Vacinar-se ou não contra a gripe A/H1N1? Informações que podem servir de base de reflexão para esta decisão Um breve histórico para compreender o contexto Sobre a gripe “comum” ou sazonal. O vírus da gripe não e um vírus estável como o da rubéola e o da caxumba. Ele muta ligeiramente todos os anos, e é por isso que aqueles que decidem vacinar-se contra a gripe devem renovar a injeção todos os anos. Não se trata de um reforço, mas de uma nova vacinação: a composição da vacina muda todos os anos em função das mutações do vírus. É também por isso que podemos pegar a gripe várias vezes durante a vida: após uma gripe ficamos protegidos apenas enquanto nossos anticorpos conseguem neutralizar o vírus, ou seja, enquanto ele não mutou muito ainda. Em média, uma gripe gera anticorpos eficazes por uns quinze anos. Uma epidemia como a que tivemos em 2009 (gripe A/H1N1) surge quando a mutação de um vírus da gripe acontece de forma rápida e em grande escala. Nesse caso os anticorpos fabricados durante as infecções anteriores não são mais capazes de nos proteger, visto que o vírus mutou muito e já é muito diferente dos outros que ‘’conhecemos’’. Uma grande parte da população vai contrair essa nova gripe no primeiro, e provavelmente no segundo ano em que ela surgir, algumas vezes sem sintomas aparentes. A contaminação é favorecida pela inalação do ar frio após o contato com o vírus, é por isso que as epidemias tendem a aparecer no inverno. A vacina contra a gripe sazonal é preparada com quase um ano de antecedência, misturando-se cepas dos vírus em circulação naquela época. A OMS e os industriais torcem para ‘’acertar o palpite’’ e obter uma vacina eficaz para o inverno seguinte. Nem sempre da certo, uma vez que a previsão é muito difícil, mas em geral, a eficácia da vacina contra a gripe sazonal é modesta: entre 25% e 60%, de acordo com a fonte consultada. Um relatório recente mostra que, na Franca, eficácia é de em média 60% entre os jovens e de 40% entre os idosos, o que significa que a vacina diminui em média pela metade o risco de contrair a gripe. Os vírus da gripe A, utilizados na fabricação da vacina da gripe sazonal, são da linhagem H1N1, derivada da gripe espanhola de 1918 (diferente do vírus mexicano dessa nova gripe) e da linhagem H3N2 derivado da gripe de Hong Kong de 1968; esta vacina contém igualmente uma cepa de gripe B, menos virulenta, que não vem ao caso aqui. Em 2004 um novo vírus A apareceu: o vírus H1N1 de origem aviária. Este apresentava duas características importantes: uma virulência extrema, com uma taxa de mortalidade de mais de 30%, (comparada com os 0,01% da gripe A sazonal, como acabamos de ver) e felizmente um grau de contágio bastante baixo em humanos. Por medida de segurança, bastante justificada, um procedimento ‘’gripe aviária’’ foi acionado em 2005 em vários países, com as seguintes medidas: estoque maciço de máscaras, luvas e medicamentos antivirais; e um plano de produção acelerada de vacinas em caso de pandemia, com procedimentos de registro encurtados e, principalmente, a adição de um adjuvante - o esqualeno. Este produto oleoso reforça a estimulação imunológica e permite a produção de muito mais doses de vacina em tempo reduzido. Mais uma vez, note-se que lutávamos contra o fantasma de uma gripe mortal a 30% , de forma que essas ‘liberdades’ pareceram aceitáveis e justificadas para ganhar algumas semanas, o que se traduzia em centenas de milhares de vidas salvas. Em marco de 2009, uma epidemia de gripe A apareceu no México, devido a uma grande mutação do vírus A/H1N1. Como vimos, grandes mutações do vírus implicam em fraca imunidade geral da população, resultando em epidemia maciça. Este novo vírus, A/H1N1, é aparentado ao da gripe espanhola, presente na vacina da gripe sazonal, mas é também suficientemente diferente do vírus original, de modo que a vacina sazonal de 2009 não conferia nenhuma proteção aparente contra o novo vírus. Este novo vírus afeta principalmente