ORIGINAL lncidência do papilomavírus humano (HPV) em mulheres, através da análise do Papanicolaou. Estudo da Região de Passos, Minas Gerais Incidence of Human Papillomavirus (HPV) in women through analysis of Papanicolaou. Study of Region of Passos, Minas Gerais Rosseli Santos da Silveira 1 Adriana Malheiro 2 Graduada em Ciências Biológicas pela Universidade de Franca (Unifran). 2 Imunologista e pesquisadora da Fundação de Hematologia e Hemoterapia do Amazonas (FHEMOAM) – exprofessora da disciplina de Imunologia da Universidade de Franca (Unifran). 1 RESUMO: o interesse pelo papilomavírus humano (HPV) vem aumentando a cada ano em razão, principalmente, dos altos números relacionados à doença. Esta doença atinge cerca de um quarto da população feminina mundial. No entanto, está presente também em homens, na faixa etária sexualmente ativa. A diminuição da imunidade do indivíduo é um dos principais fatores para o desenvolvimento de caráter maligno do HPV, verificado na maior parte em pacientes portadores de HIV, assim como pessoas que fazem uso prolongado de hormônios (corticóides e contraceptivos), que apresentam deficiência de vitaminas, que fumam e que se apresentam em estado de estresse. A partir do levantamento de dados realizado no Laboratório de Patologia e Citopatologia da Santa Casa de Misericórdia de Passos, Minas Gerais, com base em exames de Papanicolaou positivos realizados no período de abril/2003 a abril/2004, foi possível verificar que 129 casos foram Papanicolaou positivos. Desses, 59 estavam relacionados à infecção pelo HPV, em que 9 foram classificados como Classe II (HPV), 50 eram HPV + NIC I e 70 apresentaram-se como NIC I, mas não estavam relacionados com a infecção pelo HPV. Ao se verificar a idade das pacientes, observamos que houve uma maior incidência de HPV + NIC I positivos, predominantemente na faixa etária dos 20 aos 25 anos de idade. No entanto, verificou-se que 44% dos casos positivos ocorrem nas mulheres com a faixa etária entre 14 e 19 anos, fato este que parece estar relacionado com a fase inicial da prática sexual. Palavras–chave: papilomavírus humano (HPV); imunidade; estresse; carcinoma; deficiência de vitaminas. ABSTR ACT: the interest in Human Papillomavirus (HPV) has been increasing mainly because of the great numbers related to the illness. It reaches about a quarter of worldwide female population but it is also present in men at sexual active age group. The decrease of individual immunity is one of the main factors for the development of the malignant character of HPV which is mainly observed in patients who carry the HIV virus, like people that uses hormone during a long period of time (corticoids and contraceptive), people who has vitamin deficiency, people who smoke and the ones who are stressed. The data were collected at the Laboratory of Pathology and Citopathology of “Santa Casa de Misericórdia de Passos”, Minas Gerais, based on Papanicolaou positive tests made from April, 2003 to April, 2004. It was verified that 129 cases were positive Papanicolaou and 59 of them were related to the infection caused by HPV, 9 were classified as Class II (HPV), 50 were classified as HPV + NIC I and 70 as NCI I but were not related to the infection caused by the HPV. We noticed a great number of HPV + NIC I positive cases mostly in the group from 20 to 25 years old. However, it was also noticed 44% of the positive cases in women who were 14 to 19 years old and this fact seems to be related to the initial phase of sexual practice. Key words: Human Papillomavirus (HPV); immunity; stress; carcinoma; vitamin deficiency. Investigação – Revista Científica da Universidade de Franca Franca (SP) v.6 n. 1 p. 21–28 jan. / abr. 2006 21 INTRODUÇÃO volverá câncer do colo do útero, estima-se que seja menor que 3% (INCA, 2004b). É importante ressaltar que em nossos tempos a incidência de câncer cervical em mulheres jovens e adolescentes, relacionado