0 CURSO DE ENFERMAGEM Indiara Zambarda Pinto CIRURGIA

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CURSO DE ENFERMAGEM
Indiara Zambarda Pinto
CIRURGIA CARDÍACA DE REVASCULARIZAÇÃO DO MIOCÁRDIO:
HISTÓRIA CLÍNICA DOS PACIENTES E INTERVENÇÕES DA ENFERMAGEM
Santa Cruz do Sul
2015
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Indiara Zambarda Pinto
CIRURGIA CARDÍACA DE REVASCULARIZAÇÃO DO MIOCÁRDIO:
HISTÓRIA CLÍNICA DOS PACIENTES E INTERVENÇÕES DA ENFERMAGEM
Monografia apresentada ao Curso de Enfermagem da
Universidade de Santa Cruz do Sul - UNISC, como
quesito parcial para obtenção do título de Bacharel em
Enfermagem.
Orientador: Profª. Enfª. Dda. Rosylaine Moura
Santa Cruz do Sul
2015
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Indiara Zambarda Pinto
CIRURGIA CARDÍACA DE REVASCULARIZAÇÃO DO MIOCÁRDIO:
HISTÓRIA CLÍNICA DOS PACIENTES E INTERVENÇÕES DA ENFERMAGEM.
Esta monografia foi submetida ao processo de avaliação
pela Banca Examinadora para obtenção do título de
Enfermeiro.
Foi aprovada em sua versão final, em_______________.
_______________________________________
Profª. Enfª. Dda. Rosylaine Moura
Professora Orientadora - UNISC
________________________________________
Prof. Enfª. Ms. Maria Salette Sartori
Professora examinadora - UNISC
________________________________________
Prof. Enfº. Ms. Nestor Pedro Roos
Professor Examinador - UNISC
Santa Cruz do Sul
2015
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AGRADECIMENTOS
Primeiramente a Deus, por me permitir estar realizando estes sonhos. À minha
família por todo apoio, compreensão e encorajamento. Ao meu namorado, por estar do meu
lado, por compreender a minha ausência, por dedicar-se à minha pessoa e as modificações
da minha trajetória, por me encorajar durante todos os momentos da graduação e buscar
junto comigo esta conquista. À minha mãe por sempre estar ao meu lado, por constituir meu
mais forte pilar e por ouvir diversas vezes meus questionamentos, suposições,
apresentações, conceitos, etc. Ao meu pai por todo esforço, por todos os desabafos, por me
ensinar ver o mundo de uma maneira mais singela, por constituir parte da minha força e me
ensinar a ser. Às minhas irmãs por serem exatamente como são... Vocês foram minha
melhor escola de paciência..”hahaha”, mas, também de amor, de carinho, de respeito, de
relações. Obrigada por me apoiarem e comemorarem desde minhas pequenas conquistas
como se elas fossem as maiores do mundo, vocês muito me motivaram com seus atos!
Ás minhas amigas por estarem sempre a minha espera... Sempre prontas pra
descontrairmos e por ouvir coisas que às vezes nem entendiam que não eram dos seus
contextos e discutirem sobre e por vezes concordarem comigo! Por todo o carinho e o amor
continuar intacto mesmo se vendo poucas vezes... Por me perdoarem todas as vezes que tive
que desmarcar em “cima da hora” porque surgiam mais compromissos. Aos meus colegas
por proporcionar-me muito aprendizado durante essa caminhada, além das amizades e do
real coleguismo.
As minhas professoras e meus professores por dedicarem com amor e
responsabilidade seus esforços e por dividir suas imensas sabedorias. Em especial á três
professoras que fizeram o diferencial na minha caminhada: Ana Zoé, Rosylaine Moura e
Maristela Rezende.
Á minha professora orientadora Rosylaine Moura, que me orientou desde a escolha
pela profissão até a concretização deste desejo de realizar este trabalho de conclusão. Meu
eterno agradecimento por me auxiliar constantemente durante esta trajetória: o primeiro
artigo, a primeira experiência como bolsista, a primeira prova, por me ensinar sobre esta
linda profissão e por me aconselhar neste mundo da enfermagem, por me permitir sentir
hoje extremamente realizada quanto à escolha e o desejo profissional de ser uma
Enfermeira. Dedico especialmente a você, os frutos que colherei ao longo desta caminhada.
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“Se não puder voar, corra. Se não puder correr, ande. Se não puder
andar, rasteje, mas, continue em frente de qualquer jeito”.
Martin Luther King
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LISTA DE ABREVIATURAS
ADA – Artéria Descendente Anterior
AH – Alta Hospitalar
AVC – Acidente Vascular Cerebral
CEC – Circulação Extracorpórea
CRM – Cirurgia de Revascularização do Miocárdio
CRS – Coordenadoria Regional de Saúde
DAC – Doença Arterial Coronariana
DCNT – Doenças Crônicas Não Transmissíveis
DCV – Doença Cardiovascular
DLP – Dislipidemia
DM – Diabetes Mellitus
DPOC – Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica
ESF – Estratégia de Saúde da Família
FR – Fator de Risco
HAS – Hipertensão Arterial Sistêmica
IAM – Infarto Agudo do Miocárdio
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
IRC – Insuficiência Renal Crônica
SAE – Sistematização da Assistência de Enfermagem
SAME – Serviço de Arquivamento Médico e Estatística
SBC – Sociedade Brasileira de Cardiologia
SBCC – Sociedade Brasileira de Cirurgias Cardiovasculares
SBCEC – Sociedade Brasileira de Circulação Extracorpórea
SUS – Sistema Único de Saúde
RM – Revascularização do Miocárdio
UNISC – Universidade de Santa Cruz do Sul
UTI – Unidade de Terapia Intensiva
VM – Ventilação Mecânica
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SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................................... 9
2 MARCO TEÓRICO .............................................................................................................. 12
2.1 As doenças cardiovasculares e seus fatores de risco ...................................................... 12
2.2 Cirurgia cardíaca............................................................................................................. 15
2.2.1 Circulação Extracorpórea ............................................................................................ 16
2.3 Intervenções do enfermeiro frente ao paciente submetido à cirurgia de
revascularização do miocárdio ............................................................................................. 18
3 METODOLOGIA ................................................................................................................. 23
3.1 Tipo de estudo ................................................................................................................ 23
3.2 Local da pesquisa............................................................................................................ 24
3.3 Sujeitos da Pesquisa ....................................................................................................... 25
3.4 Aspectos éticos e técnicos .............................................................................................. 26
3.5 Instrumentos de coleta de dados ..................................................................................... 27
3.6 Tratamento e Análise dos dados ..................................................................................... 27
3.7 Divulgação da pesquisa .................................................................................................. 28
4 APRESENTAÇÃO, ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS .......................................... 29
4.1 Perfil sócio demográfico dos indivíduos ........................................................................ 30
4.2 Histórias clínicas dos indivíduos .................................................................................... 33
4.4 Atenção ao paciente submetido à cirurgia de revascularização do miocárdio .............. 40
4.4.1 No período pré-operatório ....................................................................................... 41
4.4.2 No pós-operatório .................................................................................................... 42
4.4 No pós-operatório no domicílio.................................................................................. 49
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................ 52
REFERÊNCIAS ....................................................................................................................... 56
APÊNDICE A – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido .............................................. 62
APÊNDICE B – Formulário de coleta de dados nos prontuários dos pacientes: ..................... 64
APÊNDICE C – Roteiro da entrevista semiestruturada destinada aos pacientes: .................... 65
ANEXOS .................................................................................................................................. 66
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RESUMO
A cirurgia de revascularização do miocárdio é o tratamento cirúrgico da doença arterial
coronariana, sendo atualmente um dos assuntos mais estudados na área da saúde. Este
estudo buscou delinear o perfil epidemiológico e a história clínica dos pacientes submetidos
a esta cirurgia pelo Sistema Único de Saúde, de junho/2012 a junho/2015, em um hospital
ensino do interior do Rio Grande do Sul, referência para 25 municípios em alta
complexidade cardiovascular. Também buscou caracterizar as intervenções do enfermeiro
frente a estes indivíduos, assim como, desvelar as percepções dos sujeitos à cerca das
intervenções de enfermagem. Trata-se de uma pesquisa com metodologia mista, exploratória
e descritiva. Inicialmente estudou-se 81 prontuários dos indivíduos que haviam realizado a
cirurgia, e destes, após seleção aleatória estratificada, entrevistou-se 12 sujeitos. O perfil
encontrado nos prontuários foi majoritariamente de homens (71,6%), com mais de 60 anos
de idade (63%), vivendo sem consorte (54,3%), possuindo três indicações cirúrgicas
(50,6%), sendo as mais descritas: doença arterial coronariana triarterial e cardiopatia
isquêmica. A maioria apresentou fator de risco pré-cirúrgico associado (64,2%), sendo o
principal tabagismo/ex-tabagismo (59,4%), e as principais patologias: hipertensão arterial,
doença arterial coronariana e dislipidemia. O tempo médio de hospitalização foi de 11,7 dias
e 58% dos indivíduos tiveram alguma intercorrência. A maioria dos pacientes entrevistados
relatou satisfação com o atendimento durante a hospitalização e juntamente com seus
familiares, foram bem orientados para a alta. Após a alta, foram encaminhados
majoritariamente para a atenção secundária (especialidade cardiovascular) talvez
justificando a pouca vinculação com a atenção primária e dificuldades com outros
problemas de saúde, para além desta especialidade. Apesar de somente dois pacientes
relatarem piora em seu estado geral após a cirurgia, a autora percebeu que a maioria
apresentava-se dependente dos familiares. Com os resultados obtidos pretende-se contribuir
para qualificar a atenção a este público em todos os níveis de assistência.
Doença das Coronárias - Revascularização Miocárdica - Papel do Profissional de
Enfermagem
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ABSTRACT
The coronary artery bypass surgery is the surgical treatment of coronary artery disease , and
is currently one of the most studied topics in health care. This study aimed to describe the
epidemiological profile and the clinical history of patients undergoing this surgery by the
Unified Health System, June / 2012 to June / 2015 in a teaching hospital in the interior of
Rio Grande do Sul, reference to 25 municipalities in high cardiovascular complexity. Also
sought to characterize the nursing interventions against these individuals, as well as unveil
the perceptions about the subject of nursing interventions. It is a survey of mixed,
exploratory and descriptive methodology. Initially she studied medical records of 81
individuals who had undergone surgery, and of these, after stratified random selection, was
interviewed 12 subjects. The profile found in the medical records was mostly men (71.6%),
with over 60 years of age (63%), living without partner (54.3%) having three surgical
indications (50.6%), and the most described: triple vessel coronary artery disease and
ischemic heart disease. The majority had preoperative risk factor associated (64.2%) and the
main smoking / ex - smokers (59.4%), and major diseases: hypertension, coronary artery
disease and dyslipidemia. The mean hospital stay was 11.7 days and 58 % of patients had
complications. Most of the patients interviewed reported satisfaction with care during
hospitalization and with their families, were good targeted towards the high. After
discharge, mostly they were referred to secondary care (cardiovascular specialty) perhaps
justifying the little link with primary care and difficulties with other health problems in
addition to this specialty. Although only two patients reported worsening of their general
condition after surgery, the author noticed that most had become dependent on family
members. With the results it is intended to contribute to qualify attention to this public at all
levels of care.
Disease of coronary - Myocardial Revascularization - Role of Professional Nursing
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1 INTRODUÇÃO
As doenças cardiovasculares representam as principais causas de mortes no mundo.
Estas doenças causaram mais de 17 milhões de óbitos no ano de 2008, sendo três milhões
destes óbitos de pessoas com menos de 60 anos de idade, evitáveis em sua maioria
(RADOVANOVIC, 2014).
No Brasil, como nos países desenvolvidos entre as doenças cardiovasculares, a doença
arterial coronariana é a que mais causa mortes, sendo responsável por 36% dos óbitos em
pessoas com idade entre 50 e 64 anos, e 42% naquelas com idade acima de 65 anos
(FERNANDES, 2008).
São inúmeros os fatores de riscos destas patologias, entre eles, os não modificáveis
como: sexo, idade e hereditariedade e os modificáveis como: obesidade, sedentarismo,
estresse, dislipidemias, alcoolismo, tabagismo e também patologias como hipertensão e
diabetes.
Diversas estratégias de prevenção têm sido implementadas ao redor do mundo no
intuito de diminuir e ou retardar os efeitos deletérios destes fatores de risco na população.
Quando todas as formas de prevenção e de tratamento falham é necessário lançar mão de
procedimentos mais complexos e especializados para reverter o dano já causado,
melhorando a qualidade de vida e aumentando a sobrevida dos pacientes. Entre estas
tecnologias encontramos a cirurgia cardíaca de revascularização do miocárdio.
A cirurgia de revascularização do miocárdio segundo Dallan (2013, p. 138) é “o
tratamento cirúrgico da doença arterial coronariana, sendo o assunto mais estudado dentre
todas as especialidades médicas atualmente”.
Diante do número crescente de pacientes com indicação para esta cirurgia o Sistema
Único de Saúde (SUS) tem ampliado o número de hospitais que realizam este procedimento,
antes centralizado nas grandes cidades e capitais.
Nesta perspectiva o Hospital de origem dos dados, localizado em uma cidade do
interior do Rio Grande do Sul, há aproximadamente 150 km da capital do estado, desde
2012 é referência para vinte e cinco municípios das regiões centro serra e do vale do rio
pardo, onde habitam em torno de trezentas mil pessoas.
A introdução desta cirurgia nesta instituição hospitalar implicou em alterações
significativas na estrutura física, nos fluxos e rotinas de serviços, e especialmente no que diz
respeito aos recursos humanos, que precisaram se adaptar às mudanças necessárias e a
chegada dos novos profissionais da equipe especializada em cirurgia cardiovascular.
10
Dentre estes profissionais, os (as) enfermeiros (as) como coordenadores de equipes e
de serviços e gestores do cuidado do paciente, provavelmente foram os mais afetados por
esta nova demanda.
Os pacientes submetidos à cirurgia de revascularização do miocárdio transitam por
diversos setores do hospital desde sua internação até a alta, como: unidade de internação
clínica/cirúrgica, centro cirúrgico, unidade de terapia intensiva, entre outros. Desta forma,
as equipes de enfermagem precisaram incorporar em suas rotinas novas tecnologias de
cuidado para dar conta das especificidades destes usuários.
É neste contexto que a autora aproximou-se da temática, durante a realização de
práticas curriculares e extracurriculares na trajetória no Curso de Graduação em
Enfermagem da Universidade de Santa Cruz do Sul. Neste período, a pesquisadora pode
acompanhar diversos pacientes submetidos à revascularização do miocárdio tanto no
transoperatório como no pós-operatório remoto no domicílio, e desta forma, perceber a
relevância das intervenções do profissional enfermeiro na melhoria da qualidade de vida
após a cirurgia.
Diante do entendimento de que uma assistência de enfermagem qualificada é
fundamental para aumentar as chances de sobrevida do paciente, e que os profissionais de
enfermagem em questão desconhecem o perfil desta nova demanda e por isso tem
dificuldades em adequar e direcionar suas ações elaborou-se as seguintes questões
norteadoras: Quem são os pacientes que revascularizaram o miocárdio na instituição e quais
as suas histórias clínicas1? Como foi a participação da enfermagem desde a indicação
cirúrgica até o momento?
Para responder estes questionamentos elaboraram-se os seguintes objetivos: identificar
o perfil epidemiológico, conhecer a história clínica dos pacientes cardiopatas submetidos à
cirurgia cardíaca de revascularização do miocárdio pelo Sistema Único de Saúde (SUS)
neste hospital de referência no período de junho de 2012 a junho de 2015, assim como, as
percepções pós-cirúrgicas dos sujeitos acerca das intervenções de enfermagem e também
caracterizar as intervenções do enfermeiro neste contexto.
1
A história clínica, assim, como todas as demais histórias escritas, é elaborada a partir dos
dados fornecidos através de relatos dos pacientes ou de seus familiares, das enfermidades atuais e
passadas, bem como de registros hospitalares prévios e passados e assim por diante, até formar a sua
história clínica, que não deixa de ser a história da saúde dos indivíduos (BARROS, 2004,
<http://www.saudedireta.com.br/docsupload/1332097453Anamnese.pdf>).
11
A partir da identificação das histórias clínicas e da assistência de enfermagem prestada
à estes indivíduos, pretende-se contribuir no aperfeiçoamento da assistência de enfermagem
em todos os níveis de atenção à saúde percorridos por eles, assim como, demonstrar os
principais fatores de risco cardiovasculares na população regional. Neste sentido o estudo
poderá servir de alerta para indivíduos e gestores da saúde, no intuito de encorajar a
incorporação de hábitos saudáveis e aprimorar políticas e ações de prevenção, diagnóstico
precoce e tratamento adequado das comorbidades.
