http://6cieta.org São Paulo, 8 a 12 de setembro de 2014. ISBN: 978-85-7506-232-6 GEOTECNOLOGIAS APLICADAS A ANÁLISE INTEGRADA DA PAISAGEM: INTERDISCIPLINARIDADE ENTRE GEOPROCESSAMENTO E METODOLOGIA DE PESQUISA EM GEOGRAFIA FÍSICA Nathália Prado Rosolém Universidade Estadual de Londrina [email protected] Karine Bueno Vargas Universidade Estadual de Londrina [email protected] INTRODUÇÃO Na busca da interdisciplinaridade dentro dos conteúdos geográficos propõe se relatar a experiência da prática de ensino das disciplinas de Geoprocessamento e Metodologia de Pesquisa em Geografia Física do curso de Geografia da Universidade Estadual de Londrina, realizado junto aos alunos do terceiro ano do bacharelado. De acordo com Brasil (1999, p. 89), a interdisciplinaridade não dilui as disciplinas, ao contrário, mantém sua individualidade, mas integra as disciplinas, a partir da compreensão das múltiplas causas ou fatores que intervêm sobre a realidade e trabalha todas as linguagens necessárias para a constituição de conhecimentos, comunicação e negociação de significados e registro sistemático dos resultados. A disciplina de Geoprocessamento acima citada envolve o processamento informatizado de dados georreferenciados obtidos por meio de dados cartográficos (mapas, cartas, plantas, imagens de satélite) e tem como objetivo espacializar e mapear fenômenos físicos e sociais sendo, portanto um conjunto de conceitos, métodos e técnicas em torno do processamento eletrônico de dados. 3285 http://6cieta.org São Paulo, 8 a 12 de setembro de 2014. ISBN: 978-85-7506-232-6 Já a disciplina de Metodologia de Pesquisa em Geografia Física tem como finalidade apresentar ao aluno os caminhos teóricos e práticos para o desenvolvimento da pesquisa no campo dessa vertente geográfica, além de instrumentalizá-lo na elaboração e desenvolvimento de projetos, conduzindo-o a realidade profissional do bacharel em Geografia. De tal modo, a união dessas duas disciplinas, com a elaboração de trabalhos em conjunto, integraram-se com a proposta pedagógica de um trabalho de campo com ênfase na análise conjunta da paisagem no final das disciplinas, onde os conteúdos foram transmitidos de forma individual em sala de aula, mas inteirados com a mesma proposta de análise e área de estudo. A interface junto a disciplina de Geoprocessamento é válida para diversas áreas das ciências naturais e sociais, pois instrui o aluno a espacializar fenômenos a partir da cartografia digital e auxilia também em processos posteriores a produção de mapas, como a análise e interpretação de seus significados. De acordo com Mendes e Cirilo (2001), o Geoprocessamento pode ser considerado como parte de um conjunto de tecnologias que, com o trabalho integrado, ajudam a representar, simular, planejar e gerenciar o mundo real. Dessa maneira, a interdisciplinaridade entre o Geoprocessamento e a Cartografia com disciplinas que têm como objeto o espaço geográfico é enriquecedor a todos os envolvidos, pois os alunos passam a compreender com o uso de geotecnologias os fenômenos na teoria e como eles se distribuem no espaço. O uso das geotecnologias tende a facilitar a elaboração de diversos tipos de mapeamentos, principalmente com as funcionalidades do seu instrumento maior, o SIG (Sistema de Informação Geográfica), de fundamental importância na formação e qualificação do geógrafo para o mercado de trabalho. Em conjunto com uso de técnicas e metodologias atuais, deve-se também associar o uso de métodos clássicos dos estudos geográficos, como o trabalho de campo, essencial nas pesquisas de Geografia Física, é a partir dele que se constata a realidade dos fenômenos e adiciona novas informações que vão além do visto nas fotografias aéreas e imagens de satélite, sendo função do geógrafo representar o espaço da forma mais real possível com a escolha da escala de análise mais adequada. De acordo com Suertegaray (2005), o trabalho de campo é um instrumento de 3286 http://6cieta.org São Paulo, 8 a 12 de setembro de 2014. ISBN: 978-85-7506-232-6 análise