à infecção pelo papilomavírus humano (HPV) vem aumentando muito rapidamente, principalmente em nosso país, havendo a necessidade urgente de se melhorar o diagnóstico de HPV na população geral. A educação sexual de adolescentes Objetivo Este estudo consiste em analisar a ocorrência do HPV em mulheres submetidas ao exame Papanicolaou no período de abril/2003 a abril/2004, verificando-se somente os casos positivos dentre o número total de exames realizados durante esse intervalo. e jovens é também um importante fator prognóstico para esta doença que às escuras vem causando tanta catástrofe na Saúde Pública (IMUNITY, 2004). Os papilomavírus humanos (HPV) são vírus da família Papovaviridae, capazes de induzir lesões de pele ou mucosa, as quais mostram um crescimento limitado e freqüentemente regridem espontaneamente (INCA, 2004 a). A infecção pelo HPV parece ser muito prevalente. Estudos em amostras representativas de segmentos da população brasileira encontraram prevalências situadas entre 13% e 20%, o que é bastante alto quando transposto para número. É muito provável que esta prevalência seja variável com a idade, como a própria história natural da infecção sugere. Assim, como a maioria das infecções parece iniciar-se com a atividade sexual, a prevalência em faixas etárias mais jovens é maior e, com a resolução das infecções transitórias, a prevalência tende a cair em faixas etárias mais elevadas (FR ANCO et al., 1999; BOSCH et al., 1995; MARRINSON et al., 1991 e MELKERT et al., 1993 apud RUSSOMANO, 2004). Durante a década de 80, estudos sugeriam que infecções subclínicas cervicais estariam associadas com paciente jovem, múltiplos parceiros, gravidez e história anterior de verrugas genitais. No entanto, outras variáveis podem inf luenciar o risco de adquirir infecção pelo HPV, como paridade, uso de anticoncepcionais orais e tabagismo (OK ADA; GONÇALVES; GERALDO, 2000). Estudos epidemiológicos têm mostrado que, apesar da infecção pelo papilomavírus ser muito co- Organização celular Os papilomavírus são membros da família Papovaviridae, que possui dois gêneros: Polyomavirus e Papillomavirus, ambos contendo vários subtipos, com capacidade de infecção (IMUNITY, 2004). De acordo com Jacyntho e Almeida Filho (1994), o papilomavirus humano apresenta capsídeo protéico icosaédrico (sem envelope lipoprotéico) mais largo e única molécula de DNA circular duplo e seus cromossomos são mais largos. Para Levinson e Jawetz (1998), em sua constituição apresenta dois genes precoces, E6 e E7, que estão envolvidos na carcinogênese, como mostra a Figura 1. Figura 1 - Representação esquemática da molécula de DNA do HPV – 16 . Fonte: Villa (1997) apud Russomano (2004) mum, estima-se que cerca de 25% das mulheres brasileiras estejam infectadas pelo vírus, e somente uma HISTÓRICO pequena fração das mulheres infectadas com um tipo Quando se observa a história da doença causada de papilomavírus oncogênico eventualmente desen- pelo HPV, verifica-se que esta foi associada a práticas Investigação – Revista Científica da Universidade de Franca 22 Franca (SP) v. 6 n. 1 p. 21–28 jan. / abr. 2006 homossexuais e registrada por poetas eróticos e satíricos, bem como em escritos médicos (BAFVERSTEDT, 1967 apud JACYNTHO; ALMEIDA FILHO,1994). de verrugas, com grande semelhança histológica, em encontra na forma plasmidial, mas é ativo quando integrado. Na forma de plasmídio não há multiplicação virótica, porém a persistência do genoma virótico estimula a multiplicação do DNA celular e induz as mudanças, assim, a multiplicação celular impede a multiplicação virótica independente (LEVINSON; JAWETZ, 1998). alguns pacientes, e constatou-se o desenvolvimento Após a infecção das células basais e parabasais, de verrugas cutâneas em áreas extragenitais inocu- dois caminhos são possíveis (DE BRUX, 1983, apud ladas com extrato de verrugas genitais. Estes fatos JACYNTHO; ALMEIDA FILHO, 1994): levaram à suposição