perfil respiratório e atuação da fisioterapia em crianças com

PERFIL RESPIRATÓRIO E ATUAÇÃO DA FISIOTERAPIA EM CRIANÇAS
COM CÂNCER: UMA REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
Juliana de Paiva Bolzan ₁ , Cláudia Beuter ₂
₁Acadêmico do Curso de Fisioterapia - Centro Universitário Franciscano – UNIFRA – Santa Maria – RS.
₂Docente do Curso de Fisioterapia - Centro Universitário Franciscano – UNIFRA – Santa Maria – RS.
Resumo: A neoplasia infantil é relacionada a um grupo de várias doenças que possuem em comum a proliferação
desordenada de células anormais. As restrições nas atividades de vida diárias (AVD´s) nas crianças com câncer
promovem a manutenção da inatividade e a falta de condicionamento físico, podendo atingir vários órgãos e sistemas,
incluindo o respiratório, o que facilita distúrbios na ventilação pulmonar. A fisioterapia aplicada à oncologia surge,
como um meio de preservar, manter e restaurar a integridade cinético funcional dos órgãos e sistemas do paciente,
bem como de prevenir os distúrbios causados pelo tratamento da doença. O presente trabalho utiliza o referencial da
pesquisa bibliográfica, entendida como o ato de indagar e de buscar informações sobre determinado assunto.
Palavras Chave: Neoplasia infantil, Fisioterapia Oncológica, Ventilação Pulmonar.
Abstract:The childhood cancer is
related
to a group
of
several diseases that
have in
common
the uncontrolled proliferation of abnormal cells. Restrictions on activities of daily living(ADLs) in children with
cancer promoting the
maintenance
of inactivity
and
deconditioning, can
reach various
organs and
systems, including respiratory disorders which makes it easier for ventilation. Physical therapy applied to
oncology appears as a means to preserve, maintain and restore the integrity of the kinetic functional organs and
systems of the patient as well as to prevent disturbances caused by treatment of the disease. This work uses the
reference of literature, understood as the act of asking and seek information about something.
Keywords: Childhood malignancy, Oncology Physiotherapy, Pulmonary Ventilation.
INTRODUÇÃO
A neoplasia infantil é relacionada a um
grupo de várias doenças que possuem em comum a
proliferação desordenada de células anormais,
determina, em geral, uma melhor resposta aos
métodos terapêuticos atuais [1].
Hoje
em
dia,
os
atuais
métodos
podendo ocorrer em qualquer local do organismo,
terapêuticos para a intervenção das neoplasias
no entanto as leucemias, os tumores do sistema
malignas incluem as ressecções cirúrgicas, a
nervoso central e os linfomas são as mais
radioterapia, a quimioterapia e a hormonioterapia,
frequentes na infância. [1]
tendo como objetivos aumentar as taxas de
Toda neoplasia maligna que acomete
sobrevida, minimizando os efeitos tardios do
indivíduos menores de 15 anos é considerada
tratamento e reinserir a criança na sociedade com
câncer infantil, sendo a leucemia a mais comum
qualidade de vida [4,5]
[2]. O câncer pediátrico representa de 0,5 a 3% de
todos os tumores da população mundial [3].
Mesmo com a evolução no tratamento das
neoplasias, as novas terapias executadas ainda
O câncer da criança difere do câncer do
provocam uma série de efeitos colaterais, que
adulto, pois geralmente afeta as células do sistema
comprometem muitas funções orgânicas de forma
sanguíneo e os tecidos de sustentação, enquanto
aguda ou tardia. Problemas musculoesqueléticos,
que no adulto atinge as células do epitélio que
circulatórios, cutâneos, respiratórios, urinários,
recobrem os diferentes órgãos. As doenças
intestinais e psicológicos, são efeitos decorrentes
malignas
do próprio repouso prolongado que são agravados
da
infância
por
serem
predominantemente de natureza embrionária, são
formadas de células indiferenciadas, o que
no paciente pela doença ou tratamento [6].
Perante a progressão do câncer infantil,
alterações físicas são manifestadas através da dor,
objetivo de aprimorar o conhecimento do perfil
respiratório na criança com câncer.
da anorexia, das náuseas, dos vômitos, da fadiga e
Com este propósito foi efetuada uma
da dispnéia [7]. Os pacientes iniciam um ciclo
revisão das publicações na área de saúde através da
vicioso de perda de massa muscular e redução nos
Biblioteca Virtual Bireme, tendo sido consultada a
níveis de atividade física, promovendo um estado
base de dados Scielo, no período de março a agosto
de fraqueza generalizada, em decorrência das
de 2011. Sendo utilizadas palavras chaves como
modificações
“oncologia”,
metabólicas
que
podem
estar
associadas a depressão psicológica e à diminuição
“perfil
respiratório”,
“câncer
infantil”, “fisioterapia oncológica”.
no apetite [8].
