EDIÇÃO Nº 14 EDITOR: DANILO DA SILVA MAPUTO, MAIO 2016 , ANO V WWW.LAMBAMOZ.ORG SITUAÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS EM MOÇAMBIQUE “A AVALIAÇÃO É NEGATIVA!” IVETE MAFUNDZA PÁG. 5 É PARTE DA NOSSA NAÇÃO SERMOS PROGRESSISTAS, SERMOS TOLERANTES E ACEITAR PESSOAS QUE AMAM OUTRAS PESSOAS 8 OS VALORES DE ALGUMAS PESSOAS SOBREPÕEM-SE ÀS SUAS OBRIGAÇÕES LABORAIS 11 REALIZADO EM JOANESBURGO AUTORIDADES MOÇAMBICANAS GAZETAM SEMINÁRIO REGIONAL SOBRE VIOLÊNCIA E DISCRIMINAÇÃO BASEADA NO GÉNERO 16 JORNAL BRITÂNICO THE GUARDIAN DESTACA TRABALHO DA LAMBDA 20 uma publicação 2 AS CORES DO AMOR ... MAIO 2016 GLOSSÁRIO ESTA PUBLICAÇÃO É POSSÍVEL COM O APOIO DE: Drag queen: Homem que se veste com roupas femininas de forma satírica e extravagante. Uma drag queen não deixa de ser um tipo de transformista , pois o uso das roupas está ligado a questões artísticas – a diferença é que a produção necessariamente focaliza o humor, o exagero. Embora a maior parte das drag queens sejam homossexuais, não há uma relação necessária entre esta actividade, que pode ser vista como profissional, e a orientação sexual do indivíduo. No armário: Termo de origem inglesa (in the closet) que denota um indivíduo que não divulga sua orientação sexual e frequentemente se esforça para que outras pessoas não venham a atestá-la. Quem está “no armário” é quem não assumiu para si mesmo ou para a sociedade uma identidade relativa à sua orientação sexual. Orientação sexual: Termo mais adequado para referir-se à atracção física, emocional e espiritual a pessoas do mesmo sexo ou do sexo oposto, incluindo, portanto, a homossexualidade, a heterosexualidade e a bissexualidade . A orientação sexual determina a direção do desejo sexual de todas as pessoas. Homofobia: Embora a etimologia da palavra aponte para o significado que denota medo mórbido em relação aos homossexuais (LGBTI), o termo passou a ser empregue para descrever a rejeição e/ou aversão de certos indivíduos à homossexualidade, aos homossexuais e a todas as manifestações do desejo sexual voltado a pessoas do mesmo sexo. Esta errado!: O Uso de adjectivos pejorativos para designar os indivíduos de orientação sexual diferente da sua, tais como; paneleiro, panilas, larilas, rabietas, maricas, fufa, etc, isso é o mesmo que o chamarem de preto, cafre, seboso, monhé, etc. FICHA: TÉCNICA EDITOR: Danilo da Silva // REDACÇÃO: Francelino Zeute, Carina Capitine // LAYOUT: Stélio da Fonseca, REVISOR LINGUÍSTICO: Rui Manjate, PUBLICAÇÃO: As cores do Amor // REGISTO:035/gabinfo-dec/2008 // TIRAGEM: 2.000 // PREÇO: Distribuição gratuita, MORADA: Av. Vlandimir lenine 1323, Maputo - Moçambique // TELEFAX: 21304816 DESTAQUE Outubro 2015 JORNAL DA COMUNIDADE LGBT DE MOÇAMBICANA 3 4 AS CORES DO AMOR NOTA DE ABERTURA MAIO 2016 A ssinalou-se no dia 17 de Maio, em todo o mundo o Dia Internacional contra a Homofobia. A esta data, em 1990, a Organização Mundial da Saúde (OMS) retirou a homossexualidade da sua lista de doenças. Este acto constituiu um marco histórico no reconhecimento da dignidade e direitos dos homossexuais, já que pela primeira vez uma organização internacional e multilateral posicionou-se contra o tratamento abusivo dos homossexuais e pelo reconhecimento pleno dos seus direitos. A Homofobia é a aversão, medo, ódio, ou o desprezo por pessoas homossexuais que pode ter raízes, sociais, culturais, religiosas ou políticas. É a expressão mais atroz do preconceito e da marginalização de que são vítimas as pessoas homossexuais. No nosso país, apesar do avanço dado com a recente revisão e entrada em vigor do Código Penal, de onde constavam artigos que podiam ser utilizados para criminalizar a homossexualidade, as manifestações de homofobia e até protagonizadas por agentes do estado continuam rotineiras, a título de exemplo, num passado recente e em tom intimidatório, o DECLARAÇÃO ALUSIVA AO DIA INTERNACIONAL DE LUTA CONTRA A HOMOFOBIA então ministro da Justiça, Assuntos Constitucionais e Religiosos – Abdurremane Lino de Almeida, pontapeou a Constituição da República ao afirmar que “o registo da LAMBDA não constitui prioridade” - como também que - “existe uma linha vermelha que os cidadãos homossexuais não podem transpôr, sob pena de serem entregues à justiça”. É um pronunciamento eivado de preconceito, que viola de forma mais vil o direito e princípio da igualdade consagrados na Constituição da Republica de Moçambique. Num estado democrático de Direito, laico, a homofobia deve ser combatida e eliminada por todas as instituições e cidadãos. É papel do Estado defender o cidadão de qualquer forma de tratamento injusto ou desumano ou quaisquer outros ataques contra a sua integridade motivados pelo preconceito. É responsabilidade do Estado adoptar políticas que garantam o respeito pelas diferenças e que possibilitem a integração das minorias sexuais na sociedade. Por isso, neste dia mundial contra a homofobia queremos recordar ao Estado moçambicano que continuamos a espera que se nos reconheça o direito à existência legal. Direito que nos é negado há mais de 8 anos. Neste 17 de Maio, reafirmamos o compromisso de continuar levando em nossos ombros o estandarte da liberdade. Reafirmamos a nossa crença no Estado de Direito democrático e suas instituições, continuamos unidos contra a homofobia e contra todas as demais formas de discriminação que retiram aos homens, mulheres e crianças aquilo que lhes é intrínseco, a Dignidade Humana. Queremos agradecer a todos os homens e mulheres, de forma individual e/ou colectiva que dia após dia, de forma abnegada emprestam o seu saber e arte para a defesa dos direitos das pessoas LGBT em Moçambique, em Africa e no mundo. Pelo respeito a igualdade de todos perante a lei, A LUTA CONTINUA! AS CORES DO AMOR DESTAQUE 5 MAIO 2016 Ivete Mafundza (jurista e activista) IMAGEM: LAMBDA “POR INCUMPRIMENTO DO ESTADO DAS RECOMENDAÇÕES FEITAS NO ÂMBITO DO PROCESSO DE REVISÃO DE PARES DAS NAÇÕES UNIDAS, EM 2011, SOBRE O REGISTO DA LAMBDA” CONSIDERA IVETE MAFUNDZA J urista, docente universitária, activista dos Direitos Humanos e cantora – avalia negativamente o Estado moçambicano pelo incumprimento das recomendações feitas ao nosso Estado pelos seus pares, durante o 1° ciclo, em 2011, do Mecanismo de Revisão Periódica Universal (MRPU), um processo levado a cabo pelo Conselho dos Direitos Humanos das Nações Unidas (CDH). Dentre as recomendações feitas ao Estado moçambicano, em Genebra, estão as atinentes aos direitos das minorias sexuais, com particular destaque para o registo cont. pág 6 JORNAL DA COMUNIDADE LGBT DE MOÇAMBICANA AS CORES DO AMOR 6 DESTAQUE MAIO 2016 da Associação LAMBDA, que tem o pedido de registo encalhado há mais de 7 anos, no Ministério da Justiça. A jurista fez este pronunciamento durante uma entrevista exclusiva concedida ao boletim informativo da LAMBDA, Cores do Amor, onde explicou também sobre o processo de Revisão Periódica Universal das Nações Unidas, seus objectivos, grau de implementação das recomendações pelo Estado e o papel desempenhado pelas organizações da sociedade civil, neste processo. “O Mecanismo de Revisão Periódica Universal (MRPU) do Conselho dos Direitos Humanos das Nações Unidas (CDH) é um processo de avaliação sobre o grau de implementação dos Direitos Humanos feito pelos outros Estados membros das Nações Unidas, com vista à melhoria da situação dos Direitos Humanos nos países membros desta organização internacional”, explicou. Ivete Mafundza considera que é bonito quando se ouve dizer que Moçambique é um país que assinou o Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos, a Convenção Contra Todas as Formas de Discriminação