da origem única das verrugas, o 1) a célula basal sofre processo de diferenciação normal, com multiplicação virótica, e acaba numa população de vírus que, liberados por ocasião da descamação celular, infectam as células vizinhas, estabelecendo o processo infeccioso clássico, com lesão condilomatosa típica e seus estigmas colpo-cito-histológicos, que são a expressão da ação virótica sobre a célula; No final do século XIX, as verrugas genitais passaram a ser correlacionadas às verrugas cutâneas. Naquela época observou-se a presença de ambos os tipos que originou a chamada teoria unitária (ORIEL, 1971 apud JACYNTHO; ALMEIDA FILHO, 1994). Strauss et al. (1949), apud Jacyntho e Almeida Filho (1994), demonstraram a origem virótica das verrugas cutâneas ao observarem em um extrato de cinco papilomas cutâneos, através da microscopia eletrônica, a presença de partículas viróticas arranja- 2) por ação de mutágenos diversos (genéticos, das em padrão de cristal. O exame histológico revelou corpos de oclusão intranucleares. infecciosos, químicos e imunológicos) ou, talvez, de Até 1970, pensava-se que um único tipo de vírus uma nova infecção pelo HPV, a integração do geno- ocasionasse manifestações clínicas diferentes, toda- ma virótico à célula imatura infectada pode traduzir- via, por meio da Biologia Molecular, foi possível a se por alterações da função celular. As sínteses protéi- identificação de mais de 70 tipos de HPV, cada qual cas são modificadas ou desaparecem enquanto outras responsável por uma entidade clínica específ ica sínteses anormais aparecem, explicando a perda da (IMUNITY, 2004). diferenciação e maturação celular, induzindo a mito- Assim, para Jacyntho e Almeida Filho (1994), o ses anárquicas. A célula é transformada, não produz domínio e a diversificação das técnicas de hibridação mais o vírus, mas guarda por sua vez um grande nú- molecular possibilitaram que, em curto espaço de mero de cópias parciais ou totais do DNA virótico. tempo, fossem identificados vários tipos de HPV. Resposta imune Ciclo de replicação O sistema imune específico tem como função não Nos tecidos humanos, as partículas virais infec- só a proteção contra agentes infecciosos, mas também tivas são encontradas preferencialmente nas células a destruição de células envelhecidas, anormais ou escamosas em fase terminal de diferenciação, em neoplasias (AMATO NETO; BALDY, 1991). relação às células da camada basal. Nas células ma- A imunidade humoral consiste em o macrófago lignas, o DNA viral se encontra integrado ao genoma da célula hospedeira, próximo aos proto-oncogenes celulares, e E6 e E7 são expressos de maneira descontrolada e excessiva. Todavia, em células normais infectadas de forma latente, o DNA viral se encontra na forma plasmidial e E6 e E7 são expressos de maneira normal. Essa diferença se deve à presença de um outro gene, o gene E2, que controla a expressão de E6 e E7. O gene E2 é funcional quando o DNA viral se fagocitar e processar o vírus, quebrando-o em seus Investigação – Revista Científica da Universidade de Franca Franca (SP) componentes. Sensibilizado, o macrófago produz Interleucina 1 (IL1) e induz o processo inflamatório. As citocinas produzidas durante a inflamação atraem os linfócitos TCD4+ e ocorre o reconhecimento dos determinantes antigênicos por estas células que têm a função de auxiliar na resposta imunológica. O TCD4+ sensibilizado produz IL-2 e outras citocinas que atraem os linfócitos B, que proliferam e produzem plasmócitos, v. 6 n. 1 p. 21–28 jan. / abr. 2006 23 que, por sua vez, são responsáveis pela produção de anticorpos (imunoglobulinas – Ig), sendo eles: a) o IgM, que aparece no início da infecção e da (2003), mais de 120 tipos de HPV foram descritos e podem ser divididos em dois grandes grupos devido a sua especificidade epitelial: percorre a circulação para ligar-se ao vírus específico. a) HPV cutaneotrópico: acomete tanto indivíduos Assim, procura