Visando ampliar o debate e discutir as
As restrições nas atividades de vida diárias
complicações do câncer, foram utilizados livros e
(AVD´s) promovem a manutenção da inatividade e
artigos nacionais e internacionais, entre os anos de
a falta de condicionamento físico, podendo atingir
1994 a 2008.
vários órgãos e sistemas, incluindo o respiratório, o
que facilita distúrbios na ventilação pulmonar.
RESULTADOS
Como decorrência, pode acontecer diminuição da
força ou resistência muscular e surgir de forma
O câncer é uma das patologias que atingem
antecipada a fadiga dos músculos ventilatórios [9,
as crianças, estando relacionada a um grupo de
10].
várias doenças que têm em comum a proliferação
A fisioterapia, dentre outras profissões da
desordenada de células anormais [1].
saúde, possui uma visão integral do ser humano.
Caracterizam-se
por
um
processo
Almeja tanto o bem estar físico como mental e
patológico que inicia quando uma célula anormal é
insere-se, com relevada importância em um plano
modificada pela mutação genética do DNA celular,
de assistência interdisciplinar para o tratamento do
ocorrendo replicação desordenada, ignorando as
paciente acometido pelo câncer.
sinalizações de regulação do crescimento no
Portanto, o objetivo deste trabalho é
ambiente circundante à célula [11].
realizar um levantamento bibliográfico a fim de
As leucemias, os tumores do sistema
esclarecer o perfil respiratório e o papel da
nervoso central e os linfomas são os tipos de
fisioterapia nas crianças com câncer.
câncer mais freqüentes na infância [1].
Durante o período de tratamento do câncer
MATERIAIS E MÉTODOS
infantil, algumas alterações cinéticas funcionais
podem ser observadas. Pode ocorrer à diminuição
O presente trabalho utiliza o referencial da
na amplitude dos movimentos ativo e passivo,
pesquisa bibliográfica, entendida como o ato de
além da redução de força muscular, atraso no
indagar e de buscar informações sobre determinado
desenvolvimento motor grosseiro, limitação da
assunto, através de um levantamento realizado em
mobilidade funcional e descondicionamento físico
base de dados nacionais e estrangeiros, com o
[12].
A manutenção da inatividade e a falta de
As
complicações
mais
frequentes
preparo físico causadas pelas restrições nas
(broncoaspirações, atelectasias e pneumonias),
AVD´s, influenciam vários órgãos e sistemas
encontradas
nos
incluindo o sistema respiratório, podendo causar
encefálicas,
levantam
distúrbios
Como
apresentarem alterações do padrão e das pressões
decorrência, pode acontecer diminuição da força
respiratórias, tanto por alterações relacionadas
ou resistência muscular e surgir de forma
diretamente com o controle do SNC sobre o
antecipada a fadiga dos músculos ventilatórios [9,
sistema respiratório quanto às alterações da
10]
própria musculatura respiratória [18].
na
ventilação
pulmonar.
pacientes
as
com
neoplasias
possibilidades
de
A fadiga é um sintoma relatado por 95%
Os Linfomas na região do mediastino e
dos pacientes em tratamento com quimioterapia ou
leucemias (principalmente quando acarretam a um
radioterapia. Podendo prejudicar a atuação das
estado
atividades e levar a efeitos negativos na qualidade
ocasionar
de vida [13, 14].
respiratória [19].
de
grande
imunossupressão),
complicações
ou
podem
insuficiência
Outro sintoma comum é a dispnéia,
Desta forma, os pacientes iniciam um ciclo
ocorrendo em 45 a 70% dos pacientes com câncer
vicioso de perda de massa muscular, resultando em
avançado, sendo definida como uma percepção
um estado de fraqueza generalizada, causada pelas
subjetiva e desconfortável de falta de ar quando a
modificações
demanda de oxigênio é maior que a oferta. Pode
associadas à depressão psicológica e à diminuição
ser decorrente de modificação no parênquima
no apetite [14].
metabólicas
que
podem
estar
pulmonar ou diminuição da trama vascular com
Os exercícios respiratórios para manter a
aumento do espaço morto resultante do tratamento,
expansão pulmonar e a mobilidade da caixa
de excesso de secreção, descondicionamento
torácica, promovem uma maior contração dos
físico, entre outros [15, 16].
músculos intercostais e do diafragma, tornam-se
A quimioterapia e a radioterapia podem
resultar
em comprometimento dos
importantes condutas no tratamento [17].
pulmões,
A
fisioterapia
tem
como
finalidade
levando à diminuição da caixa torácica, à dispnéia
principal à melhora da qualidade de vida dos
e à diminuição da tolerância aos exercícios, por
pacientes sem possibilidades curativas, diminuindo
decorrência da fibrose pulmonar e da pneumonite
os sintomas e promovendo sua independência
intersticial que são comuns nas crianças com
funcional. Para que isto ocorra é importante manter
câncer [17].
uma
A fisioterapia aplicada à oncologia surge,
comunicação
aberta
com
o
paciente,
familiares e demais profissionais envolvidos [20].
como um meio de preservar, manter e restaurar a
integridade cinético funcional dos órgãos e
CONCLUSÃO
sistemas do paciente, bem como de prevenir os
distúrbios causados pelo tratamento da doença
[1].
