERENCES 2. 4. 5. Obuchowska I, Mariak Z. [Sir Harold Ridley—the creator of modern cataract surgery]. Klin Oczna. 2005;107(4-6):382-4. Polish. Dietze HH, Cox MJ. Limitations of correcting spherical aberration with aspheric intraocular lenses. J Refract Surg. 2005;21(5):S541-6. Guirao A, Redondo M, Geraghty E, Piers P, Norrby S, Artal P. Corneal optical aberrations and retinal image quality in patients in whom monofocal intraocular lenses were implanted. Arch Ophthalmol. 2002;120(9):1143-51. Alió JL, Schimchak P, Negri HP, Montés-Micó R. Crystalline lens optical dysfunction through aging. Ophthalmology. 2005;112(11):2022-9. Comment in: Ophthalmology. 2007;114(3):618; author reply 619. Rawer R, Stork W, Spraul CW, Lingenfelder C. Imaging quality of intraocular lenses. J Cataract Refract Surg. 2005;31(8):1618-31. Rev Bras Oftalmol. 2009; 68 (4): 216-22 222 6. 7. 8. 9. 10. 11. 12. 13. 14. 15. 16. Nakano CT, Hida WT, Kara-Jose Junior N, Motta AFP, Fante D, Masson VF, Reis A, Pamplona M, Yamane IS, Holzchuh R, Avakian A Nio YK, Jansonius NM, Geraghty E, Norrby S, Kooijman AC. Effect of intraocular lens implantation on visual acuity, contrast sensitivity, and depth of focus. J Cataract Refract Surg. 2003;29(11):2073-81. Marcos S, Barbero S, Jiménez-Alfaro I. Optical quality and depth-of-field of eyes implanted with spherical and aspheric intraocular lenses. J Refract Surg. 2005;21(3):223-35. Friström B, Lundh BL. Colour contrast sensitivity with different intraocular lens materials in the right and left eyes in same day surgery. Acta Ophthalmol Scand. 2005;83(4):443-7. Rodríguez-Galietero A, Montés-Micó R, Muñoz G, AlbarránDiego C. Comparison of contrast sensitivity and color discrimination after clear and yellow intraocular lens implantation. J Cataract Refract Surg. 2005;31(9):1736-40. Oliveira F, Muccioli C, Silva LMP, Soriano ES, Souza CEB, Belfort Júnior R. Avaliação da sensibilidade ao contraste e da estereopsia em pacientes com lente intra-ocular multifocal. Arq Bras Oftalmol. 2005;68(4):439-43. 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Rocha KM, Chalita MR, Souza CE, Soriano ES, Freitas LL, Muccioli C, Belfort R Jr. Postoperative wavefront analysis and contrast sensitivity of a multifocal apodized diffractive IOL (ReSTOR) and three monofocal IOLs. J Refract Surg. 2005;21(6):S808-12. 22. Mayer S, Wirbelauer C, Pham DT. [Functional results after intraocular lens implantation with or without blue light filter: an intraindividual comparison]. Klin Monatsbl Augenheilkd. 2006;223(2):142-6. German. 23. Souza CE, Muccioli C, Soriano ES, Chalita MR, Oliveira F, Freitas LL, et al. Visual performance of AcrySof ReSTOR apodized diffractive IOL: a prospective comparative trial. Am J Ophthalmol. 2006;141(5):827-32. 24. Alfonso JF, Fernández-Vega L, Baamonde MB, Montés-Micó R. Correlation of pupil size with visual acuity and contrast sensitivity after implantation of an apodized diffractive intraocular lens. J Cataract Refract Surg. 2007;33(3):430-8. Correspondig author: Wilson Takashi Hida Postal adress: Afonso de Freitas street, 488 - Paraíso CEP 04006-052 - São Paulo city – São Paulo state Brazil ARTIGO ORIGINAL 223 Resultados da associação trabeculotomiatrabeculectomia em pacientes não idosos Results of trabeculotomy-trabeculectomy in not elderly patients Angelo Ferreira Passos1, Kélcia Kiefer2, Rodrigo Carvalho Amador3 RESUMO Objetivo: Avaliar os resultados da associação trabeculotomia-trabeculectomia (Tro-Trec) em pacientes de 12 a 50 anos, com glaucoma moderado ou avançado. Métodos: estudo prospectivo de 19 olhos de 13 pacientes, de 12 a 50 anos (média de 33,77 ± 11,43), submetidos à Tro-Trec e seguidos por 21,6 ± 7,2 (5,1 a 29,7) meses. Resultados: A pressão intraocular, (PIO) média inicial de 32,03 ± 10,01 mmHg (variando de 12 a 50), foi reduzida para 9,42 mmHg ± 3,50 (2 e 16), com redução da medicação tópica de 1,47 ± 1,54 (0 a 4) para 0,16 ± 0,37 (0 a 1) medicamentos. A PIO alvo foi atingida em 15 (78,94%) olhos. Houve acentuada redução da PIO mesmo em olhos sem bolhas significativas. O procedimento resultou em hipotonia persistente em três olhos. Conclusão: A cirurgia proposta foi eficaz. A acentuada redução da PIO em olhos sem bolhas significativas sugere que, na faixa etária analisada, a trabeculotomia isolada pode ser suficiente para controle da PIO em alguns pacientes. A incidência de hipotonia foi significativa, porém não superior à relacionada à trabeculectomia isolada, para a mesma faixa etária. Descritores: Trabeculectomia/métodos; Trabeculotomia; Resultado de tratamento; Glaucoma/cirurgia; Pressão intraocular; Adulto; Adolescente 1 Professor Associado da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES) e Chefe do Serviço de Oftalmologia do Hospital Universitário Cassiano Antônio Moraes (HUCAM) - Vitória - ES, Brasil; 2 Médica Residente do terceiro ano do Serviço de Oftalmologia do HUCAM - Vitória - ES, Brasil.; 3 Professor Substituto da UFES e Médico do Serviço de Oftalmologia do HUCAM - Vitória - ES, Brasil. Trabalho realizado no Serviço de Oftalmologia do HUCAM da Universidade Federal do Espírito Santo - UFES - Vitória - ES, Brasil Recebido para publicação em: 10/2/2009 - Aceito para publicação em 28/7/2009 Rev Bras Oftalmol. 2009; 68 (4): 223-30 224 Passos AF, Kiefer K, Amador RC INTRODUÇÃO A trabeculectomia tem sido útil para o tratamento de glaucomas avançados, em que são necessários níveis mais baixos de pressão intraocular (PIO), mesmo em pacientes mais jovens. No entanto, tem os inconvenientes e riscos relacionados com a bolha de filtração(1-3), riscos esses que aumentam com tempo de vida do paciente. Por sua vez, a trabeculotomia é uma técnica em que a integridade do globo ocular é mais preservada, não implicando em maiores riscos de complicações pósoperatórias. Essa cirurgia, bem estabelecida como relativamente eficaz e segura, com resultados duradouros no tratamento do glaucoma primário infantil(4-14), não tem tido considerável importância no tratamento do glaucoma do adulto, em nosso meio. Por outro lado, revendo a literatura mundial, observa-se que a trabeculotomia, tanto isolada quanto associada à facoemulsificação, não é tão pouco utilizada como possa parecer, no tratamento do glaucoma do adulto(6-7,15-30). No entanto, nesses casos, parece resultar em menor redução da PIO, em relação ao que ocorre com a trabeculectomia(6-7,15-17,19-20,23-24). Com relação à associação trabeculotomiatrabeculectomia (tro-trec), vários são os relatos de sua exitosa utilização em casos de glaucoma congênito e infantil(4-5,7,9,31). No entanto, foram encontradas apenas duas publicações da utilização dessa cirurgia combinada no adulto. Uma delas consistiu na associação da trabeculotomia com a técnica convencional da trabeculectomia(20), tendo sido a outra associada com uma técnica não penetrante(32). No presente trabalho se propôs avaliar os resultados obtidos com a técnica combinada tro-trec, para tratamento do glaucoma em pacientes de 12 a 50 anos. A análise foi restrita a essa faixa etária, considerando o fato de os resultados dessa técnica combinada já estarem bem definidos nos glaucomas infantis primários e também de já existirem trabalhos mostrando que os resultados da trabeculotomia não são tão bons nos pacientes mais idosos(6,8,33). A indicação da técnica combinada foi reforçada pelo fato de vários pacientes residirem em outros municípios, e a necessidade de que sua PIO fosse controlada com o menor número de procedimentos possível, o que foi considerado mais viável com a associação de dois procedimentos. Esse entendimento baseouse no fato de que, na faixa etária em questão, existiriam boas chances de se obter o controle da PIO em alguns casos, exclusivamente pela ação da trabeculotomia, em Rev Bras Oftalmol. 2009; 68 (4): 223-30 caso de falência da trabeculectomia(6,25,33-34). Por outro lado, caso a PIO não estivesse controlada, poderia ser tentada a recuperação da fístula da trabeculectomia, pelo simples procedimento do agulhamento, com boas chances de sucesso(35). MÉTODOS Foram analisados prospectivamente 19 olhos de 13 pacientes, tratados com tro-trec, no período de 01/05/ 2006 a 15/09/2008. Foram incluídos pacientes na faixa etária de 12 a 50 anos, com glaucoma bilateral, primário. O critério de sucesso utilizado foi a obtenção da PIO alvo, sem ou com uso de medicação hipotensora tópica. Para os olhos com glaucoma muito avançado foi considerada PIO alvo de 6,5 mmHg a 12 mmHg, já para aqueles com glaucoma de dano moderado foi considerada PIO alvo de até 16mmHg(36). Foi utilizado o teste “t de Student”, para a avaliação da significância estatística da redução da PIO e do número de colírios utilizados. Técnica operatória e pós-operatório (po) Todas as cirurgias foram realizadas pelo mesmo cirurgião, com anestesia peribulbar com Ropivacaína, exceto nos dois olhos de um paciente de 12 anos, em que foi utilizada anestesia geral com Sevorane. Inicialmente foi confeccionado um retalho conjuntival base fórnix, súpero-nasal, seguido de retalho escleral de meia espessura, de 2,5 x 3,5mm; paracentese da câmara anterior; localização e sondagem do canal de Schlemm, rompendo-se o trabeculado para ambos os lados do óstio de entrada, na medida do possível com toda extensão da sonda do trabeculótomo; realização da trabeculectomia propriamente dita, pela retirada de fragmento córneo-escleral, a partir do orifício de penetração no Schlemm, abrangendo a área do trabeculado; iridectomia; sutura do retalho escleral com mononylon 10.0; sutura do retalho conjuntival com o mesmo fio; injeção de dois miligramas de dexametasona, subconjuntival. Em 15 dos 19 olhos analisados, foi utilizada mitomicina a 0,5%, por dois minutos, seguida de lavagem com 20 mililitros de solução salina balanceada. Após a cirurgia, os pacientes foram avaliados no primeiro, quinto, 12º 30°, 60º e 90°dia PO e, depois, a cada três meses. De início, foi prescrito colírio de antibiótico e corticóide, por uma semana, passando-se, em seguida, para o uso do corticóide isolado. O esteróide foi prescrito inicialmente, seis vezes ao dia, com redução gradativa e suspensão em cerca de oito semanas. Resultados da associação trabeculotomia-trabeculectomia em pacientes não idosos 225 Tabela 1 Resultado geral, em relação à redução da PIO e da medicação tópica e oral PIO * Medicação tópica* Acetazolamida oral Inicial Final 32,03 mmHg ± 10,01 (12-50) 1,47 ± 1,54 (0 a 4); 5 olhos 9,42 mmHg ± 3,50 (2 -16) 0,16 ± 0,37 (0 a 1) nenhum (*) média ± desvio padrão (mínima-máxima); PIO: pressão intraocular; mmHg: milímetros de mercúrio Tabela 2 Relação da condição da bolha com a PIO, levando-se em consideração a quantidade de medicação hipotensora Bolha Ausente Nº de olhos PIO média PO DP(min-máx) PIO média PO, DP (min-max) Medicação tópica PO PIO média pré-op, DP(min-max) Medicação tópica pré-op Acetazolamida oral pré-op Mínima 3 2 11,33 14,50 ±2,31 (10-14) ± 2,12 (13-16) 12,59 ± 2,60 (10-16) 0,2 ± 0,45 (0-1) 31,70 ± 4,27 ( 25 – 35,5) 1,60 ± 1,67 (0-4) 2 olhos Média Extensa 4 10 9,50 7,56 ±1,73 (8-12) ± 3,57 (2-12) 8,28 ± 3,09 (2 -12) 0,14 ± 0,36 (0-1) 32,14 ± 11,53 ( 12 – 50) 1,35 ± 1,49(0-4) 3 olhos PIO: pressão intraocular em milímetros de mercúrio; Nº: número; PO: pós-operatório(a)-última avaliação; DP: desvio padrão; min: valor mínino; max: valor máximo; pré-op: pré-operatório Tabela 3 Complicações relacionadas à cirurgia de trabeculotomia + trabeculectomia, realizada em 19 olhos de 13 pacientes Complicações Seidel Hipotonia Câmara anterior rasa Hifema Catarata Dobras na coróide Diminuição da AV Precoces e transitórias (*) Número de olhos (%) Tardias ou duradouras (**) Número de olhos (%) 3 (15,78)(***) 9 (47,36) 2 (10,52) 13 (68,42) 1 (5,2) 3 (15,7) 1 (5,2) não avaliada 1 (5,26) 2 (10,52) 1 (5,26) (*) Início e resolução antes do 3º mês; (**) início ou persistência após o 3º mês; (***) Dentre esses três casos de Seidel precoce, um não foi transitório, com resolução espontânea, necessitando, como no único caso de ocorrência tardia, de correção por cirurgia; AV: acuidade visual Rev Bras Oftalmol. 