a relação sociedade natureza e os problemas

A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO
DE 9 A 12 DE OUTUBRO
A RELAÇÃO SOCIEDADE NATUREZA E OS PROBLEMAS
DECORRENTES DA EXTRAÇÃO DE ARGILA PARA O FABRICO DE
CERÂMICA VERMELHA EM SOBRAL-CE
MARIA DE JESUS LINHARES ALVES 1
SIMONE FERREIRA DINIZ 2
Resumo:
A pesquisa apresenta uma discussão da relação sociedade natureza e a exploração das argilas, para
o fabrico de cerâmica vermelha no município de Sobral, região Norte do Estado do Ceará, em que
para a realização deste trabalho, os procedimentos metodológicos serão constituídos por pesquisas
bibliográficas e estudo de caso, em que ocorrerão visitas em campo, buscando mapear e delimitar as
áreas que são utilizadas na atividade de mineração e comprovar como se estabelecem essas
relações. Sendo assim, torna-se relevante compreender os processos de exploração que ocorrem por
meio das argilas para o fabrico de cerâmica vermelha e assim os resultados estarão reunidos na
dissertação, contribuindo de forma relevante para os estudos que são produzidos hoje sobre a
cidade.
Palavras-chave: cerâmica vermelha, rio, impacto.
Abstract: The research presents a discussion of the relationship between society and nature
exploration of clays for the red ceramic manufacturing in the city of Sobral, Ceará State North region in
which to carry out this work, methodological procedures will consist of literature searches and case
study, where occur visits in the field, seeking to map and define the areas that are used in the mining
activity and demonstrate how to establish these relationships. Therefore, it becomes important to
understand the working processes that occur through the clay for the manufacture of red ceramic and
so the results will be gathered in the dissertation, contributing significantly to the studies that are
produced today on the city.
Key-words: red ceramic, river, impact.
1 –Introdução
O presente trabalho visa contribuir para os estudos e pesquisas que são
realizadas sobre a cidade de Sobral-CE que está inserida na porção noroeste do
estado do Ceará, a 225 km de Fortaleza a mesma tem como via de acesso, a BR –
222, já no que confere a sua localização cartográfica está inserida nas latitudes
1
- Acadêmico do Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Estadual Vale do AcaraúMAG/UVA. E-mail de contato: [email protected].
2
Docente do Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Estadual Vale do Acaraú-MAG/UVA.
E-mail de contato: [email protected].
6529
A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO
DE 9 A 12 DE OUTUBRO
3°37‟30”S e 3°45‟00 S, e entre as longitudes 40°30‟00W e 40°37‟30”W.
Inserida na unidade geoambiental Depressão Sertaneja a cidade de Sobral
apresenta as características básicas dos sertões, superfície pediplanada, semiárida
ou subúmida seca truncanda, com rochas do complexo cristalino do pré-cambriano,
com níveis altímetricos de 100-250m, afloramentos rochosos com áreas erodidas e
com águas de subsuperficie (Souza, 2005).
Atrelada a essas condições o clima predominante é o semiárido que
segundo Ab‟ Saber (1980) o nordeste como um todo se constitui numa região de
condição climática marcadamente azonal, ao cinturão próprio das faixas áridas
tropicais e subtropicais do globo, esse tipo de clima conforme Souza (2000)
sobressai-se como fato proeminente a existência de uma estação chuvosa de menor
duração e de uma estação seca mais prolongada, onde a formação das condições
de chuvas se dá pela influência da ação da Zona de Convergência Intertropical
(ZCIT) num curto período chuvoso ocorrendo nos meses de fevereiro a maio.
Desse modo, a influência ocorre diretamente na formação de solos rasos e
pedregosos, pela pouca quantidade de chuvas em que poucas são as heranças
pedológicas de fases climáticas pretéritas mais úmidas, “temos solos em geral
delgados e imaturos” Silva e Correa (2014, p 151).
Nesse contexto encontramos três tipos de solos, conforme o Sistema
Brasileiro de Classificação de Solos (SIBCS, 2006), os Neossolos Flúvicos
identificados na calha dos riachos, os Neossolos Litólicos que são solos pouco
evoluídos com pedregosidade e/ou rochosidade, podendo ser vinculados aos
afloramentos rochosos e os Luvissolos que apresentam argila de alta atividade
superficial devido à acumulação nos horizontes sub-superficiais, imperfeitamente
drenados, com pouca profundidade, podendo apresentar pedregosidade superficial.
