UNIVERZITA PALACKÉHO V OLOMOUCI Filozofická fakulta Katedra romanistiky Particípio português Bakalářská práce Alena Jirousková Vedoucí práce: Mgr. Petra Svobodová, Ph.D. Olomouc 2012 Prohlašuji, že jsem bakalářskou práci vypracovala samostatně s využitím uvedených pramenů a literatury. V Olomouci dne 17.5.2012 ..….…………………………. Os meus agradecimentos sinceros à minha professora, supervisora desta tese, Mgr. Petra Svobodová, Ph.D., por tudo o que me ensinou, pelo seu tempo e paciência, que me dedicou ao escrever este trabalho. ÍNDICE 1 Introdução ...................................................................................................................... 5 2 Morfologia ..................................................................................................................... 7 2.2 Particípio passado.................................................................................................... 8 2.2.1 Formação .......................................................................................................... 9 2.2.1.1 Formação regular ....................................................................................... 9 2.2.1.2 Formação irregular................................................................................... 10 2.2.2 Tipo de verbos segundo o particípio .............................................................. 11 2.2.2.1 Verbos de particípio duplo....................................................................... 11 2.2.2.2 Verbos com particípio irregular ............................................................... 14 3 Papel sintático do particípio......................................................................................... 15 3.1 Locução verbal ...................................................................................................... 15 3.1.1 Tempos verbais compostos............................................................................. 16 3.1.2 Voz passiva..................................................................................................... 17 3.1.2.1 Propriedades das orações passivas........................................................... 18 3.1.3 Outro tipo das perífrases com particípio ........................................................ 20 3.2 Particípio em função de verbo, fora da perífrase verbal ....................................... 21 3.3 Uso adjetival.......................................................................................................... 25 4 Categorização morfossintática..................................................................................... 27 4.1 Argumentos a favor do particípio como verbo ..................................................... 27 4.2 Argumentos a favor do particípio como adjetivo.................................................. 29 5 Conclusão..................................................................................................................... 32 Shrnutí............................................................................................................................. 35 Summary......................................................................................................................... 36 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................................... 37 Bibliografia ................................................................................................................. 37 Fontes da internete ...................................................................................................... 38 1 Introdução Este trabaho é dedicado ao particípio português. Ocupa-se da posição do particípio no sistema da língua portuguesa e dos valores particulares que tem. A maior parte trata da forma passada do particípio, porque é a única forma participial que ainda conserva o valor e uso verbal. Mencionamos também a forma presente do particípio, para mostrar a evolução dele. Como é a forma recentemente desaparecida, podemos establecer algumas proximidades com a forma passada ou podemos comparar estas duas formas. O trabalho desenvolve a problemática do particípio desde a introdução ao tema, até os pontos relativamente polémicos. A primeira parte é a parte introdutória. Nela resumimos as formas e funções do particípio como são descritos e explicados nas gramáticas. Essa parte serve para fazer uma breve excursão à temática escolhida, tal como é geralmente apresentada ao leitor/falante. Esta breve introdução será desenvolvida e comprovada ao longo do trabalho. A segunda parte desta tese será dedicada à parte formal dos particípios – à sua formação, excepções, irregularidades – e às possibilidades de confusões e erros que podem ocorrer. Essa parte é orientada à formação regular e irregular e aos processos ligados com elas. Ocupa-se de várias teorias e regras da formação e experimenta a universalidade delas. O tema da terceira parte é o uso do particípio nas frases, a sintaxe dele. Nomeadamente dos sintagmas, dos quais pode formar parte, seja como núcleo ou parte complementária. Através disso ver-se-á claramente a classificação sintática dos particípios. Contamos com que esta parte tornar-se-á extensa e complexa, supomos que também terá que ver com a morfologia da parte anterior. Nessa parte então resumimos as possíveis ocorrências e intentamos definir o valor que o particípio tem ou que pode acrescentar à frase. Na parte sintática enumeramos as formas mais comuns do uso do particípio. Através de generalizações tentaremos definir os significados dessas formas, para que servem, que expressamos nelas e com que as podemos substituir. Para isso usamos as posições e relações sintáticas. 5 O capítulo seguinte ocupa-se de esclarecer a questão da categorização morfológica dos particípios, o que é o nosso objetivo principal. Para a classificação certa devemos juntar os conhecimentos dos dois capítulos anteriores. A eles acrescentamos outros argumentos que podem ajudar-nos resolver o problema. Para distinguir bem os dois lados da argumentação, o quarto capítulo é dividido em dois subgrupos. Em conclusão desse capítulo pretendemos encontrar uma definição certa que abranjeria todos os casos da ocorrência e forma do particípio passado sem estar em conflito com os argumentos expostos. O objetivo deste trabalho é resumir as informações disponíveis sobre o particípio e desenvolver um pouco a problemática relacionada a ele. Pretendemos definir o particípio bem, de forma certa, abrangendo assim todas as ocorrências possíveis e além disso classificá-lo com a base nos argumentos expostos ao longo do trabalho. Deveríamos ser capazes de revisar vários pontos de vista e certo número de usos do particípio e a partir deles reformular, ou melhor, amplificar a definição do particípio, tendo como o fim a definição coerente sem muitas excepções. Outro objetivo seria a mostra do amplo uso e pluralidade do significado do particípio num só trabalho, verificando-os com o maior cuidado possível, tendo em conta a extensão do trabalho. Nas gramáticas encontramos vários tipos de explicações do emprego participial, com descrições e enquadramento dele. As definições contêm traços da semântica, sintaxe, morfologia e incluso outras disciplinas linguísticas, e juntando-as surge a definição do particípio. Em cima não encontramos nenhuma parte da gramática dedicada só ao particípio, senão temos que recolher informações de várias partes. Em português não há gramática que seja normativa, embora algumas pretendem sê-lo. A gramática que mais funciona como a normativa é a Nova Gramática do Português Contemporáneo dos autores Cintra e Cunha. Isto deu a razão para o uso frequente dela ao longo deste trabalho. 6 2 Morfologia O particípio em português tem duas formas, a presente e a passada. Estas formas diferem formal e funcionalmente, mas têm características comuns. O particípio, tanto o presente como o passado, é uma forma verbal, concretamente é, junto com os infinitivos e gerúndios, metido na categoria das formas nominais do verbo. No caso do particípio a razão disso é que em certas ocasiões apresenta a variação em género e número, tal como adjetivos. Como uma das formas verbais, o particípio é derivado a partir do infinitivo verbal. A seguir explicamos a formação de ambas as suas formas e incluimos as irregularidades e excepções. 