geográfica que permite o reconhecimento do objeto e que, fazendo parte de um método de investigação, permite a inserção do pesquisador no movimento da sociedade e natureza como um todo. De acordo com a autora, essa visão não nega a possibilidade de uso de instrumentalização no campo e na pesquisa de forma ampla, devendo-se utilizar as novas tecnologias a serviço das escolhas do profissional geógrafo. A opção do trabalho de campo como ferramenta da análise integrada da paisagem surge a partir das discussões sobre os vários métodos e técnicas de Geografia Física vistos em sala, principalmente nas áreas de biogeografia, hidrografia, geomorfologia, pedologia e climatologia que são as mais trabalhadas pelos geógrafos dessa vertente. No qual, os alunos em contato com os elementos físicos da natureza, terão condições de analisar e identificar os fatores que levam a sua integração numa mesma paisagem. Para Manosso (2009), os conteúdos físicos da paisagem podem ser interpretados de forma integrada, buscando o entendimento interdisciplinar da organização do espaço, principalmente sob a prática do ensino de Geografia. O autor ainda ressalta que, o estudo e interpretação da organização do espaço requerem análises aprofundadas sobre diversos elementos que compõem a paisagem expressa na superfície atual, dotados de funcionalidade própria no espaço e no tempo. O objetivo deste artigo, portanto é relatar as experiências e resultados alcançados com esta integração disciplinar, utilizando a metodologia analítica descritiva para apresentar a construção do conhecimento desenvolvido em sala, o qual pode ser aplicado por diversas disciplinas, agregando maior valor ao conhecimento das ciências naturais e sociais e ainda fortificando o processo de ensino aprendizado dos alunos. Por meio desta proposta de integração, optou-se para o estudo uma escala geográfica comum, o Morro da Antena, localizado no município de Ortigueira, na região Centro Oriental Paranaense, área trabalhada em duas etapas, na primeira com estudos prévios feitos em sala de aula até a realização do campo e na segunda com o Pós-campo, no qual sistematizou as informações sobre a análise integrada da paisagem e a confecção dos mapas temáticos. PRIMEIRA ETAPA – PREPARAÇÃO PARA O CAMPO A disciplina de metodologia em Geografia Física primeiramente introduziu os alunos nas áreas de maior destaque dessa vertente (climatologia, pedologia, geomorfologia, hidrografia e biogeografia), abordando seus objetos de estudos e suas técnicas e 3287 http://6cieta.org São Paulo, 8 a 12 de setembro de 2014. ISBN: 978-85-7506-232-6 metodologias mais utilizadas na análise ambiental da paisagem. O panorama dessas ciências foi resgatado para que os alunos pudessem compreender que os elementos da paisagem como clima, relevo, solos, vegetação e rede hidrográfica podem estar todos integrados. E por mais que o geógrafo trabalhe com uma área específica, não se deve desconsiderar os demais elementos físicos que poderão auxiliar nas respostas de dinâmicas e processos ocorrentes tanto num passado geológico como no presente. Dentro desse contexto, Venturi (2011) relata que o geógrafo não observa um mundo estático e deve sempre procurar entender os processos, por exemplo, ao observar e descrever amostras de solo ele estará, ao mesmo tempo, considerando determinado contexto paisagístico e refletindo sobre sua conservação, aproveitamento ou fragilidade de processos erosivos. Em seguida, buscou-se trabalhar com a temática do trabalho de campo, no qual deu enfoque a sua importância como método de análise geográfica e também sobre a instrumentalização básica necessária para um bom desenvolvimento da coleta de dados e informações obtidas em campo, sendo fundamental o uso de GPS, câmera fotográfica, caderneta de campo, suportes para coleta de materiais quando necessário e ferramentas específicas. A instrumentalização pode variar de acordo com a pesquisa, devendo-se sempre realizar um planejamento pré-campo para listar os objetivos a serem alcançados e os