“Ocorrem em relevo plano a suavemente ondulado na superfície sertaneja” (LIMA,
2012, p. 111).
2 – Concepções teóricas
As atividades de mineração estão diretamente relacionadas à alteração das
paisagens naturais, neste contexto, Guerra e Marçal (2006, p. 47), enfatizam que
6530
A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO
DE 9 A 12 DE OUTUBRO
“quase todas as atividades humanas, na superfície terrestre, causam algum tipo de
modificação, sendo que a mineração talvez seja uma das que mais altera o relevo”,
ao se correlacionar com a perspectiva da gestão ambiental, Cunha, Mendes e
Sanchez (2003, p. 1) relatam que os processos geomorfológicos e as formas de
relevo “têm grande importância, pelo fato de constituírem o substrato físico sobre o
qual se desenvolvem as atividades humanas, como por responderem, muitas vezes
de forma agressiva, às alterações ocorridas”.
Ao que se entende a extração e o uso de minérios se destacam como uma
das mais antigas interações do homem moderno com seu meio ambiente, neste
contexto destacam-se os depósitos de argilominerais empregados, por exemplo, na
construção civil e na confecção de uma infinidade de utensílios domésticos.
A formação desses depósitos está relacionada, principalmente, a ambientes
sedimentares aquáticos como rios, lagos, estuários e oceanos. As planícies aluviais
são produzidas a partir de processos físicos de deposição dos rios numa variedade
de sub-ambientes sedimentares.
Nas planícies dos rios estão registradas as mudanças históricas do ambiente
ao longo do tempo em que ela se formou (Lewin, 1996). Dessa forma as planícies
aluviais são compostas de variados depósitos de canal e de transbordamento,
sedimentos esses que são estocados nas planícies aluviais atuais ou em depósitos
antigos.
As planícies normalmente se formam ao longo de um considerável período e
refletem processos que são transgressivos através do tempo. Os depósitos da
planície de inundação dos rios são removidos principalmente pela erosão das
margens, através do processo de migração lateral do canal. Entretanto, a erosão
também pode ser causada pela ação antrópica, no caso de degradação ambiental
decorrente da extração de argila tem sido tema de estudos, valendo destacar os
realizados no Ceará por Carneiro Filho (1999), Parahyba et al. (2000) e Pinheiro
(2002), que constataram a gravidade do problema. Os efeitos negativos dessa
atividade, quando realizada desordenadamente, sem planejamento prévio são os
mais adversos, sobressaindo-se a erosão e a consequente destruição do solo, o que
acarreta perdas de habitat e da biodiversidade, além da descaracterização da
paisagem natural.
6531
A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO
DE 9 A 12 DE OUTUBRO
3- Metodologia
I.
Levantamento Preliminar.
Foram
realizados
levantamentos
para
sistematização
dos
principais
processos e características do meio físico (Quadro 1 e 2 ) através de
observações de campo associado à análise de dados disponíveis (mapas
geológicos, topográficos, fotografias aéreas etc.) com o intuito de conhecer
trabalhos e projetos já desenvolvidos anteriormente sobre a área de estudo.
Relevo
Solos
Vegetação
Bacia
hidrográfica
Planície Fluvial,
Depressão
Sertaneja e
Maciços
Residuais
Luvissolos,
Neossolos,
Planossolos.
Caatinga Arbustiva
Aberta, Floresta Mista
Dicotillo-Palmácea,
Floresta Caducufólia
Espinhosa e Floresta
Subcaducifólia Tropical
Pluvial
Acaraú
Quadro 1:Características Ambientais(Fonte: Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos
Hídricos (FUNCEME) e Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará (IPECE). Adaptado
pelo autor.
