1 2 Ricardo Santana “poesias da alma” 3 4 Ricardo Santana “poesias da alma” Apresentação João Felipe Jucá Lessa Maceió/Al 5 Primeira Edição; lançada em 23 de abril de 2013. © 2013 by Ricardo Santana Direitos desta obra pertencem ao autor. 6 Apresentação 7 Um homem em sua mesa “longe do estéril turbilhão da rua”, “o poeta poetando em sua escrivaninha fria e escurecida pelo tempo e suores’ não passa de um homem comum. Não há o advogado, o jornalista, o arquiteto. Não deve se iludir quem pensa que o poeta sofre demais ou de menos. Ele é apenas um homem, rodeado de seus sentimentos, de desejos, de paixões, de ilusões, de angústia e de melancolia onde ele os decifrará em palavras e irá expor sua intimidade para pessoas que talvez nem conheça. Irá revelar a Deus e o mundo (literalmente, pois nos tempos modernos até o Senhor deva ter conexão com internet, o mundo certamente tem) o que pensa, o que escuta, o que sente, e também seus amores, como faz Ricardo: “quando perto de meu grande amor chego com muito cuidado canto e toco as músicas mais apaixonadas que saltam do meu coração”. Como diria Ferreira Gullar: “o poema antes de escrito não é em mim mais que um aflito silêncio”. Não digo que escrever poesias seja um suplício, mas é sim uma atividade muito trabalhosa e que requer dedicação e observação um eterno esperar por “um suspiro uma migalha do movimento mais sutil”. Ás vezes, fazer poesia é uma tarefa ingrata, e o retorno material é quase nenhum, pode-se dizer que: Não se vive de poesia, mas também não se vive sem poesia. Não se vive sem poesia, e o único reconhecimento que o poeta pode ter é saber “se meu pensamento chega até o pensamento de quem amo como amo se estático estou pensando se cantando estou também se escrevendo nem posso falar será que meu pensamento lá pode chegar” ou se meu pensamento e o que escrevo chega ao menos a quem não conheço, mas mesmo assim revelo as janelas da minha alma: “ouça meu amigo desconhecido solto no tempo e espaço não ligo a mínima pra novidades tenho no peito um barril de amor”. E assim é que faz o poeta, para além da inspiração pura e da busca pela poesia como recomenda Drummond: “Penetra surdamente no reino das palavras. Lá estão os poemas que esperam ser escritos. Estão paralisados, mas não há desespero, há calma e frescura na superfície intata. Ei-los sós e mudos, em estado de dicionário. Convive com teus poemas, antes de escrevê-los. Tem paciência, se obscuros. Calma, se te provocam. Espera que cada um se realize e consume com seu poder de palavra e seu poder de silêncio. Não forces o poema a desprender-se do limbo. Não colhas no chão o poema que se perdeu. Não adules o poema. Aceita-o como ele aceitará sua forma definitiva e concentrada no espaço.” 8 O poeta quer tocar a alma de quem o lê e para isso dentre os vários caminhos, escolhe o seu: com seu estilo e forma de escrever, seu jeito de escrever, suas nuances, onde escreve e todas as suas singularidades, tudo isso, não para vender livros ou mostrar sua poesia ao mundo, mas para aliviar a alma, pois a alma do poeta não aguenta todas as emoções e quer dividir com outras, e em poesia da alma, não é diferente. Ricardo Santana escolhe seu caminho, e como mesmo é ressaltado por ele (invento novas formas de escrever poemas poesias liberto a pontuação para que ela venha do seu coração as palavras dizem tudo são verdadeiras será que elas chegam até o seu coração), ousa em sua forma de escrever, quando abole os sinais de pontuação e em lugar disso investe no sentimentalismo, em vários temas tais: seus amores, suas memórias, seus lutos, suas saudades, como também em sua forma de publicação: uma versão sem custos e exclusivamente digital, que, portanto, não agride a natureza. Ricardo, em sua obra, expõe sua alma para poder tocar a de quem o lê, e só o lendo para saber se conseguiu ser tocado, tal qual dizia Edgar Allan Poe (escritor americano):” ...a poesia das palavras é a criação rítmica da beleza. O seu único juiz é o gosto”. João Felipe Jucá Lessa 9 e qual poesia através da pena do poeta poetando em sua escrivaninha fria e escurecida pelo tempo e suores não vem da alma e a alma é tão aparentemente sem sentido o impresso não é a poesia ricardo santana 10 Poesias 11 saudade os olhos miram o pássaro prata que transporta o amor para o distante deixando a saudade no peito de quem olha gosto da saudade quando tenho a certeza de que a volta está programada não da saudade sem fim essa é muito dolorida não tem pensamento que a faça sumir qual alegria se iguala a do reencontro ao rever o sorriso o encanto o abraço e perfume de quem se ama tanto sentimento estrelar que explode feito fogos formando uma retícula 12 no teto do universo eu sou cada ponto dessa malha que se reproduz indefinidamente feito efeito reativo atômico bombástico dentro do meu umbigo vou e apanho as flores dos jardins todas as cores todos os tipos todos os tamanhos e faço um quadro vivo natureza viva para enfeitar o nosso reencontro que se faz mais uma vez sem tamanho gigantesco infinito sem palavra que o prenda infinito 13 um amor só chego perto do seu coração cercado por sonhos lindos repletos de cores e músicas suaves cantadas por anjos róseos tentaram assacar nosso amor atemporal durante tantas vidas trabalho perdido nosso amor sempre foi mais forte e será nosso amor é bicho anuro não se tem como dizer ter deixado nada preso nem o mais forte poderio pode assim o fazer a não ser na mentira mas isso fica no baléu ao léu sujeito ao julgamento do tempo seguimos em paz sem arremedo algum teria a vida outro sentido que não o de se encontrar o verdadeiro amor viver o verdadeiro amor ah rio de ternura que transpassa meu corpo que transpassa 14 seu corpo e nos faz uno universo paraíso parcel no mar da eternidade cósmica a derramar resina perfumada viscosa fazendo nossos corpos colados um organismo só uma alma só um amor só 15 perfeito onde está meu coração lá está meu grande amor e paixão se as lágrimas insistem no meu rosto agora não é de dor mas sim por saudade minha alma alva viaja mundos em segundos para chegar um pouco mais perto dos seus olhos e respirar o calor da presença é lança que acaricia meu peito se não consigo deixo um rio de curare passar por minha garganta e inundar meu corpo parado espero a chuva chegar no centro da praça vermelha