2.1 Particípio presente O particípio presente é a forma mais antiga, que hoje em dia não tem a função do verbo, mas encontramos estas formas nas categorias de sustantivos e adjetivos, plenamente transformadas na sua função.1 A formação do particípio presente consiste em tirar o sufixo do infinitivo -r e da sua substituição por sufixo respectivo -nte. Esta regra tem uma excepção representada pela terceira classe verbal, que em alguns casos muda a sua vogal temática de -i- para -e-, tal como o temos na formação do particípio passado. Falar → fala + nte → falante Combater → combate + nte → combatente Dirigir → dirige + nte → dirigente Ouvir → ouvi + nte → ouvinte A duplicação em terceira classe pode ter explicação histórica, que não conseguimos descobrir com certeza. Podria ter raízes no latim, no entanto na gramática histórica de João de Barros2 existe só uma única terminação do particípio presente 1 Veja capítulo 4 2 BARROS, João de: Gramática da Língua Portuguesa; Cartinha, gramática, diálogo em louvor da nossa linguagem e dialogo da viciosa vergonha, p.342 7 regular para esta classe, que é -inte. A razão disso é, segundo o que diz o autor, o fato de os verbos da segunda classe apresentam no pretérito a vogal -i-. Este motivo explicaria a ocorrência da -i-, só que não corresponde ao o processo da formação explicado mais em cima, nem soluciona a dicotomia da forma participial. A explicação do sufixo formativo -edo é que este tinha aparecido na língua mais tarde por outros motivos que a influência direta do latim. Em outros casos do particípio presente os sufixos sim são herança direta do latim (-ante para a primeira classe, -ente para a segunda). Apesar de parecer fácil de ser identificada e distinguida de outras formas (uma vez que vemos que tem -nte no seu fim), esta forma leva os observadores à confusão. A forma participial é sempre terminada em -nte, só que pode acontecer que o sustantivo (adjetivo) pode ter esta terminação sem ser derivada do verbo do vocabulário português (p.e. inocente surgiu a partir do verbo latino, que não passou ao vocabulário português. Neste caso não surgiu o adjetivo do verbo, mas o processo foi contrário, o verbo surgiu do adjetivo.3). Estas palavras (que não são particípios antigos) são difíceis de identificar e o mais certo, se é preciso saber a origem da palavra, é buscá-la no dicionário etimológico. 2.2 Particípio passado O particípio passado em português ainda mantém a função verbal, embora seja só uma parte do seu funcionamento. Aparece em situações gramaticais onde tem funções distintas e o fato de ser representante de forma nominal do verbo dá um sinal de questão. Podemos identificar a forma (as formas) do particípio passado segundo a sua terminação, mas tomando em conta o próprio processo formativo, podemos encontrar-nos com duas explicações possíveis da formação no caso de se tratar da forma regular do particípio. Além deste há a forma irregular do particípio passado, que já tem só uma interpretação do processo formativo. As duas formas apresentam a diferença não só na sua formação, senão também diferem no seu emprego. 3 MEDEIROS, Alessandro Boechat de: “O Particípio Presente em Português“ em Revista Letras, p. 191192 8 2.2.1 Formação Os dois tipos existentes do particípio passado diferem, além doutras caterísticas, no processo formativo. 2.2.1.1 Formação regular Geralmente a forma regular do particípio passado é formada a partir do infinitivo verbal, tirando a desinência do infinitivo -r e a vogal temática -a/-e/-i e juntando o sufixo -ado, -ido respectivamente. O sufixo de particípio depende da classe verbal de cada um dos verbos. Para a primeira classe, terminada em -ar, o sufixo respectivo é -ado. Fechar → fech + ado → fechado Enquanto para a terceira classe verbal, cuja vogal temática é i, por tanto termina em -ir, o sufixo participial correto é -ido. Fingir → fing + ido → fingido No caso da segunda classe temos a formação um pouco diferente. Esta diferença consiste no fato de que a vogal temática do infinitivo não é idéntica com a do particípio. Talvez esta classe verbal seja a razão para não tirar só a consoante final do infinitivo (-r), trocando-a por o sufixo -do. Nesta classe empregamos o sufixo -ido (como no caso da terceira classe verbal), e substituimos com ele o -er do infinitivo. Cometer → comet + ido → cometido Como é evidente, a segunda e terceira classes verbais possuem o mesmo sufixo. Os particípios passados na sua forma antiga tiveram, ao lado da terminação -ido, a terminação -udo, que com o tempo foi substituido pela -i- da terceira classe, sendo assim unidas as duas formas existentes do particípio da terceira classe e neutralizada a diferença entre segunda e terceira classes, o que „afirma a tendência geral da língua portuguesa para neutralizar as oposições entre as 2.a e 3.a conjugações.”4 Esta explicação da formação do particípio é a mais popular, encontramo-la nas gramáticas portuguesas dedicadas ao público, nas gramáticas escolares ou 4 WLODEK, Marcin: “Particípio português – formas e usos“ in Romansk forum n° 17, 2003/1, p. 45 9 nos manuais da língua portuguesa. Porém num artigo de Marcin Wlodek ou na gramática de Cintra e Cunha encontramos também outra explicação da formação do particípio. Embora o resultado seja mesmo, a explicação toca as questões fundamentais da morfologia. A segunda explicação do processo formativo do particípio regular português consiste em tirar só a -r final do infinitivo verbal e substitui-la pelo sufixo -do. O cambio da vogal temática na segunda classe verbal é explicada de várias maneiras. Cintra e Cunha, por exemplo, explicam que „o particípio forma-se substituindo-se o sufixo -r do infinitivo pelo sufixo -do, sendo de notar que, por influência de vogal temática da 3.a, a da 2.a conjugação passou a -i-.“ 5 A mesma opinião tem Wlodek que explica a formação a partir do tema verbal. O particípio passado regular é constituído tendo por base o tema verbal, que consta da raiz e a vogal temática. Assim esta permanece na base, enquanto na formação anterior tirámo-la. Ao tema logo junta-se o sufixo -do, que é o sufixo participial. Com respeito a vogal temática da segunda classe, esta outra vez leva a vogal temática -ipor causa da evolução da terminação participial já mencionada. Esta segunda explicação conserva a vogal temática do verbo original, por tanto respeita melhor a sua estrutura na formação do particípio. A primeira maneira é mais fácil e mais escolar no sentido que a razão para formar o particípio deste modo não se torna evidente. Como as duas maneiras de explicação levam ao mesmo resultado, a diferença entre uma e outra está no público, a que se dirige. 2.2.1.2 Formação irregular Os particípios irregulares, devemos aprendé-los. No entanto possuem algumas características, que os tornam facilmente reconhecíveis. A irregularidade na maioria dos casos apresenta-se só no final do verbo, assim é-nos permitido reconhecer a raiz e por extensão o verbo do qual deriva (p.e. visto o particípio pago e tirando a -o final obtemos o radical pag-, e disso recuperamos o verbo original pagar). A segunda característica é a terminação -to (visto, feito, etc.) em grande número dos casos. Há outras terminações existentes, em geral os particípios passados terminam em -o, mais 5 CINTRA, Lindley; CUNHA, Celso: Nova Gramática do Português Contemporáneo, p. 392 10 raramente em -e. Os que em -o têm em alguns casos a forma idéntica com a da 1a pessoa de singular do presente indicativo e há possibilidade de confusão (p.e. eu gasto vs. o dinheiro foi gasto)6 2.2.2 Tipo de verbos segundo o particípio Em portugês podemos contar com dois tipos de verbos que têm o particípio irregular. Um tipo tem um só particípio, que é irregular, o segundo tipo dispõe de dois particípios possíveis, o regular e o irregular. 2.2.2.1 Verbos de particípio duplo Os verbos com dois particípios são também chamados abundantes. Este nome é-lhes atribuído por terem mais que uma forma verbal com a função idéntica. No caso destes verbos a abundância não é completa, porque as formas regulares são de preferência usados nos tempos compostos, ou seja com verbos auxiliares ter ou haver, enquanto as formas irregulares empregam-se nos casos da voz passiva (com os auxiliares ser, estar ou possivelmente com outros) ou uso não verbal. A forma regular segue o modelo de formação dos particípios. A forma irregular difere na sua formação e geralmente é aprendida de memória, mas Lucia Lobato fez uma explicação sistematizada dessa formação, que parece involver todas as formas do particípio irregular: „1ª conjugação: Radical acentuado terminado em C diferente de d + VT7 nominal ou Radical acentuado terminado em nasal + d + VT nominal. 2ª e 3ª conjugações: Radical acentuado + -t, -s + VT nominal ou Radical acentuado terminado em nasal + -d + VT nominal.“ 8 6 Inclusive pode haver confusão entre particípio de um verbo e 1a pessoa do presente de indicativo doutro verbo, como no caso de penso, que é particípio passado irregular do verbo pender ou é o presente de indicativo do verbo pensar. 