2009; 68 (4): 223-30 226 Passos AF, Kiefer K, Amador RC B A Figura 1A:- Catarata cortical posterior central, com opacidade periférica mais intensa, em olho com hipotonia; B: Bolha muito extensa, com palidez acentuada, no mesmo olho de A, após realização de dois agulhamentos com injeção de mitomicina RESULTADOS Dos 13 pacientes tratados, dez eram do sexo masculino (73,92%). Nove (69,23%) eram pardos, três (23,07%) negros e um (7,69%) branco. A idade variou de 12 a 50 anos (média 33,77 ± 11,43 anos). Havia apenas um paciente com 12 anos, tendo os outros mais de 23 anos. Todos os dezenove olhos eram fácicos e não haviam sido submetidos a nenhum procedimento cirúrgico. Nenhum dos olhos apresentava dimensões fora dos padrões normais, alta ametropia ou alterações significativas do segmento anterior. Também não havia qualquer história ou sinais oculares que pudessem sugerir uma origem secundária para o glaucoma, como trauma ou inflamação. Quanto aos achados gonioscópicos préoperatórios, todos os olhos apresentavam seio camerular amplo, sem disgenesias significativas. Alguns olhos apresentavam apenas certa exuberância dos processos irianos, mas sem alteração aparente, que viesse a sugerir obstrução da drenagem do aquoso. Quinze olhos apresentavam glaucoma terminal ou muito avançado, com escavação total ou praticamente total, e três olhos, glaucoma moderadamente avançado, com escavação 0,8 x 0,8. A PIO média inicial de 32,03 ± 10,01 mmHg (12 a 50) foi reduzida para 9,42 mmHg ± 3,50 (2 a 16) (p< 0,01) com redução da medicação tópica de 1,47 ± 1,54 (0 a 4) para 0,16 ± 0,37 (0 a 1) medicamentos (p >0,1). Apenas três pacientes necessitaram do uso de somente um medicamento hipotensor ocular de uso tópico. A acetazolamida sistêmica pode ser suspensa nos quatro pacientes (cinco olhos) que dela faziam uso antes da cirurgia (Tabela 1). Rev Bras Oftalmol. 2009; 68 (4): 223-30 O tempo de seguimento foi de 21,6 ± 7,2 meses (5,1 – 29,7 meses), ao final do qual, três olhos (15,78%) apresentavam PIO menor que 6,5 mmHg, treze olhos (68,42%), PIO entre 6,5 e 12mmHg, e três olhos (15,78%), PIO acima de 12 (de 13 a 16). Dentre os 19 olhos tratados, para os 15 que apresentavam glaucoma muito avançado ou terminal, cuja PIO alvo foi considerada de 6,5 mmHg a 12 mmHg, o objetivo foi atingido em onze; um olho encontrava-se com PIO de 13 mmHg; três olhos (15,78% do total) ficaram com hipotonia, um com PIO de 2 mmHg e dois com PIO de 4 mmHg. Para os quatro olhos com glaucoma com grau moderado de evolução, cuja PIO alvo considerada foi de até 16 mmHg, o objetivo foi alcançado em todos. Na última avaliação, 14 dos 19 olhos tratados apresentavam bolhas de filtração bem estabelecidas, sendo que em 10 olhos eram de grande tamanho, e em quatro, de médio tamanho. Dois olhos apresentavam bolhas muito pequenas e três olhos não apresentavam bolha. Nessa ocasião, a PIO média era de 7,56 mmHg ± 3,57 (2-12) no grupo com bolhas grandes, 9,50mmHg ± 1,73 (8-12) nos olhos com bolhas médias, 14,50mmHg ± 2,12 (13-16) no grupo com mínimas bolhas e de 11,33mmHg ± 2,31 (10-14) nos olhos sem bolhas (Tabela 2). Corte de sutura do retalho escleral foi realizado em apenas um caso, com laser de argônio, não tendo surtido efeito. Cinco olhos (26,31%) foram submetidos ao agulhamento, sendo que, em dois deles, o procedimento foi realizado por duas vezes. Dois desses olhos apresentaram hipotonia duradoura e os outros três foram considerados como sucesso cirúrgico. As complicações ocorridas nas cirurgias são resumidas na Tabela 3. Resultados da associação trabeculotomia-trabeculectomia em pacientes não idosos Dos três casos de hipotonia duradoura ou persistente, um apresentava dobras de coróide e catarata incipiente (Figuras 1 A e B), com discreta redução da acuidade visual; outro caso apresentava dobras de coróide, estando também com câmara anterior rasa, na última avaliação. Dos 13 casos de hifema, apenas um foi importante, acometendo 2/3 da câmara anterior e tendo persistido por quatro semanas. Dentre os outros 12 casos, em que foram discretos, em seis, resolveram-se em até cinco dias, e, nos outros seis, de seis a doze dias. No pós-operatório, todos os pacientes apresentavam o óstio interno da trabeculectomia livre. Quanto à trabeculotomia, o achado mais freqüente foi o de uma lâmina mais longa ou mais curta, correspondente à parede posterior ou interna do Sclemm, que foi rompida, quase aposta ao leito do canal, aberto. Menos frequentemente, havia simplesmente uma depressão na região do canal de Schlemm, sugerindo a eliminação de sua parede posterior. Áreas de gônio-sinéquias foram observadas em vários olhos, ao nível da trabeculotomia. DISCUSSÃO No presente trabalho, a técnica combinada TroTrec provocou expressiva redução da PIO no grupo de 19 olhos de 13 pacientes tratados, também com grande redução da medicação hipotensora. A PIO média inicial de 32,03 ± 10,01 mmHg (12 - 50) foi reduzida para 9,42 mmHg ± 3,50 (2 e 16), com redução da medicação tópica de 1,47 ± 1,54 (0 a 4) para 0,16 ± 0,37 (0 a 1) medicamentos. Apenas três pacientes necessitaram do uso de somente um medicamento hipotensor ocular de uso tópico. Os quatro pacientes (cinco olhos) que faziam uso da acetazolamida oral antes da cirurgia puderam suspendê-la após o procedimento. Com o tempo de seguimento médio de 21,6 ± 7,2 meses (5,1 – 29,7 meses), a PIO alvo havia sido obtida em 11 dos 15 olhos que apresentavam glaucoma avançado ou terminal, que ficaram com PIO de 6,5 a 12mmHg. Um olho estava com PIO de 13, na ocasião, apenas com um medicamento hipotensor, e três olhos (15,78%) estavam com hipotonia (dois com 4mmHg e um com 2mmHg). Os quatro olhos com glaucoma com moderada evolução estavam com PIO 9, 10, 14 e 16 mmHg, sendo, portanto, a PIO alvo alcançada em todos. Em relação aos três casos de hipotonia, eram todos olhos com glaucoma terminal, com AV de conta dedos a meio metro, motivo pelo qual houve pouca repercussão clínica. Na última avaliação, um apresentava câmara anterior rasa, outro, dobras de coróide, e o último, 227 dobras de coróide e catarata incipiente. Apenas nesse último, foi constatada discreta redução adicional da AV, que ocorreu somente após o início da catarata. Na última avaliação, 14 olhos apresentavam bolhas de filtração bem estabelecidas, sendo que, em 10 olhos, as bolhas eram de grande tamanho e, em quatro, de médio tamanho. Em dois outros olhos, as bolhas eram muito pequenas, mínimas, e, em três olhos, não havia bolha de filtração. Comparando a PIO antes do procedimento cirúrgico e na última avaliação nos três olhos sem bolha de filtração e nos dois olhos com bolhas de filtração insignificantes, verifica-se que houve acentuada redução da PIO nesses dois grupos. A média da PIO destes cinco olhos, no pré-operatório, era de 31,70 ± 4,27 (25-35,5) mmHg, tendo sido reduzida para 12,59 ± 2,60 (10-16) mmHg, com redução dos número de colírios de 1,60 ±1,67 (0-4) para 0,2 ± 0,45 (0-1), sendo que dois pacientes (dois olhos) usavam acetazolamida oral e deixaram de usar. Isso sugere um acentuado efeito hipotensor da trabeculotomia isolada, nesses casos, levando a supor que a essa cirurgia isoladamente pode ser suficiente para o controle da PIO de grande número desses pacientes, mormente se, pelo estadiamento do glaucoma, não forem requeridos níveis muito baixos de PIO(19,25,26). E pelo fato de alguns autores que avaliaram o efeito da trabeculotomia, em diferentes idades, terem sugerido um efeito menos relevante dessa cirurgia em pacientes com idade mais avançada(8,23,25,30,33) no presente trabalho, foram analisados somente pacientes na faixa etária dos 12 aos 50 anos. Os quatro pacientes (cinco olhos) com aparente controle da PIO apenas pelo efeito da trabeculotomia tinham idade de 12, 23 (dois olhos), 26 e 50 anos. Quatro deles já apresentavam significativo tempo de seguimento, de 22,6 a 29,7 meses, e um, de apenas 8,6 meses. Chama atenção a durabilidade do efeito da trabeculotomia. No glaucoma congênito e infantil, uma vez controlada a PIO com essa cirurgia, os autores desse trabalho têm observado a persistência do seu efeito ao longo de muitos anos. Essa durabilidade tem sido relatada por outros autores(33), inclusive tratando pacientes com idade entre 22 e 80 anos(20,23,29,33). Ainda, no presente relato, outro fato que fala a favor de importante efeito redutor da PIO, da trabeculotomia isolada, é o que foi observado no comportamento dos olhos que foram submetidos ao agulhamento, devido à falência da fistula da trabeculectomia. Nenhum dos cinco olhos submetidos ao agulhamento apresentava bolha de filtração, antes do primeiro procedimento (dois olhos foram submetidos a dois agulhamentos) e esse foi realizado, em um dos olhos, aos 12 dias de pós-operatório, enquanto que, nos Rev Bras Oftalmol. 2009; 68 (4): 223-30 228 Passos AF, Kiefer K, Amador RC demais, foi realizado de três a onze meses após a cirurgia. A PIO média logo antes do agulhamento era de 20,80 ± 9,23 (14-38) mmHg, com 0,6 ± 0,48 (0-1) medicamentos tópicos. Nenhum paciente fazia uso de acetazolamida oral. Antes da cirurgia de Tro-Trec, estes mesmos olhos apresentavam PIO média de 34,0 ± 13,44 mmHg (12 a 50), com o uso de 0,4 ± 0.8 (0-2) medicamentos hipotensores oculares tópicos, estando, ainda, um destes olhos, sob efeito de acetazolamida oral. Supõe-se, assim, na ausência de bolha, que a trabeculotomia isolada havia reduzido a PIO nesse grupo de cinco olhos, em média 13,2 mmHg, com redução percentual de 38,82%. Por outro lado, os três olhos com hipotonia apresentavam grandes bolhas de filtração, o que pode fazer supor que a causa da hipotonia tenha sido a hiperfiltração pela trabeculectomia, provavelmente, não sendo devido à associação da trabeculotomia. A hipotonia, se considerada como PIO igual ou inferior a 6 mmHg, não é relatada em nenhum dos trabalhos em que a trabeculotomia foi utilizada isoladamente, para tratamento do glaucoma juvenil ou do adulto(4,5,16,19-25,33). A ocorrência de hipotonia é sabidamente mais freqUente em pacientes jovens e sua incidência em três (15,78%) dos 19 olhos, em pacientes com média de idade de 34,33 anos (27, 30 e 46 anos), não é superior à relatada por alguns autores em trabeculectomias isoladas(37,38) . É importante ressaltar que, para a realização da trabeculotomia associada à trabeculectomia, para facilitar a identificação do canal de Schlemm, confeccionou-se o retalho escleral com as incisões radiais tendo seus limites anteriores muito à frente, ao nível de limbo, o que deve expor os olhos a um maior risco de hipotonia, principalmente em pacientes jovens(39). No serviço em que se realizou esse trabalho, não se vem mais realizando esse tipo de retalho, procurando fazê-lo mais largo, ou seja, maior no sentido lateral, e bem mais curto sentido ântero-posterior, o que viabiliza o acesso à região do Schlemm, mesmo com o limite anterior das incisões radiais ficando mais para trás. Além disso, tem se procurado confeccionar um retalho de espessura maior, o que possibilita também maior controle sobre o seu fechamento(39,40). Deve-se salientar ainda que, em dois dos três olhos com hipotonia, esta ocorreu após a realização de agulhamento com injeção subconjuntival de mitomicina, ficando um com PIO de 2 mmHg e outro de 4 mmHg. Cada um desses olhos foi agulhado duas vezes. Quanto às outras complicações importantes ocorridas, é importante ressaltar a ocorrência de apenas um caso de hifema intenso e que persistiu por cerca de quatro semanas. Enquanto a ocorrência de pequenos hifemas que se resolvem nos primeiros dias do pós-operatório é Rev Bras Oftalmol. 