Anais do X Encontro de Geógrafos da América Latina – 20 a 26 de março de 2005 – Universidade de São Paulo CARTOGRAFIA TEMÁTICA EM MAPEAMENTO CRIMINAL1 Adeline Carvalhaes Rosette 2 Paulo Márcio Leal de Menezes 3 RESUMO Segundo o Plano Estadual de Governo: Política Pública para a Segurança, Justiça e Cidadania (2000:110), um dos principais objetivos do Programa de Qualificação Estatística consiste na produção de mapas criminais. Tais mapas têm como público alvo a Polícia Militar e Civil do Estado do Rio de Janeiro. Tais mapas se apresentam como valiosas ferramentas a serviço da justiça e da prevenção e controle da criminalidade. Os cartogramas estatísticos foram elaborados com dados policiais, desagregados por Áreas Integradas de Segurança Pública – AISP, áreas de Delegacias, áreas de planejamento, regiões administrativas, bairros, ruas, dias da semana e número de ocorrências por faixas de horários. Desta forma, este trabalho tem por objetivo apresentar diferentes técnicas de mapeamento temático utilizando dados em segurança pública. ABSTRACT According to Government's State Plan: Public Politics for the Safety, Justice and Citizenship (2000:110), one of the principal objectives of the Program of 1 Este trabalho é parte integrante de pesquisas realizadas para a Tese de Doutorado em Geografia (UFRJ) da primeira co-autora, utilizando-se como exemplos mapas temáticos desenvolvidos junto ao Núcleo de Pesquisa em Justiça Criminal e Segurança Pública - NUPESP, do Instituto de Segurança Pública - ISP, órgão este ligado à Secretaria de Estado de Segurança Pública do Rio de Janeiro - SESP. Doutoranda em Geografia - PPGG/UFRJ - Laboratório de Cartografia - GEOCART, MSc. 2 Engenharia Cartográfica – IME, Gerente de Geoprocessamento - NUPESP / ISP. Instituto de Segurança Pública - ISP Núcleo de Pesquisa em Justiça Criminal e Segurança Pública - NUPESP [email protected] 3 [email protected] Prof Dr. do Departamento de Geografia - UFRJ, orientador. Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ Departamento de Geografia - IGEO / Laboratório de Cartografia - GEOCART [email protected] 12967 Anais do X Encontro de Geógrafos da América Latina – 20 a 26 de março de 2005 – Universidade de São Paulo Statistical Qualification consists of the production of criminal maps. Such maps have as white public the military police and Civil of the State of Rio de Janeiro. Assisting this demand this work has for objective to present different techniques of thematic mapping. Such maps come as valuable tools to service of the justice and of the prevention and control of the criminality. The statistical maps were elaborated with data policemen, disaggregated by Integrated Areas of Public Safety - AISP, areas of Police Stations, planning areas, administrative areas, neighborhoods, streets, days of the week and number of occurrences for strips of schedules. CONSIDERAÇÕES INICIAIS Neste trabalho são apresentados diversos tipos de mapas temáticos ligados à área de Segurança Pública do Estado do Rio de Janeiro, notadamente aqueles relativos ao roubo, furto e recuperação de veículos. Na confecção destes mapas foram utilizados dados obtidos junto ao Núcleo de Pesquisa em Justiça Criminal e Segurança Pública – NUPESP do Instituto de Segurança Pública – ISP. O Instituto de Segurança é uma autarquia ligada à Secretaria de Estado de Segurança Pública – SESP. As bases cartográficas utilizadas foram obtidas junto Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, Instituto Pereira Passos - IPP e Grupo Executivo Delegacia Legal em parceria com a Fundação CIDE. Grande parte destes mapas se refere às Áreas Integradas de Segurança Pública – AISP. As AISP correspondem às circunscrições territoriais que agregam outras agências prestadoras de serviços