7 C = consoante, VT = vogal temática 8 LOBATO, Lucia: Sobre a Forma do Particípio do Português e o Estatuto dos Traços Formais, p. 7 - 8 11 Isto significa que o particípio irregular em caso da primeira classe verbal é formado a partir do radical acentuado que termina com uma consoante. Quando esta consoante é diferente da -d, juntamos ao radical só a vogal temática nominal -o (vogal temática nominal básica, ao formar o feminino ou plural pode variar com respeito ao género e número formado), como por exemplo findo, gasto, pago (find + o, gast + o, pag + o). Se o radical termina em nasal, juntamos a ele primeiro a consoante -d- e só depois a vogal temática nominal (para este caso nãencontramos nenhum exemplo). No caso da segunda e terceira classes a formação acontece tendo como a base também o radical acentuado, mas neste caso não deve terminar em consoante. Ao radical junta-se a consoante -t ou -s e mediante ela liga-se logo a vogal temática nominal (p.e. incluso - inclu + s + o; inserto - inser + t + o). Caso o radical terminar em nasal, a consoante a seguir é -d em vez de -t ou -s (não foi encontrado nenhum exemplo deste caso). Esta sistematização da formação do particípio irregular parece-nos útil, porque podria facilitar a aprendizagem dos particípios irregulares. Verificámo-la por tanto, examinando a lista dos particípios duplos no Dicionário de Verbos Portugueses9. Examinando no total 154 verbos verificámos que a teoria funcionava bem, só apresentava uma ambiguedade no caso dos radicais terminados em nasal (ganho, suspenso e outros). Isso causou problemas com a aplicação e por extensão com a integridade e valor de todo o postulado acima. Os particípios problemáticos no sentido de não se encaixarem a teoria eram no caso da primeira classe10 só o particípio ganho e no caso da segunda e terceira classe os particípios abjunto, absconso, abstento, adjunto, assumpto, atento, bento, destinto, disjunto, distenso, distinto, extinto, penso, precinto, restinto, retinto e suspenso. Em todos os casos acima trata-se da mesma natureza do problema. Os particípios que não podem ser formados segundo a regra têm o radical terminado em nasal, que segundo Lucia Lobato é a razão para ter a consoante tónica -d- depois do radical (p.e. *ganhdo no caso do particípio de ganhar). Porém os particípios referidos apresentam 9 Dicionário de Verbos Portugueses, p. 156 - 160 10 Na citação é usado o termo conjugação em vez de classe. Sob estes nomes entende-se a mesma coisa. 12 mesmas caraterísticas, como no caso de não terminar em nasal, ou seja no lugar onde deveriam ter uma -d têm ou -t ou -s. Verificamos que os radicais terminados em nasal são seguidos por -t (distinto, extinto, restinto) ou -s (penso, distenso, suspenso), e não por -d (não encontramos nenhum verbo que tivesse a radical terminado em nasal e seguido por -d) no caso da segunda e terceira classe. No caso da primeira classe os radicais terminados em nasal podem ser seguidos também só com a vogal temática nominal ou seja com -o, sendo a consoante diferente de d, que inclui também o caso de ganho, que tem o radical terminado pelo dígrafo nasal nh, que deveria ser seguido por -d- e vogal temática nominal. Examinando os verbos de particípio duplo chegamos à conclusão que no caso de radicais terminados em nasal, seja de qualquer classe verbal, pode ser aplicada também a primeira parte da regra formulada por Lúcia Lobato, ou seja a parte que serve para formar particípio passado quando o radical verbal não termine em nasal. Concluindo a teoria citada tem algumas excepções, por tanto tal como é posta não funciona no total. Considerando este fato, o funcionamento parcial já perde o efeito de serem explicados todos os casos em uma teoria. Contudo modificando um pouco a teoria pode haver menos excepções, o que contribui para maior efectividade. No caso da primeira conjugação a teoria deveria dizer que uma nasal também pode ser seguida só pela vogal temática nominal. No caso da segunda conjugação a teoria deveria acrescentar que, como no caso da primeira classe, as nasais podem ser seguidos também por -t ou -s e vogal temática, tal como as consoantes orais. Visto que há o número bastante grande dos particípios irregulares, com esta pequena modificação reduzimos a cifra das excepções. Além dos casos já encaixados na teoria modificada havia três verbos com particípios formados de maneira diferente: grato de agradecer, morto de matar, cheio de encher. Nestes casos particulares se trata da formação com alteração da raiz verbal. Este processo formativo diferente é a razão para excluirmos estes verbos da teoria. Observando-os mais de fundo podemos ver que a única excepção verdadeira é apresentada pelo particípio cheio. Grato tem o radical acentuado + t + vogal temática nominal, justamente em acordo com a teoria (agradecer pertence a segunda conjugação verbal), e morto tem o radical acentuado terminado em consoante diferente de d + vogal 13 temática nominal (sendo matar verbo da primeira classe). Ao contrário o particípio cheio deveria ter o -t ou -s em frente da vogal temática. Como não o tem, não segue a regra e por isso representa a única excepção encontrada entre os particípios duplos. 2.2.2.2 Verbos com particípio irregular Existe certo número de verbos portugueses, que permitem só a formação do particípio irregular, „ (…) não tendo conhecido jamais a forma regular em -ido.“ 11 Estes particípios são também denominados fortes. A quantidade de verbos com particípio irregular é muito limitada. Apresentam-no só os verbos abrir (aberto), cobrir (coberto), dizer (dito), escrever (escrito), fazer (feito), por (posto), ver (visto) e vir (vindo). A sua forma é construida de mesma maneira como a forma irregular dos particípios duplos. Podemos também aplicar a mesma teoria do processo formativo. Examinando outra vez a lista dos particípios resulta que entre os particípios fortes não há excepções da regra formulada no capítulo anterior. Ao lado destes verbos, a mesma irregularidade no particípio apresenta-se nos verbos que derivam dos em cima mencionados. Por exemplo são os verbos como contradizer, reescrever, desfazer, pospor, entrever, intervir, e vários outros.12 Fazendo uma breve conclusão, os particípios passados em português podem ser regulares ou irregulares. Para criação de ambas as formas temos a teoria ou modelo, que podemos seguir para formar grande maioria deles. Existem várias excepções de vários níveis. Considerando só a própria forma, encontramos só uma excepção. Tomando em conta todo o processo formativo, ao grupo excepcional pertencem todos os particípios com alteração dentro do radical (p.e. feito, morto de matar, etc.). A presença do modelo de formação indica o número finito e restrito das terminações participiais. São as seguintes terminações que podem ser encontradas na categoria dos particípios passados: -e (aceite) ou -ue (variação fonética do -e, p.e. entregue), -so (confuso, excluso, ...) ou -sso (variante fonética do -so, p.e. expresso, ...), -to (coberto, revolto, ...), -o (cego, descalço, limpo, ...), -do (vindo). 11 CINTRA, Lindley; CUNHA, Celso: Nova Gramática do Português Contemporáneo, p. 440 12 Não todos os verbos derivados seguem a formaçã do particípio com o verbo do qual são derivados, p.e. o verbo prover tem o particípio regular provido. 14 3 Papel sintático do particípio Depois da abordagem teórica da formação do particípio desenvolvemos agora a temática do seu uso no meio da oração ou frase. Veremos qual é a sua importância nesse nível, qual é o seu emprego e valores. O valor mais importante no contexto sintático são as funções que o particípio pode desempenhar e no segundo plano os aspetos que transmite. Enquanto ao emprego do particípio, a sua função importante é na formação dos tempos compostos, onde „exprimem o aspecto conclusivo do processo verbal.“13, juntando-se com as formas respetivas do verbo ter. Outra situação típica para os particípios é estar acompanhado por um verbo auxiliar, exprimindo assim a voz passiva da ação ou estado14. Quando independente na frase, o particípio exprime „o estado resultante de uma ação acabada“15, tendo o valor quer passivo, quer ativo. Segundo alguns o particípio em função de verbo só pode ocorrer em perífrase verbal.16 Na maioria dos casos é assim, mas o problema surge nas orações subordinadas participiais, onde figura sem enredo verbal em função do predicado. Nesta parte por tanto examinaremos entre outros a natureza dos particípios nas subordinadas, mas primeiro apresentamos as ocorrencias perifrásticas. 