Baixar - Recanto das Letras

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Ricardo Santana
“poesias da alma”
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Ricardo
Santana
“poesias da alma”
Apresentação
João Felipe Jucá Lessa
Maceió/Al
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Primeira Edição; lançada em 23 de abril de 2013.
© 2013 by Ricardo Santana
Direitos desta obra pertencem ao autor.
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Apresentação
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Um homem em sua mesa “longe do estéril turbilhão da rua”, “o
poeta poetando em sua escrivaninha fria e escurecida pelo tempo e
suores’ não passa de um homem comum. Não há o advogado, o
jornalista, o arquiteto. Não deve se iludir quem pensa que o poeta
sofre demais ou de menos. Ele é apenas um homem, rodeado de
seus sentimentos, de desejos, de paixões, de ilusões, de angústia e
de melancolia onde ele os decifrará em palavras e irá expor sua
intimidade para pessoas que talvez nem conheça. Irá revelar a Deus
e o mundo (literalmente, pois nos tempos modernos até o Senhor
deva ter conexão com internet, o mundo certamente tem) o que
pensa, o que escuta, o que sente, e também seus amores, como faz
Ricardo: “quando perto de meu grande amor chego com muito
cuidado canto e toco as músicas mais apaixonadas que saltam do
meu coração”.
Como diria Ferreira Gullar: “o poema antes de escrito não é em
mim mais que um aflito silêncio”. Não digo que escrever poesias seja
um suplício, mas é sim uma atividade muito trabalhosa e que requer
dedicação e observação um eterno esperar por “um suspiro uma
migalha do movimento mais sutil”. Ás vezes, fazer poesia é uma
tarefa ingrata, e o retorno material é quase nenhum, pode-se dizer
que: Não se vive de poesia, mas também não se vive sem poesia.
Não se vive sem poesia, e o único reconhecimento que o poeta pode
ter é saber “se meu pensamento chega até o pensamento de quem
amo como amo se estático estou pensando se cantando estou
também se escrevendo nem posso falar será que meu pensamento lá
pode chegar” ou se meu pensamento e o que escrevo chega ao
menos a quem não conheço, mas mesmo assim revelo as janelas da
minha alma: “ouça meu amigo desconhecido solto no tempo e espaço
não ligo a mínima pra novidades tenho no peito um barril de amor”.
E assim é que faz o poeta, para além da inspiração pura e da
busca pela poesia como recomenda Drummond:
“Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
Ei-los sós e mudos, em estado de dicionário.
Convive com teus poemas, antes de escrevê-los.
Tem paciência, se obscuros. Calma, se te provocam.
Espera que cada um se realize e consume
com seu poder de palavra
e seu poder de silêncio.
Não forces o poema a desprender-se do limbo.
Não colhas no chão o poema que se perdeu.
Não adules o poema. Aceita-o
como ele aceitará sua forma definitiva e concentrada
no espaço.”
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O poeta quer tocar a alma de quem o lê e para isso dentre os
vários caminhos, escolhe o seu: com seu estilo e forma de escrever,
seu jeito de escrever, suas nuances, onde escreve e todas as suas
singularidades, tudo isso, não para vender livros ou mostrar sua
poesia ao mundo, mas para aliviar a alma, pois a alma do poeta não
aguenta todas as emoções e quer dividir com outras, e em poesia da
alma, não é diferente. Ricardo Santana escolhe seu caminho, e como
mesmo é ressaltado por ele (invento novas formas de escrever
poemas poesias liberto a pontuação para que ela venha do seu
coração as palavras dizem tudo são verdadeiras será que elas
chegam até o seu coração), ousa em sua forma de escrever, quando
abole os sinais de pontuação e em lugar disso investe no
sentimentalismo, em vários temas tais: seus amores, suas memórias,
seus lutos, suas saudades, como também em sua forma de
publicação: uma versão sem custos e exclusivamente digital, que,
portanto, não agride a natureza.
Ricardo, em sua obra, expõe sua alma para poder tocar a de
quem o lê, e só o lendo para saber se conseguiu ser tocado, tal qual
dizia Edgar Allan Poe (escritor americano):” ...a poesia das palavras é
a criação rítmica da beleza. O seu único juiz é o gosto”.
João Felipe Jucá Lessa
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e qual poesia
através da pena
do poeta poetando
em sua escrivaninha
fria e escurecida
pelo tempo e suores
não vem da alma
e a alma é tão aparentemente
sem sentido
o impresso não é a poesia
ricardo santana
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Poesias
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saudade
os olhos miram
o pássaro prata
que transporta
o amor para
o distante
deixando a saudade
no peito
de quem olha
gosto da saudade
quando tenho
a certeza
de que a volta
está programada
não da saudade
sem fim essa
é muito dolorida
não tem pensamento
que a faça
sumir qual alegria
se iguala
a do reencontro
ao rever
o sorriso
o encanto
o abraço
e perfume
de quem se ama
tanto sentimento
estrelar
que explode feito
fogos formando
uma retícula
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no teto do universo
eu sou
cada ponto
dessa malha
que se reproduz
indefinidamente
feito efeito reativo
atômico
bombástico
dentro
do meu umbigo
vou e apanho
as flores
dos jardins
todas as cores
todos os tipos
todos os tamanhos
e faço um quadro
vivo natureza viva
para enfeitar
o nosso reencontro
que se faz mais
uma vez sem
tamanho gigantesco
infinito
sem palavra
que o prenda
infinito
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um amor só
chego perto do seu
coração cercado
por sonhos lindos
repletos de cores
e músicas suaves
cantadas por anjos
róseos tentaram
assacar nosso amor
atemporal durante
tantas vidas trabalho
perdido nosso amor
sempre foi mais forte
e será nosso amor
é bicho anuro
não se tem como
dizer ter deixado
nada preso nem
o mais forte poderio
pode assim o fazer
a não ser na mentira
mas isso fica no baléu
ao léu sujeito
ao julgamento do tempo
seguimos em paz
sem arremedo algum
teria a vida outro sentido
que não o de se encontrar
o verdadeiro amor
viver o verdadeiro amor
ah rio de ternura
que transpassa meu
corpo que transpassa
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seu corpo e nos faz uno
universo paraíso parcel
no mar da eternidade
cósmica a derramar
resina perfumada viscosa
fazendo nossos corpos
colados um organismo
só uma alma só um amor só
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perfeito
onde está meu coração
lá está meu grande amor
e paixão se as lágrimas
insistem no meu rosto
agora não é de dor
mas sim por saudade
minha alma alva viaja
mundos em segundos
para chegar um pouco
mais perto dos seus olhos
e respirar o calor da presença