os jovens, porque os idosos já haviam contraído outras gripes da família do H1N1. Apesar da grande mutação que criou o novo vírus, as pessoas com mais de 65 anos estavam parcialmente protegidas contra o novo vírus H1N1 devido ao parentesco deste com os vírus antigos da mesma linhagem. As outras epidemias de gripe recentes eram causadas principalmente por um outro vírus A: o H3N2. Após um momento de pânico, verificou-se no começo de julho de 2009 que este vírus apesar de realmente muito contagioso, é felizmente pouco agressivo, não mais virulento que o vírus H1N1 habitual. O que era diferente, no entanto, porém lógico, era o número de pessoas, principalmente jovens, afetados pela nova gripe. Tarde demais para incluir este vírus na fabricação da vacina sazonal Em abril de 2009 era infelizmente tarde demais para incluir este novo vírus no coquetel utilizado para a produção da vacina sazonal, cuja produção já fora lançada. Alguns governos, entre eles o da Franca, decidiram então desde julho de 2009, aplicar a esse novo vírus A/H1N1 o protocolo de urgência criado para o perigosíssimo vírus A/H5N1 da gripe aviária. Apesar das notícias confortantes vindas do hemisfério sul, que atravessou o inverno em pleno pico de contágio sem o número espetacular de mortes previstas, parece que era tarde demais para recuar. A campanha de vacinação massiva com a vacina dita ‘’pandemica’’, isto é contendo o novo vírus A/H1N1 e ‘dopada’’ com o esqualeno, começou, com os problemas que foram constatados na época. Abordemos agora um ponto importante e pouco conhecido: a alternativa não é de vacinar-se ou não contra a nova gripe A/H1N1, mas de decidir se deseja-se vacinar contra a gripe de um modo geral. Na verdade, a nova gripeA/H1N1 não difere significativamente em sua gravidade de sua ‘’mãe’’, a antiga gripe A/H1N1, que circula na Europa desde 1918, e que está incluída na vacina sazonal.. A única diferença é que as crianças e os jovens adultos estão, na grande maioria, desprovidos de anticorpos contra essa nova gripe A, porque ela não circulou muito recentemente. A crença generalizada de que basta vacinar-se contra esta nova gripe A para estar tranqüilo por um bom tempo é errada. Como todos os vírus de gripe, como a antiga A/H1N1, o vírus dessa nova gripe A/H1N1 vai mutar progressivamente e as pessoas vacinadas que quiserem continuar protegidas contra a nova gripe deverão revacinar-se todos os anos, pelo resto da vida. Uma vacinação pontual em 2009 irá apenas retardar o contagio em alguns anos. Assim que o vírus H1N1 mutar, o que é normal e já começou a acontecer, seus ‘’descendentes’’ poderão ser mais perigosos, ou ao contrário, mais benignos. Na prática, essas mutações limitadas e progressivas raramente mudam a periculosidade do vírus inicial de maneira significativa, ao contrário das mutações brutais que dão origem às grandes pandemias. Até agora não existe prova do aparecimento de um mutante mais virulento, que pudesse mudar o rumo da reflexão sobre a pertinência da vacinação. O principal impacto dessas mutações mínimas é quanto à sensibilidade do vírus à vacina ou aos antivirais, que tende a diminuir. A partir do ano de 2010, o novo vírus H1N1 mexicano será incluído na composição da vacina sazonal, da mesma forma que seu ‘’pai’’ H1N1 espanhol e seu ‘’primo’’ H3N2 asiático. Quem quiser se proteger contra a gripe A deverá obrigatoriamente se vacinar todos os anos. Teremos então uma vacina 2 em 1, ou melhor, 4 em 1: antigo A/H1N1, novo A/H1N1, A/H3N2 e B. Com raras exceções, a escolha será entre “todos os anos’’ ou ‘’nunca’’ As opções são, portanto duas: 1. Eu me vacino este ano, e todos os anos depois, contra a gripe, porque eu não quero me arriscar com relação a esta doença, e eu aceito o risco ligado às vacinas. 