Contra a Mulher, outrossim que Moçambique é subscritor da Convenção dos Direitos da Criança. Mas: “Esta é apenas a parte política, onde os Estados assinam estes protocolos, daí que é mais importante ainda a fase da implementação destes compromissos assumidos pelos Estados”, esclarece a activista. PRIMEIRA AVALIAÇÃO AO ESTADO – 2011 Ivete Mafundza, que participou do primeiro ciclo deste processo, em 2011, realizado em Genebra como parte da delegação da sociedade civil, entende que: “Há uma crítica que é feita a este processo, visto que a avaliação é feita entre os próprios Estados”. Para Mafundza, “Muitas vezes aquilo é uma palmada nas costas”, na medida em que aos Estados não se fazem “Perguntas muito difíceis, controversas, nem recomendações extremamente complicadas”, porque quando chega a vez do outro Estado, o mesmo pode acontecer. Ao mesmo tempo a activista reconhece que: “Pouco a pouco os Estados estão a ganhar a consciência de que não se pode deixar que as violações dos Direitos Humanos avancem pelo mundo inteiro e as organizações da sociedade civil têm feito um trabalho muito importante de lobby, junto dos Estados avaliadores de forma que suas preocupações sejam incluídas nas recomendações dos Estados e, por fim, sejam resolvidas”. De referir que as organizações da sociedade civil apresentaram um relatório paralelo denominado: “Relatório Sombra”, onde constam as questões mais candentes de violação de Direitos Humanos e que se pretende ver sanadas. Segundo a activista, a avaliação que se fez ao Estado moçambicano pelos pares em Genebra, em 2011, foi mediana porque: “Moçambique tem feito algum esforço de não só legislar, mas também de implementar algumas políticas, normas”. Contudo, para a jurista ainda não é suficiente porque: “O nó de estrangulamento está na polícia, está nas cadeias, está na fiscalização da legislação, está na existência de normas, mas de um fraco cumprimento dessas mesmas normas”. NÃO PODEMOS SER UM PARAÍSO LEGISLATIVO NO PAPEL E UM INFERNO OU QUASE ISSO NA PRÁTICA “A análise é negativa!”. Mafundza esclarece que: “Já naquela altura, 2011, as organizações da sociedade civil denunciaram que o Estado moçambicano não estava a cumprir com as questões constantes das convenções relativas aos direitos das minorias sexuais (o registo da LAMBDA), violando, desse modo, os artigos 51 e 52 da Constituição da República de Moçambique, que garante a liberdade de associação e manifestação. Questionado pelos outros Estados membros sobre o assunto, Moçambique respondeu evasivamente, prometendo que iria cumprir até onde pudesse, dentro daquela que é a sua soberania. Iria analisar e ver no que iria cumprir. Recordo-me muito bem disso. E desde então até hoje a situação mantém-se”. A activista argumenta que a avaliação é negativa porque: “Não podemos ser um paraíso legislativo no papel e um inferno ou quase isso na prática”. Para esta activista, por não registar a LAMBDA, “o Estado moçambicano está a dizer que DESTAQUE MAIO 2016 reconhece determinadas pessoas, determinados tipos de pessoas, com determinadas orientações, e está a dizer que não reconhece as outras. Isso é uma grande discriminação”. Num outro desenvolvimento, a docente universitária disse que: “É uma pena que a LAMBDA não esteja até agora a levar o caso ao Tribunal, pois tem tudo para avançar”. “É uma vergonha para o Estado moçambicano. Este é um erro que o Estado está a cometer porque é o próprio Estado que não vê que está a perder pontos na dimensão nacional e internacional”, disse, reforçando o seu ponto de vista. Prosseguindo, Ivete defende que: “O Estado não pode ser moralista, porque este Estado reconheceu legalmente uma associação de mulheres trabalhadoras do sexo que têm os seus direitos salvaguardados na Constituição da República, mas não se entende a recusa do pedido da LAMBDA!”. Para a nossa entrevistada, “Não se trata de proteger as minorias sexuais. A questão é tentar perceber o que se passa. Se o Estado fizesse um trabalho, contactando experts que viessem explicar o que é a homossexualidade, o que é a heterossexualidade, o que é a assexualidade, quais são os diferentes tipos de sexualidade, género no mundo. Se se chamassem apenas um médico para explicar o que é que se passa do feminino ao masculino, o que é que há no meio. O Estado mudaria totalmente de ideia”. Para a activista, em algum momento é uma questão de desconhecimento e é complicado para um Estado que se diz estar a evoluir no âmbito dos Direitos Humanos. CONSEQUÊNCIAS DA RECUSA DO REGISTO “Eu acho que o impacto é aquele que todos nós já conhecemos, negação de personalidade jurídica a uma instituição que defende os seus direitos, isso põe em causa o princípio de liberdade de associação, e pôr em causa o princípio de liberdade de associação é falar do reconhecimento de determinadas pessoas em detrimento de outras, o Estado não está a permitir que determinadas pessoas exerçam os seus direitos”, disse, acrescentando que: “As consequências são de vária ordem. Desde psicológicas, económicas até sociais. Ou seja, as pessoas não estão a ser devidamente protegidas porque não estão organizadas, estão vulneráveis à discriminação até do Estado, de que estão a ser vítimas”. Para a activista, “Felizmente o povo moçambicano, tal como é chamado, é boa gente. Porque o que nós temos visto, se o cidadão moçambicano não gosta dos homossexuais, pelo menos tolera”. Ainda de acordo com esta activista, “Temos a Labiba e Lasanta que são muito acarinhadas. Fazem espectáculos, actuam em casamentos, quer dizer, elas têm o seu espaço e é preciso que tenham o seu espaço garantido e protegido”. “Não conheço muitas pessoas que já demonstraram abertamente a sua vida a dois, mas conheço alguns casais que saem juntos e ficam à vontade e o povo moçambicano olha, podem falar assim em surdina, mas simplesmente olham. Agora, se estas pessoas toleram porque a vida não é minha. A vida é deles, a intimidade é deles, quando o Estado vem e maldiz, menospreza, discrimina, está a transmitir uma mensagem para o povo que é uma mensagem de intolerância. E isto pode e está a afectar negativamente. E no meu ponto de vista, não é o Estado quem deve fazer isso. Pelo que é uma atitude errada e deve-se a todo o custo corrigir nem que seja por meios judiciais”, vincou Vale recordar que em Janeiro último, 4 anos depois, Moçambique voltou a ser avaliado pelos seus pares em Genebra e novamente a tónica incidiu sobre o registo da LAMBDA, incluindo a criação de condições de um ambiente favorável para a livre expressão da orientação sexual e identidade de género, o que se aguarda a posição do Estado moçambicano, se acolhe ou não as recomendações ■ JORNAL DA COMUNIDADE LGBT DE MOÇAMBICANA 7 8 AS CORES DO AMOR ENTREVISTA lambda É PARTE DA NOSSA NAÇÃO SERMOS PROGRESSISTAS, SERMOS TOLERANTES E ACEITAR PESSOAS QUE AMAM OUTRAS PESSOAS D e acordo com a embaixadora do Reino dos Países Baixos, em Moçambique, Pascalle Grotenhuis, o tabu à volta da homossexualidade foi ultrapassado há muitos anos no seu país. Segundo a embaixadora, “É parte da nossa nação sermos progressistas, sermos tolerantes e aceitar pessoas que amam, independentemente do sexo. É óbvio que nós também progredimos. Em 2000, fomos o primeiro país do mundo a aceitar relações entre pessoas do mesmo sexo. Isso me orgulha!” A entrevista teve lugar na sede da Embaixada do Reino dos Países Baixos, em Outubro de 2015, onde a nossa equipa foi recebida com Pascalle Grotenhuis, Embaixadora do Reino dos Países Baixos, em Moçambique. IMAGEM: LAMBDA gentileza pela embaixadora e sua equipa, um sinal inequívoco das excelentes relações entre as duas instituições que já