1 COLÓQUIO Ontologia e Psicanálise 29 e 30 de março de 2017 2 Colóquio Ontologia e Psicanálise (1. : 2017 : São Paulo) Ontologia e Psicanálise : [caderno de resumos e programa do] Colóquio Ontologia e Psicanálise/ Caroline Vasconcelos Ribeiro (Org.). - São Paulo: Instituto Brasileiro de Psicanálise Winnicottiana, 2017. 65p. ISSN 1984-9591 1. Winnicott, D. W. (Donald Woods), 1896-1971. 2. Psicanálise. I. Ribeiro, Caroline, Vasconcelos. II. Título. 21 CDD 150.195 Índice para catálogo sistemático Psicanálise 150.195 3 Índice Apresentação5 Programa7 Conferências10 Comunicações24 4 5 Apresentação O Colóquio Ontologia e Psicanálise objetiva promover um debate entre os resultados de pesquisas e projetos em desenvolvimento do Grupo de Pesquisa em Filosofia e Práticas Psicoterápicas (GrupoFPP/ Unicamp/CNPq) - centrados no estudo da psicanálise de Winnicott e guiado pela teoria dos paradigmas de Kuhn e a ontologia fundamental de Heidegger - e outros olhares sobre a relação das diferentes formulações da ontologia com as distintas edições da psicanálise. A sua importância se deve à tentativa de socialização do conhecimento produzido no interior do GrupoFPP em franco debate com outras formas de abordagem da relação entre a ontologia e a psicanálise. Em função disso, a comissão organizadora do evento prezou por convidar especialistas responsáveis pelo desenvolvimento de diferentes linhas de investigação em relação à interface entre estes campos de saber. Esperamos que um debate plural e interdisciplinar aconteça durante a realização do Colóquio Ontologia e Psicanálise. Zeljko Loparic Caroline Vasconcelos Conceição Aparecida Serralha Suze Piza 6 7 Programação quarta-feira, 29 08h00 às 09h40 sessões de comunicação 10h00 às 11h00 conferência de abertura A ontologia fenomenológica ante o desafio clínico Irene Borges Duarte 11h00 às 11h20 debate 11h20 às 12h20 conferência Ontologia e os paradigmas do tratamento psicanalítico Zeljko Loparic 14h30 às 15h30 mesa redonda 14h30 às 15h00 Ética e continuidade de ser em Winnicott e Foucault Suze Piza 15h00 às 15h30 Sloterdijk e a semântica para dualidades arcaicas Juliano Pessanha 15h30 às 16h00 debate 16h00 às 16h20 intervalo 16h20 às 18h00 mesa redonda 16h20 às 16h50 Psiquiatria fenomenológica e psicanálise winnicottiana: O caso Anne Elsa Oliveira Dias 16h50 às 17h20 O corpo à luz da ontologia heideggeriana e da psicanálise winnicottiana: afinidades e distanciamentos Caroline Vasconcelos Ribeiro 17h20 às 18h00 debate 8 quinta-feira, 30 08h00 às 09h40 sessões de comunicação 10h00 às 10h40 conferência Ontología relacional, ontología de substancia y posibilismo ontológico en el psicoanálisis Leticia Olga Minhot 10h40 às 11h10 debate 11h10 às 12h35 mesa redonda 11h10 às 11h40 Representação e linguagem em Freud: considerações ontológico-metodológicas Carlota Ibertis 11h40 às 12h10 Uma proposta de ontologia hermenêutica na psicanálise: a psicanálise aplicada de Winnicott Éder Soares Santos 12h10 às 12h40 debate 14h40 às 16h35 mesa redonda 14h45 às 15h15 A Natureza do psíquico para Freud Fátima Caropreso 15h15 às 15h45 Princípio do prazer como regulador de uma civilização em declínio Franscisco Verardi Bocca 15h45 às 16h20 debate 16h15 às 16h40 intervalo 16h40 às 18h20 mesa redonda 16h40 às 17h20 Lacan contra a ontologia Daniel Perez 99 17h20 às 18h00 A psicanálise como “filosofia da carne”: Merleau-Ponty e os pressupostos ontológicos freudianos Richard Theisen Simanke 18h30 lançamento Pluralismo na Psicanálise Organizadores: Eduardo Ribeiro da Fonseca Franscisco Verardi Bocca Rogério Miranda de Almeida Zeljko Loparic 10 Conferências Carlota Ibertis Graduada em Filosofia na Universidad de Buenos Aires (UBA), Mestre e Doutora em Filosofia pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), Pós-doutorado em Paris 1 Panthéon-Sorbonne. Professora no Departamento de Filosofia da Universidade Federal da Bahia (UFBA), membro do Programa de Pós-graduação em Filosofia da mesma universidade, ex-coordenadora do GT “Filosofia e Psicanálise” da ANPOF (2011-2012), membro do Colégio de Psicanálise da Bahia. Tem experiência na área de Filosofia com ênfase em Filosofia e Psicanálise e sua vinculação com o pensamento moderno, abordando principalmente os temas de memória, representação, identidade, cultura e moralidade na teoria freudiana. Representação e linguagem em Freud: considerações ontológico-metodológicas Em Sobre a concepção das afasias: um estudo crítico, Freud apresenta as noções complementares de representação-palavra e representação-objeto para dar conta do fenômeno das afasias do ponto de vista mentalista por oposição à concepção localizacionista predominante à época. Nesse texto, ele propõe a noção de representação-palavra como um complexo construído com base em um intrincado processo de associações visuais, acústicas e cinestésicas. Do complexo de palavra distingue-se um outro correspondente às imagens sensíveis − visuais, táteis, auditivas, olfativas, de sabor e cinestésicas − do objeto mentado. Em outros termos, o objeto, − entendido como o conjunto das sensações que desperta − é referido pela palavra à qual se encontra ligado através da imagem de som, do lado da palavra, e da imagem visual, do lado do objeto. O propósito da apresentação é o de examinar aspectos dessas teses do ponto de vista ontológico e metodológico bem como tecer considerações acerca das suas relações com o empirismo moderno. 1111 Caroline Vasconcelos Ribeiro Graduação em Psicologia pela Universidade Federal de São João Del Rey (UFSJ) Mestre em Filosofia pela UFPB e Doutora em Filosofia pela Universidade Estadual de Campinas. Pós-doutoranda em Filosofia pela Unicamp. Co-editora da Revista Natureza Humana e membro do Instituto Brasileiro de Psicanálise Winnicottiana e do GT de Filosofia da Psicanálise da ANPOF. Organizadora, junto com Suely Aires, do livro Ensaios de Filosofia e Psicanálise e do dossiê “Filosofia e Psicanálise” da Revista Ideação. Professora Titular da Universidade Estadual de Feira de Santana. O corpo à luz da ontologia heideggeriana e da psicanálise winnicottiana: afinidades e distanciamentos Na obra Seminários de Zollikon Martin Heidegger dedica-se a pensar ontologicamente o que ele nomeia de “problema do corpo” (Leibproblem). A partir de uma conferência do médico e professor R. Hegglin sobre a psicossomática, o filósofo alemão indica como a concepção científica de corpo ancora-se em pressupostos modernos, posto que o entende como Körper, ou seja, em sua materialidade, enquanto coisa ou substância (res). Ao problematizar esse modo de conceber o corpo e a maneira como a ciência médica pensa a relação entre corpo e psique, Heidegger nos apresenta uma meditação sobre o sentido de corpo como Leib e, além de diferenciá-lo da materialidade da noção de Körper, relaciona-o a um modo de ser do ente que nós mesmos, o Dasein. Winnicott também faz uma discussão sobre a temática do corpo e de suas relações com o psiquismo ao formular a sua concepção de psique-soma. Para o psicanalista inglês, não é frutífero pensar o adoecer humano a partir de categorias como mente e corpo, sempre pressupostas como entidades separadas. Em função disso, Winnicott nos fala de um alojamento da psique no corpo e da conquista de uma existência psicossomática. Por entendemos que o tema do corpo aparece como uma questão ao pensamento dos dois autores almejamos, com essa comunicação, explanar sobre o modo como a psicanálise winnicottiana aborda a tarefa de personalização – de alojamento da psique 12 no corpo – e sobre a maneira heideggeriana de meditar sobre o problema do corpo (Leibproblem). Além disso, pretendemos examinar em que medida a abordagem ontológica e a winnicottiana se afinam e se distanciam ao tematizarem o corpo. 13 Daniel Omar Perez Professor de filosofia na Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), pesquisador PQ 1D no CNPQ com pesquisas sobre o sujeito e a linguagem a partir de Kant. Também desenvolve um projeto sobre A constituição do sujeito a partir das relações de identificação. Uma abordagem entre a filosofia kantiana e a psicanálise freudiano-lacanaina. Em 2012 realizou um estágio de pós-doutorado na Bonn Universität (ALEMANHA) onde desenvolveu parte do projeto sobre antropologia em Kant e avançou na tradução das Reflexões de Antropologia de Kant (trabalho iniciado com Valerio Rohden em 2008). No ano de 2007 realizou outro estágio de pós-doutorado na Michigan State University (EEUU) com o apoio da Capes. Concluiu o doutorado em 2002 na Universidade Estadual de Campinas (BRASIL) com o apoio da Capes. Obteve o título de licenciado em filosofia em 1992 na Universidade Nacional de Rosario (ARGENTINA). Publicou artigos científicos em revistas nacionais e internacionais, livros e capítulos de livros sobre filosofia e psicanálise. Orientou numerosas pesquisas no nível de iniciação científica, trabalho de conclusão de curso de graduação, especialização, mestrado e doutorado na área de filosofia e de psicanálise. É membro da Sociedade Kant Brasileira. Também atua como psicanalista. Lacan contra a Ontologia Diante da pergunta pela ontologia da psicanálise, Lacan responde com uma ética da psicanálise. Este aparente desvio se justifica na tarefa da psicanálise como uma prática clínica que procura acolher a experiência de desejo e não como uma teoria explicativa da realidade. Para sustentar esta proposição apresentaremos o dispositivo conceitual com o qual Lacan aborda, em O Seminário 7, a história de Antígona. Em função disto, 1. Mostraremos a diferença entre uma ontologia e uma ética; 2.a distinção entre as éticas do bem e a possibilidade de pensar uma ética do desejo; 3.destacaremos a distinção entre a noção de coisa (Sache) e a noção de Coisa (Ding) mostrando o aspecto Real da Coisa; 4. Introduziremos (extemporaneamente segundo a ordem cronológica dos seminários) a noção de objeto pequeno (a); 5. Apresentaremos a fórmula da ética do desejo para além ou aquém da noção de vontade; 6. Mostraremos que Antígona, ao não ceder de seu desejo é movida por ele involuntariamente. 14 Eder Soares Santos Graduação em Filosofia pela Universidade Estadual de Campinas (1997), mestrado em Filosofia pela Universidade Estadual de Campinas (2001), doutorado sanduíche em Filosofia - Universitat Freiburg (Albert- Ludwigs) (2005), doutorado em Filosofia pela Universidade Estadual de Campinas/SP (2006) e pós-doutorado na BergischeUniversität Wuppertal (2015). Tem experiência na área de Filosofia, com ênfase em Filosofia da Psicanálise, atuando principalmente nos seguintes temas: filosofia da psicanálise, fenomenologia existencial, teoria dos paradigmas em Kuhn, teoria do amadurecimento pessoal. Publicou o livro “Winnicott e Heidegger: aproximações e distanciamentos”. São Paulo: DWW Editorial/FAPESP, 2010. Foi coordenador do Programa de Pós-graduação em Filosofia entre outubro de 2009 e fevereiro de 2015. Atualmente é professor adjunto no Departamento de Filosofia na Universidade Estadual de Londrina - Paraná. Uma proposta de ontologia hermenêutica na psicanálise: a psicanálise aplicada de Winnicott Pretende-se esboçar como poder-se-ia ler a psicanálise de Winnicott à luz de outra ontologia científica Intenciona-se, assim, apresentar a psicanálise de Winnicott como uma ciência ôntica para o homem em sentido positivo que o trata qua homem. A fundamentação dessa ciência será fenomenológica hermenêutica, de inspiração heideggeriana, isto é, sua base ontológica estará fundada na compreensão do homem enquanto ser e não no seu entendimento enquanto um mero objeto da natureza. Essa ciência do homem seria, dessa forma, uma ciência da experiência. Isso significa dizer que seria uma ciência que parte da resolução dos problemas da vida cotidiana, do ente que vive na sociedade contemporânea, conduzida com todo rigor, porém sem a necessidade de ser submetida à mensuração e ao cálculo. 15 Elsa Oliveira Dias Psicanalista e professora do Instituto Brasileiro de Psicanálise Winnicottiana (IBPW) . Mestre em Filosofia pela PUCSP e doutora em Psicologia Clínica pela PUCSP, com a tese “A teoria das psicoses de D. W. Winnicott”. Membro do Grupo de Filosofia e Práticas Psicoterápicas (GrupoFPP/Unicamp/ CNPq). Fundadora, em 2001, do Centro Winnicott de São Paulo (CWSP) e, em 2005, da Sociedade Brasileira de Psicanálise Winnicottiana (SBPW). Em 2015, fundou e preside, com Zeljko Loparic, o Instituto Brasileiro de Psicanálise Winnicottiana (IBPW). É, ainda, vice-presidente da InternationalWinnicottAssociation (IWA). Autora dos livros A teoria do amadurecimento de D. W. Winnicott (2014, 3ª edição) Sobre a confiabilidade e outros estudos (2011) e Interpretação e manejo na clínica winnicottiana (2014), editados todos pela DWW editorial. Psiquiatria fenomenológica e psicanálise winnicottiana: o caso Anne Com este artigo, viso traçar pontos de aproximação e de distanciamento entre a psiquiatria fenomenológica, representada neste estudo por Blankenburg, e a teoria e a clínica dos distúrbios psíquicos, em especial das psicoses, de D. W. Winnicott, baseadas em sua teoria do amadurecimento. À luz do projeto fenomenológico de Blankenbug e de sua teoria da esquizofrenia entendida como perda radical da evidência natural, examina-se o caso da moça esquizofrênica, Anne, e o sentido terapêutico que orienta o seu tratamento, levado pelo autor-analista, e coteja-se a compreensão e o trajeto terapêutico empreendidos por este com o que seria a compreensão e o procedimento terapêutico decorrentes do pensamento e da clínica winnicottianos. 