Fasci-Tech - Fatec São Caetano do Sul

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A Fotografia na Esfera Geográfica
Flávia Ulian1
Resumo:
A partir de uma exposição fotográfica realizada na FATEC-Tatuapé, foi organizado
o Encontro “Fotografias: Plurais Singularidades”. Nossa comunicação, “A fotografia
na esfera geográfica”, poderia percorrer vários caminhos, tendo em vista que, na
ciência geográfica, a fotografia é uma técnica importante utilizada tanto como base
cartográfica, como também para a reflexão sobre a categoria paisagem, admirável
referencial para o método geográfico. Optamos em nossa comunicação por este
último escopo. A exposição inspiradora do Encontro trazia fotografias que remetiam
aos três cursos da FATEC-Tatuapé: Construções de Edifícios, Controle de Obras, e
Transportes Terrestres, com imagens relacionadas a estes temas. Grande parte das
fotografias era de paisagens. Concentrando nossa fundamentação teórica no conceito
de paisagem do geógrafo Milton Santos, repartimos a comunicação em três partes:
abordagem do conceito de paisagem; a fotografia da paisagem e sua interpretação
geográfica; as fotografias na pesquisa científica em Geografia. O autor define a
paisagem como tudo aquilo que nós vemos, o que nossa vista alcança, contendo a
dimensão da percepção, daquilo que chega aos sentidos. Através da observação,
análise e interpretação da paisagem, conhecemos o espaço geográfico, objeto desta
ciência. Para exemplificar, citamos a questão do turismo e do mercado imobiliário,
fenômenos estudados pela Geografia, onde a paisagem aparece como um novo tipo
de obra de arte, ou também organizada como um espetáculo para fins de especulação
imobiliária. O incremento do valor de mercado das paisagens é possível através das
fotografias. Antes delas, a pintura procurou mostrar paisagens, fidedignas ou não, da
realidade. A fotografia difundiu-se rapidamente como modo efetivo de representação
das paisagens, sendo verdadeiramente a imagem do real. Quando utilizadas para
auxiliar no conhecimento do espaço geográfico através da análise e interpretação da
paisagem, são importantes ferramentas que o geógrafo pode empregar. A
comunicação foi finalizada mostrando e avaliando algumas imagens usadas em nossa
tese de Doutorado, cujo tema aborda os sistemas de transportes terrestres da Região
Metropolitana de São Paulo.
Palavras-chave: paisagem; fotografia; Geografia; pesquisa científica.
Abstract:
The meeting "Photos: Plural Singularities" was organized from a photographic
exhibition in FATEC-Tatuapé. Our communication, "Photography in the
1
Doutora em Ciência, área de concentração Geografia Humana pela USP, Professora no Curso de
Transportes Terrestres na FATEC-Tatuapé.
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geographical sphere" could go several ways, considering that, in geographical
science, photography is an important technique used both in cartography, but also for
reflection on the landscape, admirable reference to geographic method. We opted in
our communication for this last scope. The inspiring exhibition featured photographs
which referred to the three courses at FATEC-Tatuapé: Constructions of Buildings,
Control Works, and Land Transport with images related to these topics. Much of the
photographs was of landscapes. Concentrating our theoretical foundation in the
concept of landscape geographer Milton Santos, we share the communication into
three parts: approach the concept of landscape; landscape photography and its
geographical interpretation; photographs in scientific research in Geography. The
author defines the landscape like everything what our eyes can see, the perception
dimension, what comes to the senses. Through observation, analysis and
interpretation of the landscape, it is possible to know the geographical space, the
object of this science. To illustrate, we cite the issue of tourism and the real estate
market phenomena studied by geography, where the landscape appears as a new kind
of art work, or also as a spectacle organized for the purpose of land speculation. The
increase in the market value of landscapes is possible through the photographs.
Before them, painting tried to show real landscapes, reliable or not. The photo
quickly spread as an effective mode of representation of landscapes, truly the image
of being real. When used to aid the understanding of geographical space through
analysis and interpretation of landscape, are important tools that can employ the
geographer. The communication was finished showing and evaluating some images
used in our Doctoral thesis, which addresses the issue of land transport systems in the
Metropolitan Region of São Paulo.
Keywords: landscape; photograph; Geography; scientific research.