enfrento tudo e todos balas de canhões não transpassam meu coração nem pulmões vivo e respiro por meu pensamento se encontrar perto do seu coração nós dois em um anfiteatro mágico transparente bem no centro bailando girando deixando subir aos céus uma centena de pequenos universos guardados em balões vermelhos corações 16 vermelhos inflados indo agradecer a dádiva do amor perfeito 17 pássaro pela manhã dia nublado com um vento bem frio entrando pela janela invadindo o ar quente da sala onde estou vejo ao distante um pássaro trancado em uma gaiola na varanda cantando à família que o matam assim ontem eram girândolas são joão hoje o canto de um pássaro contido com lágrimas nos olhos sofrendo a dor das limitações vendo o azul e sentindo o vento e o tempo pássaros não sente o tempo passar simplesmente passa o tempo com ele tempo e pássaros são unos sempre vou desejar ser um pássaro não só para voar e cantar bonito mas principalmente para ser tempo sem sentimento simplesmente passar ou então ser sépala para conter meu próprio sangue em sacrifício sobre um arrecife 18 da praia de ponta verde escolho cato conchas de forma obsessiva compulsiva toco na epiderme da água salgada que também é tempo água do mar e tempo são unos 19 o mar quando olho o mar volto no tempo o mar guarda segredos profundos e salgados ao final da tarde então é mágico o sol se pondo existe uma poesia escondida nas conchas que estão dentro do mar são segredos milenares o mar é testemunha da história completa da vida eu apenas uma vírgula separando segredos que jamais serão contados revelados expostos quando olho o mar lembro de minhas lágrimas que guardam segredos profundos e salgados ao final da tarde o sol refletindo seu descansar em minhas retinas tudo muito mágico as pessoas que passam em silêncio lento levadas pelo vento como se velas fossem em naus errantes dormentes pendentes desabando em profundas fendas abertas na carne do mar sem ar sem sonhos 20 quando olho o mar fica tudo escuro volto no tempo e lamento o tempo perdido 21 desarvorado entre meu coração e minha alma existe uma distância sem fim descampado régio cheio de palácios dourados e jardins labirínticos todos os dias coloco águas nas plantas e flores além de alimentar os pássaros sempre que acordo apanho meu guião e saio com meu exército de fantasmas batendo nas enormes portas dos aposentos do corredor marrom e os hóspedes vão acordando de seus sonos e sonhos lentamente tomando consciência das ausências e pendências das carências que as horas noturnas deixaram em marcas talhadas nas imagens punhados de pedras preciosas são atiradas ao ar e se transformam em estrelas para o local 22 ficar iluminado desanuviando o firmamento desautorando o e é e rei a rainha a princesa todos do reino desarvorado isso entre meu coração minha alma existe um reino desarvorado 23 bobagens uma flor um olhar mais amigo amável um elo selando nosso amor eterno toda a felicidade do mundo dentro de um beijo que deixo em seu rosto gelado e sem cor o sentimento do mundo inteiro pinga em uma lágrima de dor a saudade chegará e as lembranças ajudarão a superar o pânico da ausência onde estará você agora em um campo verde cheio de sons e cores meu sentimento forte bate cadencialmente emitindo ondas do mais puro sentimento ondas que chegam até seu coração tão distante nos momentos de solidão falo com você e depois peço por você é muito triste a história que a vida traça para cada um de nós estaremos juntos 24 em breve todos nós é só questão de tempo então poderemos falar bobagens sobre tudo e todos e seremos novamente só alegrias todos juntos em uma grande mesa de sonhos 25 marruá têm dias que acredito fortemente que a humanidade o homem propriamente dito é uma criação que não deu certo é tanto sofrimento tanta enganação tanta ruindade esses sentimentos cevam em mim sentimentos que não gosto empesteiam minha alma não sou masoquista por vezes marruá quebro as amarras que tentam conter minha luz ar vida caminhos estreitos não me assustam de forma estroina faço com que meus pensamentos fiquem pregados nas paredes dos espíritos mais atentos isso irá mudar sinto no perfume de lavanda que preenche o ar do ambiente eu pequena larva que nem posso ainda aprender a voar nem desejar 26 mesmo posso lentamente mostro o quanto ser humilde é muito me arrasto sentimento oblíquo refeito sempre ao som da ocarina que todos os dias por volta das dezoito horas vem da casa do vizinho do lado esquerdo do peito chuva azul vinda do céu provoca calmaria no mar que é minha vida de sal e mel 27 barcarola qual barcarola amarela segue meu coração errante por entre as ondas do amor bravio vela verde cortando a ventania do respirar ofegante segue lentamente e constante meu coração de amante rasgando em corte perfeito qual diamante sobre vidro polido e calmo calmaria no vidro meu coração cortante cortado em mil pedaços transformados em palavras de amor e carinho qual barcarola amarela segue meu coração errante por entre as ondas do amor o calor do sol o brilho prata do luar e o tilintar das faíscas das estrelas que insistem em cair sobre nós até onde irá nosso amor terno quantas vezes seremos amantes quantas vidas teremos que viver para que esse amor se faça por inteiro quantas poesias 28 terei ainda que escrever quantas rosas ainda haverei de roubar dos jardins mais protegidos guardados por guardas invisíveis e olhos encortinados 29 opúsculo seria o brilho em teus olhos o reflexo da luz da lua na ausência de palavras mergulho em seus olhos da cor do mar vou até sua alma e a toco como quem toca a asa de uma borboleta púrpura sem desejar deixar marcas abro os braços e começo a voar por dentro de você indo planando por todos os seus segredos que agora são meus segredos brinco de voar assim por dentro do seu corpo e vida vejo passar por perto das minhas costas bandarilhas mas não sou touro sou pássaro por qual motivo fazes isso comigo deixarei em suas mãos um opúsculo escrito com meu próprio sangue nada muito longo pois só tenho cinco litros mas sim muito verdadeiro como meu amor por você rajada de vento ou balas não me afastará o desejo 30 de decodificar seu sentimento maior talvez até multiforme mas que jamais deixará de ser minha musa pequena flor de cristal que trago no peito cravada 31 pingos de estrelas só um sonhador