2009; 68 (4): 223-30 muito freqüente, os hifemas duradouros são de ocorrência bem rara nas trabeculotomias(4,5,15,16,19-25,33,41). Parece que os adultos são mais susceptíveis a esses últimos que as crianças(4,5,22,25,31,33). Quanto à ocorrência de picos hipertensivos no PO, eles não foram observados, ao contrário de sua ocorrência mais freqüente nos casos de trabeculotomia isolada(15,16,18-25,29,32). Enfim, a utilização do procedimento combinado trotrec se fundamentou na necessidade especial da obtenção de um resultado favorável, com o menor número de procedimentos possível, e objetivando-se níveis mais baixos de PIO.Além disso, desse procedimento pode-se esperar o controle da PIO, mesmo em caso de falha da trabeculectomia, apenas pela ação da trabeculotomia(6,25,33,34), mantendo-se o olho praticamente íntegro, sem os riscos da bolha de filtração, o que se reveste de especial importância na faixa etária analisada, com perspectiva de vida de muitos anos. Por outro lado, no caso de falha da trabeculectomia, sem controle adequado da PIO, pode ser tentada a recuperação da fístula, pelo simples procedimento do agulhamento, com boas chances de sucesso(35). CONCLUSÃO A cirurgia proposta foi eficaz na redução da PIO e da medicação hipotensora, com obtenção da PIO alvo em 78,94% dos olhos. A acentuada redução da PIO em cinco olhos sem bolhas de filtração significativa sugere que, dependendo da PIO alvo, a trabeculotomia isolada pode ser suficiente, em boa percentagem de pacientes da faixa etária analisada. Houve uma incidência significativa de hipotonia, porém não superior à relacionada à trabeculectomia isolada, para a mesma faixa etária. Com isso, novas formas de realizar a trabeculectomia devem ser consideradas, visando reduzir a incidência dessa complicação. As conclusões do estudo são limitadas pela casuística pequena, assim como pela utilização dos dois olhos de alguns pacientes. Assim, também não foi possível avaliar diferença de resultados, levando-se em consideração a idade. Trabalho com maior número de casos poderia trazer conclusões mais definitivas. ABSTRACT Purpose: To evaluate the results of the trabeculotomytrabeculectomy combined procedure in 12 to 50 years old patients with moderate and advanced glaucoma. Methods: Nineteen eyes of thirteen patients underwent a trabeculotomy-trabeculectomy procedure and were Resultados da associação trabeculotomia-trabeculectomia em pacientes não idosos prospectively analyzed and followed up for 21,6 ± 7,2 (5,1 a 29,7) months. Results: IOP was reduced from 32,03 ± 10,01 (12 to 50) mmHg to 9,42 ± 3,50 (2 e 16) mmHg with the number of topical medications being reduced from 1,47 ± 1,54 (0 a 4) to 0,16 ± 0,37 (0 a 1). The target IOP was obtained in 15 of the eyes (78,94%). A great IOP reduction was obtained in eyes without significant blebs. Three eyes developed persistent hipotony. Conclusion: The procedure proved to be effective. The IOP reduction in eyes without significant blebs make us to infer that isolated trabeculotomy should be sufficient to control IOP for some of these eyes. The occurency of hipotony was similar to that from isolated trabeculectomy for pacients of the same age. Keywords: Trabeculectomy/methods; Trabeculotomy; Treatment outcome; Glaucoma/surgery; Intraocular pressure; Adult; Adolescent REFERÊNCIAS 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. 10. 11. 12. 13. 14. Borisuth NS, Phillips B, Krupin T. The risk profile of glaucoma filtration surgery. Curr Opin Ophthalmol. 1999;10(2):112-6. Broadway DC, Chang LP. Trabeculectomy, risk factors for failure and the preoperative state of the conjunctiva. J Glaucoma. 2001;10:237-49. Shigeeda T, Tomidokoro A, Chen YN, Shirato S, Araie M. Longterm follow-up of initial trabeculectomy with mitomycin C for primary open-angle glaucoma in Japanese patients. J Glaucoma. 2006;15(3):195-9. Elder MJ. Combined trabeculotomy-trabeculectomy compared with primary trabeculectomy for congenital glaucoma. Br J Ophthalmol. 1994;78(10):745-8. Mullaney PB, Selleck C, Al-Awad A, Al-Mesfer S, Zwaan J. Combined trabeculotomy and trabeculectomy as an initial procedure in uncomplicated congenital glaucoma. Arch Ophthalmol. 1999;117(4):457-60. 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Comparative study of direct ophthalmoscopy between conventional ophthalmoscope and wide field ophthalmoscope (panoptic) as evaluation method Eduardo de França Damasceno1, Nadyr Antonia Pereira Damasceno2, Adroaldo de Alencar Costa Filho3 RESUMO Objetivo: Comparação da facilidade de aprendizado na realização da oftalmoscopia direta pelos alunos da graduação médica com o uso do oftalmoscópio convencional e do Panoptic. Métodos: Realizou- se um estudo comparativo da facilidade de aprendizado entre o uso do oftalmoscópio convencional e do panoptic para a realização do exame de fundo de olho de pacientes normais e com determinadas alterações específicas de fundo de olho. Foi usado para tal aferição um questionário formulado pelos autores e respondido pelos alunos da graduação na primeira e na oitava semana do curso. Resultados: Na primeira semana do curso, dos 60 alunos avaliados somente 1.60% tiveram maior facilidade de manipulação do aparelho com o panoptic, contrastando com 10.35% com o uso do convencional. Na oitava semana, 43.33% dos alunos demonstrou maior facilidade de manipulação com o uso do panoptic, contrastando com 17% com o uso do convencional. O teste estatístico de Kruskal Wallis se revelou de significância expressiva ( p < 0,05). Conclusão:: O oftalmoscópio de campo amplo (panoptic) necessita de um tempo de aprendizagem de uso um pouco maior em relação ao convencional, porém após este período facilita o aprendizado da oftalmoscopia direta por melhorar a observação das estruturas fundoscópicas. Descritores: Oftalmoscopia/métodos; Técnicas de diagnóstico oftalmológico; Educação médica; Questionário 1 Staff médico do Setor de Retina e Vítreo do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho da Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ – Rio de Janeiro (RJ), Brasil; 2 Staff médico do Setor de Retina e Vítreo do Hospital Naval Marcílio Dias – Rio de Janeiro (RJ), Brasil; 3 Professor Adjunto do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho da Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ – Rio de Janeiro (RJ), Brasil. Instituição: Hospital Universitário Clementino Fraga Filho da Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ – Rio de Janeiro (RJ), Brasil Recebido para publicação em: 14/10/2008 - Aceito para publicação em 23/7/2009 Rev Bras Oftalmol. 2009; 68 (4): 231-6 232 Damasceno EF, Damasceno NAP, Costa Filho AA INTRODUÇÃO O estudo de propedêutica de fundo de olho se constitui numa das ferramentas fundamentais para a formação acadêmica, durante o curso de graduação médica. Embora variável na sua grade curricular em relação à carga horária, este tópico pedagógico é de grande utilidade, até mesmo como cabedal semiológico de outras especialidades(1,2). Nesta mesma idéia, quanto ao melhor aproveitamento desta carga horária, as atividades práticas nesta área devem ser incentivadas aos alunos, para serem criadas condições, onde os mesmos busquem ativamente o conhecimento(3). Esta proposta tem como objetivo avaliar criativamente uma forma de aprendizado mais prático de oftalmologia na graduação médica, tal como o exame de fundoscopia . Ainda mais oportunamente, objetiva-se avaliar a propedêutica de um novo tipo de oftalmoscópio de campo amplo. O oftalmoscópio de campo amplo (panoptic) oferece um campo de observação de 30º, enquanto o convencional apresenta-se com campo de 10º, mesmo com dilatação pupilar. A literatura médica é pouco rica neste assunto, devido em parte a ser um tema didático da formação universitária médica, bem como sob o aspecto específico mais de técnica semiológica em oftalmologia. Abordando de maneira mais direta, somente há o trabalho de Mc Comiskie et al. em 2004 e outro trabalho de Gill et al. também de 2004 como técnica de “screening” para detecção de retinopatia diabética(4,5). Desde então, é pouco conhecida a diferença técnica entre os dois tipos de oftalmoscópios . Destarte, é inédita na literatura, a idéia de aproveitar a praticidade do uso do oftalmoscópio de campo amplo (panoptic) no ensino fundamental de oftalmologia. Assim, torna-se o objetivo deste trabalho avaliar comparativamente a facilidade de aprendizado de oftalmoscopia pelos alunos da graduação médica da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), utilizando dois aparelhos oftalmoscópios distintos: convencional x panoptic. METODOS Amostragem: 60 alunos da turma do 8º. período do curso de Medicina da Universidade Federal do rio de janeiro (UFRJ), realizado de fevereiro a junho de 2002. Rev Bras Oftalmol. 2009; 68 (4): 231-6 Avaliação por meio de questionário de aprendizado, preenchido por cada estudante após a 1ª e a 8ª semana de instrução de aulas práticas no ambulatório de oftalmologia. Oftalmoscópio: Oftalmoscópio direto convencional (Welch Allen) Oftalmoscópio direto de campo amplo (panoptic – Welch Allen) Observações técnicas: Todos os alunos foram instruídos e treinados continuamente com ambas as técnicas de oftalmoscopia, simultaneamente, sem que houvesse privilégio do treinamento de uma técnica sobre a outra. Questionário de avaliação de aprendizado: Baseado em variáveis com graduação qualitativa e nominativa crescente denominada de níveis fácil, moderado e difícil ( segundo a facilidade de observação de sinais de fundo de olho e manipulação dos dois oftalmoscópios) . O auxílio dos professores ou monitores no manejo da fundoscopia seria peça fundamental para acerto final do questionário . Três subgrupos postulados nos questionários são analisados a seguir : Manipulação dos oftalmoscópios : Fácil, com focalização imediata sem qualquer ajuda do professor ou mestrando na aula prática. Moderado com ajuda do instrutor no máximo uma ou duas vezes para observação do fundo de olho. Difícil quando não consegue visualizar nem focalizar o fundus ocular sem a ajuda do professor ou monitor . Visualização de estruturas oculares em pacientes normais: Fácil, conseguindo de imediato visualizar todas as estruturas do fundus ocular. Moderado, ao conseguir visualizar as estruturas somente após ajuda do instrutor. Difícil, quando não consegue observar todas as estruturas mesmo com a ajuda do instrutor . Em pacientes normais observar as estruturas de mácula como o brilho foveal, vasos retinianos com sua relação normal de calibre artéria/veia e cruzamento arteriovenoso normal, além de bordos, tamanhos e contornos da papila óptica. Observação de lesões específicas : Fácil, conseguindo de imediato observar todas as lesões do fundus ocular. Moderado, conseguindo visualizar as lesões somente após ajuda do instrutor. Difícil, quando não consegue observar todas as lesões mesmo com a ajuda do instrutor. A seguir exemplificação do questionário utili- 233 Ensino de oftalmologia na graduação médica. Estudo comparativo de aprendizado na oftalmoscopia direta... Quadro 1 Diagrama de exemplificação do questionário de avaliação de aprendizado Subgrupos Variáveis Oftalmoscópio Manipulação Fácil Panoptic instrumento Pacientes normais Retinopatia diabética DMRI Retinose pigmentosa Alta miopia Convencional Moderado Panoptic Convencional Difícil Panoptic Convencional Visualização Fácil de estruturas Panoptic Convencional Moderado Panoptic Convencional Difícil Panoptic Convencional Lesões Fácil específicas Panoptic Convencional Moderado Panoptic Convencional Difícil Panoptic Convencional NT: O mesmo questionário é repetido no início (1ª semana) e ao final do curso prático na oitava semana zado pelos alunos (Quadro 1). Estas variáveis foram dispostas em subgrupos nos questionários, de forma sempre a favorecer a análise comparativa entre os dois tipos de oftalmoscópios . As morbidades escolhidas para representar as aulas práticas de fundoscopia foram selecionadas segundo a importância para a formação acadêmica do graduando, (retinopatia diabética e DMRI, formas secas ou úmidas), bem como também para servir de quesitos técnicos para avaliação crítica entre os dois oftalmoscópios (retinose pigmentar avançada e alta miopia) . Teste estatístico não paramétrico avaliado: Kruskal Wallis, com nível de significância de 5% para aprovação . RESULTADOS Os dados são aplicados em tabelas comparativas (1ª e 8ª semana) que refletem o decorrer do tempo de aplicação das aulas práticas de fundo de olho (Tabelas 1 e 2). Observando-se as percentagens, nota-se uma típica tendência dos alunos após a primeira semana de aprendizado da necessidade do auxílio e orientação de professores e monitores para uso do oftalmoscópio (índices das variáveis fácil, moderado e difícil nos três subgrupos pesquisados), havendo também uma discreta tendência favorável ao oftalmoscópio convencional. Ao final da primeira semana, os alunos apresentaram uma maior facilidade de aprendizado com o uso Rev Bras Oftalmol. 