VI Congresso da Geografia Portuguesa Lisboa, 17-20 de Outubro de 2007 TERRITÓRIOS GLOBAIS - EXPLOSÃO DEMOGRÁFICA E INTERNET Jorge Ricardo da Costa Ferreira [email protected] e-Geo Centro de Estudos de Geografia e Planeamento Regional Faculdade de Ciências Sociais e Humanas Av. Berna 26 C 1069-061 Lisboa Telef. 21 7908300 Fax. 21 7908308 Resumo De acordo com os últimos dados da ONU, a população da terra está a crescer a um ritmo demasiado elevado. Dos cinco mil milhões em 1987, para mais de seis mil milhões em 2007 e, em 2050, mais de 9 mil milhões. Ainda segundo a Agência das Nações Unidas para a População (UNFPA), em 2007 a população urbana já atingia os 50% da população mundial. O acentuado crescimento demográfico far-se-á sentir sobretudo nos continentes Africano e Asiático onde, apenas numa geração, o seu crescimento acumulado duplicará. Isso significa que, daqui a 23 anos nas maiores cidades do mundo, viverão 80% dos habitantes do planeta. O mundo vira-se assim para as cidades, asfixiando-as num insuportável ritmo de crescimento urbano onde, por vezes, várias cidades se juntam numa, tornando-se aglomerações de escala regional. As razões que levam as cidades a um tão elevado crescimento são múltiplas. A sociedade da informação poderá ser um dos factores responsáveis. Se há uns anos se pensava que esta traria uma diminuição da densidade populacional das cidades, devido a factores resultantes de mudanças como o téle-trabalho ou a diminuição do número de deslocações entre o local de trabalho e as periferias, tais pressupostos não se vieram a verificar. A globalização poderia ser outro dos factores explicativos, uma vez que as cidades e as regiões estão a competir por recursos humanos, pela captação de investimento e pela imagem através do marketing territorial. A globalização e a regionalização representam ambos os lados da mesma medalha, reflectindo-se na economia, na cultura e no contexto sócio-político das grandes potências 1 VI Congresso da Geografia Portuguesa Lisboa, 17-20 de Outubro de 2007 mundiais. Ambas as tendências devem ter, logicamente, expressão na Internet. De facto, além dos domínios de topo associados ao código de cada país (.pt para Portugal, .fr para França. etc.) começa a ser sentida uma enorme necessidade de criar um novo tipo de domínios, quer regionais quer, inclusivamente ao nível das cidades. Estes representariam um conjunto de subdomínios associados quer a nomes completos, quer a abreviaturas de cidades. Este paper tem assim como objectivos: (i) Observar, para alguns países, o cenário de crescimento demográfico; (ii) Quantificar com base em metodologias de análise da Geografia da Internet, a espacialização territorial do endereçamento IP (Internet Protocol) através do número de hosts por domínios de topo (número de dispositivos on-line); (iii) Questionar a correlação entre deste indicador com a dinâmica demográfica de alguns territórios; (iv) Reflectir sobre as propostas para novas designações de domínios de topo (.eu, .asia, .nyc, .sg, .berlim, etc. ) que representariam comunidades políticas, económicas e/ou culturais de inquestionável relevância. Keywords: Geografia da Internet, População, Demografia, Sociedade da Informação, Disseminação da Informação. 2 VI Congresso da Geografia Portuguesa Lisboa, 17-20 de Outubro de 2007 INTRODUÇÂO As cidades estão entre as maiores comunidades humanas e autoridades regionais existentes. Obviamente que existem países como a China ou a Índia onde a população ultrapassa um bilião de pessoas. No entanto também existem países como Andorra, Barbados ou Maldivas onde a população não chega a 100.000 habitantes. De facto, as comunidades hierarquizam-se de acordo com o número de habitantes, independentemente da sua importância geopolítica. Cidades como Tóquio, Nova York, Xangai ou Londres encabeçam os rankings