TRATAMENTO DE FERIDA ABERTA EM CÃO COM COMPLEXO HOMEOPÁTICO: RELATO DE CASO HOMEOPATHIC TREATMENT COMPLEX IN DOG WITH OPEN WOUND:CASE REPORT Ceres Cristina Tempel Nakasu²; Charles Silva de Lima²; Mariana Sabbado Campêlo²; Rosaria Helena Machado Azambuja1; Érico de Mello Ribeiro4; Marlete Brum Cleff³ RESUMO O objetivo do trabalho é relatar um caso de um cão que apresentava ferida traumática, infectada e aberta, tratada com Staphysagria e complexo homeopático [Arnica Montana (Arn), Ruta graveolens (Ruta), Hypericum e Symphytum officinale (Symph)], no sentido de diminuir o tempo de cicatrização e determinar a formação de uma cicatriz não excessiva em feridas e lacerações cutâneas. O paciente teve uma resposta muito positiva, demonstrando em poucos dias uma melhora significativa no estado mental e físico. O uso dos medicamentos homeopáticos demonstrou boa ação no processo de reparo cicatricial por segunda intenção, evidenciando que a homeopatia pode ser uma prática complementar viável para o tratamento de feridas com grande perda de pele, assim como numa melhora no estado mental do paciente, o que vem a contribuir com a resposta clínica. PALAVRAS – CHAVE: Homeopatia, cão, laceração cutânea, tratamento, feridas SUMMARY The objective of this work is to report a case of a dog which presented traumatic wounds, open and infected,treated with Staphysagria, and a homeopathic complex [Arnica Montana (Arn), Ruta graveolens (Ruta), Hypericum e Symphytum officinale (Symph)],in order to diminish the healing time and determine the formation of a not excessive skin scar and lacerations. The patient had a very positive response, demonstrating in a few days a significant improvement in mental and physical state. The use of homeopathic medicines showed good deed in the healing process by secondary intention repair, showing that homeopathy can be a viable complementary practice for the treatment of wounds with large skin loss, and improvement in a patient's mental state, which is contributing to the clinical response. Key-Words: Homeopathy, dog, skin laceration, treatement, wounds A homeopatia surgiu entre os séculos XVII e XVIII, na busca da construção de novo sistema, ou nova visão sobre enfermidade e abordagem terapêutica, baseada no princípio da similitude, (Tyler 1992; Storace, 2001; Toloza, 2007). O estudo homeopático surgiu no interior da Alemanha através de Samuel Hahnemann, sendo mundialmente divulgado a partir do século passado (Tyler, 1992; Brunini & Sampaio, 1992; Kent, 1996; Torro, 1999; Toloza, 2007). Os três princípios básicos da homeopatia são: semelhança, experimentação no homem sadio e ação de diluições infinitesimais (DANTAS, 1987; Kent, 1996, Torro, 1999; Storace 2001). _______________________ 1 Médica Veterinária Homeopata, Programa Pós Graduação em Veterinária, UFPel Graduandos em Medicina Veterinária - UFPel 3 Médico Veterinário – Residente do HCV-Universidade Federal de Pelotas 4 Professor Adjunto, Depto.Clínicas Veterinária, FAVET – UFPel – Campus Universitário, CEP 96010-900, Pelotas, RS [email protected] 2 No Brasil, a homeopatia foi reconhecida como especialidade pelo Conselho Federal de Medicina Veterinária em março de 1996 (Souza, 2002; ARENALES, 2003). Diversos estudos estão sendo conduzidos com o uso de medicação homeopática. Assim, o objetivo deste trabalho é relatar o caso de um canino macho; SRD, recolhido em 31 de março de 2011 da via pública pelo Centro de Controle de Zoonoses da Secretaria Municipal de Saúde de Pelotas e encaminhado ao Hospital de Clínicas Veterinárias da Universidade Federal de Pelotas – HCV UFPel, que apresentava fratura exposta do membro posterior direito com avulsão de todas as falanges, lacerações de pele com presença de miíases na região do pescoço e orelha direita (Fig.01), tratado com Staphysagria, medicamento homeopático de origem vegetal pertencente à família das Ranunculaceae, associada a complexo homeopático escolhido de forma organicista,ou seja, visando a melhora do órgão ou tecido afetado. Os sintomas diretores usados para a repertorização do caso,além dos já citados foram: dor nos tendões, tíbia, ligamentos, periósteo e tendões. O animal estava apático, desidratado e com condição corporal magra; passou por exame clínico geral com coleta de sangue, avaliação da fratura, limpeza das feridas com remoção