3.1 Locução verbal Enquanto à definição da locução verbal, existem várias. Segundo alguns autores os tempos compostos nem são considerados locuções17. Como este trabalho não tem espaço para verificar as hipóteses e encontrar a definição mais certa, usaremos, ao longo deste trabalho, a definição de Cintra e Cunha, que a definem assim: 13 CINTRA, Lindley; CUNHA, Celso: Nova Gramática do Português Contemporáneo, p.491 14 Idem, p.491 15 Idem, p.492 16 ALMEIDA, Napoleão Mendes de: Gramática Metódica da Língua Portuguesa, 17 São os autores que consideram o particípio como adjetivo. Quando na possível locução verbal podemos encontrar só um verbo (A casa foi construída.), a locução não existe, porque não há mais que um verbo. 15 „O conjunto formado de um verbo auxiliar com um verbo principal chama-se locução verbal. Nas locuções verbais conjuga-se apenas o auxiliar, pois o verbo principal vem sempre numa das formas nominais: no particípio, no gerúndio, ou no infinitivo impessoal.“ 18 3.1.1 Tempos verbais compostos O particípio tem a função importante na posição de verbo significativo19 nos tempos verbais expressos através da perífrase verbal, tendo como o verbo auxiliar ter ou haver. O verbo auxiliar nestas ocasiões vem conjugado em acordo com o sujeito da frase e leva também a marca temporal. A forma do particípio nas expressões dos tempos é invariável ou seja o particípio aparece na sua forma básica, que é derivada do infinitivo verbal terminada em -o, ou seja na forma de singular masculino, que é a forma mais neutra.20 No caso dos verbos de particípio duplo é a forma regular, que aparece nos tempos compostos. No português atual temos sete formas dos tempos compostos, que são as seguintes: pretérito perfeito composto do indicativo (presente de indicativo do verbo ter + particípio – tenho feito), préterito mais-que-perfeito composto do indicativo (pretérito perfeito de ter (haver) + particípio – tinha (havia) feito), futuro do presente do indicativo (futuro do presente indicativo simples de ter (haver) + particípio – terei (haverei) feito), futuro do pretérito indicativo composto ou também chamado condicional perfeito (futuro do pretérito indicativo simples/condicional de ter (haver) + + particípio – teria (haveria) feito), pretérito perfeito de conjuntivo (presente de conjuntivo de ter (haver) + particípio – tenha (haja) feito), pretérito mais-que-perfeito do conjuntivo (pretérito imperfeito de conjuntivo de ter (haver) + + particípio - tivesse (houvesse) feito), futuro composto/perfeito do conjuntivo (futuro simples do conjuntivo de ter (haver) + particípio – tiver (houver) feito).21 18 CINTRA, Lindley; CUNHA, Celso: Nova Gramática do Português Contemporáneo, p. 393 19 Terminologia de CINTRA, Lindley; CUNHA, Celso: Nova Gramática do Português Contemporáneo. Segundo M.H.M. Mateus denominado verbo pleno. 20 Na evolução da língua portuguesa não era sempre assim. No português antigo usava-se normalmente a forma concordada com o verbo, assim que os pais mo tinham ditos ou a minha filha tinha estudada muito. 21 CINTRA, Lindley; CUNHA, Celso: Nova Gramática do Português Contemporáneo, p. 379 16 O particípio tem neles a função de levar o significado. Ele apenas transmite a base verbal para indicar qual é a ação transmitida pela perífrase. O que também é transmitido pelo tempo verbal composto é a noção do fim daquela ação, quer dizer a noção da ação ou processo terminado. Por isso os tempos compostos se usam com frequência em frases de sequências temporais. 3.1.2 Voz passiva Em português temos dois tipos das orações passivas. O primeiro tipo são orações passivas originais ou criadas sem derivar da frase ativa particular. O tipo tratado neste capítulo é a oração passiva que é resultado do processo de passivização ou do movimento passivo. Esta surge a partir da oração ativa, da qual no processo mencionado mudamos as funções sintáticas. Assim mudamos também o enfoque da frase, a ênfase jaz noutro membro oracional. Este tipo das orações da voz passiva é formado das orações ativas com complemento direto, porque este na oração passiva se torna sujeito. Além disso o verbo da forma ativa passa ao particípio e como este não pode cumprir a função de verbo só, juntamos o verbo auxiliar, que vai levar todos os traços gramaticais do predicado. O sujeito da oração original (ativa) nas frases passivas ocupa o lugar de complemento circunstancial da perífrase verbal, enquanto o complemento direto da oração ativa passa a ser sujeito da passiva. Oração ativa: Camilo Castelo Branco escreveu o livro Amor de Perdição. Oração passiva: O livro Amor de Perdição foi escrito por Camilo Castelo Branco. No caso da voz passiva o particípio vem acompanhado pelo verbo ser, estar e em alguns casos também ficar. Segundo a Gramática de Cintra e Cunha existem ainda mais verbos auxiliares admitidos para formar as orações de voz passiva: „Além do verbo ser há outros auxiliares que, combinados com um particípio, podem formar a VOZ PASSIVA. Estão nesse caso certos verbos que exprimem estado (estar, andar, viver, etc.), mudança do estado (ficar) e movimento (ir, vir): Os homens já estavam tocados pela fé. 17 Ficou atormentado pelo remorso. Os pais vinham acompanhados dos filhos.“22 Embora que os verbos podem aparecer nas orações como verbos auxiliares da voz passiva, geralmente são usados os verbos ser, estar e ficar para formar este tipo de orações. Os verbos denominados figuram como verbos auxiliares, o significado jaz nos particípios, sendo eles verbos significativos. À diferença dos tempos compostos, o particípio apresenta a concordância em género e número com o sujeito da oração. Nas orações passivas, no caso de se tratar do verbo do particípio duplo, empregamos o particípio de forma irregular. O marinheiro foi morto. Os marinheiros foram mortos. A menina foi expulsa da oficina. As meninas foram expulsas da oficina. 3.1.2.1 Propriedades das orações passivas As orações passivas em português servem para pôr ênfase no sujeito delas, que é geralmente paciente da ação expressa no verbo. Também são usadas quando por algum motivo não queremos expressar o sujeito ou quando este é desconhecido. As estruturas passivas são usadas nos periódicos precisamente por estes motivos. A oração passiva resulta gramatical apenas em alguns casos. O primeiro pressuposto para a possível passivização é o complemento direto ou pelo menos possibilidade de haver. Isso é possível somente no caso dos verbos transitivos diretos. Porém do grupo restrito dos verbos transitivos diretos nem todos têm a capacidade de ser passivizados. Vejamos a agramaticalidade de alguns verbos intransitivos, transitivos indiretos e transitivos diretos. 22 CINTRA, Lindley; CUNHA, Celso: Nova Gramática do Português Contemporáneo, p. 383 18 As crianças brincaram na rua. *A rua foi brincada pelas crianças./ *As crianças foram brincadas na rua. O carro amarelo pertence ao teu irmão. *O teu irmão é pertencido ao carro. O Paulo mede um metro e oitenta centímetros. *Um metro e oitenta centímetros são medidos por Paulo. A prova acima implica que as caraterísticas dos verbos que admitem a passivização é um assunto mais complexo. Tendo por certo que os verbos da voz passiva são ser, estar e ficar ainda cabe dizer que podemos distinguir as particularidades de cada um no sentido de significado como o faz Wlodek23. As passivas com o verbo ser são chamadas voz passiva de ação, porque em geral exprimem o resultado duma ação ou processo. A oferta diária é impressa pela empregada todos os dias. A passiva com ser não sempre exprime o resultado, pode também exprimir um processo a decorrer, especialmente em contraste com a passiva com estar: A casa é construída. - a casa está no meio da construção x A casa está construída. - Acabaram de construir a casa, a casa já está completa. No entanto nas descrições de propriedades das orações passivas com estar o autor diz que em contraste com as passivas de ser o verbo estar é emprego nas orações que através dele expressam um estado. Esta forma também é chamada voz passiva de estado. A luz estava acesa todo o dia. 23 WLODEK, Marcin: “Particípio português – formas e usos“ in Romansk forum n° 17, 2003/1, p. 48 19 Finalmente o verbo ficar expressa numa vez a ação (resultado) e o estado, ou a mudança do estado, pondo ênfase na ação do câmbio ou no estado. Esta ênfase já é expressa por meio do significado do enredo. „De repente a porta ficou aberta de par em par. => De repente abriram a porta de par em par (com ênfase na acção). A porta ficou aberta durante o dia inteiro. => Abriram a porta que depois permaneceu aberta o dia inteiro (com ênfase no estado resultante).”24 Com respeito à divisão do significado sugerido podemos ainda acrescentar uma interpretação