Clima
Temperatura média (ºC)
Período chuvoso
Tropical Quente Semi-árido e
Tropical Quente Semi-árido
Brando
26° a 28°
janeiro a maio
Quadro 2: Características Fisiográficas (Fonte: Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos
Hídricos (FUNCEME) e Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará (IPECE). Adaptado
pelo autor
II. Etapa de Campo
Visa estabelecer e identificar os parâmetros a serem considerados na
compartimentação geológica (nível freático, profundidade do depósito de argila,
drenagem, porosidade, estratificação das camadas, espessura, textura, mineralogia,
dentre outros). No campo, após a definição dos pontos a serem investigados, serão
feitas amostragens, principalmente por investigações de trincheiras. Nesta
6532
A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO
DE 9 A 12 DE OUTUBRO
investigação será utilizada principalmente uma ferramenta do tipo trado, bem as
coletas de solo que serão analisadas pelo método (EMBRAPA, 1997). Desse modo
para os trabalhos de campo serão utilizados ainda equipamentos usuais, tais como,
bússola, GPS, altímetro, ferramentas, acessórios de amostragem.
4- Resultados preliminares
Desse modo, frente a esses apontamentos foi realizada uma visita a
Autarquia Municipal do Meio Ambiente (AMMA) órgão ambiental responsável por
monitor e expedir licenciamentos de controle ambiental, e a mesma registrou uma
licença de operação, referente à extração de substância mineral-argila- numa área
de 10,00 (dez hectares), na planície fluvial do rio Acaraú, na localidade denominada
Fazenda Junco – Marrecas, no município de Sobral – CE, em que consta processo
nº AMMA 2115/2011.
Portanto, esse dado frente a posteriores visita a campo ajudaram a
elaboração dos dados que serão interpretados no decorrer da pesquisa, entendo
que na região Nordeste o segmento produtivo de Cerâmica está inserida dentre as
principais indústrias tradicionais tornando-se imprescindível identificar e quantificar
as áreas que são utilizadas nessa atividade de mineração, construindo assim um
mapeamento de ordem ambiental sobre a situação atual desse cenário na cidade de
Sobral-Ce.
5- Referências
AB‟SABER, A. N. Problemática da desertificação e da savanizacão no Brasil
intertropical. Instituto de Geografia, USP, (geomorfologia, nº 53), São Paulo, 1977.
AMARAL FILHO, Jair do. Novo Ciclo de Investimento e Inovação Tecnológica no
Nordeste, o caso do Setor de Cerâmica Vermelha, Banco do Nordeste, Fortaleza,
1998.
ANICER. Associação Nacional da Indústria Cerâmica. Manuais. Bloco. Rio de
Janeiro, 2002.
6533
A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO
DE 9 A 12 DE OUTUBRO
ASSIS, L.F. Especulação imobiliária e segregação socioespacial na cidade de
Sobral. In. HOLANDA,V.C.C. AMORA, Z.B (Org.) Leituras e saberes sobre o urbano.
Cidades do Ceará e Mossoró no Rio Grande do Norte. Fortaleza: Expressão Gráfica.
2010. 264p.
BERTRAND, G. Paisagem e Geografia Física Global: esboço metodológico.
Cadernos de Ciências da Terra, São Paulo, n.13, 1972.
BRANCO, Samuel Murgel. O meio ambiente em debate. São Paulo: Moderna, 1997.
95p. (Coleção Polêmica).
BRASIL, Ministério de Minas e Energia- MME. Relatório Técnico 32. Perfil da Argila
para o fabrico de Cerâmica Vermelha. Setembro de 2009. Disponível em :
www.mme.gov.br/sgm/...duo.../P23_RT32_Perfil_da_Argila.pdf.
Acessado
em
setembro de 2012.
BRÜSEKE, F. J. Risco social, risco ambiental, risco individual. Ambiente &
Sociedade. Campinas, v. 1, n. 1, p. 117-134, 1997.
CARNEIRO FILHO, A. Impactos da mineração e procedimentos técnicos de
reabilitação de áreas degradadas na região metropolitana de Fortaleza, Estado do
Ceará. 1999. 167f. Dissertação (mestrado em geografia). Centro de Ciência e
Tecnologia, Universidade Estadual do Ceará - UECE, Ceará, 1999.
CHRISTOFOLETTI, S. R. 1999, „Estudo mineralógico, químico e textural das rochas
sedimentares da formação Corumbataí “Jazida Cruzeiro” e suas implicações nos
processos e produtos cerâmicos‟, Dissertação (Mestrado em Geologia Regional) Instituto de Geociências e Ciências Exatas, Universidade Estadual Paulista, Rio
Claro.