impedir a disseminação da infecção; imunocompetentes quanto imunossuprimidos, afeta b) o IgG, ainda mais específico, é menor que o áreas não genitais e inclui o HPV 1 a 4 e o tipo 10. IgM; isto permite sua passagem pelo vaso e faz com Estes tipos são quase sempre associados a lesões ver- que chegue ao tecido, onde neutraliza o vírus, porém rucosas benignas da face, região palmar e plantar; b) HPV mucoso-genitotrópico: infecta especial- não consegue atuar em mucosas. Aparece cerca de 12 mente a mucosa da genitália, podendo ocorrer em dias após o início da infecção; c) o IgA, que age em locais onde nenhum outro qualquer outra mucosa do organismo (oral, ocular, anticorpo consegue atuar, como as mucosas. Ofere- respiratória). Sabe-se, até o momento, que mais de ce, ainda, defesa contra reinfecção em pontos estra- 45 tipos de HPV infectam o trato genital humano. O HPV mucoso-genitotrófico pode ser classi- tégicos do corpo (portas de entrada – mucosas respiratórias, alimentar e urogenital) (VILELA, 2004). Presumivelmente anticorpos circulantes têm al- ficado quanto a sua capacidade de transformação neoplásica: guma função contra reinfecção. Entretanto, a susce- b1) HPV de baixo risco oncogênico (tipos 6, 11, tibilidade à infecção estabelecida é, provavelmente, 42, 43, 44): relacionado principalmente à verru- mediada pela resposta celular (JACYNTHO; ALMEI- ga genital e neoplasia intra-epitelial (NIC I) de DA FILHO, 1994). baixo grau. Raramente estes tipos estão associados à NIC de alto grau e câncer. De acordo com Amato Neto e Baldy (1991), a estimulação antigênica (sensibilidade) dos linfócitos T b2) HPV de alto risco oncogênico (tipos 16, 18, vai dar origem aos vários tipos de linfócitos T envol- 26, 31, 33, 35, 39, 45, 51, 52, 53, 56, 58, 59, 66, vidos nos mecanismos da imunidade mediada por 68, 73 e 82): em 1995, o I A RC (International células (Imunidade Celular). Agency for Reserch on Câncer) confirmou o HPV Parasitas intracelulares, como os vírus, oferecem como agente responsável pela neoplasia intra- maior dificuldade para serem destruídos e a ação dos epitelial (NIC II e NIC III) e câncer invasor do anticorpos é menos eficaz. Nesses casos, as células de defesa (linfócitos TCD8+ e linfócitos NK – Natural colo uterino. killer, que possuem importante ação citotóxica) ata- Levinson e Jawetz (1998) fazem menção à infec- cam e destroem as células que estão sendo parasita- ção das células epiteliais escamosas e relatam que das, ou atacam os vírus no momento em que deixam esta produzem vacúolos citoplasmáticos caracte- as células parasitadas. Este processo é desencadeado rísticos (coilocitose), a “marca registrada” do vírus, quando as interleucinas ativam os macrófagos, que sendo a melhor forma de diagnóstico. aumentam sua capacidade fagocitária, além de gerar radicais livres com intensa ação destruidora so- Epidemiologia e contágio bre agentes infecciosos (VILELA, 2004). Rumjanek A s infecções pelo HP V ocor rem em todas as (2004) relata que as células NK (do inglês, natural idades e em todas as partes do mundo, através de Killer) desempenham atividade primordial na inibi- gotículas de secreções corporais, pequenos trauma- ção das metástases, quando estudadas em pacientes tismos da pele e através de relações sexuais genitais, com câncer de mama. anais e orais. Durante a passagem do feto pelo canal de parto, a mãe infectada pode transmitir o HPV ao Patogênese seu filho, que vai desenvolver a forma respiratória Até o momento, de acordo com Pereyra e Parella- juvenil da papilomatose (IMUNITY, 2004). Investigação – Revista Científica da Universidade de Franca 24 Franca (SP) v. 6 n. 1 p. 21–28 jan. / abr. 2006 O DNA viral também tem sido detectado no vapor liberado de eletrocautérios e laser utilizado para o tratamento de verrugas genitais e da papilomatose laríngea, havendo o sério risco de transmissão da doença para profissionais de saúde e mesmo para outros