Ressonância Eletromagnética Quântica e Clássica D. Gioielli, R. Voivodic, V. Fernandes 1 algum parâmtro do sistema. Ou seja, em regime de ressonância, fornece-se ao sistema energia suficiente para que esse altere o sentido de seu spin, esse efeito de troca no sentido do spin será abordado em mais detalhes. Resumo Ressonância é um fenômeno vastamente estudado em física clássica para diversos sistemas oscilantes. Este experimento teve como objetivo o estudo de fenômenos de ressonância em nível quântico e sua comparação com sistemas ressonantes clássicos. Para tanto foi estudada a ressonância magnética nuclear (RMN) e a ressonância paramagnética eletrônica (ESR). No estudo do ESR foi medido o campo magnético necessário para se obter um sinal de ressonância da amostra de DPPH para diversos valores de frequência, a partir destes dados foi possível calcular o fator giroscópico característico (2,035±0,019). Para o estudo do RMN foi realizado um procedimento similar (para amostras de água, glicerina, poliestireno e teflon),a partir dos quais foram calculados os fatoresgiroscópicos característicos do Hidrogênio (5,62±0,16) e do Flúor (5,06±0,11). 2 2.1 2.3 Spin é uma característica intrínseca de partículas elementares, e também a manifestação dessas características em partículas maiores, compostas por partículas elementares, como por exemplo prótons e nêutrons(que são sabidamente compostos por quarks, segundo a teoria da física quântica). Fisicamente essa característica intrínseca das partículas, denominada spin, é um momento magnético intrínseco. Por esse motivo ele interage com campos magnéticos. Instrumentalmente o Spin é quarto número quântico que define uma partícula, e esse número é sempre inteiro ou uma fração. 2.4 Momento magnético paramagnético e nuclear Introdução O momento paramagnéticoé uma característica macroscópica da matéria que se dá pela soma dos spins dos elétrons desemparelhados na última camada dos átomos. Os elétrons das camadas eletrônicas dos átomos tem spin igual a ½, sendo assim podem assumir, segunda a teoria quântica, dois estados degenerados (que tem a mesma energia) ½ ou ½. Elétrons emparelhados em um mesmo orbital tem os spins complementares, e por isso a soma dos spins se anula e não acarreta nenhum fenômeno macroscópico, porém há átomos que tem um elétron desemparelhado na última camada eletrônica, esses átomos constituem os elementos paramagnéticos. A soma dos spins desemparelhados dos elétrons das substâncias paramagnéticas faz com que elas tenham um momento magnético total resultante. O momento magnético nuclear, por sua vez, diferentemente do momento paramagnético eletrônico, já é diretamente proveniente do spin nuclear, não necessitando de nenhum explicação teórica a mais. Ressonância Ressonância é um termo genérico, designado para descrever um regime particular de um sistema oscilatório, onde há uma faixa de frequências de oscilações, chamadas frequências de ressonância, nas quais o sistema oscila com amplitude máxima. Em física clássica essa descrição para ressonância é completa, porém ao pretender-se também englobar os fenômenos da física quântica, deve se permitir alterar alguns aspectos do conceito. 2.2 Spin A ressonância e a Física Quântica A ressonância pode se dar em sistemas descritos pelas teorias da física quântica, é o caso da maior parte do experimento em questão. Nesse experimento estudamos elementos da ressonância magnética eletrônica e nuclear. Em ambos os casos, o regime de ressonância se caracteriza pela troca do sentido da orientação do spin, ao invés de por amplitudes máximas em 1 2.5 Como, tanto k quanto valem ½ ou -½, o diferença de energias valem: Efeito Zeeman À temperatura ambiente esses momentos magnéticos são dispersos pela agitação térmica, ou seja, não estão orientados em nenhuma direção específica. Quando submetido porém a um campo externo, os momentos magnéticos individuais de cada átomo sofrem um torque dado pela expressão: ESR: (3) Bohr: (7) Frequência de Larmor Temos um regime portanto onde momentos magnéticos são submetidos a um campo externo, e ficam alinhados com o campo, porém é uma propriedade quântica que esses momentos magnéticos não ficam completamente alinhados com o campo, há portanto um ângulo do momento magnético com o campo externo, e ao redor desse campo há uma precessão do momento magnético, conforme mostrado na imagem que se segue: Figura 1 - Precessão