é lança que acaricia
meu peito se não consigo
deixo um rio de curare
passar por minha garganta
e inundar meu corpo
parado espero a chuva
chegar no centro da praça
vermelha enfrento tudo
e todos balas de canhões
não transpassam meu coração
nem pulmões vivo e respiro
por meu pensamento
se encontrar perto do seu
coração nós dois em um
anfiteatro mágico transparente
bem no centro bailando
girando deixando subir
aos céus uma centena
de pequenos universos
guardados em balões
vermelhos corações
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vermelhos inflados
indo agradecer a dádiva
do amor
perfeito
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pássaro
pela manhã dia
nublado com um vento
bem frio entrando
pela janela invadindo
o ar quente da sala
onde estou vejo
ao distante um pássaro
trancado em uma gaiola
na varanda cantando
à família que o matam
assim ontem eram girândolas
são joão hoje o canto
de um pássaro contido
com lágrimas nos olhos
sofrendo a dor das limitações
vendo o azul e sentindo
o vento e o tempo
pássaros não sente o tempo
passar simplesmente passa
o tempo com ele tempo
e pássaros são unos
sempre vou desejar ser
um pássaro não só
para voar e cantar bonito
mas principalmente para
ser tempo sem sentimento
simplesmente passar
ou então ser sépala
para conter meu próprio sangue
em sacrifício sobre um arrecife
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da praia de ponta verde
escolho cato conchas
de forma obsessiva compulsiva
toco na epiderme da água
salgada que também é tempo
água do mar e tempo são unos
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o mar
quando olho o mar
volto no tempo o mar
guarda segredos
profundos e salgados
ao final da tarde
então é mágico o sol
se pondo existe uma poesia
escondida nas conchas
que estão dentro do mar
são segredos milenares
o mar é testemunha
da história completa
da vida eu apenas
uma vírgula separando
segredos que jamais serão
contados revelados
expostos quando olho
o mar lembro de minhas
lágrimas que guardam
segredos profundos
e salgados ao final da tarde
o sol refletindo seu descansar
em minhas retinas tudo
muito mágico as pessoas
que passam em silêncio
lento levadas pelo vento
como se velas fossem
em naus errantes dormentes
pendentes desabando
em profundas fendas
abertas na carne do mar
sem ar sem sonhos
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quando olho o mar
fica tudo escuro volto
no tempo e lamento
o tempo perdido
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desarvorado
entre meu coração
e minha alma existe
uma distância sem fim
descampado régio
cheio de palácios
dourados e jardins
labirínticos todos os dias
coloco águas nas plantas
e flores além de alimentar
os pássaros sempre
que acordo apanho
meu guião e saio
com meu exército
de fantasmas batendo
nas enormes portas
dos aposentos do corredor
marrom e os hóspedes
vão acordando de seus sonos
e sonhos lentamente
tomando consciência
das ausências
e pendências
das carências
que as horas noturnas
deixaram em marcas
talhadas nas imagens
punhados de pedras
preciosas são atiradas
ao ar e se transformam
em estrelas para o local
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ficar iluminado desanuviando
o firmamento desautorando
o
e
é
e
rei a rainha a princesa
todos do reino desarvorado
isso entre meu coração
minha alma
existe um reino desarvorado
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bobagens
uma flor um olhar
mais amigo amável
um elo selando nosso
amor eterno toda
a felicidade do mundo
dentro de um beijo
que deixo em seu
rosto gelado e sem
cor o sentimento
do mundo inteiro
pinga em uma lágrima
de dor a saudade
chegará e as lembranças
ajudarão a superar
o pânico da ausência
onde estará você
agora em um campo
verde cheio de sons
e cores meu sentimento
forte bate cadencialmente
emitindo ondas
do mais puro sentimento
ondas que chegam
até seu coração
tão distante nos
momentos de solidão
falo com você e depois
peço por você é muito
triste a história
que a vida traça
para cada um de nós
estaremos juntos
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em breve todos nós
é só questão de tempo
então poderemos
falar bobagens
sobre tudo e todos
e seremos novamente
só alegrias todos
juntos em uma grande
mesa de sonhos
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marruá
têm dias que acredito
fortemente que
a humanidade o homem
propriamente dito é
uma criação que
não deu certo é tanto
sofrimento tanta
enganação tanta
ruindade esses
sentimentos cevam
em mim sentimentos
que não gosto
empesteiam minha alma
não sou masoquista
por vezes marruá
quebro as amarras
que tentam conter
minha luz ar vida
caminhos estreitos
não me assustam
de forma estroina
faço com que meus
pensamentos fiquem
pregados nas paredes
dos espíritos mais atentos
isso irá mudar sinto
no perfume de lavanda
que preenche o ar
do ambiente eu
pequena larva que nem
posso ainda aprender
a voar nem desejar
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mesmo posso lentamente
mostro o quanto ser
humilde é muito me arrasto
sentimento oblíquo
refeito sempre ao som
da ocarina que todos
os dias por volta das dezoito
horas vem da casa do vizinho
do lado esquerdo do peito
chuva azul vinda do céu
provoca calmaria no mar
que é minha vida de sal e mel
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barcarola
qual barcarola amarela
segue meu coração
errante por entre as ondas
do amor bravio vela verde
cortando a ventania
do respirar ofegante
segue lentamente
e constante meu coração
de amante rasgando
em corte perfeito
qual diamante sobre vidro
polido e calmo
calmaria no vidro meu coração
cortante cortado em mil pedaços
transformados em palavras
de amor e carinho qual barcarola
amarela segue
meu coração errante por entre
as ondas do amor
o calor do sol o brilho
prata do luar e o tilintar
das faíscas das estrelas
que insistem em cair
sobre nós até onde irá
nosso amor terno
quantas vezes seremos
amantes quantas vidas teremos
que viver para que esse amor
se faça por inteiro
quantas poesias
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terei ainda que escrever
quantas rosas ainda
haverei de roubar
dos jardins mais protegidos
guardados por guardas invisíveis
e olhos encortinados
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opúsculo
seria o brilho em teus
olhos o reflexo da luz
da lua na ausência de
palavras mergulho em
seus olhos da cor do
mar vou até sua alma
e a toco como quem
toca a asa de uma
borboleta púrpura sem
desejar deixar marcas
abro os braços e começo
a voar por dentro de você
indo planando por todos
os seus segredos que
agora são meus segredos
brinco de voar assim por
dentro do seu corpo e vida
vejo passar por perto das