pacientes se este material não for descartável (IMUNITY, 2004). Rosenblatt (2002) verifica que as variáveis de maior risco são: o número de parceiros sexuais, precocidade do início da vida sexual ativa, uso compartilhado de sabonetes, roupas íntimas ou toalhas de banho, apesar destes três últimos serem mais remotos. Também, a supressão da imunidade em pessoas que apresentam o vírus pode estar associada ao caráter maligno, por uso prolongado de medicamentos, tabagismo, aids, deficiência de vitaminas e estresse. Tabela – Incidência de HPV e NIC I na microrregião de Passos (MG), de abril/2003 a abril/2004, de acordo com a classificação de Papanicolaou e Bethesda (1990). MESES Nº DE EXAMES CLASSE II e/ou ASCUS (HPV) HPV + NICI NICI Abril/03 1.258 2 5 6 Maio/03 1.147 0 5 8 7 Junho/03 1.139 1 5 Julho/03 1.034 0 4 3 Agosto/03 1.083 1 3 2 Setembro/03 1.351 0 6 10 Outubro/03 1.284 1 3 8 Novembro/03 1.250 1 2 7 Dezembro/03 564 0 1 3 Janeiro/04 1.220 2 3 3 Fevereiro/04 1.180 0 5 3 Março/04 1.428 1 5 4 Abril/04 1.283 0 3 6 TOTAL 15.221 9 50 70 Fonte: A PESQUISADORA, 2004. MATERIAL E MÉTODOS RESULTADOS E DISCUSSÃO Local de estudo A Tabela 1 mostra os dados obtidos a partir do O levantamento do número de casos de Papillo- levantamento de abril/2003 a abril/2004 com um mavírus humano foi realizado no Laboratório de Pa- total de 15.221 exames realizados pelo laboratório tologia e Citopatologia da Santa Casa de Misericórdia da Santa Casa de Passos. Destes, 129 foram positivos de Passos, Minas Gerais. para os parâmetros avaliados, como lesões de Classe Exame colpocitológico O exame utilizado para se obter um resultado preciso é o exame colpocitológico (Papanicolaou), o qual se faz com a coleta de material tanto da região ectocervical quanto da endocervical, sendo feito esfregaço de cada uma dessas áreas em uma lâmina e posterior coloração por Hematoxilina-eosina (HE) com contracoloração do material coletado. Nos casos positivos, verifica-se a presença de coilocitose, que se trata de um vacúolo localizado no citoplasma da célula infectada pelo vírus, porém há ocorrência de associação de NIC por apresentar ainda algumas alterações neoplásicas, juntamente com o efeito citopatológico compatível com o HPV. II (HPV), HPV associado ao NIC I (HPV +NIC I) e NIC I. Esses dados, apesar de ser um número relativamente baixo, sugerem que a presença de casos positivos se deve a falta de prevenção, pelo pouco conhecimento sobre o HPV e principalmente a falta de instrução da população, em realizar o exame preventivo disponibilizado pela rede pública de saúde (SUS), podendo levar ao câncer de colo uterino. É possível verificar que há uma maior incidência quando o Papilomavírus humano está associado ao NIC I, que chega a 50 casos, podendo ser indicado por apresentar efeito citopatológico compatível com HPV (coilocitose), associado às alterações de núcleo, citoplasma e até células do sistema imune. Já os casos de Classe II (HPV) chegam a apenas 9, sendo per- Análise dos dados O estudo consistiu em análise de dados retrospectivo, descritivo e observacional, onde foram analisados 15.221 exames Papanicolaou, com 129 casos positivos, onde foram classificados como Classe II (HPV), HPV + NIC I e NIC, como mostra a Tabela 1. Investigação – Revista Científica da Universidade de Franca Franca (SP) ceptível sua baixa prevalência entre a população; sua identificação ocorre por apresentar alterações benignas, oriundas de agente infeccioso, que neste caso se trata de HPV, ocorrendo células epiteliais atípicas e sendo considerado lesão de baixo grau. A partir destes dados apresentados podemos verificar que os autores v. 6 n. 1 p. 21–28 jan. / abr. 2006 25 Pereyra e Parellada (2003) em estudos atuais revelam que existe eliminação espontânea do vírus, através da ativação do sistema imune, em mais de 90% dos indivíduos infectados no período de 24 meses. Ainda foi observado por Levinson e Jawetz (1998) que a infecção