12
2 MARCO TEÓRICO
2.1 As doenças cardiovasculares e seus fatores de risco
O grupo de doenças denominadas doenças crônicas não transmissíveis (DCNT),
representam, o mais importante problema de saúde no mundo (63% dos óbitos totais), tendo
altos índices de mortes prematuras, especialmente em países de baixa e média renda. A
Organização Mundial da Saúde (OMS) inclui como DCNT as doenças do aparelho
circulatório (cerebrovasculares e cardiovasculares), neoplasias, doenças respiratórias
crônicas e diabetes mellitus, devido apresentarem fatores de risco comuns (WHO, 2005,
2011).
No Brasil, as DCNT’s representaram no período, de 1991 a 2010, a 72% das causas
das mortes, com destaque para as doenças do aparelho circulatório (31,3%), câncer (16,3%),
doença respiratória crônica (5,8%) e diabetes (5,2%) (DUNCAN et al, 2011).
Dentre as doenças do aparelho circulatório, as doenças cardiovasculares (DCV) são as
que afetam o coração e as artérias, como o infarto e acidente vascular cerebral, e também
arritmias cardíacas, isquemias ou anginas. A principal característica das doenças
cardiovasculares é a presença da aterosclerose, acúmulo de placas de gorduras nas artérias
ao longo dos anos que impede a passagem do sangue (BRASIL, 2011).
As doenças do sistema circulatório são definidas na décima classificação internacional
das doenças (CID-10) como: Febre reumática aguda e doença reumática crônica do coração
(I000-I099), Doenças hipertensivas (I100-I159), Doenças isquêmicas do coração (I200I259), Doença cardíaca pulmonar e outras formas (I260-I459, I470-I499, I510-I519), Parada
cardíaca (I460-I469), Insuficiência cardíaca (I500-I509), Doenças cerebrovasculares (I600I699), Aterosclerose (I700-I709), Restante doenças do sistema circulatório (I710-I990).
As doenças isquêmicas do coração representaram em 2010 à terceira causa de morte
para homens brasileiros na faixa etária de 40 a 49 anos e a primeira para homens com idades
entre 50 e 59 anos. Para as mulheres, foram à segunda causa de morte entre os 40 e 49 anos
e a primeira entre os 50 e 59 anos (exceto nas regiões Nordeste e Centro-Oeste) (BRASIL,
2012). Bassanesi et al (2008) aponta que em Porto Alegre, capital do Rio Grande do Sul
(RS), entre 2000 e 2004, dos 45- 64 anos as Doenças Isquêmicas do Coração
corresponderam a 40% dos óbitos cardiovasculares (28,5% do total dos óbitos na faixa
etária).
As taxas brasileiras das doenças isquêmicas do coração variaram de 61,9, em 2000,
para 52,3 óbitos por 100 mil habitantes, em 2010, apresentando no período redução de
13
15,4%, sendo que o Rio Grande do Sul foi o segundo estado com maior redução (-31,3%)
(BRASIL, 2012). As causas deste declínio no país ainda não foram estudadas formalmente,
mas as prováveis explicações para esta mudança são a queda notável na prevalência de
tabagismo e a expansão do acesso aos cuidados médicos viabilizados com a estruturação do
SUS, especialmente na atenção primária (SCHMIDT, 2011).
Os fatores de risco surgiram pela primeira vez através da repercussão do estudo de
Framingham (Framingham Heart Study) por Kannel et al (1961) em que se definiu como
fator de risco, o fator que desempenha um papel no desenvolvimento da doença.
O Primeiro Consenso de Prevenção de Risco Cardiovascular (2013) indica os escores
de Framingham, Reynolds, Risco Global e de Tempo de Vida para a estratificação dos
riscos.
O escore de Framingham estima a probabilidade de ocorrer infarto do miocárdio ou
morte por doença coronária no período de 10 anos em indivíduos sem diagnóstico prévio de
aterosclerose clínica. Já o escore de Reynolds inclui a proteína C-reativa e o antecedente
familiar de doença coronária prematura e estima a probabilidade de infarto do miocárdio,
AVC, morte e revascularização em 10 anos.
O escore de Risco Global estima o risco de infarto do miocárdio, acidente vascular
encefálico, insuficiência vascular periférica e insuficiência cardíaca em 10 anos. Já o Risco
de Tempo de Vida, avalia a probabilidade de um indivíduo, a partir de 45 anos, apresentar
um evento isquêmico. O Consenso sugere a combinação dos quatro para melhor avaliação
de risco e recomenda a utilização do Escore de Risco Global para avaliação do risco em 10
anos e do Risco de Tempo de Vida para estimar o risco ao longo da vida em indivíduos
acima de 45 anos.
Segundo a Sociedade Brasileira de Cardiologia - SBC (2005), “75% das doenças
cardiovasculares podem ser atribuídas aos fatores de risco convencionais” modificáveis ou
não. Entre os modificáveis a SBC aponta: “pressão arterial alta, lipídios sanguíneos
anormais, uso do tabaco, inatividade física, obesidade, dietas inadequadas, diabetes
mellitus”.
Wilson (1998) e Fletcher (1996) citados por Silva (2005 p. 388) também apontam que:
Cerca de 75 a 80% dos portadores de doença arterial coronariana (DAC)
apresentam fatores de risco convencionais ou clássicos representados por
hipertensão arterial sistêmica, tabagismo, hipercolesterolemia, diabetes mellitus,
idade avançada, sexo masculino e antecedentes familiares, sendo acrescentados,
posteriormente, sedentarismo, estresse emocional e obesidade.
14
Os fatores de risco cardiovasculares não modificáveis segundo a SBC (2005) são:
“histórico familiar ou hereditariedade, sexo, idade avançada, raça ou etnia”. Já os fatores
que não são tão facilmente modificáveis chamados pela SBC (2005) por, outros fatores, são:
“status socioeconômico baixo, saúde mental debilitada, uso de álcool, stress psicossocial,
uso de alguns medicamentos, lipoproteína, hipertrofia ventricular esquerda”.
Silva (2005 p. 388) também cita Berenson (1998) que diz que: “há evidências de que o
processo aterosclerótico inicia-se na infância, progride com a idade e exibe gravidade
diretamente proporcional ao número de fatores de risco apresentados pelo indivíduo”.
Em 1876, Hammer (1970) sugeriu que a angina do peito e o infarto do miocárdio
poderiam ser atribuídos à diminuição ou à interrupção do fluxo sanguíneo coronário, quando
pelo menos uma das artérias do coração estivesse comprometida, permitindo uma melhor
compreensão da doença arterial coronária.
As causas destas obstruções, que, consequentemente causam a isquemia miocárdica
segundo Iglezias (1997) são: a doença arterial coronariana que é a mais comum, seguidas
das menos frequentes, que são: trombos arteriais, espasmos e êmbolos coronarianos.
Segundo Fernandes (2008) a doença arterial coronariana é a maior causa de morte no
Brasil e também nos países desenvolvidos, é responsável por 36% dos óbitos em pessoas
com idade entre 50 e 64 anos, e 42% naquelas com idade acima de 65 anos.
A doença arterial coronariana (DAC) acontece devido a lesões na camada íntima
das coronárias (podem envolver também a média e a adventícia) que evoluem com
a formação de placas ateroscleróticas. Estas obstruem o fluxo sanguíneo
coronariano, o que acarreta em um desequilíbrio entre a oferta e demanda de
oxigênio para o miocárdio, resultando em má perfusão deste (HUUFMA, 2010, p.
1).
Os trombos arteriais, espasmos e êmbolos coronarianos também determinam uma
redução do fluxo sanguíneo nas artérias coronárias epicárdicas, levando igualmente ao
desequilíbrio na oxigenação do tecido.
Os fatores contribuintes para Doença Coronariana segundo a Sociedade Brasileira de
Cardiologia (2005) são: “56% colesterol alto, 49% pressão arterial sistólica suboptimal
maior que 115 mmHg, 31% baixa ingestão de frutas e vegetais, 22% inatividade física”. Há
ainda “os fatores de risco novos, que são: excesso de hemocistina no sangue, inflamações e
coagulação sanguínea anormal”.
Essa redução do fluxo sanguíneo no músculo cardíaco pelas artérias coronárias pode
ser passiva de tratamento clínico com medicamentos. Esses possuem ação no metabolismo
dos lipídios, na estabilização da placa de aterosclerose e no tratamento das síndromes
coronarianas agudas. Há também o tratamento por cateteres, como a angioplastia (com stent
15
convencional ou medicamentoso) ou quando nenhum dos tratamentos anteriores tenham
sido efetivos ou avaliados como, realiza-se então a intervenção cirúrgica cardíaca de
revascularização do miocárdio (BRICK et al, 2004).
2.2 Cirurgia cardíaca
Segundo Costa (1998) foi no século XIX que se tiveram os primeiros registros de
cirurgia cardíaca no Brasil e no ano de 1905 a descrição de uma sutura cardíaca em um
“estilo vivo”, sendo que em 1927 ocorreu o primeiro caso bem sucedido. Assim, iniciou o
que hoje é uma das técnicas cirúrgicas mais complexas, mais estudada e mais avançada na
história da saúde.
Os principais tipos de cirurgias cardíacas realizadas atualmente são as de reconstrução
e reparação, mas, há também as excisões, as ablativas, as compensatórias e substitutivas.
Dentre estas divisões estão às cirurgias de revascularização miocárdica (reconstrução),
cirurgias das valvopatias (substitutivas) e as cirurgias de correção da estenose mitral
(reparação).
Nestas intervenções cirúrgicas a equipe da cirurgia cardíaca é composta geralmente
por: médico cirurgião cardíaco, médico cirurgião vascular, médico cirurgião torácico,
médico anestesista, enfermeiro da circulação extracorpórea, duas técnicas de enfermagem
instrumentadoras, duas técnicas de enfermagem circulantes.
Segundo a Sociedade Brasileira de Cirurgia Cardiovascular, o Brasil é o segundo país
que mais realiza cirurgias cardíacas, sendo a média por ano de 102 mil cirurgias, ficando
atrás apenas dos Estados Unidos. Estima-se que este número esteja aumentando na
atualidade. No ano de 2011, segundo Braile e Godoy (2012) foram realizadas 100 mil
operações cardíacas, sendo dessas 50 mil com circulação extracorpórea (CEC) e mais da
metade para revascularização miocárdica sendo realizadas por 1000 cirurgiões associados à
Sociedade Brasileira de Cirurgia Cardiovascular.
Para futuramente termos informações mais precisas que incluam também a
mortalidade, identificando a eficácia das cirurgias cardiovasculares, em 2014 a Sociedade
Brasileira de Cirurgias Cardiovasculares, lançou o estudo: “Registro Brasileiro de Cirurgias
Cardiovasculares”, no intuito de traçar o perfil das cirurgias acontecidas no Brasil, sendo
que as instituições que realizam estas cirurgias devem alimentar o sistema de informação da
Plataforma Brasil.
16
A revascularização miocárdica segundo Dallan (2013, p. 138) é “o tratamento
cirúrgico da doença arterial coronária provavelmente hoje se constitui no assunto mais
estudado dentre todas as especialidades médicas”.
Este procedimento cirúrgico foi proposto por Vineberg em 1945, porém, a prática não
se efetivou devido os resultados iniciais terem sido questionados por não visualizarem o
funcionamento deste enxerto, pois, não tinham disponível um método (a angiografia) para
demonstrar o funcionamento do novo conduto, então, somente após o ano de 1959 que
Sones conseguiu comprovar através do cateterismo cardíaco, que a prática cirúrgica se
efetivou (FERNANDES, 2008).
A escolha do conduto ideal é de suma importância para o sucesso desta intervenção
cirúrgica tendo de ser levada em conta principalmente a qualidade destes condutos, que
inclui a escolha de um enxerto mais saudável possível e ainda atender a necessidade de
comprimento, diâmetro interno, permeabilidade, durabilidade, entre outras (BRICK et al,
2004).
Segundo Rocha (2006) a revascularização do miocárdio (RM) é “conhecida
popularmente como ponte de safena, consiste em um enxerto arterial coronário usando a
veia safena autógena com o objetivo de isolar o vaso obstruído e, assim, restabelecer a
perfusão da artéria coronária”.
Os mais utilizados segundo Brick (2004, p.8) são: “artéria torácica interna esquerda
(mamária); artéria torácica interna direita; artéria radial; artéria ulnar; artéria
gastroepiplóica; artéria epigástrica inferior e veia safena magna”.
A cirurgia de RM visa então “restabelecer a oferta de sangue ao coração que
apresenta uma ou mais artérias obstruídas por consequência da Doença Aterosclerótica
Coronariana” (MAIA, 2012).
2.2.1 Circulação Extracorpórea
No Brasil, a primeira cirurgia cardíaca com o uso total da Circulação Extracorpórea
(CEC), conforme Costa (1998) aconteceu em 12 de novembro de 1956 pelo Professor Hugo
João Filipozzi. A circulação extracorpórea conhecida pela abreviação de CEC, segundo
Braile (2010) criou novas possibilidades para a cura de doenças cardíacas, jamais
imaginadas na primeira metade do século passado.
Esta técnica envolve principalmente: a máquina, o perfusionista e o cirurgião
cardiovascular. O perfusionista é o profissional capacitado que opera a máquina de
circulação extracorpórea, onde ambos buscam oferecer, segundo a Sociedade Brasileira de
17
Circulação Extracorpórea - SBCEC, “o suporte ou a substituição das funções
cardiopulmonares ou circulatórias e assegurar o manuseio adequado das funções fisiológicas
pela monitorização das variáveis necessárias”, já o cirurgião realiza as conexões das cânulas
nas estruturas do coração, em extrema sincronia com o perfusionista.
Conforme a SBCEC, este profissional deve ter formação superior em uma das áreas
das ciências biomédicas ou da saúde e possuir curso de pós-graduação em perfusão
extracorpórea. Esta ocupação já é regulamentada, porém, os profissionais ainda lutam pelo
reconhecimento desta prática como uma especialidade.
Segundo Braile (2010) o perfusionista, em particular, tem grande responsabilidade
durante o procedimento cirúrgico, pois virtualmente terá em suas mãos e sob seus olhos a
vida do paciente que está sendo operado.
A SBCEC aponta que esta profissão exige conhecimentos de centro cirúrgico, centro
de material de esterilização, domínio da fisiologia, bioquímica, anatomia, entre outros.
Talvez este fato justifique o motivo pelo qual o enfermeiro está frequentemente presente
nesta ocupação.
Na circulação extracorpórea temos dois tempos à serem registrados, o de perfusão e o
de clampeamento. O tempo de perfusão é o da CEC em si, também chamado somente de
tempo de CEC, e o tempo de clampeamento, nada mais é que o tempo de clampeamento da
aorta, alguns autores abordam por CEC e CLAMP, outros por perfusão e clampeamento e
também outras variações. Mas, o que realmente importa é que fique claro que temos dois
tempos diferentes, por termos duas ocasiões que são importantes para a assistência e
desenvolvimento da evolução das ciências da saúde.
Braile (2010, p. 4) cita um pouco da complexidade do preparo e do trabalho executado
por estes profissionais:
Para que os profissionais possam realizá-lo com segurança, devem ter
conhecimentos profundos, fortemente incorporados ao seu raciocínio, de forma
que as decisões sejam automáticas e imediatas. Para adquirir estas habilidades,
duas premissas devem ser contempladas: conhecimentos teóricos sólidos e
treinamento exaustivo em serviços que tenham condições de ensinar com
competência, responsabilidade e segurança os profissionais que se dediquem às
funções específicas nesta área de atuação (Braile, 2010, p. 4).
Segundo Woods (2005) citado por Torrati (2012) algumas finalidades da CEC são:
propiciar um campo cirúrgico limpo, preservar as características funcionais do coração e
oferecer segurança à equipe cirúrgica.
Apesar da circulação extracorpórea na cirurgia de revascularização do miocárdio
representar o “padrão ouro”, atualmente esta técnica tem sido muito questionada quando
18
comparada a técnica cirúrgica com “o coração batendo”, ou seja, sem circulação
extracorpórea. A base desta discussão está direcionada para a redução da morbimortalidade
peri e pós-operatória, ao impacto financeiro da CEC e aos seus efeitos secundários, entre
eles, encontram-se: formação de êmbolos e microêmbolos, resposta inflamatória sistêmica,
disfunção renal, infarto do miocárdio, comprometimento neurológico, disfunção cognitiva,
fibrilação atrial, entre outros (HUEB, 2013).
Para Lima et al (2003) a revascularização do miocárdio sem circulação
extracorpórea, apresenta resultados semelhantes aos obtidos com a utilização da CEC, sendo
assim, os autores acreditam que esta prática pode ser indicada para todos os pacientes que
necessitam da revascularização do miocárdio, mesmo que multiarteriais.
Apesar de o procedimento sem a CEC representar uma alternativa apropriada, ainda
são necessários mais estudos em pacientes idosos e/ou com complicações associadas, assim
como, também demandam uma maior destreza na técnica cirúrgica, justificando resistência à
incorporação desta técnica pelos centros de cirurgia cardíaca e cirurgiões (HUEB, 2013).