minhas costas bandarilhas
mas não sou touro sou
pássaro por qual motivo
fazes isso comigo deixarei
em suas mãos um opúsculo
escrito com meu próprio
sangue nada muito longo
pois só tenho cinco litros
mas sim muito verdadeiro
como meu amor por você
rajada de vento ou balas
não me afastará o desejo
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de decodificar seu sentimento
maior talvez até multiforme
mas que jamais deixará
de ser minha musa
pequena flor de cristal
que trago no peito cravada
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pingos de estrelas
só um sonhador amador
apaixonado pode sentir
a brisa que o mar derrama
sobre os corpos na areia
da praia pode falar
com pássaros e vibrar
com as cores das pipas
no alto do céu azul inteiro
completo sem nuvens
ou ver as nuvens e nelas
as figuras mais íntimas
personagens de sua história
olhar o luar com olhos lentos
e desatentos simplesmente
olhar a lua sendo segurada
pelas estrelas refletidas no mar
ver no rosto da mulher amada
a criança que dentro dela existe
e dela cuidar com carinho
e muita atenção entregar
flores bombons cantar as músicas
que ela gosta de ouvir
cortar o cabelo como ela gosta
que seja cortado usar as roupas
que ela gosta de ver a gente usando
só um sonhador amador
apaixonado pode fazer isso
sair na madrugada escura
para apanhar pingos de estrelas
e trazer correndo
pra sua amada
sorrindo
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verdadeiro amor
o verdadeiro amor vou
levar em meu coração
pra sempre existem
afirmações que fecham
a possibilidade de uma
poesia afirmações que são
poesias completas por si só
pra sempre o tempo fica
parado tudo pára nada
se move tudo fica quieto
e silencioso momentos
nos quais sinto que sou
mais humano carne e espírito
e a luz do dia toma pra si
uma tonalidade diferente
e que naturalmente se reflete
nas cores e clima parece
que as pessoas passam
em movimentos lentos
e eu em meu coração
só desejando ver meu amor
novamente então a saudade
passa a ter várias toneladas
é gostoso e ao mesmo tempo
muito dolorido saber que vou
ver meu amor novamente
é bom mas a demora em poder
ver em não ser possível ver
de imediato é de enlouquecer
terrível vou coligir sentimentos
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em um peral centuplicar meu
amor que é teu pra sempre
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trago
trago uma forte chama
ao meu preito fortemente
a ponto de me queimar
por inteiro trago flores
ao meu coração pois
que por tão triste carece
de cores e perfumes para
ser alegrado trago luz
para meus olhos que serão
faróis lanternas na escuridão
eterna trago afiada navalha
às minhas mãos acostumadas
a carinhos sem fim deixando
meu rosto sempre disponível
ao bofetão trago loucas
palavras à minha boca língua
acostumadas a polidas investidas
dominicais trago fortes chuvas
para o meu corpo ardente
que queima com um coração
cheio de cores e perfumes
iluminando carinhos e navalhas
com palavras loucas e molhadas
de chuvas que trago seco
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distância
distância estranha
a existente entre meus
olhos e a foto de quem
domina meus sentimentos
a aceleração do meu
coração acautela
o meu amor blindado
pelos carinhos do tempo
estou com a alma
pronta me puxando
à frente em convite
forçado ao desbravamento
dos sonhos imaculados
fugindo das cegaregas
distância estranha
mas chego lá no coração
as imagens fazem doer
dobrando meu sentimento
qual dobradiça de latão
jamais ira encalistrar
tem o que faz como bom
e certo não impostando
o quanto de lágrimas
for derramando pelos
caminhos interestelares
que separam a foto
dos meus olhos aflitos
a nortear os meus
e os seus sentimentos
não adiante tentar tocar
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a foto pois uma parestesia
aguda insiste em dificultar
tudo posso apenas olhar
e ver o tempo passar
partir sumir sorrir
ferir mentir trair matar
não vou contar todos
os meus segredos são muitos
não caberiam em suas mãos
trago todos eles em meu coração
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coração
tenho tantas coisas
pra dizer e fazer
meu coração está
sempre repleto
de sentimentos fortes
mas as pessoas
com quem cruzo
os caminho são tão distantes
tão sem nada
dentro procuro tanto
e não encontro como
gostaria de encontrar
na quantidade que gostaria
de encontrar então
as lágrimas sempre
aparecem e meu corpo
se desvanece em pontos
de luz escrevo sentimentos
com letras em garrancho
pelas paredes e tremo
a noite inteira o chão
do quarto fica molhado
onde está a quinina
a umidade abafada
do quarto é sem fim
quem é esse espectro
na janela mergulho
em um itararé frio frio
e as pedras cortam
minha alma em postas
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perfeitas não tenho muito
a esperar mais posso
mesmo até me despedir
me despir nada fará diferença
tudo está quebrado
em trilhões de pequenos
pedaços inclusive
meu coração elástico
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uma lágrima
passo horas pensando
se meu pensamento
chega até o pensamento
de quem amo como amo
se estático estou pensando
se cantando estou também
se escrevendo nem posso
falar será que meu pensamento
lá pode chegar invento novas
formas de escrever poemas
poesias liberto a pontuação
para que ela venha do seu coração
as palavras dizem tudo são
verdadeiras será que elas
chegam até o seu coração
fico parado imóvel cataléptico
do lado de fora da vitrine vendo
as imagens que passam refletidas
em seus espelhos polidos
em silêncio profundo os dois
lados em silêncios profundos
só imagens nada de palavras
nem imagens escritas palavras
escritas nada nada só o silêncio
sádico a provocar os piores
sentimentos de dor feito espadas
que transpassam lentamente
o coração de cada um na ventania
da rua deserta uma lágrima
escorre do olhar atônito átono
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sempiterno
quando perto
de meu grande amor
chego com muito
cuidado canto
e toco as músicas
mais apaixonadas
que saltam
do meu coração busco
assim chegar
ainda mais perto
me vestir com sua alma
não sou de candongas
minhas feridas
sangram de verdade
e meus carinhos vêm
como respostas
de toda uma vida
minha mesolitorânea
eu mar aberto
e por inteiro cheio
de vida no silêncio
mais profundo
de minhas alegrias
e tristezas
quando perto
de meu grande amor
chego com muito cuidado
canto e toco
as músicas mais apaixonadas
que saltam
do meu coração
centelhas de estrelas
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penetram o preto
do captado por um olhar
lento que se faz
presente sempre
por entre as algas
e algaravia
que a existência
me apresenta e perco
o sentido o fôlego
