Quilombolas e mocambeiros: análises preliminares do sistema de classificação dos escravos fugitivos dos algodoais maranhenses (1755-1810) Hyda Juliana Pavão Quadros- PIBIC/FLUTUA/UFMA Orientador: Prof. Dr. Luiz Alberto Alves Couceiro- DESOC/FLUTA/UFMA INTRODUÇÃO OBJETIVO Uma Companhia Geral de Comércio, fundada em 1755, tinha o absoluto monopólio da navegação nas capitanias do Maranhão e Grão-Pará, cujo objetivo era vender escravos africanos em grande escala, fomentando a produção algodoeira para os centros industriais europeus. Seguindo os arquivos como “ilhas de sentidos” (Carrara, 1998) a serem exploradas pelo antropólogo, pergunto: como essas relações são narradas e em quais tipos de documentos a elas temos acesso? Este trabalho busca avaliar algumas das classificações jurídico-policiais de populações de escravos fugitivos de fazendas algodoeiras no Maranhão (1755-1810), através das categorias de análise da antropologia do direito e da justiça no Brasil. Avaliar quais os sentidos que a recente antropologia do direito e da justiça, produzidas no Brasil, conferem às construções de sistemas de vigilância e controle de comportamentos criminalizados, com destaque para os coletivos de fugitivos (quilombolas e mocambeiros), percebendo em que termos populações de trabalhadores em situação de escravidão conseguem construir entendimentos das formas de policiamento às quais são submetidos. METODOLOGIA RESULTADOS PRELIMINARES A força de trabalho africana sustentou as trocas comerciais de tecidos realizadas no Atlântico (Tomich, 2004). Temendo que os escravos se insurgissem, uma tentativa de construção de uma rede de informação sobre os criminosos por parte das autoridades governamentais foi instaurada. Assim, foi instituído o posto de capitão do mato, visando o controle dos escravos e a extinção de mocambos e quilombos. Estes eram retratados como lugar de “ladrões públicos e salteadores”, segundo as fontes documentais pesquisadas. E, segundo as fontes do arquivo, os escravos fugitivos fundaram assim, o núcleo de agrupamento de pessoas conhecidos como quilombolas. REFERÊNCIAS ASSUNÇÃO, Mathias Röhring. 2000. Exportação, mercado interno e crises de subsistência numa província brasileira: o caso do Maranhão, 1800-1860. Estudos Sociedade & Agricultura, n.14, abril, p.3271. CARRARA, Sérgio. 1998. Crime e loucura: o aparecimento do manicômio judiciário na passagem do século. Rio de Janeiro, São Paulo: EdUERJ, EdUSP. COUCEIRO, Luiz Alberto & SILVA, Rejane Valvano Corrêa da. 2015. Possíveis análises sobre a produção de algodão no Maranhão (1755-1818), relacionando o conceito “segunda escravidão” com práticas de crédito. Outros Tempos, v.12, n.20, p.190-213. DURKHEIM, Émile e MAUSS, Marcel. 1999 (1903). Algumas formas primitivas de classificação. In: MAUSS, Marcel. Ensaios de sociologia. 2ª. Edição. São Paulo: Perspectiva, p. 399-455. MINTZ, Sidney W. 2010 (1991). Produção tropical e consumo de massa: um comentário histórico. In: O poder amargo do açúcar: produtores escravizados, consumidores proletarizados. 2ª. Edição revista e ampliada. Recife: Editora UFPE, p.39-50. TOMICH, Dale W. . 2011. 3. A “segunda escravidão”. In: Pelo prisma da escravidão: trabalho, capital e economia mundial. São Paulo: EdUSP, p.81-97. TOMICH, Dale. 2004. Introdução: o Atlântico como espaço histórico. TOMICH, Dale & GOMES, Flávio dos Santos (orgs.). Dossiê História Atlântica, Estudos Afro-Asiáticos, ano 26, n.2, p.223-240. VIANNA, Adriana. 2014. Etnografando documentos: uma antropóloga em meio a processos judiciais. In: CASTILHO, Sérgio Ricardo Rodrigues; SOUZA LIMA, Antonio Carlos de; TEIXEIRA, Carla Costa (orgs.). Antropologia das práticas de poder: reflexões etnográficas entre burocratas, elites e corporações. Rio de Janeiro: Contra Capa, Faperj, p.43-70 WOLF, Eric R. 2005 (1982). A Europa e os povos sem história. São Paulo: EdUSP. (Cap. 9: A Revolução Industrial. p.323-356. Arquivo Público do Estado do Maranhão. Foto: Secom Governo. A junção dos termos etnografias e documentos, de primeiro ímpeto, causam estranhamento no que diz respeito ao trabalho de campo clássico da antropologia derivada de Malinowski. Contudo, a antropologia sempre lidou com a construção de formas de classificação, dos seus critérios de existências, seus criadores, seus usos e objetivos, também desde seus primórdios (Durkheim & Mauss, 1981). Vimos trabalhando com os registros das ações dos quilombolas, em documentos localizados no Arquivo Público do Estado do Maranhão (APEM), sempre através das denúncias de suas ações como comportamentos criminosos, ameaçadores dos senhores e da produção econômica. Documentos do século XVII e XVIII que contam a formação de São Luís. Foto: Reginaldo Rodrigues