porque têm mais habitantes que alguns países. Londres, por exemplo, tem uma população superior à da Holanda e Tóquio ultrapassa o Canadá. Observa-se que existem apenas 400 cidades no mundo com mais de um milhão de habitantes, no entanto e segundo uma projecção da ONU, em 2010, mais de metade da população habitará em grandes metrópoles, o que acontecerá pela primeira vez na história da demografia. Este valor era de 48,7% em 2005. O desenvolvimento da sociedade moderna, bem como a evolução tecnológica, tem providenciado o contexto ideal, para que a grande rede mundial, tal como a população, se expanda a um ritmo exponencial. O crescimento urbano e a evolução de dispositivos cada vez mais portáteis que permitem a navegação na Internet, tem também impelido o crescimento da rede em todo o mundo. Vive-se agora uma revolução da informação, onde a Sociedade da Informação determina quem está presente e ausente no grande cenário económico-social.. A fome, as doenças e o combate pelo poder alimentam os conflitos, continuando a existir países onde a Internet é proibida como forma de limitar a liberdade de expressão. Esta info-exclusão forçada com vista a limitar a disseminação da informação determina diferenças ainda maiores no desenvolvimento das populações, agravando o seu estado de pobreza profunda e fazendo aumentar ainda mais os problemas demográficos da população Mais do que analisar a demografia, este paper tenta auxiliar-se dela para enquadrar a temática principal: a evolução da Sociedade da Informação e a explosão demográfica da Internet. Em todo o mundo a disseminação da informação evolui no caminho do conhecimento. O numero de computadores ou outros dispositivos mais ou menos integradores de tecnologias, colocamse ao serviço do cidadão. 1. A Explosão Demográfica Populacional 3 VI Congresso da Geografia Portuguesa Lisboa, 17-20 de Outubro de 2007 A população mundial tem crescido no decorrer da história em função de uma maior taxa de natalidade em relação à taxa de mortalidade. No início da Era Cristã a população humana correspondia a 250 milhões de habitantes; chegou a 500 milhões em 1650; atingindo 1 bilião em 1850; ultrapassou os 2 biliões em 1950; chegou a 5,6 biliões em 1995; e ultrapassou os 6 biliões de habitantes nos primeiros anos do século XXI. Esses números mostram que, no início, a população levou alguns séculos para duplicar, depois duplicou em duzentos anos. A seguir, duplicou em apenas cem anos e voltou depois a duplicar em cerca de 50. Analisando a marcha de crescimento populacional, podemos distinguir duas fases: (i) crescimento lento: até o séc. XVII, em função da inexistência de condições sanitárias adequadas, guerras, epidemias, etc., a taxa de mortalidade era elevada; (ii) Crescimento rápido: compreende principalmente, um período mais modesto; os séculos XVII e XIX e acentuadamente na segunda metade do séc. XX, em função dos avanços científicos e da melhorias das condições higiénico-sanitárias. Nesse período, o mundo deparou-se com um vertiginoso crescimento populacional, denominado explosão demográfica. O crescimento acelerado da população, embora tenha sido um processo mundial, tem-se concentrado principalmente nos países em vias de desenvolvimento e, em particular, nas cidades. De acordo com o último relatório da Agência das Nações Unidas para a População (UNFPA, 2007), a população da Terra está a crescer descontroladamente. De acordo com o Relatório “State of World Population 2007”, a população passou de 5.000 milhões em 1987 para 6.500 milhões em 2007. Este valor representa um aumento populacional de cerca de 30% em 20 anos. Em 2050 a população ultrapassará os 9.000 milhões de habitantes. 