EFEITO TRANSIENTE DE DISTINTOS MÉTODOS DE

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Revista Eletrônica Novo Enfoque, ano 2012, v. 14, n. 14, p. 60 – 68
EFEITO TRANSIENTE DE DISTINTOS MÉTODOS DE AQUECIMENTO SOBRE A
POTÊNCIA MUSCULAR
GASSE A,B, Acad. Marcelo da Silva; Machado A, Acad. Elaine Pereira; Valente A, Acad.
Raquel dos Santos; BATISTA A,C, Prof. Esp. Wagner Oliveira; PEREIRA A,B, Prof. MSc.
Fabio Dutra; FURTADOA,B 1, Prof. Dr. Helio Lemos.
RESUMO
O aquecimento é entendido por ações que servem como preparação para o exercício físico,
onde poderá ser executado em configurações diferenciadas. Objetivo: comparar o efeito
transiente de distintos métodos de aquecimento sobre a potência muscular. Metodologia: a
amostra foi constituída por seis sujeitos de ambos os sexos com idade=13,5±1,0 anos. O
instrumento utilizado para medir a variável dependente deste experimento foi o Sargent Jump
Test. A intervenção foi dividida em três etapas com intervalo de 48 horas entre as mesmas. O
Na primeira etapa, realizou-se o aquecimento específico “Jump” (GAE); na segunda,
executou-se o aquecimento através do flexionamento passivo (GAFP); e na terceira, nenhum
tipo de aquecimento foi efetuado (GC). Os dados foram processados no programa BioEstat
5.3, e a estatística se deu por cálculos descritivos (média e desvio padrão) e inferencial (testes
Kolmogorov-Smirnovª e ANOVA), ambos com nível de significância de p≤0,05. Resultados:
em função das médias: GAE = 76,5±12,5; GAFP = 70,5±11,6 e GC = 73,3±12,4, a análise de
variância não evidenciou diferença estatisticamente significativa. Nos testes post-hoc, apenas
houve significância do GAE sobre os GAFP e GC. Conclusão: com base nos resultados deste
estudo, conclui-se tendência positiva do aquecimento específico sobre a potência muscular e
negativa do flexionamento sobre a mesma.
Palavras-chave: efeito transiente, aquecimento, potência muscular.
ABSTRACT
The warming is understood as actions that serve as preparation for the exercise, where it can
run on different configurations. Objective: was to compare the transient effect of different
warming methods on muscle power. Methodology: the sample consisted of six subjects of
both sexes with age = 13,5 ± 1,0 years. The instrument used to measure the dependent
variable of this experiment was the Sargent Jump test. The intervention was divided into three
stages with an interval of 48 hours between them, where: in the first was carried the specific
warming “Jump” (SWG); in the second was performed the warming by passive flexibilizing
(PFWG) and the third stage of the study any type of warming was effected (CG). The data
were processed in software BioEstat 5.3 and statistical calculations was made by descriptive
(mean and standard deviation) and inferential (Kolmogorov-Smirnov test and ANOVA) both
1
(A) Grupo de Estudos da Performance Humana – UCB, (B), Universidade Castelo
Branco, (C) Universidade Federal Fluminense .
with a significance level of p≤ 0.05. Results: according to the means: SWG = 76.5 ± 12.5,
PFWG = 70.5 ± 11.6 and CG = 73.3 ± 12.4 Analysis of variance showed no statistically
significant difference. In post-hoc tests was significant only the SWG on PFWG and CG.
Conclusion: based in the results of this study, conclude positive trend of specific warming on
the muscle power and negative flexibilizing about it.
Key words: transient effect, warming, muscle power.
INTRODUÇÃO
Várias são as formas de aquecimento com a finalidade de proporcionar uma melhor
ativação do organismo à prática do exercício físico1: aumentando a temperatura corporal e da
musculatura específica, preparando o sistema cardiovascular e pulmonar para a atividade
física e, consequentemente, viabilizando um desempenho motor otimizado2. Neste sentido,
entende-se por aquecimento todas as medidas que servem como preparação para a atividade
física, sobretudo, quando se deseja a preparação no treinamento do atleta e na melhora do
desempenho da prática esportiva3.