amador apaixonado pode sentir a brisa que o mar derrama sobre os corpos na areia da praia pode falar com pássaros e vibrar com as cores das pipas no alto do céu azul inteiro completo sem nuvens ou ver as nuvens e nelas as figuras mais íntimas personagens de sua história olhar o luar com olhos lentos e desatentos simplesmente olhar a lua sendo segurada pelas estrelas refletidas no mar ver no rosto da mulher amada a criança que dentro dela existe e dela cuidar com carinho e muita atenção entregar flores bombons cantar as músicas que ela gosta de ouvir cortar o cabelo como ela gosta que seja cortado usar as roupas que ela gosta de ver a gente usando só um sonhador amador apaixonado pode fazer isso sair na madrugada escura para apanhar pingos de estrelas e trazer correndo pra sua amada sorrindo 32 verdadeiro amor o verdadeiro amor vou levar em meu coração pra sempre existem afirmações que fecham a possibilidade de uma poesia afirmações que são poesias completas por si só pra sempre o tempo fica parado tudo pára nada se move tudo fica quieto e silencioso momentos nos quais sinto que sou mais humano carne e espírito e a luz do dia toma pra si uma tonalidade diferente e que naturalmente se reflete nas cores e clima parece que as pessoas passam em movimentos lentos e eu em meu coração só desejando ver meu amor novamente então a saudade passa a ter várias toneladas é gostoso e ao mesmo tempo muito dolorido saber que vou ver meu amor novamente é bom mas a demora em poder ver em não ser possível ver de imediato é de enlouquecer terrível vou coligir sentimentos 33 em um peral centuplicar meu amor que é teu pra sempre 34 trago trago uma forte chama ao meu preito fortemente a ponto de me queimar por inteiro trago flores ao meu coração pois que por tão triste carece de cores e perfumes para ser alegrado trago luz para meus olhos que serão faróis lanternas na escuridão eterna trago afiada navalha às minhas mãos acostumadas a carinhos sem fim deixando meu rosto sempre disponível ao bofetão trago loucas palavras à minha boca língua acostumadas a polidas investidas dominicais trago fortes chuvas para o meu corpo ardente que queima com um coração cheio de cores e perfumes iluminando carinhos e navalhas com palavras loucas e molhadas de chuvas que trago seco 35 distância distância estranha a existente entre meus olhos e a foto de quem domina meus sentimentos a aceleração do meu coração acautela o meu amor blindado pelos carinhos do tempo estou com a alma pronta me puxando à frente em convite forçado ao desbravamento dos sonhos imaculados fugindo das cegaregas distância estranha mas chego lá no coração as imagens fazem doer dobrando meu sentimento qual dobradiça de latão jamais ira encalistrar tem o que faz como bom e certo não impostando o quanto de lágrimas for derramando pelos caminhos interestelares que separam a foto dos meus olhos aflitos a nortear os meus e os seus sentimentos não adiante tentar tocar 36 a foto pois uma parestesia aguda insiste em dificultar tudo posso apenas olhar e ver o tempo passar partir sumir sorrir ferir mentir trair matar não vou contar todos os meus segredos são muitos não caberiam em suas mãos trago todos eles em meu coração 37 coração tenho tantas coisas pra dizer e fazer meu coração está sempre repleto de sentimentos fortes mas as pessoas com quem cruzo os caminho são tão distantes tão sem nada dentro procuro tanto e não encontro como gostaria de encontrar na quantidade que gostaria de encontrar então as lágrimas sempre aparecem e meu corpo se desvanece em pontos de luz escrevo sentimentos com letras em garrancho pelas paredes e tremo a noite inteira o chão do quarto fica molhado onde está a quinina a umidade abafada do quarto é sem fim quem é esse espectro na janela mergulho em um itararé frio frio e as pedras cortam minha alma em postas 38 perfeitas não tenho muito a esperar mais posso mesmo até me despedir me despir nada fará diferença tudo está quebrado em trilhões de pequenos pedaços inclusive meu coração elástico 39 uma lágrima passo horas pensando se meu pensamento chega até o pensamento de quem amo como amo se estático estou pensando se cantando estou também se escrevendo nem posso falar será que meu pensamento lá pode chegar invento novas formas de escrever poemas poesias liberto a pontuação para que ela venha do seu coração as palavras dizem tudo são verdadeiras será que elas chegam até o seu coração fico parado imóvel cataléptico do lado de fora da vitrine vendo as imagens que passam refletidas em seus espelhos polidos em silêncio profundo os dois lados em silêncios profundos só imagens nada de palavras nem imagens escritas palavras escritas nada nada só o silêncio sádico a provocar os piores sentimentos de dor feito espadas que transpassam lentamente o coração de cada um na ventania da rua deserta uma lágrima escorre do olhar atônito átono 40 sempiterno quando perto de meu grande amor chego com muito cuidado canto e toco as músicas mais apaixonadas que saltam do meu coração busco assim chegar ainda mais perto me vestir com sua alma não sou de candongas minhas feridas sangram de verdade e meus carinhos vêm como respostas de toda uma vida minha mesolitorânea eu mar aberto e por inteiro cheio de vida no silêncio mais profundo de minhas alegrias e tristezas quando perto de meu grande amor chego com muito cuidado canto e toco as músicas mais apaixonadas que saltam do meu coração centelhas de estrelas 41 penetram o preto do captado por um olhar lento que se faz presente sempre por entre as algas e algaravia que a existência me apresenta e perco o sentido o fôlego com algo sempiterno mas que sempre habitou dentro de mim do meu coração e do seu 42 mundo só um mistério não posso dizer nada mais quanto o que venha a ser a vida que não isso estou sempre aberto exposto mesmo quando guardo meu coração em uma caixa de aço escovado me escondo desejando passar ao lado mas o escuro sempre está a espreita com seus olhos amarelo chá fratricida na fronteira do frio da navalha afiada e fria secretando as coisas mais duvidosas que posso imaginar discrepante sentimento que tento ignorar mas que se agarra na minh'alma feito caratinga a qual devoro pela raiz 43 palmilhando o peito aberto em profunda chaga carmim sazonada e pronta pra ser antropofagicamente devorada para guardar na alma