1. Introdução
Este artigo foi o resultado de uma reflexão realizada a partir de uma exposição
fotográfica realizada entre 03 de junho a 28 de agosto de 2014 no saguão do prédio da
Fatec Victor Civita – Tatuapé, intitulada “Olhar: Uma Visão de Edifícios, Obras e
Transportes Terrestres sob a Ótica das Lentes”2. Desta exposição nasceu o Encontro
denominado “Fotografias: Plurais Singularidades”, organizado pelo Prof. Dr. Ricardo
Iannace, onde proferimos comunicação na mesa-redonda “A fotografia nas esferas
midiática, cibercultural e geográfica”.
2
A exposição continha duzentas fotografias, produzidas pelos alunos do Curso de Comunicação Visual das
ETEC´s Albert Einstein, Carapicuíba, Carlos de Campos, José Rocha Mendes, Tiquatira e Vila
Formosa. Curadora da Mostra: Profa. Cláudia Bruzadin, ETEC Carlos de Campos.
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Nossa comunicação, “A fotografia na esfera geográfica”, poderia percorrer vários
caminhos. Na ciência geográfica, a fotografia constitui-se como um referencial técnico
imensurável. Utilizada como instrumento de conhecimento e análise do espaço geográfico,
é tanto base para a confecção de cartas, mapas e croquis, como também para a reflexão
sobre a categoria paisagem, tão cara ao método geográfico.
Optamos em nossa comunicação por este último escopo, e, para tanto, dividimos a
reflexão em três partes: formulações sobre o conceito de paisagem; a fotografia da
paisagem e sua interpretação geográfica; as fotografias na pesquisa científica em
Geografia.
Justifica-se nossa opção a partir dos conceitos de paisagem de Santos (1996) e de
Carlos (1991). A paisagem pode ser entendida como uma manifestação empírica dos
fenômenos, revelando a dimensão do processo de produção do espaço, elemento
historicamente visível das relações sociais. A exposição inspiradora do Encontro trazia
fotografias que remetiam aos três cursos da Fatec Victor Civita – Tatuapé, a saber,
Construções de Edifícios, Controle de Obras, e Transportes Terrestres, com imagens
relacionadas a estes temas. As fotografias mostravam paisagens reveladoras de um espaço
geográfico territorializado na Região Metropolitana de São Paulo, trazendo suas
características mais profundas de ambiente historicamente construído, constantemente
transformado, reconstruído e imbricado de relações sociais inerentes a esta sociedade que o
compõe, e ainda àquelas que fizeram parte de sua formação. Portanto, as paisagens
expostas nas fotografias da exposição confluem com os conceitos dos autores pesquisados.
2. Metodologia
O caminho percorrido para criar este artigo foi, inicialmente, a visita à exposição já
referida, “Olhar: Uma Visão de Edifícios, Obras e Transportes Terrestres sob a Ótica das
Lentes”, onde observamos que os participantes mostraram através das lentes suas
impressões sobre elementos da construção civil e dos meios, vias e terminais de transportes
metropolitanos. Sensibilizados pelas imagens, grande parte delas de paisagens,
concentramos nossa fundamentação teórica em alguns autores que estudaram esta categoria
geográfica e procuramos sintetizá-los para apresentação a um público formado em sua
maioria por não geógrafos, que não dominam os conceitos geográficos.
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Na sequência, pesquisamos sobre a interpretação geográfica da fotografia da
paisagem para entrar no tema proposto, “A fotografia na esfera geográfica”, sendo
necessário, para tanto, mostrar e dialogar com fotografias de paisagens, que acompanharam
nossa apresentação oral na mesa redonda e que também ilustram este texto.
Por fim, discorremos sobre o uso de fotografias nas pesquisas científicas em
Geografia, especialmente as utilizadas por nós na pesquisa de Doutorado, intitulada
“Sistemas de transportes terrestres de passageiros, em tempos de reestruturação produtiva,
na Região Metropolitana de São Paulo”.
3. Fundamentação Teórica
De acordo com Tiradentes (2014), “Trabalhar o conceito de paisagem não é um
fato simples, pois existe uma variedade de conceitos e terminologias que, na maioria das
vezes, representam as mais distintas escolas do pensamento geográfico.” Destarte,
fundamentamo-nos no conceito de paisagem do geógrafo Milton Santos (1996). Para ele,
paisagem é tudo aquilo que nós vemos, o que nossa vista alcança (Fotografia 1). É o
domínio do visível, aquilo que a vista abarca.