2009; 68 (4): 231-6 234 Damasceno EF, Damasceno NAP, Costa Filho AA Tabela 1 Avaliação comparativa entre oftalmoscopia direta com oftalmoscópio convencional e panoptic – 1ª semana de curso prático de graduação Subgrupos Variáveis Oftalmoscópio Manipulação instrumento fácil panoptic convencional panoptic convencional panoptic convencional panoptic convencional panoptic convencional panoptic convencional panoptic convencional panoptic convencional panoptic convencional moderado difícil Visualização estruturas normais fácil moderado difícil Lesões específicas fácil moderado difícil Pacientes Retinopatia DMRI normais diabética 1 12 20 7 17 3 1 12 20 7 17 3 * * * * * * 1 2 11 14 15 17 * * * * * * 1 2 17 10 22 8 1 6 16 13 21 3 * * * * * * 1 6 11 16 18 8 Retinose pigmentosa 0 3 2 9 26 20 * * * * * * 0 3 7 8 24 18 Alta Total miopia 2 8 25 13 5 7 * * * * * * 1 5 22 14 7 11 5 31 74 56 84 50 1 12 20 7 17 3 3 16 57 48 71 45 % 1,60% 10,35 24,60% 18,60% 28% 16,66% 1,60% 20,00% 33,33% 11,66% 28,33% 5% 1,25% 6,66% 23,75% 20% 29,58% 18,75% NT: Respostas dos acadêmicos de Medicina após a 1a semana do curso prático de oftalmologia; * indicando dados não referentes a alocação específica nesta parte da tabela; Dados sublinhados e em negrito revelando os valores mais expressivos em percentuais Tabela 2 Avaliação comparativa entre oftalmoscopia direta com oftalmoscópio convencional e panoptic – 8ª semana de curso prático de graduação Subgrupos Variáveis Oftalmoscópio Manipulação instrumento fácil panoptic convencional panoptic convencional panoptic convencional panoptic convencional panoptic convencional panoptic convencional panoptic convencional panoptic convencional panoptic convencional moderado difícil Visualização estruturas normais fácil moderado difícil Lesões específicas fácil moderado difícil Pacientes Retinopatia DMRI normais diabética 35 13 10 2 0 0 31 11 12 5 0 1 * * * * * * Retinose Alta Total pigmentosa miopia 28 14 8 8 0 2 * * * * * * 37 14 3 2 1 3 * * * * * * 14 3 15 11 5 12 * * * * * * 16 7 14 9 4 10 * * * * * * 29 (94,5%) 2 (%) 17 [47,2 %] 8 [%] 2 2 31 (61,30 %) 12 (%) 7 [28,6 %] 5 [%] 0 5 11 (45.4 %) 5 (%) 13 [31,8 %] 9 [%] 5 17 14 (50 %) 7 (%) 11[10,2 %] 10 [%] 5 13 130 51 50 32 10 27 31 11 12 5 0 1 85 26 48 32 12 37 % 43,33% 17,00% 16,66% 10,66% 3,33% 9,00% 51,66% 18,33% 20% 8,33% 0 1,66% 35,41% 10,83% 20% 13,33% 5% 15,41% NT: Respostas dos acadêmicos de Medicina após a 8a semana do curso prático de oftalmologia; (*) indicando dados não referentes a alocação específica nesta parte da tabela. Dados sublinhados e em negrito revelando os valores mais expressivos em percentuais Rev Bras Oftalmol. 2009; 68 (4): 231-6 Ensino de oftalmologia na graduação médica. Estudo comparativo de aprendizado na oftalmoscopia direta... do oftalmoscópio convencional. Após o auxílio com os professores e monitores, houve uma maior facilidade de aprendizado com o panoptic. Demonstrando que no início do treinamento, os alunos tiveram uma dificuldade maior com o panoptic. Para os alunos com aprendizado mais difícil, o panoptic ofereceu maior dificuldade nesse período. Após oito semanas de aprendizado, é visível o maior treinamento dos alunos quase não necessitando mais de auxílio de monitores . Notório, também, é a preferência dos acadêmicos pelo oftalmoscópio de campo amplo (panoptic), havendo muitos dos alunos manifestado interesse em adquiri-lo. Após a 8ª semana, com maior treinamento, os alunos tiveram maior facilidade na realização da oftalmoscopia direta com o panoptic, mesmo aqueles que tenham necessitado de um maior auxílio dos monitores e professores. Para aqueles com maior dificuldade de aprendizado houve uma inversão em relação a 1ª semana, com maior dificuldade no uso do oftalmoscópio convencional. Estatística com teste Kruskal Walis (p = 0,032), considerando-se significativo ao se comparar as duas tabelas, com expressivo favorecimento aos argumentos acima expostos . Na observação exclusiva de lesões específicas, os índices das morbidades escolhidas para uma maior análise crítica entre os dois oftalmoscópios pesquisados, na alta miopia e retinose pigmentosa; não houve as expressividades esperadas, sendo os percentuais distribuídos mais regularmente dentre as variáveis: fácil, moderada e difícil. DISCUSSÃO Conforme relatado no trabalho de Mc Comiskie et al.(4), a vantagem da observação com um campo amplo ao oftalmoscópio é uma prerrogativa valiosa, sugerindo até mesmo a possibilidade de observação de características de topografia da papila óptica na semiologia glaucomatosa sem dilatação pupilar. Corroborou-se esta hipótese, ao se manifestar a maior preferência dos acadêmicos na observação do fundo de olho com o oftalmoscópio panoptic, confirmado com a significância do teste estatístico . A curva de aprendizado também foi decisiva, ao se revelarem os dados tabulares entre a 1ª semana e a 8ª semana (Tabelas 1 e 2), somente sendo ainda pouco caracterizada nas morbidades escolhidas para uma análise crítica da dificuldade entre os dois oftalmoscópios: alta miopia e retinose pigmentosa. A 235 maior dificuldade de adaptação a uma manipulação mais intricada do panoptic pode explicar esta dissonância, como no relato de maior exigência de experiência prática com este tipo de oftalmoscópio em Gill et al (5), na descrição de sua técnica de “screening” para detecção de retinopatia diabética. As lesões mais periféricas precisaram de maior auxílio dos monitores e professores que as mais centrais e foram mais bem examinadas com o panoptic, após a 8ª semana. A divulgação de artigos envolvendo pesquisa clínica com os alunos de medicina ainda teve o mérito de incentivo à pesquisa científica na graduação médica, prática muito profícua dentre a formação dos acadêmicos (6,7). A lembrança deste tipo de instrumento como ferramenta de trabalho e ensino se torna uma importante peça de arsenal propedêutico ressaltando as vantagens da oftalmoscopia direta de campo amplo. Novas modalidades de ensino de propedêutica são voga de uma tendência de condições didáticas mais estimulantes para ensino de oftalmologia(2,8-9). CONCLUSÃO O oftalmoscópio de campo amplo (panoptic) necessita de um tempo de aprendizagem de uso um pouco maior em relação ao convencional (efeito aprendizado), porém após este período facilita o entendimento da oftalmoscopia direta por melhorar a observação das estruturas fundoscópicas. ABSTRACT Purpose: Comparison of the skill to teach the direct ophthalmoscopy class supported by fellows of medical graduation course using two examination methods: conventional ophthalmoscope and wide field ophthalmoscope (panoptic). Methods: Assessment of the competence to learn using a survey after eye fundus examination with conventional ophthalmoscope and wide field ophthalmoscope (panoptic). The group searched was composed of 60 students of university medical graduation course. The survey was applied during the first and eighth week of ophthalmogical class of medical graduation. The evaluation of competence to learning was token in as needing to help teachers to examination the eye fundus during the class, and the competence to manipulate the ophthalmoscopes. Tables and statical test (Kruskal Wallis) was performed to demonstrate the results analysis. Results: In the first Rev Bras Oftalmol. 2009; 68 (4): 231-6 236 Damasceno EF, Damasceno NAP, Costa Filho AA week of ophthalmological class, only 1.60% of the students chose the panoptic ophthalmoscope, while the same score of 10.35% chosen with the conventional ophthalmoscope. In the eighth week of ophthalmological class the competence score with the panoptic ophthalmoscope raised to 43.33%, while conventional ophthalmoscope score stayed at 17% . The statistical analysis of Kruskal Wallis test revealed a positive significance (p< 0,05). Conclusion: The panoptic wide field ophthalmoscope needed a longer time to learn how to manipulate and observe the eye fundus, although after this time, the panoptic showed more competence and improved the eye fundus examination. Keywords: Ophthalmoscopy/methods; Diagnostic techniques, ophtalmological; Education, medical; Questionnaires REFERÊNCIAS 1. 2. Marcondes AM, Nastari ER, Macchiaverini Filho N. Avaliação discente de um curso de oftalmologia. Rev Bras Educ Med. 2002, 26(3):171-4 . Costa JG. Curso de graduação, perspectivas do ensino da oftalmologia. Med HUPE-UERJ. 1983; 2(1):27-31. Rev Bras Oftalmol. 2009; 68 (4): 231-6 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. Ginguerra MA, Ungaro AB, Villela FF, Kara-José AC, Kara-José N. Aspectos do ensino de graduação em oftalmologia . Arq Bras Oftalmol. 1998, 61(5):546-50 . McComiskie JE, Greer RM, Gole GA. Panoptic versus conventional ophthalmoscope. Clin Experiment Ophthalmol; 2004, 32(3): 238-42. Gill JM, Cole DM, Lebowitz HM, Diamond JJ. 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Damasceno Rua Jangadeiros nº 40, apto 601 – Ipanema CEP 22420-010 - Rio de Janeiro - RJ e-mail: [email protected] ARTIGO ORIGINAL 237 Melanocitoma associado à membrana neovascular sub-retiniana Melanocytoma associated to subretinal neovascular membrane Eduardo F. Marback1, Fernanda Fernandes Pereira2, Cláudia Galvão3, Otacílio de Oliveira Maia Jr4, Roberto L. Marback5 RESUMO Relatamos caso de melanocitoma de disco óptico associado à membrana neovascular sub-retiniana. O paciente apresentava diminuição da visão, presença de descolamento seroso de retina, com hemorragia e exsudação e foi encaminhado com o diagnóstico de melanoma de coróide e sugestão de enucleação. São discutidas as principais características dos dois tumores e os detalhes do diagnóstico diferencial. Descritores: Neoplasias do nervo óptico; Neoplasias do nervo óptico/complicações; Melanoma/diagnóstico; Neovascularização coroidal 1 Doutor, Médico Oftalmologista do Hospital Universitário Professor Edgard Santos da Universidade Federal da Bahia; Médico Oftalmologista do Hospital São Rafael, Fundação Monte Tabor - Salvador BA, Brasil; 2 Aluna do Curso de Especialização em Oftalmologia da Universidade Federal da Bahia – UFBA - Salvador - BA, Brasil; 3 Médica do Hospital Universitário Professor Edgard Santos da Universidade Federal da Bahia – UFBA - Salvador- BA, Brasil; 4 Doutor, Professor Substituto de Oftalmologia da Universidade Federal da Bahia – UFBA - Salvador - BA, Brasil; Médico Oftalmologista do Hospital São Rafael, Fundação Monte Tabor - Salvador (BA), Brasil; 5 Professor Titular de Oftalmologia da Universidade Federal da Bahia – UFBA - Salvador - BA, Brasil; Chefe do Serviço de Oftalmologia do Hospital São Rafael, Fundação Monte Tabor - Salvador (BA), Brasil. Trabalho realizado no Hospital Universitário Prof. Edgard Santos da Universidade Federal da Bahia – UFBA - Salvador - BA, Brasil Recebido para publicação em: 8/6/2009 - Aceito para publicação em 10/9/2009 Rev Bras Oftalmol. 