com algo sempiterno
mas que sempre habitou
dentro de mim
do meu coração
e do seu
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mundo só
um mistério não
posso dizer nada
mais quanto o que
venha a ser a vida
que não isso estou
sempre aberto
exposto mesmo
quando guardo
meu coração
em uma caixa
de aço escovado
me escondo desejando
passar ao lado
mas o escuro
sempre está
a espreita
com seus olhos
amarelo chá
fratricida na fronteira
do frio da navalha
afiada e fria
secretando as coisas
mais duvidosas
que posso imaginar
discrepante sentimento
que tento ignorar
mas que se agarra
na minh'alma feito
caratinga a qual
devoro pela raiz
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palmilhando o peito
aberto em profunda
chaga carmim
sazonada e pronta
pra ser antropofagicamente
devorada para guardar
na alma para
o resto da eterna
vida o brilhante
mais cheio de luz
que os olhos
podem tocar
que o olfato
pode degustar
e que o tato
pode lamber
assim sofro
e me recolho
pois meu mundo é só
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apenas dizer
no silêncio ácido
de um dia frio
e úmido transito
por minha alma
deixando minha
mão esquerda
se arrastar sobre
as paredes alvas
que vou encontrando
deixando minha marca
em mim mesmo
em minha alma
crio então lugares
espetaculares
distantes de toda
e qualquer fantasia
meu mundo é lindo
e iluminado
por uma luz de vela
antiga barroca presumo
fazendo refletir
nos seis lados do cômodo
minha sombra deformada
pelo tempo hábil
e quadernado que brota
de árvores transparentes
aqui ali uma pétala solta
no ar parada no tempo
e espaço refletindo
os raios da luz violeta
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que entram pela pequena
janelinha do arejado lugar
frio e úmido impresso
no quadrante superior
esquerdo de meu olho
direito eu louco em salto
quântico microscópica
partícula subatômica
me faço facécia
entregando meu sentimento
em uma bandeja
de prata fosca
queria apenas dizer
te amo
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para seus ouvidos
rasteiramente chega
o belo e sofrido amor
rastreando os sentimentos
reais em claro rateio
de luz e brilho e cor
emaranhado de palavras
que saltam das bocas
dos corações baldes
e baldes elidindo o mais
triste sentir teu coração
pocilga é um poço
de águas poluídas
correntes torrentes
que levam com elas
límpidos corações
vermelhos de paixões
há que ser platinado
protegido não simples
plebeu eu atônito
na frente do espelho
côncavo com meu peito
convexo embaçando
minha visão do outro
sob meu ponto de vista
feito diodo enlouquecido
e discreto discoide
na discoteca gigante
os cabelos ficam ásperos
meus punhos de artilheiro
apontam para teus
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olhos azuis e distantes
você a me assacar ser
falso menestrel enquanto
desmancho meus
sentimentos em palavras
e músicas doces
para seus ouvidos
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setas
os caminhos do coração
são sempre diferentes
setas passam sobre as cabeças
mas não acertam o coração
ouça meu amigo desconhecido
solto no tempo e espaço
não ligo a mínima pra novidades
tenho no peito um barril de amor
muitos sabem o que é isso
outros tantos nunca irão saber
não importa o quanto grite
ninguém poderá resolver
então repito aos gritos
os caminhos do coração
são sempre diferentes
setas passam sobre as cabeças
mas não acertam o coração
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lua azul
hoje uma lua azul refletirá
sua imagem em meu coração
ficarei azul sonharei azul
e falarei palavras azuis
meus sonhos se tornarão
azuis e meu pensamento
azulará o instante ficará todo
azul brilhante e as estrelas
ficarão com um brilho azul
os carinhos dos amantes
serão azuis e os beijos azuis
também uma música azul
encherá o ar azul com uma melodia
azul o azul vai desautorar
as outras cores só por hoje
só por um instante azul
desarraigará do brando o azul
pleno tacanho que sou virarei
um gigante azul farei poesias
azuis para amores azuis
a atmosfera toda ficará azul
e o mar mais azul que nunca
refletindo o azul do céu em silêncio
azul o tempo vai parar azul
num silêncio tão azul que vai azular
todos os milésimos de miríades
de segundos azuis beijos azuis
sob o luar azul na plataforma azul
no descampado azulado
pela lua azul
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uma flor na esquina
resolvi deixar
uma flor na esquina
onde ontem aconteceu
uma tragédia a morte
de um ser humano
uma vela que se apagou
lágrimas que ainda
caem como pingos
de uma chuva triste
cinza sem fim meu
olhar penetra o peito
de cada um da família
do novo viajante rumo
às estrelas vejo a dor
as lembranças as imagens
de dias felizes e outros
tantos ou mais tristes
e um mais triste
de todos eles o dia
de ontem uma bala
de fogo transpassou
o coração de um anjo
que ia socorrer uma pessoa
e por seus olhos toda
suas história foi projetada
na parede branca
do prédio comercial
que fica do lado esquerdo
do cruzamento onde deixei
a flor amarela pingo
de ouro no asfalto
que secou e transformou
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o sangue derramado em pó
que o vento levou
que o tempo levou
o tempo e vento
o
o
o
e
pensamento
gostar o sofrer
querer o amar
o sonhar
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sumaúma
naufrágio meu amor
por ela se mostrou assim
gigantemente e me atiro
ao mar feito dasiatídeo
escuto pipa viva
que lentamente flutua
dentro da água atado
a um cordão umbilical
minha garganta de plissê
deixa passar por ela
palavras arrastadas
que saem dela com a dificuldade
de milhões de anos
em parto de dor hipoteco
meus sonhos na esperança
de conseguir ar de respirar
de sair com vida dessa
confusão toda e poder
me sentir sumaúma
com os braços abertos
em galhos e copas no topo
de um penhasco a brincar
com o vento e a chuva
que tocam meu espírito
de forma indiferente tocam
assim em todos e todos
lamentam e choram um pouco
ou de alguma forma
um dia ao menos na vida
eu suplente a olhar
o meu suplente pressagiando
tudo cada gota cada
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pondo cada letra cada
poesia cada sorriso
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sentimento
ao amanhecer acordo
e não encontro você
ao meu lado as músicas
vão chegando o dia
passando as poesias
as fotografias como
posso viver assim sinto
você ao meu lado e a tarde
me apresenta o entardecer
mais uma vez sinto
sua presença no silêncio
da existência estranha
de minha casa grande
muito grande quantos
chicos quantos tons
quantos vinicius meu
coração franzido dói
tanto a lembrança de sua
imagem vem balsamar todo
meu universo particular
faz uma semana que não
vejo a luz nem sei mais
onde estou a saudade