equipamentos necessários para tal coleta de informações. Além disso, deve-se programar os horários de partida, desenvolvimento do campo, horário de refeições e retorno, levando em consideração as situações adversas como chuvas, problemas com os equipamentos e transporte, ou acidentes que possam comprometer o cronograma. Após todo o levantamento para um bom desenvolvimento do trabalho de campo, foi apresentado os itens necessários para a elaboração do relatório de campo, como introdução, com a contextualização da área a ser visitada, sua localização e caracterização geral, o desenvolvimento com descrição dos pontos de parada, coordenadas geográficas, descrição do fenômeno ou paisagem a ser analisada, fotografias, mapas e croquis, e por fim as considerações finais e referências utilizadas, padronizados a partir das normas de trabalho acadêmico (ABNT), pois se refere a um documento científico a ser avaliado como nota parcial das disciplinas. 3288 http://6cieta.org São Paulo, 8 a 12 de setembro de 2014. ISBN: 978-85-7506-232-6 A aula que antecipa o campo é destinada a preparação e o conhecimento prévio sobre a área de estudo, para que os alunos possam chegar ao local devidamente orientados, instrumentalizados e focados aos elementos que necessitam observar e registrar. Já a primeira etapa realizada na disciplina de Geoprocessamento foi a produção de um mapa que pudesse demonstrar a localização da área e as características do relevo que se encontra no trajeto e no entorno do Morro da Antena situado no município de Ortigueira. A elaboração do mapa hipsométrico foi proposta para compreender o comportamento do relevo do trajeto entre o município de Londrina, tendo como ponto inicial a Universidade Estadual de Londrina (23º 19’ 31,8” S e 51º 12’ 00” W) e o Morro da Antena no município de Ortigueira (23º 58’ 12” S e 51º 04’ 33,6” W) como ponto de chegada e área de estudo (Mapa 1). O mapa foi elaborado a partir de arquivos raster em formato TIFF de Modelo Numérico de Elevação obtidos por SRTM1 (Shuttle Radar Topography Mission) disponíveis para download no site da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) já georreferenciados. No ambiente SIG no software ArcMap, fez-se a inserção e o mosaico do conjunto das imagens, que em seguida foram recortadas a partir da base cartográfica da divisão político-administrativa do Paraná de 2013 2 disponível no formato shapefile no site do ITCG (Instituto de Terras, Cartografia e Geociências). Para o recorte da imagem, além dos municípios de Londrina e Ortigueira, vinculou-se também a delimitação dos municípios limítrofes que dão continuidade ao trajeto, Tamarana e Mauá da Serra, para compor em uma etapa seguinte o perfil topográfico. Com a imagem já recortada, pode-se associar cores convencionadas a representação do relevo, com o uso da cor amarela para regiões mais baixas e do marrom para regiões de alta elevação, que resultou no mapa hipsométrico da área. 1 EMBRAPA. Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária. Imagens SRTM do Brasil em Relevo. Disponível em: http://www.relevobr.cnpm.embrapa.br/download/. Acesso em: 15 set 2013. 2 ITCG. Instituto de Terras, Cartografia e Geociências. Produtos Cartográficos: dados e informações geoespaciais temáticos. Disponível em: http://www.itcg.pr.gov.br/modules/faq/category.php?categoryid=9. Acesso em: 15 de set 2013. 3289 http://6cieta.org São Paulo, 8 a 12 de setembro de 2014. ISBN: 978-85-7506-232-6 Para complementar e finalizar o mapa, além da inclusão dos elementos essenciais como legenda, escala, coordenadas geográficas, norte verdadeiro, fonte e organização, optou-se pela elaboração de um perfil topográfico do trajeto com o objetivo de compreender o comportamento do relevo. Ao inserir as coordenadas dos pontos inicial e final do trajeto, utilizou-se a ferramenta 3DAnalyst para a elaboração do perfil topográfico, que produziu automaticamente, a partir da associação dos valores dos pixels da imagem, a representação em gráfico do comportamento do relevo do trajeto a ser