2009; 68 (4): 237-40 238 Marback EF, Pereira FF, Galvão C, Maia Jr OO, Marback RL INTRODUÇÃO M elanocitoma do disco óptico é um tumor benigno raro, usualmente assintomático e estacionário. Habitualmente seu diagnóstico é feito durante exame de rotina ou por queixas não relacionadas ao tumor, sendo mais comum em indivíduos de raças pigmentadas(1-4). Quando ocorre diminuição de visão é usualmente causada por necrose espontânea do tumor, levando a exsudação e neuroretinite, compressão do nervo óptico e oclusão venosa(1,3,4). A transformação maligna de um melanocitoma, embora possível, é extremamente rara ocorrendo entre 1 a 2 % dos casos(2-4). Relatamos um caso de melanocitoma do disco óptico em paciente com membrana neovascular subretiniana encaminhado como melanoma uveal. Relato do caso Paciente do sexo masculino, pardo, 40 anos, com queixa de diminuição da visão progressiva em olho direito (OD) há nove meses. Foi encaminhado ao nosso serviço com suspeita de melanoma de coróide e sugestão de enucleação do olho afetado. Ao exame apresentava melhor acuidade visual corrigida de 0,1 em OD e 1,0 em olho esquerdo (OE). À oftalmoscopia observava-se tumor densamente pigmentado em metade superior do nervo óptico com bordas de aspecto aveludado. Exibia descolamento plano de retina em polo posterior com exsudação e hemorragia sub-retinianas, área espessada e de coloração amarelada em região macular, além de intenso pregueamento da membrana limitante interna (Figura 1A). A ecografia do OD evidenciou lesão sobrelevada em área papilar, com extensão temporal, além de aparente elevação focal da retinia perilesional. O tumor media 2,4 mm de altura e 11,3 X 6,6mm de base. A angiofluoresceinografia (AFG) revelou hipofluorescência por bloqueio na topografia da lesão de nervo óptico e presença de área de hiperfluorescência precoce com limites bem definidos na região adjacente ao tumor no feixe papilo-macular. Na fase tardia do exame foi observado borramento dos limites da lesão, aspecto compatível com membrana neovascular do tipo clássica, adjacente ao tumor (Figura 1B-E). O diagnóstico clínico foi de membrana neovascular sub-retiniana associada à melanocitoma. Devido ao estado avançado da membrana neovascular, já com aspecto cicatricial, optou-se pelo acompanhamento da mesma. Após um mês, paciente retornou exibindo Rev Bras Oftalmol. 2009; 68 (4): 237-40 Figura 1A: Retinografia inicial exibindo tumor pigmentado na metade superior do disco óptico, elevação retiniana, lesão amarelada submacular e hemorragia sub-retiniana inferior; B-E: Angiofluoresceinografia; Lesão macular hiperfluorescente em fase precoce, com borramento tardio e tumor hipofluorescente sobre o disco óptico; F: Retinografia após um mês mostrando absorção do fluido sub-retiniano e lesão macular de aspecto cicatricial absorção do fluído sub-retiniano com lesão pigmentada sobre o disco óptico estável (Figura 1F), sendo programado acompanhamento fotográfico semestral. DISCUSSÃO Apesar da natureza benigna do melanocitoma de disco óptico, pacientes com este tumor frequentemente são encaminhados para afastar a possibilidade de melanoma. No passado, muitos destes pacientes foram submetidos a enucleação com diagnóstico de melanoma de disco óptico(1). A elucidação da natureza benigna do tumor se deve aos estudos histopatológicos destes olhos e ao acompanhamento de pacientes que se recusaram a fazer enucleação, comprovando que muitos destes tumores permaneciam estáveis ao longo dos anos(1). O melanocitoma do nervo óptico pode causar diminuição da visão em até 25% dos pacientes(1-4). Tipicamente a baixa de visão é causada por exsudação subretiniana e necrose tumoral, levando a neuroretinite ou oclusões vasculares(2-4) . Crescimento tumoral documentado pode ser visto em aproximadamente 15% dos ca- Melanocitoma associado à membrana neovascular sub-retiniana 239 sos(1-4). A transformação maligna é bastante rara, com ocorrência estimada entre 1 a 2% dos casos(1-4) . No caso descrito, a diminuição da acuidade visual, o descolamento seroso de retina e hemorragia, e exsudação sub-retinianas em um olho que exibia tumor pigmentado sobre o disco óptico motivou o encaminhamento com o suposto diagnóstico de melanoma. A AFG, embora não seja exame fundamental para o diagnóstico de melanoma uveal, em casos difíceis como este, pode se mostrar de grande valia ao evidenciar lesão pigmentada sobre o disco, com total bloqueio da fluorescência associada à membrana neovascular subretiniana. Assim, foi possível especular que a exsudação e a baixa de visão estavam sendo causadas pela membrana e não pelo crescimento do tumor pigmentado de disco óptico. O aparecimento de membrana neovascular sub-retiniana é uma complicação possível em qualquer do polo posterior sendo relacionada a ruptura na membrana de Bruch e possível produção de fatores angiogênicos pelo tumor. Na série de 115 melanocitomas descrita por Shields e colaboradores, neovascularização sub-retiniana foi encontrada em apenas um paciente(3). Em dois outros relatos, o quadro clínico foi muito similar ao do nosso paciente, com início de sintomatologia na 5ª década de vida, presença de exsudatos e hemorragia sub-retiniana(5,6). Em um dos relatos o paciente foi submetido à remoção cirúrgica da membrana neovascular com bom resultado funcional final(6). Chalam e colaboradores descrevem um caso tratado de maneira bem-sucedida com terapia fotodinâmica(7). Não encontramos referência ao uso de injeção intravítrea de antiangiogênicos para tratamento da membrana associada ao melanocitoma. Em nosso paciente, devido ao estado avançado da membrana com aparente gliose retiniana, optamos apenas pelo acompanhamento. Chama a atenção o encaminhamento com suspeita de melanoma uveal e sugestão de enucleação. A diferenciação entre um melanocitoma causando baixa de visão e um pequeno melanoma peripapilar com invasão de nervo óptico pode ser difícil. A invasão do nervo óptico por melanoma uveal é evento raro, com ocorrência estimada em apenas 0,8 a 3,7% dos casos, podendo acontecer tanto em tumores negligenciados, que preenchem toda a cavidade vítrea, como em pequenos melanomas peripapilares(811) . Para dificultar ainda mais, sempre devemos lembrar que a transformação maligna em um melanocitoma embora rara, pode ocorrer existindo até mesmo a descrição de tumores com uma porção benigna e outra maligna, o que pode inclusive resultar em interpretação errônea em biópsia de aspiração por agulha fina (2,3,12). Apesar das dificuldades no diagnóstico diferencial entre melanocitoma com baixa de visão e pequeno melanoma com invasão de nervo óptico, alguns dados podem ser úteis. O aspecto oftalmoscópico do melanocitoma é de tumor densamente pigmentado, com aspecto negro ou castanho, superfície aveludada, com frequente componente retiniano(1-4). Já o melanoma usualmente exibe pigmentação menos densa e menos homogênea, com predominância do componente coroidal(10). A AFG no melanocitoma mostra intensa hipofluorescência por bloqueio devido à densa pigmentação do tumor, enquanto o melanoma costuma exibir vascularização intrínseca(3,4,10). A ecografia, de grande valia no diagnóstico diferencial dos tumores oculares, tem papel limitado nesta situação devido às pequenas dimensões das lesões. Um pequeno melanoma com invasão de nervo óptico poderia apresentar aspecto oftalmoscópico (exsudação e descolamento de retina) e sintomatologia (baixa visual), muito similares aos do caso em questão(10). Os achados que mais contribuíram para a elucidação diagnóstica em nosso caso foram ausência de dupla circulação à AFG e presença de membrana neovascular justificando a baixa de visão. Frente a tal dúvida diagnóstica, uma alternativa é observar a evolução do tumor em um período relativamente curto, como fizemos. Caso se tratasse de melanoma, poderíamos esperar uma evolução do quadro com aumento do tumor e piora da acuidade visual, orientando de forma correta o tratamento. ABSTRACT We report a case of optic disc melonocytoma associated to subretinal neovascular membrane. The patient presented with low visual acuity, serous retinal detachment with haemorrhage and exudates and was referred with the diagnosis of melanoma and an orientation to enucleate the eye. We discuss the major aspects of both tumors and the details of differential diagnostic. Keywords: Optic nerve neoplasms; Optic nerve neoplasms/complications; Melanoma/diagnosis; Choroidal neovascularization REFERÊNCIAS 1. 2. Zimmerman LE, Garron LK. Melanocytoma of the optic disk. Int Ophthalmol Clin. 1962; 2:431—4 . Joffe L, Shields JA, Osher RH, Gass JD. Clinical and followup studies of melanocytomas of the optic disc. Ophthalmology.1979; 86(6):1067—83. Rev Bras Oftalmol. 2009; 68 (4): 237-40 240 3. 4. 5. 6. 7. 8. Marback EF, Pereira FF, Galvão C, Maia Jr OO, Marback RL Shields JA, Demirci H, Mashayekhi A, Shields CL.Melanocytoma of optic disc in 115 cases: the 2004 Samuel Johnson Memorial Lecture, part 1. Ophthalmology. 2004; 111(9):1739—46. 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CEP 41940-455 Tel 71 3235-9368 RELATO DE CASO 241 Importância do exame oftalmológico na doença de von Hippel-Lindau The importance of the ophthalmological examination in von Hippel-Lindau disease Ricardo Evangelista Marrocos de Aragão1 , Iêda Maria Alexandre Barreira2, Andreya Ferreira Rodrigues Bezerra3 Régia Maria Gondim Ramos4 , Felipe Bezerra Alves Pereira5 RESUMO Von Hippel-Lindau (VHL) é uma síndrome tumoral autossômica dominante. Esses tumores incluem hemangioblastoma da retina e sistema nervoso central (CSN), carcinoma de células renais, feocromocitoma, tumores de pâncreas, cistoadenoma de rins, pâncreas e epidídimo. Os sintomas mais comuns são perda da visão, aumento da pressão intracraniana, déficits neurológicos, aumento da pressão arterial sistêmica paradoxal e dor local. Relatamos o caso de um paciente com perda de visão e história de hemangiomas cerebelares cujo diagnóstico de VHL foi feito após exame oftalmológico. Descritores: Doença de von Hippel-Lindau; Hemangioblastoma; Hamartoma; Feocromocitoma; Hipertensão intracraniana; Relatos de casos 1 Doutor em Medicina pela Universidade de Regensburg – Alemanha; Especialista em Retina e Vítreo pela Universidade de Regensburg – Alemanha; Preceptor da Residência Médica de Retina e Vítreo do Departamento de Oftalmologia do Hospital Universitário Walter Cantídio da Universidade Federal do Ceará – UFC – Fortaleza (CE), Brasil; 2 Especialista em Retina e Vítreo pela Universidade Federal de São Paulo – UNIFESP – São Paulo (SP), Brasil; 3 Residente do terceiro ano do Serviço de Oftalmologia do Hospital Universitário Walter Cantídio da Universidade Federal do Ceará – UFC – Fortaleza (CE), Brasil; 4 Residente do terceiro ano do Serviço de Oftalmologia do Hospital Universitário Walter Cantídio da Universidade Federal do Ceará – UFC – Fortaleza (CE), Brasil; 5 Ex-residente do Serviço de Oftalmologia do Hospital Universitário Walter Cantídio da Universidade Federal do Ceará – UFC – Fortaleza (CE), Brasil. Instituição: Serviço de Oftalmologia do Hospital Universitário Walter Cantídio da Universidade Federal do Ceará – UFC – Fortaleza (CE), Brasil Recebido para publicação em: 9/4/2009 - Aceito para publicação em 22/9/2009 Rev Bras Oftalmol. 