COLTURATO, S. C. O. 2002, „Aspectos e impactos ambientais da mineração de
argila na região de Rio Claro e Santa Gertrudes, SP: Proposta metodológica para
ponderação de impactos negativos‟. Dissertação (Mestrado em Geociências e Meio
Ambiente) - Instituto de Geociências e Ciências Exatas, Universidade Estadual
Paulista, Rio Claro, 137 pp.
CORREIA FILHO. F. L. Projeto Avaliação de Depósitos Mineral para a Construção
Civil PI/MA. Teresina: CPRM, 1997. v.1.
CUNHA, C. M. L.; MENDES, I. A.; SANCHEZ, M. C. 2003, „A cartografia do relevo:
6534
A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO
DE 9 A 12 DE OUTUBRO
uma análise comparativa de técnicas para a gestão ambiental‟. Revista Brasileira de
Geomorfologia, Uberlândia, v. 4, n. 1, pp. 1-9.
EMBRAPA. Centro Nacional de Pesquisa de Solos. Manual de métodos de análise
de solos. 2 ed. rev. e atual. Rio de Janeiro: EMBRAPA, 1997.212p.
EMBRAPA. Centro Nacional de Pesquisa de Solos. Sistema Brasileiro de
Classificação de Solos. Brasília: Embrapa Produção de Informação; Rio de Janeiro:
Embrapa Solos. 2006. 306p.: il.
GUERRA, A. J. T.; MARÇAL, M. S. 2006, „Geomorfologia ambiental‟, Bertrand Brasil,
Rio de Janeiro.
GUERRA, Antônio Teixeira. Recursos Naturais do Brasil.3 Ed. Rev. Atual. Rio de
Janeiro, IBGE,1980.
KOPEZINSKI, Isaac. Mineração x Meio ambiente: considerações legais, principais
impactos
ambientais
e
seus
processos
modificadores.
Porto
Alegre:
Ed.
Universidade/ UFRGS, 2000.
LEWIN, J. (1996) Floodplain construction and erosion. In Petts, G. Calow, P. (eds),
River Flows and Channel Forms. Blackwell Scince, p.220.
MARIANO NETO, Joaquim; Mineração e Meio ambiente: Um problema para o
município de Sobral. Revista Casa da Geografia de Sobral, ano 1, nº1, 1999.
MEYER, Murilo Machado. Gestão Ambiental no setor mineral: um estudo de caso.
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Engenharia de
produção. Florianópolis: UFSC, 2000.
MOREIRA, Ruy. O que é Geografia. Coleção Primeiros Passos, São Paulo:
Brasiliense, 1985.
Nascimento, F. R. Degradação ambiental e desertificação no Nordeste brasileiro: o
contexto da bacia hidrográfica do Acaraú-Ce. 2006, 325p. Tese apresentada no
programa de Pós-Graduação em Geografia na Universidade Federal Fluminense.
Niterói-RJ
PINHEIRO, F. S. A. Impactos da extração de argila na planície aluvial do rio
Jaguaribe. Fortaleza, 2002, 87f. Dissertação (Mestrado em Desenvolvimento e Meio
Ambiente), UFC, Fortaleza, 2002.
SOTCHAVA, V. B. O estudo de geossistemas. Métodos em Questão, n. 16, IGEOGUSP, 1977.
6535
A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO
DE 9 A 12 DE OUTUBRO
SOUZA, E. R; FERNANDES, M. R. Sub-bacias hidrográficas: Unidades básicas para
o planejamento e a gestão sustentáveis das atividades rurais. Informe Agropecuário,
Belo Horizonte, V.21n207, p15-20, 2000.
SOUZA, Marcos J. N. Compartimentação territorial e Gestão Regional do Ceará, Ed.
Funceme, Fortaleza, 2000.
SOUZA, Marcos J. N. Geomorfologia e Condições Ambientais dos Vales do AcaraúCoreaú (CE). Tese de Doutoramento. Universidade de São Paulo, Ed. Do Autor,
1981.
TRICART, J. Ecodinâmica. Rio de Janeiro: Fundação IBGE, 1977.
VESENTINI, J. W. Geografia, natureza e sociedade. São Paulo: Contexto,1992.
Coleção Repensando a Geografia. 3ª Ed.
6536