UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS LETRAS E ARTES DEPARTAMENTO DE PSICOLOGIA Projeto: O Nacionalismo nas escolas públicas da cidade de João Pessoa-PB Orientadora: Profª Doutora Ana Raquel Rosas Torres Bolsista: Eldo Lima Leite Departamento de Psicologia Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes João Pessoa - PB Novembro, 2013 Introdução Nas sociedades ocidentais contemporâneas, a discriminação manifesta – que supõe crenças na inferioridade do grupo discriminado e rejeição do contato íntimo com os membros deste grupo – está sendo substituída por formas mais sutis de discriminação. Este projeto pretende contribuir para a compreensão dos mecanismos que favorecem a persistência da discriminação em contextos nos quais a norma antidiscriminação é explícita, como é o caso do Brasil. Normas sociais são padrões compartilhados de valores que, uma vez formados, passam a guiar o comportamento dos indivíduos nos grupos aos quais pertencem. Neste sentido, Sherif (1936/1966) propôs que “os valores sociais são o exemplo ‘por excelência’ de normas sociais” (p. 113). Por serem baseadas nos valores, as normas indicam aos membros do grupo o que devem e não devem fazer, prescrevendo os comportamentos apropriados e as ações que devem ser inibidas (CIALDINI, KALLGREN, & RENO, 1991; CIALDINI&TROST, 1998; DUBOIS, 2003). Embora a falta de consenso sobre o que é uma norma tipifique a literatura neste domínio, podem-se identificar duas características dos fenômenos normativos, as quais têm sido apontadas como centrais para que se especifique com precisão a natureza conceitual de uma norma: a descritividade e prescritividade. Assim, o conceito de norma assenta na distinção entre o que é mais tipicamente feito (ou o que se pensa que é mais frequentemente feito na sociedade), e o que é tipicamente aprovado, ou o que se pensa que é mais valorizado pela sociedade. A maioria das definições de normas pode ser organizada nessas duas categorias. A primeira categoria define o que se convencionou designar normas descritivas. A segunda categoria designa as normas prescritivas. Estas características indicam que as normas estão apoiadas em valores sociais (DUBOIS, 2003). Neste projeto, referimo-nos a uma norma especifica: a norma anti-discriminação. A anti-discriminação é uma norma prescritiva assentada no valor da igualdade como principio organizador das relações sociais. A formalização da norma anti-discriminação está amplamente difundida nas declarações dos direitos humanos e nas declarações da UNESCO sobre igualdade social (UNESCO, 1950/1951; 1978) e também na Constituição e no Código de Direito Penal de varias democracias ocidentais. A ideia fundamental dessa norma é a proposição de desaprovação social para comportamentos discriminatórios quando estes têm por base o preconceito. No caso deste projeto, o interesse recai sobre o preconceito racial. Assim, o objetivo principal deste projeto é analisar os fatores que facilitam a relação ente o preconceito e a discriminação, um problema socialmente relevante e teoricamente importante. Propomos que esta relação depende do recurso a mecanismos de legitimação. Entre os vários mecanismos de legitimação que estão subjacentes à exclusão social, analisaremos especificamente o papel do Nacionalismo. Diferentes teóricos postularam a respeito da origem do nacionalismo. Dekker, Malová e Hoogendoorn (2003), dentro de uma perspectiva psicológica, consideram o nacionalismo como uma atitude e não um fenômeno social ou político. Os valores, crenças, comportamentos, atitudes em relação ao exogrupos, a identidade seriam os fatores que estruturam a atitude nacional. Roccato, Re e Sclauzero (2002), em um estudo com militantes italianos, analisaram a relação entre o autoritarismo, o nacionalismo e o patriotismo. Em seu estudo, elas concebem o nacionalismo como detentor de consequências negativas para a nação, estando correlacionado com o autoritarismo, enquanto que o patriotismo teria um aspecto positivo. O nacionalismo seria, dentro desta perspectiva, uma ideologia caracterizada pela obediência acrítica, apoio a uma ordem política hierárquica com tendência