16 Fátima Caropreso Graduada em Psicologia (1999) pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). Mestre em Filosofia e Metodologia das Ciências (2002) e Doutora em Filosofia (2006) pela mesma instituição. Realizou estágio de pós-doutoramento (20072009) no Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). É autora, entre outros trabalhos, de “O nascimento da metapsicologia: representação e consciência na obra inicial de Freud” (EDUFSCar e FAPESP, 2008), “Freud e a natureza do psíquico” (Anna Blume e FAPESP, 2010) e “Entre corpo e consciência: ensaios de interpretação da metapsicologia freudiana” (EDUFSCar, 2011, co-autoria com R. T. Simanke). Atualmente é professora adjunta do Departamento de Psicologia, do Programa de Pós-Graduação em Psicologia e do Programa de Pós-Graduação em Filosofia da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). As suas principais áreas de atuação como pesquisadora e docente do ensino superior são epistemologia e história da psicologia e da psicanálise. Bolsista de Produtividade em Pesquisa do CNPQ (nível 2). A Natureza do Psíquico para Freud No “Projeto de uma psicologia” (1895/1950), um dos textos inaugurais da metapsicologia freudiana, Freud propõe que os processos psíquicos inconscientes sejam, em última instância, processos cerebrais e tenta formular uma teoria sobre esses processos em termos neurológicos. Portanto, nesse momento inicial do pensamento freudiano, a metapsicologia é explicitamente uma neuropsicologia. Nos textos metapsicológicos posteriores, essa referência explícita à neurologia desaparece quase completamente, e Freud passa a formular suas teses usando principalmente termos psicológicos. Nessa palestra, pretendemos abordar a questão da natureza do psíquico e do estatuto da metapsicologia para Freud a partir da análise de suas concepções sobre a representação, a consciência e o inconsciente elaboradas ao longo de seus textos metapsicológicos. Argumentaremos que, para o autor em questão, a abordagem puramente psicológica dos processos mentais inconscientes era algo que ele acreditava ser momentaneamente necessária, devido à impossibilidade de abordá-los, então, em termos físicos. No entanto, a questão a respeito da natureza da consciência apresenta-se mais complexa e obscura e coloca problemas para a definição da posição ontológica de Freud. 17 17 Francisco Verardi Bocca Graduado em Arquitetura e Urbanismo pela PUCCAMP (1985); bacharel e licenciado em Filosofia pela UNICAMP (1997); mestre em Filosofia pela UNICAMP (1994) e doutor em Filosofia pela UNICAMP (2001). Pósdoutor em Filosofia pela UFSCar (2009) e pela Universidade de Paris VII - Denis Diderot (2014). Professor Titular do Curso de Filosofia e do Programa de Mestrado e Doutorado em Filosofia da Pontifícia Universidade Católica do Paraná. Atua nos seguintes temas: filosofia da história, psicanálise, literatura e ética. Compõe e coordena a linha de pesquisa Filosofia da Psicanálise, Compõe e lidera o grupo de pesquisa Filosofia da Psicanálise (PUCPR) cadastrado no CNPQ. Compõe ainda os grupos de pesquisa Filosofia e Psicanálise (UFSCar) e Filosofia e Práticas Psicoterápicas (UNICAMP) cadastrados no CNPQ. No biênio de 2008 a 2009 ocupou a coordenação do G. T. Filosofia e Psicanálise da ANPOF. Princípio do prazer como regulador de uma civilização em declínio Esta conferência, em lugar do frequente pessimismo, identifica em Freud um ponto de vista declinista sobre o homem, a civilização e seus destinos, conforme o ponto de vista entrópico das ciências naturais. Para isto, recorre, sem cronologia, a várias obras de Freud onde apresenta seu ponto de vista conjectural que colocou em perspectiva continuísta os fatos históricos em ordem de progressos e avanços culturais, mas também como produtora de mal estar, de intolerância e de declínio civilizatório. Assim, põe em discussão a questão fundamental e de extrema pertinência relativa à atribuição de validade da segunda lei da termodinâmica para além dos sistemas físicos inertes. Com o reconhecimento de toda dificuldade, atribuímos a Freud a consideração de que a entropia se aplica aos sistemas biológicos e por extensão às sociedades humanas. 18 18 Irene Borges Duarte Professora associada na Universidade de Évora e investigadora no LabCom.IFP/ UÉ, onde coordena a linha de investigação em Fenomenologia. Foi docente na Universidade Complutense de Madrid (1992/1996), onde se doutorou, em 1994. Formação nas universidades de Lisboa, Madrid (Complutense), Mainz e Freiburg imBreisgau. Actividade investigadora no horizonte de uma Ontologia hermenêutica e fenomenológica, com especial atenção à questão e prática da tradução (com vários projectos financiados pela Fundação para a ciência e a Tecnologia, sob a designação global de “Heidegger em Português”), à Filosofia da Técnica, à Psicanálise e à Análise existencial de raiz heideggeriana. Directora do Curso de Doutoramento em Filosofia na UÉ. Presidente da Direcção da Associação Portuguesa de Filosofia Fenomenológica (AFFEN).Selecção de publicações:Arte e Técnica em Heidegger (Lisboa, 2014); Fenomenologia e Ciência. Actas do IIIº Congresso Luso-Brasileiro de Fenomenologia(Org. em col.; 2014); A Morte e a Origem. Em torno de Heidegger e de Freud (Org.;. Lisboa, 2008); A natureza das coisas e as coisas da Natureza. Um estudo da Crítica da Razão Pura(Lisboa, 2006); Heidegger, Linguagem e Tradução (Org. em col.; Lisboa, 2004). La presencia de Kant en Heidegger. Dasein, Transcendencia, Verdad. (Madrid, 2001) A ontologia fenomenológica ante o desafio clínico Partindo da orientação originariamente prática da filosofia, o presente trabalho pretende colocar, no actual contexto da ontologia fenomenológica, muito especialmente na de raiz heideggeriana,a questão da relevância da prática clínica, de que a psicanálise pode ser considerada exemplar. Trata-se de entender como o agir e compreender o agir a partir das dificuldades e, inclusive, das patologias da realização vital quotidiana se converteu numa das questões incontornáveis da ontologia, na sua herança heideggeriana. Sendo a prática clínica uma via de pesquisa do ser à maneira humana, que, ao contrário da tradição teorética, não parte dos conceitos mas do seguimento sempre casuístico dos factos, tratar-se-á também de questionar se este percurso de intersecção oferece suficientes garantias de cientificidade.É neste ponto de intersecção entre a conceptualidade científica e a casuística da sua aplicabilidade que se situa a importância do desafio que a prática clínica da psicoterapia, nas suas diferentes vias, constitui para a filosofia fenomenológica. Procederse-á, portanto, a definir e identificar aquilo que a clínica possa oferecer à meditação filosófica; para, posteriormente, referir e identificar alguns instrumentos conceptuais nascidos no contexto da prática clínica, que possam revelar-se operatórios no contexto transversal da abordagem fenomenológica de questões filosóficas. 19 Juliano Pessanha Possui graduação em filosofia pela Universidade de São Paulo (1986) e mestrado em psicologia clínica pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (2009). Doutor em Filosofia na Universidade de São Paulo (2017). Autor da trilogia Sabedoria do nunca (1999), Ignorância do sempre (2000) e Certeza do agora (2002), também publicou Instabilidade perpétua (2009), todos reunidos em nova edição sob o título Testemunho transiente (Cosac Naify, 2015), vencedor do Prêmio APCA, Grande Prêmio da Crítica, categoria Literatura. Sloterdijk e a semântica para dualidades arcaicas. A partir da leitura da obra de Sloterdijk será abordada a redescrição da antropogênese em termos da teoria dos pares e da ideia de consubjetividade. Se pretende mostrar que esse empreendimento filosófico tem matrizes winnicottianas. 20 Letícia Olga Minhot Doctora en Filosofía por la Universidad Estadual de Campinas, Licenciada en Filosofía por la Universidad Nacional de Córdoba. Profesora Titular de la disciplina Concepciones Filosóficas en la Escuela de trabajo Social de la Facultad de Ciencias Sociales y Profesora Adjunta de la disciplina Problemas Epistemológicos de la Psicología en la Facultad de Psicología, ambas en la Universidad Nacional de Córdoba. Autora del libro “La mirada Psicológica. Um análisis kuhniano Delpsicoanálisis de Freud.” Directora del proyecto de investigación: Transgresión y cuidado: la comunidad solidaria. Subsidio Secyt-UNC. Editora de la revista Representaciones. Revista de EstudiossobreRepresentacionesem Arte, Ciencia y Filosofía. SircaPublicaciones. ISSN 1669-8401. Línea de investigación: filosofía de la ciencia, filosofía política de la ciencia, en particular del psicoanálisis. Ontología relacional, ontología de substancia y posibilismo ontológico en el psicoanálisis. En este trabajo buscamos comprender una nueva ontología: el posibilismo ontológico. En este trabajo aspiramos a elucidar el concepto “posible” en el que se basa esta ontología. Para ello, se presentan algunas nociones del concepto. Luego, mostramos cómo éstas se diferencian de la que traza la nueva ontología. En este trabajo se tratará de pensar el llegar a ser desde el posibilismo ontológico y ver cómo impacta esta ontología en contraposición con el determinismo psíquico de Freud. Tratar de comprender el psicoanálisis winnicottiano desde esta ontología nos abre nuevas puertas para pensar el psicoanálisis. 21 Richard Theisen Simanke Graduado em Psicologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Mestre em Filosofia e Metodologia das Ciências (UFSCar) e Doutor em Filosofia (USP). Professor do Departamento de Filosofia e Metodologia das Ciências da UFSCar de 1994 a 2012 e Professor do Departamento de Psicologia da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) desde 2012. Atualmente é professor e orientador de mestrado e doutorado do PPG em Psicologia da UFJF, atuando na linha de pesquisa em História e Filosofia da Psicologia. Autor de “A formação da teoria freudiana das psicoses” (Ed. 34, 1994; 2.ed. Loyola, 2009), “Metapsicologia freudiana: os anos de formação” (Discurso Editorial, 2002) e “Entre o corpo e a consciência: ensaios de interpretação da metapsicologia freudiana” (EDUFSCar, 2011; com Fátima Caropreso), além de diversos outros trabalhos na área de história e filosofia da psicologia e da psicanálise. Bolsista de Produtividade em Pesquisa (CA Filosofia) desde 2002. A psicanálise como “filosofia da carne”: Merleau-Ponty e os pressupostos ontológicos freudianos A ontologia desenvolvida por Merleau-Ponty nos estágios finais de sua obra está centrada no conceito de carne (chair) e dá a essa noção seu alcance mais geral ao complementar a ideia de uma “carne do corpo” com a de uma “carne do mundo”. Este trabalho pretende, primeiramente, avaliar a possibilidade de interpretar essa filosofia da carne como uma ontologia materialista. Com esse propósito, considera-se a possibilidade de compreender o conceito de carne como uma nova figura da matéria, apesar das afirmações de Merleau-Ponty que parecem excluir essa interpretação. Também, em seus últimos escritos e notas de trabalho, Merleau-Ponty sugeriu a possibilidade de interpretar a psicanálise freudiana, ela mesma, como uma “filosofia da carne”. Assim, um segundo objetivo é seguir essa sugestão e discutir a qual visão da teoria de Freud essa leitura pode conduzir, sobretudo com relação a uma interpretação materialista de seus pressupostos ontológicos. 22 Suze Oliveira Piza É professora de Filosofia na UFABC. Docente no Programa de Pós-Graduação em Filosofia na linha de pesquisa em Ética e Filosofia Política. Pesquisadora de pósdoutorado e professora colaboradora no Departamento de Filosofia (IFCH) UNICAMP. É Doutora e Mestre em Filosofia pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Tem diversos artigos e livros publicados na área de Filosofia. É pesquisadora junto ao Grupo de pesquisa em Filosofia e práticas psicoterápicas da UNICAMP, no Grupo Perspectivas críticas da filosofia moderna e contemporânea da UFABC e LAPEFIL - Laboratório de ensino de Filosofia. Atua principalmente nos seguintes temas: pensamento ético-político moderno e contemporâneo, filosofia contemporânea, ontologia, filosofia na América Latina e interfaces entre Filosofia e Psicanálise. É bolsista da CAPES como coordenadora do projeto PIBID-Filosofia. Ética e continuidade de ser em Winnicott e Foucault Antes e independente de qualquer coerção externa a criança cria a capacidade de concernir, isto é, sente-se culpada e responsável por outras pessoas. Aí está para Winnicott a origem da Ética, não uma Ética normativa, mas uma Ética do cuidado vinculada necessariamente a continuidade de ser. Aquilo que Foucault denominou, a partir do fenômeno cultural grego, de cuidado de si e cuidado dos outros, uma série de práticas, modos de vida que servem de condições para a emergência da possibilidade singular de ser humano. A fim de explicitar o sentido desse cuidado exploraremos a contribuição tanto de Winnicott quanto do último Foucault na vinculação entre Ética e ontologia, modos de viver e modos de ser. 23 Zeljko Loparic Doutor em filosofia pela Universidade Católica de Louvain (1982). É professor da Unicamp e da PUCPR. De 198e a 1985 foi coordenador do Centro de Lógica da Unicamp. Entre 1989 e 1994 presidiu a Sociedade Kant Brasileira. Em 2005, em colaboração com Elsa Oliveira Dias, fundou, e desde então preside, a Sociedade Brasileira de Psicanálise Winnicottiana (SBPW). Em 2013, fundou e assumiu a presidência da Internacional WinnicottAssociation (IWA). Em 2015, promoveu a criação do Instituto Brasileiro de Psicanálise Winnicottiana (IBPW). É autor de livros Heidegger réu (1990), Ética e finitude (1995, 2a. ed. 2004), Descartes heurístico (1997), A semântica transcendental de Kant (2000, 3ª edição 2005), Sobre a responsabilidade (2003), Heidegger (2004), Winnicott e Jung (2014) e organizador de várias coletâneas, entre outras Winnicott e a ética do cuidado (2013), além de ter publicado numerosos artigos sobre história da filosofia, epistemologia e filosofia da psicanálise em revistas brasileiras e estrangeiras. Ontologia e os paradigmas do tratamento psicanalítico De início, o presente trabalho se propõe a expor a maneira como Kant substituiu a ontologia tradicional pela teoria do valor objetivo das determinações universais teóricas dos objetos da natureza (semântica a priori das categorias) e dos princípios universais do agir humano (pragmática a priori da autodeterminação e autoprodução do homem). Na segunda parte, será examinada a tentativa de Heidegger de recuperar, contra Kant, o sentido ontológico originário, não tradicional e, ao mesmo tempo, présemântico e pré-pragmático, das estruturas do existir e do agir humano (ontologia fundamental). Na terceira parte, será estudada a possível relevância das teses de Kant sobre o fim da ontologia tradicional e a proposta heideggeriana da ontologia fundamental para as diferentes modalidades de tratamento psicanalítico de distúrbios do pensamento, do agir e do existir humanos. Ênfase especial será dada à avaliação da função do que, na linguagem de Kuhn, pode ser chamado de “componente ontológico” dos paradigmas de Freud e de Winnicott. 