Galáxias: Via – Láctea 1a parte: propriedades gerais Histórico: Modelos da Galáxia Estrutura, Forma e Dimensões da Via-Láctea - Bojo, Disco, Halo e Barra - A Região Central Sandra dos Anjos IAGUSP www.astro.iag.usp.br/aga210/ Agradecimentos: Prof. Gastão Bierrenback e Prof. Vera Jatenco Vimos na aula passada que entre as estrelas da nossa Galáxia, existe um meio, o Meio Interestelar-MIS, constituído por gás e poeira, além de raios cósmicos, partículas de altas energias e fótons. Vimos, em particular, o gás e a poeira, e a transformação que a luz sofre ao atravessar nuvens do MIS, a produção da linha de 21cm do hidrogenio - que nos permite inferir sobre a estrutura dos braços da Galáxia, e também como as “linhas proibidas”, fenômeno possível somente no MIS, são formadas. Nesta aula veremos como se consolidou o conhecimento sobre a estrutura, forma, dimensões, conteúdo estelar, e o movimento das estrelas na Galáxia, além de importantes fenômenos dinâmicos, recentemente explicados, que podem justificar a formação de braços no disco da Via-Láctea. Veremos que a informação sobre o comportamento da velocidade das estrelas no disco da Galáxia nos leva a um problema, ainda em aberto, conhecido como "Matéria Escura” Origem do nome - Galáxias ...aparência nebulosa, esbranquiçada…! Romano, Via - Láctea (caminho de leite) Grego, Galáxia (leite) Desta visão.........chegamos a esta..! Como ? O conhecimento e a estimativa do tamanho e da estrutura da Galáxia dependem da determinação da “Distância de Estrelas". d1 d2 d3 d4 PS: Durante todo o curso vários métodos de determinação de distância foram apresentados e enfatizou-se, que, apesar de não ser uma grandeza física é fundamental para se obter grandezas físicas como fluxo, e outras informações como a que apresentamos neste Roteiro... Nas 3 primeiras décadas do século XX astrônomos gradualmente deduziram o tamanho e estrutura da Galáxia utilizando o número de estrelas em função da distância. Um tipo de estrelas conveniente para estas medidas são as estrelas variáveis do tipo Cefeida, cuja variabilidade é da ordem de 50-100 dias. Vimos especificamente este tema no “Roteiro 17- Estrelas Variáveis". • • • A causa da variabilidade deste tipo de estrela é devido a contração e expansão física das camadas externas do envelope, causada por “oscilações de relaxação térmica”. Neste tipo de estrela é possível utilizar a equação do Módulo de Distância para inferir a distância das estrelas, como descrito a seguir. Se conheço o período P, observando uma estrela variável, posso obter a L ou magnitude absoluta (M) , via relação bem estabelecida do Período-Luminosidade de estrelas Cefeidas (figura abaixo). A distância pode ser então calculada observando-se o brilho aparente... m(ap) – M(abs) = 5log d (pc) – 5 (expressão “quase correta”) observada Obtida via Relação Período-Luminosidade P-L ...a partir de medidas de distâncias de estrelas, foi possível obter o primeiro modelo da forma da Galáxia, como veremos a seguir... Primeiras Concepções sobre a Forma da Via-Láctea menos estrelas mais estrelas Em 1750 Thomas Wright sugere que a Via Láctea seja uma casca esférica de estrelas. ...os “Universos ilhas” de Immanuel Kant. Acreditavam que a Via-Láctea era um, entre outros “Universos ]Ilhas" Descobrindo Galáxia sobre a Forma da Via-Láctea PrimeirasaConcepções ~300 milhões de estrelas Sol 8 mil anos luz (2,5 kpc) Em 1785, William Herschel inicia estudos quantitativos realizando contagens de estrelas supondo que a luminosidade é a mesma para todas –> usa as estrelas como traçadores de distância... Imagina a Via-Láctea como um disco, com o Sol próximo do centro, resultando na concepção desenhada acima. Esta visão da Via-Láctea vai predominar até o início do Séc. XX. Descobrindo a Galáxia sobre a Forma da Via-Láctea Primeiras Concepções Sol Se contarmos o número de estrelas em direções opostas, o número é mais ou menos o mesmo. A conclusão lógica é de que estaríamos no centro da distribuição das estrelas. Mas falta um elemento neste raciocínio....considerar os efeitos que a poeira povoca na luz, modificando-a, e que só foram bem estabelecidos no início da década de 1930 Nós não podemos ver claramente além de ~2 kpc. - Luz visível é absorvida pela poeira. Um passo a mais.... : modelos de Kapteyn e Shapley Kapteyn – aumenta a estatística, e assume que as estrelas tem L diferentes - encontra uma forma onde o Sol está quase no centro Shapley – utiliza como traçador de distância aglomerados globulares Herschel, Kapteyn - Erraram porque não consideram obscuração (A) ou absorção (A) galáctica devido aos efeitos sobre a luz no MIS. m – M = 5log d(pc) – 5 + A (absorção) Shapley (ver próxima figura) - Usa Cefeidas em aglomerados globulares, cuja distribuição espacial destes é quase esferica no halo da Galáxia, e percebe que o Sol não se