viral induz tanto a formação de anticorpos quanto a imunidade mediada por células, e ambos os processos estão envolvidos na regressão espontânea das verrugas. Então é de grande importância que se mantenha o sistema imunológico sempre competente, para se eliminar o vírus. Quando isto não ocorre, parece estar relacionado com outros fatores como o uso de cigarro, contraceptivos orais, estresse e imunossupressão, que podem provocar vulnerabilidade cervical. Para Jacynto (2004), tanto NIC I e /ou HPV ocorrem com menor freqüência em ambientes pouco estrogênicos, provavelmente pela dificuldade de mul- 19 anos, representando cerca de 44%, que acaba sendo um percentual muito grande por estar na faixa de iniciação sexual. Os dados obtidos a partir do levantamento apresentado neste trabalho estão de acordo com Beznos, Alonso e Carvalho (2000). Estes autores demonstraram que a infecção pelo HPV é mais comum a partir dos 15 anos de idade, com prevalência máxima até os 25 anos. Devido ao vírus ser mucosotrópico, sua instalação se deve a microtraumas nos epitélios pavimentosos e presença de células basais e metaplásicas, estas últimas tornam-se alvo do HPV e aparecem na mulher por processo fisiológico no colo uterino durante a vida fetal, puberdade e gestação, tendo como fatores de risco o número de parceiros e atividade sexual precoce, que acaba sendo menor que 18 meses entre a menarca e a primeira relação. No entanto, podemos observar redução no nú- tiplicação virótica em pessoas, com baixa taxa estrogênica, tal qual acontece com os homens, que inibem a virose com mais facilidade. O maior número está relacionado com o NIC I isolado, que apresenta cerca de 70 casos, o que significa displasia leve, apesar de este nem sempre estar relacionado com o HPV, podendo ocorrer independentemente da presença do vírus. O dado é comprovado pelos autores Richardt (1990) e Ostor (1993) apud Russomano (2000), segundo os quais, por ser uma atipia de menor grau tem maior probabilidade de regredir mesmo sem tratamento. Na Figura 2, é observada uma prevalência de HPV + NIC I na faixa etária dos 20 aos 25 anos, onde se observam 18 casos, sendo o maior número registrado entre as outras faixas de idade. mero de casos HPV + NIC I positivos após os 30 anos até 43 anos. Esta diminuição se acentua após 44 anos, onde observamos somente 5 casos dentro da população estudada. Estes dados estatísticos podem ser comprovados por Jacynto (2004), onde se observa que quanto mais próxima a mulher estiver da menopausa ou já se encontrar nela, menor será a expressão desse vírus, em razão de o epitélio estar atrofiado havendo dificuldades na multiplicação virótica, mas caso haja integração do genoma do vírus com o material genético do hospedeiro relacionado às lesões de alto grau, encontramos relativa freqüência, mesmo que pósmenopausa, pois a doença que se expressa não mais depende de proliferação virótica, e sim, da expressão dos genes oncogênicos viróticos integrados ao genoma celular. Caso não seja tratada, a doença persiste, evoluindo com o decorrer dos anos, e o diagnóstico pós-menopausa poderia ser de câncer invasor. A partir dos dados coletados, é possível verificar que a presença do sistema imune é fundamental para sua disseminação ou regressão, podendo ser confirmado de acordo com Okada, Gonçalves e Geraldo (2000), Vilela (2004) e Perotti (2003). Esses autores afirmam que após a infecção por HPV os macrófagos formam a primeira linha de defesa, e há um aumento no estroma das células “natural-killers”. As células de Langerhans intra-epiteliais apresentadoras de antígeno estão em menor número na infecção cervical pelo HPV, assim como nas lesões de alto grau. A expressão Figura 2. Ocorrência de casos de HPV de acordo com a faixa etária, na região de Passos/M.G. Fonte: (A PESQUISADORA, 2004). Mas o que mais impressiona é que dos nove casos de Classe II (HPV) que ocorreram de abril/2003 a abril/2004, quatro destes