Gás liquefeito é o pré-sal da Austrália

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Gás liquefeito é o pré-sal da Austrália
SACCOMANDI, Humberto. “Gás liquefeito é o pré-sal da Austrália”. Valor
Econômico. São Paulo, 10 de junho de 2013.
Há escassez de mão de obra em Gladstone, no leste da Austrália, onde o
desemprego está em apenas 3%. O preço dos imóveis nesta cidadezinha de 45
ml habitantes disparou. Pequenos negócios estão sofrendo com a falta de
trabalhadores e os aluguéis caros. O aeroporto foi reformado, e os voos estão
lotados. O porto de Gladstone tem um terminal de carvão, e há alguma indústria
pesada na região, mas para entender o que está acontecendo é preciso mirar o
horizonte, na direção do oceano Pacífico. Numa ilha em frente ao porto, a Curtis
Island, cresce uma floresta de guindastes. Lá está sendo construído o novo
motor da economia australiana: o gás liquefeito.
"Há 12 plantas de GNL [gás natural liquefeito] em construção no mundo. Sete
delas estão na Austrália, sendo que três em Gladstone", diz Mark Roche, CEO
da Queensland Resources Council, associação de empresas de recursos
naturais do Estado de Queensland.
Essas três plantas de Gladstone começaram a ser construídas em 2011 e vão
custar ao todo mais de US$ 30 bilhões. Mais de 60% disso já foi desembolsado.
Isso significa que a cidade recebeu desde então, só com esses projetos, o
equivalente a todo investimento estrangeiro direto que ingressou na Argentina
nos últimos três anos. Não é à toa que a economia local está superaquecida. As
obras estão empregando 9.000 pessoas. É a "era dourada" do gás na Austrália,
algo equivalente ao pré-sal brasileiro.
A primeira planta a ficar pronta será a QCLNG, da QGC, subsidiária local da
britânica BG. Ela deve entrar em operação no segundo semestre de 2014. As
outras duas, APLNG (consórcio da ConocoPhilips, Origin Energy e Sinopec) e
GNLNG (consórcio da Santos, Petronas, Total e Kogas), devem ficar prontas
em 2015. Curiosamente, as três plantas, que em tese são concorrentes, estão
sendo construídos pela mesma empreiteira, a gigante americana Bechtel.
Essas instalações receberão, por gasodutos, o gás produzido em regiões
próximas e o resfriarão, tornando-o líquido, ou seja, o GNL. Isso permite o
transporte seguro por navios. Ao chegar ao destino, esse GNL é reconvertido
para gás em plantas de regazeificação.
"Todo o gás desses projetos será para exportação", disse Peter Dougherty,
diretor do DSDIP, órgão de planejamento e desenvolvimento do governo
australiano.
Clientes não faltam na Ásia. O Japão vive uma crise energética após ter
fechado a maior parte das suas usinas nucleares. A China mantém um apetite
voraz por energia. A QGC vai exportar ainda para o Chile, que sofre com a
escassez de gás desde que a Argentina cortou o fornecimento ao país. Os
contratos de fornecimento foram assinados antes da construção das plantas, o
que ajudou a levantar o financiamento necessário.
"A Austrália está a caminho de ganhar muito dinheiro vendendo muito gás ao
Japão e à Coreia do Sul por muito tempo, com o potencial de vender ainda
mais, se a China se tornar um grande importador de GNL", escreveu Geoffrey
Garrett, deão da Australian School of Business, da Universidade de New South
Wales, em artigo publicado no jornal "Financial Review".
Ao todo, o investimento nos sete projetos de GNL na Austrália será de cerca de
US$ 160 bilhões, para a construção das instalações de produção, transporte,
liquefação e dos terminais marítimos. Só em Queensland, além das três plantas
de Gladstone, estão sendo gastos US$ 30 bilhões em produção e transporte do
gás de carvão (leia texto nesta página).
A Austrália já tem duas plantas de GNL em operação. Com as sete novas
unidades, a exportação de gás deve triplicar até 2017. Assim, o país, que já é o
maior exportador mundial de carvão, se tornará um dos maiores exportadores
de GNL, possivelmente atrás só do Qatar.
Atrás, por enquanto. Nos próximos dez anos, o setor de gás espera um novo
ciclo de investimento, da ordem de mais US$ 150 bilhões, em novas plantas de
LNG. África, Canadá, EUA e Austrália devem disputar esses investimentos.
Apesar de ter hoje custos até 30% maiores que os concorrentes, os
australianos esperam ficar com boa parte desse negócio. Há muita incerteza
quanto à duração do boom do gás de xisto que está impulsionando o setor nos
EUA. Além disso, os americanos têm custos extras de frete para a Ásia, pois as
plantas ficariam no Golfo do México. Em relação a países africanos, como
Moçambique, a Austrália oferece estabilidade política e jurídica, marco
regulatório claro, mão de obra capacitada e boa infraestrutura. "O que define
esse tipo de investimento não é só o preço, mas um pacote de condições",
disse Roche.
"Acho que uma era dourada do gás é muito provável, e uma era dourada do
carvão também é provável. E isso significa uma era dourada para a Austrália",
disse Fatih Birol, economista-chefe da Agência Internacional de Energia (AIE),
em entrevista ao jornal "The Australian". Segundo ele, o ciclo de investimentos
em gás no país é "muito impressionante".
O jornalista viajou a convite do governo da Austrália
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