2.3 Intervenções do enfermeiro frente ao paciente submetido à cirurgia de
revascularização do miocárdio
O enfermeiro tem fundamental papel durante toda a trajetória da intervenção de
revascularização do miocárdio (MAIA, 2012), ou seja, este profissional é essencial para que
o processo de recuperação da saúde dos pacientes aconteça com sucesso. Ele exerce ações
fundamentais no nível primário, secundário e terciário, em diversos locais, durante toda a
trajetória do paciente, entre eles, as unidades básicas de saúde, as clínicas de reabilitação, os
serviços de pronto atendimento, os centros de diagnósticos por imagem e os centros de
intervenções minimamente invasivas e os hospitais onde são realizados estes procedimentos.
Na atenção básica é onde ocorre o acompanhamento do paciente, desde a prevenção
dos fatores de riscos cardiovasculares, a identificação dos primeiros sinais e sintomas, o
diagnóstico das patologias, o encaminhamento para avaliação cardiológica que culmina na
necessidade da intervenção cirúrgica. É neste nível de atenção que se espera dos
profissionais de saúde, especialmente do enfermeiro, maior vínculo e empatia para com os
pacientes em função de sua relação mais contínua e permanente e de sua inserção na
realidade de vida dos indivíduos. Desta forma esses profissionais também são fundamentais
na continuidade do cuidado pós-cirúrgico. O enfermeiro é o profissional capacitado para
coordenar as ações que envolvem o resgate crescente do autocuidado do paciente em busca
de sua autonomia.
19
A relação de confiança e reconhecimento do paciente para com o profissional, quando
bem estabelecida facilita o sucesso das intervenções das ações de empoderamento
direcionadas ao autocuidado.
O empoderamento, segundo Kleba (2009, p. 735) “significa aumento do poder, da
autonomia pessoal e coletiva de indivíduos e grupos sociais nas relações interpessoais e
institucionais”.
Através do empoderamento, a promoção à saúde procura possibilitar aos indivíduos e
coletivos um aprendizado que os torne capazes de viver a vida em suas distintas etapas e de
lidar com as limitações impostas por eventuais enfermidades (CARVALHO, 2008, p. 2031),
ou entender a necessidade de modificações, estando empoderado de sua saúde, pois, os
profissionais serão facilitadores, serão pessoas à lhe apoiar, mas, que a saúde é de cada um,
bem como, o conceito de estar ou não com saúde, depende, do conceito formado por si.
Torna-se fundamental para a execução destas ações de continuidade do cuidado além
do conhecimento por parte da equipe dos possíveis riscos e complicações no pós-operatório
tardio também o acesso a informações detalhadas acerca do cuidado realizado na trajetória
hospitalar através de uma comunicação formal.
Os profissionais da atenção hospitalar exercem suas atribuições desde o preparo para
cirurgia na unidade de internação passando pelo centro cirúrgico, pela unidade de terapia
intensiva, retornando a unidade de internação cirúrgica onde deve acontecer o preparo para a
alta hospitalar.
É na unidade de internação, onde geralmente ocorrem os cuidados pré-operatórios, que
devem ser individualizados, de acordo com as necessidades de cada paciente e sua família.
Para o enfermeiro o ponto de partida para esta identificação, consiste no histórico de
enfermagem, que é a primeira etapa da sistematização da assistência de enfermagem.
O histórico consiste em uma coleta contínua de dados, de maneira planejada e
sistematizada, por meio de um roteiro, para o levantamento de dados com as informações de
saúde dos indivíduos, famílias e comunidades, visando a monitorização de evidências que
sugiram problemas de saúde e∕ou fatores de risco que contribuam para o desenvolvimento
dos problemas de saúde (CARPENITO-MOYET, 2007; ALFARO-LEFREVE, 2005;
CARRARO, 2001; citados por CHAVES, 2009).
Um dos objetivos “é construir um banco de dados sobre as necessidades percebidas do
paciente, problemas de saúde e respostas a esses problemas” (POTTER, 2005). A coleta
destes dados, segundo Virgínio (2004) “é considerada fundamental para o desenvolvimento
da Sistematização da Assistência de Enfermagem”- SAE.
20
A SAE é uma prática ou uma implantação usada para o planejamento, execução e
avaliação do cuidado, muito importante no trabalho do enfermeiro. (CHAVES, 2009). Esta
sistematização é um instrumento fundamental para garantir que o cuidado do paciente
durante toda trajetória hospitalar tenha continuidade, contribuindo desta forma para uma
assistência de enfermagem mais qualificada e resolutiva.
Segundo a Sociedade Brasileira de Enfermeiros em Centro Cirúrgico, Recuperação
Pós-Anestésica e Centro de Material e Esterilização – SOBECC (2000) o enfermeiro do
centro cirúrgico é responsável por garantir um ambiente seguro, confortável e limpo para a
realização das operações.
O profissional enfermeiro do centro cirúrgico tem a cada dia seu papel mais ampliado,
pois, necessita integrar atividades técnicas, administrativas, assistenciais, de ensino e
pesquisa, além de ser facilitador das relações entre diversos profissionais e setores
envolvidos no cotidiano dinâmico da unidade (FONSECA, 2009).
A capacidade de gerenciar conflitos e a sensibilidade deste profissional são qualidades
almejadas no centro cirúrgico, devido ao estresse gerado por lidar-se constantemente com o
risco da morte, com o medo do incerto e pelo contato direto com a família insegura neste
local.
Dentre as atribuições do enfermeiro estão: preparar todos seus funcionários, organizar
todos os equipamentos, a sala cirúrgica, realizar os contatos pré-cirúrgicos com os serviços
de apoio. Também deve recepcionar o paciente e os familiares na chegada ao setor
fornecendo as orientações oportunas para este momento, assim como, acompanhando o
transporte do paciente até a unidade de terapia intensiva (UTI) onde será realizado o seu
pós-operatório imediato.
O pós-operatório é marcado pela instabilidade do quadro clínico do paciente, sendo
este, repleto de particularidades (DUARTE, 2012). Devido a esta complexidade o pósoperatório imediato da cirurgia cardíaca é realizado na unidade de terapia intensiva (UTI),
ou seja, o paciente sai da sala cirúrgica e vai diretamente para o leito da UTI (FORTUNA,
1998).
Neste contexto, estão os profissionais da equipe de enfermagem em tempo integral e
em maior número, prestando assim assistência direta ao paciente com o intuito de minimizar
possíveis complicações, tais como alterações nos níveis pressóricos, arritmias e isquemias,
além de manter o equilíbrio dos sistemas orgânicos, o alívio da dor e do desconforto
(DUARTE, 2012).
21
Para a assistência a estes pacientes o profissional enfermeiro desta unidade, seja ela,
especializada ou não em cardiologia deve ter o domínio do conhecimento e das ações de
enfermagem em cardiologia, como por exemplo, do eletrocardiograma, da monitorização
cardíaca, de todos os traçados do monitor multiparamétricos e seu respectivo manuseio,
como também, da monitorização hemodinâmica não invasiva e invasiva entre tantos outros
(PALOMO, 2007).
Desta forma, embora não seja uma determinação legal, é desejável que este
profissional realize curso de especialização ou aperfeiçoamento na área de cardiologia e/ou
intensivismo, conforme afirma Santos (1984) citado por Martins (2006, p. 473): “[...] a
constante evolução das ciências da saúde exige do enfermeiro permanente atualização e,
muitas vezes, especialização, que deve ser adquirida após a formação básica”. A
especialização em cardiologia proporciona aos profissionais conhecimentos profundos para
melhor assistir os pacientes cardiopatas desde a prevenção até a reabilitação (HOSPITAL
SÍRIO-LIBANÊS).
Os pacientes da revascularização do miocárdio após permanecer um tempo médio de
48 horas na UTI, podem ser transferidos para a unidade de internação para a continuidade do
cuidado até adquirir condições de alta (SILVA, 2013; GUIMARÃES, 2010). Nesta unidade
cabe ao enfermeiro além de coordenar e realizar os cuidados, também desenvolver ações de
educação em saúde, visando o preparo do paciente e da família, para a readequação das
rotinas e hábitos após a alta hospitalar, auxiliando desta forma no sucesso da terapêutica e
evitando possíveis reintervenções.
Para garantir a continuidade do cuidado é necessário que a equipe da unidade de
internação disponibilize orientações por escrito, através de um formulário de alta voltado
aos profissionais que darão continuidade ao cuidado através de informações clínicas por
meio do documento formal de referência e contrarreferência.
Segundo Serra (2010) e Witt (1992) apontam que a referência consiste no
encaminhamento do usuário para um atendimento com níveis de especialização mais
complexos e a contra contrarreferência quando o usuário é encaminhado a um atendimento
de menor complexidade.
Conforme o Ministério da Saúde, o sistema de referência e contrarreferência
constituem-se num elemento chave da reorganização das práticas de trabalho que
possibilitariam a integração das redes de saúde nos diversos níveis de complexidade
(BRASIL, 1997).
22
Apesar desta recomendação do Ministério da Saúde, os serviços continuam
enfrentando dificuldades na comunicação formal que permitam a continuidade do cuidado
dos indivíduos. Mesmo sendo esta temática muito discutida, inclusive em congressos e
eventos internacionais, na prática ela ainda é pouco executada.
23
3 METODOLOGIA
A metodologia pode ser definida como a ciência e a arte de desencadear ações que
devem ser definidas com pertinência, objetividade e fidedignidade para alcançar os objetivos
propostos. Para Minayo (2014, p.57) o método tem uma função fundamental: tornar
plausível a abordagem da realidade a partir as perguntas feitas pelo investigador.
Neste mesmo sentido, a metodologia estuda os métodos, as sistemáticas e os
procedimentos para atingir objetivos ou resolver problemas (VIANNA, 2001). Para Minayo
(2006), o método e a teoria são inseparáveis quando o objetivo é estudar um tema de
investigação, sendo que esses elementos devem ser tratados de maneira integrada e
apropriada.
3.1 Tipo de estudo
Levando em consideração a natureza do estudo, optou-se por uma metodologia de
pesquisa mista, pois, este método incorpora elementos das duas abordagens, ou seja,
qualitativa e quantitativa. O caráter da pesquisa é exploratório e descritivo, pois, com este
espera-se ter um conhecimento mais aprofundado da história clínica do paciente que passa
pela experiência da cirurgia cardíaca de revascularização do miocárdio.
A metodologia mista Segundo Creswell (2010) permite uma maior compreensão dos
problemas de pesquisa e estes problemas de pesquisa na área da saúde e das ciências sociais
são mais complexos, o que altamente indica o uso deste método.
Conforme Serrant (2015) os métodos mistos oferecem aos pesquisadores
oportunidades de explorarem problemas a partir de ângulos múltiplos, abordagens
quantitativas e qualitativas, fornecendo diferentes “fotografias”, ou seja, percepções, que
permitem um entendimento mais completo dos problemas.
No que tange a qualitativa para Minayo (2014, p.57):
O método qualitativo é o que se aplica ao estudo da história, das relações, das
representações, das crenças, das percepções e das opiniões, produtos das
interpretações que os humanos fazem a respeito de como vivem, constroem seus
artefatos e a si mesmos, sentem e pensam.
Segundo Haguette (1997) o método qualitativo possibilita a compreensão dos
fenômenos sociais de maneira mais aprofundada, visto que, cada um deles apresenta
especificidades de origens e de razão de ser.
Atitudes como abertura, flexibilidade, capacidade de observação e de interação entre
pesquisadores e atores sociais são fundamentais no desenvolvimento da investigação
24
qualitativa, o que possibilita a readequação dos instrumentos durante a pesquisa de campo
visando às finalidades da investigação (MINAYO, 1999).
O método qualitativo vêm à agregar e a complementar o quantitativo, principalmente
porque leva em conta os sentidos que os fatores e as coisas têm para os sujeitos que os
vivem (HARRISON, 1947; SCHUTZ, 1964; citados por MINAYO, 2014). Leopardi (2002,
p. 116) refere que “a pesquisa quantitativa tem maior poder de generalização do que a de
natureza qualitativa”.
Na abordagem quantitativa analisa-se a magnitude dos fenômenos e tem-se o objetivo
de trazer luz aos dados, indicadores e tendências observáveis ou produzir-se modelos
teóricos de alta abstração com aplicabilidade prática (MINAYO, 2006).
Segundo Leopardi (2002), a pesquisa quantitativa deseja garantir a objetividade e a
credibilidade das descobertas, portanto, utiliza, instrumentos de coleta de dados objetivos
que não colocam em risco a vida humana, pois preocupam-se com a quantificação.
Conforme Cervo (1996) o estudo exploratório descritivo permite conhecer diferentes
situações do grupo de estudo, através de um planejamento flexível, que considera vários
aspectos da situação, ainda dizem, que a pesquisa descritiva observa, analisa, registra e
correlaciona fatos ou fenômenos sem manipulá-los.
A pesquisa exploratória tem como principal finalidade desenvolver, esclarecer e
modificar conceitos e ideias, tendo em vista a formulação de problemas mais precisos ou
hipóteses pesquisáveis para estudos posteriores, este método é desenvolvido com o objetivo
de proporcionar visão geral (GIL, 1999).
Conforme este autor, a pesquisa descritiva pretende caracterizar determinada
população, fenômeno ou estabelecimento de relações entre variáveis, sendo que esta pode
servir para proporcionar uma nova visão do problema. As pesquisas descritivas, juntamente
como as exploratórias, são as que habitualmente realizam as pesquisas sociais preocupados
com a atuação prática.
3.2 Local da pesquisa
O estudo foi realizado em um Hospital do interior do Rio Grande do Sul, localizado
em uma cidade que está acerca de 150 km da capital do estado. Esta instituição é um
hospital de ensino que conta com aproximadamente 240 leitos, trata-se de uma entidade
filantrópica, sem fins lucrativos, reconhecida como de Utilidade Pública Federal, Estadual e
Municipal.
25
A instituição é referência para a 8ª Coordenadoria Regional de Saúde (CRS) e para a
13ª CRS em Alta Complexidade em Traumatologia/Ortopedia e em Alta Complexidade
Cardiovascular. Os municípios integrantes da 8ª CRS são: Arroio do Tigre, Caçapava do
Sul, Cachoeira do Sul, Cerro Branco, Encruzilhada do Sul, Estrela Velha, Ibarama, Lagoa
Bonita do Sul, Novo Cabrais, Passa Sete, Segredo e Sobradinho. E os municípios
pertencentes à 13ª CRS são: Candelária, Gramado Xavier, Herveiras, Mato Leitão, Pantano
Grande, Passo do Sobrado, Rio Pardo, Santa Cruz do Sul, Sinimbu, Vale do Sol, Vale
Verde, Venâncio Aires e Vera Cruz.
A cirurgia cardíaca teve início nesta instituição hospitalar acerca de quatro anos atrás,
sendo que aproximadamente após um ano esta instituição conquistou o credenciamento
como unidade de referência em assistência de alta complexidade cardiovascular que
contempla: cardiologia clínica, cirurgias cardíacas, cirurgias vasculares e cardiologia
intervencionista. Para isto foi investido mais de um milhão de reais para se adequar a
estrutura, funcionários, materiais e drogas para a realização das cirurgias cardíacas,
objetivando, o título de referência.
Após a obtenção deste título, todas as cirurgias cardíacas realizadas pelo Sistema
Único de Saúde (SUS), dos usuários residentes nos municípios pertencentes ás
coordenadorias de saúde de abrangência à referência, são realizadas na referida instituição
hospitalar, contabilizando, até o momento estudado, mais de duzentos procedimentos
cardiovasculares, sendo a maioria destes de revascularizações do miocárdio. O anonimato
do nome da instituição hospitalar será mantido à pedido da instituição, desde o
desenvolvimento deste trabalho de conclusão de curso até possíveis publicações científicas
futuras.
3.3 Sujeitos da Pesquisa
Os sujeitos participantes deste estudo são cardiopatas submetidos à cirurgia cardíaca
de revascularização do miocárdio.
Para participar do estudo os sujeitos seguiram os seguintes critérios de inclusão: ser
maior de 18 anos, ter realizado a intervenção pelo SUS, residir nas cidades correspondentes
a 8ª e a 13ª coordenadoria regional de saúde (CRS), ter realizado a intervenção na instituição
hospitalar de origem dos dados, no período de junho de 2012 a junho de 2015. Este período,
de três anos, foi escolhido devido aos dados referentes a estes procedimentos somente
estarem padronizados e sistematizados a partir de junho de 2012.
26
Os critérios de exclusão foram os que não se enquadraram nos itens acima, como
também os casos de quem não desejaram participar da pesquisa e os pacientes/clientes com
dificuldade de comunicação verbal.
3.4 Aspectos éticos e técnicos
Trata-se de um estudo com seres humanos, aonde, atendemos a Resolução 466∕12 do
Conselho Nacional da Saúde, assegurando-se aos participantes desta pesquisa, o anonimato
e o sigilo.
Na realização da pesquisa quantitativa foi necessário acessar os registros hospitalares
(prontuários). Para isso, o projeto, completo, aonde contém a justificativa e os objetivos do
estudo, foram encaminhados para aprovação da instituição, juntamente com o protocolo
padronizado de solicitação de pesquisa devidamente preenchido. Diante desta aprovação o
projeto de pesquisa foi submetido à análise do Comitê de Ética da Universidade de Santa
Cruz do Sul, sob permissão nº 1191755 e CAAE 48170415.0.0000.5343.
