APM PIRACICABA RESPONDE De qual maneira a Internet pode atrapalhar a relação médico paciente? “Doutor li na internet que esta doença é transmitida por tal coisa? Doutor o meu tratamento não é com transplante? E para esta dor de cabeça não tem que fazer ressonância? Doutor este remédio que Sr. passou não causa câncer?” Qual médico nos dias atuais não se deparou com perguntas parecidas como estas? Após o advento da internet, a qual completa vinte anos de existência, o acesso á informação rápida transformou a relação médico paciente. O que devemos refletir é se esta grande quantidade de sites, vídeos, blogs entre outros facilmente acessados de nossos smartphones e tablets, gerando oferta abundante de conhecimento, nem sempre correto, e de forma rápida e até mesmo instantânea e muitas vezes sem rigor científico não está minando a relação de confiança e até mesmo a admiração entre médico, paciente e seus familiares. Pois, tudo o que o profissional da saúde argumenta, explica e propõe logo é consultada a internet, até mesmo na frente do próprio médico, dentro do consultório ou num quarto de hospital, através dos nossos ágeis aparelhos, o que para alguns médicos pode gerar desconfiança, medo e até indignação. Acredito que o caminho da informação verdadeira, a transparência e o diálogo são a base da relação médico paciente, as quais são tão fortes que nenhum dado equivocado vindo da internet o esmoreça e sim una ainda mais tão linda e prazerosa relação, combustível milenar desta ciência misturada ao sacerdócio. Ao ser questionado pelo paciente ou seus familiares após suas consultas rápidas na internet e no caso desta informação não ser condizente com a medicina baseada em evidências, deve o médico com toda calma e espírito acadêmico checar a fonte consultada e debater os dados e condutas procedentes ou não. É inegável que o tempo em que a palavra do médico era a “palavra” de Deus, se foi há muitos anos e devemos buscar um novo tipo de relacionamento, onde muitas vezes o paciente e seus familiares até nos auxiliam nas pesquisas sobre o tratamento, pois a internet também possibilitou a nós médicos diminuirmos as distâncias e ter acesso a conteúdos científicos rápidos, confiáveis e de baixo custo. Desta forma, o papel do médico junto ao paciente e de sua família deve ser a de um verdadeiro consultor em saúde, daí o nome consulta médica, onde não devemos nos sentir ameaçados com o bombardeio de perguntas ou colocações, mas sim, desafiados a expor todo nosso conhecimento debatendo os porquês e explicando as condutas tomadas e ao mesmo tempo compartilhando as decisões a serem tomadas junto de seu paciente. Fato que isto demanda maior tempo de atendimento, o que cada vez mais tem sido raro, pois muitos médicos tornaram-se impacientes, ansiosos e angustiados em ter que atender várias consultas num curto período de tempo, o que gera histórias clínicas resumidas, mal elaboradas, exame clínicos mal feitos, excesso de exames complementares, fruto muitas vezes de agendas lotadas, período curto, decorrente a baixa remuneração do honorário médico, seja da saúde suplementar ou da excessiva demanda de pacientes no Sistema Único de Saúde. Ademais ao ser questionado, o médico, além de ter seu precioso tempo tomado, algumas vezes sente seu orgulho ferido e este é um ponto a ser questionado, pois a evolução de nossa espécie é fruto de questionamentos, dúvidas, e estas geram trabalhos científicos e consequentes avanços e descobertas da humanidade. Por isso, se faz necessário uma atualização cada vez maior dos médicos para poder argumentar com seus pacientes e famílias de forma segura e assim ganhando sua confiança e quando houver dúvidas, o que é absolutamente normal, ter humildade de aceitar e também pesquisar. Aos “leigos” cabe o cuidado de checar as fontes daquilo que lêem ou assistem pela internet, pois muitas informações não são confiáveis, até mesmo ridículas. Acredito que a relação médico paciente mudou com o advento da internet e o segredo é a forma como lidar com isto: ou alimentando desconfiança mútua ou ambos pesquisando e compartilhando conhecimento, pela internet é claro, para atingir o mesmo fim: A PROMOÇÃO DA SAÚDE!!! Dr. Ricardo Tedeschi Matos Especialista em Cirurgia Geral e Endoscopia Digestiva. Médico Legista Mestre em Ciências da Saúde pela FMUSP Secretário da APM regional Piracicaba Delegado do CREMESP CRM 91 681 Julho 2015 - APM - Regional Piracicaba 15