percorrido. De acordo com a classificação do Atlas Geomorfológico do Paraná da MINEROPAR (2006), a área de Londrina, que foi o ponto de partida para o campo, corresponde a subunidade morfoescultural Planalto de Londrina, que situa-se no Terceiro Planalto Paranaense, apresenta dissecação média e ocupa numa área de 3.233,83 km². A classe de declividade predominante é menor que 12% em uma área de 2.475,50 km². Em relação ao relevo, apresenta um gradiente de 820 metros com altitudes variando entre 360 (mínima) e 1.180 (máxima). As formas predominantes são topos alongados, vertentes convexas e vales em “V”, modeladas em rochas da Formação Serra Geral. 3290 http://6cieta.org São Paulo, 8 a 12 de setembro de 2014. ISBN: 978-85-7506-232-6 Mapa 1. Hipsometria e Perfil Topográfico do Trajeto de Campo: Londrina-Morro da Antena (Ortigueira) – PR. Fonte: Embrapa e ITCG, 2013. Elaboração: Nathália Prado Rosolém, 2013. Já a área do município de Ortigueira, corresponde a subunidade morfoescultural denominada Planalto de Ortigueira, situada no Segundo Planalto Paranaense, apresenta dissecação média. As classes de declividade predominantes são menores que 6% em uma área de 432,22 km² e de 12-30% em uma área de 360,21 km². Em relação ao relevo, apresenta um gradiente de 560 metros com altitudes variando entre 420 (mínima) e 980 (máxima). As formas predominantes são topos alongados e em cristas, vertentes retilíneas e vales em “V”. A direção geral de morfologia é NW/SE, modelada em rochas da Formação Rio do Rastro e da Formação Teresina (MINEROPAR, 2006). Com relação ao relevo regional de Ortigueira, esse é formado por uma zona de transição entre o Segundo e o Terceiro Planalto Paranaense. Segundo Maack (2012), nas proximidades da Escarpa da Serra Geral, destacam-se morfoesculturas de mesetas, colinas e morros testemunhos formados por rochas vulcânicas (derrames de basalto da Formação Serra Geral). A área é conhecida regionalmente como Serra do Cadeado (Figura 1), sendo 3291 http://6cieta.org São Paulo, 8 a 12 de setembro de 2014. ISBN: 978-85-7506-232-6 um prolongamento fisiográfico da Serra Geral, que se estende do nordeste do Rio Grande do Sul até o estado de São Paulo. O Segundo Planalto contempla uma faixa de aproximadamente 100 km de largura, limitado a oeste e norte pela Escarpa da Serra Geral e a leste pela Escarpa Devoniana. Na parte leste do Segundo Planalto, nas proximidades do município de Tibagi, as altitudes máximas atingem 1290 m, diminuindo até cerca de 510 m no leito do rio Tibagi, quando este atravessa a Escarpa da Serra Geral, no limite entre o Segundo e o Terceiro Planalto Paranaense (FREITAS, 2005). Já o Terceiro Planalto corresponde ao maior compartimento de relevo do Estado do Paraná, seus limites ocorrem entre o reverso de cuesta da Serra Geral a oeste e a calha do rio Paraná a leste, na divisa com o Mato Grosso do Sul. As litologias características desse compartimento são os basaltos da Formação Serra Geral e os arenitos da Formação Caiuá, que serviram de substrato para o relevo suave ondulado, com amplas vertentes convexas e espessos mantos de alteração (SANTOS; FORTES; MANIERI, 2009). Figura 1. Perfil topográfico esquemático do Estado do Paraná (E-W). Obs.: quadrado em vermelho corresponde à área de estudo. Fonte: Maack (1968), modificado por Vargas (2012). Além da geologia e da geomorfologia da área, buscou-se a caracterização de outros elementos físicos da paisagem, como clima, solos, geologia, rede hidrográfica e biogeografia, que foram também explanados e analisados em sala de aula, buscando sempre a conexão entre os elementos. Sobre as características pedológicas do morro, sua base possui solos provenientes dos arenitos da Formação Botucatu/Pirambóia e dos siltitos, argilitos e arenitos da Formação Rio do Rasto. O latossolo vermelho encontrado no topo no morro é oriundo de atividades pedogenéticas sobre as rochas basálticas, que com o passar dos anos foram se decompondo, dando origem a esse tipo de solo. 3292 http://6cieta.org São Paulo, 8 a 12 de setembro