para o resto da eterna vida o brilhante mais cheio de luz que os olhos podem tocar que o olfato pode degustar e que o tato pode lamber assim sofro e me recolho pois meu mundo é só 44 apenas dizer no silêncio ácido de um dia frio e úmido transito por minha alma deixando minha mão esquerda se arrastar sobre as paredes alvas que vou encontrando deixando minha marca em mim mesmo em minha alma crio então lugares espetaculares distantes de toda e qualquer fantasia meu mundo é lindo e iluminado por uma luz de vela antiga barroca presumo fazendo refletir nos seis lados do cômodo minha sombra deformada pelo tempo hábil e quadernado que brota de árvores transparentes aqui ali uma pétala solta no ar parada no tempo e espaço refletindo os raios da luz violeta 45 que entram pela pequena janelinha do arejado lugar frio e úmido impresso no quadrante superior esquerdo de meu olho direito eu louco em salto quântico microscópica partícula subatômica me faço facécia entregando meu sentimento em uma bandeja de prata fosca queria apenas dizer te amo 46 para seus ouvidos rasteiramente chega o belo e sofrido amor rastreando os sentimentos reais em claro rateio de luz e brilho e cor emaranhado de palavras que saltam das bocas dos corações baldes e baldes elidindo o mais triste sentir teu coração pocilga é um poço de águas poluídas correntes torrentes que levam com elas límpidos corações vermelhos de paixões há que ser platinado protegido não simples plebeu eu atônito na frente do espelho côncavo com meu peito convexo embaçando minha visão do outro sob meu ponto de vista feito diodo enlouquecido e discreto discoide na discoteca gigante os cabelos ficam ásperos meus punhos de artilheiro apontam para teus 47 olhos azuis e distantes você a me assacar ser falso menestrel enquanto desmancho meus sentimentos em palavras e músicas doces para seus ouvidos 48 setas os caminhos do coração são sempre diferentes setas passam sobre as cabeças mas não acertam o coração ouça meu amigo desconhecido solto no tempo e espaço não ligo a mínima pra novidades tenho no peito um barril de amor muitos sabem o que é isso outros tantos nunca irão saber não importa o quanto grite ninguém poderá resolver então repito aos gritos os caminhos do coração são sempre diferentes setas passam sobre as cabeças mas não acertam o coração 49 lua azul hoje uma lua azul refletirá sua imagem em meu coração ficarei azul sonharei azul e falarei palavras azuis meus sonhos se tornarão azuis e meu pensamento azulará o instante ficará todo azul brilhante e as estrelas ficarão com um brilho azul os carinhos dos amantes serão azuis e os beijos azuis também uma música azul encherá o ar azul com uma melodia azul o azul vai desautorar as outras cores só por hoje só por um instante azul desarraigará do brando o azul pleno tacanho que sou virarei um gigante azul farei poesias azuis para amores azuis a atmosfera toda ficará azul e o mar mais azul que nunca refletindo o azul do céu em silêncio azul o tempo vai parar azul num silêncio tão azul que vai azular todos os milésimos de miríades de segundos azuis beijos azuis sob o luar azul na plataforma azul no descampado azulado pela lua azul 50 uma flor na esquina resolvi deixar uma flor na esquina onde ontem aconteceu uma tragédia a morte de um ser humano uma vela que se apagou lágrimas que ainda caem como pingos de uma chuva triste cinza sem fim meu olhar penetra o peito de cada um da família do novo viajante rumo às estrelas vejo a dor as lembranças as imagens de dias felizes e outros tantos ou mais tristes e um mais triste de todos eles o dia de ontem uma bala de fogo transpassou o coração de um anjo que ia socorrer uma pessoa e por seus olhos toda suas história foi projetada na parede branca do prédio comercial que fica do lado esquerdo do cruzamento onde deixei a flor amarela pingo de ouro no asfalto que secou e transformou 51 o sangue derramado em pó que o vento levou que o tempo levou o tempo e vento o o o e pensamento gostar o sofrer querer o amar o sonhar 52 sumaúma naufrágio meu amor por ela se mostrou assim gigantemente e me atiro ao mar feito dasiatídeo escuto pipa viva que lentamente flutua dentro da água atado a um cordão umbilical minha garganta de plissê deixa passar por ela palavras arrastadas que saem dela com a dificuldade de milhões de anos em parto de dor hipoteco meus sonhos na esperança de conseguir ar de respirar de sair com vida dessa confusão toda e poder me sentir sumaúma com os braços abertos em galhos e copas no topo de um penhasco a brincar com o vento e a chuva que tocam meu espírito de forma indiferente tocam assim em todos e todos lamentam e choram um pouco ou de alguma forma um dia ao menos na vida eu suplente a olhar o meu suplente pressagiando tudo cada gota cada 53 pondo cada letra cada poesia cada sorriso 54 sentimento ao amanhecer acordo e não encontro você ao meu lado as músicas vão chegando o dia passando as poesias as fotografias como posso viver assim sinto você ao meu lado e a tarde me apresenta o entardecer mais uma vez sinto sua presença no silêncio da existência estranha de minha casa grande muito grande quantos chicos quantos tons quantos vinicius meu coração franzido dói tanto a lembrança de sua imagem vem balsamar todo meu universo particular faz uma semana que não vejo a luz nem sei mais onde estou a saudade é cruel sentimentos partilhados de antanho batem a porta da minha alma rocio sobre meus olhos transformando-os em espelhos que refletem todo meu sentimento 55 num raio de luz azul cortando o infinito sentimento 56 pulsando veja o que trago pra você em minhas mãos eu súplice no escuro do sonho mais longo um diamante um rubi não importa é algo precioso inominável por instantes mas podes ver o que trago através dos meus olhos que são seus olhos e que traduzem o que existe na alma de um poeta está em minhas mãos em meus sonhos nos meus olhos em minha alma cadente eu a exorar um brilho um suspiro uma migalha do movimento mais sutil em minhas mãos trago minha vida meu amor meu coração amor e paixão trago algo fogo que ilumina a marina a cortina da janela do meu quarto 57 transparente reluzente e transforma o leito relvado amado suado salgado em um ninho dentro das minhas mãos pulsando buscando um brilho um suspiro uma migalha do movimento mais sutil em minhas mãos trago