Fotografia 1 – Cataratas do Iguaçu, PR, Brasil – 16/11/2012
Autoria: Flávia Ulian
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O autor acrescenta que a paisagem é formada de volumes, cores, movimentos,
odores, sons, etc. Portanto, sua completa percepção se dá através de uma gama de
sensações. Assim, ela é um conjunto heterogêneo de formas naturais e artificiais, porém
não contém apenas objetos concretos, mas também odores e sons que podem ser sentidos
juntamente com a visão dos objetos. A dimensão da paisagem é a dimensão da percepção,
o que chega aos sentidos.
A paisagem toma escalas diferentes de acordo com o lugar de onde a observamos,
de um local mais elevado, como pode ser observado na Fotografia 1, ou de um plano
inferior, como na Fotografia 2.
Fotografia 2 – Cataratas do Iguaçu, PR, Brasil – 16/11/2012
Autoria: Flávia Ulian
Santos (1996) explica que uma paisagem é uma escrita sobre a outra – é um
conjunto de objetos que têm idades diferentes, herança de muitos diferentes momentos. As
Fotografias 3 e 4 ilustram esta característica da categoria paisagem. Trata-se do Vale do
Anhangabaú, em São Paulo, Brasil. A Fotografia 3 data dos anos 1960. Observa-se, no
primeiro plano, a saída de modelos antigos de automóveis da passagem subterrânea
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popularmente conhecida como Buraco do Ademar, inaugurada em 1950, na gestão do
então prefeito Ademar Pereira de Barros. Nas laterais, observam-se várias construções,
sendo a primeira à direita o edifício Alexandre Mackenzie, inaugurado em 1929 e sede da
empresa de Energia Light, ladeada por palmeiras. Ao fundo, avista-se o Viaduto do Chá,
inaugurado em 1892.
Fotografia 3 - Vale do Anhangabaú, São Paulo, Brasil, nos anos 1960
Fonte: http://antigosverdeamarelo.blogspot.com.br/2010/05/vale-do-anhangabau.html Acesso em 27-10-2014
Se hoje formos ao mesmo lugar, vislumbraremos uma paisagem muito semelhante,
mas não igual. Logicamente há novas construções no local. Os automóveis foram
modernizados. Se estivermos lá, ouviremos mais barulho, ou não, dependendo do horário,
do dia da semana. Porém, há elementos que se mantiveram na paisagem, como pode ser
visto pela Fotografia 4. Há árvores e edifícios que permanecem na paisagem, como
rugosidades de outros tempos (SANTOS, 1996). O autor denomina a paisagem como um
mosaico, mas com funcionamento unitário. Há formas à espera de uma reutilização, e há
formas novas também.
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Fotografia 4 - Vale do Anhangabaú, São Paulo, Brasil, em 2011
Fonte: http://fuievolteipracontar.blogspot.com.br/2011_08_01_archive.html - Acesso em
27-10-2014
A Fotografia 4 ilustra o mesmo Vale do Anhangabaú, mas agora no século XXI, em
2011. As mesmas palmeiras e o edifício Alexandre Mackenzie, hoje funcionando como um
centro de compras, o Shopping Ligth, podem ser ainda apreciados na paisagem. O Viaduto
do Chá também permaneceu. Agora há um jardim sob ele. Evidenciamos o processo
histórico de produção do espaço urbano do Vale, embutidas as relações sociais dele
pertinentes (CARLOS, 1991).
4. A fotografia da paisagem e sua interpretação geográfica
O conceito de paisagem apresentado no item anterior foi ilustrado com
fotografias. Cabe lembrar que o tema do artigo, porém, não é sobre paisagem, mas sobre
fotografia. Para o geógrafo, a fotografia representa a paisagem, que é uma das categorias
de análise da ciência geográfica, embora a paisagem seja mais do que se consegue ver na
fotografia, que não carrega consigo sons nem movimentos.
A análise da paisagem não é exatamente o fundamento da ciência geográfica, mas
é, pelo menos, o ponto de partida de suas observações. Mas para que serve, então, observar
a paisagem?