A seleção dos sujeitos para a pesquisa qualitativa foi realizada a partir dos prontuários
que participaram da etapa quantitativa. A escolha da amostra foi aleatória estratificada, a
partir do perfil encontrado como também através do sucesso dos contatos telefônicos até a
saturação dos dados.
A saturação dos dados é utilizada para estabelecer ou também fechar o tamanho final
da amostra pesquisada, assim, interrompendo a captação de novos componentes. É quando
os novos participantes da pesquisa começam a reproduzir informações, ou seja, dados para a
pesquisa já retratados de maneira similar, sendo assim, não contribuindo de forma
significativa para a reflexão teórica (FONTANELLA, 2008).
Nesta etapa, os indivíduos participantes foram esclarecidos sobre a proposta e
objetivos do estudo, destacando que os resultados serão repassados e expostos a eles. Todo
o material coletado será guardado pelo pesquisador por dois anos, para a produção de textos
científicos, sendo que, após o período referido, incinerado.
Os sujeitos foram esclarecidos quanto a seus direitos e compromissos como
participantes da pesquisa, deixando claro o direito de desistência do processo de pesquisa ,
assim como, o acesso às informações (dados) por eles fornecidos. Salienta-se que foi
esclarecido aos participantes da pesquisa que o estudo não lhes causará nenhum prejuízo,
seja ele físico ou moral. O local da coleta dos dados qualitativos foi previamente definido e
agendado de acordo com a escolha dos sujeitos, tendo a garantia de privacidade no
momento da entrevista. Após isso, o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE)
27
foi assinado pelos sujeitos em duas vias iguais, ficando uma via com o pesquisador e a outra
em poder do pesquisado, conforme o Apêndice A.
Para a garantia da privacidade dos sujeitos da pesquisa, bem como para a preservação
de seus nomes, nesta pesquisa optou-se por utilizar um número sequencial, na etapa
quantitativa pela ordem das cirurgias e na qualitativa, pela ordem das entrevistas.
3.5 Instrumentos de coleta de dados
A técnica para coleta de dados foi direcionada por dois instrumentos de pesquisa. Para
a quantitativa, realizada de forma documental, através de dados secundários, foi direcionada
por um formulário com questões fechadas que foram respondidas pelas informações
contidas nos registros hospitalares (prontuários), de acordo com o Apêndice B. Na
qualitativa, que aconteceu diretamente com os indivíduos sujeitos da pesquisa, utilizou-se de
um roteiro de entrevista semiestruturada, contendo questões abertas e fechadas direcionadas
aos sujeitos do estudo, conforme o Apêndice C. Estas entrevistas foram gravadas em áudio e
posteriormente transcritas, compondo o material de análise qualitativa da pesquisa.
Conforme Gil (2008) a entrevista é uma técnica na qual o pesquisador se apresenta
frente ao sujeito e lhe questiona sobre o assunto á ser pesquisado, para assim, alcançar os
objetivos da pesquisa, sendo esta uma maneira de interação social.
Já a entrevista semiestruturada é para que os indivíduos a serem entrevistados possam
discorrer seus pensamentos e reflexões sobre o tema questionado. Minayo (2006) descreve
que o roteiro semiestruturado deve ser desenvolvido com tópicos que permitam flexibilidade
durante as conversas e a absorção de novos temas.
3.6 Tratamento e Análise dos dados
Os dados quantitativos desta pesquisa foram trabalhados através de análise estatística,
aonde se desenvolveu tabelas e gráficos com frequências absolutas e relativas, na tentativa
de delinear o perfil epidemiológico dos pacientes que revascularizaram o miocárdio. Fez-se
o uso do software Statistical Package for Social Science (SPSS), versão 22, para construção
do banco de dados e auxílio nas análises quantitativas.
Após o levantamento destes dados, realizou-se a segunda etapa, a qualitativa, aonde o
material foi organizado e analisado, a partir da proposta metodológica da análise de
temática. Conforme Bardin (1979) citado por Minayo (1999), o tema é uma unidade de
significação que se liberta naturalmente de um texto analisado segundo critérios relativos à
teoria que serve de guia a leitura. Já a análise de temática consiste em descobrir os núcleos
28
de sentido que compõem uma comunicação cuja presença ou frequência signifiquem alguma
coisa para o objeto analítico visado.
A análise das entrevistas dos pacientes que passaram pela intervenção de
revascularização do miocárdio realizou-se através da leitura detalhada do material, sem o
estabelecimento prévio de categorias. Estas tiveram origem nas respostas dos sujeitos.
Após este contato com os dados foi elaborada a discussão de dados e as considerações
finais da presente pesquisa.
3.7 Divulgação da pesquisa
Primeiramente os resultados obtidos com esta pesquisa serão divulgados através da
apresentação pública da monografia e examinados pela banca de professores conforme
regimento do Curso de Graduação em Enfermagem da UNISC.
Após a aprovação, será elaborado um artigo científico para encaminhamento à revista
indexada da área da saúde, para que os resultados da pesquisa repercutam e disseminem
conhecimento podendo qualificar a assistência prestada aos pacientes da revascularização do
miocárdio. E por fim, os resultados da pesquisa serão devolvidos à instituição de origem dos
dados.
29
4 APRESENTAÇÃO, ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS
Para compor os dados quantitativos fez-se a busca nos 81 prontuários eletrônicos dos
pacientes submetidos a CRM no período de três anos (junho/ 2012 a junho / 2015) e para
averiguar a qualidade destes dados procedeu-se uma nova busca nos prontuários físicos de
todos os pacientes, exceto dos atendidos no período de junho de 2012 até dezembro de 2013
(34 pacientes) em que só foi possível acessar os prontuários eletrônicos. Nos prontuários
físicos há as chamadas folhas de sala, como a de evolução intra-operatória anestésica e de
enfermagem, onde constam: o tempo de cirurgia, o tempo de CEC (perfusão e
clampeamento) e também há as folhas de evolução dos técnicos de enfermagem das
unidades de internações, ambos preenchidos manualmente.
Em função do tempo disponível e das características deste estudo, a amostra
qualitativa foi planejada inicialmente para ser composta por 12 sujeitos, passíveis de
diminuição ou aumento, conforme a identificação de saturação dos dados, o que não foi
necessário. Portanto, os 12 sujeitos que participaram da pesquisa qualitativa foram
selecionados a partir dos 81 prontuários analisados anteriormente. Para a estratificação
levou-se em consideração a distribuição das frequências de algumas características do grupo
estudado na etapa quantitativa, que são:
 Município de moradia: Santa Cruz do Sul (28,4% prontuários), Cachoeira do Sul (19,8%
prontuários), Venâncio Aires (12,3% prontuários) e Rio Pardo (7,4% prontuários);
 Sexo: Feminino (28,4% prontuários) e Masculino (71,6% prontuários);
 Faixa etária: menor de 50 anos (7,4% prontuários), de 51 a 60 anos (29,6% prontuários),
de 61 a 70 anos (39,5% prontuários) e maiores de 71 anos (23,5% prontuários);
 Período decorrido da CRM: 22 de junho de 2012 a 21 junho de 2013 (22,2%
prontuários), de 22 junho de 2013 a 21 de junho de 2014 (33,3% prontuários) e de 22
junho de 2014 a 21 junho de 2015 (44,5% prontuários).
Sendo assim, foram estratificados para a etapa qualitativa: cinco sujeitos de Santa
Cruz do Sul, três de Cachoeira do Sul, dois de Venâncio Aires, dois de Rio Pardo, destes,
oito homens e quatro mulheres. Quanto à faixa etária foram entrevistados dos menores de 50
anos (um sujeito), de 51 a 60 (quatro sujeitos), de 61 a 70 anos (cinco sujeitos) e maiores de
71 anos (dois sujeitos) com a idade estratificada a partir dos prontuários. Destes foram
entrevistados do primeiro período (três sujeitos), do segundo (três sujeitos) e do terceiro
(seis sujeitos).
30
Ainda buscou-se estratificar novamente quanto ao sexo, para melhor distribuição:
sendo uma mulher entrevistada de cada faixa etária das quatro estipuladas, uma de cada
município dos quatro mais prevalentes, uma do primeiro período, uma do segundo e duas do
terceiro período que foi o de maior frequência. Quanto aos homens, seguiu-se dos mesmos
critérios: três da segunda faixa etária, quatro da terceira e um da quarta faixa etária, sendo,
quatro de Santa Cruz do Sul, dois de Cachoeira do Sul, um de Venâncio Aires e um de Rio
Pardo, respectivamente, um do primeiro ano, três dos segundo ano e quatro do terceiro ano.
Do município de Santa Cruz do Sul foram: um homem (da quarta faixa etária de
idade) do terceiro período, um homem (da terceira faixa etária) do terceiro período, um
homem (da terceira faixa etária) do primeiro período, um homem (da segunda faixa etária)
do primeiro período e uma mulher (da primeira faixa etária) do primeiro período, fechando
quatro homens e uma mulher.
Do município de Cachoeira do Sul foram: uma mulher (da quarta faixa etária) do
terceiro período, um homem (da terceira faixa etária) do terceiro período e outro homem (da
segunda faixa etária) do terceiro período.
Do município de Venâncio Aires foram: uma mulher (da segunda faixa etária) do
segundo período e um homem (da segunda faixa etária) do terceiro período.
Do município de Rio Pardo foram: um homem (da terceira faixa etária) do segundo
período e uma mulher (da terceira faixa etária) do terceiro período.
Após a estratificação, os 12 sujeitos escolhidos de forma aleatória foram consultados
por telefone se aceitavam participar da pesquisa.
Em apenas dois casos foi necessário realizar-se novo sorteio, pois, no primeiro caso,
a paciente selecionada havia falecido em decorrência de complicação cardíaca e no segundo
caso foi referido que o paciente estava hospitalizado por comportamento agressivo iniciado
após a CRM. Neste novo sorteio, novamente obedeceu-se aos critérios de estratificação e
aleatoriedade.
A partir do aceite dos 12 sujeitos foi agendado local e data da entrevista, conforme
disponibilidade dos entrevistados. As entrevistas ocorreram nas residências dos indivíduos
no período de 31 de agosto a 08 de outubro de 2015 e duraram de 20 minutos à uma hora e
trinta minutos, tendo sido a entrevistadora bem recebida, em todas as situações.
4.1 Perfil sócio demográfico dos indivíduos
Para construir o perfil epidemiológico dos indivíduos que realizaram a CRM na
instituição e período estudado, utilizou-se, portanto, os dados contidos nos prontuários
31
físicos e eletrônicos. Na Tabela 1, podem-se visualizar as principais características
sociodemográficas dos sujeitos do estudo.
Tabela 1 - Características sociodemográficas dos indivíduos que realizaram a CRM no
período de junho de 2012 a junho de 2015, na instituição. SCS, 2015.
Variáveis
N
%
Masculino
Feminino
58
23
71,6%
28,4%
< 50 anos
51 a 60 anos
61 a 70 anos
> 71 anos
6
24
32
19
7,4%
29,6%
39,5%
23,5%
Estado Civil
Solteiro/Viúvo/Divorciado
Casado/União Estável
IGN
44
35
2
54,3%
43,2%
2,5%
Cor/Raça
Branca
Negra
IGN
76
2
3
93,8%
2,5%
3,7
Zona de Moradia
Urbana
Rural
63
18
77,8
22,2
2
3
13
25
30
8
81
2,5
3,7
16,0
30,9
37,0
9,9
100,0
Sexo
Idade
Profissão
Setor Primário (matéria prima)
Setor Secundário (indústria)
Setor Terciário (comércio e serviços)
Aposentado
Outros
IGN
Total
Fonte: Dados dos prontuários. IZP (2015).
Conforme se observa na Tabela 1 a população que se submeteu a cirurgia no período
estudado foi majoritariamente masculina (71,6%), concordando com o estudo de Janssen
(2015) que encontrou predominância de 68,5% para o sexo masculino, assim como, Bonotto
(2013) em um Hospital Sul Catarinense referência em Cirurgia Cardiovascular com 59% de
prevalência no sexo masculino e Tonial (2011) que em um Instituto de Cardiologia
encontrou 61,5% dos pacientes submetidos a CRM do sexo masculino.
O estudo também se apresenta em conformidade com os levantamentos de Kaufman
(2009) e (2011) e o de Fernandes (2009) realizado em um hospital de referência em
cardiologia na capital do Rio Grande do Sul no qual, prevaleceram os homens (70,7%).
32
A idade média de todos os participantes da pesquisa foi de 63,6 anos, entre as
mulheres foi de 65,2 e nos homens 63 anos. O participante com menor idade tinha 46 anos e
o paciente mais senil tinha 80 anos de idade no momento em que foi efetuada a internação
para a realização da intervenção, sendo que, a idade mínima das mulheres foi de 46 anos e a
máxima de 80 e dos homens a mínima foi de 47 anos e a máxima de 79 anos.
Também é possível observar que mais da metade (63%) dos indivíduos tinham no
momento da intervenção cirúrgica mais de sessenta anos de idade. Este dado concorda com
o observado através do estudo de Bonotto (2013) no qual 68% dos participantes também
tinham idade superior a sessenta anos. Fernandes (2009) obteve a média de idade geral de
65,3 anos, semelhante à dos indivíduos desta pesquisa.
Quanto ao estado civil da população estudada a maior parcela foi de indivíduos que
vivem sem consorte: solteiros, viúvos e divorciados. Este dado chama à atenção quando
comparado a outros estudos pela desconformidade, como o de Bonotto (2013) e Janssen
(2015), que encontram a predominância de indivíduos em uniões estáveis.
Pode-se inferir a partir desta informação, que os indivíduos que vivem só tendem a
cuidar-se menos e procurar os serviços de saúde mais tardiamente. Estudos como o de
Swedberg (2005) apontam que a união estável, está relacionada à maior apoio social e
emocional, um importante fator a ser considerado na perspectiva da saúde e,
consequentemente da DAC e da recuperação pré e pós-cirúrgica.
Os dados que mostram a prevalência da cor branca e da moradia na zona urbana
exemplificam as características prevalentes da população da região estudada, não
significando risco aumentado nestes indivíduos.
Durante as buscas nos prontuários, inúmeras profissões foram encontradas. Para
facilitar o entendimento foram agrupadas pelos setores econômicos à que pertencem, sendo
que, o setor terciário (comércio e serviços) foi o mais prevalente por abranger as profissões
de maior frequência no estudo, como: empresário, empregada doméstica, eletricista, corretor
de imóveis, etc. Assim, demonstrando também uma característica econômica da região.
Chama a atenção à proporção da descrição “outros” que pode significar que esse dado não
foi perguntado ao sujeito ou, as profissões não se enquadravam nas pré-estabelecidas no
sistema de internação.
A tabela abaixo pretende elucidar o perfil dos sujeitos entrevistados na etapa
qualitativa.
33
Tabela 5. Descrição de características dos sujeitos participantes do estudo
qualitativo. SCS, 2015.
Sujeitos
Sexo
Idade
Município
S1
Feminino
65
Rio Pardo
S2
Masculino
65
Rio Pardo
S3
Masculino
74
Santa Cruz do Sul
S4
Masculino
67
Santa Cruz do Sul
S5
Masculino
67
Santa Cruz do Sul
S6
Masculino
61
Santa Cruz do Sul
S7
Feminino
48
Santa Cruz do Sul
S8
Feminino
53
Venâncio Aires
S9
Masculino
60
Venâncio Aires
S10
Feminino
75
Cachoeira do Sul
S11
Masculino
66
Cachoeira do Sul
S12
Masculino
54
Cachoeira do Sul
Fonte: Dados da pesquisa qualitativa. IZP (2015).
Zona
Tempo da CRM
Urbana
Urbana
Urbana
Urbana
Urbana
Rural
Urbana
Urbana
Urbana
Urbana
Urbana
Rural
12 meses
24 meses
13 meses
13 meses
29 meses
32 meses
31 meses
23 meses
3 meses
11 meses
22 meses
7 meses
Analisando a tabela acima é possível visualizar que os sujeitos da amostra qualitativa
apresentam o mesmo perfil encontrado quando analisado os 81 prontuários, confirmando o
sucesso da estratificação como forma de representar qualitativamente a população estudada.
4.2 Histórias clínicas dos indivíduos
Lembrando que a história clínica de um indivíduo é construída a partir de seus relatos
e de seus familiares e dos registros hospitalares sobre suas enfermidades atuais e passadas,
neste capítulo serão descritos e analisados os dados encontrados nos 81 prontuários e nas 12
entrevistas, que se referiam a este aspecto de suas vidas.
Nos prontuários foram encontradas de uma a três indicações cirúrgicas por indivíduo,
sendo que, 11 indivíduos apresentavam uma indicação cirúrgica, 29 tinham duas e 41 com
três, totalizando 192 indicações. Entre estas, encontrou-se 83 diferentes indicações que
foram agrupadas, para fins didáticos, em 14 categorias descritas na Tabela 2.
Tabela 2 - Descrições das indicações cirúrgicas encontradas nos prontuários do pacientes
submetidos a CRM no período de junho de 2012 a junho de 2015. SCS, 2015.