minha vida meu amor meu coração amor e paixão trago algo fogo que ilumina a marina a cortina da janela do meu quarto transparente reluzente e transforma o leito relvado amado suado salgado em um ninho dentro das minhas mãos pulsando pulsando 58 em seu coração quando pede apenas um brilho no olhar logo vem com o coração por inteiro é um suspiro que busca a ofegante respiração que traga até o último instante de vida lhe é dada o amor faz coisas exuberantes iluminadas repletas de cores e perfumes toques e carícias se é um adeus que espera chega rapidamente o abraço e convite pra ficar mais um pouco mais uns anos mais uma vida não apenas um brilho no olhar uma ofegante respiração um último instante repleto de cores perfumes toques e carícias tudo num só instante de poder abraçar o mundo e o espaço inteiro apertando comprimindo entre as mãos e fazendo deles um diamante brilhante que irá reluzir resplandecente pra sempre em seu coração de mãe 59 você não me viu dezenove anos depois surge na frente do outro que tanto o esperou e diz sou eu quem você ama um dia antes do julgamento final se abraçaram choraram juntos disse um te ofereço confiança ao que o outro respondeu como se estou te conhecendo hoje demonstre as lágrimas escorreram pelos rostos disse o mais novo você não me viu crescer não viu minha barba crescer nem viu meus dentes caírem e voltarem a nascer e os meus jogos que não fostes assistir torcer por mim diga o que faço da vida que fiz da vida que fizeste dela papéis papéis tudo 60 depõe contra aguardou que tudo fosse colocado em ordem e esclarecido o amor poderia esperar quem sabe mais dezenove anos 61 eu pavilhão transparente no alto do prédio em seu décimo quinto andar me ponho estrelado sentindo o vento tocar meu rosto marcado por tudo o que vivi a visão do mar da mata e do céu faz com que por instantes esqueça do podre existente lá embaixo nas ruas entra as pessoas o vento passa entre meus dedos braços pernas corpo inteiro volto às palmas das mãos para o Sol e aqueço meu coração eu pavilhão transparente não consigo identificar outros nos vários outros prédios eu estrelado sob um céu agora já escurecido que serve de leito a um Sol adormecido velado ao luar por uma Lua prata que reflete sua imagem fria em meus olhos 62 molhados com lágrimas salgadas feitas por pingos da água do mar que brota do meu coração 63 corações róseos através da luz da vela e por entre as flores que estão no vaso sobre a mesa vejo seu rosto iluminado é uma noite especial os anjos cantam e sobrevoam o local pequenas estrelas descem do céu para cravejar seus cabelos com pontos coloridos não deixe que isso se perca na memória toco sua mão e olho no fundo dos seus olhos tranquilos enquanto um rio de sonhos passa ao nosso lado levando com ele um cardume de pequenos corações brilhantes e róseos que se dissipam no tempo e espaço vão e voltam teus lábio então lentamente deixam escapar uma palavra que toca meu 64 coração insulado na escuridão parcial que nos cerca e nos faz mais próximo e focados na mágica inteira desse momento amor 65 diga-me de onde vem esse som esse perfume essa imagem tão bonita que me faz sonhar e viajar no tempo resgatando lembranças arrancando lanças fazendo meu peito inflar água que salga feridas vento que seca o lacrimar de onde vem esse silêncio que me transforma o pecar noite escura e fria em luar de prata e estrelas a brilhar mar calmo e pesado feito espelho cristalino refletindo seu olhar felino pronto para me agarrar de onde vem toda essa calada 66 coreografia cardíaca que faz nossas almas bailar envoltas em uma azulada música de melodia ímpar diga me diga de onde vem tudo isso pois é lá onde quero sempre estar 67 lagoas e minas deu-se em minas depois de tantos textos matérias entrevistas solilóquios de mirar o tempo no próprio rosto e no espelho côncavo de um coração separar dois amores que na realidade é um só foi assim sobre o verde orvalhado e frio dos montes e colinas de minas que aconteceu uma história de amor perpetuada já em prata pura delicada perfumada de ainda rolar lágrimas quando se fala do amor distante que a todo instante se faz presente nos olhos o fato de um coração apaixonado que de tanto amar a vida veio à vida em desalento rápido descompassadamente atento separou dois corações as lagoas ficaram distantes 68 das minas e o que era uma história de amor já forte se transformou em algo surreal um coração separou dois corações que sempre foram dois em um tum tum tum 69 gélida meu coração entesta meus sentimentos toma conta deles responsabiliza-se por eles ah lassitude plena que me faz estrela no centro do chão frio do meu quarto proscrevo seus atos insanos que tanto me fizeram sofrer em cólica marulhar meus pensamentos até perto de você poder chegar serei selenita para de lá te mirar prata frio e cheio serei a própria lua e luar a picotar seu retrato eu petiz com a peteca mas mãos mirando seu coração até o seu estremecimento lento fundarei uma confraria branca prata cinza e gélida onde poderei sua imagem no brasão e exporei suas roupas em um empoeirado brechó 70 sufocante nada mais apertado que o coração triste sufocante espaço aberto onde as partículas de poeira flutuam soltas e levadas pelo vento nada mais sufocante que uma alma triste contida em uma caixinha de prata sobre uma mesa no canto do quarto que tantas cartas de amor suportou e sentiu na pelo o passar da pena nada mais sufocante que uma lembrança renitente que faz molhar os olhos da gente sufocados pelo tempo presente de uma infinidade de pensamentos ausentes voltados para um passado sufocante nada mais abafado que um elevador quebrado cheio de gente dentro milhares de pensamentos contidos retidos gritos amarrados nas gargantas enchumaçadas pelo tempo 71 segredo lentamente te abro o segredo guardado há tanto tempo que nem era mais lembrado perfume textura beleza nada disso pode ficar tanto tempo sepultado então lentamente revelo a você seu segredo não deixe isso morrer o amor a paixão o gostar de ficar perto andar junto te devolvo seu segredo polido brilhando refletindo a luz do sol deixo em suas mãos trêmulas e pálidas e faço um convite para ver a luz do luar amanhecer vendo as estrelas esperando o Sol brilhar não guarde esse segredo ele é a razão da nossa existência eu e você nada poderá nos separar novamente 