2009; 68 (4): 241-4 242 Aragão REM, Barreira IMA, Bezerra AFR, Ramos RMG, Pereira FBA INTRODUÇÃO A doença de von Hippel-Lindau (VHL), ou angiomatose cerebelorretiniana familiar, é uma facomatose autossômica dominante, com penetrância incompleta e expressividade retardada(1) caracterizada por aparecimento de hemangioblastoma da retina, do cerebelo e/ou medula espinhal, carcinoma de células renais, tumor de pâncreas, tumores do saco endolinfático, bem como cistos e cistoadenoma dos rins, pâncreas e epidídimo(2). Diferindo de outras facomatoses, as manifestações cutâneas são raras em VHL. Outras manifestações de VHL que podem chamar atenção do oftalmologista incluem retinopatia hipertensiva devido a feocromocitoma, hamartoma vascular da retina, síndrome quiasmática, defeito pupilar aferente devido a hemangioblastoma do nervo óptico (NO) e papiledema por lesões do SNC ou do nervo óptico(3). O hemangioma capilar da retina (HCR) é a manifestação mais precoce da doença de VHL e usualmente não está presente ao nascimento. Existe uma correlação positiva entre o aumento da idade e o risco de desenvolvimento de HCR na VHL. O HCR pode ser um tumor único e algumas vezes é a única manifestação da patologia, mas os tumores são mais frequentemente múltiplos, ocorrendo em 45% a 60% dos pacientes com VHL. A localização preferencial do tumor é a periferia temporal da retina, sendo facilmente reconhecido por sua aparência avermelhada, globulosa, com uma artéria nutridora e uma veia tortuosa que drena o tumor(4). Apesar da sua natureza benigna e clássico crescimento lento, o HCR pode causar complicações como descolamento total da retina, catarata e phthisis bulbi nos estágios finais(5). O HCR permanece como a maior causa de morbidade visual e algumas vezes cegueira nos pacientes com VHL. A detecção precoce e tratamento podem alterar o prognóstico visual(4). No presente artigo, relatamos o caso de um paciente portador de VHL com história prévia de cirurgias neurológicas para remoção de hemongioblastoma cerebelar, perda da visão com phthisis bulbi no olho direito (OD) e presença de HCR no olho esquerdo(OE), no qual foi realizado tratamento com laser. Relato de Caso Paciente masculino, 29 anos, branco, procurou o ambulatório com queixa de baixa acuidade visual acompanhada de discreta dor em região orbitária direita. Paciente tinha história pregressa de três cirurgias neurológicas para ressecção de hemangioblastoma cerebelar Rev Bras Oftalmol. 2009; 68 (4): 241-4 (diagnóstico proposto antes das cirugias por exames de imagem, tomografia computadorizada de SNC, e confirmado com os exames anátomo-patológicos) e cistos de epidídimo. História familiar negativa. Ao exame oftalmológico, o paciente apresentava acuidade visual (AV) de ausência de percepção luminosa no olho direito (OD) e 20/20 no olho esquerdo (OE). A biomicroscopia mostrou desorganização das estruturas do segmento anterior do OD e OE sem alterações. À oftalmoscopia binocular indireta revelou descolamento total de retina no OD e no OE um HCR de localização temporal inferior. A ecografia ocular mostrou descolamento de retina associado a espessamento de esclera e desorganização das estruturas (Phitisis bulbi) no OD. A angiografia fluoresceínica (AF) no OE mostrou lesão hiperfluorescente temporal inferior, com vasos aferente e eferente característicos do HCR (Figura 1). O paciente foi submetido, no OE, à fotocoagulação com laser de diodo verde na lesão e vasos nutridores. Após 20 dias, realizou-se nova AF, que mostrou regressão da lesão (Figura 2). DISCUSSÃO Os hemangiomas da retina que ocorrem esporadicamente ou em associação com VHL são clinicamente indistinguíveis. O diagnóstico de VHL se baseia em três elementos, que incluem: hemangioma (retina/SNC), lesões viscerais e história familiar de lesões similares. Se história familiar de VHL está presente, apenas uma lesão é requerida. Com história familiar negativa, presença de pelo menos dois hemangiomas ou um hemangioma e uma lesão visceral são critérios para o diagnóstico de VHL(6). Tumores assintomáticos podem ser detectados tão precocemente quanto na primeira década de vida ou tão tardiamente quanto na nona década em uma retina previamente normal. Embora o HCR seja um hamartoma, usualmente não está presente congenitamente. Comumente, hemangiomas da retina são detectados em pacientes entre 25 e 30 anos, quando eles têm crescido suficientemente para serem diagnosticados clinicamente no exame de rotina(7). A história natural do HCR consiste de progressão com o tempo. Entretanto, alguns hemangiomas permanecem estáveis e alguns podem até regredir espontaneamente.O HCR pode exsudar, podendo levar a perda visual por maculopatia (7) e descolamento de retina seroso ou tracional(8). Embora rara, neovascularização de retina e íris pode ocorrer, potencialmente evoluindo para 243 Importância do exame oftalmológico na doença de von Hippel-Lindau Figura 1: Hemangioblastoma em retina temporal e angiofluoresceinografia com hiperfluorescência Figura 2: Retinografia simples e angiofluoresceinografia após fotocoagulação a laser do tumor glaucoma secundário e phtisis bulbi(7). A decisão de tratar ou monitorar o tumor depende do tamanho e localização da lesão. Tratamento mais agressivo deve ser instituído para lesões periféricas. Tumores periféricos menores que 4,5mm de diâmetro e 1mm de espessura são tratados com fotocoagulação a laser. Em tumores maiores, usa-se crioterapia como método adjuvante. Como o hemangioma capilar de retina pode ser a única manifestação da doença de von Hippel-Lindau, pacientes com esse achado devem ser investigados para tal patologia através de ressonância nuclear magnética ou tomografia computadorizada de SNC, coluna cervical e abdome(7). No caso relatado, o oftalmologista teve um papel essencial no diagnóstico de VHL, a despeito do paciente ter história pregressa de cirurgia neurológica para exérese de hemangioblastoma cerebelar e perda visual no OD. Foi instituído o tratamento com fotocoagulação a laser no OE com regressão da lesão. ABSTRACT Von Hippel-Lindau (VHL) disease is an autossomical, dominant inherited tumour syndrom. These tumours may include haemangioblastoma in the retina and central nervous system (CNS), renal cell carcinoma, phaeochromocytoma, islet cell tumours of the pancreas, cystadenoma in the kidney, pancreas, and epididymis. The most common symptoms include: loss of vision, raised intracranial pressure, neurological deficits, paroxysmal raised blood pressure and local pain. We report herein a 29-year-old man with visual loss and cerebellar haemangioblastoma that despite neurological manifestations the diagnosis of VHL was established after the ophthalmological examanination. Rev Bras Oftalmol. 2009; 68 (4): 241-4 244 Aragão REM, Barreira IMA, Bezerra AFR, Ramos RMG, Pereira FBA Keywords: von Hippel-Lindau disease; Hemangioblastoma; Hamartoma; Pheochromocytoma; Intracranial hypertension; Case reports 6. 7. REFERÊNCIAS 8. 1. 2. 3. 4. 5. Tumours of the uvea and retina. In: Kanski, Jack J. Clinical ophthalmology. A systemic approach. Oxford;1993. Hes FJ, van der Luijt RB, Lips CJ. Clinical management of Von Hippel-Lindau (VHL) disease. Neth J Med. 2001;59(5):225-34. Review. Hinz BJ, Schachat AP. Capillary hemangioma of the retina and von Hippel-Lindau disease. In: Ryan SJ, editor. Retina. New York: Mosby; 2006. Dollfus H, Massin P, Taupin P, Nemeth C, Amara S, Giraud S, et al. Retinal hemangioblastoma in von Hippel-Lindau disease: A clinical and molecular study. Invest Ophthalmol Vis Sci. 2002; 43(9):3067-74. Shields JA, Shields CL. Tumors of the retina and optic disc. In: Regillo CD, Brown GC, Flynn HW, editor. Vitreoretinal disease. The essentials. 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Endereço para correspondência: Ricardo E Marrocos de Aragão Rua Osvaldo Cruz, nº 2335 CEP 60125-151 - Fortaleza - CE Tel: (85)9137-9313 E-mail: [email protected] RELATO DE CASO 245 Metástase orbital como primeira manifestação clínica de hepatocarcinoma Orbital metastasis as the first clinical manifestation of hepatocellular carcinoma Mariluze Sardinha1, Epaminondas de Souza Mendes Junior2, Juliana Cabral Duarte Brandão3, Paulo Roberto Fontes Athanázio4, Roberto Lorens Marback5 RESUMO Mulher de 59 anos apresentava proptose e dor em olho esquerdo com trinta dias de duração. A tomografia computadorizada (TC) de órbitas mostrava massa em órbita esquerda com destruição óssea e invasão intracraniana. A biópsia da lesão revelou hepatocarcinoma. Na investigação sistêmica, a TC de abdômen evidenciou presença de tumor hepático. Iniciou tratamento quimioterápico, evoluindo com redução significativa da massa orbital, porém cerca de quatro meses após o fim da quimioterapia voltou a apresentar aumento da lesão orbital vindo a óbito dezenove meses após o diagnóstico. Descritores: Metástase neoplásica/diagnóstico; Metástase neoplásica/patologia; Órbita/patologia; Neoplasias orbitárias/secundário; Carcinoma hepatocelular/diagnóstico; Carcinoma hepatocelular/patologia; Relatos de casos 1 Doutora, Médica Colaboradora do Setor de Oculoplástica do Serviço de Oftalmologia do Hospital Universitário Professor Edgar Santos da Universidade Federal da Bahia – UFBA – Salvador (BA), Brasil; 2 Estagiário em Oculoplástica no Serviço de Oftalmologia do Hospital Universitário Professor Edgar Santos da Universidade Federal da Bahia – UFBA – Salvador (BA), Brasil; 3 Residente do 3º ano do Serviço de Anatomia Patológica do Hospital Universitário Professor Edgar Santos da Universidade Federal da Bahia – UFBA – Salvador (BA), Brasil; 4 Professor Adjunto de Anatomia Patológica da Faculdade de Medicina da Bahia da Universidade Federal da Bahia – UFBA – Salvador (BA), Brasil; 5 Professor Titular de Oftalmologia da Faculdade de Medicina da Bahia da Universidade Federal da Bahia – UFBA – Salvador (BA), Brasil. * Trabalho realizado no Serviço de Oftalmologia do Hospital Universitário Professor Edgar Santos da Universidade Federal da Bahia – UFBA – Salvador (BA), Brasil * Apresentado como Pôster na XX Jornada de Oftalmologia Centro de Estudos Professor Heitor Marback – Salvador (BA) em 22 e 23 de fevereiro de 2008 * Prêmio de Melhor Pôster no Simpósio Nacional de Plástica Ocular, Vias Lacrimais e Órbita da SBCPO (Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica Ocular) – São Paulo (SP) em 11 e 12 de Abril de 2008 Recebido para publicação em: 11/6/2009 - Aceito para publicação em 7/8/2009 Rev Bras Oftalmol. 