Salários. Em dois anos houve trabalhadores a perder mais de 5000€ Pública garante que a do Estado não vai perder rendimentos O secretário de Estado da Administração maioria dos funcionários ISABEL TAVARES No espaço de dois anos houve trabalhadores a perder entre 5 mil e 10 mil euros do seu rendimento líquido anual. A cul- com os agravamentos já aprovados nos escalões de IRS (reduzidos de 8 para 5 e mais penalizadores) e com a sobretaxa segundo as últimas previsões da CE, será mesmo a maior da Europa. As palavras de Rosalino e de Santos pa é sobretudo do plano de austeridade, da recessão e do desemprego, que atinge em Portugal um nível recorde. Agora, muitos fazem contas à vida e aproveitam os simuladores que circulam pela internet para perceber qual o seu rendimento disponível no próximo ano. Para os que mantêm o posto de trabalho, a perda de rendimento estimada varia entre os 200 euros e um salário completo. Ainda assim, esta semana o secretário de Estado da Administração Pública, Hélder Rosalino, garantiu que os funcionários públicos que ganham até perto de de 3,5% em sede de IRS. Este ano, os subsídios são parcialmente cortados no caso dos rendimentos sujeitos a impostos entre os 600 e os 1100 euros e totalmente cortados a partir dos Pereira contrastam com a realidade encontrada pelo i (ver caixas página 3000 euros de rendimento colectável mensal vão ter mais dinheiro disponível em 2013. "Posso dizer que a esmagadora maioria dos trabalhadores da Administração Pública não terá uma quebra do rendi- mento em 2013 face a 2012", afirmou Hélder Rosalino perante os responsáveis dos sindicatos do sector. De acordo com o secretário de Estado, "a diluição dos subsídios aumenta os rendimentos de forma a cobrir o aumento de impostos" e "só a partir do intervalo de 3000 a 4000 euros pode haver uma situação de neutralidade", disse. Os montantes referidos dizem respeito ao salário sujeito a impostos e contribuições para a Segurança Social. Quanto aos pensionistas, Hélder Rosalino também afirmou que a maioria deve- rá ter um rendimento disponível superior no próximo ano. Os funcionários públicos verão descongelado em 2013 um dos subsídios que foi suspenso este ano - o de Natal -, mas este será retirado pela via dos impostos, 1100 euros. A mesma modalidade aplica-se no próximo ano ao subsídio que continua suspenso (férias). Os pensionistas da segurança social que recebem menos de 600 euros vão receber o subsídio de Natal de uma vez so e não em duodécimos, como acontecerá nos casos restantes, em que o subsídio será diluído ao longo de 12 meses. O pagamento de duodécimos terá início já em Janeiro de 2013 e a medida deverá ser aprovada já no próximo Conselho de Ministros. O objectivo é "anular o efeito da diminuição líquida do rendimento" que decorrerá do aumento de impostos que se verificará no ano que vem. A declaração continua a ser do secretário de Estado. Também esta semana, o ministro da Economia falou de salários. Numa entrevista à SIC Notícias, Álvaro Santos Pereira disse que os salários em Portugal são "demasiado baixos" e que o caminho não passa por seguir esta política. O ministro disse estar consciente de que "não vamos pensando que ganhar competitividade vamos ter um país de salários baixos". O ajustamento salarial em curso na economia portuguesa está a resultar numa redução significativa dos custos unitários de trabalho, que este ano deverão cair quase 4%. Entre 2010 e 2013, a quebra acumulada andará perto dos 10%. O desemprego recorde e a diminuição dos salários reais vão levar a uma quebra recorde do consumo privado que, seguinte) e com as sões de quase todos Ao jornal chegam nistas sem dinheiro e pais sem dinheiro