24 Comunicações Martin Heidegger e a escrita da história Martin Heidegger é um dos cânones do pensamento filosófico, com discussões longe de serem esgotadas e publicações que ainda estão por vir a lume. Contudo, na história ele é um autor praticamente esquecido, tanto na esfera de formação, na graduação, quanto na pesquisa. São poucos historiadores que possuem nas suas obras clássicas citações e discussões adensadas sobre Heidegger. Minha proposta de apresentação tem como objetivo mostrar como o círculo hermenêutico de Heidegger oferece uma alternativa diferente da ideia de representação, bastante comum na escrita da história. A capacidade de interpretação e narração são vistas aqui como características ontológicas do Dasein, de modo que o homem vive e narra suas experiências ao mesmo tempo, sem que a narrativa seja uma construção puramente analítica ou ficcional, como pressupõem as visões mais céticas sobre representações. Essas visões entendem que há um distanciamento entre o que é visto e o que é dito, de modo que a narrativa ou o discurso, nunca poderão ser condizentes com os fatos, porque são construções linguísticas sem nenhuma correlação direta com o campo da experiência. A exemplo disso, Hayden White problematizou a história na sua questão estética e afirmou que não existem aspectos históricos em si, porque toda narrativa, supostamente, seria guiada por protocolos linguísticos. Então, por exemplo, quando um historiador narra Alesson Rota Tem graduação em história pela Universidade Federal do Rio Grande; fez graduação sanduíche pela Universidade de Coimbra, onde desenvolveu pesquisas sobre a escrita da história diante de Estados autoritários, no Centro de Estudos Interdisciplinares do Século XX; também em Coimbra iniciou suas indagações sobre a Hermenêutica Filosófica sob orientação de Maria Luísa Portocarrero; é mestrando em história pela Unicamp, onde problematiza a escrita da história na década de 1930. Possui alguns artigos publicados nas áreas de teoria da história e educação. 25 um evento, como a Segunda Guerra Mundial, o efeito no leitor, seja de melancolia, revolta ou tristeza, depende das figuras de linguagens empregadas pelo autor e não da experiência do passado. Tal proposta é encontrada de alguma maneira na maioria dos autores que operam no campo da representatividade ou do discurso, como Foucault. Diferente a tudo isso, a filosofia de Heidegger oferece para a história uma forma de pensar o fazer história de modo diferente e pouca explorado no ambiente historiográfico. 26 Michel Henry: a fenomenalidade da vida a partir dos pressupostos de Husserl e de Heidegger e aportes à clínica A fenomenologia da vida, em Michel Henry, considera que a fenomenologia tradicional, leia-se Husserl e Heidegger, deixa na indeterminação os seus próprios pressupostos. Partindo de algumas das instalações de Nathan Sawaya – o grito, auto-retrato, a música, o saxofone – que fizeram parte da exposição The Art of the Brick - 2016, e das análises que dela fizemos com Florinda Martins, mostraremos como é que Michel Henry levanta essa indeterminação em Husserl e em Heidegger para em seguida mostrarmos a sua operacionalidade na refundação da psicanálise. De Husserl mostraremos a importância de passar da fenomenalidade do como do fenômeno para a fenomenalidade desse mesmo como. De Heidegger mostraremos a passagem da negatividade da fenomenalidade do inaparente para a positividade da fenomenalidade do sentir. Fazendo referência à obra de Nathan Sawaya o ser aí - o grito, o auto-retrato, a música, o saxofone – remetem a mim mesmo como: eu sou o meu grito, eu sou esta dilaceração, eu sou a música que canto, eu sou o instrumento que toco. Deste modo é a própria tradição filosófica de Descartes e Kant que é repensada e com ela as possibilidades de, à luz das questões trazidas hoje à discussão pelas neurociências, pelas psicanálises e demais ciências da saúde, a possibilidade de uma psicologia transcendental a partir da fenomenalidade dos sentidos. Em Michel Henry o ser aí se manifesta como afeto, Andrés Eduardo Aguirre Antúnez Psicólogo. Professor Livre-Docente do Departamento de Psicologia Clínica e Vice-Diretor do Instituto de Psicologia, Universidade de São Paulo. Membro do GT Psicologia e Fenomenologia – ANPEPP. Co-coordenador do Núcleo de Pesquisas e Laboratório Prosopon. Membro do protocolo de Investigação em rede Internacional ara Divulgação da obra de Michel Henry na lusofonia, UCP, Porto. Julio César Menéndez Acúrio Psiquiatra. Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo. Membro do Núcleo de Pesquisa e Laboratório Prosopon. José Tomás Ossa Acharán Psicólogo. Doutorando do Programa de Pós-Graduação em Psicologia Clínica, Instituto de Psicologia, Universidade de São Paulo. Bolsista CAPES. Membro do Núcleo de Pesquisa e Laboratório Prosopon. Erika Rodrigues Colombo Psicóloga. Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Psicologia Clínica, Instituto de Psicologia, Universidade de São Paulo. Membro do Núcleo de Pesquisa e Laboratório Prosopon. 27 todavia é à potencialidade afetiva inerente ao afeto que o fenomenólogo da vida presta atenção no paciente que comunica suas vivências. É essa potencialidade que habita qualquer afeto – o temor como a simpatia – que está em jogo na terapia: o terapeuta não precisa sentir o que o outro sente, mas precisa aperceber que o outro está a sentir temor ou dilaceramento. Para Henry é inessencial a distinção entre normal ou patológico, essencial é não sucumbirmos às determinações do afeto. No Romance O filho do rei, a doença não é manifestada por ser sensível a tudo o que se passa no mundo, mas a doença é quando se sucumbe a essa sensibilidade. O psicanalista a partir destas reflexões é aquele que ajuda o outro a não sucumbir. A ontologia da Michel Henry é feita a partir da fenomenalidade dos pressuspostos da fenomenologia do Husserl e de Heidegger. Assim, mostraremos que inerente à intencionalidade há uma fenomenalidade não intencional e inerente à fenomenalidade do ser-aí há a fenomenalidade da ipseidade e que é a partir dessa fenomenalidade que os processos da vida se tecem; por isso é nela que também esses processos se alteram, o que veremos na Genealogia da psicanálise. Henry mostra como opera a fenomenalidade no trabalho para que o indivíduo resgate sua individualidade em comunidade, como pode ser visto nas obras de arte apresentadas. Não há negação da representação, mas segue o movimento fenomenológico, sua fenomenalidade afetiva. Tal como a pulsão, na intencionalidade, segue o movimento não intencional. Assim, a fenomenologia da vida assinala a um fundamento seguro da ontologia e à essência dos cuidados psicanalíticos. 28 As origens do senso moral em H. Arendt e D.W.Winnicott Em Eichmann em Jerusalém, H. Arendt denuncia um tipo de mal manifesto na sociedade contemporânea. Abandonando a consagrada formulação kantiana de mal radical, Arendt contraria uma tradição consolidada do pensamento moral, da qual ela mesma é devedora, e forja o conceito de mal banal, onde a superficialidade do agente e a superfluidade das vítimas é notória. A filósofa faz uma investigação sobre a nossa capacidade de julgar, para ela condição do nosso pronunciamento sobre as coisas do mundo e de discernimento entre o bem e o mal. Para Arendt as atrocidades cometidas por Eichmann é um exemplo do mal banal e sua origem está na incapacidade do indivíduo de pensar, de se comunicar com o pensamento alheio, de assumir responsabilidade e sentir culpa pessoal. Na obra A vida do Espírito Arendt defende que o pensar está ligado à atribuição de sentido ao mundo e só esse pensamento poderia evitar esse mal. Todavia, esse pensamento não pode ser ensinado e nem aprendido, então buscamos pesquisar qual era a origem do senso moral, do discernimento entre o bem e o mal ou do pensamento . É inegável a presença de Kant na obra de Arendt, mas a concepção antropológica de ambos não é a mesma, o que tornou infrutífero buscar respostas a essa questão em Kant. Arendt também não dá resposta suficiente. Partimos da influência manifesta de Heidegger na obra de Arendt para traçar a noção de condição humana e recorremos à psicanálise de Winnicott (cujo modelo filosófico Carolina Aparecida Cajaíba Psicóloga e acompanhante terapêutica. Mestranda no programa de Filosofia na UFABC. 29 1 fundante é o de Heidegger) e sua teoria do amadurecimento onde há a descrição da aquisição da capacidade humana de se preocupar e se envolver com o outro, de desenvolver o sentido de bom e mau, da aquisição da responsabilidade, cuja base é um sentido de culpa: o estágio do concernimento. O que será apresentado nessa comunicação é o exame preliminar do conceito de pensamento de Arendt, na correlação com os conceitos de mal banal, discernimento, responsabilidade e culpa, e o denominado estágio do concernimento de Winnicott. 7Na acepção arendtiana. 8 Isso não significa dizer adoção irrestrita do Dasein, tal como descrito por Heidegger; ao ser-para-a-morte, Arendt responderá com o nascimento; ao solipsismo existencial, ela responderá com a pluralidade, à crítica à impessoalidade, ela responderá com o amor mundi e com o enobrecimento das relações humanas na esfera pública. 30 Habitar o inóspito: estudo sobre a condição de desabrigo a partir de Martin Heidegger e Sigmund Freud “Na angústia, ele sente-se ‘‘estranho’’”, escreveu Martin Heidegger, naquela que é conhecida por ser uma das obras mais notáveis do século XX, a saber, Ser e Tempo (1927). Apresentando a angústia como uma abertura ao estranho, o filósofo anunciava a inospitabilidade do Dasein. Não se tratava, todavia, de um simples lampejo poético do autor em meio a uma obra marcada pela aridez de linguagem. Ao contrário, a frase proferida no §40 revela, sobretudo, a condição fundamental do existir humano. Iniciar por ela, portanto, além de nos lançar de imediato para o tema central da presente pesquisa, especificamente, a condição de indeterminação revelada pelo afeto da angústia, também nos oferece um ponto de partida para pensarmos um possível diálogo entre suas preocupações ontológicas e aquelas que, suspeitamos, ocuparam o psicanalista Sigmund Freud. Este, ao desenvolver os alicerces da metapsicologia, concedeu ao inconsciente e ao seu elemento estranho, as pulsões, um papel central. Assim, se para Freud as pulsões são marcadas pela indeterminação de seu objeto e estão no fundamento do aparelho psíquico, para Heidegger, o nada é o lugar onde se sustenta o existir humano. Em todo caso, parece que para ambos é o estranho que está em questão quando a angústia se manifesta. Por meio deste afeto fundamental, portanto, vemos a possibilidade de se conquistar um solo comum de diálogo entre o filósofo e o psicanalista. Assim, esta Caroline Garpelli Barbosa Graduação em Psicologia (Unesp-Bauru). Mestre em Psicologia do Desenvolvimento e Aprendizagem (Unesp-Bauru). Doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Psicologia do Desenvolvimento e Aprendizagem (Unesp-Bauru). Docente e supervisora clínica da Universidade Paulista (Unip), na área de Psicologia Fenomenológico -Existencial. Psicoterapeuta. 31 pesquisa de natureza teórica e conceitual, parte da hipótese de que tanto nos textos de Heidegger, quanto nos de Freud, há uma concepção de angústia que se assenta num lugar fundante da existência humana, o qual poderia ser articulado sob um vértice comum que denominamos como condição de desabrigo. Entendemos que, seja na perda de familiaridade revelada pela angústia ontológica descrita em Ser e Tempo, seja no desamparo fundamental anunciado pela angústia enquanto expressão privilegiada da pulsão descrito por Freud, é a condição de desabrigo que vem à tona. Para tanto, em Freud pretende-se analisar em que medida o conceito de angústia originária esboçada em Inibição, Sintoma e Angústia (1926), em articulação com o conceito de pulsão, aponta para uma dimensão de desamparo fundamental sobre a qual o psiquismo se sustenta e que é da ordem do irrepresentável e, portanto, do estranho. E em Heidegger pretende-se analisar em que medida o afeto fundamental da angústia revela o estatuto ontológico da existência caracterizado pelo estranhamento e pela falta de familiaridade. Ao propor este ponto de articulação entre dois autores de matrizes teóricas distintas, não se trata de defender que entre eles exista um lugar epistemológico comum, mas sim, conduzir um diálogo entre ambos no sentido de privilegiar uma discussão de sentido ético e que aponte para uma dimensão ontológica do ser humano que não pode estar de fora dos debates acerca da praxis psicológica da atualidade. 