juntas trabalham desde a constituição da LAMBDA. Um apoio que se revelou e continua a ser imprescindível para o desafio e esforços empreendidos por esta organização de defesa e promoção dos direitos das minorias sexuais. ENTREVISTA lambda Durante a entrevista, a embaixadora falou também sobre os avanços e a situação dos Direitos Humanos [das minorias sexuais] no país, bem como sobre a relação com a LAMBDA. De acordo com a embaixadora, os Direitos Humanos ocupam um lugar de relevo nas relações bilaterais com Moçambique, uma relação que já existe antes da independência em Moçambique, sendo com base em respeito pelas liberdades e Direitos Humanos. Actualmente, o Reino dos Países Baixos apoia vários projectos em que se destacam as áreas de igualdade de género, saúde sexual e reprodutiva, democracia e economia inclusiva. Instada a embaixadora a comentar sobre o estágio dos Direitos Humanos das minorias sexuais, referiu que: “Estou em Moçambique há apenas 3 meses, então ainda estou a aprender. Tenho conversado com muitas pessoas de modo a perceber bem o cenário. Mas, ainda assim, vejo alguns exemplos positivos. Vejo que Moçambique já assinou vários tratados sobre os Direitos Humanos, por exemplo a Lei do Trabalho diz que os homossexuais não podem ser discriminados”. Para a embaixadora, em Moçambique o que existe são boas intenções manifestadas através de leis, mas as práticas precisam ainda muito de ser melhoradas. “Vejo que existe uma distância entre a teoria e a prática. Existe ainda alguma discriminação contra alguns grupos minoritários”. Grotenhuis disse ainda que tem acompanhado com muita preocupação as notícias sobre violência contra os albinos, como também sobre os casamentos prematuros; e que, por isso, há muito trabalho a ser feito e a Embaixada está disponível para ajudar nesse processo. Relativamente a acções que possam concorrer para a mudança de comportamentos, práticas e atitudes em relação à discriminação contra os homossexuais, e não só, em qualquer contexto, a embaixadora defende que o primeiro passo é a criação de espaços onde os jovens possam falar de forma transparente sobre assuntos candentes. “Eu acho que o que é realmente importante, e que é o começo, é a criação de um espaço aberto onde os jovens possam ser educados sobre a sexualidade, sobre relacionamentos entre pessoas do mesmo sexo, sobre os casamentos precoces, sobre os males da discriminação. E esse espaço é a escola, é a comunidade”. Para a embaixadora, só o diálogo pode criar um ambiente tolerante às diferenças, “O diálogo transparente é a base para resolver qualquer problema”. Ainda no que toca à tolerância, Pascalle Grotenhuis comparou a reacção do seu avô quando soube da orientação sexual do seu tio gay a reacção dos seus filhos a informações similares, dizendo: “Eu tenho um tio gay, e eu ainda me lembro que o meu avô, já falecido, ficou muito chocado quando descobriu. Foi um grande choque para ele, nós somos de uma pequena vila. Hoje quando olho para os meus filhos, três gerações depois, vejo que para eles é completamente normal. Eles têm amigos com pais homossexuais. É possível ver que, por um lado, é uma questão de gerações e, por outro lado, um contraste entre a vida no campo e na cidade”. No que tange ao estágio dos Países Baixos relativamente aos direitos das minorias sexuais, à aceitação dos relacionamentos entre pessoas do mesmo sexo, Pascalle Grotenhuis referiu-se nos seguintes termos: “Eu acho que é incrível! Deixa-me orgulhosa. Desde o ano 2000, os casamentos entre pessoas do mesmo sexo são legais, fomos o primeiro país do mundo a legalizá-los e temos visto muitos outros países a seguirem o nosso exemplo. É um legado dos Países Baixos e eu acho que é parte do nosso DNA [risos]. A Holanda é um país de referência para a comunidade LGBT a nível mundial, em cada cidade há bares gays, organizações LGBT”. Ainda no que concerne ao compromisso daquele país europeu com a questão dos direitos fundamentais das minorias sexuais, Pascalle Grotenhuis disse que o Governo do seu país tem um embaixador de Direitos Humanos que lida com todas as matérias relacionadas, “Para nós tornou-se tão normal, muitos dos meus colegas nos serviços diplomáticos são gays e são casados. Eu não sei se nós temos muitas mulheres lésbicas no serviço diplomático no estrangeiro, mas temos um grupo focal especial dentro dos serviços diplomáticos que é muito forte.” cont. pág 10 JORNAL DA COMUNIDADE LGBT DE MOÇAMBICANA 9 10 AS CORES DO AMOR ENTREVISTA lambda É PRECISO CONTAR HISTÓRIAS POSITIVAS DE HOMOSSEXUAIS Para a embaixadora, a LAMBDA deve trabalhar de forma a dar visibilidade a histórias da vida de pessoas homossexuais. “É preciso contar histórias positivas de homossexuais que vivem em Moçambique, precisa-se de informação positiva sobre homossexuais e a homossexualidade. “Eu acho que só assim se pode contribuir para a abertura da sociedade”. Para Grotenhuis, é também preciso garantir informação correcta para os jovens gays “porque é difícil quando os jovens descobrem-se gays e não têm informação”. Pascalle Grotenhuis, Embaixadora do Reino dos Países Baixos, em Moçambique. IMAGEM: LAMBDA Ao mesmo tempo a embaixadora refere que: “É importante respeitar o contexto cultural de cada país, entretanto é também preciso pensar no assunto. Estamos num país que tem o seu contexto, mas é preciso encontrar a melhor maneira de disseminar a vossa mensagem, é preciso muita educação, talvez o melhor não seja dar conferências públicas, mas falar com os ministros, organizações e outras pessoas sobre o assunto. Na Holanda, faz-se assim” ■ ENTREVISTA lambda Roberto Paulo, Oficial de Mobilização Comunitária, Saúde e HIV, da LAMBDA IMAGEM: LAMBDA OS VALORES DE ALGUMAS PESSOAS SOBREPÕEM-SE ÀS SUAS OBRIGAÇÕES LABORAIS Assim reagiu Roberto Paulo, oficial de Mobilização Comunitária, Saúde e HIV, da LAMBDA, durante a entrevista realizada em Fevereiro último, em Maputo, quando questionado sobre que tipo de constrangimentos a organização tem enfrentado no âmbito da implementação do programa de formação de Agentes Comunitários que têm em vista dar resposta ao HIV, no seio da população de homens que fazem sexo com homens (HSH), um programa que a LAMBDA tem estado a implementar em oito (8) províncias do país, des- de 01 de Julho de 2015. De acordo com o nosso entrevistado, “Há segmentos que tendem a tomar decisões baseadas nos seus valores morais, ignorando todas as evidências e informação resultante de pesquisas que é feita e divulgada” “Não temos apenas constrangimentos ligados a recursos financeiros, mas é preciso dizer que, às vezes, temos situações em que os valores morais de algumas pessoas sobrepõemse às suas obrigações laborais”. Como isso se manifesta? “Temos situações em que, por exemplo, alguém que responde por um sector numa província recebe um ofício, um convite para uma actividade, mas porque essa pessoa coloca os seus valores religiosos, culturais ou morais em frente, acaba não respondendo profissionalmente”, JORNAL DA COMUNIDADE LGBT DE MOÇAMBICANA 11 12 AS CORES DO AMOR ENTREVISTA lambda esclarece. “Quer dizer, se eu sou uma pessoa homofóbica, contra a homossexualidade, e recebo um convite para participar ou indicar um colega para participar de uma formação sobre direitos das minorias sexuais, logo vou julgar com base nas crenças e valores que eu defendo e simplesmente não vou como também não indico ninguém para participar da formação”, continuou o nosso interlocutor, acrescentando que: “Os meus valores como indivíduo vão sobrepor-se às minhas obrigações e acabam criando prejuízo num programa que à luz das minhas obrigações profissionais não devia ter agido