é cruel sentimentos
partilhados de antanho
batem a porta da minha
alma rocio sobre meus
olhos transformando-os
em espelhos que refletem
todo meu sentimento
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num raio de luz azul
cortando o infinito
sentimento
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pulsando
veja o que trago
pra você em minhas
mãos eu súplice
no escuro do sonho
mais longo um
diamante um rubi
não importa é algo
precioso inominável
por instantes mas
podes ver o que
trago através dos meus
olhos que são seus
olhos e que traduzem
o que existe na alma
de um poeta está
em minhas mãos
em meus sonhos
nos meus olhos
em minha alma cadente
eu a exorar um brilho
um suspiro uma migalha
do movimento mais
sutil em minhas
mãos trago minha
vida meu amor meu
coração amor e paixão
trago algo fogo
que ilumina a marina
a cortina da janela
do meu quarto
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transparente reluzente
e transforma o leito
relvado amado suado
salgado em um ninho
dentro das minhas mãos
pulsando buscando um brilho
um suspiro uma migalha
do movimento mais
sutil em minhas
mãos trago minha
vida meu amor meu
coração amor e paixão
trago algo fogo
que ilumina a marina
a cortina da janela
do meu quarto
transparente reluzente
e transforma o leito
relvado amado suado
salgado em um ninho
dentro das minhas mãos
pulsando pulsando
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em seu coração
quando pede apenas
um brilho no olhar
logo vem com o coração
por inteiro é um suspiro
que busca a ofegante
respiração que traga
até o último instante
de vida lhe é dada
o amor faz coisas
exuberantes iluminadas
repletas de cores
e perfumes toques
e carícias se é um
adeus que espera chega
rapidamente o abraço
e convite pra ficar
mais um pouco mais
uns anos mais uma vida
não apenas um brilho
no olhar uma ofegante
respiração um último
instante repleto de cores
perfumes toques e carícias
tudo num só instante
de poder abraçar o mundo
e o espaço inteiro
apertando comprimindo
entre as mãos e fazendo
deles um diamante
brilhante que irá reluzir
resplandecente pra sempre
em seu coração de mãe
59
você não me viu
dezenove anos
depois surge
na frente do outro
que tanto o esperou
e diz sou eu
quem você ama um
dia antes do julgamento
final se abraçaram
choraram juntos
disse um te ofereço
confiança ao que o outro
respondeu como
se estou te conhecendo
hoje demonstre
as lágrimas escorreram
pelos rostos
disse o mais novo
você não me viu
crescer não viu
minha barba crescer
nem viu meus dentes
caírem e voltarem
a nascer e os meus
jogos que não fostes
assistir torcer
por mim diga o que
faço da vida
que fiz da vida
que fizeste dela
papéis papéis tudo
60
depõe contra
aguardou que tudo
fosse colocado
em ordem e esclarecido
o amor poderia esperar
quem sabe
mais dezenove anos
61
eu pavilhão transparente
no alto do prédio
em seu décimo
quinto andar
me ponho estrelado
sentindo o vento
tocar meu rosto
marcado por tudo
o que vivi a visão
do mar da mata
e do céu faz
com que por instantes
esqueça do podre
existente lá embaixo
nas ruas entra as pessoas
o vento passa entre
meus dedos braços
pernas corpo inteiro
volto às palmas
das mãos para o Sol
e aqueço meu coração
eu pavilhão transparente
não consigo identificar
outros nos vários
outros prédios eu
estrelado sob um céu
agora já escurecido
que serve de leito
a um Sol adormecido
velado ao luar
por uma Lua prata
que reflete sua imagem
fria em meus olhos
62
molhados com lágrimas
salgadas feitas por pingos
da água do mar
que brota do meu coração
63
corações róseos
através da luz
da vela e por
entre as flores
que estão no vaso
sobre a mesa vejo
seu rosto iluminado
é uma noite especial
os anjos cantam
e sobrevoam o local
pequenas estrelas
descem do céu para
cravejar seus cabelos
com pontos coloridos
não deixe que isso
se perca na memória
toco sua mão e olho
no fundo dos seus
olhos tranquilos
enquanto um rio
de sonhos passa
ao nosso lado
levando com ele
um cardume de pequenos
corações brilhantes
e róseos que se dissipam
no tempo e espaço
vão e voltam teus
lábio então lentamente
deixam escapar uma
palavra que toca meu
64
coração insulado
na escuridão parcial
que nos cerca e nos
faz mais próximo
e focados na mágica
inteira desse momento amor
65
diga-me
de onde vem
esse som esse
perfume essa
imagem tão
bonita que me
faz sonhar
e viajar no
tempo resgatando
lembranças arrancando
lanças fazendo
meu peito inflar
água que salga
feridas vento
que seca
o lacrimar
de onde vem
esse silêncio
que me transforma
o pecar noite
escura e fria
em luar de prata
e estrelas
a brilhar mar
calmo e pesado
feito espelho
cristalino
refletindo
seu olhar felino
pronto para me
agarrar
de onde vem
toda essa calada
66
coreografia
cardíaca
que faz nossas
almas bailar
envoltas
em uma azulada
música de melodia
ímpar
diga me diga
de onde vem
tudo isso
pois é lá
onde quero
sempre estar
67
lagoas e minas
deu-se em minas
depois de tantos
textos matérias
entrevistas solilóquios
de mirar o tempo
no próprio rosto
e no espelho côncavo
de um coração
separar dois amores
que na realidade é um só
foi assim sobre o verde
orvalhado e frio
dos montes e colinas
de minas que aconteceu
uma história de amor
perpetuada já em prata
pura delicada perfumada
de ainda rolar lágrimas
quando se fala do amor
distante que a todo instante
se faz presente nos olhos
o fato de um coração
apaixonado que de tanto
amar a vida veio à vida
em desalento rápido
descompassadamente
atento
separou dois corações
as lagoas ficaram
distantes
68
das minas
e o que era uma história
de amor já forte
se transformou
em algo surreal
um coração separou
dois corações
que sempre
foram dois em um
tum tum tum
69
gélida
meu coração entesta
meus sentimentos
toma conta deles
responsabiliza-se
por eles ah lassitude
plena que me faz
estrela no centro
do chão frio do meu
quarto proscrevo
seus atos insanos
que tanto me fizeram
sofrer em cólica
marulhar meus pensamentos
até perto de você poder
chegar serei selenita
para de lá te mirar
prata frio e cheio
serei a própria lua
e luar a picotar seu
retrato eu petiz
com a peteca mas mãos
mirando seu coração
até o seu estremecimento
lento fundarei uma confraria
branca prata cinza
e gélida onde poderei
sua imagem no brasão
e exporei suas roupas
em um empoeirado brechó
70
sufocante
nada mais apertado
que o coração triste
sufocante espaço
aberto onde as partículas
de poeira flutuam
soltas e levadas
pelo vento nada mais
sufocante que uma alma
triste contida
em uma caixinha de prata
sobre uma mesa no canto
do quarto que tantas cartas
de amor suportou e sentiu
na pelo o passar da pena
nada mais sufocante
que uma lembrança renitente
que faz molhar os olhos
da gente sufocados pelo tempo
presente de uma infinidade