estatísticas e previoficiais. histórias de pensiopara medicamentos para pagar as conos órgãos Factos 485€ É o montante do salário mínimo mensal em Portugal, antes de impostos 420€ É o valor médio das pensões em Portugal, menos de metade da média europeia 242€ do RSI Rendimento Social de Inserção em Portugal É o valor médio - 10,9 É actualmente poupança a taxa de do rendimento disponível (Junho 2012) tas dos filhos, entre os livros para o ensino obrigatório e a alimentação. Um em cada três portugueses não tem dinheiro para chegar ao fim do mês. está a empobretinham até em 2011 maior e os cer gregos poder de compra que os portugueses, apesar de também estarem a perder. Na Q Europa a 27 Portugal ocupa a 19. lugar em termos de riqueza por habitante ajusMAIS POBRES Portugal tada ao poder de compra. Desde que Os portugueses entrou na zona curo, em 1999, o PIB per capita caiu de 81% para 77% da média da União Europeia. Os números publicados esta semana pelo Eurostat mostram que os portugueses estão a afastar-se da média da UE, em vez de, como é suposto, diminuir o fosso. Os oito países mais pobres que Portugal são todos da Europa de Leste, mas nesses casos o poder de compra tem vindo a aumentar. Analisando o PIB - Produto Interno Bruto por habitante ajustado ao poder de compra, Portugal recuou em 2011 três pontos estão afogados em impostos e 16,3% não têm trabalho percentuais, o que representa a maior queda desde 1996 e que se repetiu em 2004. Ou seja, Portugal está mais de 20% abaixo da média da União Europeia. Este indicador pretende reflectir a riqueza produzida por habitante em cada país, corrigida das diferenças de preços entre os diversos Estados membros. A regis- tada em Portugal neste período mostra uma desaceleração da economia face à década de 90, anulando a aproximação conseguida entre 1995 e 1999, com uma recessão em três dos últimos quatro anos DOIS CASOS REAIS mantiver o actual nível de receita, ficarei no escalão 7 (5 lAS), com a obrigação de pagar mensalmente 620,45 euros, ou seja, no prazo de dois anos, a minha mensalidade vai duplicar. Com a liquidação de IRS relativo a 201 1 , chegou a minha vez de pagar o imposto especial que os trabalhadores por conta de outrem já pagaram em fins de 201 1 : 750 euros. Redução drástica dos benefícios fiscais para a compra de habitação própria, das deduções fiscais para despesas de saúde. Aumento da taxa liberatória sobre juros de 21 ,5% para 25%. Fim de algumas vantagens para dadores de sangue, que estavam isentos de todas as taxas moderadoras. Agora, poupo 5 euros em cuidados primários, mas pago 20 euros no caso de uma urgência. RICARDO SALVADO "PREFIRO SER "VAMPIRIZADO" PELO INSTITUTO PORTUGUÊS DO SANGUE QUE POR VÍTOR GASPAR" 58 anos, jornalista por conta própria desde 1995. Rendimentos brutos entre 33 mil e 42 mil euros/ano. 2006 Fim das caixas de previdência para certos grupos, entre os quais jornalistas. Fiquei sem liberdade de escolha dos médicos e sem os reembolsos relativamente generosos. E fiquei, sobretudo, sem alternativa ao sistema público, com todos os defeitos (como a morosidade na marcação de consultas). Com mais de 50 anos, dificuldade em encontrar um seguro privado em condições aceitáveis. do IRS. ao regime simplificado Lucro tributável passa de 65% para 70%. Na altura, a minha taxa de IRS era de 34%. Esta 2007 Alterações alteração custou-me MARIA SOUSA "SOMOS FUNCIONÁRIOS PÚBLICOS QUANDO É PARA CORTAR E PRIVADOS QUANDO É PARA TER DIREITO A BENEFÍCIOS" perto de 2€/dia. 44 anos, funcionária da Portway, empresa de handling da ANA Aeroportos de Portugal, sociedade de capitais públicos em fase de privatização. Recebe um salários bruto da ordem dos 