assim”. “Às vezes, temos percebido que alguns dirigentes da área da Saúde posicionam seus valores morais em frente e não as evidências de estudos que todos temos acesso”, realçou Roberto Paulo, apresentando como exemplo a directriz de apoio às populações-chave, que foi engavetada no Ministério da Saúde. “Já há estudos nacionais e internacionais feitos por universidades de grande renome e as evidências mostram que para fazer recuar o HIV e SIDA é preciso que haja intervenções nessas populações. E esses estudos estão disponíveis, mas há segmentos que tendem a tomar decisões baseadas em seus valores culturais e/ ou morais, ignorando todas as evidências e informação resultante de pesquisas que é feita e divulgada”, atestou. De acordo com o nosso entrevistado, ao treinar Agentes Comunitários em matérias de HIV e SIDA, incluindo a questão dos Direitos Humanos, a LAMBDA contribui na resposta às necessidades da comunidade de homens que fazem sexo com homens em matérias ligadas à saúde. Uma vez tratar-se de um grupo estigmatizado e vulnerável a infecções de transmissão sexual, espera-se ainda que os agentes saibam sensibilizar os seus pares para adopção de práticas sexuais seguras, falar correctamente sobre ITS, HIV, e garantir que a comunidade HSH tenha acesso a insumos de prevenção tais como o preservativo e gel lubrificante à base de água, fornecidos pela LAMBDA. “Este programa iniciou em Julho de 2015 e é financiado pelo Fundo Global. Através deste programa, a LAMBDA pretende, até 2017 – ano previsto para o término do projecto – alcançar cerca de 6000 HSH – homens que fazem sexo com homens, nas oitos (8) províncias onde o mesmo é implementado”, referiu Roberto Paulo, elucidando sobre quando é que se considera que um determinado beneficiário foi alcançado: “É aquele que, pelo menos duas vezes, tenha contactado um agente comunitário”. Entretanto, Roberto Paulo esclarece que: “Afigura-se importante que o beneficiário tenha um contacto contínuo com o agente de forma a beneficiar-se de insumos de prevenção a longo prazo e aconselhamento em maté- rias de HIV e SIDA”. É UMA PENA QUE AS FORMAÇÕES SEJAM MUITO CARAS Falando sobre o custo das formações, sem, no entanto, informar sobre os números envolvidos, o nosso entrevistado referiu que as mesmas consomem parte considerável do valor alocado, o que, por uma questão de estratégia, a “LAMBDA tem estado a incluir, nas formações, os provedores de Saúde, que são os médicos, os enfermeiros e o pessoal de aceitação, sendo o pessoal de aceitação os responsáveis pela abertura da ficha do doente, o servente”. Continuando, Roberto Paulo justifica que: “Decidiu-se incluir o pessoal de aceitação porque muitas vezes para ter acesso ao médico depende-se muito do que o paciente vai encontrar em termos de aceitação com o servente e se for um servente homofóbico ou que não tenham informação sobre identidade de género e o paciente seja uma mulher ou homem transgénero, por exemplo, o servente vai pegar no Bilhete de Identidade (BI) do paciente e questionar sobre o nome do BI e o traje do paciente e, em algum momento, o paciente sentir-se-á mal acolhido porque falta informação daquele profissional, o que pode não retornar à unidade sanitária”. Roberto Paulo diz ainda que: “Os membros da comunidade têm informado sobre este tipo de questões, daí que a LAMBDA decidiu, estrategicamente, incluir estes profissionais e os próprios provedores nas formações e os mesmos têm-nos aconselhado a aumentar o número de pessoas treinadas”. ENTREVISTA lambda Para Roberto Paulo, “Quando no fim da formação um enfermeiro diz muito obrigado pela formação e que seria bom se mais colegas meus passassem por uma formação igual, é sinal de reconhecimento de que, se calhar, algumas atitudes discriminatórias que os membros da comunidade reportam das unidades sanitárias acontecem por falta de informação”. Na sequência da mesma questão, o nosso interlocutor entende que muitos profissionais de Saúde não têm informação sobre questões como identidade de género e orientação sexual, referindo que: “Se eu passei por um curso de enfermagem e ninguém me disse que nem todas as pessoas que nascem com genitálias masculinas é porque têm identidade de homem ou o contrário, significa que estas pessoas têm de aprender isso em algum sítio e é natural que reajam com alguma estranheza quando recebem nos seus consultórios, algum paciente trajado de forma contrária àquilo que são as expectativas sociais”. “É preciso perceber que as pessoas precisam destas informações. É uma pena que estas formações sejam muito caras, o que torna difícil para a LAMBDA aumentar o número de pessoas treinadas, porque não temos recursos para isso. É por isso que temos estado empenhados em acções de advocacia para que estas necessidades sejam incorporadas nos planos do Ministério da Saúde”, rematou o nosso entrevistado. DIÁLOGO COM O MINISTÉRIO DA SAÚDE No que respeita ao diálogo já iniciado com o Governo, concretamente com o Ministério da Saúde, o nosso interlocutor diz já ter sido elaborada uma directriz que vai garantir a provisão de serviços de saúde amigáveis às populações-chave, sendo que se aguarda neste momento a sua aprovação. “Apesar de se reconhecer a importância da sua aprovação, a mesma anda encalhada no ministério de tutela, lamenta Roberto Paulo, garantindo que já foi elaborada a directriz para atendimento amigável às populações-chave, pelo que aguardamos a sua aprovação pela ministra, mas como sabe, instrumentos como esses – que mexem com sensibilidades de alguns segmentos do nosso Governo – acabam ficando encravados nas gavetas do ministério. Esperamos que seja aprovado porque à luz da tal directriz ficou estabelecido que vai ser responsabilidade do Ministério da Saúde garantir que as pessoas vão para os cursos de medicina, enfermagem e aprendam sobre questões ligadas à identidade de género e orientação sexual e que não sejamos nós, LAMBDA, uma pequena organização da sociedade civil, a ter que mobilizar recursos para treinar enfermeiros que, em princípio, já deviam aprender sobre esses conteúdos nos seus cursos de formação”. Quisemos saber das expectativas em relação ao projecto que, segundo o nosso entrevistado, têm metas ambiciosas. Roberto Paulo prosseguiu: “Espero honestamente podermos estar a contribuir para elevar o nível de consciência pública sobre os direitos e liberdades, ou seja, que até 2017, tenhamos conseguido mudar significativamente o ambiente que se vive no país, no que respeita à questão do acesso à saúde para a população de homens que faz sexo com homens”. Para o nosso entrevistado, “Apesar de em Moçambique não se reportaram casos de violência física, temos ainda muitos problemas ligados à discriminação decorrente da identidade de género e orientação sexual e, por isso, espero que, com este programa, possamos conseguir alcançar os resultados programados e que mais pessoas tenham acesso a insumos de prevenção. Que as pessoas, no geral, saibam o perigo que representam as diferentes práticas e como prevenir-se” ■ JORNAL DA COMUNIDADE LGBT DE MOÇAMBICANA 13 14 NOTÍCIAS lambda IMAGEM: GOOGLE “É POSSÍVEL QUE ÁFRICA SE TORNE MENOS HOMOFÓBICA AO LONGO DO TEMPO”, REFERE RELATÓRIO DO AFROBARÓMETRO O s jovens africanos e mais instruídos tendem a ser mais tolerantes para com os homossexuais do que os cidadãos africanos mais velhos e menos instruídos”, indica o relatório do Afrobarómetro sobre Tolerância em África, proveniente da 6ª Ronda (2014/2015), lançado a 01 de Março, em Maputo. Realizado em 33 países africanos com uma amostra de 5400 pessoas e um nível de confiança de 95%, o documento refere que: “Existe uma ligação entre