públicos essenciais, sob a responsabilidade compartilhada e direta de um batalhão da PMERJ e uma ou mais delegacias de Polícia Civil (SESP, 1999). Tais unidades têm por objetivo o planejamento, execução, controle, supervisão, monitoramento corretivo e avaliação das políticas locais de segurança implantadas pelas unidades operacionais das polícias Militar e Civil. CARTOGRAFIA TEMÁTICA E SIG A Cartografia Temática corresponde ao ramo da Cartografia que se propõe a representar graficamente um tema ou uma correlação de temas, sobre uma base cartográfica, “enquanto que a Cartografia Topográfica tradicional trata de um produto cartográfico de forma geométrica e descritiva, a cartografia temática apresenta uma solução analítica ou explicativa” (Fitz, 2000, p.51). 12968 Anais do X Encontro de Geógrafos da América Latina – 20 a 26 de março de 2005 – Universidade de São Paulo A Cartografia Temática depende da cartografia de base, já que os mapas originados não são definidos diretamente do trabalho de levantamentos básicos, são compilados de mapas já existentes, ou seja, das bases cartográficas que servirão de apoio a todas as representações (Menezes,1998). Os atributos dos fenômenos espaciais podem ser do tipo nominal (qualitativa), ordinal (quantitativa não valorada), intervalada e razões (quantitativas valoradas), caracterizando o que se denomina escalas de observações. Tais mapas podem representar quaisquer fenômenos sócio-bio-físicos, geograficamente distribuídos, de forma discreta ou contínua sobre a superfície terrestre, valendo-se de recursos gráficos para transmitir informações espaciais. Contudo, para que o mapa temático atinja seus objetivos é preciso que se observe seus elementos fundamentais tais como: título, legenda, variáveis visuais, a base cartográfica com referências, escala original e de apresentação, sistema de projeção e coordenadas, indicação do norte ou rosa-dos-ventos. Tais elementos deverão ser acompanhados sempre de grande atenção quanto à qualidade dos dados ou informações apresentados. Desta forma, para que um mapa temático atinja seu objetivo de comunicação visual é preciso ter-se uma visão crítica dos dados e uma utilização apropriada do simbolismo ou convenções adotadas. Segundo Fitz (2000, p.62), “um melhor ou pior produto final nada mais é do que o reflexo dos trabalhos realizados no decorrer de sua construção”. Os mapas apresentados a seguir foram desenvolvidos num Sistema de Informações Geográfica - SIG. Segundo Câmara (2004), “o termo Sistemas de Informações Geográfica (SIG) é aplicado para sistemas que realizam o tratamento computacional de dados geográficos e armazenam a geometria e os atributos dos dados que estão georreferenciados, isto é, localizados na superfície terrestre e representados através projeção cartográfica, se necessária a sua utilização. MAPAS TEMÁTICOS EM ANÁLISE CRIMINAL Mapas Temáticos do Tipo Nominal - Qualitativos Mapa de Valor Único - Single Symbol Neste mapa utilizou-se a opção valor único para a identificação das Áreas Integradas de Segurança Pública – AISP e também das delegacias do Município do Rio de Janeiro. 12969 Anais do X Encontro de Geógrafos da América Latina – 20 a 26 de março de 2005 – Universidade de São Paulo Para as AISP escolheu-se a opção de representação somente dos contornos dos polígonos. Já para as delegacias utilizou-se único valor com preenchimento colorido sem contorno. Desta forma o usuário pode visualizar as delegacias que compõem cada AISP. Para que seja possível visualizar num mesmo mapa a localização das Áreas Integradas de Segurança Pública - AISP, que correspondem espacialmente às Áreas de Policiamento de Polícia Militar - APOL ou Batalhão de Polícia Militar BPM, que por sua vez integram uma ou mais circunscrições