de 2014. ISBN: 978-85-7506-232-6 A vegetação da área é formada de Floresta Ombrófila Mista, com a presença de Araucárias, espécies angiospermas e coníferas, sendo um ecossistema mantido pelo regime de chuvas anual, ocorrente em altitudes elevadas. Assim, o clima, os tipos de solo e a altitude proporcionam características específicas às vegetações, que se adaptam e expandem seu domínio de acordo com a sua harmonização e adequabilidade aos elementos físicos quem compõem a paisagem. SEGUNDA ETAPA – PÓS-CAMPO Após a realização do campo foram elaborados em sala de aula mais quatro mapas temáticos, que tiveram como base a Carta Topográfica de Mauá da Serra 3 publicada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) no ano de 1992 na escala de 1:50000. Essa foi inserida no software ArcMap, georreferenciada, para então iniciar a etapa seguinte. Primeiramente, buscou-se a vetorização da base e delimitação do Morro da Antena. Para essa ação utilizou-se da ferramenta ArcScan que auxilia na vetorização de cartas binárias (1 bit – preto e branco) de forma semiautomática, no qual o operador direciona o caminho a ser percorrido no processo de transformação do raster em vetor. Para elaborar o mapa hipsométrico vetorizou-se as curvas de nível e associou-se a cada uma delas o seu valor de altitude em um banco de dados alfanuméricos, para que o software pudesse reconhecer e gerar a partir dessas informações o Modelo Numérico de Terreno (MNT), em que resultou no mapa do relevo da área e de declividade do Morro da Antena (Mapa 2 e 3). 3 IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Carta Topográfica de Mauá da Serra: escala 1:50000. Rio de Janeiro, Departamento de Cartografia, 1992. 3293 http://6cieta.org São Paulo, 8 a 12 de setembro de 2014. ISBN: 978-85-7506-232-6 Mapa 2. Hipsometria e MNT do Morro da Antena do município de Ortigueira – PR. Fonte: Carta Topográfica de Mauá da Serra, IBGE, 1992. Elaboração: Nathália Prado Rosolém, 2013. 3294 http://6cieta.org São Paulo, 8 a 12 de setembro de 2014. ISBN: 978-85-7506-232-6 Mapa 3. Declividade do Morro da Antena do município de Ortigueira – PR. Fonte: Carta Topográfica de Mauá da Serra, IBGE, 1992. Elaboração: Nathália Prado Rosolém, 2013. O que se vê a partir dos mapas é a representação do relevo serrano em uma área de borda planáltica formada por escarpas típicas de cuesta, que se caracteriza por relevos dissimétricos constituídos por uma sucessão alternada das camadas litológicas com diferentes resistências à erosão, formando um declive suave de um lado e um corte abrupto de outro, sendo o front e o reverso da escarpa. No Morro da Antena é possível visualizar esse contexto geomorfológico, porém o morro é apenas um fragmento dessa escarpa, realçando-se na paisagem como um relevo testemunho, formado pela atuação de agentes intempéricos em conjunto com a instalação da rede drenagem. Da base para o topo do morro, como pode ser visto no mapa 2, as altitudes variam de 1060 a 1220 metros e apresentam declividades de 5 a 50%, como observado no mapa 3. Tal diferenciação, tanto da altitude como declividade, é decorrente das diferentes camadas litológicas que embasam o morro de forma assimétrica sob a ação dos agentes erosivos que moldam essa estrutura. No campo foram coletados informações sobre a paisagem das paradas realizadas em um intervalo de 200 metros no trajeto de subida do morro. Além das 3295 http://6cieta.org São Paulo, 8 a 12 de setembro de 2014. ISBN: 978-85-7506-232-6 coordenadas geográficas recolhidas com o aparelho receptor GPS, anotou-se informações referentes à altitude, geologia, geomorfologia e vegetação dos dez pontos, dados que foram utilizados posteriormente em sala de aula para elaboração do banco de dados do morro. Com os dados em mãos e com a base cartográfica do morro já vetorizada, inseriram-se os pontos das paradas a partir da relação das coordenadas geográficas e também os elementos temáticos da carta topográfica como redes de transporte (PR-445 rodovia de acesso ao morro e estrada sem pavimentação