tolerância para com os homossexuais e a idade e níveis de instrução dos inquiridos”. NOTÍCIAS lambda Para a equipa do Afrobarómetro, “Embora as actuais atitudes dos africanos sejam em grande parte negativas, é possível que África se torne progressivamente menos homofóbica ao longo do tempo”. O inquérito foi realizado considerando cinco indicadores onde se destacam educação e proximidade aos meios de comunicação social como os principais catalisadores do aumento da tolerância no continente africano. Segundo o documento em alusão, “A grande maioria dos países africanos são intolerantes em relação aos cidadãos homossexuais. Entre os 33 países, uma média de 78% dos inquiridos dizem que: “Não gostariam nada” ou “Não gostariam tanto” de terem um vizinho homossexual. Ao mesmo tempo, o documento refere que: “Nem toda a África é homofóbica. A maioria, em quatro países (Cabo Verde, África do Sul, Moçambique e Namíbia) e mais de quatro em cada 10 cidadãos em três outros países, gostariam ou não, se importariam de ter vizinhos homossexuais”. em África é que a maior parte dos cidadãos são intolerantes às pessoas diferentes – quer essa diferença seja baseada na etnia, religião, nacionalidade, filiação política ou orientação sexual. Contudo, as respostas às diferentes perguntas do Afrobarómetro sobre tolerância sugerem que esta generalização seja incorrecta. REGISTO DA LAMBDA PENDENTE Apesar de o inquérito do Afrobarómetro referir que em Moçambique a maioria dos cidadãos expressa aceitação e ou não se importa em ter vizinhos que sejam homossexuais, aliado ao facto de, em 2014, o país ter despenalizado a homossexualidade com a entrada em vigor do novo Código Penal, a LAMBDA, única organização LGBT do país, continua há mais de 7 anos com o pedido de registo da organização pendente no Ministério da Justiça. Na senda dos resultados do inquérito do Afrobarómetro, importa referir que o estudo “Atitudes perante a Homossexualidade nas cidades de Maputo, Beira e Nampula”, levado a cabo pela LAMBDA, em 2013, refere que: “Há uma tendência entre a população em tolerar ou aceitar as práticas entre os homossexuais quando se trata de um indivíduo não próximo das suas relações sociais”. De acordo ainda com o mesmo estudo, os inqueridos mostraram-se indiferentes, aceitam e/ou toleram quando são figuras como médicos, professores etc., mas quando se trata do(a) filho(a) que assuma essa identidade, a tendência é fazer com que o(a) mesmo(a) mude de ideias. Em termos percentuais, os dados indicam que esta afirmação é verdadeira para cerca de 32.2% das pessoas em Nampula e 29.4% na cidade da Beira. A cidade de Maputo foi a única em que a maior parte (37.9%) dos entrevistados respondeu que aceitaria ter um filho que admitisse publicamente ser homossexual em detrimento dos que fariam mudar de ideia (23%) ■ De acordo com o mesmo documento, entre os 33 países, a grande maioria dos cidadãos africanos mostram uma elevada tolerância a pessoas de grupos étnicos diferentes (91%); às pessoas de religiões diferentes (87%), aos imigrantes (81%) e às pessoas portadoras de HIV/ SIDA (68%). Uma narrativa comum JORNAL DA COMUNIDADE LGBT DE MOÇAMBICANA 15 16 AS CORES DO AMOR NOTÍCIAS lambda REALIZADO EM JOANESBURGO AUTORIDADES MOÇAMBICANAS GAZETAM SEMINÁRIO REGIONAL SOBRE VIOLÊNCIA E DISCRIMINAÇÃO BASEADA NO GÉNERO Particinpantes do Seminário IMAGEM: LAMBDA A s autoridades moçambicanas, nomeadamente o Ministério da Justiça, Assuntos Constitucionais e Religiosos e a Comissão Nacional dos Direitos Humanos – CNDH, gazetaram o primeiro seminário regional (zona austral) sobre Violência e Discriminação baseada no Género Contra cidadãos LGBT - Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transexuais, realizado na primeira semana de Março (03 a 05), na cidade sul-africana de Joanesburgo. Organizado pela Comissão Nacional dos Direitos Humanos da África do Sul e com o apoio do Governo local, o mesmo teve como mote encontrar soluções práticas para enfrentar a violência e discriminação baseada no género contra pessoas homossexuais, o seminário surge como seguimento à Resolução 275, aprovada pela Comissão Africana dos Direitos Humanos e dos Povos na sua 55ª sessão, realizada nos meses de Abril e Maio de 2014. Entretanto, para o activista Danilo da Silva, que participou do evento na qualidade de único representante moçambicano, em representação à LAMBDA, disse que: “Apesar dos enormes entraves que ainda limitam o exercício de direitos e liberdades por parte dos cidadãos LGBT, nos países da região e não só, o NOTÍCIAS lambda seminário constituiu um marco histórico e é também uma vitória para o movimento LGBT regional, considerando que o mesmo teve suporte do governo o sul-africano, o que elucida o nível de preocupação em relação ao impacto e malefícios da violência contra cidadãos LGBT. Por outro lado, Danilo da Silva lamentou pelo facto de as autoridades moçambicanas não se terem feito presente no evento, o que é também revelador do nível de preocupação sobre a matéria. Na sua intervenção de abertura, Michael Masutha, Ministro da Justiça e Serviços Correccionais da África do Sul, referiu que o governo sul-africano está atento e a trabalhar na estratégia produzida em 2014, para dar resposta à violência baseada no género contra os LGBT, “Condenamos a violência e outras violações dos Direitos Humanos, incluindo assassinatos, estupros, assaltos Particinpantes do Seminário IMAGEM: LAMBDA e outras formas de perseguição de pessoas com base na sua orientação ou identidade de género”. De acordo com o ministro, “O governo sul-africano tem demonstrado compromisso através da estratégia de intervenção lançada em 2014, com a qual já foi possível condenar em 30 anos de prisão o assassino [violador correctivo] da jovem Duduzile Zozo. Para o ministro, a condenação do assassino de Duduzile: “É uma evidência clara da postura agressiva adoptada pelo sistema judicial sul-africano”. Durante o seminário as discussões estiveram centradas em temas relativos à defesa para a reforma legislativa e política, incluindo o combate à violência por meio da educação e da política, usando os tribunais e processos judiciais para resolver crimes de ódio [homofobia] perpetrados contra os LGBT nos países da região austral, também foi produzida uma declaração que deve ser partilhada com as autoridades dos países da região. Incluindo a África do Sul, também participaram do seminário os representantes das repúblicas do Lesoto, Tanzânia e Botswana ■ JORNAL DA COMUNIDADE LGBT DE MOÇAMBICANA 17 18 AS CORES DO AMOR NOTÍCIAS lambda DURANTE O EVENTO ALUSIVO AO DIA INTERNACIONAL DAS MULHERES COMUNIDADE LGBT JUNTOU-SE ÀS FESTIVIDADES E REITEROU APOIO À LUTA DAS MULHERES Visitantes do stand da LAMBDA durante a feira. IMAGEM: LAMBDA A LAMBDA – Associação Moçambicana para Defesa das Minorias Sexuais - em formação, participou no dia 05 de Março do corrente ano, no espaço da FEIRA Municipal de Flores, Gastronomia e Artesanato (FEIMA), em Maputo, subordinado ao tema: “No Caminho da Igualdade”, evento enquadrado NOTÍCIAS lambda nas comemorações do Dia Internacional da Mulher que se celebra a cada dia 8 de Março de cada ano. Organizada pelo Ministério do Género, Criança e Acção Social (MGCAS), em parceria com a Delegação da União Europeia em Maputo, o evento foi corporizado por palestras, concertos musicais, declamação de poesia, onde o momento mais alto foi marcado pela apresentação de performances de canto e dança protagonizados por Drags, Bruna Tatiana, Kyria e Susher, em representação à LAMBDA, um momento bastante aplaudido pelo público presente como também registado em vídeos e fotografias. Ainda no palco, Susher