de larmor de um momento [2] magnético em volta de um campo magnético externo. Onde g é um fator giroscópico característico de cada núcleo, é um fator giroscópico característico de cada átomo paramagnético, e sãorespectivamente o magneton nuclear e o magneton de Bohr, k é o número quântico do spin do núcleo, valendo ½ ou -½, e é o número quântico do spin do elétron, valendo também ½ ou -½. Os magnetons, nuclear os de Bohr, são constantes que relacionam o momento magnético ao momento angular total, e valem respectivamente: Nuclear: ESR: 2.6 E esse torque alinha os momentos de maneira que eles passam a estar alinhados com a direção do campo magnético externo , porém seu sentido, ou sua orientação, pode ser paralela ou antiparalela à do campo. A orientação paralela encontra-se num estado de menos energia do que a orientação antiparalela. Assim sendo, quando os momentos magnéticos, seja dos núcleos, seja dos elétrons, são alinhados pelo campo magnética externo, eles não estão mais em estados degenerados em energia, ou seja, perdem a igualdade em sua energia. A energia de um momento magnético no campo é dada por diferentes expressões para a ressonância magnética nuclear (RMN) e para a ressonância paramagnética eletrônica (ESR)a seguir temos ambas: (2) (6) Essa diferença de energia entre os dois estados do spin da partícula é denominada efeito Zeeman. (1) RMN: RMN: Essa precessão é denominado precessão de Larmor, e tem uma frequência característica chamada frequência de Larmor. Essa frequência depende da magnitude do campo magnético externo e também do material em questão, conforme a seguinte expressão: (8) Essa frequência caracteriza portanto o fator giromagnético g do material. 2.7 Ressonância Quântica com inversão de spin (4) Para colocar o sistema descrito até agora em estado de ressonância, devemos sumetê-lo a um campo magnético variável secundário , que seja perpendicular à , e que tenha a (5) 2 especificidade devariar com a frequência de larmor apresentada anteriormente, que é também a frequência do fóton de energia igual à diferença de energia gerada pelo efeito Zeeman. Ao configurar os parâmetros de seu sistema para que as frequências de Larmor e do fóton gerada pelo campo sejam as mesmas, o sistema recebe precisamente a quantidade de energia que necessita para que um spin com orientação paralela (de menor energia), mude sua orientação para paralela (absorvendaprecisamente a quantidade de energia ). Fazendo com que o sistema absorva a energia do campo , de maneira semelhante a um sistema clássico que entra em ressonância. 2.8 No primeiro dia o objetivo era determinar o fator g do DPPH (1-diphenyl-2-picryl-hidrazyl) e em seguida medir o análogo clássico utilizando um circuito passivo (basicamente um circuito RLC). Já no segundo o objetivo era determinar o fator g para diversas amostras. Em ambas as experiencias utilizou-se um campo uniforme com modulação (com um pequeno campo oscilante em torno do campo principal com a frequência da rede) para orientar o spin das partículas de interesse, um campo variável com frequência controlada perpendicular ao uniforme modulado utilizado para se encontrar a frequência de ressonância. Em ambos foi utilizado um osciloscópio no modo XY para realizar as medidas e encontrar-se a ressonância, e um multímetro para medidas complementares da corrente, e no segundo dia foi também utilizado um medidor de campo magnético. No primeiro dia, o campo magnético uniforme com modulação foi criado por bobinas de Helmholtz (de até 4mT), e o campo oscilante perpendicular por solenoide (na verdade haviam três tamanhos disponíveis que possuíam um certo range de frequências). O DPPH era então colocado dentro desse solenoide e a frequência de ressonância procurada, utilizando o osciloscópio, para cada valor do campo das bobinas de Helmholtz (Figura 2). A corrente que passava tanto pela bobina de Helmholtz quanto pelo solenoide era gerada por um mesmo gerador, onde era possível ajustar a frequência dos solenoides. Ressonância no sistema RLC A parte clássica do experimento corresponde à observação da ressonância eletromagnética em um circuito RLC. O circuito RLC obedece a equação A frequência natural é igual ao inverso da raiz quadrada do produto da indutância pela capacitância, conforme a equação a seguir: (9) 3 Arranjo experimental O experimento foi basicamente dividido em dois dias de medições, no primeiro dia