Variável
DAC Triarterial
N
32
%
16,7
Cardiopatia Isquêmica
32
16,7
Sintomático
26
13,5
Estenose Severa de Coronárias
18
9,4
Lesão grave de ADA
17
8,9
Angina Pectoris
16
8,3
Trombose de Stent
10
5,2
Risco de Morte
10
5,2
34
Insufic. Coronariana Severa
9
4,69%
Lesão oclusiva de ADA e ACD
7
3,65%
Obstrução Severa
6
3,12%
DAC
4
2,08%
Aneurisma de Aorta
3
1,56%
Bloqueio Atrioventricular
2
1,04%
Fonte: Dados dos prontuários. IZP (2015).
Analisando a Tabela 2 observa-se uma maior frequência de indicações cirúrgicas nos
indivíduos que apresentavam DAC triarterial e cardiopatia isquêmica. Segundo Leão (2011)
a DAC por ser uma condição patológica das artérias coronárias (decorrente do acúmulo
anormal das placas de ateroma na parede endotelial das artérias) encontra-se como a
principal indicação para a CRM, por esta ser o principal tratamento utilizado para a sua
correção.
Segundo Janssen (2015) como categoria diagnóstica a DAC é manifestada por
angina pectoris, infarto agudo do miocárdio (IAM), insuficiência cardíaca congestiva e
morte súbita.
Neste estudo, agrupou-se o IAM (11 – 5,73%) como indicação cirúrgica (11 –
5,73%), dentro categoria “cardiopatia isquêmica” por ser uma de suas causas. Segundo o
Ministério da Saúde (2010) a cardiopatia isquêmica refere-se à um transtorno da função
cardíaca causado por fluxo sanguíneo insuficiente para o tecido muscular do coração.
Os valores de indicações cirúrgicas, de riscos cardiovasculares e de patologias
associadas, nem sempre concordam com o número total de prontuários analisados (81) já
que estas características, ou não foram citadas ou apresentaram-se mais de uma vez em cada
documento.
Na coleta dos dados qualitativos foi possível observar que muitos pacientes tiveram
sua indicação cirúrgica numa consulta de urgência em virtude de um mal súbito, como
observa-se nas seguintes falas:
“Tudo foi muito ligeiro começou com uma falta de ar muito forte, o ar parecia
não me saciar...no dia seguinte...cada vez pior...de noite começou uma dor tão
forte nas minhas costas que não conseguia dormir... me levaram no PAAM...me
mandaram para casa em repouso absoluto...e na segunda-feira fui pro Hospital
Santa Cruz fazer o cateterismo...me mandaram embora e voltar na quinta... me
operaram na sexta-feira” (S1).
“Eu sempre fui um homem de força... de repente fiquei ruim... parado eu não
sentia nada, mas, se eu caminhasse meia quadra eu sentia falta de ar, começava a
sufocar...me subia uma coisa que me tirava o fôlego...aí eu começava a tremer e
eu não respirava direito...aí eu tinha que parar” (S3).
35
“Eles me levaram pro plantão e lá começaram a fazer exames, porque eu
vomitava muito e gritava de dor no peito...daí eles constataram que eu estava
tendo um infarto” (S7).
A avaliação pré-operatória dos fatores de risco e patologias associadas, que também
são chamadas de co-morbidades, é imprescindível para que a assistência seja aperfeiçoada,
pois através da identificação de fatores de risco é possível o desenvolvimento de medidas
que neutralizem sua influência deletéria. Segundo Feier (2005) este procedimento tem, nos
últimos 20 anos, resultado numa importante redução da morbimortalidade operatória.
Nos prontuários analisados foram descritos diversos tipos de riscos cardiovasculares
e de patologias associadas conforme pode-se observar na Tabela abaixo.
Tabela 3 – Descrição dos riscos cardiovasculares e patologias associadas no préoperatório de pacientes submetidos a CRM no período de junho de 2012 a junho de 2015.
SCS, 2015.
VARIÁVEL
N
%
Risco Cardiovascular
Sim
Não
IGN
52
15
14
64,2
18,5
17,3
Tipos de Risco Cardiovascular
Tabagismo/Ex-tabagismo
Obesidade/Sobrepeso
Etilista/Ex-Etilista
História de DCV na família
41
19
5
4
59,4
27,5
7,3
5,8
Patologias Associadas
HAS
70
35
DAC
50
25
DLP
39
19,5
DM Tipo II
24
12
IAM prévio
7
3,5
IRC
5
2,5
DPOC
2
1,0
Hipotireoidismo
1
0,5
Arteriosclerose Sistêmica
1
0,5
AVC Prévio
1
0,5
Fonte: Dados dos prontuários. IZP (2015).
Analisando a Tabela 3, percebe-se que apesar da maioria dos pacientes submetidos à
cirurgia apresentarem registro de risco cardiovascular, alguns não apresentavam nenhum
risco e um número significativo não apresentavam o registro, contabilizados como
ignorados. Também não foi possível elucidar no estudo, quais os critérios utilizados pelos
36
profissionais para definir estes riscos e se os diferentes profissionais se utilizaram dos
mesmos critérios de risco nesta avaliação.
Constata-se com isso que é necessário um consenso institucional da equipe que
fornece assistência a estes indivíduos, como talvez a utilização de um formulário validado
cientificamente ou um protocolo, para que os critérios estejam mais claros e que se reduza à
zero os casos ignorados. Também no estudo de Janssen (2015) para analisar o perfil dos
pacientes submetidos à CRM, os dados pré-operatórios sobre tabagismo, etilismo e
obesidade, não foram preenchidos entre 70,0% e 95,7% dos prontuários o que sugere uma
elevada subnotificação. No presente estudo, a maneira como os dados estavam apresentados
nos prontuários, deixaram dúvidas, por exemplo, pode ser que todos tenham sido avaliados e
os que não apresentavam riscos não foram descritos desta forma e sim como ignorados.
Segundo Janssen (2015) “sabe-se que a obesidade, o consumo de bebidas alcoólicas e
o tabagismo vêm aumentando consideravelmente na sociedade, constituindo-se como fatores
de risco significantes para a DAC”.
Dos tipos de risco cardiovascular citados nos prontuários observa-se que o tabagismo
é o mais frequente, aparecendo em mais da metade dos casos, seguido, da obesidade e
sobrepeso. No estudo de Bonotto (2013) com 98 indivíduos que realizaram CRM, 28,6%
eram ex-tabagistas, 16,3% eram tabagistas ativos, 6,1% eram etilistas e 4,1% ex-etilistas.
O tabagismo também foi encontrado como um dos fatores de risco mais prevalente em
um estudo com 78 pacientes que tiveram o primeiro episódio de IAM. Destes, 44, 9% eram
fumantes, 21,8% eram ex-fumantes e 22,8% fumantes passivos (Colombo, 1997). Conforme
o estudo de Svendsen (1987) citado por Colombo (1997) os fumantes passivos mostraram
ter níveis elevados de monóxido de carbono expirado, diminuição da função pulmonar e
aumento do risco de desenvolvimento da DAC.
Conforme Kaufman (2011) “tabagismo, dislipidemia, sedentarismo, hipertensão
arterial, obesidade e diabetes são os principais fatores de risco que contribuem para o
aumento da incidência da doença coronariana” desta maneira aumentando a incidência de
cirurgia cardíaca. Para Swedberg (2005) o etilismo e o tabagismo são os principais fatores
de risco para a DAC.
Segundo Schutz (2008) o tabagismo duplica o risco de DAC e tem relação direta à
intensidade do consumo, pois, os sujeitos que fumam mais de uma carteira de cigarro por
dia, possuem risco cinco vezes maior de ter morte súbita do que indivíduos não fumantes.
No que diz respeito às patologias associadas percebe-se nos registros deste estudo
maior prevalência de HAS (35%),seguida por DAC (25%) e por DLP (19,5%). Quanto ao
37
histórico de Doença Cardiovascular (DCV) na família somente em quatro prontuários houve
o registro deste dado e em dois foi registrado que não havia histórico familiar. Trata-se de
um dado alarmante, pois, dos 81 prontuários analisados em 75 prontuários esse dado foi
ignorado ou não foi registrado no pré-operatório, confirmando desta forma a necessidade de
uma padronização do registro do pré-operatório.
Durante as entrevistas, muitos foram os sujeitos que referiram possuir história familiar
de doença cardiovascular, como se observa nas falas:
“A minha mãe tinha problema... morreu de infarto” (S9).
“A minha mãe... ela teve só um infarto e foi” (S7).
“Meu pai tinha problema de coração e morreu disso” (S11).
“Minha mãe morreu disso... ela estava tentando chegar no hospital, mas, não deu
tempo...ela tinha a mesma idade que eu quando fiquei ruim, 64 anos” (S1).
“Meu irmão, o segundo mais velho... por enquanto os médicos disseram que não
dá para operar por causa da diabetes... no cateter disse que já precisa” (S8).
Muitos destes pacientes também tinham diagnóstico de hipertensão arterial antes da
cirurgia, alguns utilizando a medicação e outros com dificuldades na adesão:
“Eu sei que eu tinha pressão alta, mas, nunca tratei, até tomei por uns dias
remédio, assim, por um tempo sabe, mas, não foi sempre assim como vocês
mandam, mas, agora eu tomo tudo direitinho” (S2).
“Eu era hipertensa...tomava atensina, drenol e propranolol [...] eu tomava tudo
que me mandavam” (S1).
“Tenho pressão alta... um tempo tinha parado de tomar os comprimidos da
pressão porque inventei de plantar fumo e me aposentei e daí o dinheiro era
pouco” (S4).
O cateterismo com stent foi registrado como realizado previamente à cirurgia em 11
(13,6%) dos 81 participantes desta pesquisa, sendo que, em 18 (22,2%) não foi realizado e
em 52 (64,2%) prontuários essa informação foi ignorada. Dos 11 sujeitos que colocaram
stent: um (10 vezes), um (três vezes), um (duas vezes) e oito pessoas (uma vez). Sendo que,
apenas um homem, dos 81 indivíduos, estava realizando a CRM pela segunda vez, tendo no
momento da internação para a segunda intervenção, 59 anos de idade.
Na amostra qualitativa também uma parcela muito significativa dos entrevistados
relatou que se submeteu ao cateterismo antes da CRM:
“Fiz o cateterismo primeiro com a mola, mas daí o médico foi ver e eu tive que
voltar e fazer a cirurgia” (S8).
“Fui pra UTI e quando dei uma melhorada coloquei o primeiro stent... aí
começou...era de dois em dois meses, as vezes nem dava isso...sempre trocando
que perdi as contas... sei que pra UTI fui 15 vezes...até que o médico me disse que
não dava mais, precisava abrir o peito” (S7).
38
Quanto aos tempos vivenciados pelos pacientes no pré, trans e pós-operatório,
buscou-se, com os dados disponíveis nos prontuários, quantificá-los em diferentes períodos,
conforme a duração total do procedimento em foco. Para melhor entendimento e
visualização, estes dados podem ser observados na Tabela abaixo.
Tabela 4 – Descrição dos Tempos obtidos nos prontuários dos pacientes submetidos a
CRM no período de junho de 2012 a junho de 2015. SCS, 2015.
TEMPOS
Tempo de Indicação Cirúrgica (dias)
Tempo de Hospitalização (dias)
Tempo de UTI (dias)
Tempo de Ventilação Mecânica (horas)
Tempo de Cirurgia (minutos)
Tempo de CEC – Perfusão (minutos)
Tempo de CEC – Clampeamento (minutos)
N
48
74
76
77
71
71
71
%
59,3
91,4
93,8
95,1
87,7
87,7
87,7
MÍNIMO
1
5
2
3
65
33
22
MÉDIO
6,4
11,7
4,7
35
307
91,0
69,2
MÁXIMO
41
33
26
648
480
432
167
Fonte: Dados dos Prontuários. IZP (2015).
Apesar de não ter sido encontrado referência científica quanto ao tempo ideal entre a
solicitação e a realização da cirurgia propriamente dita, acredita-se que, menos de uma
semana (6,4 dias) possa ser muito exíguo para dar conta da complexidade do preparo
adequado a este porte de intervenção, exceto nos casos de risco eminente de morte. A
preparação precisa dar conta de aspectos clínicos, burocráticos, psicológicos, econômicos e
familiares do paciente, entre outros. Importante ressaltar que o período contabilizado entre a
indicação e a cirurgia nos prontuários analisados, não foi vivenciado totalmente no ambiente
hospitalar, reduzindo ainda mais o tempo de contato pré-operatório dos profissionais com os
indivíduos, o que pode comprometer a qualidade da preparação cirúrgica e talvez justifique
a má qualidade dos dados pré-operatórios nos prontuários.
Quanto ao tempo de hospitalização os registros mostraram de 5 a 33 dias, com média
de 11,7 dias, sendo que, este tempo foi maior do que encontrado no estudo de Janssen
(2015) que foi de 6 a 9 dias. Acredita-se que este dado, possa sofrer interferência direta do
perfil dos pacientes e da gravidade dos mesmos, variável essa que não foi possível comparar
com o estudo citado acima.
O tempo máximo de CRM obtido neste estudo foi de 480 minutos, ou seja, oito
horas. Já na pesquisa de Torrati (2012) o tempo máximo foi de nove horas e cinquenta
minutos, porém neste caso foram computados todos os tipos de cirurgias cardíacas. Quanto
às condições da equipe de permanecer por muitas horas em campo operatório, não foi
encontrado estudos científicos que avaliem esta questão, mesmo sabendo-se que trabalhar
por tanto tempo, sem descanso, é inevitavelmente insalubre.
39
O tempo máximo de CEC – perfusão, encontrado nos prontuários foi de 432
minutos. Este tempo quando comparado com o descrito por Bonotto (2013) que foi de 210
minutos, representa mais que o dobro. Esta disparidade pode ser justificada pois encontrouse nos prontuários um caso atípico de 432 minutos, sendo que o segundo maior tempo foi de
178 minutos, abaixo do que descrito pelo autor supra citado. Em relação ao tempo máximo
de clampeamento (167 minutos) também equivale a mais de duas vezes o tempo encontrado
por Bonotto (80 minutos) em um Hospital Universitário do Norte do país.
Já quando comparando os tempos mínimos de CEC, Bonotto (2013) têm em seu
estudo de 30 minutos de perfusão e 15 minutos de clampeamento, sendo muito próximos
dos encontrados nesta pesquisa, 33 e 22 minutos respectivamente.
Hueb (2013) traz que as complicações pós-operatórias associadas à CEC têm maior
incidência em pacientes submetidos a tempos de CEC superiores à 90 minutos. Já no estudo
de Brito (2009) o tempo de CEC superior a 115 minutos é descrito como fator de risco para
complicações pós-operatórias. . Neste estudo 32 pacientes (39,5%) tiveram tempo de CEC
superior a 90 minutos e 12 pacientes (14,8%) superior a 115 minutos.
Conforme Oliveira (2012) maior tempo de CEC implica em ativação do sistema
imune e liberação de mediadores inflamatórios, resultando em diversas disfunções
orgânicas. Assim, quanto maior o tempo de CEC, maior a probabilidade de ocorrência de
complicações pós-operatórias.
Na avaliação dos prontuários quanto às intercorrências pós-operatórias, encontrou-se
47 indivíduos (58%) que apresentaram algum tipo de complicação. Destes, 10 (12,3%)
complicações foram no transoperatório, 29 (35,8%) no pós-operatório e 8 (9,9%) no trans e
no pós-operatório. Ao total foram 65 complicações, pois, 10 indivíduos apresentaram mais
de uma intercorrência. As principais foram: 19 (29,2%) algum tipo de arritmia, 18 (27,7%)
hemorragia, 6 (9,2%) parada cardiorrespiratória (PCR), 5 (7,7%) insuficiência renal, 3
(4,6%) derrame pleural, 3 (4,6%) complicações infecciosas e outras 11 (16,9%).
Torrati (2012) encontrou intercorrências semelhantes à do presente estudo, como:
arritmias e hemorragia, mas, selecionou como as três principais: dor, oligúria e
hiperglicemia, que não apareceram neste estudo, pois, a autora em sua prática clínica
percebeu que estes eventos são entendidos pela equipe que assiste como eventos adversos
esperados neste tipo de pós-operatório e, portanto, não registrados. Já no estudo de
Fernandes (2009) foram avaliados somente as complicações pós-operatórias e estas
ocorreram em 48,3% dos pacientes, sendo, semelhante ao percentual encontrado no atual
estudo (35,8% + 9,9% = 45,7%).
40
Finalizando, encontrou-se nos prontuários estudados, como perfil de risco
cardiovascular e patologias associadas na avaliação pré-cirúrgica, as seguintes
características:
59,4%
tabagistas
e
ex-tabagistas,
35%
hipertensos,
27,5%
sobrepeso/obesidade, 19,5% dislipidêmicos, 13,6% com angioplastia coronária prévia. 12%
diabéticos, 5,8% com história familiar para doença cardiovascular, 2,5% insuficiência renal
crônica e 0,5% com arteriosclerose sistêmica. Já Tonial (2011), estudando 79 pacientes
submetidos à CRM em um Instituto de Cardiologia, encontrou 88% hipertensos, 54,7%
dislipidêmicos, 36% diabéticos, 33% com história familiar positiva para doença arterial
coronariana, 31,6% com angioplastia coronária prévia, 30,7% tabagistas, 12% com doença
arterial periférica, e 9,3% com doença renal crônica. Também Fernandes (2009) que estudou
58 pacientes submetidos à CRM na capital do estado, encontrou que a maioria apresentou
sobrepeso/obesidade e também fatores de risco clássicos para a cardiopatia isquêmica, como
HAS(86,2%), diabetes (36,2%) e dislipidemia (60,3%).