2009; 68 (4): 245-9 246 Sardinha M, Mendes Junior ES, Brandão JCD, Athanázio PRF, Marback RL INTRODUÇÃO A órbita é local pouco frequente de metástase tumoral(1). A ocorrência de doença metastática na órbita varia de um a treze por cento entre todos os tumores orbitários(2). Os sítios primários mais comuns de metástases orbitais são: mama (em mulheres), pulmão e próstata (em homens)(3-4). O carcinoma hepático tem como locais mais comuns de metástase os pulmões, nódulos linfáticos, glândulas adrenais e ossos(5). Metástase orbital de carcinoma hepático primário é rara, sendo poucos os casos descritos na literatura(4-23). Relatamos caso clínico no qual a metástase orbital foi a primeira manifestação clínica de carcinoma primário de fígado. Relato de caso Mulher de 59 anos foi encaminhada para o serviço de plástica ocular do serviço de Oftalmologia do Hospital Universitário Professor Edgar Santos com história de dor em olho esquerdo (OE) há 1 mês. Uma semana antes de procurar atendimento neste serviço observou deslocamento do OE para fora e para baixo (Figura 1A). Como antecedentes médicos apresentava hipertensão arterial sistêmica e diabetes mellitus, sob controle medicamentoso. Foi submetida a esplenectomia há trinta e sete anos devido à hipertensão portal esquistossomótica. Realizou biópsia hepática cinco anos após a esplenectomia que revelou fibrose septal e hepatite reacional inespecífica. Apresentava sorologias negativas para hepatites B e C. Ao exame, a acuidade visual corrigida era de 20/ 25 em olho direito (OD) e 20/100 em OE. Observou-se à esquerda, proptose com distopia para baixo e limitação da elevação (Figura 1-A). Pressão intraocular (PIO) em OD = 10 mmHg e OE = 22 mmHg, em uso de colírio combinado de tartarato de brimonidina 0,1% e maleato de timolol 0,5%. Ao exame de fundo de olho apresentava exsudatos duros em ambos os olhos e no OE também foi observado edema de papila com hemorragia peripapilar. Tomografia computadorizada (TC) de órbitas mostrava lesão expansiva retrobulbar em órbita esquerda com erosão óssea e extensão intracraniana (Figura 1-B e 1-C). A biópsia da lesão evidenciou neoplasia maligna constituída por células grandes, atípicas, com núcleos volumosos, nucléolos evidentes e arranjo trabecular organóide (Figura 2-A). A imuno- Quadro 1 Sumário de 21 casos relatados de hepatocarcinoma metastático para órbita Autor Lubin et al. (1980) (6) Zubler et al. (1981) (7) Wakisaka et al. (1990) (8) Phanthumchinda et al. (1992) (9) Hosokawa et al. (1994) (14) Kami et al. (1994) (13) Loo et al. (1994) (12) Schwab et al. (1994) (11) Tranfa et al. (1994) (10) Font et al. (1998) (4) Scolyer et al. (1999) (15) Kim et al. (2000) (17) Barbat et al. (2000) (16) Labetoulle et al. (2001) (18) Gupta et al. (2005) (19) Machado-Neto et al. (2006) (20) Srinivasan et al. (2007) (21) Hirunwiwtkul et al. (2008) (5) Pitts et al. (2008) (22) Fonseca Junior et al. (2008) (23) Idade (anos) Sexo 69 64 58 29 70 60 71 19 85 79 78 56 57 84 45 57 76 74 6147 57 M M M F M M M M M F F M M M M F F FM M Sinais e sintomas Proptose, dor Proptose, BAV, oftalmoplegia Proptose, diplopia, ptose Dor, oftalmoplegia BAV, cefaléia Proptose, cefaléia Dor, BAV Proptose, ceratite de exposição Proptose, dor, BAV Proptose, dor e BAV Massa periorbital Estrabismo, dor Diplopia, BAV Proptose Proptose, RMO, massa periorbital Proptose, massa periorbital Proptose, BAV, dor Dor, proptose, cefaléia, BAV, ptose Proptose, BAV e dor Proptose, BAV, dor BAV – baixa de acuidade visual; PIO – pressão intraocular; RMO – restrição de movimentação ocular; M – masculino; F – feminino Rev Bras Oftalmol. 2009; 68 (4): 245-9 Metástase orbital como primeira manifestação clínica de hepatocarcinoma histoquímica mostrou células positivas para hepatócito com anticorpo Hep Par 1 (hepatocyte parafffin 1) (Figura 2B) e negativas para citoqueratinas 7 e 20. Os aspectos morfológicos e imuno-histoquímicos permitiram o diagnóstico de hepatocarcinoma. TC de abdômen revelou lesão expansiva medindo aproximadamente 6,0 x 3,5 x 2,5cm localizada em segmento IV do fígado (Figura 2C). Foi encaminhada para serviço de Oncologia e retornou após realização de seis sessões de quimioterapia. Evoluiu com melhora da acuidade visual em OE para 20/40, acentuada melhora da proptose, controle da PIO e resolução do edema de papila em OE. A TC de órbitas evidenciava diminuição da massa orbitária, porém, cerca de três meses após o término da quimioterapia, voltou a apresentar aumento da massa orbital. Manteve acompanhamento oncológico e oftalmológico com sobrevida, após o diagnóstico, de um ano e sete meses. 247 Figura 1A: Proptose, distopia e restrição de elevação em olho esquerdo; B e C : Lesão expansiva retrobulbar em órbita esquerda com erosão óssea e extensão intracraniana DISCUSSÃO Metástases orbitais são menos frequentes que metástases oculares, embora sua frequência venha aumentando. Esse aumento reflete sobrevida mais prolongada de pacientes com câncer(24). Na maioria das grandes séries ocidentais publicadas sobre metástase orbital nenhum caso de carcinoma hepático foi relatado(2,3,25). Até o momento, encontramos vinte e um casos de metástase orbital secundária a carcinoma hepático com comprovação histopatológica (Quadro 1)(4-23). Entretanto, em revisão sobre metástases orbitárias, relatada no Japão de 1903 a 1998, foi observado que dos cento e vinte e oito casos os sítios primários mais frequentes foram pulmão, mama e fígado(26). Em algumas regiões da África e da Ásia existem uma elevada incidência de carcinoma hepático, estando este entre os principais tipos de câncer e causa de morte no Japão(20,26). Dentre os fatores relacionados ao grande número de casos deste tipo de tumor nessas áreas está a pré-disposição genética associada à prevalência, relativamente alta de cirrose alcoólica, hepatites crônicas B e C e exposição à aflatoxinas(5). Nossa paciente apresentava sorologia negativa para hepatites B e C. No que diz respeito à doença hepática, a paciente tinha diagnóstico de hipertensão portal esquistossomótica. Apesar de já ter sido citada a associação entre esquistossomose mansônica e hepatocarcinoma(27), não existe adequada evidência do Figura 2A: Aspecto histológico; B: Imunohistoquímica positivo com Hep Par1. C: Lesão expansiva localizada em fígado (seta branca) potencial carcinogênico desta doença em humanos (28,29). Os pacientes com metástase orbital secundária a hepatocarcinoma apresentam como manifestações típicas dor, proptose e perda visual(4,26). A maioria dos casos relatados é de pessoas idosas, com idade entre a sétima e oitava década de vida (Quadro 1). A localização mais comum da lesão na órbita é o quadrante superior externo e a destruição óssea é comum(5). Nos relatos de caso e séries descritas não houve predomínio quanto a lateralidade, mas a lesão foi unilateral em todos os casos. Com semelhança ao caso por nós em relato, alguns casos publicados apresentaram a metástase orbital como Rev Bras Oftalmol. 2009; 68 (4): 245-9 248 Sardinha M, Mendes Junior ES, Brandão JCD, Athanázio PRF, Marback RL primeira manifestação do carcinoma hepático(7,16,20,23,26). O diagnóstico de metástase orbital por carcinoma hepático é baseado no exame histopatológico da lesão, o qual se caracteriza por um padrão trabecular, associado com grandes células poligonais que têm um citoplasma acidófilo, grandes núcleos ovais ou redondos e nucléolos proeminentes(19,20). Estudo imuno-histoquímico pode ajudar no diagnóstico, sendo os principais marcadores CAM 5.2, AE1/AE3, AFP, CEA (5,20) e Hep Par 1. Este é considerado um marcador muito sensível e específico para hepatócitos normais e neoplásicos tendo sido usado no diagnóstico de carcinoma hepatocelular(30,31). O tratamento para hepatocarcinoma metastático tem eficácia limitada. No caso de metástase orbital, o tratamento mais freqüente é radioterapia focal. Alguns pacientes também têm sido tratados com quimioterapia sistêmica, como em nosso caso. A cirurgia está indicada basicamente para fins diagnósticos. Devido à realização da quimioterapia em outro Serviço, não tivemos acesso ao tipo de tratamento utilizado. O prognóstico dos pacientes com metástase orbital por hepatocarcinoma é bastante reservado, com sobrevida média de 10.4 meses (26). Nossa paciente apresentou redução da massa orbital após a quimioterapia. Porém, três meses após o tratamento, voltou a apresentar crescimento da lesão orbital evoluindo para o óbito um ano e sete meses após o diagnóstico. Embora raro, o hepatocarcinoma deve ser considerado no diagnóstico diferencial de metástase orbital com sítio primário desconhecido, sobretudo em pacientes com fatores de risco para este tipo de tumor. ABSTRACT A fifty nine years old female presented a painful proptotic left eye for thirty days. Computed thomography of the orbits disclosed an orbital mass associated with osteolysis and intracranial invasion. Biopsy of the orbital tumor revealed the diagnosis of hepatocellular carcinoma. Computed tomography showed the liver as the primary site of the tumor. Chemoterapy induced a significativ reduction of the orbital tumor.After four months, the orbital tumor increased its size and the pacient died ninetheen months after the diagnosis. Keywords: Neoplasm metastasis/diagnosis; Neoplasm metastasis/pathology; Orbit/pathology;Orbital neoplasms/secondary; Carcinoma, hepatocellular/ diagnosis; Carcinoma, hepatocellular/pathology Rev Bras Oftalmol. 2009; 68 (4): 245-9 REFERÊNCIAS 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. 10. 11. 12. 13. 14. 15. 16. 17. 18. 19. 20. Shields JA, Shields CL, Scartozzi R. Survey of 1264 patients with orbital tumors and simulating lesions: The 2002 Montgomery Lecture, part 1. Ophthalmology. 2004;111(5):9971008. Shields JA, Shields CL, Brotman HK, Carvalho C, Perez N, Eagle RC Jr. Cancer metastatic to the orbit. The 2000 Robert M. Curts Lecture. Ophthal Plast Reconstr Surg. 2001;17(5):346-54. Char DH, Miller T, Kroll S. Orbital metastasis: diagnosis and course. 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ISSN 0034-7280, publicação científica da Sociedade Brasileira de Oftalmologia, se propõe a divulgar artigos que contribuam para o aperfeiçoamento e o desenvolvimento da prática, da pesquisa e do ensino da Oftalmologia e de especialidades afins. Todos os manuscritos, após aprovação pelos Editores, serão avaliados por dois ou três revisores qualificados (peer review), sendo o anonimato garantido em todo o processo de julgamento. Os comentários dos revisores serão devolvidos aos autores para modificações no texto ou justificativa de sua conservação. Somente após aprovações finais dos revisores e editores, os manuscritos serão encaminhados para publicação. O manuscrito aceito para publicação passará a ser propriedade da Revista e não poderá ser editado, total ou parcialmente, por qualquer outro meio de divulgação, sem a prévia autorização por escrito emitida pelo Editor Chefe. Os artigos que não apresentarem mérito, que contenham erros significativos de metodologia, ou não se enquadrem na política editorial da revista, serão rejeitados não cabendo recurso. Os artigos publicados na Revista Brasileira de Oftalmologia seguem os requisitos uniformes proposto pelo Comitê Internacional de Editores de Revistas Médicas, atualizado em fevereiro de 2006 e disponível no endereço eletrônico http:// www.icmje.org APRESENTAÇÃO E SUBMISSÃO DOS MANUSCRITOS O artigo enviado deverá ser acompanhado de carta assinada por todos os autores, autorizando sua publicação, declarando que o mesmo é inédito e que não foi, ou está sendo submetido à publicação em outro periódico. A esta carta devem ser anexados: • Declaração de Conflitos de Interesse, quando pertinente. A Declaração de Conflitos de Interesses, segundo Resolução do Conselho Federal de Medicina nº 1595/2000, veda que em artigo científico seja feita promoção ou propaganda de quaisquer produtos ou equipamentos comerciais; • Certificado de Aprovação do Trabalho pela Comissão de Ética em Pesquisa da Instituição em que o mesmo foi realizado; • Informações sobre eventuais fontes de financiamento da pesquisa; • Artigo que trata de pesquisa clínica com seres humanos deve incluir a declaração de que os participantes assinaram Termo de Consentimento Livre Informado. Todas as pesquisas, tanto as clínicas como as experimentais, devem ter sido executadas de acordo com a Declaração de Helsinki. A Revista Brasileira de Oftalmologia não endossa a opinião dos autores, eximindo-se de qualquer responsabilidade em relação a matérias assinadas. Os artigos podem ser escritos em português, espanhol, inglês ou francês. A Revista Brasileira de Oftalmologia recebe para publicação: Artigos Originais de pesquisa básica, experimentação clínica ou cirúrgica; Divulgação e condutas em casos clínicos de relevante importância; Revisões de temas específicos, Atualizações; Cartas ao editor. Os Editoriais serão escritos a convite, apresentando comentários de trabalhos relevantes da própria revista, pesquisas importantes publicadas ou comunicações dos editores de interesse para a especialidade. Artigos com objetivos comerciais ou propagandísticos serão recusados. Os manuscritos deverão obedecer as seguintes estruturas: Artigo Original: Descreve pesquisa experimental ou investigação clínica - prospectiva ou retrospectiva, randomizada Rev Bras Oftalmol. 