O desafio fiscal do Brasil | Insper – 7 de maio de 2015 Discussões sobre política fiscal e política monetária Felipe Salto* *Assessor econômico do senador José Serra, é mestre em administração pública e governo pela FGV/EAESP e professor dos cursos lato sensu da FGV/EESP Principais pontos • Origem do problema: a expansão fiscal desordenada combinou-se com a contabilidade criativa ▫ ▫ ▫ ▫ ▫ BNDES não transparente Controle cambial – swaps e reservas Mudança na matriz de crescimento e deterioração das receitas Ausência de controle do crescimento das despesas totais Ausência de limite para a dívida pública... • O aumento da dívida pública foi a solução encontrada para comportar todo o peso dessa política econômica equivocada ▫ Operações compromissadas explodiram ▫ Juros voltaram a aumentar rapidamente ▫ Efeito contágio ampliou-se • O programa de ajuste do segundo governo Dilma está muito distante do ideal ▫ Corte de investimentos ▫ Aumento de impostos Resultado primário negativo Despesas ajustadas por Levy • As despesas totais caíram 1,2% em termos reais na comparação do primeiro trimestre deste ano com o mesmo período do ano passado. As OCCs – Outras Despesas de Custeio e Capital somaram R$ 71,7 bilhões, consolidando queda real de 7,0% entre janeiro e março deste ano e o mesmo período do ano passado. - A parcela dos investimentos (capital) caiu 31,7%, no trimestre, ante mesmo período do ano passado. - A parcela do custeio aumentou 2,9%, em termos reais, refletindo incorporação de despesas trazidas do ano passado para a execução orçamentária do início de 2015. Despesas ajustadas por Levy – II • Os gastos com pessoal caíram 2,3%, atingindo R$ 54,9 bilhões no primeiro trimestre. • O abono-salarial e o seguro-desemprego caíram 1,8%, atingindo R$ 10,8 bilhões no trimestre. • Os benefícios previdenciários aumentaram em 4,7%, passando a R$ 98,0 bilhões no primeiro trimestre deste ano. • Mesmo com a forte contenção de investimentos, o primário não reagiu, totalizando R$ 4,5 bilhões no acumulado do trimestre contra R$ 13,1 bilhões no mesmo período do ano passado. • A meta pretendida é de 1,2% do PIB, isto é, algo entre R$ 65 e R$ 70 bilhões. O ajuste depende do Congresso? O ajuste depende do Congresso? - II O ajuste depende do Congresso? - III Meta impossível • A meta de superávit primário não será cumprida em 2015 • Premissa nº 1: receitas estagnadas, em termos reais (lembrando que elas estão caindo a quase 5% neste ano) • Premissa nº 2: contingenciamento orçamentário de R$ 70 bilhões. • Premissa nº 3: medidas de ajuste aprovadas pelo Congresso (com modificações). • Resultado: máximo primário possível seria de R$ 33 bilhões! Isso representa metade da meta prometida por Levy. • De onde virá o complemento? Concessões? Dividendos? Como não questionar um programa que já começa com uma meta impraticável? O problema maior... Taxa implícita atingiu nível recorde Dívida bruta cresce (como previsto) Muito além do primário... O problema dos juros* * Ver artigo de Fernando de Holanda Barbosa (2006) – “The Contagion Effect of Public Debt on Monetary Policy: The Brazilian Experience”. Prefixado Índice Preços Taxa Flutuante Câmbio Demais nov/14 jun/14 jan/14 ago/13 mar/13 out/12 mai/12 dez/11 jul/11 fev/11 set/10 abr/10 nov/09 jun/09 jan/09 ago/08 mar/08 out/07 mai/07 dez/06 jul/06 fev/06 set/05 abr/05 nov/04 jun/04 50,00% jan/04 Dívida pública mobiliária federal 60,00% 48,0% 40,00% 32,2% 30,00% 20,00% 19,1% 10,00% 5,2% 0,00% Dívida pública mobiliária federal + operações compromissadas 60,00% 50,00% 40,3% 39,2% 40,00% 30,00% 20,00% 11,5% 10,00% 5,2% Prefixado Índice Preços Câmbio Demais Flutuante + Copromissadas dez/14 ago/14 abr/14 dez/13 ago/13 abr/13 dez/12 ago/12 abr/12 dez/11 ago/11 abr/11 dez/10 ago/10 abr/10 dez/09 ago/09 abr/09 dez/08 ago/08 abr/08 dez/07 ago/07 abr/07 dez/06 0,00% Por que as compromissadas aumentaram tanto? • Em primeiro lugar, até 2012, pela aceleração da compra de reservas cambiais, com vistas à obtenção de um câmbio mais competitivo • Entre 2008 e 2015, a concessão de crédito para bancos públicos e o forte aumento das necessidades de financiamento do setor público explicam a necessidade de um maior enxugamento de liquidez • Mas, a que custo? • São quase R$ 870 bilhões a um custo médio de 13,25%... Isto é, R$ 115 bilhões por ano! Comparações internacionais - composição da dívida 93% 100% 92% 90% 97% 120% 95% 2013 61% 80% 39% 60% 5% 7% 8% 3% 20% 10% 40% 0% Curto prazo Longo prazo EUA Curto prazo Longo prazo Austrália Curto prazo Longo prazo Itália Curto prazo Longo prazo Portugal Curto prazo Longo prazo Alemanha Curto prazo Longo prazo Brasil Pontos finais • O perfil da dívida pública está associado ao grau de responsabilidade ou de esforço fiscal produzido pelo país, mas há também um problema do lado da oferta • É preciso que o Banco Central e o Tesouro tenham uma estratégia conjunta de gestão da dívida pública, com objetivo de alongar prazos e reduzir custos • A fixação de limites para dívida pública da União é essencial para que esse debate volte à tona e para que um novo modelo de política fiscal e monetária encontre lugar Obrigado! Felipe Salto [email protected]