Morte e Morrer na Visão do Fisioterapeuta Alyne M. S. Andrade

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Morte e Morrer na Visão do Fisioterapeuta
Alyne M. S. Andrade Mangini1
Giuliano Gardenghi2
Pontifícia Universidade Católica de Goiás
Centro de Estudos Avançados e Formação Integrada
Goiânia – GO
Autor correspondente: Alyne Mayara Silva Andrade Mangini
Endereço: Avenida José Leandro da Cruz, Lote 107-E, Condomínio Reserva Jardim do
Parque, Casa 34, Parque Amazonas,
CEP: 74.843-010 – Goiânia (GO), Brasil.
Fone/Fax: (62) 8146-0962
E-mail: [email protected]
1
Fisioterapeuta Pós-graduanda em Fisioterapia Cardiopulmonar e Terapia Intensiva pelo Centro de Estudos
Avançados e Formação Integrada – CEAFI Pós Graduação/GO.
2
Fisioterapeuta, Doutor em Ciências pela FMUSP, Coordenador Científico do Serviço de Fisioterapia do
Hospital ENCORE/GO, Coordenador Científico do CEAFI Pós-graduação/GO e Coordenador do Curso de Pósgraduação em Fisioterapia Hospitalar do Hospital e Maternidade São Cristóvão, São Paulo/SP– Brasil.
Processo de Morte e Morrer na Visão do Fisioterapeuta
Resumo
Introdução: Morte origina-se do latim mortem, caracterizando-se como a cessação da vida e
manifesta-se pela extinção das atividades. A respeito da enorme projeção alcançada pelo
assunto em anos recentes, não é comum nos cursos de graduação a discussão acerca da
temática da morte, possivelmente, pelo tabu inerente ao tema, uma vez que, a negação da
morte é perceptível em todos os setores da sociedade, até mesmo entre os profissionais da
saúde. Baseado nessas premissas, os sentimentos e atitudes dos estudantes de Fisioterapia
com relação à morte e ao morrer são pouco conhecido. Objetivo: Compreender o significado
da morte e morrer do paciente sob a visão do fisioterapeuta. Métodos: Os trabalhos
consultados foram localizados por meio de pesquisa nas bases de dados Lilacs, Medline e
Bireme. Conclusões: A relação estabelecida entre o fisioterapeuta e o paciente em fase
terminal, por mais difícil que seja lidar com esta situação, é de extrema importância para
ambos e é evidenciada neste estudo como uma relação de amizade, afetividade e
compreensão, necessária para a terapêutica do paciente, a fim deste se sentir importante,
querido e não abandonado.
Palavras-chave: Morte. Doente Terminal. Fisioterapeuta.
Abstract
Introduction: Death comes from the Latin mortem, characterized as the cessation of life and
is manifested by the extinction of the activities. Regarding the huge projection achieved by
the subject in recent years, is not common in undergraduate discussion on the theme of death,
possibly by the taboo inherent to the subject, since the denial of death is evident in all sectors
of society, even among health professionals. Based on these assumptions, the feelings and
attitudes of physiotherapy students about death and dying are little known. Objective: To
understand the meaning of death, and the dying patient in the view of the physiotherapist.
Methods: The studies were located by searching in Lilacs, Medline and Bireme data.
Conclusions: The relationship between the therapist and the patient in the terminal phase,
however difficult it is to deal with this situation, it is extremely important for both and is
evidenced in this study as a friendship, affection and understanding, necessary for therapeutic
the patient, so this feel important, loved and not abandoned.
Keywords: Death. Terminally Ill. Physiotherapist.
Introdução
É na morte que o ciclo de vida individual se encerra. A morte representa o fim de nós
mesmos enquanto indivíduos, em alguns momentos nos leva à reflexão acerca da vida e da
existência individual, das espécies e do planeta enquanto casa necessária, até onde sabemos, e
morada dos seres humanos, entre outros seres vivos.
A fisioterapia conquista seu espaço cada vez mais na área da saúde, desenvolvendo
um papel importante nos cuidados aos pacientes terminais, sem possibilidades terapêuticas de
cura.