32 O Corpo E As Três Dimensões Da Sexualidade Na Fenomenologia De Maurice Merleau -Ponty Dos estudos que Maurice Merleau-Ponty dedica à corporeidade, este trabalho versa sobre os modos como sexualidade e existência podem ser compreendidas à luz de obras como a Estrutura do Comportamento (1942) e a Fenomenologia da Percepção (1945). Num primeiro momento, veremos como o corpo não se confunde com aquilo que se pode pensar dele a partir de perspectivas objetivistas ou subjetivista, e sim como diz respeito à nossa forma ampla de inserção no mundo da vida. Na junção entre natureza e liberdade, não é da ordem do “eu penso”, mas do “eu posso” – é potência exploratória. Ser corpo é estar amarrado a certo mundo, pois é por ele que o ser vai ao mundo. O corpo é, enfim, veículo do ser no mundo. Todavia, se assim for, seremos obrigados – agora já num segundo momento de nossa proposta – a salientar que o mesmo só pode ser compreendido quando, para além de uma experiência para mim, temos em conta suas relações com outras realidades sensíveis; o que nos leva a considerar a sexualidade como parte constituinte do nossa lida habitual, corpórea e mundana. De fato, se n’algum momento desejamos trabalhar com a ideia do corpo como ser-no-mundo sem necessariamente abdicar de seu horizonte afetivo, esse não poderá mais figurar como um objeto de contemplação, mas sim como vivência que expressa nosso co-pertencimento num mundo inter-humano. A sexualidade emerge, pois, como modo de ser que expressa Diego Luiz Warmling Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Filosofia da Universidade Federal de Santa Catarina (PPGFil UFSC), com enfoque em fenomenologia, existencialismo e psicanálise. Ocupa-se com os diálogos possíveis entre a psicanálise freudiana e a fenomenologia de Maurice Merleau-Ponty acerca de temas como a teoria das pulsões, a corporeidade e a sexualidade. Atualmente, é também co-coordenador do Grupo de Estudos em Filosofia Fenomenológica Francesa (GEFRAN UFSC), oferecido em ação conjunta entre o PPGFil UFSC e o Programa de PósGraduação em Psicologia da UFSC (PPGP UFSC). 33 nossa relação de autonomia e dependência com as coisas. Evitando certos postulados segundo os quais a sexualidade figura como fonte representacional condicionante das demais esferas da vida, revela-se aqui uma atmosfera que não é nem transcendência da vida humana, nem imagem de representações conscientes ou inconscientes, mas promiscua à nossa infraestrutura existencial. Sendo, portanto, interprete e crítico da psicanálise freudiana, para Merleau-Ponty nossa vida sexual não apenas devolve o ser à sua vivência de mundo, como dissolve a ideia de uma síntese objetiva detentora de todos os significantes possíveis, pois – sendo corpo no mundo em relação com a alteridade – a sexualidade será sempre implícita e misteriosa. Enquanto modo de ser que evidencia nossa relação com as coisas, revisitaremos, enfim, os debates datados entre 1942 e 1945 acerca do corpo sexuado e veremos como este a) nos abre para o outro, b) revela o nosso estilo de ser e c) nos mostra a promiscuidade entre existência e vida sexual. 34 Sartre leitor de Freud Sartre faz uma série de objeções ao projeto psicanalítico freudiano sendo o foco de suas críticas o conceito de inconsciente. Em sua obra O Ser e o Nada, Sartre se preocupou em retirar da consciência qualquer resquício ontológico essencial. Seguindo tal ideia, vemos que na quarta parte Ter, Fazer e Ser, ele apresenta argumentos voltados para a tese de que o inconsciente não pode habitar o campo do sujeito, pois isso levaria a uma série de predeterminações que romperiam com sua proposta de uma consciência nadificada. Postular uma instância que determine a consciência, que não seja ela própria e que participe diretamente em suas escolhas intencionais implica, segundo Sartre, um consciente-inconsciente, ou seja, uma contradição. Por outro lado, podemos ver que nas leituras de Sartre em relação à psicanálise freudiana, o autor francês tece certos elogios, demonstrando que não busca um distanciamento total, mas sim, uma renovação dos modos pelos quais a psicanálise se aplica ao sujeito. Sartre quer evitar determinações que sejam conflitantes com o sujeito intencional, como se mostra a proposta freudiana do inconsciente. Para a psicanálise existencial o sujeito decide por si através de seus atos intencionais livres, não havendo determinantes ontológicos que possam delimitar tais atos. Sendo assim, nossa busca será apresentar a crítica que Sartre faz à psicanálise freudiana, focando em conceitos chave como o inconsciente, a má-fé e a intencionalidade, tendo o devido cuidado de entender que as críticas que Sartre faz a Freud também devem passar Diego Rodstein Rodrigues Possui graduação em Filosofia pela Universidade Federal de Santa Catarina (2011) e mestrado em Filosofia pela Universidade Federal de Santa Catarina (2014). Atualmente cursando doutorado na Universidade Federal de Santa Catarina com enfoque em Fenomenologia, Existencialismo e Filosofia da Psicanálise. 35 por uma investigação minuciosa. Do Eu-pele ao corpo próprio: corporeidade e subjetividade em Anzieu e Merleau-Ponty O nosso trabalho foi desenvolvido e estruturado tendo como finalidade a investigação da corporeidade na constituição subjetiva a partir de uma interlocução entre a psicanálise de Anzieu e a fenomenologia ontológica de Merleau-Ponty. No decorrer da nossa pesquisa, são contemplados os principais aspectos das teorias do Eu-pele e do corpo próprio, o que nos possibilita compreender a relevância das experiências sensíveis para a aurora psíquica. Inicialmente, realizamos uma retomada histórica do conceito de corpo e percebemos que a corporeidade desde sempre foi marcada por fortes ambiguidades. Um exemplo disto são os avanços científicos e tecnológicos que trouxeram maior conhecimento a respeito dos mistérios da vida, transformando a maneira com que entendemos a saúde e a doença, a vida e a morte. No entanto, tais avanços não apenas permitiram estudar o corpo cada vez mais a fundo, mas também modificá-lo incessantemente. Percebemos, assim, que estas e outras transformações se colocam como uma constante exigência de se repensar o ser humano e as suas relações. Sabendo disso, nos parece essencial, se quisermos compreender a condição humana, empreender, primeiramente, um estudo acerca do papel do corpo na constituição do Eu. Nosso estudo do corpo próprio e Fernanda Brockmann Vanassi Mestranda em Psicologia Clínica pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, dedicando-se à linha de pesquisa “Psicanálise: Clínica e Cultura”. Possui Bacharelado e Licenciatura em Filosofia pela Universidade de Caxias do Sul (2013). Na graduação, foi bolsista de iniciação científica em Filosofia da Mente (2011) estudando o conceito de pessoa em Daniel Dennett. Além disso, desenvolveu o trabalho monográfico sobre os temas fenomenologia da percepção e corporeidade com base na obra de Merleau-Ponty, cujo foco do estudo foi a compreensão dos conceitos de corpo e sujeito. Atualmente, dedica-se aos estudos de Psicanálise, Antropologia e Filosofia, com ênfase nos conceitos de corporeidade, subjetividade e cultura. 36 do Eu-pele demonstra que a dimensão da corporeidade, fundamental ao nosso desenvolvimento psíquico, pressupõe uma outra: tanto Anzieu quanto Merleau-Ponty consideram que a psicogênese se desenrola a partir da vivência intersubjetiva. Através da experiência do outro adquirimos um corpo próprio, saímos de uma vida puramente orgânica e entramos para o registro da subjetividade. Concluímos, a partir das nossas investigações, que para ambos autores, o corpo é o veículo através do qual tomamos posse de uma existência encarnada que nos coloca em contato com outras subjetividades, com o mundo natural e humano além de garantir o nosso acesso ao pensamento reflexivo. Fazendo um resgate da própria teoria freudiana podemos afirmar o seguinte: é a partir do contato com o mundo que o Eu poderá delimitar as suas fronteiras. Desta forma, é possível compreender a psicanálise como uma clínica que trabalha em vista de reconstruir os limites do eu. Esta investigação abriu os nossos olhos para o fado de que, assim como a psicanálise, que realiza uma verdadeira arqueologia do corpo em busca de desvendar o que há de mais arcaico na experiência subjetiva, a fenomenologia ontológica de Merleau -Ponty visa descrever a experiência primitiva de todo ser humano. Na psicanálise, o analista, com o seu pincel arqueológico, vai descobrindo os vestígios e as marcas deixadas pela experiência infantil, refazendo o percurso até a origem dos fantasmas, a fim de reconstruir a história do sujeito. Em Merleau-Ponty, isto significa se voltar para o momento do encontro entre o corpo e o mundo, entre o Eu e o outro, o qual ocorre tendo a carne como solo de toda experiência subjetiva. 37 O conceito freudiano de inconsciente: um olhar à luz da ontologia de Martin Heidegger Com essa comunicação pretendemos apresentar a crítica tecida por Martin Heidegger ao naturalismo presente na psicanálise de Freud, para tanto, tomaremos como foco de análise a posição do filósofo em relação ao conceito freudiano de inconsciente. Além disso, almejamos indicar que Winnicott, ao reformular o conceito de inconsciente e considerar o amadurecer humano sem recorrer à metapsicologia, aponta uma via possível para pensarmos a natureza humana sem pressupostos naturalizantes. Inicialmente examinaremos a crítica heideggeriana dirigida à Freud na obra Seminários de Zollikon. Nessa obra Heidegger enquadra a psicanálise freudiana no rol das ciências da natureza e afirma que o conceito metapsicológico de inconsciente está a serviço da explicabilidade do psiquismo. Nessa perspectiva, ao cumprir a função do preenchimento das lacunas presentes na memória consciente, o conceito de inconsciente asseguraria a conexão causal entre os atos psíquicos. Considerando essa abordagem heideggeriana almejamos, com essa comunicação, tematizar as seguintes questões: ora, se Freud rompe com a visão de que somos apenas consciência e postula que o psiquismo não se reduz ao consciente, por que Heidegger o considera um cientista natural, ao invés de avaliá-lo como um pensador que rompe com os imperativos deste tipo de ciência? Por que o filósofo alemão, à luz de sua ontologia fundamental, afirma que Freud objetifica e naturaliza o psiquismo, se o pai da psicanálise – ao Fernanda de Jesus Almeida Graduanda em Psicologia pela Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS/BA). Atuou como bolsista do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC) por três anos (2013-2016), com o apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado da Bahia (FAPESB). Desenvolveu as pesquisas na linha Filosofia da Psicanálise, com foco na filosofia heideggeriana e na psicanálise de Freud. Caroline Vasconcelos Ribeiro (orientadora) Professora Titular da Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS). Psicóloga pela Universidade Federal de São João Del Rey (UFSJ), Mestre em Filosofia pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB), Doutora em Filosofia pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Membro do Instituto Brasileiro de Psicanálise Winnicottiana (SBPW) e do GT de Filosofia da Psicanálise da ANPOF (Associação Nacional de Pós-Graduação em Filosofia). Organizadora, junto com Suely Aires, do livro “Ensaios de Filosofia e Psicanálise”. Co-editora da revista Natureza Humana- Revista Internacional de Filosofia e Práticas psicoterápicas. Membro do Grupo de Pesquisa em Filosofia e Práticas Psicoterápicas (Unicamp/CNPq). Pós-doutoranda em Filosofia pela Unicamp. 38 destronar a tese de que o psíquico equivale à consciência – parece ter rompido com pretensões de objetividade cativas às ciências da natureza? Exporemos que, para Heidegger, a psicanálise freudiana aborda os fenômenos psíquicos ancorada numa linguagem fisicalista que reduz o campo psíquico ao funcionamento de uma máquina movida por forças antagônicas: as pulsões. Indicaremos de que maneira, na perspectiva heideggeriana, o conceito freudiano de inconsciente afina-se com o perfil explicativo das ciências naturais. Em contrapartida, almejamos indicar em que medida Winnicott pensa o termo inconsciente sem recorrer à especulação metapsicológica e à linguagem fisicalista. O que implicaria numa maneira de pensar os fenômenos do amadurecer humano sem os mesmos pactos ontológicos da psicanálise freudiana. A diferenciação da noção de ego na metapsicologia freudiana da noção de self e ego na teoria do amadurecimento pessoal de Winnicott e algumas de suas consequências clínicas Os conceitos em psicanálise, conforme determinado enfoque, constituem não apenas um quadro conceitual que precisa ter uma consistência interna a uma teoria. Os conceitos definem também modos de interpretação e intervenção do psicanalista que os utiliza e, portanto, constituem diferentes direções da cura no processo psicanalítico e efeitos terapêuticos no paciente. O objetivo desta comunicação é, em um primeiro momento, a compreensão do conceito de ego na metapsicologia freudiana e sua diferenciação da noção de self e ego na teoria do amadurecimento pessoal de Winnicott. Em uma segunda consideração, a reflexão de como a perspectiva metapsicológica do aparelho psíquico freudiano e o ego como uma instância psíquica da mente-máquina, um servo submetido a três senhores exigentes – id, superego e mundo externo – torna-o um fraco, determinado pela dinâmi- Flávia Maria de Paula Soares Psicóloga e psicanalista. Professora de psicologia na Faculdade Dom Bosco e PUC-PR. Mestre em Psicologia Clínica pela PUC-SP e doutoranda no Programa de Pós- Graduação em Filosofia PUC-PR. 39 ca psíquica pulsional. De outro modo, a dimensão implicada no conceito de ego na teoria winnicottiana se insere numa noção mais ampla de culmina na integração de um self de característica existencial: como uma continuidade no existir, de ser, que abre as possibilidades espontâneas e criativa do indivíduo em se sentir real. O ego pode ser a nomeação de apenas uma parte do self, que se apresenta como intelecto, mas também, pode ser a terminologia que nomeia a tendência a formar uma unidade: um si-mesmo (self). Se o ego freudiano se constitui pela diferenciação pelo contato do id inicial com o mundo externo, para Winnicott, o self é construído pelo encontro de disposições inatas com um ambiente facilitador em que a mãe tem uma peculiar condição de se adaptar às necessidades do bebê e promove a base da saúde deste. O ser si-mesmo (self), como possibilidades de sentido, só se torna possível através da relação de cuidado do outro em relação ao indivíduo, no mundo. A consequência direta destas configurações conceituais freudianas é que o ego permanece fraco e infantil, sempre submetido às exigências de instâncias pulsionais e do mundo externo, e, portanto determinado como um joguete nas mãos de seus exigentes senhores. Na análise freudiana, o psicanalista deve se aliar ao paciente para vencerem a resistência do ego e enfrentar as “batalhas” com o id. O ego sempre fracassa. O self em Winnicott se mostra em sua potencialidade de amadurecimento pessoal em cada fase da vida, como sinal de saúde do indivíduo. Algumas consequências diretas desta perspectiva teórica na clínica psicanalítica podem ser consideradas: uma delas é poder viver a vida como uma continuidade de sentidos de si-mesmo em necessárias transformações conforme a fase da vida, como um si-mesmo que supera a dependência inicial em direção à autonomia adulta, ou seja, amadurece; e, em uma segunda consideração, a intervenção e manejos do psicanalista em relação ao paciente assumem a função de cuidados que sustentam um ambiente facilitador para que o amadurecimento ocorra. 