2. Eu estou preparado a me arriscar a contrair a gripe (a cada 15 anos em média), com os riscos que isso comporta, e eu não me vacino nunca contra essa doença. Esta escolha pessoal pode levar em conta o desejo altruísta de não contaminar os outros e de participar à diluição da epidemia num espaço maior de tempo (na ausência de vacinação maciça e anual da população, as pessoas serão certamente contaminadas algum dia). Os argumentos pessoais e altruístas em favor da vacina devem ser dosados pela fraca eficácia da mesma: a vacina diminui a probabilidade de contagio, mas não a anula. Da mesma forma que não anula os riscos ligados à gripe, apenas os reduz. A grande divergência nos conselhos e recomendações sobre a vacinação vem no fato de não se fazer as perguntas certas. O problema não está relacionado a esta nova vacinação (tirando o questionamento sobre os excipientes, que abordaremos a seguir), mas ao próprio princípio da vacinação anual contra a gripe. Não existe, evidentemente, nenhum perigo específico em se vacinar este ano e não se renovar a vacina nos anos seguintes. É apenas ilógico, visto que a gripe A/H1N1 não tem nenhuma razão de ser menos perigosa em três ou cinco anos do que ela é hoje. A próxima pergunta lógica é: ‘’Quais são os riscos da nova gripe?’’ Os riscos ligados à gripe são conhecidos, o que não se conhece com precisão é a freqüência deles. Em primeiro lugar existe o risco de ficar de cama durante vários dias com febre, tosse, dores no corpo e de cabeça. À fraqueza se segue um grande cansaço, que dura uma semana a partir da recuperação. Em média contrai-se uma gripe deste tipo a cada 15 anos. Algumas pessoas ‘’nunca pegam gripe’’, o que significa simplesmente que nelas os sintomas são fortemente atenuados, ao ponto delas não os perceberem. Estudos científicos avaliam em 80% o numero de gripes que não mostram sintomas, ou os mostram muito pouco. Outras pessoas são mais sensíveis e serão contaminadas com mais freqüência. Existe também o risco de transmitir esta doença às pessoas próximas ou às pessoas mais frágeis que frequentamos. Alem disso, existem as complicações, cuja freqüência no se conhece com precisão: 1. A pneumonia bacteriana é a principal complicação da gripe, em termos de freqüência. Ela afeta geralmente pessoas que tem uma doença pré-existente (diabetes, AIDS, bronquite crônica, etc), assim como aquelas que esquecem que o repouso é indispensável durante um episodio gripal... Não se conhece exatamente a porcentagem de gripados que contraem uma pneumonia, a porcentagem fica provavelmente entre 1/10 e 1/100 de gripados. Essa pneumonia se resolve muito bem com antibióticos usuais, mas pode matar pessoas fragilizadas: idosos, pessoas com insuficiência respiratória, grandes cardíacos ou portadores de outras doenças graves. 2. A Síndrome Respiratória Aguda (SRA) é uma complicação rara e grave da gripe. Trata-se de uma pneumonia de origem não bacteriana, mas devida ao próprio vírus. Esta complicação pode atingir qualquer pessoa, jovem, idoso, pessoas em boa saúde na maioria das vezes. Ela é muito rara, atingindo provavelmente entre 1/100.000 e 1/1.000.000 de gripados. Ela é mortal em um numero de casos que varia entre 1/10 e ½, de acordo com a gravidade inicial, e fala-se então de mortalidade diretamente ligada à gripe. Em caso de cura, seqüelas pulmonares graves podem persistir. A SRA é as vezes chamada de gripe fulminante ou gripe maligna. 3. Complicações neurológicas: trata-se essencialmente da síndrome de Guillan Barré, de gravidade variável e que se cura em geral sem tratamento e sem deixar seqüelas. Os sintomas vão do simples formigamento passageiro até uma paralisia definitiva raríssima. Ela não é específico da gripe e pode desenvolverse por inúmeros fatores, inclusive à vacinação. A gripe pode provocar também raramente encefalites. A freqüência das complicações neurológicas graves (não reversíveis) é tão baixa que ela não é conhecida, e fica provavelmente entre 1/100.000 e 1/1.000.000 de gripados, sendo muito difícil de se julgar o que está realmente relacionado à gripe. 