O fisioterapeuta tem um papel fundamental no controle da dor de pacientes sem
possibilidade de cura, podendo utilizar métodos e recursos não invasivos exclusivos de sua
profissão, que são imensamente úteis no controle da dor, fazendo com que sua atuação
colabore com o tratamento multiprofissional, necessário para o atendimento desses
pacientes1,2,3 .
É muito importante deixar claros os objetivos da fisioterapia tanto para a equipe
como para os familiares e o paciente a ser tratado, facilitando, assim, a aceitação e a adesão ao
tratamento proposto1.
O processo de formação dos cursos da área da saúde tende a imprimir uma visão
impessoal e puramente biológica a questão da morte. Alem de ser um tema controverso,
suscita reflexões a respeito das relações teóricas e da vida pratica sobre o cotidiano dos
profissionais de saúde, imersos em um mundo de trabalho, estando diretamente envolvidos
com a morte, parte inalienável da vida4.
A fisioterapia possui um conjunto abrangente de técnicas que complementam os
cuidados paliativos, tanto na melhora da sintomatologia quanto da qualidade de vida. Entre as
principais indicações estão: terapia para alivio da dor e alivio dos sintomas psicofísicos,
atuação nas complicações osteomioarticulares, reabilitação de complicações linfáticas,
atuação na fadiga, melhora da função pulmonar, atendimento de pacientes neurológicos1.
O fisioterapeuta deve estar preparado para lidar e assistir o paciente com problemas
psicossociais e, quando necessário, precisa ajuda-lo a conviver com a doença, com a dor e dar
apoio emocional ao mesmo diante do medo da morte5.
O adoecer, o morrer e a morte são temas diuturnamente presentes na vida, mesmo
que, muitas vezes, de maneira velada. Constantemente abordados pelos meios de
comunicação, adentram nas esferas, pública e privada, bem como nos espaços de
sociabilidade, em contato, nem sempre desejado, com a realidade da finitude humana.
Emblemáticos, esses temas promovem as mais variadas reações, quer dito, escrito ou
estudado. O dualismo vida e morte, a temporalidade humana e a vulnerabilidade de ser mortal
são elementos que, embora inerentes à vida, costumam produzir angústias e sofrimentos que
dificultam o seu enfrentamento.
A morte pode acontecer em qualquer momento do ciclo vital. É esperada na velhice
quando esgotada a capacidade do organismo de continuar vivo, ou em nada esperada quando
o vigor da infância predomina e eventos vitais se fazem presentes, tais como doenças e
acidentes. O diagnóstico de uma doença com prognóstico reservado traz consigo o sentimento
de fragilidade humana e o contato com a finitude6.
Métodos
Foi realizado um levantamento bibliográfico nas bases de dados bibliográficos Lilacs
(Literatura Latino- Americana e do Caribe em Ciências da Saúde), Bireme e Medline. Os
critérios para a seleção de artigos foram adotados conforme os objetivos da pesquisa, visando
à uniformização na escolha deles. Os critérios adotados foram: artigos publicados em
periódicos no período de 2003 a 2013.
Morte e Morrer na Visão do Fisioterapeuta
A vivência da morte do paciente revela variados sentimentos referidos pelos
fisioterapeutas. Os sentimentos, as atitudes e as próprias práticas presentes no confronto com
a morte não são uniformes, variando de um médico para outro e de uma morte para outra6. O
grande problema e o despreparo psicológico do medico. Situação essa que pode ser estendida
aos profissionais de saúde em geral, portanto aos fisioterapeutas também7.
E papel do fisioterapeuta instituir um plano de assistência que ajude o paciente a se
desenvolver o mais ativamente possível, facilitando a adaptação ao progressivo desgaste
físico e as suas implicações emocionais, sociais e espirituais, ate a chegada de sua morte.
Uma relação entre o tempo de atuação profissional com a vivência da morte do
paciente, para o fisioterapeuta, onde quanto maior o tempo de atuação do paciente no hospital
menos traumática era a vivencia da morte do paciente aos olhos do fisioterapeuta8 .