aproveitou a oportunidade para dizer parabéns às mulheres pela efeméride, reiterando que a LAMBDA apoia e identifica-se com a luta pela igualdade. Entretanto, antes do espectáculo musical a agenda foi preenchida por debates todos em torno de temas ligados à mulher, subordinados aos seguintes temas: Mulher e o meio ambiente; A prevenção do casamento prematuro; O atendimento às vítimas de violência baseada no género e O empoderamento da Mulher. E foi no terceiro painel que o jornalista e também activista dos Direitos Humanos, Samuel Matusse, interveio questionando sobre a violência contra mulheres lésbicas, que, para o jornalista, não acontece apenas no seio familiar, mas também na escola e no trabalho. Segundo Samuel Matusse, “É preciso que ao reflectir-se sobre a violência baseada no género a questão das mulheres lésbicas não seja marginalizada”. De acordo com o comunicado da União Europeia, “A igualdade de género é fundamental para uma sociedade justa e próspera. Não é apenas uma questão de Direitos Humanos, democracia e boa governação. É também essencial para o crescimento económico e o desenvolvimento sustentável de um país. É positivo para todos”. A par de outras organizações da sociedade civil que participaram do evento, os activistas da LAMBDA estiveram empenhados na distribuição de materiais informativos, insumos de prevenção, materiais da campanha “Diferentes, mas iguais” e explicação sobre o trabalho da LAMBDA, objectivos, visão e missão da organização. As actividades referentes às comemorações do dia Internacional da Mulher decorreram de 5 de Março e prolongaram-se até ao dia 12 do mesmo mês “No Caminho da Igualdade”, evento enquadrado nas comemorações do Dia Internacional da Mulher que se celebra a cada dia 8 de Março de cada ano. Visitantes do stand da LAMBDA durante a feira. IMAGEM: LAMBDA JORNAL DA COMUNIDADE LGBT DE MOÇAMBICANA 19 20 AS CORES DO AMOR NOTÍCIAS lambda após o êxito da sua campanha para obter a descriminalização da homossexualidade em Junho passado. O código penal revisto retirou uma cláusula da era colonial que bania “vícios contra a natureza”. Na publicação em referência, lê-se ainda que Moçambique é conhecido por ter uma atitude mais relaxada à homossexualidade do que em alguns outros países africanos, todavia a falta do registo da LAMBDA [pendente há mais de 7 anos no Ministério da Justiça], única organização dos direitos dos LGBT no país, impede que a organização se beneficie de outros direitos previstos na Lei, o que seria mais um passo para a aceitação da comunidade gay, no país. Activista na campanha da LAMBDA IMAGEM: LAMBDA DEPOIS DO THE NEW YORK TIMES JORNAL BRITÂNICO THE GUARDIAN DESTACA TRABALHO DA LAMBDA O jornal britânico The Guardian destacou, na sua edição digital de 10 de Fevereiro de 2016, o trabalho da LAMBDA ao incluir Moçambique numa lista de 5 outros países que a nível mundial têm avançado em matéria dos direitos LGBT. Segundo aquele jornal, a comunidade gay de Moçambique teve muito que comemorar em 2015, De recordar que ainda em Janeiro do presente ano, o jornal norteamericano The New York Times também destacou o trabalho da LAMBDA, citando-a como uma organização que tem contribuído no combate ao estigma sobre a homossexualidade em todo o país. Além de Moçambique, o The Guardian listou a Colômbia, o Nepal, a Jamaica, o Taiwan e o Vietname, como países que têm vivido mudanças legais e sociais favoráveis à livre expressão das diversas orientações sexuais e identidades de género ■ ... lambda JORNAL DA COMUNIDADE LGBT DE MOÇAMBICANA 21 22 AS CORES DO AMOR NOTÍCIAS lambda NAIR BASTOS VESTIU “DIFERENTES, MAS IGUAIS”, CAMPANHA DA LAMBDA A apresentadora de televisão, TVM, Nair Bastos, vestiu em Dezembro último a camiseta da campanha de advocacia da LAMBDA, denominada “Diferentes, mas iguais”. O facto deu-se no dia 10 de Dezembro, dia Internacional dos Direitos Humanos. Nair Bastos apresentou o programa “Alta Tensão” da data em referência, trajando a camiseta desta campanha incentivada pelo jovem estilista Ka- mana Félix. De acordo com Kamana, o dia 10 de Dezembro foi uma data oportuna para costumizar uma camiseta da LAMBDA e vestir a apresentadora como forma de promover o seu trabalho, mas também enviar uma mensagem contra a discriminação contra as minorias sexuais, no país Nair Bastos, Apresentadora de televisão, TVM, vestiu em Dezembro último a camiseta da campanha de advocacia da LAMBDA IMAGEM: LAMBDA “Diferentes, mas iguais” surge em resposta ao estigma e preconceito a que as pessoas LGBT – Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transexuais, estão sujeitas na sociedade moçambicana ■ NOTÍCIAS lambda NA CIDADE DA BEIRA COMUNIDADE LGBT JUNTOU-SE À MARCHA CONTRA TRÁFICO DE ALBINOS M embros e activistas da comunidade LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transexuais) residentes na cidade da Beira participaram, em Janeiro último, de uma marcha contra o tráfico de albinos, uma iniciativa levada a cabo pela organização PNDH - Pressão Nacional dos Direitos Humanos realizada em parceria com a Associação de Albinos, delegação de Sofala. Realizada sob o mote “Abaixo o tráfico de pessoas com problemas de pigmentação da pele”, e com objectivo de sensibilizar a sociedade sobre a necessidade de se pôr fim à onda de sequestros e assassinatos perpetrados contra cidadãos albinos. A mesma esteve enquadrada no âmbito das actividades de promoção dos Direitos Humanos. Do evento, participaram pouco mais de quatro centenas de pessoas com destaque para representantes do governo provincial, do gabinete do edil da cidade, representantes de organizações da sociedade civil e cidadãos no geral, onde, na sua maioria, empunhavam dísticos com mensagens de apelo ao fim do tráfico de pessoas albinas. “De forma geral, a nossa participação foi positiva”, disse Micky Beula, assistente Provincial da LAMBDA, na cidade da Beira. Para Micky Beula, Comunidade LGBT marchando na Cidade da Beira IMAGEM: LAMBDA os albinos merecem ser tratados de forma igual a todos outros cidadãos, uma vez que não escolheram a sua condição. Lembrando que é tarefa de toda a sociedade velar pela sua segurança. Nesta, a LAMBDA fez-se representar com 13 activistas. Ao participarem desta marcha, a comunidade LGBT, em representação à LAMBDA, reafirmam o seu compromisso de combate não apenas contra a discriminação e violação de Direitos Humanos das minorias sexuais, mas, sim, o comprometimento com os direitos de todos os moçambicanos no geral ■ JORNAL DA COMUNIDADE LGBT DE MOÇAMBICANA 23 24 AS CORES DO AMOR NOTÍCIAS lambda MÃE, PAI, SOU GAY! S e algum dia ouvir estas palavras do seu filho ou filha, fique grato, pois elas representam um elevado nível de confiança! Muitas vezes falamos sobre o processo de descoberta e auto-aceitação das pessoas LGBT, mas é importante que se fale também do processo pelo qual pais e mães passam ao descobrir esta verdade sobre os seus filhos. O processo de auto-aceitação varia bastante de pessoas para pessoa, e tem influência de vários factores, sendo um dos principais o ambiente social e familiar em que está inserido. Após ultrapassar as barreiras de aceitação internas, os jovens Ilustração de uma famila IMAGEM: LAMBDA LGBT devem depois partilhar este segredo com a família e amigos, o que nem sempre é fácil. O estudo: “Atitudes perante a homossexualidade nas cidades de Maputo, Beira e Nampula”, realizado no ano de 2013, cita que: “Há uma tendência entre a população em tolerar ou aceitar as práticas entre os homossexuais quando se trata de um indivíduo não próximo das suas relações sociais”. O sentido generalizado de homofobia presente na nossa sociedade actual