72 segredo algum sentimento algum luz alguma calor algum toco em seu peito e sinto seu coração pulsar novamente novo segredo 73 se me chega um olhar se me chega um olhar principalmente se de forma suave devagar meu coração logo responde com uma linda melodia menestrel de ficar horas ao pé da janela mais distante do castelo mais romântico de um país encantado que não existe mais então meu olhar brilha com uma luz nova que se espirala com a luz o olhar que chega feito um "balet" de cisnes meu peito explode em miríade de cores e pequenos pontos de luzes a respiração fica rápida e o pensamento focado direcionado se me chega um olhar assim por um milésimo de segundo fico morto nada me atinge mais nada me corta mais resto completo e feliz então volto e sigo meu caminho de poeta só e triste 74 deixaram uma flor deixaram uma flor em minha caixa postal uma flor amarela uma rosa que a tudo inundou de perfume iluminando todo o espaço de minha caixa que pulsando de alegria viu novas cores no horizonte distante deixaram uma rosa um olhar em minha caixa postal pulsante verdejante cantarolante e os sonhos voltaram e a música ficou mais bonita e o violão tocou mais afinado com a língua com a garganta e pousou em minha mão esquerda 75 um pássaro de cristal diamante frágil e esperto ágil como uma estrela cadente e minha caixa sente o calor da luz dourada que abre portas e penetra em brechas por espaços muito pequenos deixaram uma flor mas não o endereço do remetente 76 horas de amor não tem muito além para se cultivar um verdadeiro amor basta uma flor uma rosa dada com carinho de coração ela segue carregada de atenção fidelidade e muito amor e ao se entregar essa flor essa rosa que seja durante uma caminhada ao entardecer não serão necessárias palavras apenas olhar verdadeiro um toque carinhoso nos cabelos um abraçar gigantesco e leve mas apertado o suficiente para que as almas 77 se confundam e um fique com o perfume do outro no corpo não tem muito além para se cultivar um verdadeiro amor um retrato dos dois na carteira em um porta-retratos sobre a mesa de trabalho e na cabeceira da cama um bom dia com um sorriso nos lábio e olhos e corpo inteiro depois de horas e horas de amor verdadeiro 78 sigo triste então chega o dia do luto quando tudo perde a graça e cor tudo fica cinza e preto não se sente calor apenas frio para onde foi o sol é a pergunta mais comum só lágrimas e lembranças o corpo fica mais pesado tudo tem um peso vinte vezes maior a cama agarra a gente com braços e palavras que não temos como resistir o corpo ali frio e os olhos sem brilho algum a saudade é a certeza da dor pungente o coração bate fora de tempo fora do ar as flores vão 79 chegando para enganar a tristeza da cena para enganar o espírito que sofre as flores ficam pálidas amarelecidas com o susto da perda e me acompanham no chorar orvalhando suas pétalas triste triste sigo triste – chorar 80 sacrário existe um silêncio azul no peito de todo poeta um silêncio frio de um azul totalmente diferente da cor do céu e do mar de ponta verde em dia de sol é desse silêncio que vêm as poesias as músicas as imagens mais lindas e tristes as lembranças mais lindas e tristes os sentimentos mais lindos e tristes um silêncio que apita agudo perfurante e profundo fazendo eco e rebatendo nas paredes do "mio cuore" que se transmuta em rubi em lábios carnudos de uma boca 81 que sorrir em olhos verdes e cabelos negros em um corpo esguio e claro como o luar lua cheia linda e branca esse silêncio o poeta compartilha com o infinito pois é sagrado vive aquartelado no sacrário do peito a pulsar pulsar pulsar 82 atento para que serve um coração emocionado ao ver um outro coração emocionado um olhar de olhos que brilham um toque mais leve feito uma pluma sobre a pele uma tarde chuvosa sob pesado cobertor cheirando a flores do campo um momento a dois sozinhos no mundo todo caminhar ao entardecer sem hora para parar ver as estrelas e o luar lembrar das alegrias da vida das boas lembranças dos momentos vividos e que só em lembranças podem voltar 83 um beijo carinhoso na alma da amada um abraço apertado e gostoso de se abraçar até o pensamento conseguindo prender todo o momento cada partícula de luz solta no firmamento prender a respiração mesmo que por um momento se não para te dizer atento te amo te amo te amo 84 grita com meus sonhos na madrugada levanto e faço caminhadas por dentro de minha casa do meu aparamento por dentro do meu coração solitário e entristecido a madrugada é minha amiga e de tantos outros que vagam por suas horas de existências cíclicas mágica e fria a madrugada guarda em sua alma infinita todos os amores dos poetas dos músicos e cantores trovadores seresteiros de testas estreladas que trazem no olhar miríades de vaga-lumes vindo de bosques infantis todo poeta é criança é verdadeiro sofre em sonhos e quando se depara 85 com a realidade nua e crua também então a madrugada é uma das maiores amigas do poeta que só levanta bandeiras e grita no silêncio da madruga acordando assustada a vizinhança e seu anestesista grita o amor 86 o mar vou ver o mar ao entardecer ao amarelecer do céu tocar a espuma das ondas que quebram na areia da praia vou ver o mar navegar meus sonhos içar as velas do meu coração nau dos enlouquecidos de amor por amor com amor olhar as estrelas andando no fundo mar olhando as estrelas brilhando no céu já escurecido e sem luar eu e o mar somos irmãos a pescar luar nos aquecendo do sol hoje 87 vou ver o mar meu irmão de de de de tantas horas conflitos e dores sonhos e amores cardumes de barcos coloridos navegando em todos os sentidos mas sempre voltando ao porto do meu coração nau dos enlouquecidos e anoréxicos azulando a tez se confundindo acabando com a linha do horizonte sem deixar mais divido o céu e o mar vou visitar o mar 88 onda topo e estrelo meu corpo e alma na face da parede da onda que se forma em minha frente sempre a onda sempre a onda não um anjo mas sempre a onda em sentido contrário ao meu coração ao meu pulmão fico sem ar fico sem vida morro e volto a viver milhares de vezes em um milésimo de segundo meu espírito em espiral eterna rodopia na existência minha e da onda a onda a onda esmagando o meu ser a onda a onda cuidado 89 um instante o pássaro rápido passava voando enquanto eu sonhando ficava sem saber ao