4. A morte é claramente uma complicação em si, qualquer que seja a causa. Este é um dos dados que se conhece melhor (ou menos mal), tendo em vista que a morte é um evento que é sempre registrado e documentado. No entanto, por mais extraordinário que pareça, ninguém conhece o numero exato de mortes devidos à gripe na Franca. Um balanço institucional entre 2004 e 2005 fornece, no entanto dados sobre a relação entre mortes e casos de gripe estimados por uma rede de observadores confiáveis. Essa relação é da ordem de 1/10.000, e é comparável aos números recolhidos na Nova Zelândia, no Reino Unido e nos EUA durante a epidemia do inverno de 2008. A análise detalhada das mortes na Franca mostra tratar-se essencialmente de pessoas de idade bastante avançada. A epidemia de 2009, pó outro lado, poupou a classe de idade mais elevada e atingiu principalmente os jovens. A morte de jovens gripados está entre 1/100.000 e 1/1.000.000, e está geralmente associada a uma doença pré-exitente. Isto corresponde as constatações de clínicos gerais: raros são aqueles que foram confrontados, em toda sua carreira, com um óbito por gripe quando o paciente era jovem e em boa saúde. Visto que um grande número de casos de pessoas gripadas não são contabilizados porque estas não desenvolvem, ou desenvolvem poucos sintomas, pode-se estimar que a taxa de óbitos de pessoas em boa saúde atingidas por uma gripe, sintomática ou não, é da ordem de 1/500.000. Dados recentes de mortalidade vindos de países onde a epidemia do inverno de 2009 foi grande (EUA) são compatíveis com esta estimativa. Contudo, os dados de epidemias precedentes concernem o vírus H3N2, majoritário nos últimos anos. Fica evidente com o passar do tempo que a mortalidade de jovens é superior com o vírus H1N1. deve-se portanto considerar uma variação maior para essa taxa de mortalidade, que poderia atingir, na pior das hipóteses, 1/100.000 na criança e no adulto em boa saúde. Contudo, na medida e que essa gripe pode atingir talvez dez vezes mais jovens do que a de outros anos (visto que eles não estão imunizados) é normal e esperado que os casos graves e os óbitos de jovens sejam dez vezes mais numerosos. Isso não significa que o novo vírus H1N1 seja necessariamente mais agressivo que o antigo H1N1. Os dados norte-americanos mostram que as mortes de crianças ligadas à gripe foi 4 vezes maior este ano do que nos anos anteriores, e não 100 vezes maiores, como foi imprudentemente anunciado na mídia em 2009. Na prática, a probabilidade de uma criança de mais de 1 ano ou um adulto de menos de 65 anos e em boa saúde de morrer ou de guardar seqüelas pulmonares ou neurológicas graves devido à nova gripe está certamente entre 1/100.000 e 1/500.000. Só o tempo poderá aumentar a precisão destas predições, mas é pouco provável que a realidade se situe fora deste intervalo. Globalmente, a gripe expõe pessoas gozando de boa saúde a um risco alto de incapacidade temporária e de tosse dolorosa, a um risco baixo de complicações reversíveis, e a um risco ínfimo de morte. O risco de morrer de gripe para uma criança ou um adulto são é., por exemplo, inferior ao risco de morrer por andar de bicicleta na cidade e muito inferior ao morrer por circular em motocicleta.. Ele se compara ao risco ao qual nos expomos ao fazermos uma longa viagem de carro. Num outro tipo de comparação, a chance de morrer de gripe em 2009 era menor do que a de ganhar na Sena fazendo-se uma aposta por semana. Para as pessoas que apresentam uma doença ou um estado particular (gravidez, primeiros meses após o nascimento) favorisando as complicações, só uma consulta personalizada permitirá de estimar-se com segurança a existência de um sobre-risco eventual. Ainda assim, o sobre-risco é em geral superestimado pelo público. Por exemplo, de acordo com os dados disponíveis em 2009, uma mulher grávida apresenta um sobre-risco de morte pela gripe de um fator inferior a 5, o que significa dizer que uma mulher grávida em boa saúde que contrai a gripe tem por volta de 49.999 em 50.000 chances de não morrer. É