4 VI Congresso da Geografia Portuguesa Lisboa, 17-20 de Outubro de 2007 Milhões 10 9,3 9 7,9 8 7 7 6 6 4,5 5 4 3 3 2,5 2 1 0 1950 1960 1980 2000 2015 2025 2050 Gráfico 1 – Evolução da População Mundial (UFPA, 2007). No entanto, a relevância destes dados é diminuta, quando comparados com o crescimento da população urbana. Em 2007, a percentagem de população urbana correspondia a cerca de 50% do total da população. O mesmo relatório mostra que em 2010, essa tendência demográfica urbana continuará a crescer. A evolução no número de grandes metrópoles tem-se assumido como uma das grandes tendências da demografia mundial, quer em países desenvolvidos, quer em países em desenvolvimento. Importa, por isso, analisar a evolução demográfica dos catorze países que apresentavam em 2007 os maiores aglomerados urbanos (Estados Unidos, México, Brasil, Argentina, Egipto, Paquistão, Rússia, Índia, China, Bangladesh, Indonésia, Filipinas, Japão e Coreia do Sul). A análise desses aglomerados far-se-á um pouco mais à frente. Do conjunto de países em análise, em 1950 eram apenas quatro, aqueles cuja população era superior a 100 milhões de habitantes (Rússia, Estados Unidos da América, Índia e China). 5 VI Congresso da Geografia Portuguesa Lisboa, 17-20 de Outubro de 2007 Russia United States South Korea China Pakistan Japan Egypt Mexico India Bangladesh Brazil Philippines Indonesia Argentina ´ < 20 000 000 20 000 001 - 30 000 000 30 000 001 - 100 000 000 0 100 000 001 - 250 000 000 1.250 2.500 5.000 Km > 250 000 000 Mapa 1 – População no ano de 1950. Em 1975, o número de países já ascendia a oito e no ano 2000, o seu número já era de dez. Russia United States South Korea China Pakistan Japan Egypt Mexico India Bangladesh Brazil Philippines Indonesia Argentina < 100 000 000 100 000 001 - 250 000 000 250 000 001 - 750 000 000 0 ´ 1.250 2.500 5.000 Km 750 000 001 - 1 000 000 000 > 1 000 000 000 Mapa 2 - População no ano de 2000. 6 VI Congresso da Geografia Portuguesa Lisboa, 17-20 de Outubro de 2007 Em 2050 dos catorze países analisados, doze já terão uma população superior a 100 milhões de habitantes. Russia China South Korea United States Pakistan Japan Egypt Mexico India Bangladesh Brazil Philippines Indonesia Argentina < 100 000 000 100 000 001 - 250 000 000 0 ´ 1.250 2.500 5.000 Km 250 000 001 - 1 000 000 000 1 000 000 001 - 1 250 000 000 > 1 250 000 000 Mapa 3 - População no ano de 2050. De referir ainda que, em 2050, serão dezanove os países a ultrapassar a faísca dos 100 milhões de habitantes. Os sete países (fora do grupo de países analisados) embora registem um elevado número de habitantes, apresentam uma percentagem de população urbana mais baixa (Nigéria, República Democrática do Congo, Etiópia, Vietname, Irão, Iémen e Uganda). Analisa-se de seguida a evolução das dezanove maiores metrópoles, que se situam nos catorze países analisados (com excepção da Turquia e Nigéria). Incluem-se em alguns destes países, mais de uma metrópole. São os casos da China (Pequim e Xangai), a Índia (Bombaim e Nova Deli), O Japão (Tóquio e Osaka) e os Estados Unidos (Nova York e Los Angeles). Em 1950 existiam apenas cinco cidades com mais de cinco milhões de habitantes e apenas uma superior a dez milhões. Algumas como o Cairo, Carachi ou Jacarta ou Manila não ultrapassavam um milhão de habitantes. Apenas uma cidade, Nova York tinha mais de dez milhões de habitantes. 7 VI Congresso da Geografia Portuguesa Lisboa, 17-20 de Outubro de 2007 Istanbul New York Los Angeles Cairo Tianjin Osaka Beijing Tokyo Karachi Delhi Dhaka Mexico City Shanghai Manila Calcutta Bombay Lagos Jakarta Sao Paulo Rio de Janeiro Buenos Aires 100.000 1.000.000 ´ 5.000.000 0 10.000.000 1.250 2.500 5.000 Km Mapa 4 - População no ano de 1950. No ano de 2000 e face à dinâmica demográfica mundial, o crescimento dos valores de população das metrópoles mundiais era inquestionável. Todas as cidades em análise tinham mais de oito milhões de habitantes, sendo que dezasseis, já superavam os dez milhões. Beijing Istanbul Los Angeles New York Karachi Tianjin Osaka Delhi Dhaka Tokyo Cairo Shanghai Mexico City Calcutta Lagos Manila Bombay Sao Paulo Jakarta Rio de Janeiro 15.000.000 Buenos Aires 20.000.000 ´ 0 1.250 2.500 5.000 Km 25.000.000 Mapa 5 - População no ano de 2000. 