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Resumo
A presente pesquisa se presta ao objetivo de desenvolver conceitos de forma
multidisciplinar, a respeito das possibilidades de representações de “mundos possíveis” do
individuo, a partir de seu olhar.
Tentarei mostrar como a neurociência e a biologia, podem contribuir de forma
objetiva, na comprovação de que temos percepções diferenciadas, não só subjetivamente, na
que também existem fatores fisiológicos no celebro visual que modificam de forma direta a
percepção do individuo.
Partirei inicialmente dos conceitos da biofilosofia e neurociências, e posteriormente
tentarei estabelecer uma relação entre estes conceitos e sua interferência nas condições
humanas, construídas a partir das percepções individuais do sujeito, fundadas em parte no seu
olhar. Concluirei com algumas considerações acerca da questão do Olhar e sua influência nas
possibilidades de representações individuais de cada pessoa.
Palavras chave: Biofilosofia, Filosofia da Mente, percepção, olho, subjetividade.
Summary
This research lends itself to the goal of developing concepts in a multidisciplinary way, about
the possibilities of representations of "possible worlds" of the individual, from his gaze.
Try to show how neuroscience and biology, may contribute in an objective way in proving that
we have different perceptions, not only subjectively, in that there are also physiological factors
that modify the visual celebrate a direct perception of the individual.
Initial startup of the concepts of biofilosofia and neurosciences, and later try to establish a
relationship between these concepts and their interference in human terms, constructed from
the individual perceptions of the subject, founded partly in his eyes. Conclude with some
considerations on the issue of the Eye and its influence on the possibilities of representation of
each individual.
Keywords: Biophilosophy, philosophy of mind, perception, eye, subjectivity.
A Biofilosofia
A biofilosofia , também chamada “filosofia da biologia” é um ramo da filosofia da
ciência, que busca a inserção das ciências biológicas num campo mais filosófico, e menos
empírico, permitindo que os progressos da biologia que ganham impulso na sociedade
moderna, possam repensar valores tradicionais referentes á todos os aspectos da vida
humana.
Sendo assim, a biofilosofia é mais uma entre tantas possibilidades, que dispomos para
conciliar áreas diferentes, e assim esclarecermos melhor as questões humanas, numa
perspectiva mais filosófica e menos positivista.
A partir do cogito cartesiano e das filosofias empiristas a razão concedeu a ciência o
“status” de um novo “deus”, afastando assim qualquer possibilidade de existência fora da
matéria, ou fora do contexto da prova racional.
A biofilosofia surge numa tentativa de ir além dos fundamentos de uma ciência
mecanicista e estimular o dialogo entre as ciências biológicas exatas e humanas e com as
clinicas neurológicas e psicológicas. (Meyer, Pág. 11).
Em relação ao olho e as percepções de mundo, a biofilosofia tem questionado filósofos
empiristas, como David Hume, que postulava a idéia de que o Mundo que nós temos é
causado pela sucessão de impressões que este mundo nos envia e são recebidas pelos
sentidos, entre eles a visão.
Contrariando esta idéia inicial, Meyer vai afirmar que a relação entre a visão do objeto
e a sua percepção não é simplesmente causa conseqüência como sugerido pelos empiristas,
ou seja,“os objetos não nos são dados como tais, são reconhecidos e reconstruídos por um
cérebro dotado de capacidade de análise e representação, sendo assim, não é o olho, mas o
cérebro que vê”. (Meyer, Pág. 78)
Em razão disso, a biofisolofia nos levará a resgatar a perspectiva dos primeiros
filósofos, que era pensar a natureza viva e seus princípios (arké), numa perspectiva menos
mecânica, respeitando a subjetividade e individualidade da experiência do individuo que vê
(qualia).
Quando a biofilosofia se presta a discussão sobre o órgão visual, ela tenta mostrar,
segundo Meyer, a qualidade objetiva da visão, não desprezando sua qualidade subjetiva.
(Meyer,Pág. 81).
Filosofia da mente e a percepção
A filosofia da mente é o estudo filosófico dos fenômenos que envolvem os estados
mentais em geral, entre eles: a consciência, como a mente conhece, a memória, a aquisição da
linguagem, as percepções, etc.
Manteremos o nosso foco na questão da percepção visual.
A percepção é a função cerebral que atribui significado a estímulos sensoriais, através
dela o individuo organiza, interpreta e significa o meio que vive.
Consiste na aquisição, seleção e organização das informações obtidas, no caso
específico de nossas pesquisa, nos ateremos em entender como é obtida a informação através
da visão e como o cérebro interpreta e significa estas informações.
A Neurociência aponta em suas pesquisas para diferenciação fisiológica no órgão
visual, e que esta diferença influencia de forma objetiva na percepção dos objetos.Segundo
Bosi:
“A percepção visual (informações obtidas) e o órgão visual estão intimamente ligados
em uma relação causal, pois a biologia comprova que as mudanças nas nossas células, a
diferença de estruturas orgânicas e até a disfunção patológica e a deterioração de algumas
destas estruturas, interferem também na multiplicidade de percepções individuais”(BOSI,p.
g21).