de Delegacias de Polícia - DP, acrescentou-se ao mapa anterior somente os nomes dos bairros tomando-se o cuidado de ajustar o texto à forma do próprio bairro. Desta forma foi possível representar num mesmo mapa três informações de área num mesmo mapa, tais seja AISP, DP e bairros. Município do Rio de Janeiro: AISP/DP e AISP/DP/BAIRROS Mapa de Ocorrência Pontual de Eventos Na ocorrência pontual de eventos utiliza-se variáveis visuais puntiformes de diferentes formas, tendo-se o cuidado de utilizar mesmo tamanho e peso visual 4 . No mapa abaixo são apresentados os casos de roubo de veículos da Área Integrada de Segurança Pública 17, no mês de janeiro de 2004. A AISP17 é composta pelo 17º Batalhão de Polícia Militar e pela 37ª Delegacia de Polícia Civil. 4 12970 Martinelli, 1991, p.55. Anais do X Encontro de Geógrafos da América Latina – 20 a 26 de março de 2005 – Universidade de São Paulo Roubo de Veículos – Setembro de 2004. Mapas Temáticos do Tipo Ordinal - Quantitativa Não-Valorada Gradação de Cores por Quebras Naturais - Natural Breaks A apresentação de mapas utilizando-se intervalos de incidência de um fenômeno qualquer permite ao usuário a visualização de um fenômeno espacial, através do agrupamento por classes. No mapa abaixo são apresentados dados de roubo de veículos no município do Rio de Janeiro agregados por áreas de delegacias policiais. Município do Rio de Janeiro: Roubo de Veículos – Julho 2004 Mapas Temáticos Intervalados e Razões - Quantitativas Valoradas Representação por Desvio- Padrão por Série Histórica 12971 Anais do X Encontro de Geógrafos da América Latina – 20 a 26 de março de 2005 – Universidade de São Paulo Desvio-padrão pode ser definido como uma medida de variação dos valores em relação à Média. Para Triola (1999, p.38), o desvio-padrão é a mais importante e mais útil medida de variação por levar em conta todos os valores. O desvio-padrão torna-se assim de grande utilidade em análise espacial por possibilitar análises de séries históricas. Mensalmente o NUPESP, divulga diversos cartogramas estatísticos utilizando o Desvio Padrão, como análise de padrão ou tendência espacial de criminalidade. Como se pode notar no gráfico do Desvio Padrão, os eventos podem ser agrupados em 4 faixas ou intervalos, apresentados a seguir. DESVIO PADRÃO INTERPRETAÇÃO EM ANÁLISE CRIMINAL Baixo Sensível melhora nos índices criminais da área Médio Manutenção dentro da média Alto Grave: Valores altos para a área estudada Extremamente alto Gravíssimo: Valores totalmente anormais Desvio Padrão Fonte: Ferreira, 2004. 12972 Anais do X Encontro de Geógrafos da América Latina – 20 a 26 de março de 2005 – Universidade de São Paulo Critério de Normalidade Fonte: Ferreira, 2004. Segundo NUPESP (2004, p.4), “As cores correspondem à intensidade das incidências criminais em cada AISP, considerando o seu próprio histórico - média das ocorrências no período de janeiro de 2002 até o mês anterior”. Município do Rio de Janeiro: Roubo de Veículos – Setembro 2004 Desvio Padrão: Roubo de Veículos por AISP Fonte: NUPESP, 2004, p.12. Com a utilização do Desvio Padrão baseado numa série histórica de um evento espacial qualquer, aqui representado pelo roubo de veículos, evita-se análises equivocadas baseadas em ranking de delitos. 