faz com que não só as pessoas LGBT sejam discriminadas e repreendidas, mas também as suas famílias e amigos; dificultando, assim, que estes tomem uma posição de apoio, por sentirem que “incentivam” algo que traz vergonha para a família e contribui para a desvalorização dos valores. Antes de tudo, é importante que perceba que a homossexualidade não é uma doença e de forma alguma deve ser motivo de vergonha. Informe-se, leia e reflicta. Procure entender o seu filho e esforce-se de modo a fortificar a confiança e amor NOTÍCIAS lambda que ele depositou em si ao contar-lhe que é homossexual. Entenda que a orientação sexual do seu filho é apenas uma fracção de quem ele é. Mantenha sempre em mente as outras qualidades que aprecia nele. Por não compreenderem bem a questão da homossexualidade, há pais que submetem os seus filhos a tratamentos (psicológicos, tradicionais e/ou religiosos). Esta é uma atitude de negação que tem efeitos bastante nocivos para o bem-estar dos seus filhos, podendo causar danos irreparáveis. Tentar perceber “Porquê o meu filho é homossexual?” poderá criar um sentimento de culpa virada para o pai ou mãe (“o que fiz de errado?”) ou para os outros, influências mais próximas (outros membros da família) ou mais distantes (mídia, amigos, etc.). Em Moçambique, há organizações que oferecem serviços de várias áreas, com profissionais preparados para ajudar-lhe com o que for necessário. Procure por este apoio, pois o ajudará a melhor desempenhar o seu papel e superar as suas dificuldades junto da sua comunidade. A LAMBDA é uma dessas organizações que fornece insumos, informação e apoio psicossocial e jurídico. Acesse ao website lambdamoz.org para mais informação ■ Não faz diferença saber porquê o seu filho é gay, esteja apenas presente, preste apoio e dê amor. Após solidificar o seu entendimento sobre a questão, prepare-se para ajudar o seu filho ou filha a enfrentar os demais. Como pai ou mãe deverá estar apto para expor o seu ponto de vista de forma positiva, apoiando sempre o seu filho ou filha. Use a sua posição para modificar atitudes, pois cada um pode ser um ponto de viragem nesta luta, por isso, em vez de afastar-se promova um diálogo informador. JORNAL DA COMUNIDADE LGBT DE MOÇAMBICANA 25 26 AS CORES DO AMOR NA PRIMEIRA PESSOA lambda “SER HOMEM GAY EM MOÇAMBIQUE NÃO É FÁCIL!” DANIEL MATE Daniel Mte IMAGEM: LAMBDA D evido à homofobia, as experiências de vida narradas na primeira pessoa por cidadãos homossexuais continuam ainda escassas em contextos adversos à livre expressão das identidades de género e orientação sexual. Ao mesmo tempo, há os que de peito aberto enfrentam as adversidades e rompem com a invisibilidade forçada de uma comunidade estigmatizada, vivendo de forma aberta a sua orientação sexual, como também dando a conhecer as suas experiências de vida, ajudando, assim, a diluir a concepção “generalizada” e estereotipada gerada à volta da homossexualidade e dos próprios homossexuais. Foi na esteira da auto-aceitação e desafio de ser homossexual em Moçambique que o activista LGBT, Daniel Mate, um homem que vive a sua orientação sexual de forma aberta, partilhou a sua história. A conversa teve lugar no mês que o mundo celebrou o 67° aniversário da Declaração Universal dos Direitos Humanos – (10 de Dezembro – 1948), Daniel Mate – membro da comunidade LGBT – [Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transexuais], que por reconhecer a crucialidade desta secção [Na primeira pessoa], para a comunidade de que é membro e não só, partilha com os nossos leitores a sua história de auto-aceitação e desafio de ser um homem gay num país em que o preconceito e a discriminação contra os homossexuais são ainda uma realidade no quotidiano destes cidadãos moçambicanos. Daniel Mate ou simplesmente Dany é estudante do curso de Psicologia Educacional, na Universidade Pedagógica, delegação de Maputo, é natural de Maputo, residente no bairro do Ferroviário, e à semelhança de muitos moçambicanos é oriundo de uma família humilde de tradição (religiosa) e é único homem de quatro irmãos. De acordo com Daniel Mate, “Ser homem gay em Moçambique não é fácil. Existem ainda muitas barreiras, o preconceito e a discriminação no seio familiar, no grupo de amigos, na sociedade no geral são ainda o maior desafio. NA PRIMEIRA PESSOA lambda Para Daniel, embora a homossexualidade não seja crime em Moçambique, nunca se está à vontade porque há sempre receio de qualquer coisa. São barreiras que muitos homossexuais vivem e sentem no dia-a-dia, é muito difícil abrir-se e dizer eu sou homossexual. Eu enfrentei essa luta!” O primeiro contacto de Daniel Mate com a LAMBDA foi numa festa da comunidade “Manas Party” que até hoje a LAMBDA organiza, onde a comunidade LGBT, e não só, encontra-se para confraternizar e reforçar os laços de amizade entre seus membros, de modo a fortalecer o sentimento de pertença da comunidade arco-íris. “Conheci a LAMBDA em 2009 na companhia de um amigo, desde então nunca mais me afastei da organização onde hoje sou membro. Graças ao apoio da LAMBDA, consegui assumir a minha orientação sexual para a minha família. Mas confesso que não foi fácil. as minhas experiências, particularmente com a minha mãe [ela tem sido uma super mãe]”. Referiu o nosso entrevistado quando questionado sobre a relação que mantém com a família, antes e depois de assumir a sua orientação sexual. Relativamente às experiências de discriminação, Daniel Mate diz que já foi vítima de discriminação e recorda-se com muita tristeza da noite em que um grupo de amigos foi impedido de entrar para um bar, algures na cidade de Maputo, “Foi há uns 5 anos, recordo-me, foi de noite num dos bares da cidade de Maputo, impediram uns amigos de entrar para o bar porque são homossexuais e que, por isso, não tinham o direito de frequentar aquele espaço. “Actualmente tenho uma relação estável com a minha família porque já todos sabem que sou homossexual, isso já há dois anos. Mas, antes não era fácil, porque como único filho homem, para mim era tudo muito difícil, não tinha com quem partilhar as minhas preocupações, para além das pessoas da comunidade. Mas, a partir do momento em que assumi para a família, passei a sentir-me mais à vontade em falar da homossexualidade e tenho partilhado JORNAL DA COMUNIDADE LGBT DE MOÇAMBICANA cont. pág 28 Daniel Mate IMAGEM: LAMBDA 27 28 AS CORES DO AMOR NA PRIMEIRA PESSOA lambda Então houve confusão e eu acabei intervindo, envolvendo-me numa discussão. Foi triste! Porque não imaginei que fossem impedir alguém de frequentar um determinado local por ser homossexual”. Daniel Mate partilhou ainda as dificuldades de ser homossexual na carteira da sala de aulas, na Universidade, “Nos dois primeiros anos foi muito triste porque nunca esperei que num espaço académico se cultivasse a discriminação, não esperava que estudantes tivessem uma mentalidade de exclusão. Em muitos momentos em que fôssemos falar sobre o tema da homossexualidade havia sempre piadas e estas não vinham apenas dos estudantes, alguns docentes também gozavam, faziam piadas. Daí que tive que ser muito forte porque não era fácil assumir-me naquele espaço enquanto faziam pouco dos homossexuais. Entretanto, Daniel disse ainda que: “Chegou uma altura em que já não dava importância às piadas e falava com maior abertura e segurança sobre a homossexualidade e a partir desse momento, alguns colegas que gozavam, que falavam mal dos homossexuais passaram a ter interesse sobre o assunto e outros ainda se aproximaram à LAMBDA para saberem melhor sobre a temática. Acrescentou ainda que a LAMBDA contribuiu muito para essa abertura, através de