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Através da análise e interpretação da paisagem, conhecemos o espaço geográfico,
objeto desta ciência. Para ilustrar, citaremos a questão do turismo e do mercado
imobiliário, que são fenômenos estudados pela Geografia. Na divulgação de produtos
turísticos, mostra-se aos consumidores uma paisagem-espetáculo. Vistas de alguns pontos,
as paisagens podem ser mais belas do que vistas de outros. Nestes lugares privilegiados,
instalam-se belas mansões, condomínios e hotéis. Classifica-se a paisagem como um novo
tipo de obra de arte, passível de ser apreciada e vivenciada na experiência turística.
Multidões saem a fotografá-las e essa sensibilidade pelas belas paisagens “grandiosas,
amáveis ou pitorescas” é uma das maiores características dessa sociedade do espetáculo
(DEBORD, G. apud LACOSTE, 1995, p. 118). Licenças de construções são obtidas se os
projetos forem adequados à paisagem e se as novas construções não atrapalharem a vista.
Fotografias 5 – Hotel Pullman e 6 – Paisagem do Parque Ibirapuera vista a partir do Hotel
Pullman, São Paulo, Brasil
Fonte: http://www.tripadvisor.com/LocationPhotoDirectLink-g303631-d299401i76529644-Pullman_Sao_Paulo_IbirapueraSao_Paulo_State_of_Sao_Paulo.html#76529631-Acesso em 18-08-2014
A paisagem também é organizada como um espetáculo para fins de especulação
imobiliária e o desenvolvimento do valor de mercado das paisagens é possível através das
fotografias. As belas paisagens não são mais apenas naturais, mas também urbanas e a
especulação imobiliária ocupa-se muito bem delas. Há inúmeros estudos de Geografia
Urbana sobre este tema.
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Lacoste (1995, p. 118) questiona:
Mas o que é uma bela paisagem?Um falso problema?Tudo estaria
dependendo do condicionamento operado pela mídia que reproduziria
incansavelmente certos modelos que ditariam nossas sensações estéticas
sobre as paisagens?Mas quais são esses modelos e por quais razões os
consideraram belos antes de serem reproduzidos?Quais sentimentos são
induzidos e por quais conotações?
O autor pensa que essas questões são concernentes a todo o mundo, mas por que se
trata de paisagens, e não de corpos ou rostos, tornam-se relevantes para a análise
geográfica – como o saber-pensar o espaço.
Tiradentes (2014) informa que o conceito de paisagem surgiu no século XV, nos
países baixos (landskip). Na Itália, o termo paesaggio “estava agregado como uma forma
de pintura.” (TIRADENTES, 2014, p. 3). O autor explica que pintores e artistas
inspiravam-se em paisagens, sendo que sua concepção estava enraizada na pintura e na
poesia, estando os aspectos naturais representados de forma artística.
Assim foi a descoberta da paisagem: as pinturas de paisagens apareceram pela
primeira vez nas sociedades ocidentais na Renascença, inicialmente nos fundos dos
quadros. Provavelmente os pintores europeus passaram a conhecer os rolos de gravuras dos
chineses e japoneses, trazidos por mercadores ou monges, e se inspiraram a pintar
paisagens. Inicialmente eram paisagens simbólicas, montadas como cenários de teatro, não
havendo muita relação com paisagens reais (LACOSTE, 1995). O autor prossegue
explicando que nos séculos XVI e XVII a paisagem firmou-se como um dos principais
aspectos da arte pictórica. Nesta época, os pintores viajavam, percorriam campos,
escalavam montanhas, faziam croquis e esboços, encontrando elementos de inspiração e,
nos seus ateliers, compunham as pinturas da paisagem (Fotografia 7). Com isso, Lacoste
(1995) quer dizer que os artistas alteravam as paisagens de acordo com sua imaginação e
gosto.
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Fotografia 7 - Lisboa - Chafariz d'El Rey (1570-1580) – autoria desconhecida.
Fonte: http://www.theapricity.com/forum/showthread.php?23848-Portuguese-people/page5
Acesso em 18-08-2014
Já no final do século XIX os pintores começaram a se inspirar no conjunto de uma
paisagem real, não exprimindo exatamente todos os detalhes, todas as linhas e planos, mas
criando a obra de arte a partir de uma realidade global (Fotografias 8 e 9).
Fotografias 8 e 9 - Pinturas do Mont Sainte-Victoire - Paul Cezanne, 1897.