Alguns profissionais da fisioterapia enfrentam conscientemente a morte do paciente
como uma situação de aprendizado, emocional e profissional. E vivencia a situação somente
no hospital, tentando não levar para casa procurando evitar um envolvimento em relação ao
paciente8. Cuidar do doente constitui uma das atividades mais exigentes e desgastantes, tanto
em nível físico como psíquico, a que estão sujeitos os profissionais, exigindo maturidade
profissional e estabilidade emocional quando se defrontam com o paciente sem possibilidade
de cura9.
Os cuidados paliativos integram as áreas multiprofissionais e essa interação faz com
que o paciente tenha um suporte completo de todos os profissionais. Então, o fisioterapeuta
pode atuar de forma a complementar a abordagem paliativa, a fim de obter, dentro de seu
alcance profissional, o cuidado que o paciente necessita10 .
A
impossibilidade
de
cura
não
significa
a
deterioração
da
relação
profissional/paciente, mas sim o estreitamento desta relação que certamente trará benefícios
para ambos os lados1. Então, os profissionais acabam criando vínculo afetivo com seus
pacientes, devido ao tempo que passam cuidando dos mesmos, e também pela gravidade da
doença e pelo pouco tempo de vida que resta a esses pacientes, mobilizando, assim, alguns
sentimentos nestes profissionais; pois faz parte da natureza do homem a busca por
envolvimento com os outros11.
Admitir que se esgotaram os recursos para o resgate de uma cura e que o paciente se
encaminha para o fim da vida, não significa que não há mais o que fazer. Ao contrário, abrese uma ampla gama de condutas que podem ser oferecidas ao paciente e sua família. Condutas
no plano concreto, visando ao alívio da dor, à diminuição do desconforto; mas, sobretudo, à
possibilidade de situar-se frente ao momento do fim da vida, acompanhados por alguém que
possa ouvi-los e sustente seus desejos, permitir-lhe chegar ao momento de morrer, vivo, não
antecipando o momento dessa morte a partir do abandono e isolamento12.
A fisioterapia não objetiva somente a função, mas leva em consideração os aspectos
psicológicos, espirituais e psicossociais, estimulando o paciente, ouvindo, conversando, dando
atenção a ele em todas as suas dimensões; e apoio para a família. Entre os objetivos da
fisioterapia predomina-se conforto, qualidade de vida e o não abandono nessa fase terminal.
O fisioterapeuta deve estar preparado para lidar e assistir o paciente com problemas
psicossociais e, quando necessário, precisa ajudá-lo a conviver com a doença, com a dor e dar
apoio emocional ao mesmo13.
Conclusão
Os fisioterapeutas vivenciam a morte de pacientes de formas variadas, bem como
apresentam diferentes maneiras de enfrenta-la. E a vivência da morte e suas formas de
enfrentamento são mais elaboradas quanto maior o tempo de atuação dos fisioterapeutas. Os
profissionais da área da saúde não são preparados para lidar com a certeza da própria morte,
consequentemente eles não sabem lidar com a expectativa e a concretização da morte do
paciente.
O fisioterapeuta, assim como as demais profissões da área da saúde, está sujeito a
presenciar frequentemente situações de óbito, devendo este está preparado para tais
ocorrências.
A morte integrada à vida reintegra o humano ao humano: as preocupações com a
humanização da atenção, enquanto a vida pulsa pode se assistir com humanidade aqueles que
estão morrendo. Deixando de buscar o heroísmo ou o fazer fútil, a ilusão ou a negação do que
se teme e passa a viver no aqui e agora que precisa ser vivido, acolhendo o que pode ser
acolhido em respeito ao próprio eu e aos pacientes. Seguindo permanente crescimento mental
que a abertura para se falar sobre a morte possibilitou.
Ao afrontar situações de óbito, o despreparo profissional pode causar insegurança e a
evasão destas ocorrências. Para os profissionais de saúde o óbito muitas vezes é encarado
como fator negativo, mas sua discussão não deve ser evitada, e muito menos excluída da
formação destes profissionais.
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