Uma dessas práticas usuais é o flexionamento passivo, em que se busca a essência de
atingir amplitudes de arcos de movimento articular superiores às originais4. Assim sendo, sua
ação de estiramento muscular se contrapõe a outra variável a ser estudada e discutida no
presente estudo, a potência muscular, que por sua vez se caracteriza pela ação mecânica de
contração muscular combinada de força e velocidade da execução, nos levando ao
entendimento de sua importância à prática desportiva e fundamentalmente para o
aprimoramento do desempenho em diversas modalidades5.
Desta feita, o objetivo do presente estudo foi verificar o efeito transiente de distintos
métodos de aquecimento sobre a potência muscular.
METODOLOGIA
A amostragem foi realizada de forma não randomizada, sendo a amostra constituída
por seis voluntários de ambos os sexos com idade =13,5±1,0 anos, atletas da equipe de
atletismo de uma instituição educacional privada.
Como critério de inclusão, todos os indivíduos deveriam ter um nível de participação
em seus programas de treinamento desportivo de pelo menos três sessões semanais, em um
período mínimo de três meses. Foi considerado como critério de exclusão, qualquer tipo de
61
condição patológica aguda ou crônica que pudesse comprometer ou vir a ser um fator de
impedimento para a realização da avaliação da potência muscular.
Este estudo teve seu projeto de pesquisa aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa
Envolvendo Seres Humanos do Curso de Educação Física da Universidade Castelo Branco,
sob protocolo de n° 0008/2011. Os procedimentos experimentais foram executados dentro das
normas éticas previstas na Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde, e todos os
responsáveis pelos participantes deste experimento assinaram o termo de Consentimento
Livre e Esclarecido à avaliação que os mesmos seriam submetidos.
Na avaliação antropométrica, a estatura e a massa corporal foram medidas em uma
balança digital da marca FilizolaTM Beyond Technology, modelo Personal 200 nº 1159/2009,
possuindo acurácia de 0,001m e 0,1 kg, respectivamente. Seguindo os protocolos propostos
pela ISAK6.
O instrumento utilizado para medir a variável dependente do estudo foi o Sargent Test
7
e a intervenção foi dividida em três etapas com intervalo de 48 horas:
Na primeira, a potência muscular de membros inferiores dos voluntários foi aferida
imediatamente após o aquecimento específico, jump, de volume dez minutos e intensidade
controlada em um ritmo musical de 120 bpm. Na segunda etapa, a amostra teve a referida
variável avaliada após a sua submissão ao aquecimento com três estímulos de trinta segundos
para cada um dos membros inferiores pelo flexionamento passivo dos grupamentos
musculares extensores de joelho e tornozelo. A última das etapas reservou-se a mensurar a
potência muscular sem que os voluntários tivessem realizado nenhum tipo de aquecimento,
servindo assim como grupo controle da pesquisa.
No tratamento estatístico, os dados foram processados no programa BioEstat 5.3,
sendo usadas as técnicas de estatística descritiva (média e desvio padrão) e na inferencial, os
testes Kolmogorov-Smirnovª e ANOVA. Este último complementado pelos respectivos testes
post-hoc, ambos com nível de significância de p≤0,05.
62
RESULTADOS
Tabela 1: Análise de variância da potência muscular.
GRUPOS
XKgm.s-1
S Kgm.s-1
Controle
73.3
12.4
Aquecimento Específico Jump
76.5
12.5
Aquecimento Flexionamento Passivo
70.5
11.6
p-valor
0.70
x = média
s = desvio padrão
-1
Kgm.s = unidade de medida da potência
Tabela 2: Comparação da potência muscular intergrupos (post-hoc).