2888€ desde 2008 e está a ser penalizada sobretudo pelo congelamento de carreiras e pelo aumento dos impostos. - fiscal de pensões alimentares. Como pai divorciado, pagava pensões alimentares para dois filhos, 2008 Alteração no tratamento montantes que eram deduzidos do rendimento colectável, ficando "isentos" da taxa de 34%. Passei a poder deduzir apenas 20% do valor da pensão do valor da colecta do IRS. 2009 Até aqui os nossos salários estavam congelados por motivos que se prendiam com os resultados da empresa. Quando a empresa melhorou a este nível foi o Estado quem veio congelar as carreiras. Em 2009 recebi, líquidos, perto de 28 500 euros. 2010 Aumento do IRS com efeitos a partir de Junho de 201 0. A taxa sobe de 34% para 35,5%. Ao mesmo tempo, a taxa liberatória para juros bancários sobe de 20% para 21 ,5%. IVA sobe um ponto percentual em todos os escalões. 201 1 Novo aumento do IVA, agora de 21 % para 23% (e de 6% para 13%). Fim dos incentivos fiscais para PPR, lá voam mais 300 euros por ano. Entrada em vigor o novo código contributivo para a Segurança Social. Passa a ser-me exigido um esforço adicional de contribuições para a SS na ordem dos 25 000 euros, porque os independentes perderam direito de escolher o seu escalão. Desconto para a SS em Portugal desde 1 995, altura em que nem sequer optei pelo escalão mais baixo. Até Outubro de 2011 , a minha contribuição mensal foi de 31 0,22 euros. A partir de Novembro de 201 1 , fui "promovido" para o escalão 5 (3 lAS), com uma mensalidade de 372,27 euros. 201 2 Em Novembro espera-me nova promoção, agora para o escalão 6 (4 lAS), com uma mensalidade de 496,36 euros. Finalmente, se 201 0 O salário manteve-se sensivelmente inalterado: 28 500 euros/ano. Os descontos também se mantiveram inalterados: Segurança Social 1 1 % (320€), seguro de da minha filha, o meu paga a saúde empresa -. 15€ e IRS 23,5% (700€). - 201 1 Este foi o ano das grandes perdas. O rendimento líquido anual baixou para cerca de 25600 euros. As diuturnidades foram congeladas e perdi parte do subsídio de Natal, como todos os trabalhadores, e privados. públicos 201 2 Este ano perdi subsídios de férias e de Natal. A acrescer a isso, sofro uma redução de mais de 200 euros (Redução OE 201 1 - 7,35%). A Segurança Social manteve-se nos 1 1 % e o IRS baixou para 21 %. O meu rendimento anual líquido não chegou a 22 mil euros, o que significa que perdi mais de 6500 euros em dois anos. É, apesar de tudo, interessante falar na forma como a empresa tentou dar volta ao assunto, ou seja, de alguma maneira compensar os seus trabalhadores pela perda de rendimentos. Por exemplo, a empresa deu a todos os funcionários com filhos em idade escolar um montante para a compra de livro. No meu caso recebi perto de 70€. Além disso, e para não ser objecto de desconto, substituiu o subsídio de almoço por um cartão que funciona tipo ticket refeição, para utilizar em restaurantes ou supermercados. Criou, por exemplo, um prémio para oferecer aos pais que têm filhos no quadro de honra. Este Natal, em vez do tradicional almoço ou jantar, a companhia ofereceu a cada um dos seus colaboradores um cabaz com diversos produtos. 2013 A acrescer aos cortes anteriores e a todas as alterações decretadas pelo governo em termos de escalões de IRS, terei de pagar a taxa especial de 3,5%. E é preciso ter em conta outros aumentos, como o do IMI - Imposto Municipal sobre Imóveis, que no meu caso passou a ser cinco vezes mais (superior a 200 euros). O mais engraçado é que para os cortes somos tratados como funcionários públicos, que não acontece com os benefícios. Um exemplo disso é a tolerância de ponto: a função pública tem direito e nós não. o