Conclui-se através deste trabalho, que os
trabalhos científicos incluindo a atuação da
fisioterapia nas neoplasias infantis são escassos,
sendo necessários maiores estudos na área.
REFERÊNCIAS
[1] BRASIL, Ministério da Saúde. Instituto
Nacional do Câncer. Particularidades do câncer
infantil.[S.l],
2008.
Disponível
em:
<http://www.inca.gov.br/conteudo_view.asp?id=3
43>. Acesso em: 14 maio 2011.
[2] ELMAN, I; SILVA, M. Acute lymphocytic
leukemia in children: analysis of detection
thresholds for basic tastes according to gender.
Revista Braileira de Cancerologia, [S.l], v. 53,
p.297-303, 2007.
[3] BELSON, M; KINGSLEY, B; HOLMES, A.
Risk factors for acute leukemia in children: a
review. Environ Health Perspect, 2007.
[4] CAMARGO, B; KURASHIMA, A.Y.
Cuidados paliativos e oncologia pediátrica: o
cuidar além do curar. São Paulo: Lemar, 2007.
[5] SCHNEIDER, C.M; HSIEH, C.C; SPROD,
L.K; CARTER, S.D; HAYWARD, R. Exercise
training manages cardiopulmonary function and
fatigue during and following cancer treatment in
male
cancer
survivors. Integrative
Cancer
Therapies, [S.l], v. 6, n. 3, p. 235-41, 2007.
[6] SARMENTO, G.J.V. Fisioterapia respiratória
em pediatria e neonatologia. São Paulo: Manole,
2007.
[7] NEKOLAICHUK, C.L; BRUERA, E;
SPACHYNSKI,
K;
MACEACHERN,
T;
HANSON, J; MAGUIRE, T.O. A comparison of
patient and proxy symptom assessments in
advanced cancer patients. Palliative Medicine,
[S.l], v.13, p. 311-23,1999.
[8] BATTAGLINI,
C;
BOTTARO,
M;
CAMPBEELL, J; NOVAES, J; SIMÃO, R.
Atividade física e níveis de fadiga em pacientes
portadores de câncer. Revista Brasileira de
Medicina do Esporte, Niterói, v.10, n. 2, p. 98-104,
abril. 2004.
[9] HALAREM, B.L. Relação da reabilitação com
a inatividade. In: Kottke FJ, Lehmann JF. Tratado
de medicina física e reabilitação de Krusen. 4 ed.
São Paulo: Manole, 1994.
[10] WOLFSON, M.R; SHAFFER, T.H.
Musculatura respiratória: fisiologia, avaliação e
tratamento. In: Irwin S, Tecklin JS. Fisioterapia
cardiopulmonar. 3. ed. São Paulo: Manole, 2003.
[11] PANNO, J. Cancer: The Role of Genes,
Lifestyle, and Environment. Nova York, 2005.
[12] EFFGEN, SK. Fisioterapia pediátrica:
atendendo as necessidades das crianças. Rio de
Janeiro: Guanabara Koogan, 2005.
[13] CURT, G.A; BREITBART, W; CELLA, D;
GROOPMAN, J.E; HORNING, S.J; ITRI, L.M. et
al.Impact of cancer-related fatigue on the lives of
patients: new findings from the Fatigue Coalition.
Oncologist, 2000.
[14] BATTAGLINI, C; BOTTARO, M;
CAMPBEELL, J; NOVAES, J; SIMÃO, R.
Atividade física e níveis de fadiga em pacientes
portadores de câncer. Revista Brasileira de
Medicina do Esporte, Niterói, v.10, n. 2, p. 98-104,
abril. 2004.
[15] FERREL, B.R; COYLE, N. Textbook of
palliative nursing. New York, 2001.
[16] SILVA, Y.B; SILVA, J.A. Cuidados
paliativos: manejo da dispnéia. Mundo Saúde,
[S.l], v. 27, n. 1, p. 133 -7, 2003.
[17] TECKLIN, J. S. Fisioterapia Pediátrica. 3. ed.
São Paulo: Ed. Artmed, 2002.
[18] SILVA, N.S. Tumores do Sistema Nervoso
Central. Pediatria Moderna, v. 35, n. 8, 1999.
[19] ONCOPEDIATRIA, org. Fisioterapia,
presente em todas as etapas. [S.l]: 2006.
Disponível
em:
<http://www.oncopediatria.org.br/portal/noticias/ar
quivo/200606/200606_2_03.jsp>. Acesso em: 10
maio 2011.
[20] MARCUCCI, F.C.I. Physiotherapy on
palliative care with cancer patients. Revista
Brasileira de Cancerologia, [S.l], v. 51, p. 67-77,
2005.
e-mail:
[email protected]