Comparando os perfis descritos acima se percebe que apenas o tabagismo é mais
prevalente na população deste estudo, o que provavelmente se deve a uma característica
cultural e social da região onde ocorreu a pesquisa, que baseia sua economia na plantação e
manufatura do tabaco. As demais patologias associadas e fatores de risco apresentam-se em
menor freqüência na população estudada quando comparadas com as outras, o que pode
indicar que esta população realmente apresenta menos risco cardiovascular ou novamente
pode exemplificar a má qualidade nos registros hospitalares.
4.4 Atenção ao paciente submetido à cirurgia de revascularização do miocárdio
Entende-se que a atenção ao paciente de revascularização do miocárdio é complexa,
altamente especializada e por isso necessita de serviços e profissionais capacitados e
motivados para dar conta da implantação desta transformação, que na realidade estudada
ainda é bastante recente, ocorrendo há apenas três anos.
Estas modificações envolvem a readequação tanto dos profissionais como dos
serviços, no que diz respeito às especificidades destes pacientes desde o primeiro
atendimento para o encaminhamento inicial até a retomada de sua autonomia cotidiana com
a melhor qualidade de vida possível. Por isso, todo o sistema de saúde deve ser envolvido
nesta adequação deste o nível macro (Regionais e Secretarias de Saúde) até o nível o micro
(atenção primária, secundária e terciária).
Este estudo teve maior enfoque na atenção hospitalar, por acreditar-se que neste
espaço o paciente vivencia o período mais crítico do percurso. Abordar-se-á abaixo
41
considerações sobre o relato dos sujeitos e os registros em prontuários do período
vivenciado por eles na instituição hospitalar.
4.4.1 No período pré-operatório
Apesar dos inúmeros avanços tanto na área cirúrgica como na anestésica, ocorridos
nas últimas décadas, ainda perdura entra a população um grande temor em relação a este
procedimento, pois, envolve um órgão considerado nobre, o coração. Em função disto, os
participantes desta pesquisa foram questionados sobre como enfrentaram este momento.
Abaixo se pode avaliar suas percepções através das falas:
“Eu não senti medo, fui tranquila, fui conversando com as pessoas conforme
conta minha filha, porque eu não lembro de muita coisa[...] eu tive muita fé [...]
não pensei em nenhum momento que iam me abrir que iam colocar veia nova no
meu coração [...]” (S1).
“Eu estava muito tranquilo, porque as pessoas lá do hospital são muitos boas, me
deixavam mais tranquilo ainda do que eu já estava” (S2) .
“Eu fiquei um pouco nervoso, mas depois, no dia que eu fui para o hospital pra
fazer a cirurgia, parece que me deram alguma coisa pra eu tomar, eu não entendi
isso [...] porque daí eu fiquei tranquilo, tranquilo, sem nem pensar o que vai ser, o
que vai acontecer e o que pode acontecer [...] eu estava numa tranquilidade só lá
no hospital” (S5).
“Eu me apavorei, porque eu já tinha medo de operação [...] que susto... Eu nunca
tinha nem baixado hospital antes [...] ia ao hospital só pra visitar os outros, mas,
foi tranquilo, não posso me queixar de nada [...]” (S6).
É possível verificar que apesar de alguns estarem previamente temerosos à cirurgia, a
maneira pela qual foram preparados pelos profissionais do hospital foi tranquilizadora. Dois
sujeitos relatam não se lembrar deste período, acredita-se que isso se deu, em função da
utilização de medicação pré-anestésica.
Encontramos no relato do S6 um possível cuidado personalizado voltado para as
características apresentadas pelo paciente (medo):
“É pra mim eles não falaram que era uma operação de risco, o que tinha que se
cuidar depois, eles falaram foi pra mulher, porque se falassem pra mim, aí sim a
coisa complicava, eu já estava com medo né?(S6)”
O entrevistado (S4) que iria realizar a cirurgia e a esposa faleceu de IAM poucos dias
antes, o preparo cirúrgico pareceu-nos diferenciado, talvez em função do luto. O paciente
permaneceu internado previamente a cirurgia por oito dias, no mesmo quarto de outro
paciente que já havia sido submetido a esta cirurgia, o que talvez tenha auxiliado no seu
preparo pré-operatório.
42
Quando perguntados sobre a atuação dos profissionais neste momento, a maioria
elogiou tanto a equipe de enfermagem como médica, como se pode perceber a seguir.
“Eu era mais bem cuidado do que estivesse sendo cuidado pelos filhos, pela
família [...] aquelas enfermeiras que atendem de branco sempre estavam na
minha cama e aqueles médicos também, tinha aquelas enfermeiras chefe que eram
preocupas me perguntando no que eu sentia e o que eu achava das coisas” (S2).
“Tudo o que eu perguntava e falava pras enfermeiras elas conversavam comigo e
eu pedia pra chamarem a chefe e elas viam e me explicavam tudo, a enfermeira
chefe me esclarecia tudo pra eu entender” (S12).
Apesar dos pacientes relatarem que foram bem orientados no pré-operatório quando
analisado aos registros do pré-operatório nos 81 prontuários, encontrou-se somente o
registro em 77 prontuários e em quatro este não foi realizado por nenhum profissional. Os
registros nos 77 prontuários foram realizados por um ou mais profissionais de saúde, sendo
que, a maior parte foi realizada por 3 profissionais concomitantes: enfermeiro, médico
cardiologista e médico anestesista. Salienta-se também que cinco pré-operatórios foram
realizados (registrados) somente pelo profissional enfermeiro e 10 somente pelo médico
cardiologista. O profissional enfermeiro totalizou, ou seja, realizou/registrou sozinho e
também com demais profissionais o preparo pré-operatório de 37 indivíduos (45,7%) dos 81
atendidos.
Não foi questionado sobre a percepção dos pacientes no período trans operatório, por
entender-se que neste período o paciente encontra-se sobre efeitos de sedativos e
anestésicos. Mas, um dos pacientes referiu que a família teve um bom suporte pela equipe
neste período:
“As enfermeiras avisavam de hora em hora sobre como estava à cirurgia” (S1).
Importante ressaltar que dos 81 casos estudados em todos foram realizadas as
intervenções com circulação extracorpórea. Oliveira (2012) descreve em seu estudo que a
chance de um indivíduo falecer foi 2,19 vezes superior nos indivíduos submetidos ao
procedimento com circulação extracorpórea quando comparados com os que não foram
submetidos a esse procedimento.
4.4.2 No pós-operatório
A totalidade dos pacientes retomou a consciência na UTI. Conforme rotina da
instituição os pacientes são deslocados do centro cirúrgicos para a UTI ainda sedados e
intubados. Sobre o período vivenciado na UTI, seguem os relatos:
“Me lembro quando eu me acordei estava tudo escuro e quando fui despertando
era um nevoeiro branco ao abrir os olhos [...] depois eles me amarraram era
preciso eu tinha três ou quatro drenos, eu acho que poderia arrancar [...] estava
43
doendo tudo, eu estava fraco, não podia nem levantar a cabeça. Ficar deitado de
costas tantos dias, que dor, que desconforto. Cruzes como sofri” (S9).
“Na UTI elas chamavam a família e contavam o que estava acontecendo e o que
seria feito, o que esperavam de mim” (S1).
“Foi tudo bem na UTI. A minha única dificuldade era ficar deitado de costas, a
enfermeira me xingava que não podia deitar de lado, tinha que ficar de costas”
(S4).
“Na UTI tem aquelas coisas, que fazem parte, incomodam um pouco, se eu
suspirava, bocejava, já vinha tudo naquele computador em cima de mim” (S2).
Quanto à paciente mais idosa (S10), apesar de referir que foi bem atendida, relata
diversas complicações pós-operatórias como:
“[...] eu fiquei com as pernas frouxas e deu derramamento nas minhas vistas da
cirurgia e pra mim eles não falaram nada. [...] na UTI passei trabalho, passei
muito frio, que peguei um resfriado triste, que fiquei me urinando e usando calça
matéria. O que me incomoda agora é as pernas, custou tanto pra fechar, era um
buraco feio [...] eu rejeitei os grampos da cirurgia, eles disseram que era pra
tirar, mas, agora eu não quero mais, porque agora cicatrizou [...] As minhas
costas ficaram avermelhadas, saiu o couro, mas, não abriu ferida e acima do
bumbum também aconteceu isso” (S10).
As complicações apresentadas por esta paciente podem ter influência da sua idade
elevada e de patologias prévias, mas chama atenção, pois traz consigo diversas queixas em
relação aos cuidados na UTI também apresentados por outro paciente (S5).
“Depois que eu acordei, tomei consciência foi tranquilo. No dia que eu ia pro
quarto não tinha leito e no dia seguinte me deixaram pronto na poltrona às 9
horas e me deixaram lá até quase às 17 horas [...] Eu estava meio assim, porque
todo esse tempo eu estava fraco da cirurgia e sentado por muito tempo, porque eu
estava com aqueles troços tudo dependurado, colado em mim e eu não conseguia
me mexer e me ajeitar, me virar sei lá e eu fui ficando com medo que eles fossem
me deixar a noite toda sentado lá e já começou a me passar pela cabeça e já
comecei a ficar ruim. Depois quando foram me buscar eles foram correndo que
tive que me segurar pra não cair, tive muita dor e medo[...] quando cheguei no
quarto cheguei mal de tanta dor e pedi pra filha procurar por um médico, porque
achei que iria me dar uma coisa” (S5).
No que diz respeito à assistência de enfermagem pode-se destacar: o tempo em que o
paciente permaneceu sentado na poltrona, à queixa de ter passado muito frio no leito e a
lesão nas costas. Os episódios de descontentamento foram relatados em dois casos dos doze
entrevistados, o que deve ser levado em consideração quando se pensa em melhorar a
qualidade da assistência, mesmo que em algum destes episódios o fator emocional possa
estar associado.
No que tange a qualidade da assistência, os estudos mostram que em alguns centros
de referência em cirurgia cardíaca, os pacientes recuperam em Unidades de Terapia
Intensiva (UTI) Cardiológicas, o que permite um cuidado ainda mais especializado e que
conforme a demanda se torna estritamente necessários, pois, trata-se de um usuário que
44
possui alta dependência dos serviços de enfermagem e médica, assim como, dos serviços de
fisioterapia e de nutrição, também atentos à especificidade deste público. A complexidade
não está somente relacionada ao paciente, mas também aos aparelhos altamente
tecnológicos, necessários nesta assistência, que vêm ao longo dos anos numa constante
evolução, cada vez mais aprimorados, que buscam então, por meio destes aparelhos,
preservar e manter a vida através de terapêuticas e controles mais eficazes, o que exige e
justifica novamente dos profissionais serem especializados e capacitados (NASCIMENTO,
2006). Em uma UTI geral estes pacientes também podem ser assistidos, porém, o que causa
uma limitação quanto ao quantitativo de leitos, de recursos humanos (profissionais
capacitados a atender o público) e por vezes físico-tecnológicos (respiradores, Balão Intra
Aórtico – BIA, etc.), pois, a sobrevida deste paciente está diretamente ligada ao
conhecimento/domínio da complexidade por todos os que lhe assistem e dos recursos
tecnológicos disponíveis.
Sabe-se que a assistência da equipe de enfermagem é imprescindível frente á estes
usuários e que o profissional enfermeiro tem fundamental ação á realizar: cuidar de maneira
integral do paciente e integrar os profissionais que o assistem. Esta integração é um dos
nossos desafios diários, frente á cuidados e profissionais tão especializados, por vezes com
visões restritas ao problema e a sobrevivência, que deixam de lado a integralidade dos
sujeitos. Para isto, o enfermeiro deve utilizar-se da Sistematização da Assistência de
Enfermagem (SAE) para fornecer um cuidado sistematizado, individualizado, planejado e
assim detectar as necessidades do indivíduo, subsidiando discussões sobre a terapêutica com
a equipe multiprofissional.
Conforme Nascimento (2008) “a sistematização da assistência de enfermagem,
enquanto processo organizacional é capaz de oferecer subsídios para o desenvolvimento de
métodos/metodologias interdisciplinares e humanizadas de cuidado”.
A SAE emergiu no serviço de enfermagem hospitalar com a finalidade de organizar
o serviço e garantir a autonomia do profissional enfermeiro (Horta, 1979).
O Conselho Federal de Enfermagem (COFEN) (2009) descreve as etapas do
processo de enfermagem em cinco, sendo estas: histórico de enfermagem, diagnóstico de
enfermagem, planejamento, implementação, e avaliação. A evolução de enfermagem
segundo o COFEN (2009) “é a quinta etapa do processo” [...] e trata-se do registro realizado
após a avaliação do paciente, também chamada de avaliação, na qual permite um
planejamento adequado da assistência que será oferecida, bem como os resultados das ações
implementadas.
45
A SAE foi realizada em quase a totalidade dos pacientes, exceto a um paciente, pois,
este foi a óbito no momento da intervenção cirúrgica e o seu pré-operatório foi realizado
somente pelo médico cardiologista, ou seja, não foi encontrado registros da sistematização
de enfermagem para este indivíduo. Nos demais 80 sujeitos a sistematização foi realizada
em quase todas as suas etapas, exceto, o diagnóstico de enfermagem, que não foi realizado
em nenhum dos casos, pois, este ainda não se faz implementado nesta instituição e em três
casos foi realizado apenas o histórico e as evoluções de enfermagem.
4.4.3 No preparo para alta hospitalar
O preparo para alta deve iniciar-se no pré-operatório e encerrar no momento da alta
propriamente dita. Isto se dá através de ações de educação em saúde dos diversos
profissionais envolvidos, em que se incentiva o paciente a autonomia dos cuidados e a
incorporação de hábitos saudáveis e de ações de investigação na qual se busca compreender
o entendimento dos sujeitos.
Conforme Ganzella (2008) a alta hospitalar (AH) é a transferência da
responsabilidade do cuidado do indivíduo oriundo do ambiente hospitalar para outros
contextos de saúde. Segundo Huber (2003) citado por Ganzella (2008) “no hospital, o
médico é o responsável legal pela AH do paciente, mas o enfermeiro é considerado o
coordenador do seu planejamento, por atuar de forma integral com o paciente, enquanto os
demais membros da equipe de saúde oferecem intervenções episódicas”.
Dos 81 prontuários analisados em 68 (84%) encontrou-se o documento de nota de
alta e em 13 (16%) este documento não se apresentava devido á ocorrência do óbito dos
pacientes durante esta internação. Em 91,4% das notas de alta encontradas não havia
registro de orientações voltadas à continuidade dos cuidados pós-alta hospitalar e em 84%
delas as descrições eram sucintas como: “alta melhorada”, relatos da intervenção cirúrgica.
Estas foram realizadas no sistema eletrônico em 94,1% dos casos pelo cirurgião, 5,9% pelo
cardiologista e nenhum pelo enfermeiro.
Nos 8,6% prontuários em que as orientações foram registradas, 57,1% foram
realizadas pelo cirurgião, 28,6% pelo cardiologista e 14,3% pelo enfermeiro.
Conforme Marra (1989) “todo paciente, ao receber a alta hospitalar, deverá receber
uma orientação para continuidade do seu tratamento, que seja individualizada e
perfeitamente compreensível por ele e seus familiares”.
46
Na análise qualitativa, no relato de S7 não fica claro como se deu a orientação de alta
para família e se os profissionais da instituição hospitalar preparam a família para o cuidado
domiciliar ou se os familiares/acompanhantes/cuidadores somente aprendem observando-os:
“Na alta eu pensava se será que as minhas filhas saberiam cuidar de mim, como
eu estava sendo cuidada... mas, foi só isso, porque o tempo que elas ficaram lá me
cuidando eles iam vendo e aprendendo” (S7).
Já nos relatos de S11 e S2 ficou mais evidente a realização das orientações para a
alta, apesar dos indivíduos demonstrarem receio de retornar ao domicílio.
“Foi bom quando tive a notícia da alta [...] um dia antes eu perguntei pra
enfermeira chefe se sabia quando eu teria alta e ela disse que estaria mais perto
do que eu imaginava e conversou comigo como seria e o que eu deveria cuidar,
contou com tempo tudo o que nós tínhamos que fazer, mas, durante estes dias, as
pessoas que passavam no quarto também viam me ensinando como eu deveria me
cuidar [...] tive um pouco medo, porque lá eu tinha remédio e as doenças estavam
tudo cuidadas, controlada” (S11).
“Eu estava com muita vontade de vir pra casa [...] me senti preparado, mas com
um pouquinho de medo, porque o recurso era lá [...] mas, fiquei tranquilo com o
que o doutor e a enfermeira chefe me disseram” (S2).