Fontes:http://aidobonsai.com/2010/10/29/galeria-de-paul-cezanne/cezanne1897/(Fotografia 8) e
http://seligaartista.blogspot.com.br/2011/09/pos-impressionismo.html (Fotografia 9) Acesso em 18-08-2014
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De acordo com Lacoste (1995), essa nova preocupação pelas paisagens reais é
contemporânea do aparecimento e desenvolvimento da fotografia, que foi também o
surgimento de uma nova arte. Para o autor, a fotografia se impôs rapidamente como modo
essencial de representação das paisagens. Era a imagem do real. A fotografia, ao mesmo
tempo que transformou a sensibilidade, a impôs em um fenômeno de massa e propagou-se
rapidamente por todos os lugares. Foi uma verdadeira mudança de visão do mundo: a
transformação em valores estéticos (e em valor de mercado) de paisagens reais que a
maioria dos humanos tinha até então observado sem considerar sua beleza.
No passado, algumas paisagens raras haviam sido exibidas apenas por serem
bonitas, como grandes perspectivas urbanas e belos jardins. Porém, hoje, paisagens que
ninguém havia destacado são consideradas sob uma visão estética e julgadas dignas de
serem objeto de uma representação, de uma imagem – como as paisagens fotografadas para
a exposição “Olhar: Uma Visão de Edifícios, Obras e Transportes Terrestres sob a Ótica
das Lentes”, inspiradora da mesa redonda, ponto de partida para este artigo. Aqui,
introduzimos o terceiro e último ponto de nossa abordagem.
5. As fotografias na pesquisa científica em Geografia
Fotografias 10, 11, 12 e 13 - Linha Vermelha do Metrô – Embarque na Plataforma da
Estação Barra Funda, São Paulo/SP- 22/01/08.
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Autoria: Osvaldo Bruno Meca
O trabalho científico geográfico, ao se utilizar da categoria paisagem para análise
de um fenômeno, tem grande amparo na fotografia, que se revela um importante
instrumento, auxiliando na exposição daquilo que se quer explicar e interpretar. As
Fotografias 10, 11, 12 e 13 foram utilizadas em nossa tese de Doutorado intitulada
“Sistemas de transportes terrestres de passageiros em tempos de reestruturação produtiva
na Região Metropolitana de São Paulo”. Estas fotografias foram usadas para ilustrar a tese
em item que explica o tema da implantação do Metrô em São Paulo e suas características.
A análise em questão referia-se à enorme quantidade de pessoas que superlotam as
plataformas da estação de Metrô Barra Funda, da Linha Vermelha. Tão logo o trem chega,
as plataformas se esvaziam, num frenético movimento de ir e vir, tão pertinente à imagem
do ser paulistano. As Fotografias 14, 15 e 16 também têm este propósito. A sequência de
imagens retratando a chegada do metrô na plataforma da Estação Sé, onde um jovem de
blusa azul demonstra cansaço, remete à discussão sobre o desgaste do trabalhador,
obrigado a enfrentar o transporte público para vencer as longas distâncias existentes na
metrópole paulistana, que impõe o deslocamento a qualquer custo. Aqui, as fotografias
pretendem elucidar melhor o texto. Estas fotografias captam o estado de desânimo e fadiga
da pessoa que enfrenta um cotidiano cansativo de trabalho e deslocamentos na metrópole
de São Paulo.
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Fotografias 14, 15 e 16 – Plataforma da Estação Sé de Metrô, São Paulo/SP – 05/06/2008
Autoria: Osvaldo Bruno Meca
Lacoste (1995) afirma que fotografar alguma coisa ou uma paisagem é a prova de
que esses objetos apresentam um certo interesse, uma certa excepcionalidade e a fotografia
passa a ilusão de que a imagem que ela produz é equivalente à visão direta. Com isso,
pretendemos mostrar que a fotografia da paisagem ilustra, na pesquisa científica
geográfica, detalhes do objeto de estudo do pesquisador, ajudando-o na elucidação de seu
problema de pesquisa.
Fotografia 17 - Linha Verde – Plataforma da Estação Alto do Ipiranga / 22/12/07
Autoria: Osvaldo Bruno Meca
A Fotografia 17 ilustra a beleza e modernidade da Estação Alto do Ipiranga. Já a
Fotografia 18, a ferrovia mal cuidada, com seu entorno, também mal cuidado. Ambas
constam também em nossa tese.