ao totalitarismo e ao anti-pluralismo, idealizando o endogrupo em detrimento do exogrupo. Já o patriotismo, teria por característica a implicação emocional com a própria nação, não implicando na depreciação de outros países, sendo também uma das bases para se sustentar a democracia (COHN-BENDIT & SHCMIDT, 1993, IN ROCCATO, RE &SCLAUZERO, 2002). Sendo assim, uma vez que os membros dos grupos sociais usam discursos diferentes para se dirigirem aos membros do próprio grupo ou aos membros de outros grupos. No que concerne ao nacionalismo, pode-se dizer que as pessoas também diferenciam seus discursos quando se dirigem a membros de grupos considerados superiores ou a membros de grupos inferiores ao seu. Os estudos aqui propostos são uma continuação do estudo anterior nomeado “Os discursos raciais e suas consequências sociais” desenvolvido em 2011, sob orientação da Profª. Drª. Ana Raquel Rosas Torres, do Departamento de Psicologia, aprovado pelo Comitê de ética CEP/ HULW nº 698/10, Folha de Rosto nº 387153. Objetivos 1º. Analisar as representações sociais acerca do nacionalismo nas escolas públicas do Ensino Médio de João Pessoa; 2º Investigar os conteúdos apresentados pelos participantes concernentes à concepção de nacionalismo presente na amostra; 3º Investigar as consequências sociais desta visão a respeito da tolerância à entrada de imigrantes no Brasil. Metodologia Participantes A amostra será probabilística, não intencional, de ambos os sexos, inseridos no contexto escolar do ensino médio da Rede Pública da grande João Pessoa. Instrumentos O questionário utilizado será formado por cincopartes: 1. Associação Livre, onde a palavra estímulo é Nacionalismo; 2. Por favor, escreva as cinco primeiras palavras que lhe veem à mente quando pensa na palavra nação? 3. Um questionário aberto contendo as seguintes perguntas: 3.1 Quais as situações que lhe fazem ter orgulho de ser brasileiro? 3.2 Quais as situações que lhe fazem ter vergonha de ser brasileiro? 3.3 A imagem que se tem do Brasil é que aqui os imigrantes são bem recebidos e respeitados. Você concorda com esta afirmação? Sim ( ) Não ( ) Justifique sua resposta 3.4 Você acredita que os brasileiros tratam os imigrantes africanos e europeus da mesma forma? Sim ( ) Não ( ) Justifique sua resposta 3.5 Você acredita que os brasileiros tratam os imigrantes latino-americanos e norte-americanos da mesma forma? Sim ( ) Não ( ) Justifique sua resposta. 4. Um questionário Sócio-demográfico, contendo questões como: idade, sexo, renda, classe social e estado civil. Análise e Tratamento dos Dados Os dados quantitativos serão processados pelo programa PASW 18, onde serão procedidas análises descritivas, paramétricas e não paramétricas. Para os dados de natureza qualitativa será o software Alceste. Conclusões Este trabalho ainda está em processo de análise, não tendo, deste modo, resultados para serem apresentados neste resumo expandido. Referências Bibliográficas CIALDINI, R. B., &TROST, M. R. (1998). Social influence: Social norms, conformity, and compliance. In D. T. Gilbert, S. T. Fiske & G. Lindzey (Eds.), The handbook of social psychology (4 ed., Vol. 2, pp. 151-192). Boston: McGraw-Hill. COHN-BENDIT,D.-SCHMIDT,T.(1993): Heimat Babylon: Das multikulturellen Demokratie. Hamburg: Hoffman und Campe. Wagnis der DEKKER, H., MALOVÁ, D. &HOOGENDOORN, S. (2003)Nationalims and Its Explanation. International Society of Political Psychology. Published by BlackWell Publishing. In 360. Main Street Mandel, MA, 02142, USA.Political Psychology. Vol. 24, No 2. DUBOIS, N. (2003). Introduction: The concept of norm. In N. Dubois (Ed.), A sociocognitive approach to social norms. (pp. 1-16). London: Routledge. ROCCATO, M., RE, M., &SCLAUZERO, S. (2002) Autoritarismo, Nacinalismo Y Patriotismo: Um estúdio com militantes italianos. Psicología Política, No, 25. Noviembre. SHERIF, M. (1936). The psychology of social norms (1ª Harper Torchbook ed.). New York Harper. SHERIF, M., HARVEY, O. J., WHITE, B. J., HOOD, W. R., &SHERIF, C. W. (1961). The Robber's cave experiment: Intergroup conflict and cooperation (First Wesleyan ed.). Middletown: Weslean University Press.