Ou seja, com os avanços das pesquisas no ramo das neurociências e biologia, torna-se
cada vez mais perceptível a influência de fatores fisiológicos e estruturais na diferença de
interpretações e representações individuais do sujeito.
A interferência do cérebro visual nas condições humanas
No meu entendimento, as nossas percepções em relação ao mundo que nos cerca,
juntamente com as representações que fazemos deste mundo, são as responsáveis pela forma
com que cada indivíduo efetiva sua condição de existência.
E, através daquilo que captamos através dos sentidos e da experiência de forma objetiva
e subjetiva, que edificamos nossa forma de “ser no mundo”.
Consideremos, no entanto, que
percepção pura, segundo Bérgson, não tem nenhum sentido, não há percussão sem afecção
(Meyer, Pág. 82).
Sendo assim, consideremos que a visão é uma das principais receptoras de
informações do meio externo, e em relação aos dados colhidos por ela, serão adicionados uma
gama de informações (relacionadas a subjetividade pessoal), que constantemente se
misturarão, e darão origem a nossa percepção de mundo.
Meyer afirma em relação a forma com que cérebro registra objetivamente os dados
recebidos: “Não somente o cérebro construiu as sensações que chegaram até ele, mas cada
cérebro a realiza de um modo que lhe é próprio, em razão de sensações e experiências
anteriores” (MEYER , p. 95).
Ou seja, a forma objetiva ou fisiológica que cada cérebro funciona e é influenciada de
forma direta pelas vivências, experiências e individualidade de cada pessoa, pois, como afirma
a própria neurociência: “A atividade cerebral não pode mais ser considerada como uma
somatória de resultados de estruturas anatômicas e estímulos elétricos, a atividade cerebral é
sim a somatória de tudo isto, adicionado a experiência e pessoalidade de cada individuo, que
tem como resultado a construção de uma percepção muito subjetiva e pessoal”(MEYER, p 29).
O cérebro ou a estrutura (massa) cefálica, por si só não constrói percepções, toda
estrutura fisiológica cerebral sofre afecções das emoções, pensamentos, sensações, próprias
de cada indivíduo, para a partir daí, construir sua percepção de mundo.
Sendo assim, segundo a teoria de Endelman: “Cada pessoa com suas percepções e
representações são únicas. A vida da mente não pode ser redutível a moléculas” MEYER p 85).
Concluí então, depois de lançar mão de outras referências bibliográficas além
da obra sugerida, que a interferência do cérebro visual nas condições humanas se deve ao fato
de que também ele atesta no homem sua condição de unicidade e singularidade existencial,
nossas representações são únicas e singulares também porque a forma com o mundo me
parece ou “que eu o vejo” é influenciado diretamente pelo meu jeito único de “ser no mundo”
e não somente pelas estruturas anatômicas envolvidas no processo visual.
Segundo Meyer, descobrir uma fenotipia orgânica do cérebro constitui uma verificação
objetiva do velho adágio bíblico da unicidade de cada homem, assim sendo, cada cérebro é
único no mundo e representa este mundo de acordo com sua liberdade, seus valores, sua
carga afetiva e emocional (MEYER , p. 121).
Somos seres absolutamente originais e únicos, e nossa forma de efetivarmos nossa
existência e nossas condições humanas é própria de cada indivíduo.
Finalizo este trabalho com uma frase de Meyer, que expressa claramente a influencia
do cérebro visual nas condições humanas, pois tendo o cérebro uma fenotipia individual e
singular também todas as representações advindas dele são únicas e pessoais, ou seja:“Um ser
vivo assemelha-se a uma composição sinfônica, que cada vez que é executada, varia em alguns
semitons, pela expressão dos violinos” ( MEYER,p.122)
Somos seres únicos, irrepetíveis e nossa forma de conceber e nos relacionarmos com o
mundo, faz parte desta unicidade e deste “jeito singular de ser.”.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BOSI, Alfredo. Fenomenologia do Olhar. in: O olhar. São Paulo: Cia das Letras,1998
pg 65-87.
CHAUÍ, Marilena, O olhar - cap.: A janela da Alma, Espelho do Mundo. Cia. das
Letras, 1999.
DALBÉRIO, Osvaldo. Metodologia Científica.Uberaba.MG-2004
FILOSOFIA DA MENTE, http/wikipédia.com.br
HEGEL, G.W. Fenomenologia do Espírito - São Paulo in: Os pensadores, 1989,
pg113-115.
MERLEAU, Ponty. O olho e o espírito - São Paulo in: Os pensadores, 1999, pg. 23-85.
MEYER, Philippe-O olho e o cérebro: Biofisiologia da percepção visual. São Paulo:
UNESP 1997. Trad: Roberto Leal.
MARTINS, de Oliveira J. e Rocha do Amaral J. Princípios de neurociências.
TecnoPress. São Paulo. 1997.