8 VI Congresso da Geografia Portuguesa Lisboa, 17-20 de Outubro de 2007 Face às previsões demográficas para 2015 (não estão disponíveis previsões para 2050), todas as cidades em análise terão mais de dez milhões de habitantes e sete já deverão superar os vinte milhões: Nova York, Cidade do México, São Paulo, Bombaim, Nova Deli, Seul e Tóquio, que deverá estar muito próximo dos 30 milhões de habitantes. Estas cidades compreendem de uma forma geral um aglomerado central e um conjunto de cidades ou vilas vizinhas. Beijing Istanbul Los Angeles New York Tianjin Delhi Karachi Cairo Mexico City Shanghai Dhaka Bombay Tokyo Osaka Calcutta Manila Lagos Sao Paulo Jakarta Rio de Janeiro 15.000.000 Buenos Aires 30.000.000 ´ 0 1.250 2.500 5.000 Km Mapa 6 - População no ano de 2015. Observando agora a evolução graficamente, verifica-se que apesar do crescimento demográfico das metrópoles desde 1950, observa-se também um decréscimo na evolução dos números quando se compara o período 2000-2015 com os períodos anteriores. 9 VI Congresso da Geografia Portuguesa Lisboa, 17-20 de Outubro de 2007 Milhões 30 25 Pop. 1950 Pop. 1975 Pop. 2000 Pop. 2015 20 15 10 5 Moscovo Seul Osaka Cairo Pequim Manila Buenos Aires Xangai Los Angels Carachi Calcutá Jacarta Nova York Cidade do México Nova Deli São Paulo Bombaim Daca Tóquio 0 Gráfico 2 – Evolução da população em algumas metrópoles mundiais (UNFPA, 2007) Entre os países onde se localizam estas cidades, e com excepção da Índia, Argentina, Brasil Estados Unidos da América, Coreia do Sul, México, Rússia e Japão, tem uma percentagem de população urbana superior a 65%. 100 90 90 85 81 81 80 77 73 70 66 64 60 50 50 43 42 40 36 29 30 26 20 10 Gráfico 3 – Percentagem de população urbana (UNFPA, 2007). Bangladesh India Paquistão China Egipto Indonésia Filipinas Japão Russia México Coreia do Sul Estados Unidos Brasil Argentina 0 Internet Systems Consortium, Inc. (ISC), 10 VI Congresso da Geografia Portuguesa Lisboa, 17-20 de Outubro de 2007 É nestes países, que se tem verificado também um crescimento notável do número de dispositivos ligados à grande rede global (número de hosts por domínios de topo). Em termos práticos, esse número poder-se-á expressar através do número de servidores on-line ou de páginas presentes na World Wide Web. 2. A Sociedade da Informação e a Demografia da Internet O desenvolvimento da sociedade moderna e a evolução tecnológica têm providenciado o contexto ideal para que a grande rede mundial da Internet (tal como a população) se expanda a um ritmo exponencial. O crescimento urbano e a evolução de dispositivos cada vez mais portáteis que permitem a navegação na Internet, tem impelido o crescimento da rede em todo o mundo. Este crescimento pode ser expresso de várias formas: (i) número de utilizadores Internet; (ii) número de bytes (Peta/Terabytes) quantificados nas redes mundiais; (iii) número de páginas disponíveis na Internet; (iv) número de servidores (Hosts) por Domínio. O último indicador será neste momento o mais utilizado nas estatísticas de evolução da Internet. Cada computador ou dispositivo ligado à Internet, de forma temporária ou permanente, têm um número original que não se repete, o endereço IP (por exemplo o número 193.136.113.4). Um host faz-se representar por um endereço IP. De uma forma muito simplificada, pode afirmar-se que o IP expressa a demografia dos territórios globais e dos seus cidadãos na Sociedade da Informação. Estes hosts são, no entanto, de difícil quantificação devido aos sistemas de segurança (firewalls). Face a isso, é provável