duma divisão muito parecida oferecendo outro ponto de vista. Fátima Oliveira sugere a chamada divisão tripartida, onde divide os particípios segundo o verbo auxiliar com que ocorrem. Nas passivas com ser são os particípios eventivos, com estar são os particípios estativos e com o auxiliar ficar são os particípios resultativos.25 Além da voz passiva analítica existe também a voz passiva chamada sintética, que pode ter o valor um pouco distinto do das passivas analíticas. Essa também é chamada voz passsiva reflexiva por ser formada através do pronome apassivador26 se. 3.1.3 Outro tipo das perífrases com particípio Ao lado das perífrases com o verbo auxiliar ter ou haver ou com ser, estar e ficar no caso da chamada voz passiva, o particípio pode ocorrer na perífrase com outro verbo auxiliar, ou até inclusivamente com ser, estar ou ficar com o valor ativo. Estas perífrases já não são consideradas passivas. Porém podem ser usadas com o sentido passivo, o fato de ser menos frequentes e “não prototípicas” faz deles um conjunto separado. Entre estes verbos pertencem andar, viver, ficar, ir27, 24 WLODEK, Marcin: “Particípio português – formas e usos“ in Romansk forum n° 17, 2003/1, p. 48 25 OLIVEIRA, Fátima: O Particípio: algumas especifidades do português, p. 3-4 26 CINTRA, Lindley; CUNHA, Celso: Nova Gramática do Português Contemporáneo, p. 383. O pronome apassivador é também denominado morfema apassivador ou morfema de modificação valencial 27 CINTRA, Lindley; CUNHA, Celso: Nova Gramática do Português Contemporáneo, p. 383 20 permanecer, continuar, tornar-se, parecer, acabar28. Junto com estes verbos vai ainda o ser, estar, e ficar em construções predicativas. Segundo a Nova Gramática os primeiros quatro verbos (os únicos especificados) são, junto com ser, estar e ficar, formantes da voz passiva analítica, por terem capacidade de expressar mais ou menos a mesma coisa ou seja são capazes de exprimir estado ou movimento. Por outro lado Wlodek considera todos estes verbos diferentes dos auxiliares da voz passiva, porque segundo ele exprimem a mudança ou movimento, e ficando no meio do caminho distingue-os por poderem aparecer nas construções passivas e não nas copulativas. Isso é quando há numa frase um daqueles verbos junto com particíio passado, o sujeito da frase é sempre o que sofre a ação expressa. 3.2 Particípio em função de verbo, fora da perífrase verbal O particípio pode funcionar numa oração como verbo significativo, sem precisar do verbo auxiliar. Trata-se então das orações chamadas reduzidas porque, mesmo que exprimem a ação, que é a propriedade atribuída ao verbo, falta-lhes outros valores expressos nos verbos. Como o particípio não exprime o tempo ou pessoa, tirando a oração principal da frase, não se sabe bem em que tempo está a oração participial, falta-lhe o contexto necessário. Para o contexto servem geralmente as orações principais, que na frase inteira servem para que os particípios possam aparecer. Disto o particípio só pode aparecer nas orações subordinadas. A função do particípio nas orações subordinadas é expressar a anterioridade relativamente a ação da oração principal. Estas orações servem para desenvolver as principais. Na frase-exemplo mostramos como é: Comprada a prenda, fomos à festa. O comprada a prenda na frase desempenha a função do complemento circunstancial. Não pode ficar separada, sem o resto da frase, enquanto a segunda oração pode estar separada sem problema. A segunda parte da frase leva a marca temporal que dá o contexto à primeira. Ao deixar a primeira oração inalterada, podemos dar outro sentido a toda a frase, mudando só o tempo verbal do verbo ir da segunda oração: 28 Acrescentados à lista de Cintra e Cunha de: WLODEK, Marcin: “Particípio português – formas e usos“ in Romansk forum n° 17, 2003/1, p. 49 21 Comprada a prenda, iremos à festa. Comprada a prenda, vamos à festa. Assim dado, o particípio não exprime o tempo verbal, que é determinado contextualmente. O que sim exprime é a anterioridade da ação expressa no particípio relativamente à ação representada pelo verbo da segunda oração. Ao ir à festa em qualquer ponto, a compra antecede a ida, sendo ela feita no passado, presente ou futuro. Junto com a anterioridade vem expressa também a noção do processo acabado. Significa que antes de comecar a ação da segunda oração, a da primeira oração tinha acabado. Da mesma maneira como o fizemos com o tempo verificamos que o particípio nem exprime a pessoa, outro traço atribuído aos verbos: Chegado de bicicleta, todos me cumprimentaram. Chegado de bicicleta, todos te cumprimentaram. Chegado de bicicleta, todos lhe cumprimentaram. Aqui podemos ver, que nem é a pessoa, que o particípio exprime. Outra vez é o contexto preciso para esclarecer o sentido da frase. Deste modo o particípio fora da perífrase verbal não tem nem a função de marcador temporal, nem serve para exprimir a pessoa. O valor que traz o particípio à oração é o valor de resultado ou de algo acabado, independente do tempo gramatical ou real. Pode empregar-se com qualquer tempo verbal sem a frase tornar-se agramatical. Com a pessoa verbal ocorre o mesmo que com o tempo. Neste caso podemos distinguir dois grupos, segundo o sujeito das orações da frase. Pode tratar-se do mesmo sujeito, como no exemplo anterior, ou do sujeito diferente, como no exemplo „Chegado de bicicleta..“. Considerando o que mencionam Cintra e Cunha e examinando os exemplos, a expressão do tempo e pessoa são interligados, trata-se de mesma natureza do fenómeno, ambos precisam de ser atualizados pelos contexto. 22 Relativamente à pessoa verbal pode haver até a atleração do significado. Além do resultado o particípio pode exprimir a ação simultánea, „principalmente se o sujeito for o mesmo.“29 Empregada na cozinha, a Luísa cantava. Nesta ocorrência devia ser investigada a natureza do particípio. Não se trata da situação onde o particípio exprime a ação acabada anteriormente, senão da expressão da simultaneidade. O emprego do particípio parece mais ao emprego do gerúndio, como são os gerúndios que expressam a simultaneidade. O emprego assinalado é o caso da elipse do verbo estar em gerúndio, porque sente-se que a ação do verbo não é acabada. Ao contrário da opinião da Nova gramática, que considera o particípio sem auxiliar como verbo, Napoleão Almeida afirma que os particípios, quando figuram numa oração sem serem acompanhados pelo verbo auxiliar são da natureza adjetival. Por um lado em alguns casos podemos subentender o auxiliar (neste caso fala-se sobre uma elipse do verbo), mas por outro lado o autor diz que o particípio já se tornou adjetivo e como tal deve apresentar a concordância em género e número.30 Nesta interpretação o valor adjetival (concodrância em género e número) predomina, embora os exemplos dados na Gramática Metódica exprimem os mesmos valores como os acima postos: „Chegadas ao Rio, elas não se puderam conter”31 Cintra e Cunha ainda apresentam uma outra divisão das oraçõs do particípio. Trata-se de uma divisão segundo a transitividade dos verbos, dos quais partem os particípios na oração. O particípio dos verbos transitivos leva o valor passivo, enquanto os particípios dos verbos intransitivos têm geralmente o valor ativo.32 Porque o assunto da passividade não tem limites bem definidos e a mesma forma pode ser 29 CINTRA, Lindley; CUNHA, Celso: Nova Gramática do Português Contemporáneo, p. 493 30 ALMEIDA, Napoleão Mendes de: Gramática Metódica da Língua Portuguesa, p. 242 31 Idem, p. 242 32 CINTRA, Lindley; CUNHA, Celso: Nova Gramática do Português Contemporáneo, p.492 23 usada tanto com valor passivo, como com ativo, não consideramos esta divisão significativa e por mesma razão não vamos considerá-la. O último caso da ocorrêcia participial, mencionado por Cintra e Cunha é „quando o particípio exprime apenas o estado, sem establecer nenhuma relação temporal, (...)“ e em tais casos, como os autores acrescentam, „(...) se confunde com o adjectivo.