No relato de S12, observa-se uma percepção diferente. Este paciente, na avaliação da
entrevistadora demonstrou durante a visita, atitude mais positiva e autônoma frente à vida,
mantendo-se ativo e encarando com naturalidade o processo cirúrgico vivenciado, conforme
se observa no relato abaixo:
“Os médicos, as enfermeiras e o pessoal da fisioterapia me explicavam tudo
durante a internação para a alta, todas as vezes que conversávamos e
perguntavam minhas dúvidas, tinha até uma enfermeira, aquelas enfermeiras
mesmo, que me testava eu acho... me fazia muitas perguntas, mas, quando fui me
fazer estas perguntas em casa, sabia e me lembrava dela” (S12).
O que hoje chamamos de registro de alta, nota de alta, Pateman citado por Pompeo
(2007) denominava já em 1995, como sumário. Este documento deveria ser emitido em duas
vias, sendo uma entregue ao paciente e a outra permanecendo no prontuário. Tinha como
objetivo auxiliar na alta de enfermagem: “um sumário de alta pode ser preparado pelo
enfermeiro, contendo um resumo conciso e instrutivo sobre as condições do paciente, com
ênfase na aprendizagem prévia do mesmo e da família.” Também neste documento o autor
sugeriu que fossem descritas as orientações para as condutas no domicílio que possam
auxiliá-los como guia ou lembrete dos cuidados, além de ser um registro legal da atividade
profissional.
Magalhães (2009) registra que a deficiência de comunicação quanto ao autocuidado
e a falta das informações nos documentos de alta podem aumentar a ansiedade dos pacientes
47
e de suas famílias quando se aproxima o momento da alta. Isto pode provocar retornos
frequentes ao hospital e insegurança frente aos cuidados domiciliares.
Observa-se neste estudo, sentimento ambíguo dos pacientes quanto ao momento da
alta. Conforme Marra (1989) isto pode ocorrer em função da “satisfação por estar
recuperado e voltando para casa, e medo por sentir-se inseguro sem a presença da equipe
médica e de enfermagem. Quanto maior for o grau de dependência dos cuidados, maiores
são os receios que os afligem”.
“Foi bom, se eu estivesse que ficar mais eu ficava, se fosse liberado também era
bom, mas, levei duas semanas depois da cirurgia pra conseguir estar pronto pra
alta, porque estava muito fraco [...] os médicos iam diversas vezes lá me falar,
principalmente o que eu não posso fazer, tudo que tinha que ser feito comigo e os
cuidados que tinham que ter e eu segui a risca correto o que os médicos me
diziam” (S3)
“Eu me senti muito ruim na hora da alta, porque eles me deram esses remédios
pra diabetes pra tomar como eu ia tomar em casa, era antes do café, eu comia e
me fazia mal, não podia comer nada, porque vomitava muito e não conseguia
comer nada muitas vezes [...] tinha comida boa, todas às vezes e nem podia
comer, daí depois colocaram pra depois do café e melhorou, pra depois das
refeições [...] e primeiro eu tive medo de vir pra casa, mas, pensei que ficar no
hospital seria quase a mesma coisa e eu moro sozinho, mas, fui pra casa da filha”
(S9).
Para o paciente S4 o momento da alta foi muito doloroso, pois, além de precisar
enfrentar o pós-operatório também teve de encarar a ausência da esposa que havia falecido
recentemente:
“Foi difícil à alta, às vezes eu chorava, por que eu sou assim, muito chorão e
porque a esposa tinha recém falecido e já me internaram do hospital, daí o voltar
pra casa foi muito difícil [...] lá eu tinha os colegas de quarto, as enfermeiras, os
médicos e em casa eu sabia que ia sentir muito” (S4).
Nos relatos de S8, S5 e S12 o retorno ao domicílio foi muito esperado e
transparecendo segurança e tranquilidade quanto a este momento:
“Me senti muito feliz com a notícia da alta, nossa” (S8).
“Mas, a notícia da alta foi uma alegria muito grande [...] barbaridade muito
faceiro [...] Não tive medo nenhum de vir pra casa [...] eu não sei te dizer o que
houve que eu tive essa tranquilidade no momento ali pertinho de antes da cirurgia
e depois, mas, estive muito calmo” (S5).
“Foi muito bom à hora da alta, já estava a tempo no hospital... você imagina se
ficar um dia no hospital já é ruim, imagina mais de uma semana [...] tu tem
vontade de sair correndo quando te falam da possibilidade de alta e eu já me
sentia muito bem” (S12).
“Foi muito bom o momento da alta, eu estava louco, louco para ir embora. Não
tinha medo nenhum de ir pra casa” (S6).
Em relação ao retorno à residência os sujeitos submetidos à CRM também deveriam
sair com um “encaminhamento” para a continuidade do cuidado, ou seja, como se trata de
48
um serviço de referência em cirurgia cardiovascular (alta complexidade) os usuários devem
ter as suas “contrarreferências” aos serviços de origem, ou ao serviço de saúde mais
próximo à sua casa (à qual pertence) ou aos serviços/profissionais que irão lhe acompanhar.
Este documento deve ser preenchido e encaminhado ao serviço/local previamente definido,
como também os sujeitos devem estar orientados sobre os fluxos, com o objetivo de garantir
a continuidade e a qualidade do atendimento.
Magalhães (2009) refere que a transferência como a contrarreferência trata-se de um
documento padronizado, aonde deve contar o resumo da história clínica e do exame físico,
relato sumário de procedimentos, exames complementares realizados e hipóteses de
diagnóstico ou diagnóstico, fornecidos aos pacientes para encaminhá-los a médicos da
mesma ou de outras instituições ou aos serviços de ambos os níveis. Quanto às vias, a
segunda via deve ser guardada no prontuário da instituição de origem, e a primeira, no
prontuário da instituição ou da clinica a que o paciente foi encaminhado.
Na análise da pesquisa quantitativa, percebeu-se que na maioria dos prontuários
houve falha na continuidade do cuidado pela ausência dos registros, como: a evolução no
período da recuperação pós-intervenção, cuidados domiciliares e encaminhamentos para a
rede básica de saúde. Porém, através das entrevistas observou-se satisfação dos usuários
com as orientações de enfermagem prestadas para a continuidade do cuidado e inclusive foi
referido por um sujeito que a equipe do hospital fez contato prévio com a rede básica de
saúde, que segue abaixo o relato:
“A enfermeira e a fisio ligaram pro meu posto, inclusive falaram com meu agente
de saúde do posto e passaram tudo o que aconteceu lá” (S1).
Avaliando o documento de alta encontrou-se que 98,5% dos pacientes foram
encaminhados para atenção secundária e 1,5% não possuía encaminhamento, apesar de ter
nota de alta. Dos encaminhados 80,6% foram referenciados para o Ambulatório de Cirurgia
Cardíaca da própria instituição e 19,4% para cardiologistas clínicos.
Percebe-se que não houve registro de encaminhamentos do nível hospitalar para a
atenção primária, sugerindo inexistência de fluxos definidos, conforme observa-se no relato
abaixo:
“Tudo foi muito tranquilo em casa, só demorei um pouco mais pra vir porque meu
sangue sempre ficava mais grosso do que era pra estar, daí eles me falaram pra
ficar atenta, se ficar ruim procurar o serviço lá ou o pronto atendimento daqui”
(S2).
A Referência e Contrarreferência são definidas como o “modo de organização dos
serviços configurados em redes sustentadas por critérios, fluxos e mecanismos de pactuação
49
de funcionamento, para assegurar a atenção integral aos usuários” (BRASIL, 2011). Ou seja,
a referência e contra referência são documentos para informar o que se passa ou o que se
passou e realizar uma comunicação (por escrita) do caso para a continuidade do cuidado, de
preferência, para a atenção primária ou então a secundária, etc.
O sistema de referência e contrarreferência constituem-se na articulação entre as
unidades de saúde (primárias, secundárias e terciárias), sendo que por referência
compreende-se o trânsito do nível menor (atenção básica) para o de maior complexidade
(clinicam especializadas, hospitais). Inversamente, a contrarreferência compreende o
trânsito do nível de maior (hospitais, “serviço de cardiologia”) para o de menor
complexidade (postos de saúde, estratégias de saúde da família, etc.) (WITT, 1992).
4.4 No pós-operatório no domicílio
A maioria dos sujeitos entrevistados, quando questionados sobre sua adaptação no
domicílio após a alta hospitalar referiu pequenas queixas, como: desconforto, dificuldade
para dormir, insegurança e medo.
“Não tive dificuldade em casa, só o desconforto pra dormir, bem como eles me
disseram” (S2).
“Não tive medo de jeito nenhum de estar em casa, não sei se era porque eu não
entendia bem o tamanho da gravidade que era, mas, todos aqui em casa
estávamos muito tranquilos, inclusive na troca dos curativos fomos bem
orientados pelas enfermeiras [...] tudo foi tranquilo, os dois meses dormindo de
peito pra cima logo passaram” (S5).
“Tive dificuldade com o desconforto menina, por causa do grande corte do peito
[...] e quando eu já estava em casa, a gente sente um medo de machucar aqui e ter
que passar pela cirurgia de novo” (S12).
“Em casa pra mim foi tudo normal, eu tava acostumado, eu me sentia em casa, à
vontade sabe. Isso me ajudou também, embora eu sofresse com a doença, mas o
ambiente me ajudava” (S3).
“Eu não tinha medo quando em casa, só o que ficava meio assim é que a filha
pegava o carro e ia pra faculdade e eu ficava sem condução aqui no interior”
(S6).
“Em casa eu só tive dificuldade pra dormir e pra caminhar, o resto foi tranquilo
[...] estava fraco e não queria ficar muito deitado” (S11).
Em dois relatos foram encontrado queixas mais significativas que demonstram, ainda
mais, a necessidade de avaliação e acompanhamento destes indivíduos, para além da
especialidade cardiológica, ou seja, de uma atenção voltada ao cuidado integral, que pode
ser vislumbrado nas falas abaixo:
50
“Queria vir pra casa, mas, estava sem caminhar, mas, queria vir ao mesmo tempo
porque eu estava muito magra e em casa é melhor, como as coisas do meu jeito e
as feridas eu queria colocar remédio porque lá elas só lavavam e eu estava quase
perdendo minha perna” (S10).
“Em casa foi tudo se ajeitando, só quando cheguei em casa, não conseguia dormir
e me deu depressão [...] fiquei muito triste [...] porque eu fiquei dependente de
tudo dos outros e ainda dependo e sempre fui uma pessoa que nunca precisei, pelo
contrário, sempre cuidei deles [...] desde me levantar da cadeira até ir no
banheiro eu preciso de ajuda” (S7).
Segundo Costa (2004), embora a integração entre os diversos níveis e instituições de
atenção à saúde resulte em maior integralidade, ela é bem mais do que isso. A integralidade
deve pautar desde a formulação de políticas do nível macro pelo Estado, passando pela
gestão e gerência nos distintos níveis até a produção de ações de cuidado de saúde por meio
das práticas para a atenção e o cuidado dos indivíduos.
Cecílio (2001) refere que, juntamente com a equidade, a integralidade constitui-se no
objetivo da atenção à saúde, por si só. Para o autor, a discussão sobre a integralidade diz
respeito ao campo da micropolítica de saúde, suas articulações, fluxos e circuitos. É
necessário, portanto, repensar aspectos importantes da organização do processo de trabalho,
gestão e planejamento, construindo novos saberes e adotando inovações nas práticas em
saúde. Reconhecer que as necessidades em saúde são determinadas social e historicamente,
mesmo quando apreendidas e transformadas em práticas na sua dimensão individual, é
fundamental.
A proposta elaborada por Camargo (2003, p.40) é da integralidade como um valor
que “não deva ser transformada em um conceito, mas um ideal regulador, um devir. [...]
impossível de ser plenamente atingida, mas da qual, constantemente, buscamos nos
aproximar. [...] ao mesmo tempo inalcançável e indispensável.”
Desta forma, o serviço de alta complexidade estudado, como parte da rede de
serviços de saúde, necessita também se integrar aos demais níveis de assistência à saúde.
Na portaria editada pelo Ministério da Saúde consta a seguinte definição de Rede de
Atenção à Saúde: "arranjos organizativos de ações e serviços de saúde, de diferentes
densidades tecnológicas, que, integradas por meio de sistemas de apoio técnico, logístico e
de gestão, buscam garantir a integralidade do cuidado" (Brasil, 2010).
Percebe-se na fala de S10, que apresentou diversas queixas de intercorrências póscirúrgicas, a descontinuidade de seu cuidado na atenção primária, apesar de ser cadastrada a
uma unidade de saúde da família, próxima à sua residência:
“Eu tenho posto de saúde aqui perto... só não vou porque é nesta subida aqui em
cima e eu não posso, não consigo por causa das pernas [...] a filha que vai lá
quando preciso de alguma coisa... a agente de saúde veio uma vez só aqui depois
51
da cirurgia e isso faz uns dois meses, mais ninguém veio aqui em casa, só ela
mesmo [...] daí se eu preciso eu junto uns troquinho e pego um taxi e vou até lá
[...] eu tive sorte lá no hospital, porque, eles levam e me buscam em casa” (S10).
Segundo Starfield (2002), a atenção primária à saúde é o primeiro contato da
assistência que deve ser continuada, centrada na pessoa, de forma a satisfazer a maioria de
suas necessidades de saúde, só encaminhando os casos muito incomuns que exigem atuação
mais especializada. A atenção primária à saúde coordena, ainda, os cuidados quando as
pessoas recebem assistência em outros níveis de atenção. A autora sugere os seguintes
atributos para as práticas da atenção primária: primeiro contato, longitudinalidade,
integralidade e coordenação.
Apesar da falta de continuidade e integralidade no cuidado destes pacientes após a
alta hospitalar, somente dois pacientes, dos 12 entrevistados referiram piora de seu estado
geral após a cirurgia, como observa-se abaixo:
“Me sinto pior depois disso tudo, pior, mas, faço de tudo...eu vivo muito cansada,
ansiada e não consigo dormir de luz apagada” (S1).
“Eu não melhorei, eu continuo desse jeito, parece que cada vez aparecendo mais
coisa, mas, viva. Agora começamos a adaptar as coisas pra esse meu jeito” (S7).
No entanto, a maioria dos pacientes entrevistados referiu melhora após a intervenção,
apesar de a entrevistadora ter observado durante as visitas, um elevado grau de dependência
destes, em relação aos seus familiares. Abaixo alguns dos relatos:
“Eu me sinto bem melhor, até mesmo como eu era antes da cirurgia, antes da
doença, me sinto como eu era antes, sadio” (S2).
“Me sinto muito melhor com certeza, eles não ajeitaram só o coração, eles
arrumaram a diabetes, o tratamento do rim e cuidaram de tudo da minha saúde,
agora, graças a Deus, aos médicos, as enfermeiras e as terapeutas, todo mundo
que me atendeu lá no hospital, eu estou vivo e bem hoje” (S11).
“Eu simplesmente me sinto normal, normal como eu era antes de adoecer, não
sinto nada me incomodando é tudo normal” (S6).
A maioria dos entrevistados referiu grande satisfação acerca do atendimento recebido
na instituição hospitalar, como se vê nas falas:
“Lá é maravilhoso, minha família toda fala muito bem de lá [...] O que mais me
marcou é que nunca corremos atrás do médico, ele sempre me chamava sorrindo
e a minha família, sempre dando notícias a eles e eu era SUS moça” (S1).
“Dá quase pra sentir saudade do hospital, só não porque o problema de saúde era
importante. Se eu precisasse e pudesse escolher quando adoecesse ia lá” (S2).
“Minhas filhas e meu marido choram quando falam do atendimento das
enfermeiras, era maravilhoso” (S1).
52
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Através dos resultados desta pesquisa foi possível identificar o perfil epidemiológico e
a história clínica dos pacientes submetidos à cirurgia de revascularização do miocárdio no
serviço de alta complexidade cardiovascular, criado há três anos, no hospital do estudo. O
perfil encontrado a partir da consulta nos 81 prontuários dos pacientes submetidos à cirurgia,
no período estudado, mostrou que a maioria são homens, com mais de 60 anos, que vivem
sem companheiro (a), de cor branca, moradores em área urbana, aposentados e trabalhadores
do setor terciário da economia. A predominância de homens acima de 60 anos, concorda
com outros estudos sobre este mesmo público, realizados no Brasil. As outras características
encontradas nas variáveis: cor, moradia e profissão/ocupação concordam com as
características da maioria da população regional atendida no serviço.
Quanto à história clínica encontrou-se que a maioria dos indivíduos possuía três
indicações cirúrgicas no prontuário, sendo as de maior ocorrência: doença arterial
coronariana, cardiopatia isquêmica e “sintomático”. Os fatores de riscos cardiovasculares
encontrados na maioria dos indivíduos foram: tabagismo/ex-tabagismo e obesidade, sendo
estes, fatores modificáveis conforme a Sociedade Brasileira de Cardiologia. As patologias
pré-cirúrgicas registradas na maioria dos prontuários, as quais, sabidamente aumentam o
risco cardiovascular e a necessidade de revascularização do miocárdio, foram: hipertensão
arterial, doença arterial coronariana, dislipidemia e diabetes melittus tipo II, também
passíveis de prevenção e posteriormente tratamento e controle. Nestes aspectos, o perfil dos
pacientes analisados se parece muito com o de pacientes avaliados em outros centros
brasileiros desta especialidade, embora o hábito de fumar tenha se aparecido com muito
maior freqüência nestes indivíduos, o que de certa forma, pode ser explicado, pelos mesmos
residirem numa região que diferencia-se pelo cultivo e manufatura de tabaco.