uma pena que ao se dissociar o médico de família ou o pediatra da discussão sobre a vacinação durante a campanha tenha-se dificultado o contato e o diálogo para os pacientes de risco. O único modo de proteger-se parcialmente mas duravelmente da gripe com uma eficácia cientificamente provada, fora o isolamento total, é a vacinação anual. Outros métodos existem (medidas de higiene e reforço da imunidade pela mudança de hábitos de vida e de alimentação), mas as provas de sua eficácia ainda não foram estabelecidas. Isso não significa que tais medidas não sejam eficazes, quer dizer apenas que esta eficácia ainda não foi demonstrada pelos métodos científicos aceitos atualmente. Quais são os riscos da vacinação antigripal? As vacinas antigripais tradicionais (sazonais) contém água, sais minerais inócuos e os vírus gripais mortos ou fragmentados. Esta água pode conter resíduos do meio onde foram cultivados os vírus da gripe, principalmente antibióticos, for;aldeído e proteínas de galinha (os vírus são em geral cultivados no interior de ovos para a produção de vacinas) Estes resíduos estão presentes em quantidades mínimas e só representam um problema no caso de alergias específicas. As vacinas sazonais vendidas em farmácias em seringas a dosagem única geralmente não contem adjuvantes metálicos nem conservantes (esqualeno, alumínio, mercúrio), à exceção do Gripguard®, que contém esqualeno. Essas vacinas também não contém vírus vivos. Ë difícil saber a composição precisa dessas vacinas pois ela não figura claramente na bula. Devido a um protocolo deficiente de pesquisa, os efeitos colaterais dessas vacinas não são perfeitamente conhecidos e são em geral subestimados no caso dos mais benignos (dores, febre, dores no corpo). Os acidentes graves são tão raros que é impossível de se quantificar, mesmo de forma aproximada. Segue abaixo a informação oficial do governo francês (Agencia do Medicamento) sobre os efeitos secundários da vacina contra gripe sazonal sem conservante nem adjuvante: Efeitos indesejáveis observados durante os testes clínicos A tolerância às vacinas gripais trivalentes é avaliada durante os estudos realizados anualmente em conformidade com as exigências regulamentares, e incluindo pelo menos 50 adultos de idades variando entre 18 e 60 anos e ao menos 50 pessoas de 61 anos ou mais. A avaliação da tolerância é realizada durante os 4 primeiros dias seguidos à vacinação. Afecções do sistema nervoso: • Entre 1% e 10% dos pacientes: dores de cabeça. Afecções da pele e do tecido subcutâneo: • Entre 1% e 10% dos pacientes: suor*. Afecções muscoesqueléticas e sistêmicas: • Entre 1% e 10% dos pacientes: dores musculares e articulares*. Problemas gerais e anomalias do local da aplicação: • Entre 1% e 10% dos pacientes: febre, tonteiras, tremores, fadiga. Reações locais: vermelhidão, inchaço, dor, equimoses, endurecimento*. *Estas reações desaparecem geralmente após 1 ou 2 dias da parada do tratamento. Eventos indesejáveis relatados durante o monitoramento após a comercialização (além dos acima mencionados) • Afecções hematológicas e do sistema linfático: diminuição transitória das plaquetas, gânglios. • Afecções do sistema imunológico: reações alérgicas, conduzindo a mal-estares graves em raros casos, edema de Quincke. • Afecções do sistema nervoso: nevralgia, formigamentos, convulsões febris, transtornos neurológicos, nevrite e síndrome de Guillain-Barré. • Afecções vasculares: inflamação das artérias afetando transitoriamente os rins em raros casos. • Afecções da pele e do tecido subcutâneo: reações cutâneas generalizadas incluindo comichões, urticária, erupções. Na prática a leitura dessa lista tem um efeito negativo, mas globalmente os acidentes graves com a vacina antigripal sazonal são excepcionais, ainda que os inconvenientes benignos sejam freqüentes, sendo difícil avaliar o que é realmente causado pela vacina. A reflexão sobre a vacinação sazonal é importante, pois como vimos anteriormente, a