GRUPOS
p-valor
Controle
Aquecimento Específico Jump
0.006*
Controle
Aquecimento Flexionamento Passivo
0.16
Aquecimento Flexionamento Passivo
Aquecimento Específico Jump
0.03*
* Diferença estatisticamente significativa (p≤0,05)
Ainda que a tabela 1 apresente médias diferenciadas para os distintos grupos de
aquecimentos e o grupo controle, os resultados expostos não evidenciam diferença
estatisticamente significativa na análise de variância realizada entre as três etapas descritas na
intervenção da presente metodologia.
Entretanto, a tabela 2 expressa superioridade estatisticamente significativa do
aquecimento específico, tanto sobre o flexionamento passivo quanto o controle, nos testes
post-hoc realizados respectivamente.
DISCUSSÃO
Iniciando a discussão, a tabela 1 evidencia não haver variância estatisticamente
significativa intergrupos. Possivelmente esta ocorrência se justifica pelo seu design
metodológico, sobretudo, quando se adotou três séries de trinta segundos de flexionamento
estático para os grupamentos musculares envolvidos. O experimento8, ao executar apenas
quarenta segundos de flexionamento estático nos mesmos grupamentos musculares,
contrariamente, chegou a uma tendência positiva sobre a potência muscular e, destacando,
uma diferença estatisticamente significativa entre os testes pré e pós-intervenção na ordem de
um p=0,02 equivalente ao ∆=2,0±0,4cm.
63
Seguindo esta mesma linha racional, ou seja, nas diferenças metodológicas dos
mesmos, um outro experimento9, ao utilizar uma forma de flexionamento mais efetiva do
ponto de vista mecânico de sua execução, apresentou em seus resultados tendências também
negativas sobre a potência muscular com significância na ordem de p<0,05 entre os testes
pareados.
Focando-se ainda na primeira tabela e na mesma fundamentação explicativa para não
haver variância significativa entre as três etapas da intervenção, mas direcionando o foco no
aquecimento específico, tal resultado poderia ser justificado pela sobrecarga adotada pelo
presente estudo, pois quando a pesquisa10 adotou uma intensidade, especificamente volume,
equivalentes ao teste, obteve em seus achados ausência de variância entre os distintos
métodos de aquecimento: grupo alongamento estático, grupo exercício aeróbico (bicicleta
ergométrica) e grupo alongamento estático e exercício aeróbico.
Uma outra possibilidade que poderia justificar os resultados da tabela 1 seria a
maturidade biológica amostral, pois a amplitude da idade da mesma está compreendida entre
doze a quinze anos. Esta hipótese se sustenta no estudo 9, que teve sua amostra constituída por
sujeitos com idade média = 22,8±4,0 anos e, por conseguinte, obteve diferença significativa
em sua análise de variância.
Ao direcionar a discussão para os resultados expressos na tabela 2, deve-se observar
que o aquecimento específico Jump, realizado pelo presente estudo, apresentou diferença
significativa tanto sobre o grupo controle quanto sobre o grupo aquecimento flexionamento
passivo. Tal fato pode ser justificado pelas adaptações fisiológicas agudas mais efetivas e de
caráter sistêmico que o referido aquecimento é capaz de promover. Apoiando esta tentativa de
explicar o ocorrido, o estudo
11
que realizou um aquecimento específico “Running” de baixa
intensidade também com duração de dez minutos, obteve diferença estatisticamente
significativa na ordem de p=0,006 equivalente a um delta proveniente da diferença entre os
testes pré=51,4± 4,2cm e o pós=54,5±6,4cm intervenção.
Como descrito na presente introdução, potência muscular é combinação da força com
a velocidade da execução de uma ação mecânica de contração muscula r5, assim, é
possivelmente aceitável entender que uma destas duas variáveis envolvidas, especificamente a
força,
também
poderia
sofrer
interveniências
dos
aquecimentos
propostos
e,
consequentemente, também influenciar na potência muscular dos sujeitos submetidos aos
experimentos.