“33 Neste momento surge a questão da classificação do particípio como verbo, quando tem o valor e emprego plenamente adjetival e de fato o único que é verbal é a forma e ainda por cima até isso é uma questão polémica. Comparando as frases a seguir, intentamos encontrar a diferença: Confuso, não podia sair da casa. Perplexo, não podia sair da casa. Nestes exemplos o confuso e o perplexo desempenham a mesma função sintática, até o significado é parecido. A mais têm mesmos traços morfológicos, podem variar de mesma maneira e apresentam o mesmo comportamento. A única diferença é que o perplexo é considerado adjetivo e o confuso particípio, ao considerar o sufixo final significativo de tal modo, que mete as palavras bem parecidas às categorias diferentes. Considerando isso, a conclusão é que entre os adjetivos e os verbos não há diferença se não é a da origem ou seja da natureza da palavra, da qual derivam, se derivam de alguma. Esta teoria parece muito coerente, mas a origem é só um traço a favor da divisão, embora há várias outras caraterísticas, que falam contra ela. O simples fato de exprimir o género e número e a possibilidade de variação nestas categorias são particularidades adjetivais, que ambas as palavras têm. Ambas as palavras desenvolvem o sujeito mais do que a ação etc. Encontramos neste caso a maioria das caraterísticas consideráveis a favor de estas duas palavras serem consideradas adjetivos, nenhuma razão para serem verbos e uma razão para a divisão em duas categorias distintas. Resumindo, estas duas palavras (e por extensão todas as palavras em mesma situação) deveriam ser consideradas 33 CINTRA, Lindley; CUNHA, Celso: Nova Gramática do Português Contemporáneo, p.492 24 adjetivos, pelo menos no caso de exprimir só o estado. Pelo menos, sendo ambas as palavras no exemplo tão parecidas enquanto à morfologia e uso deles, deveriam pertencer ambas a mesma categoria morfossintática, seja esta qualquer. Neste capítulo tornou-se evidente a diversidade de usos e a diversidade de opiniões relativamente à classificação. Os fragmentos aqui mencionados não podem transmitir a complexidade do assunto. O que é importante é o fato de cada uma das explicações ter por base uma teoria. No capítulo 4. trabalharemos um pouco com a classificação do particípio considerando não só o próprio enquadramento dele, mas também as razões que ficam por trás, quer dizer considerando o contexto gramatical no sentido de se encaixar em definições básicas de ditas teorias. 3.3 Uso adjetival Em numerosas publicações aparece escrito que o particípio pode ser usado como adjetivo. Isso significa, que pode ocupar funções sintáticas atribuídas aos adjetivos. Como já foi dito, os particípios admitem flexões de género e número, com excepção dos tempos verbais compostos, onde permanecem invariáveis. A variabilidade nestes dois aspetos é uma propriedade adjetiva. Disso o particípio na posição onde pode ser alterada a flexão já tem a forma adjetival. A casa é foi consturída no período barroco. / Os prédios foram construídos no período barroco. Formalmente (excepto tempos verbais compostos) o particípio é mais parecido com os adjetivos. Funcionalmente é também muito parecido com eles. Embora conserva algumas propriedades verbais em alguns casos (caraterísticas já mencionadas nos cap. anteriores), pode ocupar o lugar dos adjetivos em todas as suas funções, o que vamos verificar. O adjetivo aparece na frase como “adjunto adnominal (a), predicativo de orações nominais (b), anexo predicativo do sujeito (c).”34. (a) Um homem cego e descalço pedia esmolas em frente da igreja. (b) Que passou com o teu irmão, hoje estava muito atormentado. 34 ROCHA LIMA, Carlos Henrique de: Gramática Normativa da Língua Portuguesa, p. 302 25 (c) Depois da conferência os ouvintes sairam inquietos. Vemos nestes exemplos que o particípio não apresenta a distinção formal nem funcional do adjetivo. Pode cumprir as mesmas funções sintáticas como ele. Disso o uso adjetival do particípio não tem nenhuma restrinção causada pela natureza verbal dele, mesmo sendo particípio comporta-se como adjetivo. 26 4 Categorização morfossintática O particípio pertence à categoria das formas nominais do verbo, como já foi dito. Isso principalmente por causa da sua variação em género e número, típica para os adjetivos. Como a razão para ser a forma nominal do verbo não é só a falta da flexão verbal, presença das flexões de género e número, senão outras caraterísticas adjetivais, que o particípio apresenta, pretendemos rever, neste capítulo, que o particípio tem em comum com os verbos e quais são os argumentos para ele ser adjetivo. O particípio presente ao longo dos séculos perdeu o seu valor verbal e foi recategorizado como sustantivo ou adjetivo. Algo parecido com esta passagem entre categorias do particípio presente está a acontecer agora com o particípio passado. Alguns dos irregulares já deixaram de ser usados na sua função verbal e foram recategorizados como adjetivos (p.e. tinto). Outros deste grupo ficam na transição entre as categorias do verbo e adjetivo e as formas irregulares dos verbos do particípio duplo agora geralmente tendem a ser adjetivos (p.e. cheio, limpo, grato, morto, etc.). Veremos então qual é a tendência atualmente preponderante. 4.1 Argumentos a favor do particípio como verbo Podemos dizer que o particípio é considerado verbo por causa da tradição. No latim particípio era um verdadeiro tempo de várias formas. Estas foram reduzidas ao longo tempo, assim como foi reduzido o uso do particípio, até restar o que temos hoje. Entre os argumentos a favor da categorização verbal dos particípios podemos primeiro mencionar o fato de não variarem nos tempos verbais compostos. Quando ocorre nos tempos compostos, o particípio não apresenta a variação nominal, mas sim cumpre a condição para ser verbo. Está na locução verbal fazendo a parte significativa e assim cumpre os requisitos da perífrase verbal de ser constituída por um verbo conjugado e outro verbo não flexionado. Disso se pode deduzir a natureza verbal do particípio. Outra justificação que podemos encontrar é que embora o particípio não tenha a função exclusivamente verbal, a origem e derivação da base verbal causaram 27 a classificação verbal.35 Ou seja que a origem verbal do particípio é fortemente ligada com a forma participial, de jeito que não pode ser separada. Esse argumento poderia ser reforçado com outro argumento muito ligado ao anterior que é que os particípios podem levar argumentos exclusivamente verbais, como é o chamado agente da passiva (a).36 Este complemento o particípio não podia admitir sem continuar ser um verbo. a) O José, eleito pelos colegas, vai representar a classe na cerimónia. Além da admissãde agente da passiva é muito importante a possibilidade da admissã do sujeito na oraçã participial. Isso significa que o particípio nas orações, onde coexiste com o sujeito, tem função do predicado, função verbal. Vindo eu a pé, todos brincaram comigo. Outro argumento acrescentado é de campo das orações passivas criadas a partir das ativas. Enquanto a passivização, esta pode ser considerada redução valencial.37 O particípio na oração passiva já não tem mesmos complementos como o verbo original, mas a sua natureza enquanto à categoria morfossintática não sofre nenhuma mudança, ou seja não deixa de ser verbo. Em acordo com este argumento o que muda ao passivizar uma oração são os complementos, a natureza deles (o complemento direto da primeira passa a ser sujeito da segunda, o sujeito da primeira torna-se complemento circunstancial da outra). Logo mesmo que o particípio não tenha o comportamento gramatical do verbo original, não deixa de ser verbo, durante a passivização. 35 ROCHA LIMA, Carlos Henrique de: Gramática Normativa da Língua Portuguesa, p.122. O autor afirma que os particípios têm a forma e valor do adjetivo, mas apesar disso ficam categorizados como verbos. 36 BORTOLANZA, João: “As gramáticas e a tradição na terminologia verbal” in Cadernos do CNLF, vol.XIV, n° 2, p. 1815, ou MARÇALO, Maria João: A perspectiva lexical e a erspectiva gramática como abordagens complementares na descrição sintáctica, p. 5 37 MARÇALO, Maria João: A perspectiva lexical e a erspectiva gramática como abordagens complementares na descrição sintáctica, p. 5 28 Nas gramáticas portuguesas38 o particípio é considerado verbo sem justificar a escolha desta categoria para ele. A razão é o aspeto tradicional que não refleta as tendências recentes da transição do particípio à categoria adjetival. Admitem o uso adjetival permanecendo em chamá-lo verbal. O uso adjetival neste caso é o uso adjetival segundo as regras ou teorias das próprias gramáticas que depois o reconhecem como verbal simplesmente só porque a forma empregada é a participial. No entanto o particípio tem alguns traços que são da natureza verbal. A possibilidade de adquisição dos complementos puramente verbais, o poder de exprimir o modo, que também pertence exclusivamente aos verbos ou o fato de permanecer verbo durante o processo da passivização contam entre eles. Junto com a evolução e tradição gramaticais são as razões principais para considerar o particípio pertencente à classe de verbos. 