o grupo utilizou dois equipamentos diferentes (figuras 2 e 3) e no segundo um outro (figura 4). Figura 2 - Representação do arranjo experimental utilizado na primeira experiência do primeiro dia, já com o gerador das correntes (equipamento central) e osciloscópio. Ainda no primeiro dia, para se verificar o fenômeno de ressonância de uma forma “clássica”, foi utilizado um outro arranjo, onde agora ao invés da ressonância ser criada pelos spins das partículas, era criada apenas por um circuito RLC. Para isso substituiu-se as bobinas 3 de Helmholtz e a amostra por outra bobina ligada ao capacitor (de capacitância ajustável), de forma que no circuito apresentam-se componentes indutores (bobinas), capacitores (capacitores) e resistores (própria resistência intrínseca do circuito) onde a frequência de ressonância (frequência natural) podia ser ajustada mudandose a capacitância do circuito, conforme a equação 9. Novamente, para cada capacitância, foi procurada a frequência de ressonância utilizando-se osciloscópio. As correntes do circuito foram geradas pelo mesmo gerador do primeiro arranjo. Note que nesse caso, a capacitância exerce o papel do campo magnético gerado pelas bobinas de Helmholtz, pois agora é ela que muda a frequência natural do sistema. modulação e a frequência do campo oscilante perpendicular, e para cada uma dessas frequências foi procurada a ressonância do sistema utilizando-se o osciloscópio. Uma vez encontrada a ressonância era utilizado o medidor de campo magnético para se saber (diretamente dessa vez) o campo as bobinas maiores, pois possíveis determinações teóricas desse campo baseado na corrente passando nas bobinas poderia ser falha (pelo menos em aproximações usuais) pelo fato de a barra de ferro poder ser magnetizada pelo campo intenso e afetar o valor calculado. Efetivamente os experimentos de ambos os dias possuem os mesmos objetivos e arranjos experimentais iguais, levemente alterados pela necessidade de campo mais intenso no segundo dia por conta da maior dificuldade na medição da ressonância do próton. Figura 4 - Representação de NMR, com o gerador das correntes e osciloscópio. O bloco à direita possui as duas bobinas geradoras do campo intenso ligadas pela barra de ferro com a cavidade onde está o campo oscilante perpendicular e a amostra. Figura 3 - Representação do arranjo experimental utilizado na experiência de ressonância clássica, já com o gerador das correntes e osciloscópio. Agora o capacitor acoplado à bobina faz o papel do campo magnético do primeiro arranjo, regula o valor da frequência. 4 No segundo dia foi utilizado um arranjo com objetivos muito parecidos com o do primeiro, porém dessa vez, por conta da ordem de grandeza das energias envolvidas, foi necessário utilizar-se um arranjo experimental um pouco diferente. Para criar o campo magnético uniforme com modulação foram utilizadas bobinas mais potentes ligadas por um pedaço de metal, que tinha o papel de guiar o campo magnético até a amostra, que criava um campo magnético de até 0.5T. O campo oscilante perpendicular era criada por uma pequena cavidade onde havia uma bobina menor. As amostras de glicerina, água, poliestireno ou teflon eram então colocadas na cavidade da barra de ferro entre as duas bobinas maiores, e novamente as correntes do sistema eram geradas por um gerador onde era possível ajustar o módulo do campo mais forte com 4.1 Análise de Dados e conclusões Ressonância Magnética Nuclear A partir dos dados para cada um dos quatro materiais utilizados foi possível encontrar a curva de ressonância característica para cada um dos materiais, Figura 5. 4 Energia (J) Tabela 3 – fatores giroscópicos da literatura e teste Z Fator Teste Z Giroscópico Hidrogênio 5,59 0,23 Flúor 5,26 1,79 1,05E-26 0,35 0,375 0,4 0,425 0,45 0,475 0,5 4.2 Campo magnético (T) Glicerina Teflon Poliestireno Ressonância paramagnéticaEletrônico A partir das medidas foi possível calcular a energia dos fótons absorvidos em função do campo magnético aplicado à amostra. Tabela 4 - Energias absorvidas em função do campo magnético. Campo Magnético (mT) Energia (J) 0,55 9,94E-27 0,69 1,33E-26 0,86 1,65E-26 1,07 1,99E-26 1,24 2,33E-26 1,41 2,65E-26 1,57 2,98E-26 1,76 3,33E-26 1,96 3,65E-26 2,11 3,96E-26 2,29 4,31E-26 2,46 4,64E-26 2,63 4,96E-26 2,78 5,29E-26 2,96 5,65E-26 3,16 6,00E-26 3,32 6,28E-26 3,53 6,64E-26 3,70 6,97E-26 3,88 7,30E-26 4,03 7,62E-26 4,23 7,96E-26 