aparecem na faixa de 14 a Investigação – Revista Científica da Universidade de Franca 26 Franca (SP) v. 6 n. 1 p. 21–28 jan. / abr. 2006 viral ativa pode induzir a produção de fatores supressivos que retardam a resposta imune. Com toda essa ação progressiva do vírus, tem-se tentado desenvolver uma vacina que possibilite ao menos diminuir o número de pessoas infectadas, o que favoreceria então a prevenção. Para isso utiliza-se uma partícula protéica presente na cápsula externa do vírus, com alta capacidade imunogênica, que serve para estimular a produção de anticorpos e posterior eliminação do vírus pelo organismo. M. de; Consenso Brasileiro de HPV: Papilomavírus humano. HPV em outras especialidades, epidemiologia, diagnóstico e tratamento. São Paulo: BG Cultural, 2000. CONCLUSÃO Assim, verifica-se que a maior incidência de HPV na região de Passos (MG) está entre as faixas de idade com maior atividade sexual, que abrange da adolescência ao início da vida adulta (14 a 25 anos), devido à falta de informação, prevenção e muito provavelmente à não preocupação com esse vírus, que a cada INCA. Instituto Nacional do Câncer. HPV: perguntas e respostas mais freqüentes. Disponível em: < http:// www.inca.gov.br/conteudo view.asp?id=327>. Acesso em: 24 jul. 2004a ano tem aumentado a incidência de mulheres e também de homens infectados no país, sendo necessário educar sexualmente adolescentes e jovens. Observa-se que o maior número de casos com ocorrência de HPV + NIC I está presente na faixa etária jovem (20 a 25), que poderá desenvolver-se em câncer de colo uterino se não for tratado adequadamente. É possível, também, verificar que nas mulheres nas fases de pré-menopausa e menopausa (44 anos), o risco de se contrair o HPV é menor, porém casos de HPV + NIC I que ocorrem podem evoluir para um carcinoma in situ, caso o vírus tenha inserido genes viróticos no genoma celular, na presença de células metaplásicas e basais ainda em formação antes do período de menopausa. AGRADECIMENTOS Agradecemos à patologista doutora Maria Aparecida Silveira Sucena e às biomédicas Cristina Rubim Parentoni Costa e Cristiane Lopes Marques Myrrha, do Laboratório de Patologia e Citopatologia da Santa Casa de Misericórdia de Passos, por disponibilizarem os dados e auxiliarem na pesquisa, e à Universidade de Franca (Unifran). REFERÊNCIAS AMATO NETO, V.; BALDY, J. L. da S. Doenças transmissíveis. 3. ed. São Paulo: Sarvier, 1991. BEZNOS, G. W.; ALONSO, F. J. F.; CARVALHO, M. Z. Investigação – Revista Científica da Universidade de Franca Franca (SP) IMUNITY: Clínica Especializada em Vacinações. HPV: doença sexualmente transmissível. Disponível em: <http://www.imunity.com.br/hpv.htm>. Acesso em: 28 jul. 2004. INCA. Instituto Nacional do Câncer. Programa Nacional de Controle do Câncer do Colo do Útero e de Mama: Viva Mulher. Disponível em: <http://www.inca.gov. br/conteudo view.asp?id=140>. Acesso em: 24 jul. 2004b JAC YNT HO, C. 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Rosseli Santos da Silveira (autora responsável) Rua Waldomiro Caetano Machado, 100 Bairro Nova Califórnia RUMJANEK, V. M. I Fórum Multidisciplinar sobre Passos – MG Ciência, Meio Ambiente e Câncer. Revista Brasileira de CEP: 37904-570 Cancerologia, v. 50, n. 2, p. 139-175, 2004. Telefone: (035)3522-1960 ou (016) 8124-3036 E-mail: [email protected] RUSSOMANO, F. Infecção pelo HPV. 2000. Disponível em: <http://www.cer vical.com.br/textos/textos07. Adriana Malheiro (Orientadora) htm>. Acesso em: 24 jul. 2004. Billie Holiday, 36 – Apto 301 Condomínio Itapõa – Parque Dez de Novembro Manaus – AM VILELA, A. L. M. Anatomia e fisiologia humana: linhas CEP: 69050-445 de combate do sistema imune < http://www.afh.bio. Telefone: (92) 3634-2542 / 3655-0111. br/basicos/Imune2.htm>. Acesso em: 28 jul. 2004. Investigação – Revista Científica da Universidade de Franca 28 Franca (SP) E-mail: [email protected] v. 6 n. 1 p. 21–28 jan. / abr. 2006