que o seu crescimento possa ser subestimado, na medida em que os sistemas de segurança assumem uma cada vez maior expressão. No passado recente um host correspondia apenas a um computador, mas com o desenvolvimento do “hosting virtual”, uma só máquina pode simular vários hosts (endereçamentos) ou domínios. Em Janeiro de 2006 existiam 395 milhões. Esta evolução demostra um crescimento anual de cerca de 38%. Devido à dificuldade de memorização desses números para abrir uma determinada página na World Wide Web, foi criado o Domain Name System (DNS), que torna possível a associação entre o endereço numérico e um determinado nome. 11 VI Congresso da Geografia Portuguesa Lisboa, 17-20 de Outubro de 2007 A projecção global de um endereço Internet, bem como ao seu impacto económico e social é enorme. O uso combinado de domínios geográficos de nível superior (CcTLD – Country Code Top Level Domain - .pt, .es, .fr) e de domínios organizacionais/genéricos de nível superior (gTLD – generic Top Level Domains -.com, .net, .org, .info) é actualmente, um dos melhores indicadores, quer para avaliar o potencial de crescimento económico, quer (por vezes) para captar o crescimento populacional de uma região ou de uma cidade. Quanto à sua distribuição, os domínios de topo referentes a cada país (CcTLD) cresceram cerca de 30% (é neste tipo de domínios de topo que se encontram os subdomínios .edu e .gov também eles muito importantes em termos de crescimento); os domínios de topo genéricos cresceram cerca de 43%. Gráfico 4 – Número total de hosts mundiais. Internet Systems Consortium, Inc. (ISC), Em Janeiro de 2006, mais de 240 milhões de hosts encontravam-se sob domínios de topo genéricos, sendo o .net e o .com os mais representados com cerca de 170 milhões e 69 milhões, respectivamente. Do total mundial, 121 milhões pertenciam a domínios de topo de países da OCDE. O maior número de hosts pertencia, por domínio de topo, ao Japão (.jp) com 25 milhões; a Itália (.it) detinha cerca de 11,2 milhões de hosts; a Alemanha (.de) com 9,9 12 VI Congresso da Geografia Portuguesa Lisboa, 17-20 de Outubro de 2007 milhões; a Holanda (.nl) com 7,3 milhões; a França (.fr) com 6,9 Milhões; a Austrália (.au) com 6 milhões e o Reino Unido (.uk) com 5,8 milhões; os Estados Unidos (.us) detinham apenas 2,44 milhões. Parece não haver qualquer relação entre o número de habitantes de um país e o seu número de hosts, no entanto em relação à correlação entre o número de hosts e a evolução do crescimento demográfico urbano, o mesmo já não se poderá afirmar. Tendo em conta a impossibilidade de contabilizar os hosts por domínios nas cidades, uma vez que como se sabe, a localização do endereçamento IP é muito difícil, é ainda assim possível quantificar o número de hosts por domínio de topo de cada país. 3. O Crescimento Urbano e a Explosão Demográfica da Internet Tendo como ponto de partida o mesmo universo de países analisados anteriormente (catorze países que apresentavam em 2007 os maiores aglomerados urbanos - Estados Unidos, México, Brasil, Argentina, Egipto, Paquistão, Rússia, Índia, China, Bangladesh, Indonésia, Filipinas, Japão e Coreia do Sul) foram quantificados o seu número de hosts para seis datas (Janeiro de 1998, 2000, 2002, 2004, 2006 e 2007). O Bangladesh, face ao seu muito reduzido número de hosts não tem representação gráfica. Ao contrário da população, os censos da Internet são relativamente recentes. Mas neste caso, as suas projecções, impossíveis de fazer. Os quase dez anos de dados (1998-2007) já permitem uma avaliação significativa, estabelecendo-se estes como serie temporal comparativa em relação ao período 1950- 2000 dos dados de população Em 1998, apenas o Japão e os Estados Unidos tinham mais de um milhão de hosts registados. Seis países registavam um número de domínios entre os 10.000 e os 100.000 (Brasil, Russia, México, Argentina, China e Indonésia). Nos restantes países, o número de hosts era insipiente. 