2 ATRIBUNA VITÓRIA, ES, TERÇA-FEIRA, 29 DE DEZEMBRO DE 2015 Reportagem Especial IMUNIZAÇÃO Liberada a vacina contra dengue LEONE IGLESIAS/AT O produto, que mostrou eficácia na proteção contra os 4 tipos de dengue, chega ao Estado em março. Pesquisa durou 20 anos Eliane Proscholdt Francine Spinassé m meio à grande preocupação com o mosquito Aedes aegypti, uma novidade traz esperança para a redução nos casos de dengue: a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) concedeu o registro para a primeira vacina contra a doença. A previsão é de que ela chegue ao mercado em três meses. Produzida pelo laboratório francês Sanofi-Aventis, a vacina também já foi aprovada no México e nas Filipinas, mas ainda não começou a ser comercializada. A decisão da Anvisa foi publicada ontem no Diário Oficial da União. Agora, a comercialização depende da definição do preço do produto, tema que será analisado pela Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos (CMED). Em declaração recente à imprensa, o ministro da Saúde, Marcelo Castro, argumentou que o custo é visto como um “problema”. “O custo é bastante elevado. Uma dose custa em torno de 20 euros (R$ 86)”. O processo até que a vacina esteja nos postos e clínicas do País ainda deve levar cerca de três meses. A vacina foi aprovada para a prevenção da dengue causada pelos quatro sorotipos em indivíduos dos 9 aos 45 anos de idade. “Em crianças menores de 9 anos, a eficácia não foi tão boa. Já em indivíduos de 45 até 60 anos, apesar de terem sido estudados, não foi em áreas endêmicas, por isso não entraram no grupo. Pode ser que a idade seja ampliada”, explicou a diretora médica da Sanofi-Aventis, Sheila Homsani. O esquema de vacinação aprovado foi o intervalo de seis meses REYNALDO DIETZE “Teste feito no Estado em 800 voluntários” E O MÉDICO REYNALDO DIETZE, que atua no Estado, participou das pesquisas para a criação da vacina entre as três doses. “A eficácia da vacina é de 65,6% de proteção contra a dengue. É algo muito bom, já que até o momento não temos nada. Outro benefício é que ela reduz em até 93% os casos graves e, em 80%, as hospitalizações.” Os testes da nova vacina foram feitos em 40 mil pessoas de 15 países, inclusive na Grande Vitória, com participação do médico e diretor do Núcleo de Doenças Infecciosas da Ufes, Reynaldo Dietze. Segundo o laboratório, a vacina será produzida em uma fábrica na França, com capacidade de produção de 100 milhões de doses. O Ministério da Saúde informou que a decisão de incorporação no Sistema Único de Saúde (SUS) será estudada com prioridade e levará em conta critérios como a relação custo, efetividade, eficácia e população alvo. OPINIÕES Essa vacina representa um avanço importante. É mais uma proteção contra a doença “ ” Paulo Peçanha, infectologista A vacina é um bom recurso, embora ainda não seja ideal porque ela não garante uma proteção total “ ” Crispim Cerutti Júnior, infectologista Na Grande Vitória foram feitos testes da vacina, sob a coordenação do diretor do Núcleo de Doenças Infecciosas da Ufes, Reynaldo Dietze, que ontem conversou com a reportagem. A TRIBUNA – Como foi o teste no Estado? REYNALDO DIETZE – O teste foi feito no Estado em cerca de 800 voluntários da Grande Vitória (a maioria da capital), onde tinha epidemia da dengue e pessoas com risco de ter a doença. > Qual a idade? As pessoas entre 9 a 16 anos receberam a vacina na proporção de dois vacinados e um placebo. Esse grupo vem sendo acompanhado periodicamente há quatro anos. O estudo se estendeu por mais dois anos e quando surge qualquer sintoma são reavaliados. > Foram quantos anos para desenvolver a vacina da dengue? Quase 20 anos, mas temos de deixar bem claro que o estudo não acabou. Temos dois anos pela frente porque existem perguntas que ainda faltam ser respondidas. > Quais? Uma delas é saber se tem necessidade de fazer um reforço ou não. O ideal é que essa vacina durasse 10 anos. Além disso, estudos mostraram que pela primeira avaliação se teve uma eficácia muito boa, mas a publicação seguinte mostrou que essa eficácia caiu. COMO AGE A VACINA OUTRAS VACINAS EM DESENVOLVIMENTO Anticorpo Vírus da dengue INSTITUTO Oswaldo Cruz Vacina Vírus produzido em laboratório Vacina Defesa Doses Eficácia Ela utiliza uma versão enfraquecida, mas ainda viva, do vírus e protege contra os quatro sorotipos da dengue. A vacina é voltada para pessoas de 9 a 45 anos. O vírus enfraquecido no corpo humano leva à produção de anticorpos. Quando a pessoa que recebe a vacina é contaminada, o corpo já tem as defesas prontas. É aplicada em três doses, uma a cada seis meses, já que é a quantidade para que o sistema imunológico seja sensibilizado. Ainda não houve a necessidade de doses de reforço. 65,6% é a eficácia da vacina. Ou seja, de cada 1 mil pessoas, ela previne 656 casos. Há a redução de 93% de casos graves da doença e reduz em até 80% as hospitalizações. Fonte: Sheila Homsani (diretora médica da Sanofi-Aventis) e pesquisa A Tribuna. GSK/Biomanguinhos (Fiocruz) Takeda Butantan/ HC-USP/NIH FASE Pré-clínica – Testes em primatas COMO É FEITA A vacina foi elaborada de tal forma que, além de criar anticorpos, faz as próprias células do corpo agirem contra o vírus da dengue em uma eventual infecção. Para isso foram utilizadas partículas virais e o DNA do vírus Fase 1 – Primeiros Com a proposta de ser abrangente e segura, testes em humanos a vacina é feita com vírus inativado, que, por si só, não se replica no organismo e promete combater os quatro subtipos do vírus Fase 3 – Testes com Assim como a vacina do Butantan, o produto milhares de voluntários da multinacional japonesa Takeda é feito a partir de um vírus de dengue atenuado e modificado Fase 3 – Testes com A vacina promete ser mais eficiente que a da milhares de voluntários Sanofi. Feita à base de vírus da dengue atenuado – como as vacinas de rubéola e sarampo –, promete uma resposta imunológica maior e perene