de acesso ao topo do morro) e hidrografia, no que gerou a produção do mapa 4 de localização dos pontos de paradas realizados no Morro da Antena. Mapa 4. Pontos de parada do campo no Morro da Antena em Ortigueira – PR. Fonte: Carta Topográfica de Mauá da Serra, IBGE, 1992. Elaboração: Nathália Prado Rosolém, 2013. Após a elaboração dos mapas temáticos propostos, com o objetivo de complementar o relatório de campo, confeccionou-se o mapa de localização do Morro da Antena a partir das bases disponíveis em formato shapefile no site do IBGE (base cartográfica do Brasil), do ITCG (base cartográfica do Paraná e o do município de Ortigueira) e da Carta Topográfica do município (delimitação do Morro) (Mapa 5). 3296 http://6cieta.org São Paulo, 8 a 12 de setembro de 2014. ISBN: 978-85-7506-232-6 Mapa 5. Localização do Morro da Antena em Ortigueira – PR. Fonte: Base Cartográfica do Paraná, ITCG, 2013. Elaboração: Nathália Prado Rosolém, 2013. Sendo assim, por meio de bases cartográficas digitais e analógicas e dados coletados em campo, em cartas topográficas e sites de instituições públicas, criou-se um banco de dados de Sistema Informação Geográfica (SIG) e representações cartográficas, importantes instrumentos para compreender a realidade da paisagem encontrada e analisar os fatos geográficos em sua extensão e localização, resultando na elaboração do relatório de campo. CONSIDERAÇÕES FINAIS A interdisciplinaridade entre o Geoprocessamento e a Metodologia de Pesquisa em Geografia Física resultou em um relatório de campo, com um conjunto de mapas produzidos pelos próprios alunos e uma descrição do que foi visto, fortalecendo o processo de ensino aprendizagem e a compreensão da análise integrada da paisagem, seguindo os preceitos da práxis (teoria e prática). 3297 http://6cieta.org São Paulo, 8 a 12 de setembro de 2014. ISBN: 978-85-7506-232-6 Na disciplina de Metodologia de Pesquisa em Geografia Física, os alunos tiveram acesso às discussões de diversos temas e metodologias evidenciando a importância da técnica do trabalho de campo para a Geografia e sua inserção nas ementas dos cursos, com a aplicação da teoria em sala de aula e a prática em campo ou laboratórios, para se visualizar as dinâmicas que atuam no espaço geográfico. Já na disciplina de Geoprocessamento, os alunos puderem se qualificar quanto ao uso das geotecnologias, especificamente com o Sistema de Informação Geográfica, com a elaboração de produtos cartográficos associados a um banco de dados, importante ferramenta para atuação do geógrafo no mercado de trabalho e como suporte para análise espacial de fenômenos, que auxilia o pesquisador a gerar soluções para os problemas, tomar decisões e realizar diagnósticos sobre a região estudada. Deste modo, com o desempenho dessas duas disciplinas em uma escala geográfica comum, buscou-se qualificar melhor os profissionais geógrafos, tanto na teoria quanto na prática, com introdução a métodos e técnicas essenciais a sua formação e atuação, para que esse profissional esteja preparado para atuar em pesquisas científicas, planejamentos, implantações de políticas sociais, econômicas e administrativas em órgãos públicos ou em iniciativas privadas. Dá-se por fim, uma atenção a importância da interdisciplinaridade, analisada e respeitada pelo célebre geógrafo brasileiro Aziz Ab’Sáber: “...hoje em dia, a interdisciplinaridade torna-se um verdadeiro imperativo para a construção de uma sociedade que seja capaz de receber e absorver, em todos os seus segmentos, os benefícios e as facilidade dessa ciência integrada” (2005, p. 24). REFERÊNCIAS AB’SÁBER, A. Refletindo sobre questões ambientais: ecologia, psicologia e outras ciências. 