13 VI Congresso da Geografia Portuguesa Lisboa, 17-20 de Outubro de 2007 Russia Japão United States China Pakistan South Korea Egypt Mexico India Brazil Philippines Indonesia 1.000 10.000 Argentina 50.000 100.000 1.000.000 ´ 0 2.500 5.000 Km Mapa 7 – Número de hosts por domínio em 1998. Em 1998, nos catorze países em análise, o número de hosts por domínio de topo era de, aproximadamente 2.7 milhões. Em 2007 existiam cerca de 56 milhões de domínios de topo geográficos. Cerca de 10% do total de todos os domínios de topo (geográficos e genéricos). 14 VI Congresso da Geografia Portuguesa Lisboa, 17-20 de Outubro de 2007 Russia United States Pakistan Mexico China Japão South Korea Egypt Philippines India Brazil Indonesia Argentina 10.000 100.000 ´ 0 2.500 5.000 Km 10.000.000 Mapa 8 – Número de hosts por domínio em 2007. Em Janeiro de 2007, o Japão já ultrapassava a barreira dos 30 milhões de hosts (um aumento de cerca de 5 milhões num só ano), o Brasil e o México já tinham mais do que 5 milhões de hosts registados sobre os domínios de topo geográficos. Entre um milhão e os dois milhões e meio de domínios aparecem a Índia, a Argentina, a China, os Estados Unidos e a Russia. 15 VI Congresso da Geografia Portuguesa Lisboa, 17-20 de Outubro de 2007 Milhões 35 30 25 20 15 10 Internet Systems Consortium, Inc. (ISC), 5 0 Hosts 2007 Japão (.jp) Brasil (.br) México (.mx) Russia (.ru) EUA (.us) China (.cn) Argentina (.ar) India (.in) Coreia Indonésia (.id) Filipinas (.ph) 30841523 7422440 6697570 2353171 2026166 1933919 1837050 1684958 304113 257671 243663 Paquistão Bangladesh Egipto (.eg) (.pk) (.bd) 98147 89063 350 Gráfico 5 – Número de hosts em Janeiro de 2007. Em termos relativos, doze dos catorze países tiveram acréscimos de mais de 2.500% no número de hosts entre 1998 e 2007. Sete dos países analisados, tiveram crescimentos superiores a 5.000%. Quatro, superiores a 10.000%. De notar que o Bangladesh é o único país com valores absolutos muito baixos. Russia United States Pakistan China Japão Mexico South Korea Egypt Philippines India Brazil Evolução % Hosts (1998 - 2007) Indonesia Argentina 10 ´ 50 100 0 2.500 5.000 Km Mapa 9 – Evolução dos domínios de topo entre 1998 e 2007. 16 VI Congresso da Geografia Portuguesa Lisboa, 17-20 de Outubro de 2007 De todos os países em análise, apenas a Coreia do Sul e os Estados Unidos da América registaram valores de crescimento relativos muito mais baixos, “apenas” 149% e 88% respectivamente. Estes valores devem-se ao elevado crescimento dos domínios de topo genéricos nestes países (em especial o .com). % 40000 35000 30000 25000 20000 15000 10000 5000 Gráfico 6 – Evolução percentual do n.º de hosts entre 1998 e 2007. s) (.u EU A or ei a C R us si a ( .r u) ( .j p) Ja pã o (.i d) (.e g) ia In do né s in as lip Eg ip to (.p h) r) (.b Fi Br as il ão (.p k) (.a r) Pa qu is t n) (.c hi na C co éx i M Ar ge nt in a x) (.m n) (.i a In di Ba ng la de sh (.b d) 0 Internet Systems Consortium, Inc. (ISC), Dos 14 países com as 19 cidades mais populosas do mundo, 8 pertencem ao grupo dos 25 países que em Janeiro de 2007 detinham o maior número de registos de domínios de topo geográficos (universo aproximado de 260 países). 17 VI Congresso da Geografia Portuguesa Lisboa, 17-20 de Outubro de 2007 35.000.000 30.000.000 25.000.000 Hosts - Jan. 2006 Hosts - Jan. 2007 20.000.000 15.000.000 10.000.000 Internet Systems Consortium, Inc. (ISC), 2007. 5.000.000 Índia Argentina China Austria Estados Unidos Russia Suiça Noruega Dinamarca Espanha Suécia Bélgica Finlândia Taiwan Canadá Polónia Reino Unido Brasil México Austrália França Holanda Alemanha Itália Japão 0 Gráfico 7 – N.º de hosts em Janeiro de 2006 e 2007. 