4.2 Argumentos a favor do particípio como adjetivo A primeira razão muito importante é que os particípios não levam flexões típicas para o verbo ou seja não são capazes de exprimir por certo pelo menos pessoa, tempo e aspeto, como deveriam exprimir se fossem verbos. Este fato em si não implica, que sejam adjetivos, mas simplesmente dá a noção que não deveriam ser considerados verbos. Porém levam as flexões de género e número, que já é um argumento realmente a favor da classificação do particípio como adjetivo. Segundo esse critério morfológico os particípios deviam pertencer só à classe de adjetivos. Isto na realidade não causaria muitos problemas. Nas orações passivas pode ser considerado adjetivo. A explicação disso é que as orações chamadas passivas têm a estrutura equivalente a das orações ativas com predicado nominal. Nas orações ativas desse tipo o predicativo é da categoria de adjetivo ou sustantivo, não de verbo. Na realidade não há diferenças formais entre os dois casos (oração passiva e copulativa), e sem contexto que nos informaria sobre a passivização anterior duma frase nem sabemos se a frase é copulativa ou passiva. Em fato, a única ocorrência participial polémica, se este considerado adjetivo, é quando o particípio está em tempos verbais compostos. Aí não aparece flexionado, já há vários séculos. Contudo pode ser classificado adjetivo e a justificação dos que defendem o particípio ser adjetivo é a seguinte: o particípio permanece neste caso não flexionado 38 P.e. ROCHA LIMA, Carlos Henrique de: Gramática Normativa da Língua Portuguesa 29 por ser esta a forma mais neutra (masculino, singular). Fica assim por causa do verbo ter ou haver, que o obrigam a permanecer neste estado. Por outro lado o particípio pode fazer parte de uma oração sem um verbo conjugado, dir-se-ia que cumpre a função verbal, formando naquelas frases o núcleo, que é a propriedade do verbo. Mas realmente a função que o particípio tem é só a função de modificador do núcleo, assim que já não é verbo, mas que sim é o emprego adjetival. Trata-se aqui do assunto polémico já mencionado no capítulo 3.2, que tradicionalmente o particípio e o adjetivo cumprem a mesma função sem serem denominados ou adjetivos ou verbos. Nestas ocasiões o particípio varia a sua flexão segundo o núcleo, a que se liga. Retomamos as duas frases do 3.2 para vermos que não há diferenca em variação entre a frase com o particípio (a) e com adjetivo (b), e mostramos o particípio em função de modificador do núcleo oracional através da variação dele, que tem efeito ao verbo (c). a) Confuso, não podia sair da casa. b) Perplexo, não podia sair da casa. c) Confusos, não podiam sair da casa. Como outro argumento temos que o particípio deixa de ser verbo no momento quando não tem ao seu lado o verbo auxiliar39 ou seja desacompanhado do verbo conjugado. Neste momento perde a capacidade de exprimir os aspetos verbais (pessoa, número, tempo, aspeto e modo) e portanto não pode ser considerado verbo. Quando acompanhado do auxiliar ou faz parte da expressão temporal a que acrescenta um traço (com o auxiliar ter ou haver), ou pode fazer parte do predicado verbo-nominal, onde figura como parte do verbo. Como nesses casos vem com a flexão adjetival, é considerado adjetivo. Além da forma também o seu comportamento é adjetival, ou seja exprime a variação em género e número. A Teresa hoje finalmente vinha vestida de roupa limpa/do vestido limpo. As formas irregulares dos verbos de particípio duplo só são empregues em função do adjetivo, que nos servirá como outro argumento desta parte. Não podem 39 ALMEIDA, Napoleão Mendes de: Gramática Metódica da Língua Portuguesa, p. 242 30 ser empregues em tempos verbais compostos, onde o particípio não varia, e que podria ser considerado como aparência verbal. Como os particípios fortes variam sempre em género e número, não há razão para considerá-los verbos. Com respeito a isso acrescentamos, que a ocorrência em outro tipo de perífrases (ou seja em perífrase com auxiliar diferente de ter ou haver) é adjetival por razões já mencionadas. Em cima disso a tendência de os particípios fortes para serem adjetivos mostra-se na passagem do tempo, porque alguns particípios passados antigos já funcionam como adjetivos plenos (p.e. tinto), sem a hesitação entre categorias, e outros agora mesmo ficam na transição e estão a passar à categoria dos adjetivos (p.e. cheio ou morto). Esta justifição é válida só para os particípios irregulares, mas não implica que os regulares serem verbos. Para classificá-los temos que considerar todos as argumentos do capítulo 4. Como outro argumento para provar a pertinência do particípio a classe adjetival podemos tomar que quando aparece como uma parte do membro oracional composto, coordena-se com os adjetivos. Esta coordenação com os adjetivos vem da presuposição que um membro oracional é composto de palavras da mesma classe ou dos que tem o comportamento daquela classe depois da transposição40. Para provar com que é que o particípio se coordena usámo-lo sem qualquer transpositor. Experimentamos a coordenação dos particípios com adjetivos (a) e com verbos (b). a) Ela tinha o cabelo curto, caracolado e pintado. b) *As crianças na rua brincavam, correram e jogadas. A coordenação é possível só com adjetivos, que implica a validez do argumento. O número dos argumentos a favor de os particípios passados serem considerados adjetivos parece mais vasto. Os mais consideráveis são a flexão de género e número e a possibilidade de variação, junto com a falta da expressão das categorias verbais. Além disso são as propriedades adjetivais enumeradas que o adjetivo tem, que fazem dos argumentos a favor da classificação adjetival o grupo mais grave e significativo. 40 VIGÓN ARTOS, Secundino: Índices funcionales y transpositores sintácticos en español y portugués Transposição é o processo de mudança da classe verbal através dum transpositor, que pode ser uma preposição ou por exemplo um artigo. 31 5 Conclusão O problema mais grave ligado a este capítulo é a incoerência das gramáticas, embora devam oferecer a informação que leva o leitor ao conhecimento da língua e a conclusão certa. Em contraste com a intenção dos gramáticos nas gramáticas são inventadas categorias e definições, mas com a base nelas não podemos chegar a uma só conclusão dentro duma única conceção gramatical. Vejamos só a gramática mais citada do português, que indica o particípio como verbo e logo diz que o verbo é „uma palavra de forma variável que exprime o que se passa, isto é, um acontecimento representado no tempo.“41 Isto mete em confusão o leitor atento, porque segundo esta definição pode ser considerado verbo uma palavra doutra classe. Este caso não é único que nos mete à confusão. A gramática ensina-se também nas escolas, onde se educam os falantes, quer nativos, quer estrangeiros. Com a base nesta definição os falantes não identificam como verbos só os verbos. As gramáticas com as suas definições não levam à aprendizagem certa da língua. No caso deste trabalho trata-se da definição do particípio, que pode ser considerado ou verbo ou adjetivo, em termos das classes de palavra. Vimos os argumentos consideráveis de ambas as partes da questão. Seguramente há outros em ambos lados, mas já com estes tornou-se óbvio que a solução universal é uma coisa difícil. Chegar ao acordo com tanta variação de argumentos parece impossível. Por outro lado, reconsiderando os argumentos expostos podemos ainda desenvolver alguns e assim mudar as proporções entre argumentos a favor da classificação verbal e os a favor da adjetival. Os particípios passados portugueses são vistos de dois pontos, do tradicional, que os classifica como verbos, e do mais moderno, que os considera adjetivos. Morfologicamente são adjetivos (flexão de género e número), derivados a partir do infinitivo verbal. Visto os argumentos que favorizam um ou outro ponto de vista prevalecem os argumentos a favor de particípios como adjetivos. Em português há dois tipos de particípios, que neste trabalho pretendemos classificar em termos de classes de palavras: os particípios regulares e os irregulares. 