de pensamentos ausentes
voltados para um passado
sufocante nada mais abafado
que um elevador quebrado
cheio de gente dentro
milhares de pensamentos
contidos retidos gritos
amarrados nas gargantas
enchumaçadas pelo tempo
71
segredo
lentamente te abro
o segredo guardado
há tanto tempo
que nem era mais
lembrado perfume
textura beleza
nada disso pode
ficar tanto tempo
sepultado então
lentamente revelo
a você seu segredo
não deixe isso
morrer o amor
a paixão o gostar
de ficar perto
andar junto te
devolvo seu segredo
polido brilhando
refletindo a luz
do sol deixo
em suas mãos trêmulas
e pálidas e faço
um convite para ver
a luz do luar
amanhecer vendo
as estrelas esperando
o Sol brilhar
não guarde esse
segredo ele é a razão
da nossa existência
eu e você nada poderá
nos separar novamente
72
segredo algum
sentimento algum
luz alguma calor
algum toco
em seu peito
e sinto seu coração
pulsar novamente
novo segredo
73
se me chega um olhar
se me chega um
olhar principalmente
se de forma suave
devagar meu coração
logo responde
com uma linda melodia
menestrel de ficar
horas ao pé da janela
mais distante do castelo
mais romântico de um país
encantado que não existe
mais então meu olhar
brilha com uma luz
nova que se espirala
com a luz o olhar que chega
feito um "balet" de cisnes
meu peito explode em miríade
de cores e pequenos pontos
de luzes a respiração fica
rápida e o pensamento focado
direcionado se me chega
um olhar assim por um
milésimo de segundo fico
morto nada me atinge mais
nada me corta mais resto
completo e feliz então
volto e sigo meu caminho
de poeta só e triste
74
deixaram uma flor
deixaram uma flor
em minha caixa
postal uma flor
amarela uma rosa
que a tudo inundou
de perfume iluminando
todo o espaço
de minha caixa
que pulsando
de alegria viu
novas cores
no horizonte distante
deixaram uma rosa
um olhar
em minha caixa
postal pulsante
verdejante
cantarolante
e os sonhos
voltaram
e a música
ficou mais bonita
e o violão
tocou mais
afinado
com a língua
com a garganta
e pousou
em minha mão
esquerda
75
um pássaro
de cristal diamante
frágil e esperto
ágil como uma estrela
cadente e minha caixa
sente o calor
da luz dourada
que abre portas
e penetra em brechas
por espaços
muito pequenos
deixaram uma flor
mas não o endereço
do remetente
76
horas de amor
não tem muito
além para se
cultivar um
verdadeiro amor
basta uma flor
uma rosa
dada com carinho
de coração ela
segue carregada
de atenção
fidelidade
e muito amor
e ao se entregar
essa flor
essa rosa
que seja durante
uma caminhada
ao entardecer
não serão
necessárias
palavras apenas
olhar verdadeiro
um toque carinhoso
nos cabelos
um abraçar
gigantesco e leve
mas apertado
o suficiente
para que as almas
77
se confundam
e um fique
com o perfume
do outro
no corpo
não tem muito
além para
se cultivar
um verdadeiro
amor um retrato
dos dois na carteira
em um porta-retratos
sobre a mesa
de trabalho
e na cabeceira
da cama
um bom dia
com um sorriso
nos lábio e olhos
e corpo inteiro
depois de horas
e horas de amor
verdadeiro
78
sigo triste
então chega
o dia do luto
quando tudo perde
a graça e cor
tudo fica cinza
e preto não
se sente calor
apenas frio para
onde foi o sol
é a pergunta
mais comum só
lágrimas e
lembranças
o corpo fica
mais pesado tudo
tem um peso
vinte vezes maior
a cama agarra
a gente com braços
e palavras que
não temos como
resistir o corpo
ali frio e os olhos
sem brilho algum
a saudade é a certeza
da dor pungente
o coração bate
fora de tempo
fora do ar
as flores vão
79
chegando para
enganar a tristeza
da cena para
enganar o espírito
que sofre as flores
ficam pálidas
amarelecidas
com o susto
da perda e me
acompanham no chorar
orvalhando
suas pétalas triste
triste sigo
triste – chorar
80
sacrário
existe um silêncio
azul no peito
de todo poeta
um silêncio frio
de um azul totalmente
diferente da cor
do céu e do mar
de ponta verde
em dia de sol é
desse silêncio
que vêm as poesias
as músicas
as imagens mais
lindas e tristes
as lembranças mais
lindas e tristes
os sentimentos mais
lindos e tristes
um silêncio
que apita agudo
perfurante e profundo
fazendo eco
e rebatendo
nas paredes
do "mio cuore"
que se transmuta
em rubi
em lábios
carnudos
de uma boca
81
que sorrir
em olhos verdes
e cabelos negros
em um corpo esguio
e claro
como o luar
lua cheia linda
e branca
esse silêncio
o poeta compartilha
com o infinito
pois é sagrado
vive aquartelado
no sacrário
do peito
a pulsar
pulsar
pulsar
82
atento
para que serve
um coração
emocionado ao ver
um outro
coração emocionado
um olhar de olhos
que brilham
um toque mais
leve feito
uma pluma
sobre a pele
uma tarde chuvosa
sob pesado cobertor
cheirando a flores
do campo um momento
a dois sozinhos
no mundo todo
caminhar
ao entardecer
sem hora para parar
ver as estrelas
e o luar
lembrar
das alegrias
da vida
das boas lembranças
dos momentos
vividos e que
só em lembranças
podem voltar
83
um beijo
carinhoso na alma
da amada
um abraço
apertado
e gostoso
de se abraçar
até o pensamento
conseguindo
prender todo
o momento
cada partícula
de luz solta
no firmamento
prender a respiração
mesmo que por um momento
se não para
te dizer
atento
te amo
te amo
te amo
84
grita
com meus sonhos
na madrugada levanto
e faço caminhadas
por dentro
de minha casa
do meu aparamento
por dentro
do meu coração
solitário e entristecido
a madrugada
é minha amiga
e de tantos outros
que vagam por suas horas
de existências cíclicas
mágica e fria
a madrugada guarda
em sua alma infinita
todos os amores
dos poetas
dos músicos
e cantores
trovadores
seresteiros
de testas estreladas
que trazem no olhar
miríades de vaga-lumes
vindo de bosques
infantis
todo poeta é criança
é verdadeiro
sofre em sonhos
e quando se depara
85
com a realidade
nua e crua também
então a madrugada
é uma das maiores
amigas do poeta
que só levanta
bandeiras e grita
no silêncio
da madruga
acordando assustada
a vizinhança
e seu anestesista
grita
o amor
86
o mar
vou ver o mar
ao entardecer
ao amarelecer
do céu tocar
a espuma
das ondas
que quebram
na areia da praia
vou ver o mar
navegar meus
sonhos içar
as velas
do meu coração
nau dos enlouquecidos
de amor
por amor
com amor
olhar as estrelas
andando
no fundo mar
olhando as estrelas
brilhando
no céu
já escurecido
e sem luar
eu e o mar
somos irmãos
a pescar luar
nos aquecendo
do sol hoje
87
vou ver o mar
meu irmão
de
de
de
de
tantas horas
conflitos e dores
sonhos e amores
cardumes de barcos
coloridos navegando
em todos os sentidos
mas sempre voltando
ao porto
do meu coração nau
dos enlouquecidos
e anoréxicos
azulando a tez
se confundindo
acabando
com a linha
do horizonte
sem deixar mais
divido
o céu e o mar
vou visitar o mar
88
onda
topo e estrelo
meu corpo e alma
na face da parede
da onda que se forma
em minha frente
sempre a onda