40 A Estranheza De Freud Diante Do “Espectro Da Morte” Em nossa comunicação destacaremos, em Mais além do princípio do prazer, de 1920, o que Freud definiu como a característica geral das pulsões. Com ela expôs em definitivo sua perspectiva conservadora da natureza da vida, a pulsão de morte circunscrita como uma tendência de todo o ser vivo ao retorno para um estado anterior. No entanto, logo após a conclusão declara que tal concepção soa estranha, pois já nos habituamos a ver nele [instinto/pulsão] o fator que impele à mudança e ao desenvolvimento. Entendemos que a construção do novo jogo pulsional, e sua natureza mortífera, exigiram um empenho intelectual intenso de Freud e, por isso, sua declaração nos surpreende. Sendo nosso propósito maior investigar o estatuto da pulsão de morte na teoria de Freud, decidimos, ainda que de modo restrito, rastrear a presença de princípios reguladores do funcionamento do aparelho psíquico, arrazoando que a noção de aparelho revela automatismo, por seu modo de funcionamento, (submetido princípios), por sua estrutura e finalidades. Para isso, destacamos também argumentos do texto Projeto para uma psicologia científica, de 1895, por considerarmos ser o propulsor da metapsicologia freudiana. Pretendemos apreender a presença do ponto de vista econômico-dinâmico neste ensaio e sua permanência, por hora, ‘reconfigurada’, como regulação inercial, justamente em trabalho posterior, 1920, no qual declara a ‘estranheza’ conforme citamos no parágrafo acima. É verdade que o estranhamento de Francisco Verardi Bocca Graduado em Arquitetura e Urbanismo pela UNICAMP (1985); bacharel e licenciado em Filosofia pela UNICAMP (1997); mestre em Filosofia pela UNICAMP (2001). Pós-doutor em Filosofia pela UFSCar (2009) e pela Universidade de Paris VII-Denis Diderot (2014). Professor Titular do Curso de Filosofia e do Programa de Mestrado e Doutorado em Filosofia da PUCPR. Atua nos seguintes temas: filosofia da história, psicanálise, literatura e ética. Compõe e coordena a linha de pesquisa Filosofia da Psicanálise (PUCPR) cadastrado no CNPq. Compõe ainda os grupos de pesquisa Filosofia e Psicanálise (UFSCar) e Filosofia e Práticas Psicoterápicas (UNICAMP) cadastrados no CNPq. Entre outras publicações, é autor do livro “DO ESTADO À ORGIA”. Rosana Grushenka Nader da Rocha Graduada em Pedagogia com habilitação em Educação do Def. Mental (1986); graduada em Orientação Educacional(UFPR 1992); Especialista em Educação Especial (PUCPR 1989); Especialista em Psicopedagogia (PUCPR 1999); mestre em Educação (UTP 2003). Doutorado em andamento em Filosofia, linha de pesquisa Filosofia da Psicanálise (PUCPR). Compõe o grupo de pesquisas Filosofia da Psicanálise (PUCPR) cadastrado no CNPq. Professora no Ensino Superior, Diretora Auxiliar na modalidade de Educação Especial e Psicanalista Clínica. Investiga: Educação Inclusiva e Psicanálise. 41 Freud também causou perplexidade em seus leitores. Certamente que tal perplexidade não se vincula simplesmente à narrativa, por vezes ambígua, mas também ao fato de em sua construção, numa atitude apenas aparentemente surpreendente, Freud ter se afastado extraordinariamente das orientações cientificistas que o guiaram inicialmente. Por outro lado, relativo ainda à perplexidade dos leitores, Freud reconheceu nesta obra que; Para muitos de nós pode ser difícil abandonar a crença de que no próprio homem há um impulso para a perfeição (2010, p. 209). Na verdade, admitia ele próprio abandonar a ideia de um usufruto dos prazeres pelos homens que se daria em perfeita harmonia. Ora, a noção de exaustão (escoamento de estímulos) já havia sido tratada por Freud em 1895; ao estabelecer a pulsão de morte (e o princípio do prazer como seu regulador) apenas retomou o argumento de que a quantidade de excitações e as sucessivas sensações, num dado ritmo e intensidade, provocam o desprazer por sua potencialidade intolerável, sendo que a eliminação de tal perturbação, regulada pela inércia na vida orgânica, deve recuperar o estado de prazer no escoamento. Marcou deste modo, e mais uma vez, o jogo pulsional com o sinal da negatividade do prazer. Em tudo, contrário aos que tendem a ler na narrativa freudiana uma concepção positiva do prazer, conforme conclui Monzani. (1989, p. 205). Nosso percurso segue a orientação da leitura feita por Monzani (1989). Para nós as palavras de Freud, são objeto de estudo que, necessitam serem tomadas no movimento espiralado revelado em sua plasticidade. Com esta inspiração, julgamos necessário apreendermos a obra de Freud em sua integralidade, segundo uma visão de conjunto, uma vez que é a lógica interna da obra que dá visibilidade especialmente à autonomia e à criatividade teórica de Freud. 42 A “Psicanálise da Natureza” à luz de uma “filosofia da carne” Maurice Merleau-Ponty (1908-1961) parece ter sido o único filósofo francês contemporâneo a travar um diálogo ininterrupto com o pensamento freudiano ao logo de toda a sua obra. Mais de uma vez a teoria psicanalítica desempenhou um papel de destaque nos momentos decisivos das inflexões e deslocamentos temáticos de sua filosofia. Não obstante, se por um lado os comentários de Merleau-Ponty sobre Freud nos anos 1940 denotam a esperança de uma rearticulação entre os domínios físico e psíquico amparada em noções psicanalíticas, por outro, exprimem também a decepção do filósofo diante da incapacidade que a psicanálise tinha de extrair, dessas mesmas noções, as consequências ontológicas que a reflexão filosófica esperava. Daí sua postura crítica, denunciando repetidamente os equívocos do causalismo psicológico e do idealismo que pervadem a obra freudiana. Chama a atenção, porém, que em suas últimas obras, notas de trabalho e textos publicados postumamente, compareça uma reavaliação positiva acerca da psicanálise que culmina com a célebre frase de novembro de 1960: “Fazer uma psicanálise da Natureza: é a carne, a mãe” (O Visível e o Invisível, 1964). Quais os motivos de tal reavaliação? Como compreender uma sentença formulada de forma tão hermética? Fazer uma “psicanálise da Natureza” implicaria identificar noções ou conceitos comuns à fenomenologia merleau-pontyana e à psicanálise freudiana no interior de um mesmo projeto epistemológico? Reconhe- Gleisson Roberto Schmidt É Professor de Filosofia e pesquisador na Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), campus Curitiba (PR). Docente do Programa de PósGraduação em Tecnologia e Sociedade (PPGTE) daquela instituição, é líder do Grupo de Estudos e Pesquisas em Filosofia e Ensino de Filosofia (FEF). Doutor em Filosofia pela Universidade Federal de Santa Catarina (2014), Mestre em Filosofia pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (2010) e Bacharel em Filosofia pela Universidade Federal do Paraná (2010), seus interesses de pesquisa incluem Epistemologia, Metafísica e Ontologia, bem como o pensamento final de M. Merleau-Ponty e a recepção do freudismo na fenomenologia francesa. Seu projeto de pesquisa atual, intitulado “O conceito de Natureza”, versa sobre as concepções acerca da Natureza articuladas pelas tradições filosóficas e científicas ocidentais. 43 cendo a multiplicidade de interpretações possíveis acerca do projeto da “psicanálise da Natureza” e sua incontornável referência aos estudos acerca do conceito de Natureza que Merleau-Ponty realiza no Collège de France entre os anos 1956 e 1960, sustentamos que é no esclarecimento da noção de carne que é possível encontrar o sentido de tal projeto. Afinal, lemos em nota do mesmo ano de 1960 (esta, datada de dezembro): “A filosofia de Freud não é uma filosofia do corpo, mas da carne” (id.). É a reflexão sobre o corpo que estabelece a unidade do pensamento de Merleau-Ponty ao mesmo tempo em que permite perceber que é na generalização ao mundo do modo de ser do corpo próprio e identificando nele a atestação de um sentido novo do Ser que Merleau-Ponty constitui sua ontologia. Tendemos a ver, nesse movimento que amplia à carne a dinâmica própria ao esquema corporal, a investigação acerca da origem libidinal dos comportamentos intencionais espontâneos no interior do campo fenomenal. Fazer uma “psicanálise da Natureza” nos termos de uma “filosofia da carne” implicava, àquela altura, fazer aquilo que foi a intenção do filósofo com a crítica que dirigiu à psicanálise, isto é: extrair da teoria psicanalítica consequências filosóficas de certa ordem - neste caso, no domínio da ontologia (algo que Freud não foi capaz de fazer) -, a fim de descrever o modo de unidade entre expressão e percepção, verdade e experiência. Para compreendê-lo, pretendemos descrever as razões que fazem do estudo da Natureza uma propedêutica à ontologia do sensível e, interpretando a “psicanálise da Natureza” à luz de uma “filosofia da carne”, identificar na teoria freudiana um tratamento não-idealizante nem reducionista da imbricação recíproca entre idealidade e sensibilidade. 44 Ao Gozo com Carinho Esse trabalho é resultado de uma reflexão sobre o conceito de gozo a partir do estudo sistemático do seminário XX intitulado Mais, ainda de Jacques Lacan, trabalhado no curso de Leituras dirigidas da obra do mesmo autor realizado em curso de extensão na Unicamp no ano de 2015 junto ao Prof. Dr. e psicanalista Mário Eduardo Costa Pereira em articulação com o conceito de “produção de presença” de Hans Ulrich Gumbrecht (Produção de presença – o que o sentido não consegue transmitir). Em seu livro, Gumbrecht rediscute a tradicional polaridade entre sujeito e objeto e oferece um modelo de análise e produção de saber que destaca processos de oscilação entre construção de sentido e produção de presença. É a partir desse acento sobre a produção de presença em detrimento dos saberes correntes cujo predomínio está em atribuir sentido aos fenômenos que se busca um diálogo com a noção de corpo para a psicanálise e gozo em Lacan. A reflexão encontrada no trabalho se inicia com a conferência 35, texto de 1933 de Freud chamado: A Questão de uma Weltanschauung para inicialmente pensar algumas dificuldades da construção do conhecimento e posteriormente articular as críticas contidas no Título da Letra (Nancy e Labarthe) a respeito do sistema de pensamento lacaniano. Os embates de Freud com o corpo biológico, assim como com o “animal” humano como ancoragem ontológica de suas construções teóricas aparecem no texto a partir de Além do Princípio do Prazer e o exemplo do FortDa culminando na ruptura radical de Lacan, Gustavo Florêncio Fernandes É psicanalista, formado na instituição TRIEP (Trabalhos de Investigação e Estudos em Psicanálise) em Jundiaí, onde reside e trabalha, atendendo em seu consultório a oito anos. Atuou durante seis meses exercendo um trabalho de análise institucional junto a Daisy Lino no Ambulatório de Moléstias infecciosas de Jundiaí. Atualmente acompanha o curso de extensão do professor Mário Eduardo Costa Pereira na Unicamp. Atualmente é membro do TRIEP e participa na transmissão da psicanálise no curso de formação do TRIEP com outros colegas. 45 para quem a psicanálise contempla um conhecimento e um fazer clínico que inclui o Real, justamente a característica primordial que torna possível mantê-la com seu caráter subversivo de um conhecimento sempre incompleto, marcando uma diferença radical com outros sistemas de pensamentos. O conceito de produção de presença de Gumbrecht, contrapondo-se à produção de sentido, torna possível o principal debate encontrado no texto ao se articular com o conceito de Real lacaniano e consequentemente ao conceito de gozo. O artigo procura proporcionar um debate onde o conceito de gozo seja apresentado de maneira a qual este não se torne uma hipótese superior dominante para a psicanálise, estancando assim as possibilidades criativas tão marcantes nas construções teóricas da mesma. Heidegger e a metapsicologia de Freud: uma discussão ontológica Na obra Seminários de Zollikon Heidegger problematiza a metapsicologia freudiana com o objetivo de apontar os pactos ontológicos que subjazem a esta parte especulativa da psicanálise de Freud. Segundo o filósofo alemão, a metapsicologia de Freud foi formulada tendo como suporte a filosofia neokantiana e a objetividade das ciências naturais. Alguns textos de Freud, em contrapartida, apresentam argumentos que parecem escapar à crítica heideggeriana, demonstrando afinidade com um vocabulário que se serve de metáforas e analogias e faz menção a bruxas e feiticeiras para dar conta da complexidade dos conceitos abstratos de sua metapsicologia. No texto Ansiedade e Vida Pulsional, por exemplo, Freud refere-se à teoria das pulsões como sua mitologia e à pulsão como uma entidade mítica. Já no escrito Análise Terminável e Interminável o psicanalista qualifica a metapsicologia como uma espécie de feiticeira, algo que estaria ao nível de uma fantasia. O aparelho psíquico, da obra A Interpretação dos sonhos, é comparado a um Jilvania de Jesus Barbosa Estuda Psicologia na Universidade Estadual de Feira de Santana. Foi bolsista durante três anos (2013/2016) através do Programa Institucional de bolsa de Iniciação Científica apoiado pela Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado da Bahia (FAPESB), sob orientação da prof.