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Fotografia 18 - Município de São Paulo – Antiga indústria abandonada, às margens de
ferrovia -05/03/08
Autoria: Flávia Ulian
6. Considerações finais
Consideramos de extrema pertinência a utilização da fotografia como apoio à
ciência geográfica na análise de seus objetos de pesquisa, tendo em vista que a fotografia
remete à paisagem, categoria essencialmente utilizada pelos geógrafos. A paisagem é tudo
aquilo que nossa vista alcança, acrescidas as sensações de outros órgãos dos nossos
sentidos, como o olfato e a audição. Verificamos que, através da análise e interpretação da
paisagem, conhecemos melhor o espaço geográfico, objeto da ciência geográfica.
A paisagem, organizada como um espetáculo para fins de especulação imobiliária e
marketing turístico, é disseminada pela sociedade através das fotografias. Já antes dela,
pintores e artistas inspiravam-se em paisagens.
A fotografia propagou-se rapidamente por todos os lugares, divulgando as
paisagens ao redor do mundo. Pessoas diferentes apresentam diversas versões do mesmo
fato. Profissionais de diferentes formações e o homem comum têm percepções diferentes
sobre a paisagem. As fotografias utilizadas para amparar a análise geográfica buscam,
através da interpretação da paisagem, aguçar o processo de percepção espacial. A
percepção é um processo seletivo de apreensão, a percepção não é ainda o conhecimento.
O conhecimento depende da interpretação e não está só na aparência (SANTOS, 1996).
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Logo, estimular que os jovens alunos das ETEC’s fotografassem cenas e paisagens
de situações relacionadas aos três cursos de graduação de tecnologia oferecidos pela
FATEC Tatuapé foi uma iniciativa bastante interessante do ponto de vista tanto artístico
quanto geográfico, pois, mesmo inadvertidamente, fez realizar o saber-pensar o espaço.
Conhecer melhor a metrópole através da interpretação de fotografias de suas paisagens foi
um dos grandes méritos da exposição.
7. Referências
AIDO BONSAI. http://aidobonsai.com/2010/10/29/galeria-de-paul-cezanne/cezanne1897/. Acesso em 18-08-2014.
BURACO DO ADEMAR. http://pt.wikipedia.org/wiki/Buraco_do_Ademar. Acesso em
08-11-2014.
CARLOS, Ana Fani A. A cidade. 1ª. Ed. São Paulo, Contexto, 1991. 98p.
LACOSTE, Yves. A quoi sert Le paysage?Qu’est-cequ’um beau paysage? In: ROGER,
Alain (sous La direction). La théorie du paysage en France (1974-1994) Seyssel:
Éditions Champ Vallon, 1995. (CollectionPays/Paysages, p. 42-73.). Tradução:
VENTURI, Luis Antonio Bittar. Para que serve a paisagem? O que é uma bela paisagem?
In: Boletim Paulista de Geografia (AGB), São Paulo, n. 79. Jul. 2003. p. 115-150.
PÓS-IMPRESSIONISMO. http://seligaartista.blogspot.com.br/2011/09/posimpressionismo.html. 20.09.2011. Acesso em 18-08-2014.
SANTOS, Milton. Metamorfoses do espaço habitado. 4. ed. São Paulo, HUCITEC,
1996. 124 p.
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ULIAN, Flávia. Sistemas de transportes terrestres de passageiros em tempos de
reestruturação produtiva na Região Metropolitana de São Paulo. São Paulo, 2008.
Tese de Doutorado em Geografia Humana, Departamento de Geografia da Faculdade de
Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo. 320 pp.
THE APRICITY. http://www.theapricity.com/forum/showthread.php?23848-Portuguesepeople/page5. 14.02.2011. Acesso em 18-08-2014
TIRADENTES, Leomar. Paisagem, pluriatividade e turismo no espaço rural. In: Anais
CITURDES – IX CONGRESSO INTERNACIONAL SOBRE TURISMO RURAL E
DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL, 2014, ECA – USP - Escola de Comunicação e
Artes da Universidade de São Paulo. Meio Digital.
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TRÊS CIDADES NO BRASIL ÓTIMAS PARA VIAJAR.
http://fuievolteipracontar.blogspot.com.br/2011_08_01_archive.html. 11.08.2011. Acesso
em 27-10-2014.
VALE DO ANHANGABAÚ. http://antigosverdeamarelo.blogspot.com.br/2010/05/valedo-anhangabau.html. 26.05.2010. Acesso em 27-10-2014.
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