4. A Criação de Domínios de Topo para as Cidades e Regiões Os domínios de topo geográficos estão a captar audiências cada vez mais globais. Nos últimos anos, são muitos os organismos que têm demonstrado vontade de regular o uso de domínios de topo geográficos para regiões, cidades e comunidades que demostrem alguma dimensão económica, demográfica ou comunitária. Antes destes grupos anunciarem a sua intenção para a criação dos seus TLDs, a entidade reguladora da Internet negligenciou comunidades, cidades e regiões durante mais de uma década. A países mais pequenos (com populações na ordem dos 10.000 habitantes) como as Ilhas Cook ou Tuvalu, foram concedidos TLDs pelo Internet Corporation for Assigned Names and Numbers (ICANN). Mas não há nenhuma grande comunidade “natural” à qual tenha sido concedido o direito ao uso de um TLD - uma megalópolis ou uma região com alguns milhões de habitantes. De facto, além dos domínios de topo como o .com ou .edu, começa a ser sentida uma enorme necessidade de criar um novo tipo de domínios, quer regionais, quer inclusivamente, ao nível de cidades. Este tipo de domínios de Internet seriam um conjunto de 18 VI Congresso da Geografia Portuguesa Lisboa, 17-20 de Outubro de 2007 sub-domínios associados quer a nomes completos, quer a abreviações de cidades. Exemplos como .berlim, .nyc ou .lx. Os domínios de topo citadinos transformar-se-ão, mais cedo ou mais tarde, numa realidade, podendo servir como elementos de equilíbrio entre o regional e o global, no comércio, na economia ou simplesmente como elementos de ligação social e/ou cultural. Permitirão ainda observar a dinâmica de crescimento da rede, permitindo a georreferenciação dos domínios de uma forma mais precisa e rigorosa. O(s) mapa(s) da geografia da Internet e nomeadamente a distribuição dos domínios de topo passaria assim a contar com uma escala regional e/ou local, como complemento da escala apenas nacional. CONCLUSÂO Parece não haver qualquer relação entre o número de habitantes de um país e o seu número de hosts por domínio. No entanto, parece existir uma correlação entre o crescimento demográfico de algumas áreas urbanas e o crescimento da Internet. Esta afirmação é válida para determinados patamares de desenvolvimento sócio-económico. O crescimento acelerado das grandes aglomerações urbanas mundiais são responsáveis por um grande aumento do número de domínios de topo geográficos. Está rapidamente a atingirse a saturação de algumas redes e só a evolução tecnológica da própria estrutura poderá ultrapassar os constrangimentos do aumento da disseminação da informação. A entidade reguladora da Internet – ICANN – continua a negligenciar comunidades, cidades e regiões. Se foram concedidos domínios de topo geográfico a países pequenos, porque não estender isso a outro tipo de circunscrições geográficas? A existência de novas designações de domínios de topo (.eu, .nyc, .sg, .berlim, etc.) permite a projecção de comunidades políticas, económicas e/ou culturais e é também fundamental para a afirmação dos territórios. A existência de diferentes escalas de uma geografia dos espaços 19 VI Congresso da Geografia Portuguesa Lisboa, 17-20 de Outubro de 2007 virtuais seria útil para uma melhor compreensão do fenómeno da disseminação da informação sobre o território. Poderá pois afirmar-se, que o crescimento da Internet será um reflexo da explosão demográfica mas também uma variável demonstrativa do crescimento urbano. BIBLIOGRAFIA: United Nations Population Fund (2007) State of World Population – Unleashing the Potential of Urban Growth. Japan Center for Economic Research (2006) World Economic & Population Outlook 20062050. United Nations Population Division (2001) World Urbanization Prospects: The 2001 Revision. CircleID (2001) City Identifiers on the Net: A closer Look. 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