ª Drª. Caroline Vasconcelos Ribeiro. Durante este período desenvolveu pesquisas dentro da linha Filosofia da Psicanálise, estudando principalmente os teóricos Martin Heidegger e Freud. É integrante do Grupo de Estudos em Filosofia e Psicanálise (GEFIP), supervisionado pela professora Caroline Vasconcelos. Caroline Vasconcelos Ribeiro 46 telescópio e assumido como uma especulação sem base anatômica. Os questionamentos que almejamos levantar com essa comunicação são os seguintes: como Freud seria afinado às Ciências da Natureza, se seus textos versam sobre conceitos imprecisos e postulam abstrações para tornar inteligível o funcionamento psíquico? Quais os fundamentos que sustentam a crítica de Heidegger à presença de uma cientificidade natural na psicanálise de Freud? Em que medida é possível localizar uma herança ontológica de matriz neokantiana nas formulações metapsicológicas de Freud? Com tais questionamentos pretendemos refletir sobre a relação entre a teoria metapsicológica e o horizonte ontológico que lhe subjaz, tal como apontado por Heidegger na obra Seminários de Zollikon. A Melancolia Como Um Sintoma Na Obra Freudiana. Parte-se da ideia da melancolia na obra freudiana analisada como um sintoma constituinte, originário, na própria estruturação do psiquismo do melancólico. Para tanto, faz-se necessário estudar e ampliar o conceito de sintoma no trabalho do psicanalista vienense. O objetivo é entender em Freud um psiquismo estruturado como um sintoma e, a partir disso, apresentar um olhar sobre a melancolia que permita enxergá-la como um sintoma na sua estruturação psíquica. Assim, através de uma análise teórica foi observado que, segundo o psicanalista austríaco, o sintoma é uma formação de compromisso, resolução de conflito entre os sistemas psíquicos e uma forma substitutiva de satisfação. O que é interessante notar em Freud é que esta concepção de sintoma não muda ao longo de toda sua obra, apesar de mudar sua compreensão sobre o aparelho psíquico. Este passa a ser entendido como dividido – primeiramente em Consciente, Pré-Consciente e Inconsciente; e, posteriormente em Eu, Isso e Super-Eu -, afastando a ideia Julia Joergensen Schlemm Doutoranda em Filosofia pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR) na linha de filosofia da psicanálise - bolsista CAPES -, início março de 2016. Mestre em psicologia na linha de psicologia clínica na Universidade Federal do Paraná (UFPR) - bolsista CAPES -, conclusão em março de 2016. Formada em psicologia pela UFPR, no ano de 2013. Atua na clínica psicanalítica. Eduardo Ribeiro da Fonseca Professor de Filosofia, membro do PPGF da PUCPR. Avaliador de livros para a CAPES (2016-17). Psicólogo, CRP 08/08064-2. Graduado em Psicologia pela Universidade Tuiuti do Paraná (1994), mestre em filosofia moderna e contemporânea pela UFPR (2003) e doutor em filosofia moderna e contemporânea pela USP (2010). 47 de que esta divisão ocorreria apenas em patologias. O sintoma não é mais visto apenas como um “problema”, mas é também, todavia, uma parte do psiquismo que apresenta uma linguagem própria, a qual revela difusamente nossos desejos mais íntimos. Surge na obra como fruto de uma ressignificação e fixação em um trauma já recalcado, isto é, surge como o retorno do recalcado. Este trauma, como o autor explica (1908), passa a ser entendido como uma fantasia sexual infantil juntamente com a necessária – por exigências internas e externas - Versagung, o “abrir mão”, do objeto de satisfação pulsional, ambos representando um excesso libidinal que traumatiza o psiquismo. Por conta desta retirada de satisfação, regridese a satisfações, a traumas anteriormente fixados, precisando-se do sintoma como apaziguador entre a pulsão e o mundo externo, representado pelo Eu. O sintoma é entendido como solução de conflito e satisfação neurótica, mas, ao longo da obra com a introdução da sua segunda estruturação psíquica, Freud (1923) passa a mostrar como o Eu de forma genérica, não somente na neurose, estrutura-se entre seus “senhores” – Isso, Super-Eu e mundo externo -, tentando solucionar um conflito, sendo um compromisso da mesma forma que um sintoma. Analisando a filogênese em Freud, entende-se que o psiquismo humano surge através de um trauma: a perda de objeto de satisfação (FREUD, 1915), a Versagung. Para o psicanalista, o ser humano surge angustiado a partir de um desamparo traumático que precisou ser recalcado, revivendo em sua ontogênese a filogênese, (FREUD, 1915). Pode-se dizer assim que o sujeito é o que ele faz do retorno deste recalcado. O que se pretende demonstrar neste trabalho é que o melancólico é aquele que se sente um nada, um insignificante, sem valor, que sabe que perdeu algo (FREUD, 1917) e que constantemente revive esta perda por fixar-se na perda de objeto inicial racalcada à qual se regride e é ressignificada diante de novas perdas. 48 Psicanálise e Psicanálise existencial: Freud, Sartre e a Escolha Original A filosofia da liberdade de Sartre é fenomenológica, tematiza o ‘homem-no-mundo’; o ser humano consciente de seu ser (‘consciência intencional’, livre) é o princípio fundante do existencialismo, ser-homem é ser consciência de ponta a ponta (cogito reflexivo e pré-reflexivo). E, não é demasiado dizer, é desse princípio que decorre todas as peculiaridades do ‘existencialismo ateu’, sobretudo a ‘liberdade humana absoluta’. Ora, como afirmar a liberdade e desviar-se do espinhoso assunto do inconsciente? A filosofia de Sartre é levada imediatamente a se haver com Freud, no intuito de mostrar as incongruências de ‘todo’ possível humano inconsciente: a ontologia e os textos menores que a antecedem cuidam de mostrar que a consciência é translúcida, é negaçãode ser e, assim, que ela é uma unidade sintética (o homem é seu futuro, ao modo de não o ser ainda, e seu passado, ao modo de não mais sê-lo). Ser homem é ser projeto, que ele mesmo elege e traz ao mundo, e mesmo esse projeto de ser é eleito livremente, ou seja, para a filosofia da liberdade toda causa ou razão para além da consciência torna-se indesejável, e tudo o que tenda a limitar a liberdade deverá ser combatido. É assim que se pode entender sua crítica à religião, ao marxismo, ao estruturalismo, ao capitalismo, à sociologia... e à psicanálise. Curiosamente, as críticas de Sartre a Freud se limitam a negar que possa haver qualquer instância – sobretudo eletiva – para além da consciência; afora isso, Sartre dirige rasgados Luciano Donizetti da Silva Possui graduação em Filosofia pela Universidade Federal do Paraná (1999), mestrado em História da Filosofia Moderna e Contemporânea pela Universidade Federal do Paraná (2002), doutorado em História da Filosofia pela Universidade Federal de São Carlos (2006), estágio pósdoutoral na Lyon 3 – Jean Moulin (2016). É professor de Filosofia na Universidade Federal de Juiz de Fora, MG, no Instituto de Ciências Humanas, Departamento de Filosofia, e professor no Programa de Pós-Graduação em Filosofia da UFJF. Tem experiência na área de Filosofia, com ênfase em Filosofia Contemporânea Francesa, atuando principalmente nos seguintes temas: Fenomenologia (Husserl); Fenomenologia e Ontologia (Husserl-Heidegger); Ontologia e Existência (Husserl-Heidegger-Sartre-Merleau-Ponty); Herança ‘existencialista’ (autores franceses recentes). 49 elogios ao método psicanalítico e, por fim, propõe ele mesmo a criação de uma ‘Psicanálise existencial’ que em nada difere metodologicamente daquela freudiana; mas mantém uma diferença irreconciliável: para Sartre não pode haver escolha inconsciente, donde toda e qualquer eleição exija liberdade para vir ao mundo; todos os casos em contrário serão considerados atos de ‘má-fé’, e não há nenhuma exceção. A psicanálise existencial não visa uma determinação inconsciente que será desvendada a partir de dicas apresentadas no discurso do paciente; ela parte do presente, daquilo que cada analisado escolhe presentemente, ou seja, o que é almejado é a escolha original que se realiza atual e conscientemente. Isso porque, conforme revela a ontologia fenomenológica, apenas a liberdade poderá estar no princípio do agir: não se trata de inconsciente como pensara Freud, mas de ‘Escolha Original’. Com razão o psicanalista deverá exigir ‘provas’ de que é assim e não de outro modo; mas como fazer ver que tudo aquilo que foi comumente considerado como determinações inconscientes é resultado de livre escolha? A obra de Sartre apresenta quatro casos: Mallarmé, Baudelaire, Genet e Flaubert, escritores que foram submetidos à Psicanálise Existencial; e cada caso mostra que no princípio, ainda na infância, cada um desses homens escolheu originariamente (ontologicamente) aquilo que seriam no mundo; e que é essa escolha original que matiza cada uma de suas escolhas presentes; a escolha original como alternativa ao inconsciente é o tema dessa comunicação. A psicanálise existencial não visa uma condição humana e recorremos à psicanálise de Winnicott (cujo modelo filosófico fundante é o de Heidegger) e sua teoria do amadurecimento onde há a descrição da aquisição da capacidade humana de se preocupar e se envolver com o outro, de desenvolver o sentido de bom e mau, da aquisição da responsabilidade, cuja base é um sentido de culpa: o estágio do concernimento. O que será apresentado nessa comunicação é o exame preliminar do conceito de pensamento de Arendt, na correlação com os conceitos de mal banal, discernimento, responsabilidade e culpa, e o denominado estágio do concernimento de Winnicott. 50 A Perversão Na Reontologização Do Ser Humano Na Contemporaneidade A tecnologia, ou meio de satisfazer às necessidades, têm conduzido o ser humano pelo caminho de sua libertação do determinismo das leis da natureza, retirando-o da condição de ser natural. Desde o domínio do fogo, considerado como primeiro ato histórico, o ser humano iniciou sua saída da condição de unilateralidade para a de omnilateralidade, apropriando-se do real como um ser universal. Freud (1913) considera isso uma ruptura da animalidade para a humanidade, a qual é marcada pela interdição do incesto e a estruturação da linguagem, lida pela antropologia evolutiva e bioantropologia como a revolução criativa humana. Esta universalidade com a qual o ser humano interage com a Natureza, complexifica, ad infinitum, as relações nas quais ele se implicou, face à contínua, crescente e cada vez mais enriquecida produção de tecnologias. Mas, as tecnologias, extensão do criador, o ser humano, são demarcadas por seus atributos e, também, são incorporadas pelo ser humano na aplicação destes. Contudo, há um processo reverso pelo qual o ser humano é condicionado pela lógica de produção da vida material e imaterial, a qual vem cada vez mais intensificando a alienação, e assim, o seu estranhamento com a própria espécie. Um dos problemas mais sérios deste fenômeno é a auto-alienação realizada por alguns indivíduos, os quais são impelidos, por diversas forças, a mergulharem na perversão como estilo de vida. Nessa perspectiva, a Inteligência Artificial, a Web Semântica e a Deep Web, apa- Dinani Amorim Graduação em Ciência da Computação pela Universidade Católica de Pernambuco (1988), Especialização em Ciência da Computação pela Universidade Federal de Pernambuco (1993) e doutorado em Electrónica y Computación pela Universidad de Santiago de Compostela (2007) - reconhecido como Ciências da Computação e Matemática Computacional pela Universidade de São Paulo (USP) (registrado, processo nº 2009.1.19269.1.3). Atualmente é professora adjunto da Universidade do Estado da Bahia e professora titular da Faculdade de Ciências Aplicadas e Sociais de Petrolina. Tem experiência na área de Inteligência Artificial com ênfase em Redes Neurais Artificiais e representação de conhecimento e web Semântica na Educação, atuando principalmente nos seguintes temas: Aprendizado de Máquina, Reconhecimento de Padrões, Padrões de Metadados Educacionais, Learning Objects, e nas relações sócio tecnológicas existentes entre seres humanos e máquinas, estabelecidas em uma infoesfera na perspectiva de uma ecologia digital. Participa de corpo editorial e como revisora de periódico internacional/nacional e conferências. Juracy Marques dos Santos Educador, Psicanalista e Escritor, com doutorado em Cultura e Sociedade pela UFBA e pós-doutorado em Ecologia Humana pela Universidade Nova de Lisboa (UNL-Portugal) e em Antropologia pela UFBA. Atualmente é professor titular da Universidade do Estado da Bahia (UNEB), onde integra o quadro permanente dos docentes dos mestrados em Ecologia Humana (PPGECOH) e em Educação, Cultura e Territórios Semiáridos (PPGESA). É membro da Sociedade Brasileira de Ecologia Humana (SABEH). Seu principal interesse de pesquisa centra-se na dinâmica da espécie humana e suas relações com o mundo, daí seu destacado interesse pela Ecologia Humana. Lecionou em programas de pós-graduação em Portugal e Espanha e já esteve participando de congressos em diversos países como França, Itália, Grécia, Alemanha, Estados Unidos, Cuba, Paraguai, entre outros. 