41 CINTRA, Lindley; CUNHA, Celso: Nova Gramática do Português Contemporáneo, p. 377 32 Os particípios irregulares dos verbos que possuem particípio duplo são aqueles sem o valor verbal, graças a falta do uso verbal ou seja do emprego nas perífrases verbais dos tempos compostos, onde permanecem invariáveis. De regra emprega-se o particípio regular com verbos ter e haver e a forma irregular no resto dos casos. Modificando um pouco esta teoria em acordo com as pesquisas recentes da Fátima Oliveira a forma regular ocorre também com o verbo ser nas orações passivas, precisamente pela causa já mencionada – os particípios irregulares dos verbos de particípio duplo são reconsiderados adjetivos. Isso corresponde com o que diz Wlodek já há nove anos, que os particípios irregulares não podem ser considerados verbos. Os argumentos minoritários, os a favor do verbo, têm o seu valor, mas com as definições atuais42 do verbo não pode ser considerado verbo uma palavra que não exprime as propriedades básicas e mais significativas do verbo como pessoa ou tempo. Os argumentos para a classificação adjetival do particípio, por outro lado, são mais numerosos e apresentam mais força e coerência. O particípio tem forma e comportamento adjetival, salvo o caso dos tempos verbais compostos, onde permanece invariável. O que mais leva a conclusão que o particípio pertence a categoria adjetival é o fato que os argumentos que favorecem ao particípio como verbo não estão em conflito direto com os argumentos a favor de particípio como adjetivo. Isto é que a derivação a partir do verbo não implica que o resultado dessa derivação tem que ser um verbo, embora alguns autores o usam como argumento. O fato de usar o particípio em frases de sequências temporais, onde este é capaz de transmitir a noção de temporaneidade, não implica que o particípio seja uma forma verbal. A forma verbal leva o tempo na flexão do tempo, aspeto e modo. A capacidade de transmissão do tempo dos particípios não é justificável em geral precisamente por não levarem a flexão apropriada. O valor perfetivo do particípio, que pode servir como uma das razões para o particípio ser verbo, não vem só de ser particípio, senão da própria natureza de cada verbo. Alguns verbos apresentam maior tendência a expressar a perfetividade que outros, independentemente da flexão que levam. 42 Veja as definições do verbo nas gramáticas da lista referencial. 33 Os particípios têm algumas especificidades, que os podem distinguir de outros adjetivos, mas como a classe adjetival contém ainda várias subclasses, onde se dividem segundo os traços que não têm todos os adjetivos em comum, poderia sem problema aparecer outra subclasse de adjetivos, onde meteriamos os particípios. Isso sem nenhum conflito com regras gerais, porque o adjetivo é caraterístico pela presença da flexão de género e número e pela possível variação delas, o que o particípio cumpre, e a subclasse participial dentro dos adjetivos uniria os adjetivos que têm possibilidade de acrescentar o modo a frase, expressar a perfetividade ou que têm possibilidade de ocorrer nas perífrases verbais de tempo (isso é tomado como traço distintivo, porque os demais adjetivos não têm esta possibilidade e principalmente porque nos tempos compostos os particípios permanecem invariáveis). Com esta subclasse criamos no sistema gramatical uma caixa especial para os particípios e não temos que negar todos os argumentos enumerados para servirem a favor da classificação verbal dos particípios, não omitimos a origem diretamente verbal, mesmo que os argumentos já não sirvam para justificar a classificação verbal do particípio. 34 Shrnutí Tato bakalářská diplomová práce se zabývá participiem v portugalském jazyce, jeho tvořením, rozsahem užití a zařazením do jazykového systému. Práce jednak přibližuje participium jakožto slovesnou formu a jeho pojetí podle současně užívaných portugalských gramatik, druhak se snaží o objasnění dílčích otázek, které vzniknou v průběhu práce či se nabízejí v konkrétních kapitolách. První část se věnuje teoretickému úvodu, uvedení do problematiky a záležitosti tvorby participia. Na tuto část navazuje další, více zaměřená na praxi. Pojednává o užití participia v různých jazykových situacích, objasňuje jeho možnosti s ohledem na praktický jazyk. Práce se dále zabývá problematikou zařazení participia do mluvnické kategorie a předkládá odborné argumenty pro obhájení různých názorů, snaží se najít konzistentní teorii a formulaci, která by sjednotila všechna participia do jedné, konkrétně vymezené skupiny. Cílem práce je komplexní popis participia včetně všech jeho zvláštností a výjimek. Tento popis má několik úrovní a zpracovává již formulované teorie a poznatky o participiu do jedné práce, kde s jejich pomocí vytváří další závěry. Koncentruje materiál o participiu na jednom místě za účelem zajištění uceleného pohledu a hledá řešení problému jeho klasifikace v rámci kategorie slovních druhů. 35 Summary The focus of this bachelor thesis is on the phenomenon of participle in Portuguese, namely its creation, scope of usage and its place in the language system. Firstly, this paper introduces the participle as a verb form and depicts its present understanding according to contemporary Portuguese grammars, and secondly tries to clarify questions that have arisen during the formation of the thesis, or are suggested in individual chapters. The first part is theoretical, aiming to generally introduce reader into the problematics of participle formation. The following part is based rather on its practical usage. It deals with the usage of participle in various situations and contains the description of its potentialities in terms of practical language. Further, the thesis discusses the problematic placement of participle in the language system. At first the author offers scholarly arguments supporting different views, and then tries to find a consistent theory and definition, which would have the ability of uniting all participles into one, specifically defined class. The purpose of this thesis is to deliver a comprehensive description of participle, including all its exceptions and rarities. Such description has many layers, and processes already existing theories and knowledge into one whole, while making new conclusions. Condensing all the information about participle aims to provide a coherent view on the matter and seek the solution of the difficult classification of participle in terms of parts of speech. 36 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Bibliografia ALMEIDA, Napoleão Mendes de: Gramática Metódica da Língua Portuguesa, São Paulo: Saraiva, 1999 BARBOSA, Jorge Morais: Introdução ao Estudo da Fonologia e Morfologia do Português, Coimbra: Almedina, 1994 BARROS, João de: Gramática da Língua Portuguesa; Cartinha, gramática, diálogo em louvor da nossa linguagem e dialogo da viciosa vergonha, Lisboa: Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, 1997 BECHARA, Evanildo: Gramática Escolar da Língua Portuguesa com Exercícios, Rio de Janeiro: Lucerna, 2003 BECHARA, Evanildo: Moderna gramática portuguesa, Rio de Janeiro: Lucerna, 2001 CINTRA, Lindley; CUNHA, Celso: Nova Gramática do Português Contemporáneo, Lisboa: João Sá de Costa, 1997 Dicionário da língua portuguesa, Porto: Porto Editora, 2010 Dicionário de Verbos Portugueses, Porto: Porto Editora, 2010 HAVLÍKOVÁ, Marie; ALVES, Carlos Manuel Pinheiro: Portugalština pro samouky, Praha: Leda, 2003 JINDROVÁ, Jaroslava; MLÝNKOVÁ, L.; SCHALKOVÁ, E.: Portugalština, Praha: Leda, 2001 MACAMBIRA, José Rebouças: Português Estrutural, São Paulo: Pioneira, 1978 MATEUS, Maria Helena Mira: Gramática da língua portuguesa: elementos para a descrição da estrutura, funcionamento e uso do português actual, Coimbra: Almedina, 1983 37 OLIVEIRA, Fátima: O Particípio: algumas especifidades do português, conferência organizada por Centro de Língua Portuguesa, Faculdade de Filosofia, Universidade Carolina, Praga, 3.4.2012 MIGUEL, Jorge: Estudos da Língua Portuguesa, São Paulo: Harbra, 1989 PERES, João Andrade, MÓIA, Telmo: Áreas críticas da língua portuguesa, Lisboa: Caminho, 1995 ROCHA LIMA, Carlos Henrique de: Gramática Normativa da Língua Portuguesa, Rio de Janeiro: José de Olympio, 2003 VILELA, Mário: Gramática da Língua Portuguesa; Gramática da Palavra, Gramática da Frase, Gramática do Texto, Coimbra: Almedina, 1995 Fontes da internete BÈS, Gabriel G.; SOLANA, Zulema: “Sintagma Verbal Núcleo Flexionado en Español“ in Revista Infosur, Rosario: Universidad Nacional de Rosario, 2007, [em linha], disponível em: <http://www.infosurrevista.com.ar/biblioteca/INFOSURNro1-2007-BesSolana%281%29.pdf>, [consultado em 22.11.2011] BORTOLANZA, João: “As gramáticas e a tradição na terminologia verbal” in Cadernos do CNLF, vol.XIV, n° 2, Rio de Janeiro: CiFEFiL, 2010, [em linha], disponível em: <http://www.filologia.org.br/xiv_cnlf/tomo_2/1807-1816.pdf>, [consultado em 2.3.2012] BORTOLANZA, João: “Mattoso Câmara e o estudo de verbos“ in Cadernos do CNLF, vol.XI, n° 5, Rio de Janeiro: CiFEFiL, 2007, [em linha], disponível em: <http://www.filologia.org.br/xiv_cnlf/tomo_2/1807-1816.pdf>, [consultado em 15.1.2012] BRITO, Ana Maria: “Nomes derivados de verbos inacusativos: estrutura argumental e valor aspectual“ in Revista da Faculdade de Letras — Línguas e Literaturas, 38 II Série, vol. 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