palestras que foi ministrando naquela instituição de ensino superior e que muitos membros da comunidade também deram testemunhos sobre suas experiências de vida. Em relação ao significado do dia 10 de Dezembro, dia Internacional dos Direitos Humanos, o nosso entrevistado disse: “Para mim, o dia 10 de Dezembro representa um dia muito importante, primeiro porque tenho a consciência dos meus direitos. E, segundo, porque é um dia de reflexão sobre os nossos direitos, sobre o nosso papel como cidadãos que lutam pelos seus direitos e também porque a Declaração dos Direitos Humanos surge para garantir a nossa dignidade como pessoas” ■ AS ESCOLHAS LARA LOPES AS ESCOLHAS DE… LARA LOPES PROFISSÃO: Consultora de Crédito Bancários UM PASSATEMPO: Ir ao cinema UM FILME: Boys dont cry - Kimberly Peirce UM LIVRO: “50 tons de cinza – Erika. Leonard James UMA MÚSICA: “Body 2 body (Ace Hood ft Chris Brown) UMA PEÇA DE TEATRO: A demissão do senhor so ministro (Gungu) UM PROGRAMA DE TELEVISÃO: Criminal Minds UMA VIAGEM: Natal (Fortaleza) UM OBJECTIVO: Me tornar numa referência para os direitos LGBT FÉRIAS IDEAIS: Tailândia UMA COR: Preto UM DESPORTO: Natação UMA EQUIPA: Sporting clube de Portugal O QUE NÃO SUPORTA VER NO MUNDO: Racismo UMA FRASE: “Quero dias diferentes, pessoas que me acrescentem, quero vida e muita alegria ao meu redor, quero luzes coloridas e brilhantes, quero paz, quero amor, quero a liberdade de saber quem eu sou!” (Ana Carolina) MAIOR ORGULHO: Ver minha mãe feliz pelo que eu sou e me tornei por esforço próprio UM ÍDOLO: Graça Machel JORNAL DA COMUNIDADE LGBT DE MOÇAMBICANA 29 30 AS CORES DO AMOR INTERNACIONAL LAMBDA NIKE RESCINDE CONTRATO MILIONÁRIO COM MANNY PACQUIAO, APÓS OFENSAS HOMOFÓBICAS Manny Pacquiao IMAGEM: GOOGLE M anny Pacquiao desculpou-se da declaração homofóbica sobre os homossexuais, manifestada em Fevereiro último. O pugilista afirmou que gays seriam “piores que animais” e depois usou as redes sociais para se desculpar. O novo posicionamento, porém, não foi aceite pela Nike, patrocinadora oficial do filipino. A empresa rescindiu com Manny Pacquiao e, em comunicado oficial, garantiu que os comentários do atleta são “detestáveis”. “Nós achamos os comentários de Manny Pacquiao detestáveis”. “A Nike opõe-se fortemente à discriminação de qualquer forma e tem uma longa história de apoio à comu- nidade LGBT. Nós não temos mais nenhum relacionamento com Manny Pacquiao” – lê-se no comunicado da Nike. A Nike patrocinava Pacquiao desde 2006. A polémica começou quando um vídeo, postado por uma televisão filipina, foi divulgado. A declaração causou revolta no seu país. Vice Ganda, um dos comediantes mais populares das Filipinas e assumidamente homossexual, usou as redes sociais para criticar Pacquiao. O pugilista que concorre a uma vaga no Senado [Parlamento] das Filipinas, voltou a dizer que é contra a união homossexual por conta de seus princípios religiosos, mas pediu desculpas à comunidade LGBT. “Eu peço desculpas por machucar pessoas ao comparar homossexuais a animais”. Continuou o pugilista: “Por favor, peço perdão àqueles que machuquei, eu vou continuar com a minha crença de que sou contra casamentos entre pessoas do mesmo sexo por conta do que a Bíblia diz, mas eu não estou condenando os LGBT”. Acrescenta ainda que: “Eu amo todos vocês com o amor do Senhor. Que Deus abençoe a todos e estou rezando por vocês”, disse, em vídeo publicado na sua página do Facebook ■ INTERNACIONAL LAMBDA escola representam uma perda para a sociedade. Todo o adulto gay ou lésbica que lhe é negado trabalho ou induzido a emigrar constitui uma oportunidade perdida”. A campanha “Free & Equal” foi lançada pela primeira vez pelo Escritório de Direitos Humanos das Nações Unidas em 2013 e lançou uma série de vídeos no passado, incluindo uma música que apela à igualdade de direitos ■ Imagem que simboliza pessoas livre e iguais IMAGEM: GOOGLE NAÇÕES UNIDAS AFIRMAM QUE HOMOFOBIA CUSTA BILHIÕES À ECONOMIA GLOBAL A campanha anti-discriminação LGBT das Nações Unidas “Free & Equal” – “Liberdade e Igualdade” lançou, na última quinzena de Dezembro de 2015, algumas estatísticas surpreendentes que mostram que a homofobia e transfobia ainda são um grande problema a nível mundial. As estatísticas estão apresentadas em forma de um vídeo, intitulado: “O Preço da Exclusão”, este centra-se no custo da discriminação a nível do mundo, financeiramente e para as pessoas que sofrem discriminação social e legal, devido às suas identidades sexuais e de género. “Para a sociedade, no geral, a homofobia representa um enorme desperdício do potencial humano, do talento, da criatividade e da produtividade que pesa sobre a economia. Além de tudo isso, refere-se também que os jovens lésbicas, gays e bissexuais são quatro vezes mais propensos a tentar o suicídio, com o aumento de dez vezes mais para jovens transexuais. “Não são apenas as pessoas LGBT que pagam o preço; todos nós pagamos. Todas as pessoas que são expulsas de casa ou forçadas a desistir da JORNAL DA COMUNIDADE LGBT DE MOÇAMBICANA 31 32 AS CORES DO AMOR INTERNACIONAL LAMBDA AFIRMAM BISPOS ANGLICANOS “HOMOSSEXUAIS SÃO MEMBROS DE PLENO DIREITO DA IGREJA” O s bispos anglicanos da África Austral declararam que os homossexuais são bem-vindos à Igreja como membros de pleno direito. O tema foi abordado numa carta pastoral de Thabo Makgoba, bispo do Cabo e líder anglicano para África Austral. A posição resulta do recente sínodo realizado em Fevereiro, onde estiveram reunidos clérigos da África do Sul, Angola, Moçambique, Namíbia, Lesoto e Santa Helena. A mesma foi histórica pela posição mais vincada da Igreja Anglicana, o apelo à integração, respeito e igualdade das pessoas, independentemente da orientação sexual”. DIFERENÇAS SOBRE O CASAMENTO ENTRE PESSOAS DO MESMO SEXO Por tratar-se de um tema fracturante, na carta o arcebispo Makgoba reconhece que os bispos da África Austral estejam ainda divididos sobre a matéria do casamento entre pessoas do mesmo sexo na igreja. Makgoba entende que as diferenças entre os bispos incidiram sobre a teologia do casamento e o resultado de realidades no terreno em diferentes dioceses. “Por exemplo, a maioria das nossas dioceses na região são predominantemente rurais, o que requer ainda algum preparo das comunidades”. Num outro desenvolvimento, o arcebispo Thabo Makgoba, que é também líder Momento de culto IMAGEM: GOOGLE da igreja na África do Sul, expressou sua determinação em tudo fazer para que não haja divisões profundas na igreja. “No passado tivemos muitas diferenças e elas não podem hoje não existir, mas não constituem “perigo de divisão da igreja”. Para Makgoba, as diferenças sobre a ordenação de mulheres, por exemplo, no passado foram ultrapassadas e o mesmo vai acontecer sobre a questão da aceitação de gays e lésbicas. “ Nós superamos profundas diferenças sobre a imposição de sanções contra o apartheid e sobre a ordenação de mulheres, e nós vamos ultrapassar sobre a sexualidade humana”, concluiu ■ ... LAMBDA JORNAL DA COMUNIDADE LGBT DE MOÇAMBICANA 33 A Associação LAMBDA, é uma organização (em formação) de cidadãos LGBT (lésbicas, gays, bissexuais e transexuais) moçambicanos que advogam pelo reconhecimento dos seus direitos. A nossa visão é uma sociedade onde os direitos humanos dos cidadãos LGBT são respeitados pelos cidadãos, garantidos por lei e assegurados pelo Estado. A nossa missão é liderar o movimento LGBT e mobilizar a sociedade tornando-a favorável a promoção e garantia dos direitos económicos, políticos e sociais dos cidadãos LGBT. Av. Vladimir Lenine 1323, telfax: 21 30 48 16, Cell: 84 38 92 967 , email: [email protected], Maputo, Moçambique