das larvas e debridamento do tecido necrótico. O exame de hemograma demonstrou leucocitose com desvio de neutrófilos à esquerda regenerativo e anemia microcítica e hipocrômica. Devido ao comprometimento do membro afetado dado tanto pela exposição óssea, quanto à presença de miíase e generalizada infecção, para evitar septicemia optou-se, primeiramente, por tratamento com antibioticoterapia seguido de retirada do membro cirurgicamente e internação (Fig.02). Foram utilizados: Cetoprofeno pela ação analgésica, anti inflamatória e anti pirética por dois dias, na dose de 2mg/kg, via sub-cutânea, Tramadol como analgésico(1-4mg/kg) por 17 dias, e Ceftriaxona sódica ,IM ,por 12 dias, Cefalexina ,VO por mais 28 dias, além de curativos nas lesões com açúcar cristal. Conjuntamente à terapia convencional foram utilizados medicamentos homeopáticos que têm como guia a Regra de Jahr, que diz: “Quanto mais perfeita a similitude entre o paciente e o medicamento, mais alta deverá ser a potência a ser utilizada” (GODOY, 1993 b; Gimenes, 2002). Na escolha do medicamento homeopático adequado ao paciente, obtêm-se um estímulo medicinal, que irá ativar os processos reguladores do organismo animal para que eles possam se defender contra a doença, funcionando como uma forma de imunização contra aquele estado doentio, naquele instante (Wolff, 1986). Assim, quando o medicamento tem como função tratar o corpo físico, procura-se utilizar as potências baixas. No presente caso os medicamentos homeopáticos que mais pontuaram foram: Arnica Montana (Arn), Ruta graveolens (Ruta),Symphytum officinale (Symph) e Staphysagria, onde o protocolo homeopático utilizado foi um complexo contendo Arn, Ruta, Hyper na dinamização Ch6, em glóbulos, vo; Shymph CH6 em glóbulos, vo e limpeza das feridas com soro fisiológico e Staphysagria CH6, duas vezes ao dia. Todos os medicamentos homeopáticos foram adquiridos de Farmácia de manipulação idônea onde foram preparados segundo as normas da Farmacopéia Homeopática Brasileira e do Manual de Normas Técnicas para Farmácia Homeopática. Para reparação dos tecidos lesados pela miíase, foi escolhida a Arnica, que tem sido utilizada especialmente em casos de reparação de partes moles, tendo ação em vasos sanguíneos e sangue e também combate os efeitos de choque, tanto mental quanto físico. A Rhuta tem sido considerada ideal para dores causadas por contusões na parte externa dos ossos, conferindo poder de cura em casos de dor tironeante do osso frontal para o temporal, como é o caso do paciente em questão. Já o Hypericum é considerado excelente para conforto e alívio de perfurações, dilacerações ou trauma de regiões ricas em nervos e ferimentos das pontas dos dedos. E o medicamento Symphytum, é específico para fraturas, considerado o “consolidador ósseo”. Utilizado para casos de hipersensibilidade do osso no ponto da fratura, favorece a produção de calo ósseo e a união de ossos fraturados, diminuindo a dor e a inflamação presentes. 2 O paciente teve uma resposta muito positiva, demonstrando em poucos dias uma melhora significativa no estado mental e físico. Após o uso de homeopatia ele encontrava-se menos apático, queria reagir, caminhar e parecia já bem alerta. Além disso, o cão não indicava desconforto ao se utilizar o composto para limpeza nas feridas. Quanto à administração das medicações por via oral, também não foram observadas dificuldades. Tais fatores são positivos à homeopatia em animais, já que não são formas de aplicação agressivas, nem submetem o paciente a nenhum tipo de dor ou incômodo. O uso do medicamento homeopático Staphysagria, na dinamização CH 6, junto ao soro fisiológico, associado ao complexo homeopático Arn, Ruta, Hyper na dinamização Ch6 e Symph CH6 demonstrou boa ação no processo de reparo cicatricial por segunda intenção (Fig.03), evidenciando que a homeopatia pode ser uma prática complementar viável para o tratamento de feridas com grande perda de pele, assim como numa melhora no estado mental do paciente, o que vem a contribuir com a resposta clínica. REFERÊNCIAS ARENALES, M. C. Sintomas mentais dos animais domésticos (a visão homeopática fazendo ponte entre o psiquismo animal e o humano). São Paulo, Mythos, 1995, 280p. ARENALES, M. C. A história da homeopatia. Agroecologia hoje. 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