Também foi analisado o tempo de diversos procedimentos que fazem parte da história
clínica dos pacientes, como: de indicação cirúrgica, de cirurgia, de circulação extracorpórea,
de ventilação mecânica, de permanência na unidade de terapia intensiva e de hospitalização.
É prudente fazer uma ressalva: todos os procedimentos de revascularização do miocárdio do
período estudado foram realizados com a utilização da circulação extracorpórea e o tempo
de indicação cirúrgica se refere ao período decorrido entre o dia da solicitação (autorização
do sistema único de saúde) e o dia da realização do ato cirúrgico propriamente dito.
O tempo médio da indicação cirúrgica até a cirurgia foi de seis dias, o que pareceu-nos
curto, haja vista o número de procedimentos e orientações que fazem parte do preparo destes
53
pacientes e familiares para um procedimento altamente complexo.
Comparando com
outros estudos que discorrem sobre o tema, encontrou-se neste estudo, maior tempo de
hospitalização, de cirurgia e de circulação extracorpórea, o que pode estar relacionado com
o perfil do paciente atendido, com a técnica utilizada pela equipe ou por outros aspectos
ainda não considerados.
Importante salientar que ao contrário do que se esperava inicialmente, a qualidade dos
registros nos prontuários foi bastante satisfatória, o que permitiu a autora análises e
discussões aprofundadas na construção do perfil epidemiológico e da história clínica mais
aproximada possível da realidade dos pacientes atendidos. Mesmo assim, salienta-se que na
busca da melhoria da assistência ao paciente e na condição de hospital escola, são
necessárias melhorias na qualidade dos registros de todos os profissionais.
No que tange os registros dos profissionais médicos diversas vezes apresentaram-se
muito concisos, principalmente, no que diz respeito aos documentos de alta. Já nos registros
do profissional enfermeiro, apesar de algumas vezes adequados, apresentaram diversas
lacunas, o que não condiz com o expressado pelos entrevistados que se dizem muito
satisfeitos com a assistência e preparo para a cirurgia e alta realizada por estes profissionais.
Quanto à utilização da sistematização da assistência de enfermagem (SAE) como ferramenta
de trabalho também foi possível visualizar que mesmo que ela esteja executada na maioria
das unidades hospitalares, ainda precisa ser aperfeiçoada, devendo ser executada em sua
totalidade, ou seja, por todos profissionais enfermeiros, de todos os setores e em todas as
suas etapas.
A autora percebeu durante as entrevistas que os pacientes, ao contrário do encontrado
no senso comum, conseguem fazer a diferenciação correta entre todos os profissionais
envolvidos em sua assistência hospitalar, mostrando que talvez a forma como os
profissionais identificam-se e se apresentam aos usuários na instituição estudada, esteja
contribuindo para esse entendimento.
Nas entrevistas realizadas pela pesquisadora nos domicílios dos pacientes, pode-se
perceber que a maioria encontrava-se muito satisfeita com o atendimento recebido,
lembrando com carinho dos profissionais do hospital. A maioria referiu estar sentindo-se
bem melhor após a cirurgia, mesmo tendo a pesquisadora, percebido que quase todos se
encontravam extremamente dependentes dos cuidados dos familiares, com pouca autonomia
até para seus cuidados básicos de higiene e alimentação. A realidade encontrada talvez
esteja relacionada com a idade dos pacientes e co-morbidades associadas, mas também nos
faz pensar que tanto o serviço hospitalar como o ambulatório especializado e a atenção
54
básica ainda estejam inseguros ou despreparados para educar estes pacientes para o auto
cuidado na busca da autonomia.
Nas falas também se pode notar, talvez pela complexidade da intervenção, uma grande
dependência dos sujeitos em relação aos especialistas da área cardiológica, visto que a
maioria continua realizando seu acompanhamento de saúde, exclusivamente, no ambulatório
cardiológico. Mesmo aqueles vinculados a unidade de saúde da família, não receberam deste
nível de atenção, o acompanhamento e o cuidado continuado e integral a que tem direito,
denotando também despreocupação com o princípio da vigilância em saúde inerente à
atenção básica.
Evidenciou-se, portanto, que os profissionais precisam melhor se adequar a esta nova
realidade para que o itinerário do paciente seja mais tranqüilo. Por tratar-se de um serviço
novo, deve ser encarado como um desafio a ser enfrentado e vencido pelos profissionais
locais, pois, o que anteriormente era “encaminhado” para um grande centro, hoje,
permanece na região. O desafio envolve todos os serviços e profissionais de saúde por onde
passam estes pacientes, que além da instituição estudada também utilizam os serviços de
apoio (laboratórios, centros de exame, clínicas), serviços secundários (ambulatórios e
consultórios) e de forma mais continuada à atenção básica de saúde.
Desta forma a comunicação em rede, entre os serviços, torna-se imprescindível,
especialmente entre os profissionais de enfermagem na busca da continuidade do cuidado,
exemplo: a (o) enfermeira (o) da UTI com o (a) enfermeiro (a) da clinica cirúrgica e este
com o (a) enfermeiro (a) da atenção básica por entender que somente assim a assistência
tornar-se-á qualificada e comprometida; quando todos tratarem juntos do único indivíduo,
responsabilizando-se pelo seu bem-estar e completa recuperação da saúde, poderemos
acreditar na integralidade da atenção.
A comunicação em rede através do uso de documentos de referência e contra
referência mostrou-se falha na realidade analisada. Nos prontuários encontrou-se poucos
registros, tanto de referência como de contra referência, demonstrando o possível
desconhecimento e desvalorização dos profissionais de um nível de atenção para com o
outro e até certa falta de comprometimento com a continuidade do cuidado integral.
Somente a integralidade permite um cuidado adequado, pois, as necessidades do
indivíduo não se resumem somente ao processo agudo, nem mesmo à especialidade, as
necessidades devem entendidas como sistêmicas e somente a partir do momento em que os
profissionais de saúde vislumbrarem os pacientes de maneira integral é que a assistência
será mais apropriada e o sistema será mais resolutivo e humanizado.
55
Almeja-se que este estudo através da identificação dos principais fatores de risco
cardiovasculares que levam a população regional a necessitar da cirurgia possa servir de
alerta para os indivíduos, profissionais e gestores da saúde, no intuito de encorajar a
incorporação de hábitos saudáveis, de aprimorar políticas e ações de prevenção, diagnóstico
precoce e tratamento adequado das co-morbidades. Também que possa contribuir no alerta
para
a
contínua
busca
da
qualificação
dos
serviços
de
saúde
(atendimento
capacitado/competente) para que assim, se obtenha resultados ainda mais positivos a estes
pacientes, muito além da simples sobrevivência.
Durante todo o estudo ficou evidente o imprescindível e importante papel
desempenhado pelos profissionais de enfermagem na trajetória destes pacientes e também o
quanto a profissão ainda pode “ser mais”, mas, para isto, compreende-se que os profissionais
precisam, além da busca constante de conhecimento científico, também estar motivados e
empenhados tanto na valorização pública e financeira da profissão.
O reconhecimento da enfermagem como uma profissão generalista é apropriada, mas,
a especialidade também se torna necessária, principalmente quando se trata de pacientes e
intervenção tão específicas, que requerem um conhecimento mais aprofundado sobre este
tipo de paciente e as tecnologias complexas utilizadas na sua terapêutica. O objetivo para
com a especialidade não é minimizar a importância de sermos bons generalistas, mas, sim,
agregar ao bom generalista, conhecimento específico, para assim, poder participar de forma
mais resolutiva e qualificada na atenção ofertada a estes indivíduos.
Da mesma maneira a enfermeira norte-americana Suzanne Gordan elucida em suas
palestras e trabalhos, que o grande paradigma não é perder as qualidades pela qual a
enfermagem é reconhecida e sim agregar a ela a visão de uma profissão “inteligente”,
contribuindo assim para que a profissão seja mais valorizada.
Então é nesta perspectiva que finalizo este trabalho, acreditando na possibilidade de
não se “perder” o atual reconhecimento da profissão quanto generalista, mas sim, na
capacidade de agregar a esta profissão um maior reconhecimento e porque não, o adjetivo de
“ótimos generalistas e especialistas”.
56
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62
APÊNDICE A – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
______________________________________________________________,
o
(a)
Sr.
(Sra.) está sendo convidado (a) para participar da pesquisa sobre A CIRURGIA
CARDÍACA DE REVASCULARIZAÇÃO DO MIOCÁRDIO: HISTÓRIA CLÍNICA
DOS PACIENTES E INTERVENÇÕES DA ENFERMAGEM, porque sua participação
é muito importante para que, nós pesquisadores, tenhamos um conhecimento mais
aprofundado da sua realidade e assim com estes dados, os profissionais de saúde fortaleçam
suas estratégias de promoção, prevenção, recuperação e reabilitação da saúde. Este é um
projeto de pesquisa realizado para obtenção do título de Enfermeiro, estando vinculado ao
Curso de Enfermagem da Universidade de Santa Cruz do Sul. Pretendemos com essa
pesquisa:
Objetivo geral:
Conhecer a história clínica dos pacientes cardiopatas submetidos à cirurgia cardíaca de
revascularização do miocárdio pelo Sistema Único de Saúde (SUS) em um Hospital
referência em Alta Complexidade Cardiovascular do interior do Rio Grande do Sul, no
período de junho de 2012 a junho de 2015.
Objetivos específicos
Identificar o perfil epidemiológico dos pacientes cardiopatas submetidos à intervenção
cirúrgica cardíaca de revascularização miocárdica no período de hospitalização.
Conhecer o histórico pós-operatório dos pacientes submetidos à cirurgia cardíaca de
revascularização de miocárdio.
Caracterizar as intervenções do enfermeiro frente aos pacientes submetidos à
revascularização do miocárdio.
Desvelar a percepção dos pacientes submetidos à revascularização do miocárdio
acerca das intervenções dos profissionais da enfermagem.
A pesquisa será realizada em duas etapas. Na primeira etapa serão consultados todos
os prontuários dos pacientes que passaram por intervenção cirúrgica de revascularização do
miocárdio, no período de junho de 2012 a junho de 2015, custeadas pelo Sistema Único de
Saúde (SUS), na instituição hospitalar ensino do interior do Rio Grande do Sul referida
acima. Na segunda etapa, será composta uma amostra de forma aleatória estratificada e os
pacientes selecionados que serão convidados a participar mediante contato telefônico. Sua
forma de participar é nos autorizando a entrevistá-lo (a), ou seja, conversar com o Sr. (Sra.)
63
uma ou mais vezes e gravar nossa conversa. O Sr. (Sra.) pode responder ou não a qualquer
pergunta que lhe fizermos e também desistir de participar da entrevista a qualquer momento.
Basta nos dizer que não quer mais, sem nenhum prejuízo para o Sr. (Sra.). A gravação da
nossa conversa (entrevista) só poderá ser ouvida por nós pesquisadores. Seu nome e dados
pessoais serão mantidos sob sigilo (segredo), assim como, todos os dados coletados somente
serão utilizados para produção de materiais científicos e após o período de dois anos,
incinerados.
Se durante a nossa conversa (entrevista) o Sr. (Sra.) se sentir constrangido,
incomodado, sentir medo de se expor, se sentir emocionado, ou se ainda ficar com receio de
algum dano moral, nós pesquisadores estaremos atentos para evitar tais riscos, lhe
garantindo cuidados de proteção à sua imagem, e combinado previamente, onde e quando
vamos lhe entrevistar.
Informamos ao Sr. (Sra.) que esta pesquisa poderá trazer benefícios aos pacientes com
indicação cirúrgica de revascularização do miocárdio, assim como, para a população em
geral, pois, conhecendo a realidade podemos contribuir com medidas que melhore a
qualidade de vida dos indivíduos cardiopatas e da população em geral. Este Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido (documento que neste momento está sendo apresentado
ao Sr. (Sra.), foi redigido em duas vias, sendo que uma ficará com o Sr. (Sra.) e a outra
ficará conosco, pesquisadores.
Estou suficientemente esclarecido e dou consentimento para participar das entrevistas da
pesquisa.
Assinatura do Entrevistado:____________________________________________
Estou suficientemente esclarecido e dou consentimento para que as entrevistas sejam
gravadas.
Assinatura do Entrevistado: ____________________________________________
Local: ___________________________________
Data _________________
Assinatura do pesquisador: _____________________________________________
Em caso de dúvidas quanto à condução ética do estudo, entre em contato com o
Comitê de Ética da UNISC, pelo telefone: (051) 3717 7680. Caso queira, o Sr. (Sra.) poderá
falar também com a pesquisadora que é responsável pela pesquisa, Sra. Rosylaine Moura na
UNISC pelo telefone (051) 3717 7542, ou pessoalmente no seguinte endereço: Av.
Independência, 2293, prédio 35, sala 3526, Santa Cruz do Sul – RS.
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APÊNDICE B – Formulário de coleta de dados nos prontuários dos pacientes:
DADOS DO PRONTUÁRIO
I
D
E
N
T
I
F
I
C
A
Ç
Ã
O
Data da Cirurgia
∕
∕
Nome do paciente:
Idade:
Estado civil:
Nº:
Sexo: ( )F ( )M ( )Não Consta Contato: ( )
( )Solteiro ( ) Casado ( ) Viúvo ( ) Divorciado ( ) Não consta
Cor/Raça: ( ) Branco ( ) Pardo ( ) Negro ( )Amarela ( ) Indígena ( ) Não consta
Naturalidade:
Nacionalidade: ( ) Brasileira ( )Outra
Moradia:( ) Rural( ) Urbana ( ) IGN
Cidade:
Endereço:
Profissão:
Indicação cirúrgica:
D
A
D
O
S
Tempo decorrido entre a indicação e a cirurgia:
C
L
Í
N
I
C
O
S
RM prévia? ( ) Sim ( ) Não ( )
D
E
S
F
E
C
H
O
Fatores de risco cardiovasculares? ( ) Sim ( ) Não ( ) Quais?
Patologias associadas:
Quantas?
Histórico de doença cardiovascular na família? ( ) Sim ( ) Não ( ) Não consta
Registro pré-operatório ? ( ) Sim ( ) Não
Por quem?
Tempo de Cirurgia:
Escala cardiovascular:
Tempo de V.M.:
Tempo de UTI:
Tempo de CEC:
Tempo de hospitalização:
Intercorrências: ( ) Trans ( ) Pós
Qual (ais)?
Existe nota de alta? ( ) Sim ( ) Não
Referenciado? ( ) Sim ( ) Não ________
Existência de SAE? ( ) Sim ( ) Não
Onde? ( ) UTI ( ) UI ( ) CC
Quais etapas? ( ) 1ª ( ) 2ª ( ) 3ª ( ) 4ª ( ) 5ª
Orientação de alta registrada? ( ) Sim ( ) Não
Por quem?
Situação da Alta:
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APÊNDICE C – Roteiro da entrevista semiestruturada destinada aos pacientes:
Data da Cirurgia: _________ Data da Entrevista: _______Nº da Entrevista:_________
Nome:___________________________________________Idade:______Sexo:______
1. O que o senhor (a) acredita que tenha o(a) levado a precisar fazer a cirurgia cardíaca?
(fatores de risco não modificáveis e modificáveis, doenças pregressas)
2. Algum familiar seu (sua) também apresenta (ou) estes problemas? (fatores de risco não
modificáveis e modificáveis, doenças pregressas, cirurgias) Quem?
3. Fale-me como foi a sua preparação para fazer a cirurgia. Alguém o orientou? Quando?
Como? Quem?
4. Fale-me sobre o período que esteve no hospital aonde realizou a intervenção cirúrgica
antes, durante e depois da cirurgia. Como se sentiu? Como foi atendido?
5. Como foi o momento da alta do hospital? O senhor (a) se sentiu preparado para ir para
casa? Alguém o preparou? Como? Quem? Teve (sentiu) alguma dificuldade?
6. Fale-me como foi a sua adaptação em casa após a cirurgia cardíaca? Mudou sua rotina e
hábitos? (alimentação, exercícios físicos, medicamentos) Teve apoio de algum
profissional de saúde neste momento?
7. O senhor (a) teve algum outro problema de saúde após a cirurgia cardíaca? Qual?
8. O senhor (a) continua fazendo acompanhamento de saúde atualmente? Onde? Com
quem? Tem ESF próximo de sua casa? Utiliza?
9. Como o senhor (a) tem se sentido atualmente? Percebe alguma mudança significativa na
sua qualidade de vida depois da cirurgia cardíaca (para melhor ou pior)? Fale sobre isso.
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ANEXOS
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ANEXOS
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ANEXOS
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