4,40 8,28E-26 A tabela acima mostra os valores calculados a partir dos quais foi possível fazer um ajuste de reta segundo o modelo proposto pelas equações (5) e (7). Água Figura 5 - Gráfico da Energia absorvida pelo sistema em função do campo magnético principal ao qual as amostras foram submetidas. Cada curva foi ajustada por uma reta a partir do Método de Mínimos Quadrados, seguindo como modelos aa equaçõles (4) e (6), foi possível calcular o fator giroscópico para cada material, apresentados na tabela que se segue. Tabela 1 – Fatores giroscópicos das amostras Fator Giroscópico Água 5,55 ±0,12 Glicerina 5,64 ±0,14 Poliestireno 5,68 ±0,14 Teflon 5,06 ±0,11 Como podemos ver, o valor do fator giroscópico da água, glicerina e poliestireno são compatíveis entre si como era de se esperar, uma vez que era esperado visualizar o sinal de ressonância gerado pelo núcleo do hidrogênio. Para o Teflon, obtemos um fator giroscópico diferente, já que neste caso estamos observando a ressonância do núcleo do flúor. Tabela 2 – Fatores giroscópicos nucleares Fator Giroscópico Hidrogênio 5,62 ±0,16 Flúor 5,06 ±0,11 Depois de obter fator giroscópico para os núcleos do Hidrogênio e Flúor, esses valores foram comparados com os valores teóricos encontrados na literatura. 5 principal, para diferentes valores de capacitância, e sem nenhum circuito ressonante sendo induzido. Energia (J) 5 No estudo da Ressonância Magnética Nuclear foi possível observar que o modelo proposto nas equações (4) e (6) descrevem bem o fenômeno físico estudado, de modo que foi possível encontrar os fatores giroscópicoscaracterísticos do Hidrogênio (5,62±0,16) e do Flúor (5,06±0,11) com uma precisão razoável em relação ao valor teórico, fator Z<1 para o Hidrogênio e fator Z<2 para o Flúor. No estudo da RessonênciaParamagnética Eletrônica foi possível obter uma valor para o fator giroscópico característico (2,035±0,019) compatível com o valor teórico esperado (fator Z<2), embora o grupo tenha tido dificuldades durante as medições devido a problemas de mal contato em uma das bobinas de radio-frequência utilizadas no experimento. Por fim a realização do experimento utilizando o circuito passivo RLC teve um papel fundamental na compreensão do fenômeno observado ao fazer a ligação entre o fenômeno quântico e o conhecimento clássico sobre ressonância. 5,00E-27 0,25 2,25 4,25 Campo Magnético (mT) Figura 6 – Gráfico da energia absorvida pelo sistema em função do campo magnético aplicado à amostra. Feito o ajuste, foi possível calcular o fator giroscópico para o elétron do DPPH, o resultado será apresentado na tabela abaixo em conjunto com o valor teórico encontrado na literatura e o resultado do teste Z. Tabela 5 – Fator giroscópico calculado, teorico, e teste Z, para o DPPH Fator giroscópico 2,035 ±0,019 Calculado Fator giroscópico 2,004 Teórico Teste Z 1,68 6 4.3 Ressonância de absorção de um circuito oscilador RF passivo 20 10 Corrente (mA) Tensão (mV) [2] Wikipédia, Imagem por ressonância magnética, acessado em 23 de Junho de 2014, em <http://pt.wikipedia.org/wiki/Resson%C3%A2ncia _magn%C3%A9tica#Intera.C3.A7.C3.A3o_Zeem an> 40 30 [3] Wikipédia, Nuclear magnetic ressonance, acessado em 23 de Junho de 2014, em <http://en.wikipedia.org/wiki/Nuclear_magnetic_re sonance#Magnetic_resonance_by_nuclei> 0 21 26 31 Referências [1] Wikipédia, Espectroscopia de ressonância eletrônica, acessado em 23 de Junho de 2014, em <http://pt.wikipedia.org/wiki/Espectroscopia_de_r esson%C3%A2ncia_paramagn%C3%A9tica_elec tr%C3%B3nica> A partir dos dados medidos foi possível fazer a verificação do efeito de ressonância para um circuito RLC. O gráfico abaixo mostra as curvas obtidas para a corrente e a tensão para três valores diferentes de capacitância em função da frequência. 1600 1400 1200 1000 800 600 400 200 0 Conclusão 36 Frequência (MHz) [4] Wikipédia, Momento mgnético, acessado em 23 de Junho de 2014, em <http://pt.wikipedia.org/wiki/Momento_magn%C3 %A9tico> Figura 7 – Gráfico da tensão e da corrente observadas no sistema em função da frequência do campo magnético 6 [5] Wikipédia, Spin, acessado em 23 de Junho de 2014, em <http://pt.wikipedia.org/wiki/Spin> [6] Wikipédia, Larmos precession, acessado em 23 de Junho de 2014, em <http://en.wikipedia.org/wiki/Larmor_precession> [7] Wikipédia, Magnetom de Bohr, acessado em 23 de Junho de 2014, em <http://pt.wikipedia.org/wiki/Magnet%C3%A3o_de _Bohr> 7