única questão importante consiste em decidir se iniciamos um processo de vacinação anual contra a gripe que deverá durar a vida inteira, e não de decidir se tomamos ou não a vacina pandemica contra a nova gripe A. A única exceção a esta reflexão concerne as mulheres grávidas e os recém nascidos, para os quais uma vacinação pontual é benéfica; estas duas classes da população beneficiam de uma vacina sem adjuvante ou esqualeno. Não dispomos atualmente de nenhuma informação quanto aos riscos associados à injeção anual da vacina antigripal sazonal durante uma vida inteira. Nada nos permite afirmar ou excluir que essas injeções repetidas sejam inócuas. Contrair a gripe garante uma imunização bem mais forte do que a conferida pela vacina. Não se pode afirmar ou excluir que esta melhor imunidade natural constitua uma vantagem no caso de uma epidemia futura por um vírus agressivo derivado do vírus A/H1N1 de 2009. Esta imunidade reforçada conferida pela doença é um pouco complexa para ser discutida aqui, mas é uma realidade inegável. Os indivíduos que contraíram a gripe espanhola A/H1N1 em 1918 possuem ainda, na maioria dos casos, os anticorpos protetores 90 anos depois, apesar da mutação progressiva do vírus. A vacina não é capaz, em hipótese alguma, de conferir uma imunidade tão sólida, principalmente as que não contém adjuvantes. Mal comparado, a imunidade conferida pela vacinação seria uma tranca, enquanto aquela conferida pela doença seria uma porta blindada. Existe um efeito altruísta na vacinação: ela diminui a probabilidade de se transmitir o vírus e colabora com a redução da intensidade da epidemia. Uma pessoa em boa saúde, deve colocar na balança o risco de uma gripe a cada 15 anos (e suas eventuais complicações) e o risco associados à vacinação anual, sabendo que a eficácia da vacina é habitualmente de 50% (ela divide por 2 o risco de contrair a gripe, mas não protege a 100% como outras vacinas). E claro que em termos de mortalidade, por exemplo, o risco ligado à vacina é bem inferior àquele ligado à gripe. Contudo, levado em conta o período de 15 anos essa diferença representa alguns pontos por milhão. Quando se atinge níveis de risco tão baixos por indivíduo, torna-se legítimo questionar-se sobre o interesse da busca do ‘’risco zero’’, visto que nós nos expomos quotidianamente a riscos bem maiores. A vacinação sazonal anual para indivíduos gozando de boa saúde é portanto uma escolha pessoal. Não existe regra pois não há uma conduta evidente. Cada um, em função da aceitação ou não de um risco ínfimo tanto num caso como no outro, fará a escolha para si mesmo e para seus filhos. O único argumento coletivo que pode incitar à vacinação seria o de diluir no tempo o aparecimento de casos graves de gripe, de modo a evitar a sobrecarga dos serviços de reanimação. Talvez esta justificativa tivesse sido melhor compreendida pelo público em geral. O que pensar da vacina pandemica e de seus adjuvantes? Na Europa, um elemento perturbou o debate das questões acima: a composição da vacina pandemica utilizada na campanha de vacinação em massa de 2009. Como foi visto, esta vacina foi fabricada segundo um protocolo industrial e administrativo acelerado, destinado à gripe ‘’aviaria’’ H5N1. Ou seja, respondendo a uma situação de urgência maior em vista de um vírus cuja mortalidade seria de 30% (e não de 0,01% como parece ser o caso do novo vírus A/H1N1). A vacina foi ‘’dopada’’ com um derivado de acido graxo, o esqualeno, para acelerar sua fabricação. Sabe-se que o esqualeno favoreça também as reações locais dolorosas e as reações gerais como febres e dores no corpo. Por outro lado, nenhum acidente grave pode lhe ser imputado com certeza. Uma duvida persiste sobre sua capacidade de desencadear doenças autoimunes. Apesar de seu tempo de uso ser bastante grande, os dados são pouco consistentes porque ele foi administrado essencialmente a pessoas idosas em instituições. Começamos apenas a dispor dos dados