certo o que estava acontecendo a chuva caindo fina no vidro da janela do quarto do último andar do prédio escuro cinza lâmpada amarelecida de tanto iluminar o tempo do poeta esquecido o olho do pássaro nu no olho do poeta o olhar da estátua no centro da praça fitando os olhos do pássaro e do poeta em um despencar de corpo e penas feito nave espacial de guerra branca pena hábil que tirou da morte de tantos outros poetas a ave agora não resistiu mais soltou um grito de pavor riscando a folha de papel em branco 90 marcando à eternidade sua poesia suave sua ave ave ave ave ave os olhares à luz da lua prata refletindo o sol seus raios espadas transpassando o coração da ave e do poeta e os olhos se fecham até o olhar da estátua cinza e triste 91 volto a morrer entra a luz do Sol através da cortina do meu quarto do meu coração atônito iluminando minha vida meu acordar lento sofrido de uma noite de morte confortável e tranquila iluminando o tempo e o vento meu pensamento meus livros e discos meu violão amigo o que cantar o que ler o que ouvir e a luz invade despudoradamente minha mente que mente aos raios fechando os olhos transformando a cor em ausência de cor então volto a dormir volto a morrer 92 susto e medo se toco suas mãos tão alvas e frias agora é para tentar tocar também sua alma tão longe e triste não consegui trazer a alegria aos olhos e lábios teus e agora estamos partindo cada um seguindo seus caminhos a luz o calor o escuro o frio mares serão navegados rios serão derramados e lágrimas secarão nos olhos eis aqui uma flor amarela perto de pálida pelo susto e medo eis aqui um coração partido perto de explodido 93 pelo susto e medo eis aqui um amor interrompido quase esfacelado pelo susto e medo pelo susto e medo 94 sem volta então vem o tempo e me toca o rosto fazendo os olhos olharem distante distante subo na mais elevada montanha e pulo no escuro da noite sem luar nem estrelas só o frio abraça-me só o pó das nuvens que por dentro minha alma passa me acompanham nessa viagem sem volta sem volta 95 flores queimadas parece um pesadelo mas o que vejo ao nascer de um novo dia é a realidade construída anos e anos lentamente pássaros mortos flores queimadas rios sem vida peixes boiando matas tostadas milhões e milhões de pessoas sem ver bilhões e bilhões de pessoas sem vida mas o céu continua azul pálido azul tudo cheira a fumaça o vento sem rumo carrega com ele poeiras de cinzas um silêncio sem fim um calor sem fim um abafado sem fim que estou fazendo aqui 96 aonde só o vento vai quando o vento chega em minha janela do lado esquerdo esqueço a lua esqueço o tempo esqueço até as estrelas e o pensamento deixo que ele toque meu rosto e seque seus cabelos que flutuam pelo quarto como a fumaça que sobe do cinzeiro o vento carrega com ele o perfume de todas as rosas do mundo de todas as cores e tamanhos para encher de brilho meus olhos esquecidos pela torre da mesquita dourada que brilha refletindo o Sol na praça empoeirada o vento meu amigo carrega meus sonhos até lugares infinitos onde só o vento vai 97 se a lágrima clara se a lágrima clara escorre por meu rosto triste no escuro frio do quarto úmido existente no terceiro andar do prédio cinza em noite de chuva depois de uma tarde nublada sem pássaros nem estrela dalva depois de uma manhã inteira de ventos fortes e folhas secas rolando pelas ruas desertas espantando os pássaros que não apareceram para cantar por nem um segundo que fosse depois disso tudo meu coração apertado cabeça confusa abro a janela e vejo um raio vindo em minha direção e acerta bem no centro do meu peito do meu 98 peito esquerdo no centro do meu coração fico leve muita luz e uma música celestial impossível de ser tocada por humanos enche o local de paz agora estou em paz agora em meu rosto apenas um sorriso em minhas mãos apenas uma flor em minha boca apenas uma poesia se a lágrima clara 99 rajada de vento somos criaturas frágeis resultado do desenvolvimento de gerações e gerações somos o produto de vidas e vidas vividas por nossos antepassados estamos também sempre voltando para buscar a lapidação a purificação o aperfeiçoamento de nosso espírito e corpo esse processo pode levar séculos mas também podemos está até vivendo os últimos dias desses séculos então é já não sabemos só deus sabe disso no entanto é necessário que procuremos cada vez mais cuidar dos dois principais paradigmas da vida humana o espiritual e o corporal não sabemos quanto tempo temos mas o tempo que dispomos deve ser utilizado sabiamente para esse fim o aperfeiçoamento integral 100 pois a qualquer momento numa breve rajada de vento seremos chamados de volta à casa espiritual e não será conveniente voltarmos iguais ou piores a quando chegamos 101 estranhos mapas jogo os olhos nas lembranças buscando um sentimento poético para entregar a um anjo da noite faço uma bandeira de brim para que não rasgue como rasgado foi meu coração desembaraço os fios que me prendem nas estrelas cadentes e um fino grito transpassa minhas meninges tombo na areia feito um bêbedo molho-me nas marolas das ondas do mar suave e o sal faz estranhos mapas em meu corpo 102 solidão a solidão que enche meu coração de desejos é uma solidão traquina brinca com minhas lembranças apaga as fotografias queima as flores que aparecem ao lado esquerdo meus passos na areia a água do mar o sal solto no vento que fica em meus cabelos durante tanto tempo que pareço um ser de sal te dou minhas mãos estendo minhas mãos arranco num piscar o brilho dos meus olhos e faço cravejada 103 minha alma opaca de brilhantes azuis a solidão que se faz minha amada é hoje minha carpideira apenas nós dois em uma noite de silêncio profundo e sem fim fria e úmida até o escuro e abafado recôncavo fechado a solidão que enche meu coração de desejos é a mesma que me mata de paixão 104 almas as almas estão vagando nas sombrias esquinas das noites da cidade escura as almas sangram o sangue do mundo inteiro vertem as lágrimas dos sofrimentos eternos gerações e gerações que usinam sentimentos impenitentes 105 estrelas do mar como o ar que invade minha janela trazendo lento e frio o cheiro da maresia espalhando pelo céu do meu quarto mil estrelas do mar 106 gaiola alma gaiola guarda pássaro liberto em transe voando pensamento não para no tempo brilho estrelar canto do mar veloz