64
Portanto, ainda focado na tendência positiva do aquecimento específico, mas sobre a
variável força, tem-se o experimento
12
que, mesmo não tendo apresentado diferença
estatisticamente significativa, expressou uma superioridade do aquecimento específico sobre
o aquecimento em alongamento estático em todas as três séries realizadas em sua intervenção:
10,9 versus 10,8 rep.; 7,9 versus 7,8 rep.; 6,2 versus 6,0 rep., respectivamente. Ratificando o
que por hora se discute, o estudo
13
também não encontrou diferença estatisticamente
significativa, porém tendência positiva na realização do teste de 1RM na ordem de
131,3±27,4 Kg, após aquecimento sistêmico em uma intensidade de 60 a 8% da frequência
cardíaca máxima sobre 129,9±28,3 Kg, após aquecimento de alongamento.
Ainda que o presente experimento tenha seus resultados corroborados com os estudos
já mencionados. Diferentemente do que já se discutiu, deve-se abordar a tendência negativa
do aquecimento flexionamento sobre a potência muscular.
Neste sentido, o estudo 14, ao realizar uma intervenção composta por duas estratégias de
aquecimento, sendo ambos flexionamento, um estático e outro em facilitação neuromuscular
proprioceptiva (FNP), ambos com volume de quinze segundos, apresentou uma tendência negativa
sem diferença estatisticamente significativa sobre a potência muscular, advindas das comparações
pareadas: pré-estático=35,9±1,69 e pós-estático=35,6±2,85; pré-FNP=35,9±2,25 e pós-FNP=
34,3±4,16, que expressaram um p>0,05.
Corroborando com a hipótese da tendência negativa do flexionamento sobre a potência
muscular, a pesquisa15 executou sua intervenção com volume de três séries de dez repetições
do flexionamento balístico, ou dinâmico, com intensidade média=62,6±9,7, que, a partir
desta, a intensidade fica classificada como desconforto, segundo o protocolo da Escala de
Esforço Percebido na Flexibilidade – PERFLEX, e apresentou em seus resultados diferença
estatisticamente significativa na ordem de p<0,05, advindo da comparação pareada entre os
testes pré=33,36±10,86 e o pós= 27,05±9,58 intervenção.
Em consonância, o experimento
16
, em seus achados, apresentou uma tendência
negativa estatisticamente significativa do flexionamento sobre a potência muscular na ordem
p<0,05, tanto no procedimento de trinta segundos quanto o de sessenta, onde em sua
intervenção, antes da avaliação eletromiográfica, a amostra realizava o aquecimento muscular
localizado e específico para o músculo quadríceps através de três séries de dez repetições com
uma carga de 10% da massa corporal individual de cada um que compôs a mesma com
intensidade até o ponto médio desconforto, porém sem dor. Depois era submetida a um teste
65
de contração isométrica voluntária máxima (CIVM) de extensão de joelho a partir da posição
de 70o de flexão do joelho, com duração de 10 segundos, na qual foi coletada a atividade
eletromiográfica do músculo reto femoral (RF) do membro inferior dominante.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com base nos resultados do presente experimento, conclui-se que não houve diferença
estatisticamente significativa na performance da potência muscular em resposta aos distintos
métodos de aquecimento realizados.
Entretanto, a partir dos mesmos, alerta-se para uma tendência positiva do aquecimento
específico sobre a potência muscular e uma negativa do flexionamento sobre a referida
variável dependente.
Sendo assim, sugere-se aos interessados pelo presente objeto de estudo que utilizem o
aquecimento específico quando objetivarem uma performance otimizada da potência
muscular.
AGRADECIMENTOS
O Grupo de Estudos da Performance Humana/UCB agradece aos voluntários que
compuseram a amostra desta pesquisa, por terem colaborado de forma fundamental à
formação dos acadêmicos autores do presente estudo, uma vez que o mesmo fora apresentado
como Trabalho de Conclusão de Curso do Bacharelado em Educação Física da Universidade
Castelo Branco e, concomitantemente, por terem viabilizado a produção do conhecimento
científico.
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