encontra no centro desta distribuição. Obtem um modelo bem mais realista. Oort, Lindblad - Paralelamente, já sabiam pelos estudos dinâmicos que o Sol não está no centro da VL. Primeiras Concepções sobre a Forma da Via-Láctea No início do Séc. XX, Harlow Shapley nota que o Sol não está no centro da distribuição espacial de aglomerados globulares. Conclui que o Sol não está no centro da Via-Láctea. Podemos ver aglomerados distantes. Grande debate: escala do Universo A questão do tamanho da Galáxia e a natureza das “nebulosas” (principalmente as espirais) é central para a compreensão da escala do Universo. Premissas do “Grande Debate” de 1920: Harlow Shapley acreditava que: - Via Láctea muito grande e única - Sol a 20 kpc do centro - Nebulosas fazem parte da galáxia Heber D. Curtis acreditava que: - Via Láctea pequena - Sol está no centro - Nebulosas são “universos ilhas” Veremos no próximo roteiro que foi Hubble quem esclareceu esta questão.... Algumas nebulosas NÃO fazem parte da VL, são objetos extragalácticos Via-Láctea: visão hoje Observações em rádio (gás) e IR (poeira) complementam a visão mais detalhada da estrutura da VL, além da comparação que podemos fazer com galáxias externas observadas Visão atual da estrutura da Via Láctea vista de perfil e de face… Face Perfil Regiões HII Estrutura Nuvens moleculares - disco fino - disco espesso ~ 120.000 al - halo - barra - bojo: componente brilhante na região central, onde estrelas de população velha e pobre em metais estão concentradas (?!) abriga núcleo denso de estrelas, radiofonte e BH (MBH ~ 4x10 6Msol. ) Conteúdo: gás, poeira e estrelas, essencialmente… Visão atual da estrutura da Via Láctea vista de perfil e de face… Face Perfil Estrutura - disco fino - disco espesso - bojo: abriga núcleo denso de estrelas, radiofonte e BH (MBH ~ 4x10 6Msol ) - halo - barra Conteúdo: gás, poeira e estrelas, essencialmente… A Galáxia em outros comprimentos de onda 360 graus • Infravermelho próximo: estrelas frias • Visível: estrelas próximas • Infravermelho médio e distante: poeira e moléculas Constituintes das Componentes da Galáxia Disco - Estrelas jovens e ricas em metais (população I – veremos adiante porque....) - Aglomerados abertos - Regiões HII - Nuvens moleculares, gás e poeira Bojo - Estrelas velhas e pobres em metais (população II) Halo - Aglomerados globulares Vejamos com um pouco mais de detalhes o que sabemos sobre as Componentes Estruturais BOJO Clássico: componente brilhante central onde as estrelas estão concentradas. Recentes estudos tem indicado a presença de um pseudo-bojo, um bojo formado por processos de evolução secular (veremos adiante o significado deste processo) -Região brilhante confinada na região central da galáxia e mais espessa que o disco, com forma quase sempre elipsoidal -Constituído basicamente de estrelas velhas, de população II Contêm o núcleo ou centro galáctico Galáxia vista de Face Núcleo na região central do Bojo Galáxia vista de Perfil Centro da Galáxia Constelações e estrelas mais brilhantes na região do centro galáctico. CENTRO ...conjunto de observações em diferentes comprimentos de onda - Obs radio mostram um grupo de pequenos objetos conhecido como Sagitarius A (Sgr A) - Não se sabe exatamente o tamanho - Sítio de forte emissão X (fonte é Sgr A*) e mais recentemente obs em Infra vermelho (IR) - Muitas nuvens com alta velocidade indicando grande quantidade de massa - Segmento de braço se afastando do centro sugerindo evento explosivo → BN Supermassivo ou aglomerado denso? ---> BN com (M~1.000.000 Msol) Centro da Galáxia Movimento de estrelas próximas do centro da Galáxia, observadas desde 1992. Massa no interior de ~130 U.A. = 3,4 x 106 Mo. Buraco Negro Super Massivo. Centro da Galáxia • Massa no interior de ~130 U.A. = 3,4x106 Msol → Buraco Negro. Centro da Galáxia - Imagem no visível. - Vários aglomerados abertos e globulares estão marcados. - Janela de Baade: ... região com pouca poeira por onde observamos melhor o bojo. - A luz difusa vem de muitos milhões de estrelas. Centro da Galáxia ...com infravermelho podemos observar através da poeira. Infravermelho, campo de 50°. Infravermelho, com destaque ao centro Galáctico. Zoom centrado em Sg A*, uma fonte de rádio bem no centro da VL, onde se obs centenas de estrelas próximas de Sagitário A* dentro de 1 al ou 0,3 pc. - Binárias com anãs brancas, estrelas de nêutrons e/ou buracos negros. - Restos de supernovas. - Emissão associada a Sagitário A*. - Imagem em rádio em 333 MHz. - A fonte rádio Sagitário A* coincide com o centro da Via Láctea. - Observa-se vários restos de supernovas. 0,5° Imagem de Sgr A* em raios-X Veremos no próximo Roteiro-20 a 2a etapa de temas da Galáxia, ou seja, fenômenos relacionados com a cinemática do disco abordando o que chamamos de rotação diferencial e formação dos braços espirais.