51 recem assim como recursos tecnológicos que permitem àqueles indivíduos mergulharem nas mais diversas formas de perversão da condição humana. Neste sentido, devemos nos perguntar: Estaríamos ante uma experiência de reontologização do ser humano, que em certos indivíduos vem se dando por meio de um processo de crescente perversão do psiquismo? As máquinas que são, ou o próprio corpo humano ou uma extensão dele, servem aos humanos como um meio de encontro com o seu desejo? Particularmente as redes sociais, sustentada em suportes técnicos inteligentes (computadores, Tablets, SmartPhones, etc), configuramse, também, como plataformas para o exercício dos aspectos obscuros da personalidade. A indissociabilidade entre as máquinas (mídias) e os humanos, ao tempo em que marcaram a fisionomia das sociedades modernas, intensificou o abismo deste sobre sua própria existência. A cibernética, a engenharia genética e a Inteligência Artificial são os novos oráculos da era contemporânea, dando as cartas quando o assunto é responder à pergunta: o que é o ser humano? Ciborgues, novos seres em uma Ecologia de Máquinas? Em nenhum momento da história, a questão do desejo humano, o sentido para significar o real da própria existência, afetou tanto as pessoas, vítimas de uma demanda superegóica pelo gozo numa perspectiva da impossível satisfação. A métrica dessa regra tem sido intensos Ricardo Amorim Possui graduação em Ciência da Computação pela Universidade Católica de Pernambuco (1989), mestrado em Engenharia de Produção com ênfase em Mídia e Conhecimento pela Universidade Federal de Santa Catarina (2002) e doutorado em Electrónica y Computación pela Universidad de Santiago de Compostela (2007) reconvalidado como Ciência da Computação pela Universidade Federal de Pernambuco (registrado, processo nº 009949/2009-SRD). Atualmente é professor adjunto da Universidade do Estado da Bahia e professor titular da Faculdade de Ciências Aplicadas e Sociais de Petrolina. Seus principais interesses de pesquisa estão centrados na área de Inteligência Artificial com ênfase em representação de conhecimento, Engenharia de Software e Web Semantica na Educação; e, nas relações sócio tecnologicas existentes seres humanos e máquinas, estabelecidas em uma infoesfera na perspectiva de uma Ecologia Digital. Luciano Sérgio Ventin Bomfim Graduações em Geografia UCSAL/1982), Pedagogia (Faculdade de Educação da Bahia/1986) e Direito UNEB/2010), especialização em Metodologia do Ensino Superior (Faculdade de Educação da Bahia/1987), Mestrado em Ciências da Educação (UFSC/1997) e Doutorado em Filosofia pela Gesamthochschule Kassel/Alemanha/2001). Atualmente é professor Adjunto B do Departamento de Tecnologias e Ciências Sociais do Campus III da UNEB. Tem como tema 52 estados de solidão e infelicidade num mundo caracterizado pela interligação das relações humanas por intermédio de máquinas. de pesquisa desde o Mestrado concluído em 1997 a Ontologia Humana sob a perspectiva marxiana, bem como a temática da Cibernética na contemporaneidade. É professor dos Cursos de Engenharia de Bioprocesso e Biotecnologias e Direito do DTCS, e do Mestrado em Ecologia Humana e Gestão Sócio-ambiental deste Departamento, onde leciona a disciplina obrigatória Gestão Sócio-Ambiental, bem como é professor do Programa de Pós-graduação em Educação, Territórios, Educação e Cultura do Semi-árido do Departamento de Ciências Humanas deste mesmo Campus. A Psicanálise Como Abertura À Metafísica Pós-Moderna Observações preliminares em torno da apropriação ontológico-relacional da psicanálise lacaniana pela metafísica pós-moderna de Christos Yannaras Manuel Moreira da Silva Trata-se de uma verificação preliminar da tentativa de Christos Yannaras, antigo aluno de Heidegger e eminente teólogo e filósofo grego, em mostrar, conforme seus próprios termos, “os horizontes abertos para questões ontológico-antropológicas pelas declarações (baseadas em observação clínica) de Lacan”, nas lições II e XV de O Seminário 11. Os quatro conceitos fundamentais da Psicanálise. Mais propriamente, busca-se responder à provocação de Yannaras, quando, em Relational Ontology (Massachusetts: Holy Cross Orthodox Press, 2011 [2004], p. 123), ao fim de uma nota à sua citação (à p. 21) dos enunciados abaixo transcritos, o filósofo afirma que suas discussões, a partir dos mesmos, sobretudo em Postmodern Metaphysics (Massachusetts: Holy Professor Adjunto da UNICENTRO/PR. Doutor e Mestre em Filosofia, pela UFMG e pela UNICAMP, com respectivas tese e dissertação sobre o Sistema e a Lógica de Hegel confrontados com o pensamento contemporâneo. Membro fundador do GT-HEGEL e da Sociedade Hegel Brasileira, bem como de suas coordenações e diretorias entre 2002 e 2011; conferencista convidado na Universidade de Coimbra (2011), UCA Buenos Aires (2014) e Inca Garcilaso, Peru (2016). Publicou Interpretações da Fenomenologia do Espírito de Hegel (2014), com Leonardo Vieira, e Ser e pensar, inícios (2016) [no prelo], além de artigos e capítulos de livros. Investiga a emergência da metafísica pós-moderna, com publicações na área desde 2014 e incursões em Daseinsanalyse e Psicanálise. Aluno da Formação em Psicanálise da 53 Sociedade Psicanalítica do Paraná, SPP, desde 2016. Cross Orthodox Press, 2004 [1993]), “ainda aguardam confirmação ou refutação crítica”. Em vista disso, o presente trabalho se concentrará em tematizar a seguinte formulação: “O sujeito (racional) nasce no campo do Outro; quando o sujeito nasce no campo do Outro, o significante se manifesta; o inconsciente é construído como linguagem”. Isso, em primeiro lugar, na forma como cada enunciado é formulado individualmente em Lacan, bem como apropriado em Postmodern Metaphysics; em segundo lugar, de acordo com sua reconstrução na formulação acima, verificando-a nos capítulos 3 e 4 de Relational Ontology. Feito isso, o trabalho se voltará para a questão de fundo da problemática de Yannaras, posta imediatamente na sequência da formulação indicada. Ei-la: A suposição e a recepção destas formulações de Lacan pela antropologia filosófica nos obrigam a aceitar uma visão naturalística e uma interpretação da racionalidade humana, da existência humana como pessoal? No cerne dessa questão está o problema central da proposição de Christos Yannaras de uma metafísica pós-moderna e de sua determinação ontológico-relacional, a tese ou, antes disso, a hipótese indicada em Relational Ontology (p. 20-21), de que o caráter erótico (da relação universal, do intercurso) do desejo pela vida (desire for life) define a alteridade do modo de existência humana. No caso, a referencialidade relacional (relational referentiality) que distingue um ser humano de qualquer outra coisa existente que tenha vida; quando, nas pegadas de Heidegger, mas também dos neoplatônicos, Yannaras concebe a referencialidade relacional como o êxtase (ecstasy, do grego ek-stasis, “standing out”) da existência, logo, como o movimento implicado pela transposição da necessidade instintiva da autopreservação na demanda do desejo pela vida-como-relação (life-as-relation). Situação em que tal movimento, para Yannaras, tem o sentido de uma resposta ao significante que manifesta, ou se refere a, uma relação universal possível, um “ser-com” (syn-ousia). Eis o que se impõe confirmar ou refutar; isso, no quadro teórico da questão assim formulada: Pode a psicanálise constituir-se como abertura para as questões fundamentais (ontológico-antropológicas) de uma metafísica pós-moderna? 54 Analítica Existencial como fundamento às ciências: Antropologia Filosófica e Psicanálise Winnicottiana As diversas abordagens psicológicas e psicanalíticas sempre foram uma questão àqueles que se perguntam por uma compreensão mais unificada e estruturada sobre o homem. Qual a ideia de homem que as fundamentam? Tendo como horizonte, especificamente, a psicanálise winnicottiana que parte de um paradigma não mais objetificante pensamos ser relevante promover uma reflexão desta com a Ontologia Fundamental de Heidegger. Haja visto ser, a ontologia heideggeriana, uma fundamentação à todas as ciências, inclusive a Antropologia Filosófica. Neste sentido, de pensar possíveis fundamentos antropológicos à psicanalise winnicottiana, propomos um primeiro passo nesta direção desenvolvendo a distinção entre Antropologia Filosófica e Analítica Existencial. Por que a analítica do Dasein não é uma antropologia filosófica? Problematizaremos à luz do autor o que vem a ser uma antropologia mais adequada ao homem pensado como Dasein. Esclarecimento este que nos possibilitará uma tentativa de distinção entre antropologia e analítica existencial. Mostrando também que a analítica é uma descrição das estruturas ontológicas do existir humano em sua cotidianidade. Intentamos investigar este paralelo entre antropologia e ontologia fundamental com vistas a uma reflexão sobre os fundamentos à uma psicanálise winnicottiana. Perceberemos que a ideia de uma antropologia filosófica do Dasein irá ao encontro da teoria do amadurecimento Márcia Guimarães Rivas Psicóloga Clínica, Mestranda do departamento de Filosofia da Unicamp e Mestre em Ciências da Religião pela PUC-SP. Membro da Sociedade Brasileira de Psicanálise Winnicottiana (SBPW). Atende em consultório particular desde 2000. 55 de Winnicott, onde a teoria do amadurecimento protege o indivíduo de um olhar fechado e determinado. Uma ontologia da rejeição ao outro na contemporaneidade: interlocuções entre a Filosofia e a Psicanálise em torno do holocausto Adorno (1965/1995) defendia que Auschwitz, uma das maiores tragédias contemporâneas, não se restringia ao povo judeu – antes constituía um sinal do retorno da Humanidade à barbárie, dado que oferecia um modelo de eliminação da diferença que poderia ser aplicado a qualquer grupo conforme os interesses da classe dominante: “Amanhã pode ser a vez de outro grupo que não os judeus, por exemplo, os idosos, que escaparam por pouco do Terceiro Reich, ou os intelectuais, ou simplesmente alguns grupos divergentes” (p.124). As configurações de laços sociais atuais, submetidas à influência do discurso capitalista que segrega aqueles considerados como “impróprios” sejam por sua religião, opção sexual, racionalidade, ou por de alguma maneira não se adaptarem aos imperativos econômicos vigentes, ratificam as palavras de Adorno. Dado o que Agamben (2008) pondera sobre a biopolítica moderna ter favorecido a sistematização da segregação nos campos de concentração, propomos uma breve reflexão sobre o que o holocausto, tomado como sintoma, nos revela do mal estar contemporâneo: a inabilidade de se lidar com a diferença, pois entendemos que antes de se pensar em uma educação possível que previna novas tragédias, tal como Adorno (1995/1965) propõe, é preciso compreender Mariana Rodrigues Festucci Ferreira Psicanalista, Psicóloga. Doutoranda em Psicologia Clínica pela Universidade de São Paulo (USP), onde é pesquisadora membro do núcleo de pesquisa “Psicanálise e sociedade”; mestre em Psicologia Social pela PUCSP; especialização em Psicanálise e Linguagem pela PUCSP; título de especialista em Psicologia clínica pelo Conselho Federal de Psicologia; promove grupos de estudos na temática de Psicanálise e supervisão clínica. 56 as questões subjetivas que alimentam a intolerância ao outro. Para tanto, propomos uma interlocução entre uma linhagem de pensadores críticos que se debruçaram sobre a questão do holocausto (Adorno em Educação após Auschwitz? e Giorgio Agamben em O que resta de Auschwitz?) e a Psicanálise (a partir das considerações de Freud em Psicologia das Massas e Análise do eu e O mal estar na civilização e de Lacan no Seminário, livros VII, X, XI, e na Preposição de 9/10/67). Tal interlocução aponta para um movimento de rechaço da fragilidade da unidade identitária (condição humana que gera angústia, estranhamento) que vê no outro uma ameaça de desligitimação do próprio eu, tornando qualquer um que soe destoante suscetível de eliminação. O retorno da humanidade à barbárie, como indica Adorno, se traduz na tentativa de uniformização da diferença, que por sua vez, descaracteriza o humano. Do útero ao mundo: diálogos entre Peter Sloterdijk e Otto Rank O filósofo Peter Sloterdijk, em sua obra O Estranhamento do Mundo, descreve a vinda ao mundo do humano dedicando-se à discussão da passagem do espaço fetal para o ambiente mundano. A partir disso, o autor discute a constituição do eu em diferentes modos, ressaltando o caráter indeterminado de nossa espécie ao estar no mundo, onde poucas certezas nos são oferecidas, em oposição à experiência de proteção oferecida pelo espaço uterino. O filósofo estabelece diálogo com o psicanalista Otto Rank, e sua obra O Trauma do Nascimento, ao abordar a violência desta mudança do conforto fetal para as incertezas do mundo. Este trabalho pretende estabelecer o diálogo entre estes dois autores, indicando como Sloterdijk proporciona uma nova leitura dos escritos de Rank, avançando diante das críticas apresentadas por Freud e Winnicott. Para ambos, o bebê ainda é incapaz de sentir o que se denomina “angústia”, portanto, não deveria se dizer em “trauma” do nascimento. Para Sloterdijk, a preocupação Renan S. Carletti Psicólogo graduado pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) e mestre pela Pontíficia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) com dissertação a respeito da obra de Fiódor Dostoiévski e ceticismo grego. Recentemente, tem-se dedicado as interlocuções entre psicanálise e fenomenologia a partir do filósofo alemão Peter Sloterdijk. Possui experiência como docente em ensino superior. Atua em consultório particular e é membro do Instituto Dasein de São Paulo. 57 não é afirmar o que bebê é ou não capaz de sentir. Mas sim, dentro de sua proposta fenomenológica, estabelecer as diferenças nos sentidos encontrados ao habitar o útero e, posteriormente, o mundo, enfatizando a brutalidade desta mudança como traço fundamental na constituição da experiência humana. Os diferentes sentidos para o termo objeto e a aquisição do sentido de realidade na Psicanálise Winnicottiana O termo objeto faz parte do jargão psicanalítico desde Freud que atribuiu a ele diversos sentidos, tais como objeto da pulsão, objeto de amor, entre outros. M. Klein, teórica das relações objetais, trabalhou com a noção de objeto interno, mas, com uma significação desenvolvida por ela, baseada na interação do mundo interno do indivíduo com o mundo externo. Como não poderia deixar de acontecer, em virtude do uso que Winnicott fez do termo objeto, este acabou por ganhar sentidos bastante específicos, obviamente distintos daqueles que encontramos na obra de seus mestres e, mesmo, de outros teóricos da psicanálise. O fato de o psicanalista inglês conceber o contato com a realidade como uma aquisição que se dá paulatinamente, em um delicado processo que depende do ambiente, levou-o a incluir significados ao conhecido conceito de objeto que nunca haviam sido cogitados. Assim, além de empregar o termo segundo o jargão próprio da psicanálise, ao longo de sua obra, vemos Winnicott usar essa expressão, principalmente, com os sentidos específicos de objeto subjetivo, objeto transicional, uso do objeto e objeto objetivamente percebido. Tais expressões foram formuladas para nomear etapas, através das quais se dá o início do contato com a Ricardo Muratori Psicólogo, psicoterapeuta, com especializações em clínica da infância, pelo Grupo de Estudos de Psiquiatria, Psicologia e Psicoterapia da Infância – GEPPPI; em desenvolvimento emocional infantil e na metodologia da observação da relação mãe-bebê, (modelo Esther Bick), pelo Centro de Estudos da Relação Mãe-Bebê-Família; Membro Regular e orientador de alunos do Centro Winnicott de São Paulo; Mestre em Filosofia pela Unicamp com o trabalho “A elaboração do conceito de objeto subjetivo na obra de Donald W. Winnicott”, sob orientação do Prof. Dr. Zeljko Loparic. 