12973 Anais do X Encontro de Geógrafos da América Latina – 20 a 26 de março de 2005 – Universidade de São Paulo A vantagem fundamental do Desvio Padrão sobre o ranking encontra-se na metodologia de análise. Enquanto que no ranking faz-se uma comparação de todas as áreas entre si, sem respeitar suas particularidades, na análise espacial pelo Desvio Padrão, tendo por base uma série histórica, cada área é analisada pelo seu próprio histórico. Desta forma pode-se perceber se realmente uma área está reduzindo seus índices de criminalidade, enquanto que no ranking o esforço policial em reduzir os índices de criminalidade das áreas mais críticas, não poderia ser avaliado. Representação por Desvio- Padrão Simples Utilizando-se o desvio-padrão simples, tendo por base somente um mês, o que na realidade está se avaliando é uma AISP em relação às outras, perdendo-se a oportunidade de analisar-se cada AISP em relação ao seu próprio histórico. Representação por Percentil Obtém-se o “percentil divindo-se os dados em 100 grupos com cerca de de 1% em cada grupo. Os quartis, decis e percentis são exemplos de fractis, que dividem os dados em partes aproximadamente iguais” Triola (1999, p.47). 12974 Anais do X Encontro de Geógrafos da América Latina – 20 a 26 de março de 2005 – Universidade de São Paulo Município do Rio de Janeiro Roubo de Veículos Percentagem sobre o Total – setembro de 2004 ANÁLISE ESPACIAL DE DADOS CRIMINAIS A análise criminal é realizada a partir, dos registros de ocorrências policiais e prisionais, de justiça e estatísticas oficiais, e de pesquisas de vitimização. Tais trabalhos contribuem para a gestão em Segurança Pública. Segundo Câmara (2004), existem 3 tipos de dados em Análise Espacial: • Eventos ou padrões pontuais; • Superfícies contínuas; • Áreas com contagens e taxas agregadas. A análise criminal, segundo Dantas (2004), tem por objetivo apoiar a área operacional e de gestão das organizações policiais, orientando o planejamento, o emprego e a distribuição espaço-temporal dos recursos táticos-operacionais, humanos e materiais, tendo em vista a prevenção e o controle da criminalidade e da violência. Segundo Câmara (2004), compreender a distribuição de dados espaciais “constitui hoje um grande desafio para a elucidação de questões centrais em diversas áreas do conhecimento”. 12975 Anais do X Encontro de Geógrafos da América Latina – 20 a 26 de março de 2005 – Universidade de São Paulo AISP17: Roubo e Furto de Veículos - janeiro 2004. Analisando-se as informações espaciais contidas no mapa de roubo de veículos apresentado acima, pode-se concluir, dentre outras, que existe uma concentração de roubo de veículos na orla marítima. Identifica-se assim o modus operandi do criminoso que tem como alvo os casais que estacionam na orla durante a madrugada. Outra concentração verificou-se ao longo de uma via próxima a uma favela. Neste caso existe como fator facilitador do crime a existência de um quebra-molas que exige a diminuição da marcha do carro. Aliado a este fator acrescenta-se a pouca iluminação do local. Tais fatos ocorreram no mês de janeiro de 2004, foram tomadas providências necessárias por parte da polícia reduzindo as incidências em tais locais. Desta forma pode-se observar a relevância da análise espacial de dados criminais na redução dos índices de criminalidade. 12976 Anais do X Encontro de Geógrafos da América Latina – 20 a 26 de março de 2005 – Universidade de São Paulo CONCLUSÃO Apesar dos avanços apresentados pelo Projeto de Geoprocessamento, do Núcleo de Pesquisa em Justiça Criminal e Segurança Pública - NUPESP, no que se refere à identificação de padrões espaciais de criminalidade no Estado do Rio de Janeiro, muito ainda resta a ser desenvolvido. Dentre as maiores dificuldades encontradas neste sentido pode-se citar a falta de bases cartográficas cadastrais e a dificuldade de obter-se o correto posicionamento das ocorrências policiais. REFERÊNCIAS CÂMARA, Gilberto et all Análise Espacial e Geoprocessamento Arquivo disponível em http://www.dpi.inpe.br/gilberto/livro/analise/cap1-intro.pdf INPE, 2004. - Análise Espacial de Áreas Arquivo disponível em http://www.dpi.inpe.br/gilberto/livro/analise/cap5-areas.pdf. 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