sempre a onda
não um anjo
mas sempre a onda
em sentido contrário
ao meu coração
ao meu pulmão
fico sem ar fico
sem vida morro
e volto a viver
milhares de vezes
em um milésimo de segundo
meu espírito
em espiral eterna
rodopia na existência
minha e da onda
a onda
a onda
esmagando
o meu ser
a onda
a onda
cuidado
89
um instante
o pássaro rápido
passava voando
enquanto eu sonhando
ficava sem saber
ao certo o que estava
acontecendo a chuva
caindo fina no vidro
da janela do quarto
do último andar
do prédio escuro
cinza lâmpada
amarelecida de tanto
iluminar o tempo
do poeta esquecido
o olho do pássaro nu
no olho do poeta
o olhar da estátua
no centro da praça
fitando os olhos
do pássaro e do poeta
em um despencar
de corpo e penas
feito nave espacial
de guerra branca
pena hábil
que tirou da morte
de tantos outros poetas
a ave agora não
resistiu mais soltou
um grito de pavor
riscando a folha
de papel em branco
90
marcando à eternidade
sua poesia suave
sua ave ave ave ave ave
os olhares à luz
da lua prata
refletindo o sol
seus raios espadas
transpassando o coração
da ave e do poeta
e os olhos se fecham
até o olhar da estátua
cinza e triste
91
volto a morrer
entra a luz
do Sol através
da cortina
do meu quarto
do meu coração
atônito iluminando
minha vida
meu acordar
lento sofrido
de uma noite
de morte confortável
e tranquila
iluminando o tempo
e o vento meu
pensamento meus
livros e discos
meu violão amigo
o que cantar
o que ler o que
ouvir e a luz
invade despudoradamente
minha mente
que mente aos raios
fechando os olhos
transformando
a cor em ausência
de cor então
volto a dormir
volto a morrer
92
susto e medo
se toco suas
mãos tão alvas
e frias agora
é para tentar
tocar também
sua alma tão
longe e triste
não consegui
trazer a alegria
aos olhos
e lábios teus
e agora estamos
partindo cada
um seguindo
seus caminhos
a luz o calor
o escuro
o frio mares
serão navegados
rios serão
derramados
e lágrimas
secarão
nos olhos
eis aqui uma
flor amarela
perto de pálida
pelo susto
e medo eis
aqui um
coração partido
perto de explodido
93
pelo susto
e medo eis
aqui um amor
interrompido
quase esfacelado
pelo susto
e medo pelo
susto e medo
94
sem volta
então vem
o tempo
e me toca
o rosto fazendo
os olhos
olharem distante
distante
subo
na mais
elevada montanha
e pulo
no escuro
da noite
sem luar
nem estrelas só
o frio
abraça-me só
o pó das nuvens
que por dentro
minha alma
passa me
acompanham
nessa viagem
sem volta
sem volta
95
flores queimadas
parece um pesadelo
mas o que vejo
ao nascer de um novo
dia é a realidade
construída anos
e anos lentamente
pássaros mortos
flores queimadas
rios sem vida
peixes boiando
matas tostadas
milhões e milhões
de pessoas sem ver
bilhões e bilhões
de pessoas sem vida
mas o céu continua
azul pálido azul
tudo cheira a fumaça
o vento sem rumo
carrega com ele
poeiras de cinzas
um silêncio sem fim
um calor sem fim
um abafado sem fim
que estou fazendo aqui
96
aonde só o vento vai
quando o vento
chega em minha
janela do lado
esquerdo esqueço
a lua esqueço
o tempo esqueço
até as estrelas
e o pensamento
deixo que ele
toque meu rosto
e seque seus
cabelos que
flutuam pelo
quarto como a
fumaça que sobe
do cinzeiro o
vento carrega
com ele o perfume
de todas as rosas
do mundo de todas
as cores e tamanhos
para encher de
brilho meus olhos
esquecidos pela
torre da mesquita
dourada que brilha
refletindo o Sol
na praça empoeirada
o vento meu amigo
carrega meus sonhos
até lugares infinitos
onde só o vento vai
97
se a lágrima clara
se a lágrima
clara escorre
por meu rosto
triste no escuro
frio do quarto
úmido existente
no terceiro andar
do prédio cinza
em noite de chuva
depois de uma tarde
nublada sem pássaros
nem estrela
dalva depois
de uma manhã
inteira de ventos
fortes e folhas
secas rolando
pelas ruas desertas
espantando os pássaros
que não apareceram
para cantar
por nem um segundo
que fosse depois
disso tudo meu
coração apertado
cabeça confusa
abro a janela
e vejo um raio
vindo em minha
direção e acerta
bem no centro
do meu peito do meu
98
peito esquerdo
no centro do meu
coração fico
leve muita luz
e uma música celestial
impossível
de ser tocada
por humanos enche
o local de paz
agora estou
em paz agora em meu
rosto apenas
um sorriso em minhas
mãos apenas uma flor
em minha boca
apenas uma poesia
se a lágrima clara
99
rajada de vento
somos criaturas frágeis
resultado do desenvolvimento
de gerações e gerações
somos o produto
de vidas e vidas vividas
por nossos antepassados
estamos também sempre
voltando para buscar
a lapidação a purificação
o aperfeiçoamento
de nosso espírito e corpo
esse processo pode levar séculos
mas também podemos está
até vivendo os últimos
dias desses séculos
então é já
não sabemos
só deus sabe disso
no entanto é necessário
que procuremos cada vez
mais cuidar
dos dois principais
paradigmas da vida humana
o espiritual e o corporal
não sabemos quanto
tempo temos mas o tempo
que dispomos deve ser
utilizado sabiamente
para esse fim
o aperfeiçoamento integral
100
pois a qualquer momento
numa breve rajada de vento
seremos chamados de volta
à casa espiritual
e não será conveniente
voltarmos iguais ou piores
a quando chegamos
101
estranhos mapas
jogo os olhos
nas lembranças buscando
um sentimento
poético para entregar
a um anjo
da noite faço
uma bandeira
de brim para que
não rasgue como
rasgado foi meu
coração desembaraço
os fios que me prendem
nas estrelas
cadentes e um fino
grito transpassa
minhas meninges
tombo na areia
feito um bêbedo
molho-me nas marolas
das ondas
do mar suave
e o sal
faz estranhos mapas
em meu corpo
102
solidão
a solidão
que enche
meu coração
de desejos
é uma solidão
traquina
brinca com minhas
lembranças apaga
as fotografias
queima as flores
que aparecem
ao lado esquerdo
meus passos
na areia
a água do mar
o sal solto
no vento
que fica
em meus cabelos
durante tanto tempo
que pareço
um ser de sal
te dou minhas mãos
estendo minhas mãos
arranco num piscar
o brilho
dos meus olhos
e faço cravejada
103
minha alma
opaca
de brilhantes
azuis a solidão
que se faz minha
amada é hoje
minha carpideira
apenas nós dois
em uma noite
de silêncio profundo
e sem fim
fria e úmida
até o escuro
e abafado
recôncavo fechado
a solidão
que enche meu coração
de desejos
é a mesma
que me mata
de paixão
104
almas
as almas estão
vagando
nas sombrias
esquinas
das noites
da cidade escura
as almas
sangram o sangue
do mundo inteiro
vertem
as lágrimas
dos sofrimentos
eternos
gerações
e gerações
que usinam
sentimentos
impenitentes
105
estrelas do mar
como o ar
que invade minha
janela trazendo
lento e frio
o cheiro
da maresia
espalhando pelo
céu do meu
quarto mil
estrelas do mar
106
gaiola
alma gaiola
guarda pássaro
liberto em transe
voando pensamento
não para no tempo
brilho estrelar