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Geoprocessamento em Recursos Hídricos: Princípios, integração e aplicação. Porto Alegre: ABRH, 2001. MINEROPAR. Minerais do Paraná S.A. Mapa Geomorfológico do Paraná. Secretaria de Indústria, Comércio e do Turismo do Estado do Paraná. Escala: 1:650.000. Curitiba, 2006. SANTOS, F. R.; FORTES, E. ; MANIERI, D. D. Mapeamento geomorfológico e análise fisiográfica da paisagem da bacia do rio Ivaí - Pr. In: XIII Simpósio Brasileiro de Geografia Física Aplicada, Viçosa, 2009. SUERTEGARAY, D. M. A. Pesquisa de campo em geografia. IV Encontro Estadual de Geografia de Minas Gerais. Belo Horizonte, 2005. Disponível em: http://www.uff.br/geographia/ojs/index.php/ge ographia/article/download/78/76. Acesso em 21 jul 2014. VARGAS, K. B. Caracterização morfoestrutural e evolução da paisagem da bacia hidrográfica do ribeirão Água das Antas – PR. 2012. Dissertação (Mestrado em Geografia). Universidade Estadual de Maringá. Maringá, 2012. 3299 http://6cieta.org São Paulo, 8 a 12 de setembro de 2014. ISBN: 978-85-7506-232-6 GEOTECNOLOGIAS APLICADAS A ANÁLISE INTEGRADA DA PAISAGEM: INTERDISCIPLINARIDADE ENTRE GEOPROCESSAMENTO E METODOLOGIA DE PESQUISA EM GEOGRAFIA FÍSICA EIXO 6 – Representações cartográficas e geotecnologias nos estudos territoriais e ambientais RESUMO Este trabalho vem como um produto da proposta de interação entre as disciplinas de Geoprocessamento e Metodologia de Pesquisa em Geografia Física do curso de Geografia da Universidade Estadual de Londrina, realizado junto aos alunos do terceiro ano do bacharelado. A interdisciplinaridade foi uma maneira de complementar a formulação de um saber crítico-reflexivo e superar a fragmentação científica, relacionando-as entre si para a compreensão da realidade, na busca de que os alunos compreendam e analisem as dinâmicas da paisagem em caráter territorial e ambiental. O presente artigo tem como objetivo relatar as experiências e resultados alcançados com esta integração disciplinar, utilizando a metodologia analítica descritiva para apresentar a construção do conhecimento aplicado em sala. Nas aulas de Metodologia de Pesquisa em Geografia Física, os alunos tiveram contato com os vários métodos e técnicas visando uma futura análise integrada da paisagem. Seguidamente, na disciplina de Geoprocessamento, houve um reconhecimento espacial da área pesquisada, para identificar suas principais características como localização, hipsometria e perfil topográfico do trajeto a ser percorrido, com a elaboração de mapas primários com as bases de dados já disponíveis como cartas topográficas e imagens SRTM, utilizando o software ArcGis para a confecção dos mapas. A escolha da área do campo se deu por ser um ponto estratégico para analisar a compartimentação do relevo paranaense, situado nas bordas planálticas do Segundo para o Terceiro Planalto Paranaense, no município de Ortigueira, onde no Morro das Antenas, popularmente conhecido, se tem uma vista panorâmica regional devido a sua altitude e localização, o que permite realizar uma análise integrada da paisagem. O trabalho de campo realizado foi um importante recurso adicional na coleta de dados necessários para a disciplina de Geoprocessamento, que em conjunto com a disciplina de Metodologia de Pesquisa em Geografia Física foi essencial para expor aos alunos o papel do Geógrafo fora do ambiente dos laboratórios, buscando uma melhor análise integrada da paisagem para além da vista nas imagens de satélite. Com os dados coletados no campo criou-se um banco de dados de Sistema Informação Geográfica (SIG) e a confecção de representações cartográficas como de localização da área de estudo, altimetria, localização dos pontos de parada, Modelo Numérico de Terreno (MNT), hipsometria e declividade, que possibilitou a compreensão de que a localidade apresentava um relevo bastante dissecado com altitudes mais elevadas, diferente da maioria das regiões em Londrina. Sendo assim, buscou-se evidenciar em conjunto com os alunos a importância da técnica do trabalho de campo para a Geografia e sua inserção nas ementas dos cursos se dá pelo uso da práxis no sistema de ensino, aplicando a teoria em sala de aula e a prática em campo ou laboratórios, para se visualizar as dinâmicas que atuam no espaço geográfico. Palavras-chave: interdisciplinaridade; geotecnologias; análise integrada da paisagem. 3300