sentimento suave acalanto o tempo o tempo o vento o vento 107 quatro paredes com o verão à porta meu coração passa a degelar feito plesiossauro louco depois de anos dormindo criando asas faz-se coraciforme tentando se agarrar no tempo perdido e frio mas não seus olhos mareados e salgados de mar humaniza-se morre não tem ar no azul não tem frio no verde apenas quatro paredes 108 um toque do olhar distante vem a imagem forte não vou morrer agora tenho alma diamante sou de camas suadas bares e mesas frias luz vermelha nos olhos de bater coração a pauladas não vou morrer agora quero um suspiro mais um toque de pele maior só assim irei embora partirei lépido do cais deixando a marca no amor 109 pedido coloco em suas mãos macias meus sonhos e desejos um olhar perdido no tempo um suspirar de alívio pelas almas que deixaram o purgatório e hoje amam poder olhar as flores e o verde deitar no chão e respirar sentir o ar entrando no corpo e não perder um só instante mais e aproveitar todo o tempo do mundo no exato instante do momento em que faço um pedido mais um instante 110 para dizer te amo a vida fez em mim marcas profundas grafou em minha alma receita difícil de apagar deixou minhas mãos com movimentos grosseiros minha boca repleta de palavras de baixo calão para roubar corações mas deixou em mim também o fantasma do super de pedra aquele que nunca chora homem não pode chorar sempre me disseram isso e por não poder chorar expressar meus sentimentos entendi que também não poderia dizer te amo homem não deveria dizer te amo e desvendei meu grande mistério hoje sabendo que homem chora como também todo ser vivo nem que seja de dor aprendi que posso transpor barreiras para dizer te amo 111 meu coração em suas mãos não tem jeito ignoro o que as pessoas me dizem não olho nem ao menos em seus olhos não respiro o mesmo ar que elas tudo em minha vida hoje gira em torno de você meu coração está em suas mãos sou ave com as asas cortadas minha vida não é nada sem você todos os meus sonhos realizações minha vida está em suas mãos minha felicidade minha capacidade de amar meu coração pulsa em suas mãos um descuido e pronto ele deixa de bater para todo o sempre meus sonhos estão dentro dos seus sonhos minha dor dentro de sua dor minha solidão dentro de sua solidão te quero cuidar regar ver amadurecer te quero ao meu lado sentindo o meu calor meu corpo meu corpo dentro do seu corpo 112 jeito surge um ponto flogose no peito sabor suspeito no olhar o jeito de um cometa azul perfeito 113 faroleiro na noite escura dentro de meus sonhos obscuros meus olhos viram faróis lampiões alexandrinos vaga-lumes soltos no quarto quebram os vidros das janelas explodem em rios de estrelas e derramam-se pelo prédio espalhando-se pelas ruas tocando os pés e as almas das pessoas na noite iluminando suas almas e fazendo seus olhos brilharem na noite escura dentro de meus sonhos obscuros meus olhos viram faróis lampiões alexandrinos vaga-lumes soltos no quarto quebram os vidros das janelas explodem em rios de estrelas e se derramam pelo prédio espalhando-se pelas ruas tocando 114 os pés e as almas das pessoas na noite iluminando suas almas e fazendo seus olhos brilharem assim quero minha poesia 115 envergadura de onde ela vem reina plácida a ambivalência espelhos contrapostos fazem a discórdia amiudar de forma abundante sem mesquinharia o grito olhe o olhar de cobra até sua alma degelar sobe rápida pelas paredes frias com gavinhas até o hilário momento de seu pálido coroamento antecedido de rápida coreografia em torta linha prendendo o parco pássaro no breu do apartamento lunático vesgo trepo lépido no barulhento tablado esticando ao máximo minha forte envergadura e do tombo ignorado acordo no chão podre jogado giz verde traça na muralha carmim um epigrama suas imagens gosmentas soltam gotas de amargura recolho-me para sempre no breu minha chama 116 dama da noite sei que escondes em teu rebuscado e sujo bosque segredos rasgados a frio no seco deixados por cáfila fatos obscurecidos que fazem com que estanque meu sangue enganado que escorria em procela minha mão em incontrolável e trêmula profanação deixa cair meus tristes olhos mareados na sarjeta nossos corações rumam à inevitável secessão teremos apenas sentimentos arquivados em gaveta jamais voltarei a ser pra ti dama da noite cobertura por mais que venhas lânguida em meus ouvidos gorjear melodias que sei esconderem lagos e mares de amargura assim os líquidos secarão e a frigidez impedirá a osmose esquecidos amarelecerão os lençóis de alva casimira e o sal das palavras em miríades destruirá a dextrose com afiada faca de prata farei em meu peito longo talho sabes o quanto sou perito 117 e o farei de brilhante cátedra teremos instituído então magnificamente o fim do baralho 118 carinho um simples olhar na alma do sonhador um toque mais forte que o vento levou teu amor é assim carinho de paixão coração batendo lento abraços e mãos lembro de seus olhos alegria tímida verdejante luz trago sempre no sentimento puro te amo eternamente 119 aguardo-te entenda minha esperança de contato desesperado lançada pelos canais buscando guarida em você aguardo-te na espreita sou tímido e paciente não falo para não espantar não corro não pense que fujo estarei sempre atento e ao seu mínimo distrair agarro-te pelas palavras as palavras são amigas que trago em meu coração faço delas o que quero até uma faca afiada laminada em sonhos crespos para atingir o seu coração 120 inocente o coração dormente distraído e só parou inocente alma esmagada por um címbalo nas mãos da amada estridentemente estremecidamente ficou demente 121 barquinho sou remeiro do meu coração barquinho solto a flutuar incauto na tempestade do seu olhar de mar 122 corcel alado ao teu lado o momento se torna mágico o pensamento qual corcel alado enfeitado de fitas douradas rasga o azul do céu e se transforma em novo astro rei todo seu 123 brilho recidivo e sonolento o sentimento solto que ilumina aberto a noite escura azul volta a brilhar terno tentando copiar o brilho do seu olhar 124 afoito em um ponto escrevo um conto pra voltar contente pisando solto desgovernado meu pequeno barco segue afoito navegando o caminho que a lua colocou no mar vou encontrar o meu amor nadando por aqui 125 Contatos com o autor: [email protected] 126 127