canto do mar
veloz sentimento
suave acalanto
o tempo o tempo
o vento o vento
107
quatro paredes
com o verão à porta
meu coração passa a degelar
feito plesiossauro louco
depois de anos dormindo
criando asas
faz-se coraciforme
tentando se agarrar
no tempo perdido e frio
mas não seus olhos
mareados e salgados de mar
humaniza-se morre
não tem ar no azul
não tem frio no verde
apenas quatro paredes
108
um toque
do olhar distante
vem a imagem forte
não vou morrer agora
tenho alma diamante
sou de camas suadas
bares e mesas frias
luz vermelha nos olhos
de bater coração a pauladas
não vou morrer agora
quero um suspiro mais
um toque de pele maior
só assim irei embora
partirei lépido do cais
deixando a marca no amor
109
pedido
coloco em suas mãos
macias meus sonhos e desejos
um olhar perdido no tempo
um suspirar de alívio
pelas almas que deixaram
o purgatório e hoje amam
poder olhar as flores e o verde
deitar no chão e respirar
sentir o ar entrando no corpo
e não perder um só instante
mais e aproveitar todo
o tempo do mundo no exato
instante do momento em que faço
um pedido mais um instante
110
para dizer te amo
a vida fez em mim
marcas profundas
grafou em minha alma
receita difícil
de apagar deixou
minhas mãos com movimentos
grosseiros minha boca
repleta de palavras
de baixo calão para roubar
corações mas deixou
em mim também o fantasma
do super de pedra
aquele que nunca chora
homem não pode chorar
sempre me disseram isso
e por não poder chorar
expressar meus sentimentos
entendi que também não
poderia dizer te amo
homem não deveria dizer te amo
e desvendei
meu grande mistério
hoje sabendo que homem chora
como também todo
ser vivo nem que seja
de dor aprendi
que posso transpor barreiras
para dizer te amo
111
meu coração em suas mãos
não tem jeito ignoro
o que as pessoas
me dizem não olho
nem ao menos em seus olhos
não respiro o mesmo
ar que elas tudo
em minha vida hoje gira
em torno de você
meu coração está
em suas mãos sou
ave com as asas cortadas
minha vida não é nada
sem você todos os meus
sonhos realizações minha
vida está em suas mãos
minha felicidade minha
capacidade de amar meu
coração pulsa em suas mãos
um descuido e pronto
ele deixa de bater para
todo o sempre meus sonhos
estão dentro dos seus sonhos
minha dor dentro de sua dor
minha solidão dentro
de sua solidão te quero
cuidar regar ver amadurecer
te quero ao meu lado sentindo
o meu calor meu corpo
meu corpo dentro do seu corpo
112
jeito
surge um ponto
flogose no peito
sabor suspeito
no olhar o jeito
de um cometa azul
perfeito
113
faroleiro
na noite escura
dentro de meus sonhos
obscuros meus olhos
viram faróis lampiões
alexandrinos vaga-lumes
soltos no quarto
quebram os vidros
das janelas explodem
em rios de estrelas
e derramam-se
pelo prédio
espalhando-se pelas ruas
tocando os pés e as almas
das pessoas na noite
iluminando suas almas
e fazendo seus olhos
brilharem na noite
escura dentro
de meus sonhos obscuros
meus olhos viram
faróis lampiões
alexandrinos vaga-lumes
soltos no quarto
quebram os vidros
das janelas
explodem em rios
de estrelas e se derramam
pelo prédio
espalhando-se
pelas ruas tocando
114
os pés e as almas
das pessoas na noite
iluminando suas almas
e fazendo seus olhos
brilharem assim
quero minha poesia
115
envergadura
de onde ela vem reina
plácida a ambivalência
espelhos contrapostos
fazem a discórdia amiudar
de forma abundante
sem mesquinharia
o grito olhe o olhar
de cobra até sua alma degelar
sobe rápida pelas paredes
frias com gavinhas
até o hilário momento
de seu pálido coroamento
antecedido de rápida
coreografia em torta linha
prendendo o parco
pássaro no breu do apartamento
lunático vesgo trepo
lépido no barulhento tablado
esticando ao máximo
minha forte envergadura
e do tombo ignorado
acordo no chão podre jogado
giz verde traça na muralha
carmim um epigrama
suas imagens gosmentas
soltam gotas de amargura
recolho-me para sempre
no breu minha chama
116
dama da noite
sei que escondes em teu
rebuscado e sujo bosque
segredos rasgados a frio
no seco deixados por cáfila
fatos obscurecidos que fazem
com que estanque
meu sangue enganado
que escorria em procela
minha mão em incontrolável
e trêmula profanação
deixa cair meus tristes
olhos mareados na sarjeta
nossos corações rumam
à inevitável secessão
teremos apenas sentimentos
arquivados em gaveta
jamais voltarei a ser pra ti
dama da noite cobertura
por mais que venhas
lânguida em meus ouvidos gorjear
melodias que sei esconderem
lagos e mares de amargura
assim os líquidos secarão
e a frigidez impedirá a osmose
esquecidos amarelecerão
os lençóis de alva casimira
e o sal das palavras em miríades
destruirá a dextrose
com afiada faca de prata
farei em meu peito longo talho
sabes o quanto sou perito
117
e o farei de brilhante cátedra
teremos instituído então
magnificamente
o fim
do baralho
118
carinho
um simples olhar
na alma do sonhador
um toque mais forte
que o vento levou
teu amor é assim
carinho de paixão
coração batendo lento
abraços e mãos
lembro de seus olhos
alegria tímida
verdejante luz
trago sempre
no sentimento puro
te amo eternamente
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aguardo-te
entenda minha esperança
de contato desesperado
lançada pelos canais
buscando guarida em você
aguardo-te na espreita
sou tímido e paciente
não falo para não espantar
não corro não pense que fujo
estarei sempre atento
e ao seu mínimo distrair
agarro-te pelas palavras
as palavras são amigas
que trago em meu coração
faço delas o que quero
até uma faca afiada
laminada em sonhos crespos
para atingir o seu coração
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inocente
o coração dormente
distraído e só
parou inocente
alma esmagada
por um címbalo
nas mãos da amada
estridentemente
estremecidamente
ficou demente
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barquinho
sou remeiro
do meu coração
barquinho solto
a flutuar incauto
na tempestade
do seu olhar
de mar
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corcel alado
ao teu lado
o momento
se torna mágico
o pensamento
qual corcel alado
enfeitado de fitas
douradas rasga
o azul do céu
e se transforma
em novo astro
rei todo seu
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brilho
recidivo e sonolento
o sentimento solto
que ilumina aberto
a noite escura azul
volta a brilhar terno
tentando copiar
o brilho do seu olhar
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afoito
em um ponto
escrevo um conto
pra voltar contente
pisando solto
desgovernado
meu pequeno barco
segue afoito
navegando
o caminho que a lua
colocou no mar
vou encontrar
o meu amor
nadando por aqui
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Contatos com o autor:
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