canadenses, que mostram uma freqüência de acidentes graves (incluindo mortes) de 1/250.000 vacinados com uma vacina contendo o esqualeno próxima do PANDEMRIX. Dados recentes vindos do reino Unido confirmam isto. Nos EUA a vacina pandemica não contem o esqualeno, Ela é idêntica, fora a linhagem viral, à vacina sazonal. Na Franca os frascos multidoses utilizados na vacinação pandemica de massa contem um conservante derivado do mercúrio, o tiomersal. Não se sabe atualmente se este produto pode causar problemas. Se for o caso, estes problemas são raros, de forma a não terem sido identificados nos estudos realizados no passado. A agencia francesa do medicamento tinha, contudo, recomendado em 2000 a não utilização do tiomersal, porem, mais uma vez, esta vacina pandemica foi fabricada num contexto de procedimento de urgência ‘’gripe aviária H5N1’’ cuja forte mortalidade justificava o risco dos conservantes. A posteriori este procedimento mostrou-se injustificado no caso do vírus H1N1, mas é sempre mais fácil ter-se razão a posteriori. Estes adjuvantes e conservantes são atualmente considerados seguros pelas autoridades sanitárias, mas não para os fabricantes, que entraram com um pedido formal para serem isentados contratualmente de qualquer responsabilidade em caso de problema. Para convencer o publico, seria mais coerente que os fabricantes renunciassem a esta clausula de proteção a fim de transmitir sua confiança no produto. Outro elemento a ser considerado antes de decidir-se ou não pela vacina, é o fato de que normalmente não se recomenda a vacinação em período de pico pandemico, visto que a imunidade leva ao menos 15 dias para se instalar. Em 2009 a ocorrência de um outro pico em 2010 parecia bastante improvável. Quanto mais a epidemia se dissipa, mais a importância da vacina se torna hipotética. Enfim, parece claro que a vacinação de um individuo que já contraiu a nova gripe sem saber não traz nenhum risco conhecido. O final de 2009 começo a ter acesso aos dados precisos sobre as epidemias na Europa do Norte. Os gráficos disponíveis no Google Flutrends revelaram-se confiáveis, ainda que os métodos utilizados na sua elaboração sejam diferentes dos métodos científicos habituais. Ao analisar-se estes gráficos constata-se que a epidemia manifestou-se em dois picos: um moderado em setembro (com exceção da Suécia) e outro mais forte em outubro/novembro. A epidemia estava praticamente terminada em todos os paises pesquisados no final de dezembro. E importante notar que a Suécia e a Noruega vacinaram maciçamente duas populações (70% de vacinados no caso da Noruega), o que não foi o caso da Franca (7%) e da Polônia (0%), contudo, o efeito preventivo desta vacinação não se faz sentir de forma importante nos gráficos. Deve-se comparar mais tarde, as taxas de mortalidade gripais nestes diferentes paises, esperando-se que os dados disponíveis sejam confiáveis. A que conclusão se chega? A nenhuma, é claro! Cada um deve concluir por si mesmo, em função de seus objetivos pessoais, de sua aceitação ou não do risco ligado à gripe ou ao ligado à vacina. Foram expostos acima elementos que lhes permitirão avaliar estes riscos e tomar uma decisão por você e seus familiares. Esta decisão será sempre pessoal e única. Saiba que qualquer que seja ela, a probabilidade é ínfima de que você seja confrontado à conseqüências graves ligadas a uma eventual escolha errada. No caso de decisão a favor da vacinação, parece mais interessante aguardar a vacina sazonal de 2010, que deverá conter a cepa mexicana do H1N1 de 2009, pois é provável que haja, como todos os anos, uma epidemia sazonal ligada ao vírus A/H3N2. E caso você ainda tenha duvidas, discuta-as com o seu médico, sabendo que ele não poderá decidir no seu lugar. Fonte: Artigo publicado em 12/01/2010 no site especializado em fóruns médicos Atoute.org (http://www.atoute.org/n/article134.html), assinado pelo Dr. Dominique Dupagne e subscrito por 241 outros médicos franceses.