2009; 68 (4): 250-2 ou duplo cego. Deve ter: Título em português e inglês, Resumo estruturado, Descritores; Abstract, Keywords, Introdução, Métodos, Resultados, Discussão, Conclusão e Referências. Artigo de Revisão: Tem como finalidade examinar a bibliografia publicada sobre um determinado assunto, fazendo uma avaliação crítica e sistematizada da literatura sobre um determinado tema e apresentar as conclusões importantes, baseadas nessa literatura. Somente serão aceitos para publicação quando solicitado pelos Editores. Deve ter: Texto, Resumo, Descritores, Título em Inglês, Abstract, Keywords e Referências. Artigo de Atualização: Revisões do estado-da-arte sobre determinado tema, escrito por especialista a convite dos Editores. Deve ter: Texto, Resumo, Descritores, Título em Inglês, Abstract, Keywords e Referências. Relato de Caso: Deve ser informativo e não deve conter detalhes irrelevantes. Só serão aceitos os relatos de casos clínicos de relevada importância, quer pela raridade como entidade nosológica, quer pela não usual forma de apresentação. Deve ter: Introdução, Descrição objetiva do caso, Discussão, Resumo, Descritores, Título em Inglês, Abstract e Keywords e Referências. Cartas ao Editor: Têm por objetivo comentar ou discutir trabalhos publicados na revista ou relatar pesquisas originais em andamento. Serão publicadas a critério dos Editores, com a respectiva réplica quando pertinente. Preparo do Manuscrito: A) Folha de Rosto deverá conter: • Título do artigo, em português e inglês, contendo entre dez e doze palavras, sem considerar artigos e preposições. O Título deve ser motivador e deve dar idéia dos objetivos e do conteúdo do trabalho; • Nome completo de cada autor, sem abreviaturas, porém, se o autor já possui um formato utilizado em suas publicações, deve informar à secretaria da revista; • Indicação do grau acadêmico e/ou função acadêmica e a afiliação institucional de cada autor, separadamente. Se houver mais de uma afiliação institucional, indicar apenas a mais relevante. Cargos e/ou funções administrativas não devem ser indicadas. • Indicação da Instituição onde o trabalho foi realizado; • Nome, endereço, fax e e-mail do autor correspondente; • Fontes de auxílio à pesquisa, se houver; • Declaração de inexistência de conflitos de interesse. B) Segunda folha Resumo e Descritores: Resumo, em português e inglês, com no máximo 250 palavras. Para os artigos originais, deverá ser estruturado (Objetivo, Métodos, Resultados, Conclusão), ressaltando os dados mais significativos do trabalho. Para Relatos de Caso, Revisões ou Atualizações, o resumo não deverá ser estruturado. Abaixo do resumo, especificar no mínimo cinco e no máximo dez descritores (Keywords) que definam o assunto do trabalho. Os descritores deverão ser baseados no DeCS - Descritores em Ciências da Saúde - disponível no endereço eletrônico http://decs.bvs.br/ Abaixo do Resumo, indicar, para os Ensaios Clínicos, o número de registro na base de Ensaios Clínicos (http:// clinicaltrials.gov)* C) Texto Deverá obedecer rigorosamente a estrutura para cada categoria de manuscrito. Em todas as categorias de manuscrito, a citação dos autores no texto deverá ser numérica e seqüencial, utilizando al- 251 garismos arábicos entre parênteses e sobrescritos. As citações no texto deverão ser numeradas seqüencialmente em números arábicos sobrepostos, devendo evitar a citação nominal dos autores. Introdução: Deve ser breve, conter e explicar os objetivos e o motivo do trabalho. Métodos: Deve conter informação suficiente para saberse o que foi feito e como foi feito. A descrição deve ser clara e suficiente para que outro pesquisador possa reproduzir ou dar continuidade ao estudo. Descrever a metodologia estatística empregada com detalhes suficientes para permitir que qualquer leitor com razoável conhecimento sobre o tema e o acesso aos dados originais possa verificar os resultados apresentados. Evitar o uso de termos imprecisos tais como: aleatório, normal, significativo, importante, aceitável, sem definilos. Os resultados da pesquisa devem ser relatados neste capítulo em seqüência lógica e de maneira concisa. Informação sobre o manejo da dor pós-operatório, tanto em humanos como em animais, deve ser relatada no texto (Resolução nº 196/96, do Ministério da Saúde e Normas Internacionais de Proteção aos Animais). Resultados: Sempre que possível devem ser apresentados em Tabelas, Gráficos ou Figuras. Discussão: Todos os resultados do trabalho devem ser discutidos e comparados com a literatura pertinente. Conclusão: Devem ser baseadas nos resultados obtidos. Agradecimentos: Devem ser incluídos colaborações de pessoas, instituições ou agradecimento por apoio financeiro, auxílios técnicos, que mereçam reconhecimento, mas não justificam a inclusão como autor. Referências: Devem ser atualizadas contendo, preferencialmente, os trabalhos mais relevantes publicados, nos últimos cinco anos, sobre o tema. Não deve conter trabalhos não referidos no texto. Quando pertinente, é recomendável incluir trabalhos publicados na RBO. As referências deverão ser numeradas consecutivamente, na ordem em que são mencionadas no texto e identificadas com algarismos arábicos. A apresentação deverá seguir o formato denominado “Vancouver Style” , conforme modelos abaixo. Os títulos dos periódicos deverão ser abreviados de acordo com o estilo apresentado pela National Library of Medicine, disponível na “List of Journal Indexed in Index medicus” no endereço eletrônico: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/entrez/ query.fcgi?db=journals Para todas as referências, citar todos os autores até seis. Quando em número maior, citar os seis primeiros autores seguidos da expressão et al. Artigos de Periódicos: Dahle N, Werner L, Fry L, Mamalis N. Localized, central optic snowflake degeneration of a polymethyl methacrylate intraocular lens: clinical report with pathological correlation. Arch Ophthalmol. 2006;124(9):1350-3. Dissertações e Teses: Cronemberger S. Contribuição para o estudo de alguns aspectos da aniridia [tese]. São Paulo: Universidade Federal de São Paulo; 1990. Publicações eletrônicas: Herzog Neto G, Curi RLN. Características anatômicas das vias lacrimais excretoras nos bloqueios funcionais ou síndrome de Milder. Rev Bras Oftalmol [periódico na Internet]. 2003 [citado 2006 Jul 22];62(1):[cerca de 5p.]. Disponível em: www.sboportal.org.br Tabelas e Figuras: A apresentação desse material deve ser em preto e branco, em folhas separadas, com legendas e respectivas numerações impressas ao pé de cada ilustração. No verso de cada figura e tabela deve estar anotado o nome do manuscrito e dos autores. Todas as tabelas e figuras também devem ser enviadas em arquivo digital, as primeiras preferencialmente em arquivos Microsoft Word(r)e as demais em arquivos Microsoft Excel(r), Tiff ou JPG. As grandezas, unidades e símbolos utilizados nas tabelas devem obedecer a nomenclatura nacional. Fotografias de cirurgia e de biópsias onde foram utilizadas colorações e técnicas especiais, serão consideradas para impressão colorida, sendo o custo adicional de responsabilidade dos autores. Legendas: Imprimir as legendas usando espaço duplo, acompanhando as respectivas figuras (gráficos, fotografias e ilustrações) e tabelas. Cada legenda deve ser numerada em algarismos arábicos, correspondendo as suas citações no texto. Abreviaturas e Siglas: Devem ser precedidas do nome completo quando citadas pela primeira vez no texto ou nas legendas das tabelas e figuras. Se as ilustrações já tiverem sido publicadas, deverão vir acompanhadas de autorização por escrito do autor ou editor, constando a fonte de referência onde foi publicada. O texto deve ser impresso em computador, em espaço duplo, papel branco, no formato 210mm x 297mm ou A4, em páginas separadas e numeradas, com margens de 3cm e com letras de tamanho que facilite a leitura (recomendamos as de nº 14). O original deve ser encaminhado em uma via, acompanhado de CD ou disquete 3,5", com versão do manuscrito, com respectivas ilustrações, digitado no programa “Word for Windows 6.0. A Revista Brasileira de Oftalmologia reserva o direito de não aceitar para avaliação os artigos que não preencham os critérios acima formulados. Livros: Yamane R. Semiologia ocular. 2a ed. Rio de Janeiro: Cultura Médica; 2003. * Nota importante: A “Revista Brasileira de Oftalmologia” em apoio às políticas para registro de ensaios clínicos da Organização Mundial de Saúde (OMS) e do Intemational Committee of Medical Joumal Editors (ICMJE), reconhecendo a importância dessas iniciativas para o registro e divulgação internacional de informação sobre estudos clínicos, em acesso somente aceitará para publicação, a partir de 2008, os artigos de pesquisas clínicas que tenham recebido um número de identificação em um dos Registros de Ensaios Clínicos validados pelos critérios estabelecidos pela OMS e ICMJE, disponível no endereço: http://clinicaltrials.gov ou no site do Pubmed, no item <ClinicalTrials.gov>. O número de identificação deverá ser registrado abaixo do resumo. Os trabalhos deverão ser enviados à Capítulos de Livro: Oréfice F, Boratto LM. Biomicroscopia. In: Yamane R. Semiologia ocular. 2ª ed. Rio de Janeiro: Cultura Médica; 2003. Revista Brasileira de Oftalmologia Rua São Salvador, 107 - Laranjeiras CEP 22231-170 - Rio de Janeiro - RJ Arnarsson A, Sverrisson T, Stefansson E, Sigurdsson H, Sasaki H, Sasaki K, et al. Risk factors for five-year incident agerelated macular degeneration: the Reykjavik Eye Study. Am J Ophthalmol. 2006;142(3):419-28. Rev Bras Oftalmol. 2009; 68 (4): 250-2 252 Revista Brasileira de Oftalmologia Declaração dos Autores (É necessária a assinatura de todos os autores) Em consideração ao fato de que a Sociedade Brasileira de Oftalmologia está interessada em editar o manuscrito a ela encaminhado pelo(s) o(s) autor(es) abaixo subscrito(s), transfere(m) a partir da presente data todos os direitos autorais para a Sociedade Brasileira de Oftalmologia em caso de publicação pela Revista Brasileira de Oftalmologia do manuscrito............................................................. . Os direitos autorais compreendem qualquer e todas as formas de publicação, tais como na mídia eletrônica, por exemplo. O(s) autor (es) declara (m) que o manuscrito não contém, até onde é de conhecimento do(s) mesmo(s), nenhum material difamatório ou ilegal, que infrinja a legislação brasileira de direitos autorais. Certificam que, dentro da área de especialidade, participaram cientemente deste estudo para assumir a responsabilidade por ele e aceitar suas conclusões. Certificam que, com a presente carta, descartam qualquer possível conflito financeiro ou de interesse que possa ter com o assunto tratado nesse manuscrito. Título do Manuscrito___________________________________________________________________________ Nome dos Autores_______________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________________________ Minha assinatura abaixo indica minha total concordância com as três declarações acima. Data____________Assinatura do Autor____________________________________________________________ Data____________Assinatura do Autor____________________________________________________________ Data____________Assinatura do Autor_____________________________________________________________ Data____________Assinatura do Autor_____________________________________________________________ Data____________Assinatura do Autor____________________________________________________________ Data____________Assinatura do Autor_____________________________________________________________ Rev Bras Oftalmol. 2009; 68 (4): 250-2