58 realidade e das relações objetais, segundo a teoria do amadurecimento. O objetivo desta comunicação é o de apresentar e diferenciar esses sentidos para o termo objeto utilizados por Winnicott para se referir a essas etapas. A medicalização como uma das vozes do Supereu O presente trabalho é parte do processo de construção de uma tese de doutorado que trabalhará o tema da medicalização de crianças em uma comunidade escolar na cidade de Campinas, à luz da psicanálise. Neste resumo, trazemos uma questão de cunho teórico no intuito de oxigenar a unidade de teoria e prática em psicanálise. O ponto de partida é demonstrar que a expressão medicalização não se reduz à administração de medicamentos (medicação) e pode se configurar como uma das vozes do Supereu. Foucault (1980/2015) lembra que na gestão da existência humana, a medicina se enrosca na cultura ocidental da vida comum e assume uma postura normativa que não a autoriza apenas a distribuir conselhos da vida equilibrada, mas a reger as relações físicas e morais do indivíduo; carrega consigo, não apenas um corpus de técnicas da cura e do saber que elas requerem, envolve também um conhecimento do homem saudável, isto é, ao mesmo tempo uma experiência do homem não doente e uma definição do homem modelo. No horizonte da “postura normativa” e do “homem modelo” enquanto ideal a ser perseguido, o Supereu se apresenta como construto teórico que não cabe em uma definição conceitual, como dirá Lacan (1953/1980), “O pensamento de Freud é o mais perpetuamente a aberto à revisão. Sérgio Sócrates Baçal de Oliveira Possui graduação em Psicologia (2005) e Mestrado em Educação pelo Programa de Pós Graduação em Educação da Universidade Federal do Amazonas (2008). É Professor Assistente II da Faculdade de Psicologia da Universidade Federal do Amazonas. Exerceu a função de Coordenador Acadêmico (2012 - 2015). Desenvolve estudos e pesquisas na área da Psicologia e Psicanálise abordando os seguintes temas: sexualidade na escola; violências em contextos educativos; psicologia do desenvolvimento humano; psicologia da aprendizagem. Atualmente é doutorando em Educação na UNICAMP. Ana Archagelo Possui graduação em Psicologia e Formação de Psicólogo pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (1988), Mestrado em Educação pela Universidade Estadual de Campinas (1995), Doutorado em Educação pela Universidade Estadual de Campinas (1999). Realizou estágios pós-doutorais nos Centre for Psycho-Social Studies da University of the West of England (2001 e 2009), Centre for Psychoanalytic Studies da University of Colchester (2003 e 2006) e na Università degli Studi di Torino (2011). Lecionou de 1992 a 2004 no Depar- 59 É um erro reduzi-lo a palavras gastas. Nele, cada noção possui vida própria.”. Nestes termos, Imbertín (2000) aponta que a noção de Supereu não é individual, nem social; não é interior, nem exterior; não é própria, nem alheia; não é somente mera identificação ao pai, nem uma simples herdeira do complexo de Édipo; nem materno, nem paterno, nem feminino, nem masculino, nem precoce nem maduro, mas antes, uma dimensão circular que participa da geografia do sujeito entre a cultura em que está inserido e o campo de linguagem que a compõe; assim, a medicalização como uma das vozes do Supereu vai se produzindo como um olhar-discurso participante das formações subjetivas de cada humano no intuito de alicerçar um estado ideal de pessoa saudável, uma espécie de imperativo massivo incansavelmente difundido na mídia especializada (área da saúde e grandes laboratórios), nas relações do cotidiano (escolas, universidades, famílias, grupo de amigos etc.) e na mídia de um modo geral (televisão, rádio, jornais, revistas, internet etc.). Com efeito, tudo que excede ou que se encontra aquém do modelo normativo estabelecido, ou seja, aquilo que escapa aos ideais da medicalização, traz notícias do sintoma social como imperativo ao gozo (satisfação e engodo) operando como uma das vozes do Supereu. Neste contexto, a criança é mais susceptível para se imprimir uma forma de gozar que, aparentando ser o melhor caminho de tamento de Educação da UNESP, campus de Presidente Prudente. Desde então, é Professora Doutora do Departamento de Psicologia Educacional da Faculdade de Educação da UNICAMP, onde leciona na graduação e na pós-graduação, e orienta pesquisas de IC, mestrado e doutorado. 60 conduta para sua vida, pode ampliar seu sofrimento. Linguagem e verdade entre Édipo e a Esfinge – a crítica de Agamben a Lacan a respeito do simbólico O objetivo deste trabalho é comparar a análise da questão do símbolo no mito de Édipo em Agamben com aquilo que Lacan diz sobre o mesmo assunto em “A instância da letra no inconsciente ou a razão desde Freud” e em “À memória de Ernest Jones: sobre sua teoria do simbolismo”. Tal recorte se justifica, pois, ao refletir sobre as interpretações modernas do mito de Édipo, Agamben tenciona a concepção de Lacan do simbólico, num debate entorno da ontologia heideggeriana. Agamben tentará mostrar que, na psicanálise, a interpretação do mito subentende um certo funcionamento da linguagem que se sustenta sobre aquilo que Heidegger considerou a “metafísica ocidental”: o esquecimento de uma experiência mais originária da “verdade” entendida enquanto verdade. Propondo uma oposição entre o discurso propriamente “simbólico” ou “apotropaico” da Esfinge e o discurso da “clareza” de Édipo, para quem a verdade só poderia aparecer plenamente após um “deciframento” do “enigma”, Agamben opõe Heidegger à psicanálise, propondo uma concepção da verdade em que o “simbólico” aparece como fundamento da significação. Nesse sentido, o que Agamben tenta mostrar é que, enquanto a Esfinge representa um entendimento da linguagem mais próximo daquele que Saussure havia intuído ao falar paradoxalmente Suzana Soares Lopes Mestranda no Programa de Pósgraduação em Psicologia Clínica na Universidade de São Paulo. Especialista em Filosofia Moderna e Contemporânea - aspectos Éticos e Políticos, pela Universidade Estadual de Londrina - graduação em Psicologia pela mesma instituição. Atua como psicóloga clínica. Gabriel Pinezi Doutor e mestre em Estudos Literários pela Universidade Estadual de Londrina. Realizou estágio de pós-doutorado no Programa de Pós-graduação em Filosofia da mesma instituição, desenvolvendo pesquisa sobre pensamento estético de Giorgio Agamben, com ênfase na questão da originalidade da obra de arte. 61 da “unidade dupla” do signo linguístico, estando assim alinhado àquilo que Heidegger considera uma experiência “mais originária” do significar, Édipo representaria um herói do iluminismo e da metafísica moderna, por expressar uma concepção da linguagem em que a verdade e o simbólico aparecem como cindidos. Para Agamben, “a culpa de Édipo não é tanto o incesto, quanto uma verdade diante da potência do simbólico em geral (a Esfinge é, assim, segundo a indicação de Hegel, de fato ‘o símbolo do simbólico’), que ele menosprezou interpretando a sua intenção apotropaica como relação entre um significante oblíquo e um significado escondido. Com o seu gesto, ele abre uma fenda na linguagem, que terá vasta descendência metafísica: por um lado, o discurso simbólico e por termos impróprios da Esfinge, cuja essência é um cifrar e um esconder, e, por outro, aquele claro, e por termos próprios de Édipo, que é um expressar ou um decifrar. Édipo aparece, portanto, na nossa cultura como o ‘herói civilizador’ que, com sua resposta, proporciona o modelo duradouro da interpretação do simbólico”. Assim, Agamben parece sugerir que a contraposição entre Édipo e a Esfinge seria equivalente a um entendimento metafísico do signo da psicanálise e um entendimento propriamente ontológico da linguagem, tal como Heidegger a trata a partir de sua interpretação da verdade nos gregos. A hipótese que guia nossa leitura é a de que, apesar de Lacan desconfiar de certos pressupostos de Heidegger em sua defesa da hermenêutica psicanalítica, ele não necessariamente apresenta um entendimento do simbólico que seja “metafísico”, no sentido que Agamben atribui ao termo, justamente por sua aguda interpretação da linguística de Saussure. Visa-se, assim, comparar as interpretações de Lacan e de Agamben sobre o estatuto dual do signo linguístico a partir de suas leituras do mito de Édipo e da ontologia heideggeriana. 62 Sobre o estatuto ontológico do sujeito do desejo inconsciente e suas consequências para a investigação filosófica A construção freudiana do conceito de inconsciente possibilitou a posterior instauração de uma nova concepção de sujeito, a qual subverte o tradicional modelo metafísico de subjetividade procedente da filosofia cartesiana. Considerando como ponto fundamental para a psicanálise a característica clivagem do psiquismo em dois sistemas que se apresentam com modos de funcionamento diferentes – consciente/ pré-consciente e inconsciente –, podemos assinalar ainda uma distinção ontológica entre os modelos de subjetividade freudiano e cartesiano. Em Descartes, o penso, logo sou aponta para uma identidade entre o pensamento (consciência) e o ser (existir), de modo a identificarmos de imediato uma substancialização do pensamento: a res cogitan (ou coisa pensante). Temos, portanto, uma subjetividade cartesiana que, além de inteiramente identificada a um sujeito da razão consciente, também se mostra como um sujeito que é substancialmente pleno. Por sua vez, em Freud a clivagem psíquica operada pelo recalcamento nos conduz a postular – para além da existência de um sujeito da razão consciente – a validade de um sujeito do inconsciente, o qual se revela como um conceito heurístico capaz de tornar inteligíveis fenômenos como os sintomas neuróticos, os sonhos e os atos falhos. Se para Descartes, contudo, a subjetividade se apresenta como uma consciência racional substancializada, para a psicanálise o sujeito do inconsciente coin- Yonetane de Freitas Tsukuda Professor Auxiliar da Universidade Estadual de Feira de Santana. Departamento de Ciências Humanas e Filosofia. Especialista em Psicologia Clínica pelo Conselho Federal de Psicologia. Especialista em Filosofia Contemporânea pela Universidade Estadual de Feira de Santana Graduado em Psicologia pela Universidade Federal da Bahia. 63 cide com o sujeito do desejo, sendo, portanto, uma subjetividade demarcada pelo desejo inconsciente. É neste ponto, então, que introduzimos o nosso questionamento principal: qual é o estatuto ontológico do sujeito do desejo inconsciente? Certamente, podemos afirmar, não é o mesmo do sujeito apoiado na substância pensante de Descartes; pelo contrário, devemos assumir se tratar o desejo de um vazio de substância – em oposição ao ‘cheio’ do ser metafísico – e, assim sendo, compreender a subjetividade freudiana como dessubstancializada. Esta dessubstancialização da subjetividade operada por Freud se torna ainda mais evidente quando nos remetemos à teoria da representação forjada em Sobre a concepção das afasias (1891). Nele, podemos constatar que os fios que tecem a tessitura do psiquismo são compostos pela articulação das representações-palavra (Wortvorstellung) e representações-objeto (Objektvorstellung) em contraponto à noção de coisa (das Ding), localizando, desde o princípio, a investigação psicanalítica na dimensão da linguagem – e, portanto, na dimensão do vazio de substância. Por conseguinte, o sujeito da psicanálise (tornado possível somente como função da linguagem) e seu desejo (as representações expulsas do consciente pela operação do recalque) exigem uma aproximação ontológica que se coadune com a sua especificidade, evitando recair numa simples investigação ôntica. Assim, seria o caso de nos indagarmos sobre qual é o tipo possível de ontologia requisitado pelo campo psicanalítico, ou mesmo se a psicanálise não lançaria questões cruciais para a pesquisa ontológica, de modo a subverter alguns de seus conceitos fundamentais como ser e verdade, desembocando numa ruptura com a ontologia tradicional (metafísica). 64 Promoção Centro de Lógica, Epistemologia e História da Ciência-UNICAMP GrupoFPP (Grupo de Filosofia e Práticas Psicoterápicas) Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) Internation Research Group on Winnicott’s Paradigm (IRG-WP) International Winnicott Association (IWA) Apoio Instituto Winnicott (IBPW) Universidade Federal do ABC (UFABC) Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS) Fundação de Amparo à Pesquisa de São Paulo (FAPESP) Coordenação Zeljko Loparic (IBPW, IWA, UNICAMP) Comissão Científica Alice Busnardo (IBPW) Carlota Ibertis (UFBA) Carlos Barros (UEFS) Danit Pondé (IBPW) Eder Soares Santos (UEL/IBPW) Léa Silveira (UFLA) Malcom Guimarães (UEFS) Sérgio Fernandes (UFRB) Suely Aires (UFRB) Comissão Organizadora Caroline Vasconcelos Ribeiro (UEFS, pós-doutoranda na UNICAMP) Conceição Aparecida Serralha (UFTM e pós-doutoranda na UNICAMP) Suzi de Oliveira Piza (UFABC, pós-doutoranda na UNICAMP) Comissão de Trabalho Carolina Aparecida Cajaíba (UFABC) Fernanda de Jesus Almeida (UEFS) Jilvania de Jesus Barbosa (UEFS) Laura Elza Mack Rates (IBPW, IWA, Doutoranda UNICAMP) 65 ibpw.org.br